6 - Teoria Dos Cinco Elementos - Dividido
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Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Há muitas teorias básicas extremamente ricas na cultura, e, consequente-
mente, na medicina tradicional chinesa não é diferente. Uma delas, que
pode ser aplicada a qualquer fenômeno da natureza a partir da avaliação
do conjunto de características do evento em questão, é a teoria dos cinco
elementos. Esta sequência cíclica permeia o universo e os processos
biológicos em harmonia. A acupuntura age no caso de desequilíbrios
nesse ciclo dinâmico vital.
Neste capítulo, você conhecerá as características da teoria dos cinco
elementos, assim como os atributos dos Zang Fu. A relação entre ambas
é primordial para o estudo da medicina oriental, pois estão vinculadas
ao processo saúde-doença, à anamnese, ao diagnóstico e tratamento.
Os elementos fogo, terra, metal, água e madeira abraçam a medicina,
facilitando a compreensão da fisiopatologia oriental.
Os cinco elementos não são materiais que constituem a natureza, mas cinco processos,
movimentos, potenciais de transformação, estágios de um ciclo sazonal ou qualidades
básicas dos fenômenos do universo.
Há uma sequência cíclica de geração entre eles, na qual o fogo cria a terra
por meio das cinzas, a terra gera o metal, que, por sua vez, produz água, que
irriga e promove o crescimento da madeira, que gera o fogo. Esse ciclo de
geração é equilibradamente dinâmico. Podem, também, ser utilizados os termos
“mãe” e “filho”, sendo esses os elementos gerador e gerado, respectivamente.
Por exemplo, o fogo é mãe da terra, pois fogo gera a terra — sendo assim, a
terra é filha do fogo. Outro exemplo é a água mãe da madeira, logo a madeira
é filha da água, pois é originada pelo elemento água no ciclo de geração. Todo
elemento é gerado por algum e gera outro.
O mecanismo de autocontrole dos cinco elementos é o ciclo de dominância,
no qual o fogo funde o metal, o metal corta a madeira, a madeira regula a terra,
a terra absorve a água, a água controla o fogo. Essa sequência deve manter-se
ativa e regulada. Todo elemento é controlado por algum e controla outro. Por
exemplo, a madeira controla a terra e, simultaneamente, é regulada pelo metal.
É esperado sincronismo entre os ciclos de geração e dominância — assim,
promove-se o equilíbrio entre essas cinco fases dinâmicas, conforme repre-
sentação da Figura 1.
Teoria dos cinco elementos 3
Fogo
Madeira Terra
Água Metal
Elemento fogo
Representa funções que atingiram um estado de máxima expansão e estão
prestes a iniciar um processo de declínio. Está associado à cor vermelha,
ao som de riso, ao odor de queimado, ao sabor amargo, ao tecido dos vasos
sanguíneos e à emoção de alegria. Indivíduos com fator constitucional fogo
podem apresentar a face avermelhada e mantêm o riso como uma extensão
do sentimento de alegria interna.
Elemento terra
Representa equilíbrio ou neutralidade. Está associado à cor amarela, ao som
de cantoria, ao odor fragrante, ao sabor doce, ao tecido dos músculos e ao
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Elemento metal
Simboliza as funções que estão em declínio. Está associado à cor branca, ao
som de choro, ao odor fétido, ao sabor picante, ao tecido da pele e à emoção de
tristeza, angústia e aflição. Indivíduos com fator constitucional metal falam com
um tom de voz choroso. A face pálida e a lamúria podem aparecer numa situação
de desequilíbrio. A secura é um agente externo que afeta bastante este elemento.
Associado a ele, há o sabor picante que aparece em diversos alimentos, como alho e
gengibre, pois eles têm a função de dispersar o Qi — ação semelhante à do pulmão.
Elemento água
Representa as funções que atingiram o estado máximo de declínio e estão
prestes a mudar na direção do crescimento. Está associado à cor preta, ao som
de gemido, ao odor pútrido, ao sabor salgado, ao tecido ósseo e à emoção de
medo. Indivíduos com fator constitucional água, quando em desequilíbrio,
podem apresentar face escurecida — principalmente abaixo dos olhos —, a
fala carrega, no tom de um gemido, são muito sensíveis a sustos, podem ter
paixão por alimentos salgados e há relação com o cheiro pútrido.
Elemento madeira
Está relacionado às funções ativas que estão em crescimento, desenvolvimento.
Associa-se à cor verde, ao som de grito, ao odor rançoso, ao sabor azedo, ao
tecido dos tendões e à emoção de raiva, ira. Indivíduos com fator constitu-
cional madeira tendem a se mostrar flexíveis e contornar obstáculos rumo
ao seu desenvolvimento. Sabendo que a água é mãe da madeira, podemos
observar sintomas vinculados a este elemento quando há falta de água. A
coloração esverdeada na face é comum nas situações em que a madeira está
em desequilíbrio, contribuindo para o diagnóstico. A voz gritada também
auxilia no diagnóstico.
O Quadro 1, a seguir, resume as características básicas dos cinco elementos.
Quadro 1. Características básicas dos cinco elementos
Quadro 2. Relação entre a teoria dos cinco elementos e a teoria dos Zang Fu
Emoção de fogo
Está intimamente relacionada com a alegria. Indivíduos procuram situações
de encontro social e integração entre amigos que geram experiências positivas
para sorrir. A falta de alegria, assim como a euforia incontrolável, são padrões
de desequilíbrio. Alegrar os demais pode tomar uma proporção muito grande,
assim como mostrar-se alegre, mesmo não estando feliz internamente. As
emoções desse elemento, quando não reguladas, podem afetar a mente Shen,
o coração e seu envoltório protetor pericárdio, a ação do intestino delgado e
o controle dos aquecedores realizado pelo triplo aquecedor.
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Emoção de terra
Os sentimentos terra estão vinculados aos pensamentos em excesso, à pre-
ocupação e à solidariedade. Em situações patológicas, o volume grande de
pensamentos torna-se incontrolável e obsessivo. No caso da solidariedade, a
necessidade de apoio demasiada, a rejeição de auxílio alheio, doar-se muito
aos demais ou apresentar bloqueio de sensibilidade com a dor dos outros são
situações de desequilíbrio emocional de terra. Comportamentos de carência,
disfarçar ou suprimir suas necessidades, falta de estabilidade para fixar raízes
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Emoção de metal
As lamúrias são muito presentes neste elemento, mas a emoção em destaque
é o pesar. Este sentimento, em geral, ocorre de forma inesperada na perda
de um ente querido, sendo normal, parte da vida. Porém, o pesar em excesso
pode causar grandes danos às funções do pulmão e intestino grosso. O apego
demasiado às pessoas, que até pode ser extrapolado para objetos, é algo que
deve ser controlado e bem-administrado, pois pode gerar esse sentimento de
pesar. Em equilíbrio, é possível sentir a perda e seguir em frente. O rompi-
mento de laços com nossos apegos é fundamental ser trabalhado, assim como
a inflexibilidade e a fragilidade perante as situações. Evitar o isolamento, a
indiferença e o cinismo auxiliam no desequilíbrio desse elemento.
Emoção de água
Claramente, o medo está presente e é importante para nossa própria proteção.
A patologia aparece quando ele não está controlado, invade outras áreas da
vida e gera privação de atividades, planos ou perturba os pensamentos. Não
é apenas o excesso de medo que faz parte da água: a cautela em demasia, os
atos impulsivos, a desconfiança ou a extrema confiança.
Emoção de madeira
A raiva é a emoção deste elemento. Muitas vezes, a ira pode ser interpretada
negativamente, mas é justamente esse o grande motivacional para as mudanças.
Esse sentimento deve ser controlado e equilibrado. Quando duradouro, pode
ser acompanhado de frustrações, ódio e amargura, que são consequências
nocivas ao organismo. Tanto a fúria intensa quanto a apatia são caracteriza-
das como desequilíbrio. As emoções desse elemento, quando não reguladas,
podem afetar o poder de planejamento do fígado e decisão da vesícula biliar.
Teoria dos cinco elementos 11
Paciente com muito medo da morte após falecimento do seu pai, há 3 anos, tem
acessos de pânico ao pensar que sua mãe e irmãos não viverão para sempre. Durante
a anamnese, observam-se regiões escurecidas ao redor da boca e dos olhos, e a voz
tem tom de gemido. Nesse caso, o desequilíbrio está no elemento água.
Referência
HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE, P. Acupuntura constitucional dos cinco elementos. São Paulo:
Roca, 2007. 456 p.
Leituras recomendadas
AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O diagnóstico na medicina chinesa. São Paulo: Andrei,
1992. 422 p.
LIMA, P. R. Manual de acupuntura: direto ao ponto. 4. ed. Rio de Janeiro: Zen, 2018. 338 p.
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. 3. ed. São Paulo: Roca, 2016. 1016 p.
ROSS, J. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. São Paulo:
Roca, 2003. 512 p.