Slides Aula 02 - Psicologia Jurídica

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Psicologia Jurídica

Professor Dr. Leonardo Araújo


Aula 02 – A relação entre os saberes construídos pela Psicologia, o Direito e
as práticas judiciárias

1. Breve história da constituição da Psicologia como campo do conhecimento

1.1 Emergência da psicologia como ciência

2. A constituição do sujeito

3. A Psicologia e as práticas judiciárias


Aula 02 – A psicologia como ciência independente e as pré-condições para
seu aparecimento

3. A psicologia e as práticas judiciárias

 A Psicologia, conforme visto anteriormente, tem como objeto de


pesquisa, dito de forma ampla, o ser humano, assim como ocorre em
outras áreas das ciências humanas.

 Entretanto, ela trata do ser humano em suas expressões subjetivas,


analisando os princípios básicos que orientam seu comportamento e suas
interações sociais.

 Assim, na Psicologia, são analisados, conforme aponta Bock (2002), o


comportamento, os sentimentos, as manifestações singulares (porque
somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim).
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Com isso pode-se estabelecer uma reflexão sobre relação entre os saberes
constituídos pela Psicologia e o Direito.

 Esta relação pode ser buscada através da interferência das formulações


teóricas da Psicologia no ordenamento jurídico, e, de forma mais tangível,
nos trabalhos desenvolvidos pelos psicólogos que atuam nas instituições
judiciárias.

 No Brasil, foi criada em 1962 a profissão de Psicólogo, regulamentando a


intervenção social de profissionais que atuam a partir, prioritariamente,
dos conhecimentos da ciência psicológica.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Dessa forma existem diversas possibilidades de intervenção profissional


de psicólogos na sociedade.

 Pode-se citar a atuação dos psicólogos na área do trabalho, na área da


educação, na área da saúde, bem como a atuação em consultórios, talvez
a forma de atuação mais conhecida.

 Também nesse cenário ocorre a intervenção do psicólogo numa área


convencionada como Psicologia Social, na qual se identificam práticas
ligadas a instituições judiciárias, chamadas, em seu conjunto,
genericamente, de “Psicologia Jurídica”.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Os primeiros sinais do surgimento da Psicologia Jurídica ocorreram,


notadamente, por volta do século XIX, período em que se verifica a
necessidade de a lei positiva conhecer e aplicar os descobrimentos da
Psicologia Científica.

 Um dos temas iniciais que estabeleceram a relação entre Psicologia e


Direito foi o sentimento jurídico do estabelecimento de normas para o
convívio comum conforme as regras e normas de conduta.

 No Brasil, pode-se dizer que a relação do Direito com a Psicologia se


configura desde o início do século XX. Datam dessa época diversos
trabalhos de vários estudiosos em Medicina Legal, Psiquiatria Forense e
Criminologia, baseados em teses organicistas, isto é, relacionando a
doença mental com a criminalidade em bases biológicas.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 A Psicologia Jurídica nasceu, mais especificamente, da necessidade de


legislação apropriada para os casos dos indivíduos considerados doentes
mentais e que tenham cometido atos criminosos, pequenos ou graves
delitos (COHEN, 1996).

 Um exemplo desta realidade foi a criação do Manicômio Judiciário em


1921, no Rio de Janeiro, por iniciativa e esforço de Heitor Carrilho, médico
psiquiatra, cuja posição teórica fixava o crime sob o enfoque da
determinação individual e não social.

 Assim, alinhado com a posição do Direito Positivo, propunha uma


psicologização ou individualização do ato criminoso.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Carrilho contribuiu também no exame e no relatório que fundamentaram


o primeiro caso de inimputabilidade de um criminoso, Febrônio Índio do
Brasil, por ter sido este considerado ‘louco’.

 Da aproximação entre essas duas ciências (Psicologia e Direito) surgiu o


que se denominou de “Psicologia do Testemunho”, cujo objetivo era
verificar, através do estudo experimental dos processos psicológicos, a
fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo jurídico.

 A Psicologia do Testemunho contribuiu, ainda, com estudos sobre


memória, percepção e sensação, despertando interesse por parte da
Justiça.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 A contribuição dessas ciências, segundo Jesus (2006), permite uma


compreensão mais aprimorada da complexidade da interpretação do
fenômeno legal.

 À Psicologia, compete compreender e explicar o comportamento


humano; e o Direito, diante de um conjunto de preocupações sobre como
regular, pode prever determinados tipos de comportamentos e, a partir
disso, estabelecer um contrato social de convivência comunitária.

 Garcia (2004), a partir da definição tradicional de Direito e Psicologia,


confirma que essas áreas possuem pontos de aproximação, a começar
pelos deveres e direitos e as motivações e mecanismos próprios ao ser
humano.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Segundo o autor, o Direito pode ser considerado como um conjunto de


leis, preceitos e regras a que estão submetidos os homens em sua vida
social; já, a Psicologia, como o estudo do comportamento em sentido
amplo, o que incluiria atividades, motivações e sentimentos atribuídos às
pessoas.

 A Psicologia Jurídica reflete a interface entre o campo da Ciência


Psicológica e da Ciência Jurídica acerca da compreensão de fenômenos e
processos psicológicos no âmbito da justiça.

 Trata-se, portanto, de um campo de investigação psicológica


especializado, cuja finalidade é o estudo do comportamento dos atores
jurídicos no âmbito do Direito, da Lei e da Justiça.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 A primeira articulação entre a Ciência Psicológica e o Direito, conforme


mostra Brito (2005), teve origem na avaliação da fidedignidade de
testemunhos. Posteriormente, as perícias psicológicas se tornaram a
principal atividade para as quais os psicólogos eram solicitados a realizar
intervenções no campo jurídico.

 A participação do psicólogo nas questões judiciais, de acordo com Cesca


(2004), começou em 1980, no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
quando um grupo de psicólogos voluntários orientava pessoas que lhes
eram encaminhadas pelo Serviço Social, basicamente para apoio a
questões familiares, tendo como objetivo principal sua reestruturação e a
manutenção da criança no lar.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Em 1985, o presidente do Tribunal de Justiça apresentou à Assembleia


Legislativa um projeto criando o cargo de psicólogo judiciário, o que
significou a consolidação da função de psicólogo no sistema judiciário.

 Sintetizando as possibilidades de atuação do psicólogo jurídico, Jesus


(2006, p. 46) apresenta a seguinte relação:

1) avaliar e diagnosticar as condutas psicológicas dos atores jurídicos;

2) assessorar e/ou orientar, como perito, órgãos judiciais em questões


próprias de sua área;

3) intervir, planejar e realizar programas de prevenção, de tratamento, de


reabilitação e de integração de atores jurídicos na comunidade;
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Sintetizando as possibilidades de atuação do psicólogo jurídico, Jesus


(2006, p. 46) apresenta a seguinte relação:

4) formar e educar os profissionais do sistema legal em conteúdos e técnicas


psicológicas úteis em seu trabalho;

5) colaborar em campanhas de prevenção social contra a criminalidade em


meios de comunicação;

6) ajudar a vítima de forma a contribuir para a melhoria da situação dela e


para sua interação com o sistema legal;

7) mediar, apresentar soluções negociadas aos conflitos jurídicos, visando


diminuir e prevenir o dano emocional e social.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 A principal demanda do judiciário, em relação ao trabalho do psicólogo,


diz respeito aos conflitos familiares. Estes conflitos se apresentam em
larga escala e nos mais diversificados contextos, tais como: Varas de
Família, Juizados da Infância e da Juventude, Varas de Execução Penal,
Delegacias de Polícias, entre outros.

 Nas Varas de Família, uma das atividades desenvolvidas por psicólogos é a


perícia psicológica.

 As perícias são diligências processuais que fazem parte de processos


judiciais e são consideradas como provas técnicas. Segundo Cruz (2002), a
Perícia Psicológica é um exame ou avaliação descritiva e conclusiva acerca
de fatos, situações ou problemas que exijam juízo crítico por parte dos
psicólogos, sobre matéria da Psicologia, cujo conteúdo deverá certificar a
medida da investigação realizada.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Bernardi (1999), ao caracterizar a atuação dos psicólogos nas Varas de


Infância e Juventude, destaca como atividades importantes os estudos de
casos, com o objetivo de buscar alternativas mais condizentes com a
realidade social para defender os direitos fundamentais de crianças e de
adolescentes:

1) as discussões das medidas de proteção e as medidas socioeducativas


mais viáveis, para que essa população possa, de fato, realizá-las e cumpri-
las;

2) o incentivo à promoção de ações que visem prevenir o abandono, a


negligência e a marginalização, com o objetivo de resguardar o bem-estar
psicológico de crianças e adolescentes.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Nesse sentido, o estudo particular, específico de cada caso, por parte de


uma equipe interdisciplinar, a qual inclui os psicólogos, é fundamental
para distinguir as ações praticadas pelos adolescentes, como
pertencentes às etapas de desenvolvimento, das ações delituosas que
denotam crime.

 O trabalho dos psicólogos desenvolvido no Sistema Penal Brasileiro, de


maneira geral, enfatiza a promoção de atividades laborativas, que
objetivam desenvolver condições e habilidades sociais voltadas para a
reinserção social e, principalmente, a atividade de diagnóstico das
condições psicológicas dos detentos para avaliação dos regimes de
progressão e acompanhamento de execução penal dos sentenciados.
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3. A psicologia e as práticas judiciárias

 Nascimento (2009) enfatiza a importância do papel social do psicólogo.


Segundo a autora, este profissional tem a incumbência de produzir
conhecimentos científicos e desenvolver métodos de intervenção
profissional que visem melhorar as condições da população de presos no
Brasil, diante dos complexos sistemas político, jurídico, econômico,
cultural e psicológico que envolvem as frequentes violações de direitos
humanos perpetrados contra os apenados.

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