Resumos Penal

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Iter criminis

Conceito
Iter criminis é o conjunto de etapas para a realização de um crime, desde a cogitação
até a sua consumação. Neste artigo, estudaremos cada uma dessas etapas, que estão
resumidas no fluxograma a seguir:

Cogitação
É a fase interna do iter criminis que se desenvolve no âmbito da formação da decisão
criminosa. A mera cogitação, ainda quando externalizada, não é punível.

A característica da fase da cogitação é justamente a sua irrelevância jurídica,


consagrada na fórmula cogitationes poenam nemo patitur (ninguém pode sofrer pena
pelo pensamento) e decorre da própria função que tem (ou deveria ter) o Direito Penal:
não se busca com ele o melhoramento moral do indivíduo, mas sim a proteção de bens
jurídicos contra os ataques que lhe são dirigidos.

Atos preparatórios
O nosso Código Penal exige, para a concretização do jus puniendi estatal, ao menos o
início da execução do tipo, o que deixa de fora os atos meramente preparatórios.

Obter o veneno, escolher o lugar, vigiar a vítima, traçar o plano com os comparsas,
nenhuma dessas condutas é punível: ainda que o agente seja impedido de prosseguir
por motivos estranhos à sua vontade, quando estava firmemente decidido a continuar,
não há falar em tentativa.

A exceção vem do fato de que, por vezes, o legislador, em um movimento de


antecipação da tutela penal, passa a prever, já como elementos constitutivos de tipo
legal de crime, condutas que configuram, pela sua essência e dentro do plano
criminoso, meros atos preparatórios.
Exemplo do CP: a organização criminosa é sempre um ato de preparação de outros
delitos.

Art. 288. Associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.
No entanto, foi elevada, pelo legislador penal, à categoria de crime autônomo, que
atenta contra o bem jurídico denominado “paz pública”, de forma que, ainda que
nenhum dos crimes planejados entre sequer em fase executória, haverá que se punir,
ainda assim, a organização criminosa.

Execução
Inúmeras são as teorias que buscam delimitar o início da execução de um delito.
Trataremos, aqui, das mais pertinentes:

Teoria objetivo-formal

Segundo a teoria objetivo-formal, a ação de execução é exclusivamente aquela descrita


pelo verbo do tipo. Ensina Hungria que “dentro do tipo legal do crime há um ‘núcleo’
constituído pelo conjunto de atos que realiza o verbo ativo principal do tipo; mas há uma
zona (zona periférica), mais ou menos extensa, que está fora do ‘núcleo’: todo o
primeiro grupo de atos, isto é, todos os que estão dentro do ‘núcleo’, são atos de
execução, e todos os que estão fora dele são preparatórios”.

RESUMINDO

A execução se dá apenas com a realização da conduta típica.

Teoria objetivo-material

A teoria objetivo-formal, cujo maior mérito é definir com contornos claros o limite da
punibilidade, tendo assim importante efeito garantista, apresenta, em contrapartida, o
problema de ignorar e reputar atípicas, e, portanto, lícitas, condutas que, embora não se
subsumam exatamente à descrição típica, já constituem franca ameaça ao bem jurídico.

A teoria objetivo-material amplia o âmbito da tipicidade, passando a cobrir também os


atos que, embora não consistam ainda na realização da conduta nuclear típica,
sejam-lhe necessários e imediatamente anteriores, ou seja, “os atos que, segundo a
experiência comum e salvo caso imprevisível, tenham a natureza de fazer esperar que
lhes sigam atos idôneos a produzir o resultado típico, ou que preencham um elemento
típico”.
Nesse passo “atos executivos são aqueles que atacam o bem jurídico (o primeiro ato de
ataque é o começo de execução); atos preparatórios não representam ataque ao bem
jurídico, cujo ‘estado de paz’ fica inalterado”.

RESUMINDO

A execução se dá com a realização do ato imediatamente anterior e necessário à


conduta típica, que cause já perigo ao bem jurídico.

Teoria objetivo-individual

Partindo da teoria objetivo-material, mas criticando a indeterminação do conceito de


“perigo ao bem jurídico”, Welzel propõe um terceiro modelo, que visa fornecer melhor
critério para a averiguação de quais atos podem ser considerados como “imediatamente
anteriores à conduta típica”. Segundo Hans Welzel, a tentativa começa com aquela
atividade com a qual o autor, segundo seu plano delitivo, se põe em relação imediata
com o tipo delitivo.

RESUMINDO

A execução se dá com a realização do ato imediatamente anterior e necessário à


conduta típica, segundo o plano individual do autor.

Consumação
O Código Penal diz o seguinte:

Art. 14. Diz-se o crime:

I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.


Nesse sentido, a consumação varia de acordo com o tipo penal. Vejamos:
Exaurimento
O iter criminis encerra-se com a consumação, mas, após a sua ocorrência, pode ainda
sobrevir o chamado “exaurimento” do crime. Exaurimento é a completa concretização
do tipo, incluídos aí todas as componentes do dolo do tipo e demais elementos
subjetivos especiais.

É que “em alguns tipos penais, há a previsão para a ocorrência de desdobramentos


naturalísticos da conduta que não são necessários para a consumação do crime. Tais
consequências mais gravosas constituem o que se convencionou chamar de
exaurimento”.

É o caso dos crimes formais, que não precisam do resultado naturalístico para a sua
consumação. Entretanto, se este resultado acontecer, haverá o mero exaurimento.

O momento do exaurimento, portanto, não modifica em nada a estrutura do tipo, mas


impacta (até por força do art. 59 do CP, que arrola, dentre as circunstâncias judiciais, as
consequências do crime) sobre a dosimetria da pena.
Teoria do crime
A teoria do crime é o estudo do conceito de crime e de seus elementos.

DISPOSIÇÕES GERAIS

Conceito de crime

Critério material ou substancial

Conforme esse critério, crime é a ação ou omissão humana (conduta humana), bem
como a conduta da pessoa jurídica nos crimes ambientais, que lesa ou expõe a
perigo de lesão bens jurídicos penalmente protegidos.

Critério formal ou legal

Conforme esse critério, crime é o que a lei define como tal. Nesse sentido:

Essa definição está no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal.

Critério analítico ou dogmático

Considera os elementos estruturais do crime, variando conforme a teoria adotada.

Para a teoria tripartida finalista, adotada no Brasil, crime é o fato:

● Típico.
● Ilícito.
● Culpável.

Elementos do crime

Estudaremos, a seguir, os elementos do crime conforme a teoria finalista tripartida,


que prevalece no Brasil:
TIPICIDADE

Visão geral

Conforme vimos, crime é fato típico, ilícito e culpável. Agora, iniciaremos o estudo de
cada um desses aspectos, começando pelo fato típico (tipicidade em sentido amplo),
cujos elementos são os seguintes:

A conduta e a tipicidade estão presentes em todos os crimes, já o resultado


naturalístico e o nexo causal só existem nos crimes materiais consumados.

Conduta

Conceito
Conduta é um comportamento humano (AÇÃO ou OMISSÃO) voluntário e consciente
(DOLOSO ou CULPOSO) dirigido a determinada finalidade (lícita ou ilícita).

TEORIA FINAL OU FINALISTA

Analisa a finalidade/motivo/vontade do agente, que não poderá ser separada da conduta.


Analisa-se se a conduta foi dolosa ou culposa, e, não presente tais elementos, há a atipicidade.

Espécies
São espécies de conduta a:

AÇÃO Crimes comissivos (praticados por ação).

Crimes omissivos (praticados por omissão), que podem ser:

● Omissivos puros ou próprios → o tipo penal descreve uma conduta omissiva, ou seja, um
não fazer proibido (ex.: omissão de socorro).
OMISSÃO
● Omissivos impuros, impróprios ou comissivos por omissão → o tipo penal descreve uma
conduta positiva, mas sua execução se dá por omissão nas hipóteses em que o agente podia
e devia agir para evitar o resultado.
Conduta dolosa
O dolo é a intenção, finalidade ou vontade de se praticar determinada conduta.

DOLO NATURAL OU VALORATIVAMENTE NEUTRO

O dolo analisado é natural ou valorativamente neutro, porque que não se analisa o motivo da prática
do ato, nem se o agente sabia que praticava um ilícito, mas, tão somente, a intenção de praticar o
ato.

Elementos do dolo:

ELEMENTO COGNITIVO É a consciência de estar praticando os elementos do tipo.

ELEMENTO VOLITIVO É a vontade de praticar ou a assunção do risco do resultado.

Conduta culposa

O crime é culposo quando o agente dá causa ao resultado por imprudência, negligência


ou imperícia.

O agente faz algo que a cautela/prudência/bom senso não


IMPRUDÊNCIA
recomenda.

NEGLIGÊNCIA O agente deixa de fazer algo que a cautela recomenda.

O agente, autorizado a exercer arte/ofício/profissão, não reúne


IMPERÍCIA
conhecimentos teóricos ou práticos suficientes para tanto.

Espécies de culpa:

É a culpa sem previsão (o agente não prevê o resultado no caso


INCONSCIENTE
concreto).

É a culpa com previsão (o agente prevê o resultado, mas acredita


CONSCIENTE
que não vai ocorrer).

PRÓPRIA Agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo.

O agente prevê e quer produzir o resultado, mas acredita estar em


IMPRÓPRIA
situação justificante.
Excludentes de conduta

Excluem a conduta:

● O caso fortuito (origem humana) ou força maior (origem na natureza).


● A coação FÍSICA irresistível, na qual o coator usa o coagido como instrumento.
● Os estados de inconsciência (sonambulismo e hipnose).
● Os atos ou movimentos reflexos (reações à provocação dos sentidos).

Resultado
Conceito

Resultado é o efeito ou a consequência da conduta do agente.

Espécies

É a efetiva modificação no mundo exterior, sem a qual não há


NATURALÍSTICO OU MATERIAL
consumação.

É a violação da lei penal, resultando lesão ou perigo de lesão ao


JURÍDICO OU NORMATIVO
bem jurídico.

Não há crime sem resultado jurídico (lesão a bem jurídico tutelado), pois qualquer crime
viola uma lei. Entretanto, é possível um delito sem resultado naturalístico.

Assim, os crimes podem ser:

A lei prevê um resultado e exige que ele ocorra para que o crime
MATERIAIS
se consume.

FORMAIS A lei prevê um resultado, mas não exige que ele ocorra.

DE MERA CONDUTA A lei não prevê resultado.

Nexo causal
Conceito

Também chamado de nexo de causalidade ou relação de causalidade, é o vínculo entre


a conduta praticada pelo agente e o resultado naturalístico. Assim:
Teorias sobre nexo causal
No Código Penal são adotadas as seguintes teorias:

TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES – CONDITIO SINE QUA NON

Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido (art.
13, parte final, do CP). Para identificar a causa, a doutrina propõe o método da
eliminação hipotética:

● Se, eliminando um acontecimento, o crime continua existindo, este é


considerado causa.
● Se, eliminando um acontecimento, o crime desaparece, este não é
considerado causa.

Critica-se essa teoria por ela, supostamente, permitir o regresso ao infinito


(poder-se-ia concluir, por exemplo, que o casamento dos pais do agente seria causa do
homicídio). Entretanto, essa crítica não merece prosperar, uma vez que não se trata de
uma mera causalidade física, mas de uma causalidade psíquica (análise de dolo ou
culpa).

TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA

A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,


por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
praticou (art. 13, § 1º, do CP). Assim, por essa teoria, causa é aquela que contribui de
maneira eficaz para o resultado, não bastando a contribuição de qualquer modo.

Tipicidade
Espécies

São duas as espécies de tipicidade que juntas formam a tipicidade penal:

TIPICIDADE FORMAL Subsunção do fato à normal penal.

TIPICIDADE MATERIAL Relevância da lesão ao bem jurídico tutelado.


Dessa forma:
ILICITUDE
Conceito
É a contrariedade entre o fato típico praticado e o ordenamento jurídico. Assim é
necessário que o fato seja típico, para então questionar a ilicitude. Em tese, todo fato
típico é presumidamente ilícito, SALVO se estiverem presentes excludentes de
ilicitude (casos em que se exclui SOMENTE a ilicitude e não a tipicidade).

Causas excludentes da ilicitude


Terminologias

As causas excludentes de ilicitude também podem ser chamadas de causas de


justificação, justificativas, tipos penais permissivos, descriminantes ou eximentes.

Divisão

As excludentes de ilicitude podem ser:

Previstas na parte geral do CP e aplicáveis aos crimes em geral


GENÉRICAS (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever
legal e exercício regular de direito).

Previstas na parte especial do CP e na legislação extravagante e


ESPECÍFICAS aplicáveis a crimes específicos (ex.: hipóteses de aborto permitido e
abate de animal protegido para saciar a fome).

Estado de necessidade

Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo


atual, que NÃO provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se (art.
24, caput, do CP).

Legítima defesa

Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,


repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (art. 25, caput,
do CP).

Estrito cumprimento de dever legal

O estrito cumprimento de dever legal está previsto no art. 23, III, primeira parte, do CP
e, diferentemente do estado de necessidade e da legítima defesa, o Código Penal não
conceituou o instituto.
Assim, a doutrina conceitua o instituto como uma causa de exclusão de ilicitude
consistente na prática de um fato típico em cumprimento de dever legal.

Exercício regular de direito

O exercício regular de direito está previsto no art. 23, III, segunda parte, do CP e,
diferentemente do estado de necessidade e da legítima defesa, o Código Penal não
conceituou o instituto.

Assim, a doutrina conceitua o instituto como uma causa de exclusão de ilicitude


consistente na prática de um fato típico no desempenho de um direito que lhe é
assegurado pelo ordenamento jurídico.
CULPABILIDADE

Conceito
Culpabilidade é o juízo de reprovabilidade que recai sobre a formação e a
manifestação de vontade do agente que pratica fato típico e ilícito. Por meio dela,
decide-se se o agente deverá (ou não) cumprir pena.

Elementos
No sistema finalista, adotado no Brasil, adota-se a teoria normativa pura em relação à
culpabilidade, não se analisando aspectos subjetivos (dolo e culpa), apenas aspectos
objetivos:

● Imputabilidade.
● Potencial consciência da ilicitude.
● Exigibilidade de conduta diversa.

MACETE = IPÊ 🌸

Imputabilidade

Conceito

É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de se autodeterminar conforme


esse entendimento. Em outras palavras, é a capacidade “de entender e de querer”.

Elementos

Em regra, a imputabilidade possui 2 elementos:

ELEMENTO INTELECTIVO É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato.

É a capacidade de autodeterminação (determinar-se


ELEMENTO VOLITIVO
conforme aquele entendimento).
Existem 3 critérios para a delimitação das causas de inimputabilidade:

No Brasil, são adotados os seguintes critérios:

SISTEMA BIOPSICOLÓGICO

São causas de inimputabilidade:

REGRA ● Doença mental.


● Desenvolvimento mental incompleto.
● Desenvolvimento mental retardado.

SISTEMA BIOLÓGICO

Menor de 18 anos.

EXCEÇÕES SISTEMA PSICOLÓGICO

Embriaguez completa fortuita ou acidental.

Potencial consciência da ilicitude

Existem 3 critérios para se identificar a potencial consciência da ilicitude:

CRITÉRIO FORMAL Para ter consciência da ilicitude o agente deve conhecer a norma penal.

Para ter consciência da ilicitude o agente deve conhecer o caráter imoral,


CRITÉRIO MATERIAL
antissocial ou injusto de sua conduta.

CRITÉRIO Para identificar a potencial consciência da ilicitude, é necessário analisar


se o agente, no caso concreto, tinha condições de saber que sua
INTERMEDIÁRIO conduta era ilícita. Adotado pela doutrina brasileira.
No bojo do critério intermediário, surge a teoria da “valoração paralela na esfera do
profano”, que consiste na avaliação paralela (ao conhecimento jurídico) realizada
pelo ser humano leigo/comum (profano). Por meio dessa teoria, busca-se
compreender se o ser humano comum, considerando sua vivência e sua cultura, teria
condições (= mera possibilidade) de, no caso concreto, conhecer o caráter ilícito de
sua conduta.

Exigibilidade de conduta diversa

De acordo com o critério da exigibilidade de conduta diversa, só é culpável aquele que


pratica fato típico e ilícito em situação de normalidade (na qual é exigível conduta
diversa). Assim, excluem esse elemento:

● A coação MORAL irresistível.


● A obediência hierárquica.
ERRO DE TIPO X ERRO DE PROIBIÇÃO
Erro de tipo e erro de proibição são erros essenciais, que recaem sobre os elementos
caracterizadores do crime (tipicidade, ilicitude e culpabilidade). Assim, o erro de tipo é
aquele que recai sobre a tipicidade (erro de tipo incriminador) ou sobre a ilicitude do ato
(erro de tipo permissivo). Já o erro de proibição é aquele que recai sobre a
culpabilidade.

A seguir, estudaremos cada um desses erros de forma mais aprofundada.

TEORIA DO ERRO
Por questões didáticas, adotaremos a metodologia do professor Cristiano Rodrigues
no estudo da teoria do erro, que consiste em unir todas as espécies de erro em um
único tópico de estudo. Assim, estudaremos as seguintes espécies de erro:

Erros essenciais

Conforme descrito no mapa, os erros essenciais se relacionam aos elementos


essenciais do crime, são eles: a tipicidade, a ilicitude ou antijuridicidade e a
culpabilidade.

Erro de tipo incriminador

O erro de tipo incriminador se relaciona com a tipicidade e ocorre quando o agente


comete o crime em erro sobre os fatos que está realizando. Ele pensa que está fazendo
uma coisa, mas não está.
Exemplo 1

O agente acha que está se relacionando com pessoa maior de 18 anos, mas na
verdade está cometendo estupro de vulnerável.

Erro de tipo permissivo

O erro de tipo permissivo se relaciona com a ilicitude, incidindo sobre as causas


excludentes de ilicitude. Ocorre quando o agente acredita estar em situação fática que
enseja alguma excludente de ilicitude. São as descriminantes putativas (ex.: legítima
defesa putativa).

Erro de proibição

O erro de proibição se relaciona com a culpabilidade e ocorre quando o agente não


sabe que o ato é proibido, isto é, ele acha que pode praticar determinada conduta.

Ex.: estrangeiro vem para o Brasil e acha que pode vender maconha, uma vez que a
conduta é lícita em seu país de origem.
Erros acidentais
Os erros acidentais recaem sobre os elementos secundários do tipo. Assim, o erro
acidental trata sobre dados acessórios ao tipo objetivo não alterando, entretanto, sua
existência.

Erro sobre a pessoa

Aqui, o agente se confunde quanto à identidade da vítima. Ex.: o agente atira em quem
ele acredita ser seu desafeto, mas, na verdade, é seu irmão gêmeo.

Aberratio ictus

É o erro na execução, no qual o agente, por erro na realização da conduta, atinge outra
pessoa. Ex.: o agente erra a mira e acerta a pessoa que está ao lado da vítima
pretendida.

Aberratio criminis

Ocorre quando há lesão a bem jurídico diverso do pretendido (em vez de se atingir a
coisa, atinge-se a pessoa). Nesse caso, ignora-se a tentativa e o agente responde pelo
resultado causado. Ex.: o agente tenta atingir uma vidraça, mas atinge uma pessoa.
Aqui, ignora-se a tentativa de dano ao patrimônio e pune-se a lesão corporal ou morte.

Tanto no aberratio ictus, quanto no aberratio criminis, se o agente gera 2 resultados,


ele responde pelo concurso de crimes formal perfeito.
Concurso de crimes
O concurso de crimes é caracterizado pela ocorrência de dois ou mais crimes. Nessa
hipótese, a forma de aplicação da pena será definida conforme as especificidades do
caso.

CONCEITO
O concurso de crimes ocorre quando o sujeito realiza dois ou mais crimes, idênticos
ou não, através de uma ou mais condutas, determinando, de acordo com a espécie de
concurso, a forma de aplicação da pena.

APLICAÇÃO DA PENA
No concurso de crimes, aplica-se os seguintes sistemas de aplicação da pena:

CÚMULO MATERIAL Soma-se as penas de todos os crimes praticados.

Aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas,
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade (no caso do
EXASPERAÇÃO
concurso formal perfeito) ou de um sexto até dois terços (no caso do crime
continuado).

CONCURSO MATERIAL OU REAL


REGRAS

No concurso material, o agente, mediante duas condutas distintas, pratica dois ou


mais crimes.

ESPÉCIES

CONCURSO MATERIAL HOMOGÊNEO Os crimes são idênticos.

CONCURSO MATERIAL HETEROGÊNEO Os crimes são distintos.

Adota-se o sistema do cúmulo material.


PREVISÃO LEGAL

Art. 69 – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão
e de detenção, executa-se primeiro aquela.

§ 1º – Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a
substituição de que trata o art. 44 deste Código.

§ 2º – Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá


simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

CONCURSO FORMAL OU IDEAL


REGRAS

No concurso formal, o agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou mais crimes.

ESPÉCIES

CONCURSO FORMAL HOMOGÊNEO Os crimes são idênticos.

CONCURSO FORMAL HETEROGÊNEO Os crimes são distintos

Em relação ao sistema de aplicação da pena, se o concurso for:

O agente NÃO ATUA com desígnios autônomos.

● Adota-se o sistema da exasperação, SALVO quando prejudicial ao


FORMAL PERFEITO OU PRÓPRIO agente, hipótese em que deverá ser aplicado o sistema do cúmulo
material.

O agente ATUA com desígnios autônomos.

FORMAL IMPERFEITO OU
IMPRÓPRIO ● Adota-se o sistema do cúmulo material.
PREVISÃO LEGAL

Art. 70 – Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
anterior.

CRIME CONTINUADO
REGRAS

O crime continuado é caracterizado pelos seguintes requisitos:

1 Pluralidade de crimes da mesma espécie.

Condições objetivas semelhantes de tempo, lugar e modo de execução ↴

● Conexão temporal.
2 ● Conexão local.
● Conexão modal.

3 Unidade de desígnio.

Adota-se o sistema da exasperação, SALVO quando prejudicial ao agente, hipótese em


que deverá ser aplicado o sistema do cúmulo material.

PREVISÃO LEGAL

Art. 71 – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
ESQUEMATIZANDO A APLICAÇÃO DA PENA

RESUMINDO…
ERRO NA EXECUÇÃO
São hipóteses de erro na execução:

Aqui, o agente, por erro na execução, atinge pessoa


ABERRATIO ICTUS
diversa.

Aqui, o agente, por erro na execução, atinge bem jurídico


ABERRATIO CRIMINIS diverso do pretendido (em vez de se atingir a coisa,
atinge-se a pessoa).

Em caso de resultado duplo (concurso de crimes), será aplicada a mais grave das
penas cabíveis ou, se idênticas, somente uma delas, mas com o aumento, em qualquer
caso, de um sexto até metade (exasperação).

Ou seja, aplica-se a regra do concurso formal perfeito.


Concurso de pessoas
Conceito
Concurso de pessoas ocorre quando dois ou mais agentes, em acordo de vontades, ou
seja, com liame subjetivo, concorrem para a prática de determinado crime, podendo se
dar na forma de coautoria ou participação.

Assim, se a infração é praticada por mais de uma pessoa, é necessária especial


regulamentação sobre a imputação da autoria e sobre a aplicação da pena.

Requisitos
1. Pluralidade de agentes: são necessárias duas ou mais pessoas realizando a
conduta típica ou concorrendo de algum modo para que outro a realize.
2. Relevância causal das condutas: relação de causa e efeito entre cada conduta
e o resultado.
3. Liame subjetivo entre os agentes: vontade de colaborar para o crime.
4. Não é necessário o ACORDO PRÉVIO entre os agentes, bastando que um
venha a aderir à vontade do outro.
5. Identidade de infração penal: todos devem responder pelo mesmo crime
(teoria monista).

TEORIA MONISTA

No concurso de pessoas, é possível atribuir o crime próprio a quem não possui as características
especiais exigidas no tipo penal, por aplicação da teoria monista.

Assim, a título de exemplo, é possível que um particular responda por peculato (que é crime próprio de
funcionário público) em concurso com o funcionário público.

Entretanto, pelo princípio da individualização da pena, estas serão calculadas separadamente.

Espécies de crimes quanto ao concurso de pessoas


● Monossubjetivos, unissubjetivos ou de concurso eventual: praticados por
um só agente, não exigindo o concurso. Eventualmente, contudo podem ser
praticados por mais de um agente.
● Plurissubjetivos ou de concurso necessário: são aqueles em que a
pluralidade de agentes é condição para a existência do ilícito penal. Ex.:
associação criminosa.
Autoria

Teorias

● Teoria restritiva: autor é aquele que realiza o verbo núcleo do tipo penal; logo,
todo aquele que colaborar com a prática do crime de qualquer outra forma será
reconhecido como mero partícipe.
● Teoria do domínio do fato: autor é aquele que possui o domínio final sobre os
fatos, podendo modificar ou mesmo impedir a ocorrência do resultado,
independentemente da realização ou não do verbo núcleo do tipo penal (é a
posição majoritária do STF).

Para a teoria do domínio do fato, partícipe será todo aquele que colaborar com o fato principal
do autor, porém de forma acessória e não essencial, sem domínio sobre os fatos.

Espécies de autoria

Autoria direta

Ocorre quando o agente está diretamente vinculado à realização do crime, agindo com
domínio do fato, podendo se dar nas seguintes formas:

● Autor-executor: é aquele que executa a ação.


● Autor-intelectual: é aquele que tem o domínio do fato sem executar a ação.

COAUTORIA

Verifica-se a coautoria nas seguintes hipóteses:

Autor-executor + autor-executor

Autor-intelectual + autor-executor
Autoria indireta

É aquela em que determinado agente que possui o domínio do fato se utiliza de um


terceiro, que não possui domínio dos fatos, para realizar a conduta. Aqui, não há liame
subjetivo e o crime é imputado somente ao autor mediato (que tem o domínio do fato).
Hipóteses:

1. Coação moral irresistível.


2. Obediência hierárquica.
3. Uso de inimputável.
4. Erro determinado por terceiro.

Autoria colateral ou paralela

Ocorre quando duas ou mais pessoas, uma ignorando a intenção da outra, realizam
condutas convergentes à execução de um crime. Assim, não havendo liame subjetivo,
eles não são coautores e respondem cada um pelo que fez (um por consumação e o
outro por tentativa).

AUTORIA COLATERAL INCERTA

Ocorre quando, na autoria colateral, não se consegue identificar a conduta de cada agente. Nesse caso,
aplica-se o princípio da dúvida (in dubio pro reo) e ambos respondem por tentativa.

Participação
O partícipe não possui o domínio do fato e não realiza diretamente a conduta típica,
mas concorre induzindo, instigando ou auxiliando o autor. Assim, quem, de qualquer
modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade. Se a participação for de menor importância a pena pode ser diminuída de
um sexto a um terço.

O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado
TEORIA DA ACESSORIEDADE LIMITADA

Para se punir o partícipe, o fato realizado pelo autor deve ser típico e ilícito. Assim, se ele estiver diante
de uma situação de excludente de ilicitude, nenhum deles responde pelo fato.

Os crimes culposos admitem coautoria, mas não admitem participação.

Punibilidade no concurso de pessoas


Teoria Monista

Pune-se igualmente os vários agentes que, de alguma forma, contribuíram para o crime,
na medida de sua culpabilidade. Assim, os coautores e partícipes respondem pelo
mesmo crime.

Cooperação dolosamente distinta

Aplica-se tanto aos coautores, quanto aos partícipes. Ocorre quando um dos agentes
pretendia ação criminosa menos grave do que aquela efetivamente praticada (desvio
subjetivo de condutas entre os agentes). Nesse caso, aplica-se a pena do crime que
pretendia cometer.

Se o resultado mais grave era previsível, a pena pode ser maior.

Participação de menor importância

Aplica-se exclusivamente ao titular da conduta acessória (partícipe). Assim, a conduta


que contribui de forma menos enfática deve ser encarada com menos rigor. Redução de
pena de 1/6 a 1/3.

Comunicabilidade de elementares e circunstâncias


● Elementares: são dados essenciais do crime, sem os quais ele desaparece ou se
transforma.
● Circunstâncias: são dados acessórios que se agregam à figura típica, possuindo a
função de aumentar ou diminuir a pena. As circunstâncias se dividem em:

REGRAS

● As circunstâncias subjetivas ou pessoais nunca se comunicam no concurso de pessoas.


● As circunstâncias objetivas comunicam-se, desde que conhecidas por todos os agentes.
● As elementares comunicam-se, desde que conhecidas por todos os agentes

Resumindo…
Homicídio Simples
Homicídio simples é o tipo penal descrito no artigo 121, caput, do Código Penal, que, de
forma bem objetiva, dispõe:

● Art. 121, caput – Matar alguém:


● Pena – reclusão, de 6 a 20 anos.

Neste artigo, estudaremos os pormenores deste tipo penal. Vejamos o resumo dos
principais tópicos no mapa mental:

Objetivo da norma
● O objetivo deste tipo penal é a preservação da vida extrauterina.
● Vale lembrar que a vida intrauterina é protegida pelo tipo penal referente ao
aborto.
● Diz-se que o homicídio é simples por atingir um único bem jurídico.

Diz-se que o crime é de dano, pois exige efetiva lesão ao bem jurídico protegido, ou
seja, para a tipificação do delito não basta que a vítima tenha corrido perigo, sendo
necessário o evento morte.
Tipo objetivo
O texto legal não define quando um homicídio é considerado simples. Ao contrário,
preferiu o legislador definir expressamente apenas as hipóteses em que o crime é
privilegiado (art. 121, § 1º) ou qualificado (art. 121, § 2º).

Dessa forma, é por exclusão que se conclui que um homicídio é simples, devendo ser
assim considerado o fato ilícito em relação ao qual não se mostre presente quaisquer
das hipóteses de privilégio e tampouco alguma qualificadora.

A conduta típica “matar” admite qualquer meio de execução, mas alguns meios tornam
o crime qualificado, como, por exemplo, o emprego de fogo, explosivo, veneno, asfixia
etc. De qualquer modo, o fato de admitir qualquer meio de execução faz com que o
homicídio seja classificado como crime de ação livre.

É também possível que o homicídio seja praticado por omissão, como no caso da mãe
que, querendo a morte do filho de pouca idade, deixa de alimentá-lo. Nesse caso, há
um crime comissivo por omissão, porque a mãe tinha o dever jurídico de evitar o
resultado e podia fazê-lo, porém, querendo a morte do filho, dolosamente se omite.

O tipo penal do homicídio simples não exige qualquer finalidade específica para sua
configuração. Ao contrário, o motivo do crime pode fazer com que seja considerado
privilegiado (motivo de relevante valor social ou moral) ou qualificado (motivo fútil ou
torpe etc.). Se, entretanto, a motivação do homicida não se enquadrar em nenhuma das
hipóteses que tornam o crime qualificado ou privilegiado, será este considerado
simples.

Sujeito ativo
O homicídio constitui crime comum porque pode ser cometido por qualquer pessoa, já
que o tipo penal não exige qualquer qualidade especial para que alguém figure como
sujeito ativo do delito.

Além disso, o tipo penal admite coautoria e participação:

Haverá coautoria quando duas pessoas realizarem os atos executórios que culminem
na morte da vítima, como, por exemplo, quando efetuarem disparos de armas de fogo
contra ela, quando nela colocarem fogo etc.

Haverá participação quando a pessoa não realizar ato executório do crime, mas, de
alguma outra forma, colaborar para a sua eclosão ou execução, como, por exemplo,
incentivando verbalmente outra pessoa a cometer o homicídio ou lhe emprestando a
arma de fogo para que o faça.

Pode ainda ocorrer o que se chama de autoria colateral, que se mostra presente
quando duas ou mais pessoas querem matar a mesma vítima e realizam o ato
executório ao mesmo tempo (enquanto ela ainda está viva), sem que uma saiba da
intenção da outra, sendo que o resultado morte decorre da ação de apenas uma delas.

Importante observar que, na autoria colateral, como os envolvidos não sabem um da


intenção do outro, a análise deve ser feita de maneira individualizada, procurando-se
descobrir qual deles causou a morte. Assim, um responderá por crime consumado,
enquanto o outro responderá por tentativa.

Também pode ficar caracterizada a autoria incerta quando estiverem presentes os


requisitos da autoria colateral, porém não for possível esclarecer qual dos envolvidos
deu causa à morte.

Por fim, pode-se falar em autoria mediata quando aquele que quer a morte da vítima
serve-se de pessoa sem discernimento para executar para ele o crime.

Sujeito passivo
Após o nascimento, todo e qualquer ser humano pode ser vítima de homicídio.

Dependendo, todavia, de certas características do sujeito passivo, poderá ocorrer


deslocamento do crime de homicídio para outros previstos em leis especiais.

Consumação
Sendo crime material, o homicídio simples de consuma no momento da morte do sujeito
passivo.

Atualmente não existe controvérsia em torno do momento da morte, qual seja, o da


cessação da atividade encefálica.

O homicídio é crime instantâneo, uma vez que o evento morte ocorre em um momento
exato. Considerando, entretanto, que a morte é irreversível, costuma-se classificar o
homicídio como crime instantâneo de efeitos permanentes.

Tentativa
A forma tentada desse tipo penal pressupõe a coexistência de três requisitos:

A. que o agente tenha dado início à execução do crime;


B. que não tenha conseguido a consumação por circunstâncias alheias à sua
vontade; e
C. que exista prova inequívoca de que queria matar a vítima.

Interessante observar que, na denúncia oferecida pelo Ministério Público para dar início
à ação penal por crime de tentativa de homicídio, é necessário que o promotor de
justiça descreva a circunstância alheia à vontade do agente que impediu a consumação
do crime.
Dependendo de a vítima ter sido ou não atingida, a tentativa pode ser branca ou
cruenta.

A tentativa branca mostra-se presente quando os golpes desferidos ou os disparos


efetuados não atingem vítima, que, portanto, não sofre nenhuma lesão. A tentativa
cruenta, ao contrário, é aquela em que a vítima sofre lesão corporal como consequência
do ato homicida perpetrado pelo agente.

A redução da pena decorrente da tentativa depende da maior ou menor proximidade do


evento morte. Quanto mais perto da consumação, menor será a redução, lembrando-se
que o art. 14, parágrafo único, do Código Penal, prevê que, para a forma tentada, deve
ser aplicada a mesma pena do delito consumado, reduzida de 1/3 a 2/3.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz


No crime de homicídio, a desistência voluntária mostra-se presente quando o agente dá
início à execução, mas não consegue, de imediato, a morte da vítima, contudo, tendo
ainda ao seu dispor formas de prosseguir no ataque e provocar a morte, resolve,
voluntariamente, não o fazer. Nesse caso, o art. 15 do Código Penal prevê que ele só
responde pelos atos anteriores já praticados (e não por tentativa de homicídio).

Na 2ª parte do art. 15 do Código Penal, estabelece o legislador que o agente que,


voluntariamente, impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já
praticados. Trata-se do instituto denominado arrependimento eficaz. Assim, o agente, já
tendo concretizado todos os atos executórios que estavam ao seu alcance – que já
seriam suficientes para ocasionar a morte –, arrepende-se e pratica novo ato para
salvar a vida da vítima.

Portanto, se houver uma ação impeditiva do resultado, estará presente o


arrependimento eficaz, e se houver uma omissão no prosseguimento dos atos
executórios que estavam em andamento, haverá desistência voluntária.

Ação penal e competência


A ação penal é pública incondicionada, sendo a iniciativa de sua propositura exclusiva
do Ministério Público.

De acordo com o art. 5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal, os crimes dolosos


contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri. Em regra, a competência é da Justiça
Estadual, salvo se presente alguma circunstância capaz de provocar o deslocamento
para a esfera federal.
Homicídio privilegiado
Homicídio privilegiado é causa de diminuição de pena (reduz a pena de um sexto a
um terço) e ocorre quando o agente comete o crime impelido por motivo de relevante
(importante, num patamar elevado de valores) valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima.

Assim dispõe o Código Penal:

Art. 121, § 1º – Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Então:

A denominação privilégio não consta do texto legal, mas é amplamente utilizada pela
doutrina e jurisprudência. As hipóteses de privilégio constituem causas de diminuição de
pena, pois têm como consequência a redução da pena de 1/6 a 1/3.

Caso os jurados reconheçam o privilégio, a redução da pena deve ser aplicada pelo juiz
na terceira fase da dosimetria.

JURISPRUDÊNCIA
APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO. Art. 121, caput e § 5°, segunda
parte, do Código Penal. Pena-base. Fixação acima do mínimo legal face às
circunstâncias judiciais desfavoráveis. Pedido de redução da reprimenda em face do
homicídio privilegiado em seu patamar máximo. Inviabilidade. Discricionariedade do juiz.
DESPROVIMENTO DO APELO.

Denota-se correta a decisão do magistrado a quo, eis que as circunstâncias judiciais


por ele observadas e aplicadas para aumentar a pena-base, mostraram-se relevantes e
idôneas, justificando plenamente a fixação da pena acima do mínimo legal, haja vista o
maior grau de reprovabilidade da conduta do réu, que cometeu o delito por causa de
uma discussão anterior com a vítima, envolvendo uma caixa de isopor, ocasião em que,
munindo-se de uma arma de fogo, em local público, na presença de muitas pessoas,
ceifou-lhe a vida sem oportunizar chance de defesa, demonstrando, assim, que as
particularidades do caso reclamam pelo aumento da sanção.

A redução da pena em face do reconhecimento do homicídio privilegiado, entre o


mínimo de 1/6 e o máximo de 1/3, embora seja obrigatória, fica a critério do
magistrado, que, no caso, declinou as razões pelas quais optou pela redução mínima.

(TJPB – ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo N° 00015606620168150181, Câmara


Especializada Criminal, Relator DES. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO, j. em 06-07-2019).

● O que é um crime privilegiado?

O crime privilegiado é aquele que possui circunstâncias que diminuem a sua gravidade,
capazes de reduzir a pena.

● Quais são as hipóteses legais do homicídio privilegiado?

O agente pratica homicídio privilegiado quando impelido por motivo de relevante valor
social ou moral ou sob domínio de violenta emoção.

● Qual é a pena do homicídio privilegiado?

A pena do homicídio privilegiada é a pena do homicídio simples diminuída de 1/6 a 1/3.

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