Ponto 1 - Ameaças À Biodiversidade

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Ponto 1: Mudanças globais e Crise da Biodiversidade

A população humana tem um imenso impacto no nosso planeta. Os seres humanos


vêm modificando a biosfera e as paisagens de maneira descontrolada e sem
precedentes nos séculos recentes. As atividades de ais de 7 bilhões de pessoas têm
causado profundas mudanças nos ecossistemas terrestres e aquáticos por todo
mundo. As tendências atuais indicam que, se nada mudar, isso amplificará os impactos
negativos no futuro.
Os humanos modificam os sistemas por meio de processos socioecológicos como
crescimento desenfreado e ininterrupto da população humana, utilização irracional do
capital natural com uma visão restrita de crescimento econômico a qualquer custo,
domesticação e translocação de organismos, globalização de um grupo restrito de
organismos humano-simbiontes ou comensais, poluição, mudanças atmosféricas e
climáticas em escala global e a transformação de paisagens naturais em zonas urbanas
ou de agropecuária.
Ao longo do último século, a população, as pressões do mercado e o desenvolvimento
de novas tecnologias têm incentivado padrões de desenvolvimento agrícola tendentes
à intensificação (ie., escalas crescentes de produção em monoculturas, preparo
mecânico intensivo, irrigação e uso de fertilizantes sintéticos, agentes de controle de
pragas e uma variedade de produções pecuárias), muitas vezes levando à degradação
dos recursos naturais. As perdas de biodiversidade podem ser atribuídas às demandas
de recursos da população humana em rápido crescimento.
Virtualmente, todas as terras aptas para agricultura na região temperada já foram
aradas ou cercadas. As florestas tropicais estão sendo derrubadas numa taxa
alarmante de 10 bi/hectares/ano. Rios e lagos têm sido contaminados em todo o
mundo. Os gases das indústrias químicas e a queima de combustíveis fósseis poluem e
alteram nossa atmosfera.
Temos degradado os ecossistemas como os nossos rejeitos. Muitas espécies
sucumbiram à destruição de habitat, caça e outras atividades humanas. Em anos
recentes, a atividade humana em habitats que eram estáveis aumentou
significativamente, gerando perdas maiores de biodiversidade. Biomas estão sendo
ocupados em diferentes escalas e velocidades: extensas áreas de vegetação nativa
foram devastadas, como por exemplo, no Brasil: o Cerrado, a Caatinga e a Mata
Atlântica.
Embora a extinção de espécies seja um processo natural, estima-se que a taxa atual de
extinção seja cerca de cem mil vezes maior que a taxa natural de extinção de fundo, o
que levou muitos a sugerir que a Terra estaria passando por uma sexta extinção em
massa. No entanto, ao contrário dos eventos de extinção passados, que foram
causados por desastres naturais e mudanças planetárias, este está sendo impulsionado
por ações humanas.
As inter-relações das causas de perda de biodiversidade com a mudança do clima e o
funcionamento dos ecossistemas, apenas agora começam a ser vislumbradas e
despertam a preocupação com a conservação da diversidade biológica. Três razões
principais para justificar tal preocupação podem ser levantadas:
 A biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza,
responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas.
 A diversidade biológica representa um imenso potencial de uso econômico, em
especial, pelo biotecnológico.
 A diversidade biológica está se deteriorando, com aumento da taxa de extinção
de espécies, devido ao impacto das atividades humanas nos ecossistemas.

Estratégias de Conservação
Para resolver essas questões, o Princípio da Precaução, aprovado na Declaração da
Rio-92 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD/Rio-92), estabelece que a ação deve ser imediata e
preventiva.
Embora a população humana vá continuar a estressar os ecossistemas naturais e a
sobrevivência das espécies no futuro; há muitas coisas que podemos fazer para
amenizar a condição da biosfera e de seus habitantes não humanos. Por exemplo, a
União Mundial para a Conservação (IUCN) mantém uma lista de espécies ameaçadas,
conhecida como Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, a qual pode nos ajudar a
entender o que ameaça a biodiversidade em todo o mundo.

Ameaças à biodiversidade
As principais ameaças à biodiversidade são: perda e fragmentação dos habitats;
introdução de espécies exóticas; exploração excessiva de espécies de plantas e
animais; contaminação do solo água e atmosfera por poluentes e mudanças climáticas.
Devido aos múltiplos aspectos da biodiversidade (número de espécies, variação
genética entre populações e dentro de populações e diversidade funcional), os
declínios da mesma também podem ser mensurados de muitas maneiras. Por
exemplo, pela própria perda de espécies (extinção); redução no tamanho populacional,
redução da área de distribuição geográfica, perda de diversidade funcional e
filogenética ou pela redução da variação genética.
Similarmente, e infelizmente, as ameaças à biodiversidade também são diversas, e
incluem: a destruição de habitat, a introdução de espécies exóticas, poluição e
mudanças climáticas globais. Ainda mais preocupante, é o fato dessas diferentes
causas podem atuar não apenas isoladamente, mas também de maneira conjunta,
com diversos efeitos sinérgicos (pex., quando um habitat degradado favorece o
estabelecimento de espécies exóticas).
Poluição Ambiental
Uma série de condições ambientais que, infelizmente, estão se tornando cada vez mais
importantes se deve à acumulação de subprodutos tóxicos das atividades humanas O
dióxido de enxofre emitido por usinas, e metais como cobre, zinco e chumbo,
descartados em torno de minas ou depositados ao redor de refinarias, são apenas
alguns dos poluentes que limitam as distribuições, especialmente das plantas. Muitos
desses poluentes estão presentes naturalmente, mas em baixas concentrações, e
alguns são, de fato, nutrientes essenciais para as plantas. No entanto, em áreas
poluídas, suas concentrações podem aumentar para níveis letais. A perda de espécies
é muitas vezes a primeira indicação de que a poluição ocorreu, e as mudanças na
riqueza de espécies de um rio, lago ou área de terra fornecem bioensaios da extensão
da poluição.
Ainda assim, é raro encontrar até mesmo as áreas poluídas mais inóspitas
completamente desprovidas de espécies; geralmente há pelo menos alguns indivíduos
de algumas espécies que podem tolerar as condições. Mesmo populações naturais de
áreas não poluídas frequentemente contêm uma baixa frequência de indivíduos que
toleram o poluente; isso faz parte da variabilidade genética presente nas populações
naturais. Esses indivíduos podem ser os únicos a sobreviver ou colonizar à medida que
os níveis de poluentes aumentam. Eles podem, então, se tornar os fundadores de uma
população tolerante à qual transmitiram seus genes de “tolerância”, e, como são
descendentes de apenas alguns fundadores, essas populações podem apresentar uma
diversidade genética notavelmente baixa. Assim, em termos muito simples, um
poluente te um efeito duplo. Quando é recém-introduzido ou está em concentrações
extremamente altas, haverá poucos indivíduos de qualquer espécie presente (as
exceções sendo variantes naturalmente tolerantes ou seus descendentes imediatos).
Posteriormente, no entanto, a área poluída provavelmente suportará uma densidade
muito maior de indivíduos, mas estes serão representantes de uma gama de espécies
muito menor do que estaria presente na ausência do poluente. Essas comunidades
novas, pobres em espécies, são agora uma parte estabelecida dos ambientes humanos
(Bradshaw, 1987).
A poluição pode, é claro, ter seus efeitos muito longe da fonte original. Efluentes
tóxicos de uma mina ou fábrica podem entrar em um curso dágua e afetar sua flora e
fauna ao longo de todo o seu trajeto a jusante. Efluentes de grandes complexos
industriais podem poluir e alterar a flora e fauna de muitos rios e lados em uma região,
causando disputas internacionais. Um exemplo marcante de poluição à distância é a
formação da “chuva ácida” – deposição atmosférica de constituintes ácidos
(particularmente ácido sulfúrico e nítrico) que atingem o solo como chuva, neve,
partículas, gases e vapor. A chuva ácida resulta predominantemente de emissões de
dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio da queima de combustíveis fósseis para
gerar eletricidade, transporte e indústria, e aumentou dramaticamente após a
Revolução Industrial na Europa e na América do Norte. Efeitos ecológicos profundos,
muitas vezes além das fronteiras nacionais a consideráveis distâncias da fonte
poluente incluem danos a florestas e comunidades do solo e acidificação de rios e
lagos, com a perda associada de biodiversidade e atividades recreativas como a pesca.
A única opção para testar as causas da deposição ácida é reduzir as emissões, e a
introdução de regulamentações rigorosas sobre a poluição do ar na Europa e na
América do Norte, voltadas para o dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e amônia,
produziu resultados impressionantes. No Reino Unido, por exemplo, as emissões de
dióxido de enxofre caíram 94% e de nitrogênio 58% entre 1970 e 2010. As reduções de
emissões na Europa como um todo foram quase tão boas, enquanto as reduções na
América do Norte foram um pouco menores. Deve-se ressaltar que as reduções não
são explicadas inteiramente por iniciativas governamentais de combate à poluição,
mas são em parte devido à “exportação” de emissões para a China e outros lugares,
onde muitos bens destinados à importação para o hemisfério norte são produzidos. De
fato, a chuva ácida é um problema muito menor agora no norte, enquanto as maiores
taxas de deposição ocorrem atualmente em partes da Ásia.
Mudanças globais
Os ambientes globais mudaram ao longo das longas escalas de tempo envolvidas na
deriva continental e nas escalas de tempo mais curtas das idades do gelo repetidas. Ao
longo dessas escalas, alguns organismos não conseguiram se adaptar às mudanças e se
tornaram extintos, outros migraram para continuar a experimentar as mesmas
condições, mas em lugares diferentes, e outros mudaram sua natureza (evoluíram) e
toleraram algumas das mudanças. Agora, voltamos nossa atenção para as mudanças
globais que estão ocorrendo em nossas próprias vidas – consequências de nossas
próprias atividades – e que estão previstas para provocar mudanças profundas na
ecologia do planeta. Embora faça parte da síndrome mais ampla agora chamada de
“Mudanças globais”, a chuva ácida discuta anteriormente não é verdadeiramente
global, mas sim regional, devido ao tempo médio de residência restrito dos poluentes
ácidos na atmosfera (alguns dias), em comparação com o CO2, cujo tempo de
residência é muito mais longo (Hildrew, 2018), como discutiremos a seguir.
Gases industriais e o efeito estufa

Um elemento fundamental da Revolução industrial foi a transição do uso de


combustíveis sustentáveis para o carvão (e, posteriormente, o petróleo) como fonte de
energia. Entre meados do século 19 e meados do século 20, a queima de combustíveis
fósseis e o desmatamento extensivo adicionaram cerca de 90 gigatoneladas (Gt) de
dióxido de carbono (CO2) à atmosfera, com mais adições desde então. A concentração
de CO2 na atmosfera antes da Revolução Industrial era de aproximadamente 280 ppm,
aumentando para cerca de 370 ppm no final do milênio e atingindo 400 ppm em maio
de 2013, o que não ocorria há pelo menos 800 mil anos.
A radiação solar que atinge a atmosfera terrestre é parcialmente refletida, absorvida e
transmitida à superfície da Terra, que a absorve e aquece. Parte dessa energia
absorvida é reemitida para a atmosfera, onde os gases atmosféricos, principalmente
vapor de água e CO2, absorvem cerca de 70% dela. Essa energia reemitida é o que
aquece a atmosfera no que chamamos de “efeito estufa”. Embora o efeito estufa
tenha sido parte do ambiente normal antes da Revolução Industrial, ele foi
intensificado pela atividade industrial. Naquela época, a maior parte do efeito estufa
era causada pelo vapor de de água atmosférico.
Além do aumento do efeito estufa deivodo às emissões de CO2, outros gases de efeito
estufa, como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), também aumentaram na
atmosfera. Cada gás de efeito estufa tem um potencial de aquecimento que depende
de quanto tempo permanece na atmosfera e quão eficientemente absorve energia.
Assim, o CH4 e o N2O têm potenciais de aquecimento global cerca de 30 e 300 vezes
maiores que o do CO2, respectivamente. Juntos, esses gases contribuem com cerca de
35% para o aumento do efeito estufa, em comparação com 65% do CO2. O aumento
do CH4 deve-se principalmente à agricultura intensiva e à digestão de ruminantes. O
N2O, por sua vez, é emitido durante a produção agrícola e industrial, além da queima
dos combustíveis fósseis. O efeito dos CFCs provenientes de refrigerantes, propelentes
de aerossóis etc, era potencialmente grande (seus potenciais de aquecimento global
são milhares ou dezenas de milhares de vezes maiores que o do CO2), mas acordos
internacionais, principalmente para combater danos à camada de ozônio, moderaram
fortemente os aumentos em suas concentrações. No entanto, a taxa de aumento nas
emissões anuais de gases de efeito estufa acelerou desde a virada do milênio.
Embora a absorção de CO2 pelos oceanos e pela vegetação terrestre tenha atenuado
parcialmente o impacto, as concentrações atmosféricas de CO2 e o efeito estufa em si
continuam a aumentar. Os oceanos absorveram cerca de 30% do CO2 liberado por
atividades humanas, reduzindo o pH da água do mar em 0,1 unidades desde a
Revolução Industrial. Essa acidificação e a diminuição de íons carbonato podem ter
consequências significativas para espécies calcificadoras, como corais e moluscos,
embora a produção fotossintética nos oceanos possa se beneficiar de maiores
concentrações de CO2.
Aquecimento Global
A temperatura média global da superfície terrestre e dos oceanos aumentou cerca de
0,85ºC de 1880 a 2012. Já observamos o derretimento do gelo ártico e a elevação do
nível do mar, com expectativas de mais derretimento das calotas polares, aumento do
nível do mar e mudanças significativas nos padrões climáticos globais e distribuição
das espécies.
As previsões sobre o aquecimento global derivam de dois métodos: (i) tendências em
conjuntos de dados medidos, como a largura dos anéis de árvores e registros do nível
do mar; e (ii) modelos computacionais que simulam o clima mundial sob diferentes
cenários de mitigação. Esses cenários variam do ideal, com um esforço internacional
para minimizar o aumento da temperatura, ao pior caso, onde pouco é feito. O
aquecimento global até agora se distribuiu uniformemente pela superfície da Terra e
não será assim no futuro. As altas latitudes do hemisfério norte devem mudar mais
rapidamente que os trópicos, áreas terrestres mudarão mais rapidamente que os
oceanos, e pequenas ilhas e regiões costeiras estarão particularmente vulneráveis ao
aumento do nível do mar.
As distribuições de espécies são fortemente influenciadas pela temperatura e
disponibilidade de água, e muitos organismos são impactados por extremos climáticos.
Projeções modeladas por computador indicam que a mudança climática global
também trará maior variabilidade em temperatura, precipitação e eventos extremos,
afetando a distribuição de espécies e biomas.
As temperaturas globais mudaram naturalmente no passado. Atualmente, estamos
nos aproximando do fim de um período de aquecimento que começou há cerca de 20
mil anos, durante o qual as temperaturas globais aumentaram cerca de 8ºC. O efeito
estufa agrava o aquecimento em um momento em que as temperaturas já estão mais
altas do que há 400 mil anos. Evidências de pólen enterrado mostram que as fronteiras
das florestas norte-americanas migraram para o norte a taxas de 100 a 500 m por ano
desde a última era do gelo, mas essa taxa de avanço não foi rápida o suficiente para
acompanhar o aquecimento pós-glacial. A taxa de aquecimento prevista devido ao
efeito estufa é 50 a 100 vezes mais rápida do que o aquecimento pós-glacial. Assim,
entre todos os tipos de poluição ambiental causados por atividades humanas, o
aquecimento global pode ter os efeitos mais profundos. Esperam-se mudanças
latitudinais e altitudinais nas distribuições das espécies e extinções generalizadas, já
que a flora e a fauna não conseguem acompanhar a velocidade das mudanças nas
temperaturas globais. Além disso, grandes áreas de terra, onde a vegetação poderia
avançar e recuar, foram fragmentadas, criando barreiras significativas para o avanço
da vegetação. É muito provável que muitas espécies se percam nesse processo,
enquanto possa, ao mesmo tempo, aumentar a propagação de espécies invasoras e
afetar as produções aquícola e agropecuária.

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