Gestao e Manutencao Eletroeletronica 2
Gestao e Manutencao Eletroeletronica 2
Gestao e Manutencao Eletroeletronica 2
Curso Técnico em
Eletroeletrônica
Pedro Rodrigues Silva
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3 ATIVIDADES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4
1 Introdução
O nosso guia didático será baseado no Atlas de energia elétrica do Brasil (AGÊNCIA
NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008).
Parte I
Acervo TDA
Energia no Brasil
e no mundo
Características Gerais
1
Capítulo 1 | Características Gerais
Box 1
elétrica são as geradoras. O início da entrega é previsto para Como são realizados com antecedência de vários anos, esses
ocorrer um, três ou cinco anos após a data de realização do lei- leilões são, também, indicadores do cenário da oferta e da pro-
lão (que são chamados, respectivamente, de A-1, A-3 e A-5). cura no médio e longo prazos. Para a EPE, portanto, fornecem
variáveis necessárias à elaboração do planejamento. Para os in-
O MME determina a data dos leilões, que são realizados pela vestidores em geração e para as distribuidoras, proporcionam
Aneel e pela CCEE. Por meio de portaria, fixa o preço teto para maior segurança em cálculos como fluxo de caixa futuro, por
o MWh a ser ofertado, de acordo com a fonte da energia: tér- permitir a visualização de, respectivamente, receitas de vendas
mica ou hídrica. Como as geradoras entram em “pool” (ou seja, e custos de suprimento ao longo do tempo. Segundo o gover-
a oferta não é individualizada), a prioridade é dada ao vende- no, o mecanismo de colocação prioritária da energia ofertada
dor que pratica o menor preço. Os valores máximos devem ser pelo menor preço também garante a modicidade tarifária.
iguais ou inferiores ao preço teto.
No mercado livre, ou ACL, vendedores e compradores nego-
Os leilões dividem-se em duas modalidades principais: energia ciam entre si as cláusulas dos contratos, como preço, prazo e
existente e energia nova. A primeira corresponde à produção condições de entrega. Da parte vendedora participam as ge-
das usinas já em operação e os volumes contratados são en- radoras enquadradas como PIE (produtores independentes de
tregues em um prazo menor (A-1). A segunda, à produção de energia). A parte compradora é constituída por consumidores
empreendimentos em processo de leilão das concessões e de com demanda superior a 0,5 MW (megawatt) que adquirem
usinas que já foram outorgadas pela Aneel e estão em fase de a energia elétrica para uso próprio. As transações geralmente
planejamento ou construção. Neste caso, o prazo de entrega são intermediadas pelas empresas comercializadoras, também
geralmente é de três ou cinco anos (A-3 e A-5). Além deles, há constituídas na década de 90, e que têm por função favorecer o
os leilões de ajuste e os leilões de reserva. Nos primeiros, as contato entre as duas pontas e dar liquidez a esse mercado.
distribuidoras complementam o volume necessário ao atendi-
mento do mercado (visto que as compras de longo prazo são
realizadas com base em projeções), desde que ele não supere Operações de curto prazo
1% do volume total. Nos leilões de reserva, o objeto de contra-
tação é a produção de usinas que entrarão em operação ape- Os contratos têm prazos que podem chegar a vários anos. O com-
nas em caso de escassez da produção das usinas convencionais prador, portanto, baseia-se em projeções de consumo. O vende-
(basicamente hidrelétricas). dor, nas projeções do volume que irá produzir – e que variam de
acordo com as determinações do ONS. Assim, nas duas pontas
Entre 2004 e 2008, a CCEE organizou mais de 20 leilões por podem ocorrer diferenças entre o volume contratado e aquele
delegação e sob coordenação da Aneel. Dois deles, pelo efetivamente movimentado. O acerto dessa diferença é realizado
menos, foram significativos pela contribuição à diversifica- por meio de operações de curto prazo no mercado “spot” abriga-
ção e à simultânea “limpeza” (aumento da participação de do pela CCEE que têm por objetivo fazer com que, a cada mês, as
fontes renováveis) da matriz nacional. O primeiro, em 2007, partes “zerem” as suas posições através da compra ou venda da
foi exclusivo para fontes alternativas. Nele foi ofertada a energia elétrica. Os preços são fornecidos pelo programa Newave
produção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e ter- e variam para cada uma das regiões que compõem o SIN, de acor-
melétricas movidas a bagaço de cana e a biomassa prove- do com a disponibilidade de energia elétrica.
niente de criadouro avícola. No outro, realizado em 2008 e
caracterizado como o primeiro leilão de energia de reserva, Além de abrigar essas operações, a CCEE também se responsa-
foi contratada exclusivamente a energia elétrica produzida biliza pela sua liquidação financeira. Esta é a sua função origi-
a partir da biomassa. A maior parte das usinas participantes nal. Nos últimos anos, a entidade passou a abrigar a operacio-
será movida a bagaço de cana (apenas uma é abastecida por nalização de parte dos leilões de venda da energia que, junto
capim elefante). Todas ainda estão por ser construídas e de- às licitações para construção e operação de linhas de transmis-
verão entrar em operação em 2009 e 2010. são, são atribuição da Aneel.
Em 2004, com a implantação do Novo Modelo do Setor Elétri- O Novo Modelo do Setor Elétrico preservou a Aneel, agência
co, o Governo Federal, por meio das leis no 10.847/2004 e no reguladora, e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS),
10.848/2004, manteve a formulação de políticas para o setor responsável por coordenar e supervisionar a operação cen-
de energia elétrica como atribuição do Poder Executivo federal, tralizada do sistema interligado brasileiro. Para acompanhar
por meio do Ministério de Minas e Energia (MME) e com asses- e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do
soramento do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) suprimento eletroenergético em todo o território nacional,
e do Congresso Nacional. Os instrumentos legais criaram novos além de sugerir das ações necessárias, foi instituído o Co-
agentes. Um deles é a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), também
vinculada ao MME e cuja função é realizar os estudos necessá- ligado ao MME.
rios ao planejamento da expansão do sistema elétrico. Outro
é a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que Abaixo, o Atlas de Energia Elétrica reproduz a atual estrutura
abriga a negociação da energia no mercado livre. institucional do setor elétrico brasileiro.
Políticas Presidência da
República
Congresso Nacional
CNPE / MME
Regulação e Fiscalização
Agências Estaduais
ANEEL
ANP
Mercado
Conselhos de consumidores
G
T Entidades de defesa
do consumidor
CCEE ONS
D
SDE / MJ CADE - SEAE
C
Agentes
EPE Eletrobrás Concessionárias BNDES
institucionais
Características Gerais
1
1.1 INFORMAÇÕES BÁSICAS
Uma das variáveis para definir um país como desenvolvido é a Isto significou que maior número de pessoas passou a ter acesso
facilidade de acesso da população aos serviços de infra-estrutu- a produtos que, além de mais eficientes do ponto de vista energé-
ra, como saneamento básico, transportes, telecomunicações e tico, não precisavam, necessariamente, ter origem local. O GLP é
energia. O primeiro está diretamente relacionado à saúde públi- obtido em refinarias e distribuído por meio de caminhões. Sua en-
ca. Os dois seguintes, à integração nacional. Já a energia é o fator trega às localidades menores do interior do País só foi possível pela
determinante para o desenvolvimento econômico e social ao abertura das grandes rodovias nos anos 70 do século XX – e que
fornecer apoio mecânico, térmico e elétrico às ações humanas. também foram consideradas um sinal de modernização do país.
Esta característica faz com que o setor de energia conviva, histo- Na administração e operação desses dois extremos – e, também,
ricamente, com dois extremos. Em um deles está o desenvolvi- das atividades intermediárias existentes entre eles – está a chamada
mento tecnológico que visa atingir maior qualidade e eficiência indústria da energia. Essa indústria faz parte de uma cadeia econô-
tanto na produção quanto na aplicação dos recursos energéti- mica que tem início com a exploração de recursos naturais estraté-
cos. Na atualidade, o primeiro caso inclui as pesquisas sobre no- gicos (como água, minerais, petróleo e gás natural), de propriedade
vas fontes, como geotermia, maré e células de hidrogênio, entre da União, e que termina no fornecimento de um serviço público bá-
outras. Do segundo, um exemplo é o automóvel que, após passar sico para a sociedade. Por isso, no geral, ou é composta por estatais
décadas dependente da gasolina, começa a ser crescentemente ou por companhias controladas pelo capital privado que atuam em
abastecido por etanol – enquanto, no terreno dos projetos pilo- um ambiente regulamentado pelos governos locais.
tos, se movimenta com o estímulo da energia elétrica.
Esta característica pode ser observada tanto no Brasil quanto
No outro extremo, há a ação horizontal, que visa a aumentar o nú- no exterior. E é válida tanto para operadoras de um único setor
mero de pessoas com acesso às fontes mais eficientes de energia (por exemplo, petróleo, gás natural ou energia elétrica) quanto
– mesmo que por meio de instalações simples e de baixo custo. para aquelas multissetoriais – as chamadas multiutilities.
Esta iniciativa é observada principalmente com relação ao for-
necimento de energia elétrica (que na iluminação substituiria, No Brasil houve um ensaio para criação das multiutilities nos
por exemplo, a vela e o querosene dos lampiões), mas, em me- anos 90, mas a tendência não se consolidou. Assim, a indústria
nor escala, é detectada também em outros setores. No Brasil dos da energia é nitidamente dividida entre os setores de petróleo,
anos 70, por exemplo, foi avaliado como reflexo da modernização gás natural e energia elétrica, cujas atividades têm áreas de in-
econômica e social a substituição da lenha pelos derivados de pe- tersecção apenas quando se trata da geração de eletricidade.
tróleo (GLP, gás liquefeito de petróleo) na cocção1 de alimentos. Este capítulo abordará a estrutura do setor de energia elétrica.
1.2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO econômicos e sociais. São, também, as que apresentam maior
densidade demográfica. Em conseqüência, o atendimento a no-
O Brasil é um país com quase 184 milhões de habitantes, se- vos consumidores pode ser realizado a partir de intervenções de
gundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- pequeno porte para expansão da rede. Elas são, portanto, as re-
tística (IBGE), e se destaca como a quinta nação mais populosa giões que registram melhor relação entre número de habitantes
do mundo. Em 2008, cerca de 95% da população tinha acesso e unidades consumidoras de energia elétrica.
à rede elétrica. Segundo dados divulgados no mês de setem-
bro pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o país Já o Nordeste, Centro-Oeste e Norte historicamente concen-
conta com mais de 61,5 milhões de unidades consumidoras tram a maior parte da população sem acesso à rede. O aten-
em 99% dos municípios brasileiros. Destas, a grande maioria, dimento foi comprometido por fatores como grande número
cerca de 85%, é residencial. de habitantes com baixo poder aquisitivo (no caso do Nor-
deste principalmente), baixa densidade demográfica (princi-
De todos os segmentos da infra-estrutura, energia elétrica é palmente na região Centro-Oeste) e, no caso da região Norte,
o serviço mais universalizado. A incidência e as dimensões baixa densidade demográfica e pequena geração de renda,
dos nichos não atendidos estão diretamente relacionadas aliada às características geográficas. Estas últimas, por sinal,
à sua localização – e às dificuldades físicas ou econômicas comprometeram a extensão das redes de transmissão e dis-
para extensão da rede elétrica. Afinal, cada uma das cinco tribuição, mas também transformaram o Norte na região com
regiões geográficas em que se divide o Brasil – Sul, Sudeste, maior potencial para aproveitamentos hidrelétricos do país
Centro-Oeste, Nordeste e Norte – tem características bastan- (para detalhes, ver Capítulo 3).
te peculiares e diferenciadas das demais. Estas particularida-
des determinaram os contornos que os sistemas de geração, A relação entre as peculiaridades regionais e o acesso à rede
transmissão e distribuição adquiriram ao longo do tempo e elétrica fica clara nas análises que a Empresa de Pesquisa
ainda determinam a maior ou menor facilidade de acesso da Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia
população local à rede elétrica. (MME), fez do mercado de energia elétrica brasileiro em maio
de 2008. Segundo a empresa, apenas nesse período a taxa de
Para geração e transmissão de energia elétrica, por exemplo, atendimento no Nordeste praticamente se igualou à média
o país conta com um sistema (conjunto composto por usinas, nacional. Esta evolução foi favorecida, segundo a EPE, tanto
linhas de transmissão e ativos de distribuição) principal: o Sis- pelo aumento de renda da população mais pobre quanto
tema Interligado Nacional (SIN). Essa imensa “rodovia elétrica” pelo incremento no número de ligações elétricas.
abrange a maior parte do território brasileiro e é constituída
pelas conexões realizadas ao longo do tempo, de instalações Os dois fenômenos foram proporcionados pela implantação si-
inicialmente restritas ao atendimento exclusivo das regiões multânea de dois programas do Governo Federal: o Bolsa Famí-
de origem: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da lia, para transferência de recursos públicos à população carente,
região Norte (para detalhes, ver tópico 1.4). Além disso, há di- e o Luz para Todos, que tem por objetivo estender a rede elétrica
versos sistemas de menor porte, não-conectados ao SIN e, por a 100% da população. No Norte, em 2007, o impacto do Progra-
isso, chamados de Sistemas Isolados, que se concentram prin- ma Luz para Todos, segundo a EPE, foi observado principalmente
cipalmente na região Amazônica, no Norte do país. Isto ocor- na região rural, o que confirma a baixa densidade demográfica.
re porque as características geográficas da região, composta No conjunto, estas unidades apresentaram aumento de 23% no
por floresta densa e heterogêna, além de rios caudalosos e consumo de eletricidade durante o período.
extensos, dificultaram a construção de linhas de transmissão
de grande extensão que permitissem a conexão ao SIN. Ainda segundo a EPE, em 2007 foram realizadas mais de 1,8
milhão de ligações residenciais. Parte delas decorreu do cresci-
Para o atendimento ao consumidor, outros fatores, como nível mento vegetativo da população, mas parte integrou o Progra-
de atividade econômica, capacidade de geração e circulação de ma Luz para Todos. Como mostra a Tabela 1.1 a seguir, embora
renda e densidade demográfica (número de habitantes por qui- em números absolutos a maior parte tenha sido instalada na
lômetro quadrado) são variáveis importantes. Sudeste e Sul, por região Sudeste, o maior impacto – medido pelas variações per-
exemplo, são as regiões mais desenvolvidas do país em termos centuais – ocorreu nas regiões Norte e Nordeste.
Tabela 1.1 - Unidades consumidoras – variação de 2006 para 2007 por região geográfica (em 1.000 unidades)
variação
Região 2006 2007
absoluta %
Norte 2.620 2.745 125 4,8
Nordeste 12.403 13.076 674 5,4
Sudeste 24.399 25.101 702 2,9
Sul 7.319 7.520 201 2,8
Centro-Oeste 3.579 3.703 125 3,5
Brasil 50.319 52.146 1.827 3,6
Fonte: EPE, 2008.
1.3 DISTRIBUIÇÃO
A conexão e atendimento ao consumidor, qualquer que seja o várias empresas privadas verifica-se a presença de investido-
seu porte são realizados pelas distribuidoras de energia elétrica. res nacionais, norte-americanos, espanhóis e portugueses.
Além delas, as cooperativas de eletrificação rural, entidades de
pequeno porte, transmitem e distribuem energia elétrica exclu- As distribuidoras são empresas de grande porte que funcionam
sivamente para os associados. Em 2008, a Aneel relaciona 53 des- como elo entre o setor de energia elétrica e a sociedade, visto
sas cooperativas que, espalhadas por diversas regiões do país, que suas instalações recebem das companhias de transmissão
atendem a pequenas comunidades. Deste total, 25 haviam assi- todo o suprimento destinado ao abastecimento no país. Nas
nado contratos de permissão com a Aneel, após a conclusão do redes de transmissão, após deixar a usina, a energia elétrica
processo de enquadramento na condição de permissionárias do trafega em tensão que varia de 88 kV (quilovolts) a 750 kV. Ao
serviço público de distribuição de energia elétrica para cumpri- chegar às subestações das distribuidoras, a tensão é rebaixada
mento da lei no 9.074/1995 e da resolução Aneel no 012/2002. e, por meio de um sistema composto por fios, postes e transfor-
madores, chega à unidade final em 127 volts ou 220 volts. Exce-
Já o mercado de distribuição de energia elétrica, é formado ção a essa regra são algumas unidades industriais que operam
por 63 concessionárias, responsáveis pelo atendimento de com tensões mais elevadas (de 2,3 kV a 88 kV) em suas linhas
mais de 61 milhões de unidades consumidoras. O controle de produção e recebem energia elétrica diretamente da subes-
acionário dessas companhias pode ser estatal ou privado. No tação da distribuidora (pela chamada rede de subtransmissão).
primeiro caso, os acionistas majoritários são o governo fe- A relação entre os agentes operadores do setor elétrico e os
deral, estaduais e/ou municipais. Nos grupos de controle de consumidores pode ser observada na Figura 1.1 abaixo.
Consumidores livres
TUST
Consumidores cativos
Consumidores livres
Os direitos e obrigações dessas companhias são estabeleci- Além de responder pelo atendimento ao cliente final, as dis-
dos no Contrato de Concessão celebrado com a União para tribuidoras desenvolvem programas especiais compulsórios
a exploração do serviço público em sua área de concessão com foco no consumidor. Alguns dos principais estimulam a
– território geográfico do qual cada uma delas detém o mo- inclusão social da população mais pobre por meio do aces-
nopólio do fornecimento de energia elétrica. O Mapa 1.1 na so formal à rede elétrica e da correspondente fatura mensal
página seguinte mostra que as 63 distribuidoras que ope- (que passa a funcionar como comprovante de residência ao
ram em 2008 atuam em diferentes Estados do país, sendo permitir o acesso a instrumentos econômico-sociais, como
que alguns deles, como São Paulo, abrigam mais de uma linhas de crédito e financiamento). Entre esses programas
dessas companhias. estão o Baixa Renda (com tarifas diferenciadas para consu-
midores que atendem a determinadas especificidades de
O cumprimento dos Contratos de Concessão e as ativida- consumo e renda), o Luz para Todos (universalização) e a
des desenvolvidas são estritamente reguladas e fiscalizadas regularização das ligações clandestinas (os chamados “ga-
pela Aneel. O objetivo da Agência é, de um lado, assegurar tos”, ou conexões irregulares que permitem o acesso ilegal à
ao consumidor, o pagamento de um valor justo e o acesso energia elétrica sem o pagamento da correspondente fatura
a um serviço contínuo e de qualidade e, de outro, garantir à e se configuram legalmente como crime).
distribuidora o equilíbrio econômico-financeiro necessário ao
cumprimento do Contrato de Concessão. As distribuidoras também são responsáveis pela imple-
mentação de projetos de eficiência energética (ver Box do
Entre as variáveis reguladas pela Agência estão as tarifas e capítulo 2) e de P&D (pesquisa e desenvolvimento). Neste
a qualidade do serviço prestado – tanto do ponto de vista caso, são obrigadas a destinar um percentual mínimo de
técnico quanto de atendimento ao consumidor. Dois desses sua receita operacional líquida a essas atividades que, para
indicadores são o DEC (Duração Equivalente de Interrupção ser implementadas, dependem da aprovação da Aneel. Pela
por Unidade Consumidora) e o FEC (Freqüência Equivalente legislação vigente (Lei no 11.465/2007), até o final de 2010
de Interrupção por Unidade Consumidora) que medem, res- esse percentual é de 0,5% tanto para eficiência energética
pectivamente, a duração e a freqüência das interrupções no quanto para P&D. Segundo informações da Aneel, o total de
fornecimento. De acordo com a Aneel, em 1997 o DEC médio recursos aplicados entre 1998 e 2007 em programas de P&D
no país foi de 27,19 minutos e, em 2007, havia recuado para por todas as empresas do setor (o que inclui as transmisso-
16,08 minutos. Quanto ao FEC, em 1997 foi de 21,68 vezes e, ras e geradoras) foi de R$ 1,3 bilhão.
em 2007, de 11,72 vezes, como mostra a Tabela1.2 abaixo.
Guiana
Suriname Francesa
Colômbia Venezuela
BOA VISTA
Guiana
RR O c e
CER
a n
AP CEA o
A
t l Equador
0º S â 0º S
n
t
i
c
o
MANAUS
CEAM
AM PA CELPA MA
CEMAR
CE COELCE
RN COSERN
SAELPA
PB
CELB
PI CEPISA
CELPE PE
AC ELETROACRE
10º S TO
CEAL
10º S
CELTINS
ENERGIPE AL
RO CERON SE
SULGIPE
BA
COELBA
Peru MT CEMAT
DF
GO CHESP CEB-DIS
Bolívia CELG-D
MG CEMIG-D
ES
ELFSM
IENERGIA CEMIG-D
SC CELESC-DIS CNEE
CLFM
MG
IENERGIA CPFL CPEE
IENERGIA HIDROPAN DMEPC
MUX
DEMEIELETROCAR CAIUÁ-D
SC CELESC-DIS RGE EFLUL
ELEKTRO
COOPERALIANÇA
SP EDEVP
UHENPAL
RS AES-SUL CJE
30º S HIDROPANELETROCAR
MUX
EEB
30º S
DEMEI RGE CLFSC ELEKTRO
EFLUL PIRAT ELEKTRO
EBE
EFLJC PIRAT ELEKTRO
RS COOPERALIANÇA
CEEE-D
CSPE EBE ELPA
PR COPEL-DIS
PIRAT
PIRAT
AES-SUL UHENPAL
Uruguai ELEKTRO
CEEE-D
O L
0 250 500 S
Fonte: SGI, Aneel, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL - 3ª EDIÇÃO Escala Gráfica: km
distribuição, mas também de transmissão e geração de ener- edição da Lei no 8.631, as tarifas passaram a ser fixadas por empre-
gia elétrica, como pode ser observado na Figura 1.2 a seguir. sa, conforme características específicas de cada área de concessão
– por exemplo, número de consumidores, quilômetros de rede
Até a década de 90, existia uma tarifa única de energia elétrica no de transmissão e distribuição, tamanho do mercado (quantidade
Brasil, que garantia a remuneração das concessionárias, indepen- de unidades de consumo atendidas por uma determinada infra-
dentemente de seu nível de eficiência. Esse sistema não incenti- estrutura), custo da energia comprada e tributos estaduais, entre
vava a busca pela eficiência por parte da distribuidora, uma vez outros. Portanto, se essa área coincide com a de uma unidade
que a integralidade de seu custo era transferida ao consumidor. federativa, a tarifa é única naquele estado. Caso contrário, tarifas
Como pode ser observado na Figura 1.3 abaixo, em 1993, com a diferentes coexistem dentro do mesmo estado.
transporte de energia
geração de energia + até as casas (fio)
transmissão + distribuição
+ encargos e tributos
R$
R$
R$ R$
R$ R$
R$ R$
R$
R$
R$
R$
R$ R$
R$ R$
R$
R$
R$
R$
R$
1993
R$ R$
R$
R$
Encargos e tributos
Os encargos setoriais são custos inseridos sobre o valor da tarifa de Alguns encargos têm, por exemplo, o objetivo de incentivar o
energia elétrica, como forma de subsídio, para desenvolver e finan- uso fontes alternativas. Outros contribuem para a universaliza-
ciar programas do setor elétrico definidos pelo Governo Federal. ção do acesso à energia elétrica e para reduzir o valor da con-
ta mensal dos consumidores localizados em áreas remotas do
Seus valores são estabelecidos por Resoluções ou Despachos País, como a região Norte, abastecida por usinas a óleo diesel
da Aneel, para efeito de recolhimento pelas concessionárias dos e não conectadas ao SIN (ver tópico 1.4). Cada encargo é justi-
montantes cobrados dos consumidores por meio das tarifas de ficável, se avaliado individualmente. Entretanto, quando con-
energia elétrica. Como são contribuições definidas em leis apro- siderado o seu conjunto, pressionam a tarifa, e, conseqüente-
vadas pelo Congresso Nacional, são utilizados para determina- mente, a capacidade de pagamento do consumidor. Em 2007,
dos fins específicos, conforme mostra a Tabela 1.3 a seguir. eles representaram cerca de R$ 11 bilhões.
CFURH
Compensar financeiramente o uso da água e terras produtivas para fins
Compensação financeira pela utilização de recursos 1.244
de geração de energia elétrica.
hídricos
TFSEE
Prover recursos para o funcionamento da ANEEL 327
Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica
Total 9.617
Fonte: Aneel, 2008.
Já os tributos são pagamentos compulsórios devidos ao Poder para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), federal;
Público, a partir de determinação legal, e que asseguram re- Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),
cursos para que o Governo desenvolva suas atividades. Sobre estadual; Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação
as contas mensais de energia elétrica incidem os seguintes Pública (CIP), municipal. O Gráfico 1.1 a seguir mostra a com-
tributos: Programas de Integração Social (PIS) e Contribuição posição da conta mensal de energia elétrica.
40
35
R$ 33,45
R$ 31,33
30 R$ 28,98
25
R$
20
15
10
R$ 6,25
5
As atualizações tarifárias
A Revisão Tarifária Periódica permite o reposicionamento da A monofásica está ligada à rede de eneriga elétrica por
tarifa após completa análise dos custos eficientes e remune- uma fase (onde transita energia elétrica) e um neutro (para
ração dos investimentos prudentes, em intervalos de quatro fechar o circuito), ou seja, dois condutores. A ligação bifá-
ou cinco anos. Esse mecanismo se diferencia dos reajustes sica é feita por duas fases e um neutro (três condutores),
anuais por ser mais amplo e levar em conta todos os custos, enquanto a trifásica é ligada por três fases e um neutro
investimentos e receitas para fixar um novo patamar de tari- (quatro condutores). O número de fases aumenta de acor-
fas adequado à estrutura da empresa e a seu mercado. do com a carga (demanda e consumo) da unidade consu-
midora para garantir maior qualidade e segurança no for-
Já a Revisão Tarifária Extraordinária destina-se a atender ca- necimento de energia.
sos muito especiais de desequilíbrio justificado. Pode ocorrer
a qualquer tempo, quando um evento imprevisível afetar o
equilíbio econômico-financeiro da concessão. 1.4 TRANSMISSÃO
Guiana
Suriname Francesa
Colômbia Venezuela Boa Vista Guiana
O c e
AP a n
RR o
A
Macapá t l Equador
0º S â 0º S
n
t
i
Belém c
o
Manaus
São Luis Fernando de Noronha
Fortaleza
AM PA
MA CE
Natal
Teresina RN
PI João Pessoa
PB
Recife
Porto Velho PE
AC
Rio Branco TO AL Maceió
10º S 10º S
SE
Palmas Aracaju
RO
BA Salvador
Peru
MT
Brasília
Cuiabá
GO DF
Bolívia
Goiânia
MG
MS ES
20º S 20º S
Vitória
Belo Horizonte
Campo Grande
SP
RJ
Chile Paraguai
Rio de Janeiro Trópico de Capricórnio
PR São Paulo
Curitiba
SC
Florianópolis
Argentina
RS
30º S 30º S
Porto Alegre
Uruguai
0 250 500 S
Fonte: Aneel 2008 ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL - 3ª EDIÇÃO Escala Gráfica: km
MAPA 1.2 - Centrais elétricas que compõem os Sistemas Isolados - Situação em outubro de 2003
O SIN abrange as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Outra possibilidade aberta pela integração é a operação de usinas
parte do Norte. Em 2008, concentra aproximadamente 900 linhas hidrelétricas e termelétricas em regime de complementaridade.
de transmissão que somam 89,2 mil quilômetros nas tensões de Como os custos da produção têm reflexo nas tarifas pagas pelo
230, 345, 440, 500 e 750 kV (também chamada rede básica que, consumidor e variam de acordo com a fonte utilizada (ver Gráfico
além das grandes linhas entre uma região e outra, é composta pe- 1.2 abaixo), transformam-se em variáveis avaliadas pelo ONS para
los ativos de conexão das usinas e aqueles necessários às interli- determinar o despacho – definição de quais usinas devem operar
gações internacionais). Além disso, abriga 96,6% de toda a capaci- e quais devem ficar de reserva de modo a manter, permanente-
dade de produção de energia elétrica do país – oriunda de fontes mente, o volume de produção igual ao de consumo. A energia
internas ou de importações, principalmente do Paraguai por con- hidrelétrica, mais barata e mais abundante no Brasil, é prioritária
ta do controle compartilhado da usina hidrelétrica de Itaipu. no abastecimento do mercado. As termelétricas, de uma manei-
ra geral, são acionadas para dar reforço em momentos chamados
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é responsável como picos de demanda (em que o consumo sobe abruptamen-
pela coordenação e controle da operação do SIN, realizada pelas te) ou em períodos em que é necessário preservar o nível dos re-
companhias geradoras e transmissoras, sob a fiscalização e regu- servatórios – ou o “estoque de energia”. Isto ocorreu no início de
lação da Aneel. Entre os benefícios desta integração e operação 2008, quando o aumento do consumo aliado ao atraso no início
coordenada está a possibilidade de troca de energia elétrica en- do período chuvoso da região Sudeste apontou para a necessida-
tre regiões. Isto é particularmente importante em um país como de de uma ação preventiva para preservação dos reservatórios.
o Brasil, caracterizado pela predominância de usinas hidrelétri-
cas localizadas em regiões com regimes hidrológicos diferentes. O sistema interligado se caracteriza, também, pelo processo
permanente de expansão, o que permite tanto a conexão de
Como os períodos de estiagem de uma região podem cor- novas grandes hidrelétricas quanto a integração de novas regi-
responder ao período chuvoso de outra, a integração per- ões. Se, em 2008, por exemplo, o SIN é composto por 89,2 mil
mite que a localidade em que os reservatórios estão mais quilômetros de rede, em 2003, a extensão era de 77,6 mil km.
cheios envie energia elétrica para a outra, em que os lagos A expansão verificada a partir desse ano reforçou as interliga-
estão mais vazios – permitindo, com isso, a preservação do ções do sistema, ampliando a possibilidade de troca de energia
“estoque de energia elétrica” represado sob a forma de água. elétrica entre as regiões. O Mapa 1.3, na próxima página, mos-
Esta troca ocorre entre todas as regiões conectadas entre si. tra o horizonte da transmissão no período de 2007 a 2009.
491,61
500
400
330,11
R$ / MWh
300
197,95
200
140,60 138,75 135,05 127,65 125,80 118,40 116,55 101,75
100
0
Óleo Óleo Eólica Gás Nuclear Carvão Carvão GNL* Hidrelétrica PCH Biomassa**
diesel combustível natural nacional importado
Guiana
Suriname Francesa
Colômbia Venezuela Boa Vista Guiana
O c e
RR AP a n
o
Macapá A
t l Equador
0º S â 0º S
n
t
i
2 c
Belém o
3 São Luis
2 Fortaleza
AM 2 2
Manaus PA Tucuruí 4 2 MA CE
2 2 2
Teresina Natal
2 RN 2
2 João Pessoa
2 PI PB 3
3 Recife
Porto Velho PE 2
AC 2 4 3
TO
2 2 E AL
10º S 2 Maceió 10º S
Rio Branco 2 2
2 Palmas SE
RO 2 Aracaju
2
2 BA Salvador
Peru
MT 3
2 Serra da Mesa
3
2
2 Brasília
3 Goiânia
GO
Cuiabá 2 DF
Bolívia 3
2
3
D MG
3 2
MS
Campo Grande 2 ES
20º S
2 C 2 Vitória
20º S
A 2
Belo Horizonte
2 2
2 2
2 2
SP 2 3 RJ2
B 2
4 2
Chile Paraguai
Rio de Janeiro Trópico de Capricórnio
4 3
3
3 PR 2 São Paulo
Itaipu 2
2 Curitiba
Yaciretá 2 2
Blumenau
SC
Argentina Guarabi 2
RS 2
Uruguaiana 2
50 MW 2
30º S
5 30º S
Porto Alegre
Livramento
70 MW
Uruguai
500 kV D Paranaíba
0 250 500 S
Fonte: ONS, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL - 3ª EDIÇÃO Escala Gráfica: km
Os Sistemas Isolados em três anos. Integram esta projeção duas linhas que permitirão
a conexão de outros sistemas isolados e cuja construção faz par-
Os Sistemas Isolados são predominantemente abastecidos por te do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo
usinas térmicas movidas a óleo diesel e óleo combustível – em- Federal. Uma delas interligará a usina hidrelétrica de Tucuruí (PA) a
bora também abriguem Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), Macapá e Manaus. Outra, no final de 2008, ligará Vilhena e Samuel
Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) e termelétricas movidas a (ambas em Rondônia) a Jauru, no Mato Grosso, o que levará à co-
biomassa. Estão localizados principalmente na região Norte: nos nexão do sistema isolado Acre-Rondônia (Figura 1.4 abaixo).
Estados de Amazonas, Roraima, Acre, Amapá e Rondônia. São as-
sim denominados por não estarem interligados ao SIN e por não Em junho de 2008 a Aneel leiloou a concessão para constru-
permitirem o intercâmbio de energia elétrica com outras regi- ção da linha Tucuruí-Manaus-Macapá, com 1.829 quilômetros
ões, em função das peculiaridades geográficas da região em que de extensão a ser construída na Floresta Amazônica. O em-
estão instalados. Segundo dados da Eletrobrás, eles atendem a preendimento permitirá o suprimento de energia elétrica a
uma área de 45% do território brasileiro e a cerca de 3% da popu- diversos municípios dos estados do Pará, Amapá e do Amazo-
lação nacional – aproximadamente 1,3 milhão de consumidores nas, e possibilitará a interligação de diversas regiões isoladas
espalhados por 380 localidades. Em 2008, respondem por 3,4% ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
da energia elétrica produzida no país.
A visão do ONS, constante do relatório de administração de 2007, Figura 1.4 - Conexão do sistema isolado Acre-Rondônia ao SIN.
é que o SIN registre uma nova expansão, de 11,5 mil km de linhas Fonte: ONS, 2008.
O linhão das usinas do rio Madeira, leiloado em novembro de as 27 usinas (termelétricas movidas por bagaço de cana-de-
2008, também permitirá a conexão do estado de Rondônia ao SIN. açúcar e pequenas centrais hidrelétricas, PCHs) instaladas
As linhas de transmissão e subestações que compõem a interliga- nos Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. É a perspectiva
ção terão extensão aproximada de 2.375 quilômetros (km). de construção destas linhas de transmissão, inclusive, que
viabiliza, do ponto de vista técnico e econômico, o aumen-
to da participação do bagaço de cana na matriz da energia
Leilões de linha de transmissão elétrica nacional.
Até 1999, a rede de transmissão era operada exclusivamen- Em 2008, 71 linhas transmissão, totalizando 7.736,66 quilô-
te pelas companhias verticalizadas (com ativos de geração, metros (km), estão em construção. Em novembro, a previsão
transmissão e, em alguns casos, distribuição) ou pelas compa- é que, deste total, entrem em operação, até o final deste ano,
nhias resultantes de sua cisão para fins de privatização (para 1.730,2 km e, em 2009, 5.998,45 km. Desde 1998, a Aneel lici-
detalhes, ver Box 1) e ainda controladas pelo Estado. A partir tou e autorizou 34.083 km de linhas de transmissão. Do total
desse ano, no entanto, a Aneel iniciou o processo de expan- de linhas licitadas, 15.407,81 km estão em operação. Em 2008,
são dessas instalações, com base em leilões para seleção do 2.227,7 km de linhas foram energizados.
grupo empreendedor responsável pela construção e opera-
ção da rede. O vencedor seria o candidato que apresentasse a O planejamento da expansão do sistema de transmissão do
menor tarifa a ser praticada. Brasil é realizado em conjunto pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE) e pelo ONS. Os documentos “Programa de
Excluindo-se 2001, ano do racionamento de energia elétri- Expansão da Transmissão (PET)”, elaborado pela EPE, e “Pla-
ca, em que a expansão foi significativamente reduzida, no no de Ampliações e Reforços (PAR)”, elaborado pelo ONS,
geral, nos demais períodos o acréscimo à rede básica foi su- indicam as obras (linhas e subestações) necessárias para a
perior a 2.000 km por ano, com destaque para 2003, com 4,9 adequada prestação dos serviços. Os empreendimentos
mil km, como mostra o Gráfico 1.3 abaixo. Em 2008, a Aneel definidos pelo Governo Federal são incluídos no Programa
leiloou mais de 3,5 mil km de rede. Neste total estão embu- Nacional de Desestatização (PND), que determina à Aneel a
tidas as linhas que conectam, ao SIN, as usinas hidrelétricas promoção e o acompanhamento dos processos de licitação
a serem construídas no Rio Madeira (Santo Antonio e Jirau) e das respectivas concessões.
7.000
6.000
Acréscimo Anual de Linhas (km)
4.980
5.000
4.217
4.000 3.503
3.077 3.441 3.198
3.036
3.000
2.438 2.314 2.233 4.037
0 2.080
2.000
0 1.926 2.512 3.074 2.898
3.077 1.150 995
861 1.158
1.000
0 2.080 505 1.539 818 1.974
388 524
861 645 1.280 123 259 605 0 0
178 180
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2008* 2009* 2010*
(ener)
Licitadas 0,0 0,0 0,0 505,0 1.158,0 3.441,1 1.926,0 2.512,0 3.074,4 817,7 1.973,6 2.897,8 4.037,1 0,0
Autorizadas 861,0 3.077,0 2.079,9 644,7 1.279,9 1.538,8 387,5 523,7 123,1 177,7 259,1 605,3 179,6 0,0
Total 861,0 3.077,0 2.079,9 1.149,7 2.437,9 4.979,9 2.313,5 3.035,7 3.197,5 995,4 2.232,7 3.503,1 4.216,6 0,0
Os editais de licitação permitem a participação de empresas Tabela 1.4 - Acréscimo anual da geração (em MW)
nacionais e estrangeiras, públicas e privadas, que podem con- 1999 2.840,3
correr isoladamente ou em consórcio, assim como fundos de 2000 4.264,2
investimentos em participação registrados na Comissão de 2001 2.506,0
Valores Mobiliários (CVM). De acordo com a atual sistemática, 2002 4.638,4
os leilões são realizados com inversão da ordem de fases, que 2003 3.998,0
consiste na habilitação jurídica, técnica, econômico-financei- 2004 4.234,6
ra e fiscal após a realização da sessão pública do leilão e ape- 2005 2.425,2
nas para as vencedoras do certame. 2006 3.935,5
2007 4.028,0
Nesses leilões, vence quem oferecer a menor tarifa, ou seja, a 2008 860,5*
menor Receita Anual Permitida (RAP) para prestação do serviço (*) Até 16/8/2008.
Fonte: Aneel, 2008.
público de transmissão. Os deságios verificados resultam em be-
nefícios ao consumidor, uma vez que a tarifa de uso dos sistemas
de transmissão é um dos componentes de custo da tarifa prati-
cada pelas distribuidoras. Essa diferença a menor também con-
tribui para maior competitividade do setor produtivo nacional. como mostra a Tabela 1.5 na página seguinte. A maior parte
da potência, tanto instalada quanto prevista, provém de usinas
hidrelétricas. Em segundo lugar, estão as térmicas e, na seqü-
1.5 GERAÇÃO ência, o conjunto de empreendimentos menores.
De acordo com o Banco de Informações de Geração (BIG), da O planejamento da expansão do setor elétrico, produzido
Aneel, o Brasil conta, em novembro de 2008, com 1.768 usinas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê a diversifica-
em operação, que correspondem a uma capacidade instalada ção da matriz da energia elétrica, historicamente concentrada
de 104.816 MW (megawatts) – número que exclui a participa- na geração por meio de fonte hidráulica. Um dos principais
ção paraguaia na usina de Itaipu. Do total de usinas, 159 são hi- objetivos desta decisão é reduzir a relação de dependência
drelétricas, 1.042 térmicas abastecidas por fontes diversas (gás existente entre volume produzido e condições hidrológicas
natural, biomassa, óleo diesel e óleo combustível), 320 Peque- (ou nível pluviométrico na cabeceira dos rios que abrigam es-
nas Centrais Hidrelétricas (PCHs), duas nucleares, 227 centrais tas usinas). Há poucos anos, as hidrelétricas representavam
geradoras hidrelétricas (pequenas usinas hidrelétricas) e uma cerca de 90% da capacidade instalada no país. Em 2008, essa
solar. Este segmento conta com mais de 1.100 agentes regu- participação recuou para cerca de 74%. O fenômeno foi re-
lados entre concessionários de serviço público de geração, co- sultado da construção de usinas baseadas em outras fontes
mercializadores, autoprodutores e produtores independentes. (como termelétricas movidas a gás natural e a biomassa) em
Detalhes a respeito da geração de energia elétrica no Brasil e ritmo maior que aquele verificado nas hidrelétricas.
no mundo são fornecidos nos capítulos de 3 a 9.
Todas as etapas da vida de uma usina – dos estudos para de-
As informações da Agência também demonstram que, desde senvolvimento do projeto à operação – são autorizadas e/ou
1999, o aumento na capacidade instalada do país tem sido fiscalizadas pela Aneel. No caso das térmicas, a autorização
permanente – ao contrário do que ocorreu no final dos anos para construção configura-se como um ato administrativo e,
80 e início da década de 90, quando os investimentos em portanto, é relativamente simples. Já a construção das UHEs
expansão foram praticamente paralisados. Como pode ser e PCHs, por envolver a exploração de um recurso natural que,
observado na Tabela 1.4 a seguir, em 2007, 4 mil MW foram pela Constituição, é considerado como bem da União, deve
agregados à capacidade instalada. ser precedida de um estudo de inventário – cuja realização
depende de autorização da Aneel e cujos resultados também
O BIG relaciona, ainda, 130 empreendimentos em construção e deverão ser aprovados pela entidade. A partir daí, o processo
mais 469 outorgados, o que permitirá a inserção de mais 33,8 regulamentar que dá origem à autorização para a construção
mil MW à capacidade instalada no país nos próximos anos, das UHE é bem mais complexo do que o das PCHs.
Empreendimentos em Construção
Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) %
Central Geradora Hidrelétrica 1 848 0,01
Central Geradora Eolielétrica 22 463.330 6,26
Pequena Central Hidrelétrica 67 1.090.070 14,73
Usina Hidrelétrica de Energia 21 4.317.500 58,34
Usina Termelétrica de Energia 19 1.528.898 20,66
Total 130 7.400.646 100
Para as UHEs, a etapa seguinte ao estudo de inventário é a re- produção às distribuidoras pelo preço de R$ 78,87 por MWh,
alização, pelo empreendedor que solicitar a autorização, do diante do preço máximo fixado pelo MME de R$ 122,00 por
estudo de viabilidade. Simultaneamente, devem ser obtidas, MWh. Para os empreendedores da usina de Jirau, também no
também, a licença ambiental prévia (junto ao órgão ambien- Rio Madeira, o processo foi o mesmo. O Consórcio Energia Sus-
tal estadual ou nacional, caso o aproveitamento esteja locali- tentável do Brasil (CESB) se dispôs a vender ao mercado cativo
zado em dois ou mais Estados) e a reserva de recursos hídricos (distribuidoras) 70% da energia pelo preço de R$ 71,37 por
(a ser promovida junto aos órgãos responsáveis pelos recursos hí- MWh, valor que correspondeu a um deságio de 21,57% em re-
dricos, de esfera estadual ou federal). Concluída esta etapa, o em- lação ao preço teto estabelecido pelo MME, de R$ 91 por MWh.
preendimento está apto a ser licitado por meio de leilões de ven- Tanto em Santo Antônio quanto em Jirau, os restantes 30% po-
da antecipada da energia a ser produzida (para detalhes ver Box derão ser comercializados no mercado livre de energia (para
1). Vencerá o proponente que se propuser a vender a produção às conhecer o funcionamento desse mercado, ver Box 1).
distribuidoras pelo menor preço por MWh (megawatt-hora).
Definido o vencedor do leilão, vem a etapa de desenvolvi-
Foi o que ocorreu no leilão da usina de Santo Antônio, no Rio mento do Projeto Básico Técnico (PBT) – a ser aprovado pela
Madeira (RO): o consórcio Madeira Energia S/A vendeu 70% da Aneel – e do Projeto Básico Ambiental (PBA) – encaminhado
ao órgão ambiental responsável pela avaliação do empreen- básico da usina e concede a autorização para a instalação. No
dimento. Apenas após obter as aprovações a ambos, o em- Brasil, o último inventário global foi realizado em 1992 pela
preendedor poderá desenvolver o projeto executivo e dar Eletrobrás. Em 2008, a EPE ocupava-se da revisão dos inven-
início à construção da usina. Já a construção de PCHs – com tários dos rios Araguaia e Tibagi e realizava novos estudos em
potência de até 30MW e reservatório não superior a 3 km2 não bacias principalmente da região Norte. Como pode ser obser-
exige nem o estudo de viabilidade nem a licitação. Após a rea- vado na Tabela 1.6 abaixo, é exatamente nesta região, na ba-
lização do estudo de inventário, a Aneel seleciona o empreen- cia Amazônica, que se encontra o maior potencial hidrelétrico
dedor de acordo com critérios pré-definidos, avalia o projeto existente no país.
Tabela 1.6 - Potencial hidrelétrico por bacia hidrográfica - Situação em 2007 (MW)
Bacia Total %
1 Amazonas 106.149 42,2
2 Paraná 57.801 23,0
3 Tocantins/Araguaia 28.035 11,2
4 São Francisco 17.757 7,1
5 Atlântico Sudeste 14.728 5,9
6 Uruguai 12.816 5,1
7 Atlântico Sul 5.437 2,2
8 Atlântico Leste 4.087 1,6
9 Paraguai 3.102 1,2
10 Parnaíba 1.044 0,4
11 Atlântico NE Oc. 376 0,1
12 Atlântico NE Or. 158 <0,1
Total 251.490 100,0
Fonte: EPE, 2007.
REFERÊNCIAS
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – disponível em www. Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – disponível em www.epe.gov.br
aneel.gov.br
Ministério de Minas e Energia (MME) – disponível em www.mme.gov.br
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) – disponível
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – disponível em www.
em www.ccee.org.br
ons.org.br
Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás) – disponível em www.ele-
Power Systems Research (PSR) – disponível em www.psr-inc.com
trobras.gov.br
2.1.1 Hidráulica
Derivados de Petróleo | Capítulo 7
Parte II
Eletronorte
Fontes renováveis
Energia Hidráulica
3
Atlas de Energia Elétrica do Brasil 49
Capítulo 7 | Derivados de Petróleo
Box 3
O caminho da água na
produção de eletricidade
Para produzir a energia hidrelétrica é necessário integrar a va- condutos metálicos que têm a função de levar a água até a casa
zão do rio, a quantidade de água disponível em determinado de força. É nesta instalação que estão as turbinas, formadas
período de tempo e os desníveis do relevo, sejam eles naturais, por uma série de pás ligadas a um eixo conectado ao gerador.
como as quedas d’água, ou criados artificialmente. Durante o seu movimento giratório, as turbinas convertem a
energia cinética (do movimento da água) em energia elétrica
Já a estrutura da usina é composta, basicamente, por barragem, por meio dos geradores que produzirão a eletricidade. Depois
sistema de captação e adução de água, casa de força e verte- de passar pela turbina, a água é restituída ao leito natural do
douro, que funcionam em conjunto e de maneira integrada. rio pelo canal de fuga. Os principais tipos de turbinas hidráuli-
A barragem tem por objetivo interromper o curso normal do cas são: Pelton, Kaplan, Francis e Bulbo. Cada turbina é adapta-
rio e permitir a formação do reservatório. Além de “estocar” a da para funcionar em usinas com determinada faixa de altura
água, esses reservatórios têm outras funções: permitem a for- de queda e vazão. A turbina tipo Bulbo é usada nas usinas fio
mação do desnível necessário para a configuração da energia d’água por ser indicada para baixas quedas e altas vazões, não
hidráulica, a captação da água em volume adequado e a regu- exigindo grandes reservatórios.
larização da vazão dos rios em períodos de chuva ou estiagem.
Algumas usinas hidroelétricas são chamadas “a fio d’água”, ou Por último, há o vertedouro. Sua função é permitir a saída da
seja, próximas à superfície e utilizam turbinas que aproveitam água sempre que os níveis do reservatório ultrapassam os
a velocidade do rio para gerar energia. Essas usinas fio d’água limites recomendados. Uma das razões para a sua abertura
reduzem as áreas de alagamento e não formam reservatórios é o excesso de vazão ou de chuva. Outra é a existência de
para estocar a água ou seja, a ausência de reservatório dimi- água em quantidade maior que a necessária para o armaze-
nui a capacidade de armazenamento de água, única maneira namento ou a geração de energia. Em períodos de chuva, o
de poupar energia elétrica para os períodos de seca. Os siste- processo de abertura de vertedouros busca evitar enchen-
mas de captação e adução são formados por túneis, canais ou tes na região de entorno da usina.
Fluxo
de água
Reservatório
Casa de
força
Linhas de transmissão
Canal de energia
Gerador
Duto
Turbina
Rio
Energia Hidráulica
3
3.1 INFORMAÇÕES GERAIS
A água é o recurso natural mais abundante na Terra: com um Mesmo assim, a participação da água na matriz energética mun-
volume estimado de 1,36 bilhão de quilômetros cúbicos (km3) dial é pouco expressiva e, na matriz da energia elétrica, decres-
recobre 2/3 da superfície do planeta sob a forma de oceanos, cente. Segundo o último relatório Key World Energy Statistics,
calotas polares, rios e lagos. Além disso, pode ser encontrada da International Energy Agency (IEA), publicado em 2008, entre
em aquíferos subterrâneos, como o Guarani, no Sudeste brasi- 1973 e 2006 a participação da força das águas na produção to-
leiro. A água também é uma das poucas fontes para produção tal de energia passou, conforme o Gráfico 3.1 abaixo, de 2,2%
de energia que não contribui para o aquecimento global – o para apenas 1,8%. No mesmo período, como mostra a seguir o
principal problema ambiental da atualidade. E, ainda, é reno- Gráfico 3.2, a posição na matriz da energia elétrica sofreu recuo
vável: pelos efeitos da energia solar e da força da gravidade, de acentuado: de 21% para 16%, inferior à do carvão e à do gás
líquido transforma-se em vapor que se condensa em nuvens, natural, ambos combustíveis fósseis não-renováveis, cuja com-
que retornam à superfície terrestre sob a forma de chuva. bustão é caracterizada pela liberação de gases na atmosfera e
50
46,1 1973
45
2006
40
35 34,4
30
26,0
%
25 24,5
20,5
20
16,0
15
10,2 10,1
10
6,2
5
0,9 2,2 1,8 0,6 0,1
0
Petróleo Carvão Gás natural Biomassa Nuclear Hidráulica Outras
renováveis
Gráfico 3.1 - Matriz energética nos anos de 1973 e 2006.
Fonte: IEA, 2008.
50
1973
45
40,3 2006
40 38,3
35
30
25 24,7
%
20,1 21,0
20
16,0
15 14,8
12,1
10
6,6
5 3,3 2,3 0,6
0
Carvão Petróleo Gás Natural Nuclear Hidrelétrica Outras
Gráfico 3.2 - Geração de energia elétrica no mundo por tipo de combustível nos anos de 1973 e 2006.
Fonte: IEA, 2008.
sujeitos a um possível esgotamento das reservas no médio e produzido registrasse evolução inferior ao de outras fontes,
longo prazos. Vários elementos explicam esse aparente para- como gás natural e as usinas nucleares. De acordo com o estu-
doxo. Um deles relaciona-se às características de distribuição do sobre hidreletricidade do Plano Nacional de Energia 2030,
da água na superfície terrestre. Do volume total, a quase to- elaborado pela EPE, são notáveis as taxas de aproveitamento
talidade está nos oceanos e, embora pesquisas estejam sendo da França, Alemanha, Japão, Noruega, Estados Unidos e Sué-
realizadas, a força das marés não é utilizada em escala comer- cia, em contraste com as baixas taxas observadas em países
cial para a produção de energia elétrica (para detalhamento, da África, Ásia e América do Sul. No Brasil o aproveitamento
ver capítulo 5). Da água doce restante, apenas aquela que flui do potencial hidráulico é da ordem de 30%.
por aproveitamentos com acentuados desníveis e/ou grande
vazão pode ser utilizada nas usinas hidrelétricas – característi- Mesmo nessas últimas regiões, a expansão não ocorreu na
cas necessárias para a produção da energia mecânica que mo- velocidade prevista. Entre outros fatores, o andamento de
vimenta as turbinas das usinas. alguns empreendimentos foi afetado pela pressão de cará-
ter ambiental contra as usinas hidrelétricas de grande porte.
Além disso, embora desde a Antiguidade a energia hidráulica O principal argumento contrário à construção das hidrelétri-
tenha sido usada para gerar energia mecânica – nas instalações cas é o impacto provocado sobre o modo de vida da popula-
de moagem de grãos, por exemplo – no século XX passou a ser ção, flora e fauna locais, pela formação de grandes lagos ou
aplicada, quase integralmente, como matéria-prima da eletrici- reservatórios, aumento do nível dos rios ou alterações em seu
dade. Assim, a participação na produção total da energia final, curso após o represamento.
que também inclui a energia mecânica e térmica, fica compro-
metida. Já a redução da participação na matriz da energia elétri- Apesar das pressões, a China mantém inalterado o cronogra-
ca tem a ver com o esgotamento das reservas. ma da construção de Três Gargantas – que deverá ser a maior
hidrelétrica do mundo, quando for concluída em 2009. Três Gar-
Nos últimos 30 anos, também de acordo com levantamentos gantas terá capacidade instalada de 18.200 MW (megawatts),
da IEA, a oferta de energia hidrelétrica aumentou em apenas ao superar a binacional Itaipu, no Brasil, com 14 mil MW.
dois locais do mundo: Ásia, em particular na China, e Améri- No Brasil, as usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (re-
ca Latina, em função do Brasil, país em que a hidreletricidade gião Norte), são pilares da expansão da oferta de energia elétri-
responde pela maior parte da produção da energia elétrica. ca prevista para o período 2006-2015. No entanto, dificuldades
Nesse mesmo período, os países desenvolvidos já haviam na obtenção do licenciamento ambiental e mudança no eixo da
explorado todos os seus potenciais, o que fez com que o volume barragem podem provocar o atraso na construção de Jirau.
As principais variáveis utilizadas na classificação de uma usina A potência instalada determina se a usina é de grande ou médio
hidrelétrica são: altura da queda d’água, vazão, capacidade ou porte ou uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH). A Agência
potência instalada, tipo de turbina empregada, localização, Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adota três classificações:
tipo de barragem e reservatório. Todos são fatores interdepen- Centrais Geradoras Hidrelétricas (com até 1 MW de potência
dentes. Assim, a altura da queda d’água e a vazão dependem instalada), Pequenas Centrais Hidrelétricas (entre 1,1 MW e
do local de construção e determinarão qual será a capacidade 30 MW de potência instalada) e Usina Hidrelétrica de Energia
instalada - que, por sua vez, determina o tipo de turbina, barra- (UHE, com mais de 30 MW).
gem e reservatório.
O porte da usina também determina as dimensões da rede de
Existem dois tipos de reservatórios: acumulação e fio d’água. transmissão que será necessária para levar a energia até o cen-
Os primeiros, geralmente localizados na cabeceira dos rios, em tro de consumo (ver Capítulo 1). Quanto maior a usina, mais
locais de altas quedas d’água, dado o seu grande porte permitem distante ela tende a estar dos grandes centros. Assim, exige a
o acúmulo de grande quantidade de água e funcionam como construção de grandes linhas de transmissão em tensões alta e
estoques a serem utilizados em períodos de estiagem. Além extra-alta (de 230 quilovolts a 750 quilovolts) que, muitas vezes,
disso, como estão localizados a montante das demais hidrelétri- atravessam o território de vários Estados. Já as PCHs e CGHs, ins-
cas, regulam a vazão da água que irá fluir para elas, de forma a taladas junto a pequenas quedas d’águas, no geral abastecem
pequenos centros consumidores – inclusive unidades industriais No passado, o parque hidrelétrico chegou a representar
e comerciais – e não necessitam de instalações tão sofisticadas 90% da capacidade instalada. Esta redução tem três razões.
para o transporte da energia. Primeira, a necessidade da diversificação da matriz elétri-
ca prevista no planejamento do setor elétrico de forma a
No Brasil, de acordo com o Banco de Informações da Geração aumentar a segurança do abastecimento. Segunda, a di-
(BIG) da Aneel, em novembro de 2008, existem em operação ficuldade em ofertar novos empreendimentos hidráulicos
227 CGHs, com potência total de 120 MW; 320 PCHs (2,4 mil pela ausência da oferta de estudos e inventários. A terceira,
MW de potência instalada) e 159 UHE com uma capacidade o aumento de entraves jurídicos que protelam o licencia-
total instalada de 74,632 mil MW. Em novembro de 2008, as mento ambiental de usinas de fonte hídrica e provocam o
usinas hidrelétricas, independentemente de seu porte, respon- aumento constante da contratação em leilões de energia
dem, portanto, por 75,68% da potência total instalada no país, de usinas de fonte térmica, a maioria que queimam deriva-
de 102,262 mil MW, como mostra a Tabela 3.1 abaixo. dos de petróleo ou carvão.
SOL 1 20 20 0
Ser favorecido por recursos naturais que se transformam em consumidor mundial de energia hidrelétrica em 2007 era a
fontes de produção de energia é estratégico para qualquer Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimen-
país. Entre outros fatores, porque reduz a dependência do su- to (OCED), que congrega as nações mais desenvolvidas do
primento externo e, em conseqüência, aumenta a segurança mundo: 1,306 mil TWh, respondendo por 41,7% do consumo
quanto ao abastecimento de um serviço vital ao desenvolvi- total. Como mostra a Tabela 3.2 a seguir, por país, os maio-
mento econômico e social. No caso dos potenciais hídricos, a res consumidores mundiais foram China (482,9 TWh, volume
esses argumentos favoráveis, somam-se outros dois: o baixo 10,8% superior ao do ano anterior e correspondente a 15,4%
custo do suprimento na comparação com outras fontes (car- no ranking mundial), Brasil (371,5 TWh, aumento de 6,5% so-
vão, petróleo, urânio e gás natural, por exemplo) e o fato de bre 2006 e 11,9% do total) e Canadá (368,2 TWh sobre 2006).
a operação das usinas hidrelétricas não provocar a emissão
de gases causadores do efeito estufa. A energia hidrelétrica é De certa forma, a IEA, com dados de 2006, corrobora essa re-
classificada como limpa no mercado internacional. lação. Segundo a Agência, os dez países mais dependentes da
hidreletricidade em 2006 eram, pela ordem: Noruega, Brasil,
De acordo com o estudo Statistical Review of World Energy, Venezuela, Canadá, Suécia, Rússia, Índia, República Popular da
publicado em junho de 2008 pela BP Global (Beyond Pe- China, Japão e Estados Unidos. Com pequenas variações com
troleum, nova denominação da British Petroleum) o maior relação à posição no ranking, eles também figuram na relação
1 o
China 435,8 482,9 10,8% 15,4%
5 o
Rússia 175,2 179,0 2,2% 5,7%
6 o
Noruega 119,8 135,3 12,9% 4,3%
8 o
Venezuela 82,3 83,9 1,9% 2,7%
10 o
Suécia 61,7 66,2 7,3%- 2,1%
Fonte: BP, 2008.
de maiores produtores: República Popular da China, Canadá, conforme a IEA, em 1973, a Ásia (sem considerar a China)
Brasil, Estados Unidos, Rússia, Noruega, Índia, Japão, Venezuela respondeu por 4,3% da produção total de energia hidre-
e Suécia. Abaixo, a Tabela 3.3 mostra a dependência dos países létrica, de 1.295 TWh (terawatts-hora) no ano. Em 2006,
com relação à hidreletricidade. essa participação quase dobrou, ao atingir 7,8% de um
total de 3.121 TWh. Na China, a evolução foi de 2,9% para 14%.
A inclusão, nessa relação, de países em desenvolvimen- Na América Latina, o comportamento se repete com maior
to, como Brasil, Rússia, Índia e China decorre dos inves- intensidade: um salto de 7,2% para 21%, estimulado princi-
timentos em hidreletricidade realizados nos últimos 30 palmente pelos investimentos realizados no Brasil, conforme
anos com intensidade muito maior que no passado. Ainda o Gráfico 3.3 na página a seguir.
1o
Noruega 98,5
2o Brasil 83,2
3o Venezuela 72,0
4o
Canadá 58,0
5o Suécia 43,1
6o
Rússia 17,6
7o Índia 15,3
8o
China 15,2
9o Japão 8,7
10 o
Estados Unidos 7,4
80%
1973
70%
2006
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
OECD América Latina China Antiga Ásia (sem China) África Países europeus Oriente Médio
União Soviética fora da OECD
Segundo informa o Plano Nacional de Energia 2030 com base maiores potenciais tecnicamente aproveitáveis de energia
em dados de 2004, a China é o país que mais investe em ener- hidráulica no mundo. Outras regiões com grandes potenciais
gia hidrelétrica. Além de Três Gargantas, naquele ano manti- são América do Norte, antiga União Soviética, Índia e Brasil.
nha em construção um total de 50 mil MW de potência, para Ainda de acordo com o estudo, na Índia também há grande
dobrar a capacidade instalada no país. Como pode ser ob- expansão das hidrelétricas: em 2004 estavam em construção
servado no Figura 3.1 abaixo, a China tem, também, um dos 10 mil MW, com 28 mil MW planejados para o médio prazo.
Rússia 12%
Canadá 7%
EUA 4%
China 13%
Índia 5%
Congo 5%
Brasil 10%
Em 2007, segundo os resultados preliminares do Balanço Ener- de 126.000 MW. Desse total, mais de 70% estão nas bacias do
gético Nacional (BEN), elaborado pela Empresa de Pesquisa Ener- Amazonas e do Tocantins/Araguaia, conforme mostra o Mapa
gética, a energia de fonte hidráulica (ou hidreletricidade) respon- 3.1 na página a seguir.
deu por 14,7% da matriz energética brasileira, sendo superada
por derivados da cana-de-açúcar (16,0%) e petróleo e derivados A concentração das duas regiões não se relaciona apenas com a
(36,7%). Na oferta interna de energia elétrica, que totalizou 482,6 topografia do país. Tem a ver, também, com a forma como o par-
TWh (aumento de 4,9% em relação a 2006), a energia de fonte que hidrelétrico se desenvolveu. A primeira hidrelétrica de maior
hidráulica produzida no país representou 85,6%, constituindo- porte começou a ser construída no Nordeste (Paulo Afonso I, com
se, de longe, na maior produtora de eletricidade do país. potência de 180 MW), pela Companhia Hidrelétrica do S. Francisco
(Chesf, estatal constituída em 1948). As demais, erguidas ao longo
Além disso, em todo o mundo, o Brasil é o país com maior po- dos 60 anos seguintes, concentraram-se nas regiões Sul, Sudeste
tencial hidrelétrico: um total de 260 mil MW, segundo o Plano e Nordeste (com o aproveitamento integral do rio São Francisco),
2015 da Eletrobrás, último inventário produzido no país em como mostra a Tabela 3.4 abaixo. No Norte foram construídas Tu-
1992. Destes, pouco mais de 30% se transformaram em usi- curuí, no Pará, e Balbina, no Amazonas. Mas apenas nos anos 90
nas construídas ou outorgadas. De acordo com o Plano Na- a região começou a ser explorada com maior intensidade, com a
cional de Energia 2030, o potencial a aproveitar é de cerca construção da Usina Serra da Mesa (GO), no rio Tocantins.
Assim, em 2008, a maioria das grandes centrais hidrelétricas O estudo sobre energia hidrelétrica constante do PNE
brasileiras localiza-se nas bacias do São Francisco e, princi- 2030 relaciona o potencial de aproveitamento ainda exis-
palmente, do Paraná, particularmente nas sub-bacias do Pa- tente em cada uma das bacias hidrográficas do país. A
ranaíba, Grande e Iguaçu, apesar da existência de unidades bacia do rio Amazonas é a maior, com um potencial de
importantes na região Norte. Os potenciais da região Sul, 106 mil MW, superior à potência já instalada no Brasil, em
Sudeste e Nordeste já estão, portanto, quase integralmen- 2008, de 102 mil MW. Nesse ano, existem em operação
te explorados. O Mapa 3.2 logo a seguir mostra as regiões nesta bacia apenas cinco Unidades Hidrelétricas de Ener-
do país classificadas de acordo com o nível de utilização de gia (UHE): Balbina (AM), Samuel (RO), Coaracy Nunes (AP),
seus aproveitamentos. Curuá-Una (PA) e Guaporé (MT).
Guiana
Suriname Francesa
Colômbia Venezuela Guiana
O c e
a n
o
A
t l
0º S â 0º S
n
t
i
c
o
Atlântico Nordeste
Amazonas Ocidental
Atlântico Nordeste
27% 1% 85% 15% Oridental
72%
15% 5%
Parnaíba
10º S 10º S
Araguaia - Tocantins
16% 44%
Atlântico Leste
Peru
25% 27%
40%
São Francisco
48%
31% 11% 58%
Bolívia Paraguai
57% 16%
27%
20º S 20º S
Paraná Atlântico Sudeste
9% 8% 28%
19% 72%
Uruguai
51% 9% 40%
Argentina
Atlântico Sul
30º S 30º S
38% 30%
32%
Uruguai
0 250 500 S
Fonte: EPE, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL - 3ª EDIÇÃO Escala Gráfica: km
Guiana
Suriname Francesa
Colômbia Venezuela Boa Vista Guiana
O c e
AP a n
RR o
A
Macapá t l Equador
0º S â 0º S
n
t
i
Belém c
o
PI João Pessoa
PB
Recife
PE
AC
Rio Branco Porto Velho TO AL Maceió
10º S 10º S
SE
Palmas Aracaju
RO
BA Salvador
Peru MT
GO
Brasília
Cuiabá
Bolívia DF
Goiânia
MG ES
MS Belo Horizonte
20º S 20º S
Vitória
Campo Grande
SP
RJ
Chile Paraguai
Rio de Janeiro Trópico de Capricórnio
PR
São Paulo
Curitiba
SC
Florianópolis
Argentina
RS
30º S 30º S
Porto Alegre
Uruguai
O L
0 250 500 S
Fonte: Aneel, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL - 3ª EDIÇÃO Escala Gráfica: km
2.1.2 Biomassa
Derivados de Petróleo | Capítulo 7
Parte II
Fontes renováveis
Biomassa
4
Atlas de Energia Elétrica do Brasil 63
Capítulo 7 | Derivados de Petróleo
Box 4
Biomassa
4
4.1 INFORMAÇÕES GERAIS
A biomassa é uma das fontes para produção de energia com Mas, se atualmente a biomassa é uma alternativa energética
maior potencial de crescimento nos próximos anos. Tanto de vanguarda, historicamente tem sido pouco expressiva na
no mercado internacional quanto no interno, ela é conside- matriz energética mundial. Ao contrário do que ocorre com
rada uma das principais alternativas para a diversificação da outras fontes, como carvão, energia hidráulica ou petróleo,
matriz energética e a conseqüente redução da dependência não tem sido contabilizada com precisão. As estimativas mais
dos combustíveis fósseis. Dela é possível obter energia elé- aceitas indicam que representa cerca de 13% do consumo
trica e biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol, cujo mundial de energia primária, como mostra o Gráfico 4.1 abai-
consumo é crescente em substituição a derivados de petró- xo. Um dos mais recentes e detalhados estudos publicados a
leo como o óleo diesel e a gasolina. este respeito no mundo, o Survey of Energy Resources 2007,
50
1973
45
2006
40
35
30
25
%
20
15
10
0
Petróleo Gás Natural Carvão Biomassa Eletricidade Outros
Gráfico 4.1 - Matriz de consumo final de energia nos anos de 1973 e 2006.
Fonte: IEA, 2008.
do World Energy Council (WEC), registra que a biomassa res- terceiro é a associação deste energético ao desflorestamento
pondeu pela produção total de 183,4 TWh (terawatts-hora) e à desertificação – um fato que ocorreu no passado mas que
em 2005, o que correspondeu a um pouco mais de 1% da está bastante atenuado.
energia elétrica produzida no mundo naquele ano.
Algumas regiões obtêm grande parte da energia térmica e elétri-
A pequena utilização e a imprecisão na quantificação são de- ca que consomem desta fonte, principalmente do subgrupo ma-
corrências de uma série de fatores. Um deles é a dispersão da deira – o mais tradicional – e dos resíduos agrícolas. A caracterís-
matéria-prima – qualquer galho de árvore pode ser conside- tica comum dessas regiões é a economia altamente dependente
rado biomassa, que é definida como matéria orgânica de ori- da agricultura. O estudo do WEC mostra que, em 2005, a Ásia foi
gem vegetal ou animal passível de ser transformada em ener- o maior consumidor mundial, ao extrair da biomassa de madeira
gia térmica ou elétrica. Outro é a pulverização do consumo, 8.393 PJ (petajoules1), dos quais 7.795 PJ foram provenientes da
visto que ela é muito utilizada em unidades de pequeno por- lenha, como mostra a Tabela 4.1 abaixo. A segunda posição foi
te, isoladas e distantes dos grandes centros. Finalmente, um da África, com 6.354 PJ, dos quais 5.633 PJ da lenha.
Oceania 90 1 22 113
Ainda segundo o WEC, na geração de energia elétrica a partir da custos muito menores que o etanol de países como Estados
biomassa, o líder mundial foi os Estados Unidos, que em 2005 Unidos e regiões como a União Européia. Segundo o BEN, em
produziu 56,3 TWh (terawatts-hora), respondendo por 30,7% 2007 a produção brasileira alcançou 8.612 mil tep (toneladas
do total mundial. Na seqüência estão Alemanha e Brasil, ambos equivalentes de petróleo) em 2007 contra 6.395 mil tep em
com 13,4 TWh no ano e participação de 7,3% na produção total. 2006, o que representa um aumento de 34,7%.
No Brasil, em 2007, a biomassa, com participação de 31,1% A produção de biodiesel também é crescente e, se parte dela é
na matriz energética, foi a segunda principal fonte de ener- destinada ao suprimento interno, parte é exportada para países
gia, superada apenas por petróleo e derivados. Ela ocupou a desenvolvidos, como os membros da União Européia. Segundo
mesma posição entre as fontes de energia elétrica de origem a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
interna, ao responder por 3,7% da oferta. Só foi superada pela (ANP), em 2007 o país produziu 402.154 metros cúbicos (m3) do
hidreletricidade, que foi responsável pela produção de 77,4% combustível puro (B100), diante dos 69.002 m3 de 2006 confor-
da oferta total, segundo dados do Balanço Energético Nacio- me mostra a Tabela 4.2 a seguir.
nal (BEN) de 2008.
Desde 2004, a atividade é beneficiada pelo estímulo prove-
Além disso, no mercado internacional, o Brasil se destaca niente do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodie-
como o segundo maior produtor de etanol que, obtido a par- sel (PNPB), implantado em dezembro de 2003 pelo Governo
tir da cana-de-açúcar, apresenta potencial energético similar e Federal. Já a expansão do etanol provém tanto da crescente
2005 736
Qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em
2006 69.002 energia mecânica, térmica ou elétrica é classificada como bio-
2007 402.154 massa. De acordo com a sua origem, pode ser: florestal (ma-
2008 784.832 deira, principalmente), agrícola (soja, arroz e cana-de-açúcar,
(*) Tipo B100 entre outras) e rejeitos urbanos e industriais (sólidos ou líqui-
Fonte: ANP, 2008.
dos, como o lixo). Os derivados obtidos dependem tanto da
matéria-prima utilizada (cujo potencial energético varia de
tipo para tipo) quanto da tecnologia de processamento para
atividade da agroindústria canavieira quanto da tecnologia obtenção dos energéticos.
e experiência adquiridas com o Pró-Álcool – programa fede-
ral lançado na década de 70, com o objetivo de estimular a Nas regiões menos desenvolvidas, a biomassa mais utilizada é a
substituição da gasolina pelo álcool em função da crise do de origem florestal. Além disso, os processos para a obtenção de
petróleo, mas que foi desativado anos depois. Outro fator de energia se caracterizam pela baixa eficiência – ou necessidade de
estímulo foi a inclusão, no Programa de Aceleração do Cres- grande volume de matéria-prima para produção de pequenas
cimento (PAC), lançado pelo Governo Federal em 2007, de quantidades. Uma exceção a essa regra é a utilização da biomassa
obras cujos investimentos superam R$ 17 bilhões. No período florestal em processos de co-geração industrial. Do processamen-
que vai de 2007 a 2010, segundo o PAC, deverão ser investidos to da madeira no processo de extração da celulose é possível, por
R$ 13,3 bilhões na construção de mais de 100 usinas de etanol exemplo, extrair a lixívia negra (ou licor negro) usado como com-
e biodiesel e outros R$ 4,1 bilhões na construção de dois alco- bustível em usinas de co-geração da própria indústria de celulo-
oldutos: um entre Senador Canedo (GO) e São Sebastião (SP) e se. A Tabela 4.3 abaixo mostra a relação das usinas de biomassa
outro entre Cuiabá (MT) e Paranaguá (PR). que utilizam licor negro no Brasil em novembro de 2008.
Já a produção em larga escala da energia elétrica e dos bio- pequeno porte em operação no mundo. Por isso, em estatísticas e
combustíveis está relacionada à biomassa agrícola e à utiliza- estudos, era tratada pela designação genérica de “Outras Fontes”
ção de tecnologias eficientes. A pré-condição para a sua pro- (para detalhes, ver capítulo 5). Já para a biomassa de origem vege-
dução é a existência de uma agroindústria forte e com grandes tal, o quadro era radicalmente diferente, em função da diversida-
plantações, sejam elas de soja, arroz, milho ou cana-de-açúcar. de e da aceitação de seus derivados pelos consumidores.
A biomassa é obtida pelo processamento dos resíduos dessas
culturas. Assim, do milho é possível utilizar, como matéria-pri- Apenas nos automóveis tipo flex fuel (que utilizam tanto gaso-
ma para energéticos, sabugo, colmo, folha e palha. Da soja e lina quanto etanol) o consumo de etanol mais que dobrou nos
arroz, os resíduos que permanecem no campo, tratados como últimos sete anos, superando os 60 milhões de litros em 2007,
palha. Na cana-de-açúcar, o bagaço, a palha e o vinhoto. como mostra o Gráfico 4.2 abaixo. Além disso, a madeira tem
sido, ao longo dos anos, uma tradicional e importante matéria-
A geração de energia a partir da biomassa animal encontrava- prima para a produção de energia. No Brasil, respondeu por 12%
se, em 2008, em fase quase experimental, com poucas usinas de do total da oferta interna de energia em 2007.
140
Outros
União Européia
120
Brasil
Estados Unidos
100
Bilhões de litros
80
60
40
20
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008* 2009* 2010* 2011* 2012*
Quanto às técnicas utilizadas para transformar matéria-prima produto final é o carvão vegetal, mas a pirólise também dá
em energético, existem várias. Cada uma dá origem a deter- origem ao alcatrão e ao ácido piro-lenhoso. O carvão vegetal
minado derivado e está em um nível diferente do ponto de tem densidade energética duas vezes superior à do material
vista tecnológico. Há, por exemplo, a combustão direta para de origem e queima em temperaturas muito mais elevadas.
obtenção do calor. Ela ocorre em fogões (cocção de alimen- Na gaseificação, por meio de reações termoquímicas que
tos), fornos (metalurgia) e caldeiras, para a geração de vapor. envolvem vapor quente e oxigênio, é possível transformar o
combustível sólido em gás (mistura de monóxido de carbono,
Outra opção é a pirólise ou carbonização – o mais antigo e hidrogênio, metano, dióxido de carbono e nitrogênio). Este
simples dos processos de conversão de um combustível sólido gás pode ser utilizado em motores de combustão interna e
(normalmente lenha) em outro de melhor qualidade e con- em turbinas para geração de eletricidade. Além disso, é pos-
teúdo energético (carvão). Este processo consiste no aqueci- sível dele remover os componentes químicos que prejudicam
mento do material original entre 300 oC e 500 oC, na “quase o meio ambiente e a saúde humana – o que transforma a ga-
ausência” de ar, até a extração do material volátil. O principal seificação em um processo limpo.
Um processo bastante utilizado no tratamento de dejetos or- de Câncer e o Trópico de Capricórnio. Ainda assim, Estados
gânicos é a digestão anaeróbica que consiste na decomposi- Unidos e União Européia, ambos no hemisfério norte, são
ção do material pela ação de bactérias e ocorre na ausência do produtores de etanol. O primeiro a partir do milho e do tri-
ar. O produto final é o biogás, composto basicamente de me- go, da madeira e do switchgrass (variedade de grama). A se-
tano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Já na agroindústria, o gunda, com base principalmente na beterraba.
mais comum é a fermentação, pela qual os açúcares de plantas
como batata, milho, beterraba e cana-de-açúcar são converti- De qualquer maneira, a faixa tropical e subtropical do planeta
dos em álcool pela ação de microorganismos (geralmente le- abrange alguns países das Américas Central e do Sul, como o
veduras). O produto final é o etanol na forma de álcool hidra- Brasil, o continente africano e Austrália. Estes últimos são carac-
tado e, em menor escala o álcool anidro (isto é, com menos de terizados pela existência de áreas desérticas e, portanto, pouco
1% de água). Se o primeiro é usado como combustível puro propensas à produção agrícola. O Brasil, porém, além da grande
em motores de combustão interna, o segundo é misturado à quantidade de terra agriculturável, apresenta solo e condições
gasolina (no Brasil, na proporção de 20% a 22%). O resíduo climáticas adequadas.
sólido do processo de fermentação pode ser utilizado em usi-
nas termelétricas para a produção de eletricidade. Ao contrário do que ocorre com outras fontes, não existe um
ranking mundial dos maiores produtores de biomassa, apenas
Finalmente, a transesterificação é a reação de óleos vegetais estatísticas sobre os principais derivados. Assim, se os Estados
com um produto intermediário ativo obtido pela reação entre Unidos lideravam a produção de energia elétrica a partir da bio-
metanol ou etanol e uma base (hidróxido de sódio ou de po- massa, em 2005 Alemanha era a maior produtora de biodiesel
tássio). Os derivados são a glicerina e o biodiesel. Atualmente, e o Brasil, o segundo maior produtor de etanol, como mostram
o biodiesel é produzido no Brasil a partir da palma e babaçu a Tabela 4.4 abaixo e as Tabelas 4.5 e 4.6 a seguir. Nesse ano, a
(região Norte), soja, girassol e amendoim (regiões Sul, Sudes- produção brasileira já era superada pelos Estados Unidos.
te e Centro-Oeste) e mamona (semi-árido nordestino), entre
outras matérias-primas de origem vegetal.
Tabela 4.4 - Produtores de bioenergia em 2005
País TWh %
4.2 DISPONIBILIDADE, PRODUÇÃO E CONSUMO DE Estados Unidos 56,3 30,7
BIOMASSA
Alemanha 13,4 7,3
do no ano de 2005, aponta para uma capacidade de geração Reino Unido 8,5 4,7
de 11 mil TWh por ano no longo prazo – ou mais da metade do Canadá 8,5 4,6
total de energia elétrica produzida em 2007, que foi de 19,89 Espanha 7,8 4,3
mil TWh, segundo o estudo da Estatistical Review of World
Outros países 57,1 31,1
Energy, publicado em junho de 2008 pela BP Global (Beyhond
Total 183,3 100,0
Petroleum, nova denominação da British Petroleum).
Fonte: WEC, 2007.
Tabela 4.5 - Produtores de biodiesel (mil toneladas) Por isso e por ser um fenômeno iniciado há poucos anos,
País 2004 2005 2006
essa comercialização exige, também, negociações bilaterais e
multilaterais que têm, como foco, a regulamentação e a aná-
Alemanha 1.035 1.669 2.681
lise das barreiras comerciais e tarifárias já impostas, principal-
França 348 492 775 mente por Estados Unidos e da União Européia.
Itália 320 396 857
Apesar de a Alemanha ser o maior produtor mundial de biodie-
Malásia - 260 600
sel, a União Européia não tem conseguido, nos últimos anos,
Estados Unidos 83 250 826 atingir as metas de expansão da oferta interna. Assim, trans-
República Tcheca 60 133 203 formou-se em importadora do produto proveniente de países
como Brasil, Argentina, Indonésia e Malásia.
Polônia - 100 150
100
90 85,4
80
70
60
Participação %
50
40
30
20
10
3,7 3,2 2,8 2,6 1,4 0,9
0
Hidráulica Biomassa Gás natural Derivados de petróleo Nuclear Carvão mineral Gás industrial
e importação
madeira (232 MW); três por biogás (45 MW); quatro por casca De acordo com estimativas da Unica (União da Indústria de Cana-
de arroz (21 MW) e 252 por bagaço de cana (4 mil MW), confor- de-Açúcar de São Paulo), em 2020 a eletricidade produzida pelo
me o Anexo. Uma das características desses empreendimentos setor poderá representar 15% da matriz brasileira, com a produ-
é o pequeno porte com potência instalada de até 60 MW, o que ção de 14.400 MW médios (ou produção média de MWh ao lon-
favorece a instalação nas proximidades dos centros de consu- go de um ano), considerando-se tanto o potencial energético da
mo e suprimento (Mapa 4.1 na página seguinte). palha e do bagaço quanto a estimativa de produção da cana, que
deverá dobrar em relação a 2008, e atingir 1 bilhão de toneladas.
A cana-de-açúcar é um recurso com grande potencial, dentre Segundo o Plano Nacional de Energia 2030, o maior potencial de
as fontes de biomassa, para geração de eletricidade existente produção de eletricidade encontra-se na região Sudeste, particu-
no país, por meio da utilização do bagaço e da palha. A par- larmente no Estado de São Paulo, e é estimado em 609,4 milhões
ticipação é importante não só para a diversificação da matriz de gigajoules (GJ) por ano. Na seqüência estão Paraná (65,4 mi-
elétrica, mas também porque a safra coincide com o período lhões de GJ anuais) e Minas Gerais ( 63,2 milhões de GJ anuais).
de estiagem na região Sudeste/Centro-Oeste, onde está con-
centrada a maior potência instalada em hidrelétricas do país. A evolução da regulamentação, da legislação e dos programas
A eletricidade fornecida neste período auxilia, portanto, a pre- oficiais também estimulam os empreendimentos. Em 2008, novas
servação dos níveis dos reservatórios das UHEs. condições de acesso ao Sistema Interligado Nacional (SIN) foram
definidas pela Aneel, o que abre espaço para a conexão principal-
Vários fatores contribuem para o cenário de expansão. Um deles é mente das termelétricas localizadas em usinas de açúcar e álcool
o volume já produzido e o potencial de aumento da produção da mais distantes dos centros de consumo, como o Mato Grosso.
cana-de-açúcar, estimulada pelo consumo crescente de etanol.
Em 2007, inclusive, foi a segunda principal fonte primária de Além disso, acordo fechado entre a Secretaria de Saneamento e
energia do país: como mostra a Tabela 4.7 a seguir, os derivados Energia de São Paulo, a transmissora Isa Cteep, a Unica e a Associa-
da cana-de-açúcar responderam pela produção de 37,8 milhões ção Paulista de Cogeração de Energia, estabelece condições que
de toneladas equivalentes de petróleo (tep), um aumento de facilitam o acesso à rede de transmissão paulista e a obtenção do
14,7% em relação a 2006, diante de uma produção total de 33 licenciamento ambiental estadual. A iniciativa pode viabilizar a
milhões de tep. instalação de até 5 mil MW pelo setor sucro-alcooleiro.
Guiana
Suriname Francesa
Colômbia Venezuela Boa Vista Guiana
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Macapá t l Equador
0º S â 0º S
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Manaus
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Rio Branco Porto Velho TO AL Maceió
10º S 10º S
SE
Palmas Aracaju
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Peru MT
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Brasília
Cuiabá
DF
Bolívia Goiânia
MG
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20º S 20º S
Campo Grande Belo Horizonte Vitória
SP
RJ
Chile Paraguai
Rio de Janeiro Trópico de Capricórnio
PR
São Paulo
Curitiba
SC Florianópolis
Argentina
RS
Porto Alegre
30º S 30º S
Uruguai
O L
0 250 500 S
Fonte: Aneel, 2008. ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL - 3ª EDIÇÃO Escala Gráfica: km
Em novembro de 2008, dos 19 empreendimentos termelétricos energética de baixa eficiência e alto potencial de emissão de ga-
em construção relacionados no BIG da Aneel, cinco são movidos ses. Assim, sua aplicação moderna e sustentável está diretamente
a biomassa e, destes, um a bagaço de cana-de-açúcar. Mas, para relacionada ao desenvolvimento de tecnologias de produção da
as 163 unidades já outorgadas, com construção ainda não inicia- energia (ver tópico 4.1) e às técnicas de manejo da matéria-prima.
da, 55 serão movidas a biomassa, sendo que quase metade (30) a
cana-de-açúcar. As demais serão abastecidas por madeira, carvão A utilização da biomassa, por exemplo, tradicionalmente é asso-
vegetal, licor negro, casca de arroz e biogás. A Unica prevê que, até ciada ao desmatamento. Mas, florestas energéticas podem ser
2012, 86 unidades sejam construídas, com investimentos de US$ cultivadas exclusivamente com a finalidade de produzir lenha,
17 bilhões. Existe, também, a possibilidade de outros 211 projetos, carvão vegetal, briquetes e licor negro para uso industrial. Neste
anunciados em 2006, serem consumados, o que elevaria o valor caso, o manejo adequado da plantação – permitido pelo uso de
total do investimento previsto para US$ 35 bilhões. técnicas da engenharia florestal – permite a retirada planejada
de árvores adultas e respectiva reposição de mudas, o que au-
4.4 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO menta a capacidade do seqüestro de CO2. Projetos florestais de
implantação e manejo podem ser caracterizados e formatados,
A biomassa pode ser considerada como uma forma indireta de inclusive, como Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).
energia solar. Essa energia é responsável pela fotossíntese, base
dos processos biológicos que preservam a vida das plantas e No caso das plantações de cana-de-açúcar, o uso dos resíduos
produtora da energia química que se converterá em outras para produção de eletricidade beneficia os aspectos ambientais
formas de energia ou em produtos energéticos como carvão da fase de colheita. O método tradicional é a colheita manual
vegetal, etanol, gases combustíveis e óleos vegetais combus- acompanhada da queima da palha (as conhecidas queimadas)
tíveis, entre outros. A fotossíntese permite, também, a libe- que, além de produzir a emissão de grandes volumes de CO2,
ração de oxigênio e a captura de dióxido de carbono (CO2, se constitui em fator de risco para a saúde humana – sendo
principal agente do efeito estufa). Portanto, contribui para a responsável, inclusive, pela ocorrência de incêndios de grandes
contenção do aquecimento global. proporções nas áreas adjacentes. No entanto, com vistas ao au-
mento de produtividade, várias usinas têm optado pela colheita
Se utilizada para produção de energia pelos meios tradicionais, mecânica, que prescinde das queimadas. Na utilização sustentá-
como cocção e combustão, a biomassa se apresenta como fonte vel do bagaço da cana para a produção de eletricidade por meio
Parte II
Stock Xchng
Fontes renováveis
Outras Fontes
5
Atlas de Energia Elétrica do Brasil 75
Capítulo 5 | Outras fontes
Box 5
A energia verde
Constituído no final dos anos 90, o chamado “mercado da ener- sustentável e que permite a captura de CO2. Por convenção, uma
gia verde” está em expansão em vários países europeus. Ele é re- tonelada de CO2 corresponde a um crédito de carbono.
sultado do compromisso para redução das emissões de dióxido
de carbono (CO2) assumidos pelas nações desenvolvidas na assi- O setor elétrico pode participar do mercado de MDL com usinas
natura do Protocolo de Kyoto e ratificadas pelo Tratado em 2005. movimentadas por fontes renováveis e alternativas, com pro-
Favorece, portanto, a implementação de usinas abastecidas por gramas de eficiência e conservação de energia e projetos de re-
fontes renováveis que permitem a “captura” – ou, em outras pa- florestamento. Os compradores dos certificados são as compa-
lavras, reduzem as emissões – de dióxido de carbono (CO2) e ou- nhias situadas nos países desenvolvidos que podem utilizar os
tros gases causadores do efeito estufa na atmosfera. créditos adquiridos para diminuir os compromissos de redução
das emissões. Um exemplo de mercado voluntário de créditos
Segundo a Rede de Energias Renováveis para o Século XXI de carbono, ou MDL, é o Chicago Climate Exchange (Bolsa do
(REN21), em 2007 havia mais de 4 milhões de consumidores da Clima de Chicago).
energia produzida por usinas verdes na Europa, Estados Unidos,
Canadá, Austrália e Japão. Essa movimentação foi estimulada por O projeto piloto da Usina Verde, localizada na Ilha do Fundão,
uma combinação de fatores. Entre eles, programas oficiais de go- no Rio de Janeiro, e em operação desde 2004, é vendedor de
verno, participação da iniciativa privada, projetos desenvolvidos créditos de carbono no mercado internacional. Construída pela
pelas companhias de energia e aquisição compulsória de parte da iniciativa privada com parte da tecnologia desenvolvida pela
produção por órgãos públicos. A entidade informa, ainda, que os Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a usi-
três principais veículos para aquisição da energia verde são: pro- na obtém eletricidade a partir da incineração do lixo urbano.
gramas especiais de precificação; a existência de um mercado li- É considerada “limpa” porque destrói termicamente os gases
vre (desregulamentado), também chamado mercado verde, para poluentes produzidos no processo, liberando na atmosfera, sem
a comercialização de um terço da produção; e a negociação vo- causar danos ambientais, apenas vapor de água e CO2. Além dis-
luntária de certificados de energia renovável. Nos países da União so, utiliza como matéria-prima a biomassa em substituição aos
Européia, as permissões para emissões por parte das diferentes combustíveis fósseis.
indústrias podem ser livremente negociadas entre elas.
A Usina Verde recebe diariamente 30 toneladas de resíduos só-
Na maioria dos países analisados pela REN21, porém, a participa- lidos pré-tratados provenientes de aterro sanitário. O calor pro-
ção da energia verde no mercado total de eletricidade é pouco porcionado pela incineração da matéria orgânica é aproveitado
significativa. Representa menos que 5% das vendas totais, mes- para a geração térmica de eletricidade. A potência é de 0,7 MW.
mo em países em que o mercado é desregulamentado para os
Bobina a
clientes atendidos em baixa tensão, como Finlândia, Alemanha, vapor O gás é convertido para produtos
Suécia, Suíça e Reino Unido. A Holanda é o país que registra Tarrafa líquidos ou usado como combustível
Água alternativo em motores, caldeiras
maior número destes consumidores, em parte em função dos
Dejetos ou turbinas
altos impostos aplicados à eletricidade produzida a partir de orgânicos
fontes fósseis e em parte devido às isenções tarifárias especiais
Sistema de
Filtro de gás
Outras Fontes
5
5.1 INFORMAÇÕES GERAIS
Em 2008, muitos países – inclusive o Brasil – mantinham progra- entre outros. Em comum, elas têm o fato de serem renováveis
mas oficiais para expansão das chamadas fontes renováveis de e, portanto, corretas do ponto de vista ambiental. Permitem
energia, iniciados já há alguns anos. Mas, em boa parte deles, as não só a diversificação, mas também a “limpeza” da matriz
duas principais fontes – aproveitamentos hídricos e a biomassa – energética local, ao reduzir a dependência dos combustíveis
não apresentavam significativo potencial de expansão. Assim, as fósseis, como carvão e petróleo, cuja utilização é responsá-
pesquisas e aplicações acabaram por beneficiar o grupo chama- vel pela emissão de grande parte dos gases que provocam o
do “Outras Fontes” (ou “fontes alternativas”, termo que começa a efeito estufa. Além disso, também podem operar como fontes
cair em desuso) que, de 1973 a 2006, aumentou em 500% a sua complementares a grandes usinas hidrelétricas, cujos princi-
participação na matriz energética mundial, segundo a Key World pais potenciais já foram quase integralmente aproveitados
Energy Statistics da International Energy Agency (IEA), edição de nos países desenvolvidos (ver capítulo 3).
2008. Uma variação que só foi superada pelo parque nuclear,
que registrou expansão de 589% no período. Não é coincidência, portanto, que a evolução do parque insta-
lado tenha se concentrado na década de 90 e, particularmente,
No grupo chamado “Outras Fontes” estão abrigados o vento nos primeiros anos do século XXI, período em que se acentua-
(energia eólica), sol (energia solar), mar, geotérmica (calor ram as preocupações com a degeneração do meio ambiente,
existente no interior da Terra), esgoto, lixo e dejetos animais, com a volatilidade dos preços do petróleo e com o esgotamento
das reservas conhecidas dos combustíveis fósseis. Entre 2002 geotérmica, combustíveis renováveis e lixo produziu apenas
e 2006, a capacidade instalada das principais fontes enqua- 435 TWh (terawatts-hora) de uma oferta total de 18.930 TWh,
dradas na categoria “Outras” aumentou entre 20% e 60%, con- como mostra a Tabela 5.1 a seguir. Se considerada a matriz
forme o Gráfico 5.1 abaixo, extraído do estudo Renewables energética total, a presença foi ainda menor: de 0,1% em 1973
2007 – Global Status Report, produzido pela Rede de Ener- passou a 0,6% em 2006 – ou 70,4 milhões de toneladas equiva-
gias Renováveis para o Século XXI (REN21), em colaboração lentes de petróleo (tep), diante do total de 11,7 bilhões de tep
com o Worldwatch Institute. em 2006, conforme a Tabela 5.2 logo em seguida. É importante
observar que, embora a biomassa seja considerada uma fonte
Mas, apesar do crescimento verificado, essas fontes têm parti- primária importante no mundo (principalmente pelo uso da
cipação pouco expressiva na matriz elétrica mundial. Em 2006, lenha em países subdesenvolvidos), na produção de energia
ainda segundo a IEA, o conjunto composto por solar, eólica, elétrica é classificada como “Outras Fontes”.
Energia eólica
Calor geotérmico
Pequenas hidrelétricas
Grandes hidrelétricas
Energia da biomassa
Energia geotérmica
Calor da biomassa
0 10 20 30 40 50 60 70
%
Tabela 5.1 - Produção de energia elétrica no mundo em 2006 Tabela 5.2 - Oferta primária de energia em 1973 e 2006
1973 2006
% TWh
% Mtep % Mtep
Petróleo 5,80 1.097,94 Petróleo 46,1 2.819,01 34,4 4.038,90
Gás Natural 20,10 3.804,93 Gás Natural 16,0 978,40 20,5 2.406,91
Outras Fontes Renováveis 2,30 435,39 Hidráulica 1,8 110,07 2,2 258,30
A pequena produção é a terceira característica comum ao grupo entanto, do total inicialmente previsto, estão em operação co-
“Outras Fontes”, cujos integrantes ainda não têm presença forte o mercial 34 PCHs, 19 usinas a biomassa e 7 eólicas. O volume
suficiente para justificar a individualização em estatísticas de cará- inferior ao inicialmente estimado fez com que o governo anun-
ter mais geral, como é o caso da matriz energética mundial. Este ciasse, em 2008, revisão do programa de forma a estimular o
comportamento ocorre porque a tecnologia desenvolvida ainda aumento dos investimentos.
não apresenta custos compatíveis com a implantação em esca-
la comercial. Cada um dos integrantes do grupo “Outras Fontes” Segundo o Banco de Informações de Geração (BIG), da Agên-
está, portanto, em fase de pesquisa, projetos pilotos ou aplicações cia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em novembro de 2008,
muito localizadas a partir de instalações de pequeno porte. estão em operação no país 17 usinas eólicas, 320 PCHs, um em-
preendimento fotovoltaico e três usinas termelétricas abaste-
Neste último caso enquadram-se, por exemplo, as Filipinas, que cidas por biogás, cuja matéria-prima é a biomassa obtida em
obtém parcela significativa da energia elétrica local a partir de usi- aterros sanitários (lixões), como mostra o Anexo. Nas próximas
nas geotérmicas. Com capacidade instalada de 2,0 mil MW (mega- páginas, este capítulo apresenta o estágio de implantação de
watts) em 2007, segundo levantamento sobre fontes renováveis cada uma das principais integrantes do grupo chamado “Ou-
constante do estudo Statistical Review of World Energy publicado tras Fontes”, tanto no Brasil quanto no mercado internacional.
em junho de 2008 pela Beyond Petroleum (nova denominação
da companhia British Petroleum), as Filipinas detinham a segun-
da maior participação mundial nesta modalidade energética e só 5.2 ENERGIA EÓLICA
eram superadas pelos Estados Unidos (2,9 mil MW).
A capacidade instalada mundial da energia eólica aumentou
Em função do custo elevado de produção enquanto a tecnologia 1.155% entre 1997 e 2007, passando de 7,5 mil para 93,8 mil
ainda não está consolidada, a expansão do grupo “Outras Fon- MW, como registra a World Wind Energy Association (WWEA)
tes” é fruto, em grande parte, do apoio governamental por meio na Tabela 5.3 abaixo. Além disso, o ano de 2007 foi, também, o
de programas oficiais que abrangem variáveis como aquisição mais ativo da história da produção de energia elétrica a partir
compulsória por parte das empresas de energia elétrica locais, do movimento dos ventos, que teve início no final do século
subsídios, tarifas especiais, desoneração fiscal ou aporte direto de XIX. A expectativa, que se confirmou, era que a tendência se
recursos. Nos anos 90, países como Alemanha, Espanha e Dina- mantivesse em 2008.
marca, por exemplo, definiram metas para a expansão da energia
eólica, das quais constavam condições especiais para a venda da
energia produzida para as companhias de eletricidade. Tabela 5.3 - Potência instalada nos últimos dez anos (MW)
Potência (MW) Crescimento (%)
O Brasil, em 2003, implantou o Proinfa, maior programa nacional 1997 7.475 -
para estímulo à produção de energia elétrica por meio das fontes
1998 9.663 29,3
renováveis, com base na Lei no 10.438, de abril de 2002. O progra-
ma é gerenciado pela Eletrobrás, empresa constituída pelo Gover- 1999 13.696 41,7
no Federal em 1962 para investir na expansão do sistema elétrico 2000 18.039 31,7
nacional. Para a primeira fase do programa, previa-se a instalação 2001 24.320 34,8
de uma capacidade total de 3,3 mil MW. A energia produzida pelo
2002 31.164 28,1
Proinfa tem garantia de contratação por 20 anos pela Eletrobrás.
2003 39.290 26,1
Do total de potência instalada, 1,2 mil MW seriam correspon- 2004 47.693 21,4
dentes a 63 PCHs (pequenas centras hidrelétricas), 1,4 mil MW 2005 59.033 23,8
a 54 usinas eólicas e 685 MW a 27 usinas de pequeno porte à
2006 74.153 25,6
base de biomassa. Para a segunda fase do programa, a ser ini-
2007 93.849 26,6
ciada logo após a conclusão da primeira e encerrada em 2022,
a meta é que as três fontes eleitas tenham participação de 10% Crescimento total 1.155,5
na matriz da energia elétrica nacional. Em outubro de 2008, no Fonte: WWEA, 2008.
Os grandes argumentos favoráveis à fonte eólica são, além da re- O estudo da WWEA também aponta o conjunto de 10 paí-
novabilidade, perenidade, grande disponibilidade, independên- ses com maior expansão em 2007 e que, juntos, agregaram
cia de importações e custo zero para obtenção de suprimento (ao mais 19 mil MW de potência instalada ao total mundial. Este
contrário do que ocorre com as fontes fósseis). O principal argu- ranking é liderado pelos Estados Unidos, com 26,4% do to-
mento contrário é o custo que, embora seja decrescente, ainda é tal, imediatamente seguidos pela Espanha (17,8%) e China
elevado na comparação com outras fontes. Apenas como exem- (16,8%). Na seqüência aparecem Índia, Alemanha e França. As
plo, em 2008, no Brasil, considerando-se também os impostos em- regiões que mais têm se destacado no setor são, pela ordem,
butidos, era de cerca de R$ 230,00 por MWh, enquanto o custo da Europa, América do Norte e Ásia.
energia hidrelétrica estava em torno dos R$ 100,00 por MWh.
A energia eólica é, basicamente, aquela obtida da energia ci- O Brasil é favorecido em termos de ventos, que se caracterizam por
nética (do movimento) gerada pela migração das massas de uma presença duas vezes superior à média mundial e pela volati-
ar provocada pelas diferenças de temperatura existentes na lidade de 5% (oscilação da velocidade), o que dá maior previsibi-
superfície do planeta. Não existem informações precisas sobre lidade ao volume a ser produzido. Além disso, como a velocidade
o período em que ela começou a ser aplicada, visto que des- costuma ser maior em períodos de estiagem, é possível operar as
de a Antigüidade dá origem à energia mecânica utilizada na usinas eólicas em sistema complementar com as usinas hidrelétri-
movimentação dos barcos e em atividades econômicas básicas cas, de forma a preservar a água dos reservatórios em períodos de
como bombeamento de água e moagem de grãos. poucas chuvas. Sua operação permitiria, portanto, a “estocagem”
da energia elétrica. Finalmente, estimativas constantes do Atlas
A geração eólica ocorre pelo contato do vento com as pás do Potencial Eólico de 2001 (último estudo realizado a respeito)
do cata-vento, elementos integrantes da usina. Ao girar, es- apontam para um potencial de geração de energia eólica de 143
sas pás dão origem à energia mecânica que aciona o rotor mil MW no Brasil, volume superior à potência instalada total no
do aerogerador, que produz a eletricidade. A quantidade de país, de 105 mil MW em novembro de 2008.
energia mecânica transferida – e, portanto, o potencial de
energia elétrica a ser produzida – está diretamente relaciona- A Figura 5.1 abaixo mostra que as regiões com maior poten-
da à densidade do ar, à área coberta pela rotação das pás e à cial medido são Nordeste, principalmente no litoral (75 GW);
velocidade do vento. Sudeste, particularmente no Vale do Jequitinhonha (29,7 GW);
e Sul (22,8 GW), região em que está instalado o maior parque
A evolução da tecnologia permitiu o desenvolvimento de eólico do país, o de Osório, no Rio Grande do Sul, com 150
equipamentos mais potentes. Em 1985, por exemplo, o diâ- MW de potência. Mas, no país, o vento é utilizado principal-
metro das turbinas era de 20 metros, o que acarretava uma mente para produzir energia mecânica utilizada no bombea-
potência média de 50 kW (quilowatts). Hoje, esses diâmetros mento de água na irrigação. De acordo com o BIG, da Aneel,
chegam a superar 100 metros, o que permite a obtenção, em
uma única turbina, de 5 mil kW. Além disso a altura das torres,
inicialmente de 10 metros aproximadamente, hoje supera os
50 metros. No entanto, a densidade do ar, a intensidade, dire-
ção e velocidade do vento relacionam-se a aspectos geográ-
ficos naturais como relevo, vegetação e interações térmicas 12,8 GW
entre a superfície da terra e a atmosfera. 26,4 TWh/ano
75,0 GW
Assim, a exemplo do que ocorre com outras fontes, como 144,3 TWh/ano
a hidráulica, a obtenção da energia eólica também pres-
supõe a existência de condições naturais específicas e fa- 3,1 GW
5,4 TWh/ano
voráveis. A avaliação destas condições – ou do potencial
eólico de determinada região – requer trabalhos sistemá-
ticos de coleta e análise de dados sobre a velocidade e o 29,7 GW
regime dos ventos. 54,9 TWh/ano
as 17 usinas eólicas em operação em novembro de 2008 apre- Em 2007, também, a oferta interna de energia eólica aumentou
sentavam capacidade instalada de 273 MW. Este quadro é re- de 236 GWh para 559 GWh, uma variação de 136,9%, segundo
sultado tanto da forma como esses parques se desenvolve- os dados do Balanço Energético Nacional, produzido pela Em-
ram quanto da adesão do país à tendência de expansão das presa de Pesquisa Energética (EPE). Além disso, em novembro
eólicas. Até a construção das três plantas de Osório, todos os de 2008, o BIG da Aneel registrava a existência de 22 projetos
projetos implementados foram de pequeno porte. No entan- em construção a partir da energia eólica, com potência total de
to, nos últimos anos, tem sido crescente o interesse pelas usi- 463 MW. Além deles, outros 50, com potência total de 2,4 mil
nas, conforme pode ser observado a partir das informações MW, estavam registrados como outorgados, porém sem que as
registradas no BIG da Aneel. obras tivessem sido iniciadas.
Os Parques Eólicos Osório, Sangradouro e dos Índios, que com- Tanto em um quanto em outro grupo, as potências previstas
põem o empreendimento de Osório, possuem, individualmente, por algumas centrais já eram bastante superiores àquelas veri-
25 turbinas com potência de 2 MW (o que totaliza a potência de ficadas nos parques construídos nos anos 90. A usina de Praia
50 MW por parque), 70 metros de diâmetro e 100 de altura. Os Formosa, em construção no Ceará, por exemplo, terá potência
projetos construídos anteriormente foram, no entanto, todos de instalada de 104 MW. A de Redonda, também no Ceará, e ape-
pequeno porte e experimentais. nas outorgada, tem potência prevista de 300 MW.
Eram centrais como estas que, em 2003, compunham a potên- O Gráfico 5.2 na página seguinte mostra a evolução da potên-
cia eólica total instalada no país, de 22 MW. Esse total era 11 cia solar instalada no mundo de 1992 a 2007 para produção de
vezes inferior aos 273 MW registrados em 2008, o que significa eletricidade. Logo a seguir, como mostra a Tabela 5.5, há a par-
que o crescimento verificado nos últimos cinco anos ocorreu ticipação relativa dos países. Assim como ocorreu no segmen-
a uma taxa média anual de 65%. Além disso, não foi só o nú- to da energia eólica, também na energia solar a Alemanha é a
mero de unidades que aumentou mas, também, o seu porte e, maior produtora, com 49% da potência total instalada. Além
em conseqüência, a potência. O que funcionou como trava à disso, juntos, Alemanha, Japão, Estados Unidos, e Espanha con-
expansão foi, de um lado, a alta dependência das importações centraram, em 2007, 84% da capacidade mundial. Todos são
de equipamentos para montagem das unidades e, de outro, países com programas fortes de diversificação e simultânea
a exigência do Proinfa para que os projetos inseridos no pro- “limpeza” da matriz energética local.
grama tivessem índice de nacionalização de 60%. De qualquer
maneira, no segundo semestre de 2008 o Ministério de Minas De certa forma eles se constituem, no entanto, em exceção.
e Energia anunciava a intenção de rever as regras do Proinfa No geral, os projetos já implementados para produção de ele-
para solucionar o impasse, ao mesmo tempo em que anuncia- tricidade a partir da energia solar ainda são restritos e destina-
va, para 2009, a realização de leilões da energia a ser produzi- dos a abastecer localidades isoladas – embora, nos projetos de
da pelos futuros empreendimentos eólicos – instrumento que expansão da fonte, este quadro esteja se alterando. Em 2007,
funciona como sinalizador ao investidor, por permitir a contra- por exemplo, entrou em operação a Central Solar Fotovoltaica
tação presente da energia que será produzida. de Serpa, situada no Alentejo, em Portugal. À época, foi a maior
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico 5.2 – Potência instalada de células fotovoltaicas no mundo (MW).
Fonte: IEA, 2007.
Ao passar pela atmosfera terrestre, a maior parte da ener- Já no sistema fotovoltaico, a transformação da radiação so-
gia solar manifesta-se sob a forma de luz visível de raios in- lar em eletricidade é direta. Para tanto, é necessário adaptar
fravermelhos e de raios ultravioleta. É possível captar essa um material semicondutor (geralmente o silício) para que,
luz e transformá-la em alguma forma de energia utilizada na medida em que é estimulado pela radiação, permita o
pelo homem: térmica ou elétrica. São os equipamentos uti- fluxo eletrônico (partículas positivas e negativas). Segundo
lizados nessa captação que determinam qual será o tipo de o Plano Nacional 2030, todas as células fotovoltaicas têm,
energia a ser obtida. pelo menos, duas camadas de semicondutores: uma posi-
tivamente carregada e outra negativamente carregada, for-
Se for utilizada uma superfície escura para a captação, a ener- mando uma junção eletrônica. Quando a luz do sol atinge
gia solar será transformada em calor. Se utilizadas células foto- o semicondutor na região dessa junção, o campo elétrico
voltaicas (painéis fotovoltaicos), o resultado será a eletricidade. existente permite o estabelecimento do fluxo eletrônico,
Os equipamentos necessários à produção do calor são chama- antes bloqueado, e dá início ao fluxo de energia na forma de
dos de coletores e concentradores – pois, além de coletar, às corrente contínua. Quanto maior a intensidade de luz, maior
vezes é necessário concentrar a radiação em um só ponto. Este o fluxo de energia elétrica. Um sistema fotovoltaico não pre-
é o princípio de muitos aquecedores solares de água. cisa do brilho do sol para operar. Ele também pode gerar
eletricidade em dias nublados.
Para a produção de energia elétrica existem dois sistemas:
o heliotérmico e o fotovoltaico. No primeiro, a irradiação Segundo a REN21, os sistemas fotovoltaicos conectados à
solar é convertida em calor que é utilizado em usinas ter- rede continuaram a ser, em 2006 e 2007, a tecnologia de ge-
melétricas para a produção de eletricidade. O processo ração com maior crescimento no mundo. Conforme mostra o
completo compreende quatro fases: coleta da irradiação, Gráfico 5.3 abaixo, boa parte das unidades construídas têm
conversão em calor, transporte e armazenamento e, final- sido conectadas à rede de distribuição de eletricidade, um fe-
mente, conversão em eletricidade. Para o aproveitamento nômeno diferente do tradicional, quando os empreendimen-
da energia heliotérmica é necessário um local com alta in- tos eram destinados, na maioria das vezes, ao atendimento
cidência de irradiação solar direta, o que implica em pou- em regiões isoladas. Finalmente, à medida que sua aplicação
ca intensidade de nuvens e baixos índices pluviométricos, é mais disseminada, o custo é menor. Este comportamento
como ocorre no semi-árido brasileiro. pode ser observado no Gráfico 5.4 na página seguinte.
12.000
Total
10.000
Conectados à rede
Desconectados da rede
8.000
Megawatts
6.000
4.000
2.000
0
1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007
9,0
8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
no Estado de Rondônia, com potência instalada de 20,48 kW. geração mundial de eletricidade, o biogás é incluído no gru-
O BIG não registra qualquer outro empreendimento fotovoltai- po “Outras Fontes”, cuja participação foi de 2,3% da produ-
co em construção ou já outorgado. O que existe no país são ção total em 2006 (verificar Tabela 6.1 deste capítulo).
pesquisas e implantação de projetos pilotos da tecnologia. Um
deles é o projeto Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares, da Uni- Já o estudo Renewables 2007 Global Status Report, da
versidade de São Paulo (USP), que instalou 19 sistemas fotovol- REN21, informa que, apesar de pequena, a aplicação comer-
taicos na comunidade de São Francisco de Aiuca, localizada na cial de usinas a biogás nos últimos anos tem apresentado
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamiruá, no Amazo- significativo crescimento nos países em desenvolvimen-
nas, com produção de 13 kWh (quilowatts-hora) mensais. to, particularmente na China e Índia. Países desenvolvidos,
como Estados Unidos, também têm utilizado o lixo urbano e
A expectativa é que a expansão do número de usinas solares industrial para a produção de energia.
ocorra exatamente na zona rural, como integrante de projetos
de universalização do atendimento focados em comunidades Na verdade, existem três rotas tecnológicas para a utilização
mais pobres e localizadas a grande distância das redes de dis- do lixo como energético. Uma delas, a mais simples e disse-
tribuição. O Programa Luz para Todos, lançado em 2003 pelo minada, é a combustão direta dos resíduos sólidos. Outra é a
Ministério de Minas e Energia, instalou diversos sistemas foto- gaseificação por meio da termoquímica (produção de calor
voltaicos no Estado da Bahia. Com o objetivo de levar energia por meio de reações químicas). Finalmente, a terceira (mais
elétrica a uma população superior a 10 milhões de pessoas que utilizada para a produção do biogás) é a reprodução artificial
residem no interior do país, ele contempla o atendimento das do processo natural em que a ação de microorganismos em
demandas do meio rural através de três tipos de iniciativas: ex- um ambiente anaeróbico produz a decomposição da maté-
tensão da rede das distribuidoras, sistemas de geração descen- ria orgânica e, em conseqüência, a emissão do biogás.
tralizada com redes isoladas e sistemas de geração individuais.
De acordo com dados da IEA, em 2005 o lixo urbano deu ori-
gem a uma produção mundial de 870.578 terajoules (TJ), o
5.4 BIOGÁS industrial a 428.645 TJ e o biogás a 520.918 TJ. Na produção
de energia elétrica, a participação de cada um deles foi de,
Das fontes para produção de energia, o biogás é uma das respectivamente, 50,9 TWh, 13,3 TWh e 21,8 TWh. Estes vo-
mais favoráveis ao meio ambiente. Sua aplicação permite a lumes só não foram inferiores ao da energia produzida por
redução dos gases causadores do efeito estufa e contribui outras novas fontes renováveis, como solar e dos oceanos.
com o combate à poluição do solo e dos lençóis freáticos.
Isto porque o biogás é obtido da biomassa contida em deje-
tos (urbanos, industriais e agropecuários) e em esgotos.
5.5 GEOTÉRMICA Nos últimos anos, no esforço para diversificar a matriz, al-
guns países, como México, Japão, Filipinas, Quênia e Islân-
A energia geotérmica é aquela obtida pelo calor que existe no dia procuraram expandir o parque geotérmico. Nos Estados
interior da Terra. Neste caso, os principais recursos são os gêise- Unidos também há iniciativas neste sentido. De acordo com
res (fontes de vapor no interior da Terra que apresentam erup- os dados sobre energias renováveis constantes do BP Statis-
ções periódicas) e, em localidades onde eles não estão presen- tical Review of World Energy de 2008, a capacidade mundial
tes, o calor existente no interior das rochas para o aquecimento total instalada em 2007 era de 9.720 MW. A maior parte des-
da água. A partir desta água aquecida é produzido o vapor uti- ta potência concentrava-se nos Estados Unidos (2.936 MW),
lizado em usinas termelétricas, como ilustrado pela Figura 5.3 a Filipinas (1.978 MW) e México (959 MW) que, juntos, respon-
seguir. Outra possibilidade é a utilização de vapor quente seco diam por 60% da capacidade instalada total, como mostra a
para movimentar as turbinas. Esta última tecnologia é pouco Tabela 5.6 na página seguinte.
aplicada, mas pode ser encontrada na Itália e no México.
Ao contrário do que ocorreu com outras fontes renováveis,
Embora conhecida desde 1904 – ano da construção da primei- como eólica, solar, biomassa (incluindo biogás), o parque ins-
ra usina, logo depois destruída por um acidente –, a evolução talado não passou por expansão significativa entre os anos de
deste segmento foi lenta e se caracterizou pela construção de 2006 e 2007. Apenas na Islândia e Estados Unidos registrou
pequeno número de unidades em poucos países. No Brasil, por índices de crescimento de, respectivamente, 8,1% (atingindo
exemplo, não há nenhuma unidade em operação, nem sob a 456 MW) e 3,7%. Na Austrália recuou 46,7% para 0,1 MW.
5.6 MAR
O potencial de geração de energia elétrica a partir do mar inclui competitivos frente às demais fontes. Um dos países que se desta-
o aproveitamento das marés, correntes marítimas, ondas, ener- ca nestas pesquisas é Portugal, que tem diversos projetos pilotos.
gia térmica e gradientes de salinidade, segundo o estudo sobre
Fontes Alternativas inserido no Plano Nacional de Energia 2030. Segundo registra a EPE, o total estimado para a energia poten-
A eletricidade pode ser obtida a partir da energia cinética (do mo- cial da maré é de 22 mil TWh por ano, dos quais 200 TWh se-
vimento) produzida pelo movimento das águas (Figura 5.4 na pá- riam aproveitáveis. Em 2008, menos de 0,6 TWh, ou 0,3%, eram
gina seguinte) ou pela energia derivada da diferença do nível do convertidos em energia elétrica.
mar entre as marés alta e baixa.
Baseado em estimativas de organismos internacionais, o tra-
Ainda segundo o estudo, produzido em 2008, todas as tecnolo- balho informa que não haverá aplicação em escala das tecno-
gias estão em fase de desenvolvimento, com exceção do aprovei- logias marítimas para produção de energia no curto e médio
tamento da energia potencial em usina maremotriz (contida no prazos. Mas, a partir de 2025, a expansão poderá ocorrer de
movimento das águas). Nenhuma, portanto, apresenta custos forma acentuada, como mostra o Gráfico 5.5 abaixo.
2002-2010
300.000
2011-2025
2026-2050
200.000
100.000
0
Solar PV Eólica na terra Eólica no mar Onda Maré
3 Atividades
1. Embora tenha um potencial muito alto de geração a partir de fontes renováveis, principal-
mente, eólica e solar. O Brasil praticamente não utilizava essas fontes como pode ser visto
na Figura 1. Contudo, a partir de 2012 observa-se uma mudança na matriz brasileira, uma
vez que a geração eólica e solar adentram a matriz energética brasileira ( Figura 2).
Tendo em vista esse cenário, elabore um texto explicando os motivos do Brasil não investir
nesse tipo de energia anteriormente, os principais benefícios desse tipo de geração e quais
são as principais dificuldades de inserção dessas fontes na matriz energética.
Referências