Sistemas Processuais Penais

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

Existem três espécies de sistemas processuais penais: a) o inquisitivo; b) o acusatório; c) o


misto.

Sistema inquisitivo
Nesse sistema, cabe a um só órgão acusar e julgar. O juiz dá início à ação penal e, ao final, ele
mesmo profere a sentença. É muito criticado por não garantir a imparcialidade do julgador. Antes do
advento da Constituição Federal de 1988 era admitido em nossa legislação em relação à apuração de
todas as contravenções penais (art. 17 do Decreto-lei n. 3.688/41 — Lei das Contravenções Penais) e
dos crimes de homicídio e lesões corporais culposos (Lei n. 4.611/65). Era o chamado processo
judicialiforme, que foi banido de nossa legislação pelo art. 129, I, da Constituição Federal, que
conferiu ao Ministério Público a iniciativa exclusiva da ação pública. Nesse sistema, o direito de
defesa dos acusados nem sempre era observado em sua plenitude em razão de os seus requerimentos
serem julgados pelo próprio órgão acusador.

Sistema acusatório
Existe separação entre os órgãos incumbidos de realizar a acusação e o julgamento, o que
garante a imparcialidade do julgador e, por conseguinte, assegura a plenitude de defesa e o
tratamento igualitário das partes. Nesse sistema, considerando que a iniciativa é do órgão acusador, o
defensor tem sempre o direito de se manifestar por último. A produção das provas é incumbência das
partes.

Sistema misto
Nesse sistema há uma fase investigatória e persecutória preliminar conduzida por um juiz (não
se confundindo, portanto, com o inquérito policial, de natureza administrativa, presidido por
autoridade policial), seguida de uma fase acusatória em que são assegurados todos os direitos do
acusado e a independência entre acusação, defesa e juiz. Tal sistema, inaugurado com o Code d’
Instruction Criminelle (Código de Processo Penal francês), em 1908, atualmente é adotado em
diversos países europeus e sua característica marcante é a existência do Juizado de Instrução, fase
preliminar instrutória presidida por juiz.

Sistema adotado no Brasil


No Brasil é atualmente adotado o sistema acusatório, pois há clara separação entre a função
acusatória — do Ministério Público nos crimes de ação pública — e a julgadora. É preciso,
entretanto, salientar que não se trata do sistema acusatório puro, uma vez que, apesar de a regra ser a
de que as partes devam produzir suas provas, admitem-se exceções em que o próprio juiz pode
determinar, de ofício, sua produção de forma suplementar.
O art. 156 do CPP, por exemplo, estabelece que “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer,
sendo, porém, facultado ao juiz, de ofício: I — ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a
produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando-se a necessidade,
adequação e proporcionalidade; II — determinar, no curso da instrução, a realização de diligências
para dirimir dúvida sobre ponto relevante”. A Lei n. 13.964/2019 inseriu no art. 3º-A1 do CPP regra
que proíbe ao juiz determinar, de ofício, a produção de qualquer prova durante a investigação,
restando parcialmente revogado o inciso I do art. 156, pois, em razão da nova regra, apenas em razão
de requerimento das partes ou de representação da autoridade policial, pode o juiz determinar a
produção antecipada de provas na fase de investigação.
O art. 212, parágrafo único, do mesmo Código diz que as partes devem endereçar perguntas
diretamente às testemunhas, mas, ao final, o juiz poderá complementar a inquirição sobre pontos não
esclarecidos. O art. 404 prevê que o juiz, ao término da instrução, pode determinar, de ofício, a
realização de novas diligências consideradas imprescindíveis. O juiz pode, ainda, determinar a oitiva
de testemunhas não arroladas pelas partes — as chamadas testemunhas do juízo.
Salientese que não existe absolutamente nada de inconstitucional nestes dispositivos, uma vez
que a Constituição Federal não contém dispositivo adotando o sistema acusatório puro e tampouco
impede o juiz de determinar diligências apuratórias de ofício. O art. 129, I, da Constituição se limita a
vedar ao magistrado o desencadeamento da ação penal, porém não o proíbe de determinar a produção
de provas necessárias ao esclarecimento da verdade real, princípio basilar de nosso processo penal.
Não fosse assim, além de ficar desguarnecido referido princípio, estaria em risco a garantia aos
“brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade” (princípio da proteção — art. 5º, caput, da CF).
A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos entendidos relevantes pelo
legislador e, sem que se assegure a efetiva aplicação dos dispositivos penais, o princípio da proteção
restaria abalado. Suponha-se, por exemplo, que o promotor, ao denunciar pessoa responsável por
inúmeros latrocínios, esqueça-se de arrolar uma testemunha-chave. No sistema acusatório puro, a
absolvição seria inevitável, isto é, por um mero engano do órgão acusador a sociedade ficaria à mercê
de um criminoso de alta periculosidade.
Em nosso sistema, entretanto, o magistrado, ao perceber a falha pode, de ofício ou a
requerimento da parte, determinar a oitiva da testemunha imprescindível. Do mesmo modo, se a
denúncia atribui dois crimes ao réu e o promotor, por equívoco, somente faz perguntas às
testemunhas em relação a um dos delitos na audiência, é óbvio que o juiz pode complementar a
inquirição, tudo, conforme já se mencionou, em prol da verdade real, da proteção aos interesses
sociais e à ampla defesa (já que o poder judicial de determinar diligências complementares também
pode ser utilizado em benefício do acusado).
A maior evidência de que a legislação processual não adotou o sistema acusatório puro
encontrase nos arts. 385 do CPP, que permite ao juiz condenar o réu nos crimes de ação pública ainda
que o Ministério Público tenha se manifestado pela absolvição. Tal dispositivo legal, que estabelece a
desvinculação do juiz ou tribunal a pedido absolutório formulado pelo Ministério Público, foi
recepcionado, segundo pacífico entendimento jurisprudencial, pela Constituição Federal: “1. Nos
termos do art. 385 do Código de Processo Penal, nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir
sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição. 2. O artigo 385
do Código de Processo Penal foi recepcionado pela Constituição Federal. Precedentes desta Corte. 3.
Agravo regimental não provido” (AgRg no REsp 1.612.551/RJ — 5ª Turma — Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca — julgado em 02.02.2017 — DJe 10.02.2017).
Podemos também apontar, dentre outros já citados, a possibilidade assegurada ao juiz criminal
de destituir o defensor constituído pelo réu caso entenda que a defesa por ele apresentada é precária
(réu indefeso).

GONÇALVES, Victor Eduardo R.; REIS, Alexandre Cebrian A. Direito Processual Penal
Esquematizado. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2022. p. 32.

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