Artigo Privatização
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Artigo Privatização
1
Bacharela em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa e Extensão Políticas Públicas, Controle Social e Movimentos Sociais.
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Graduanda em Serviço Social pela Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de
Alagoas, integrante do Grupo de Pesquisa e Extensão Políticas Públicas, Controle Social e
Movimentos Sociais.
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Assistente Social. Prof.ª. Dr.ª da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas.
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Políticas Públicas, Controle Social e Movimentos
Sociais, vinculado ao Programa de Pós- Graduação da Faculdade de Serviço Social da Ufal.
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Assistente Social da Prefeitura de Delmiro Gouveia. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e
Extensão Políticas Públicas, Controle Social e Movimentos Sociais, vinculado ao Programa de
Pósgraduação da Faculdade de Serviço Social da Ufal.
I. INTRODUÇÃO
O estudo aqui apresentado faz parte de resultados de pesquisas que têm sido
desenvolvidas - projetos de iniciação científica, Trabalho de Conclusão de Curso,
dissertação e teses - a partir do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Controle Social e
Movimentos Sociais, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de
Alagoas.
Em nosso estudo, evidenciamos que o processo de captura do fundo público
pelo setor privado na área da saúde não é recente, desde o século XX, o Estado brasileiro
fomentava a compra de serviços de saúde ao setor privado ao invés da ampliação dos
serviços públicos de saúde. Mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988 e
da aprovação das leis orgânicas da saúde, o setor privado conseguiu manter seus
interesses na prestação dos serviços de saúde na forma de caráter “complementar” seja
através de contratos ou convênios.
Com o aprofundamento da crise do capital nos anos de 1990, e sua caçada por
novos nichos de acumulação, a atuação do Estado passa a ser redefinida fortalecendo os
interesses do capital, mediante as orientações neoliberais cristalizadas nas contrarreformas
as quais tem impactado nas políticas sociais. No que se refere a política de saúde, tem se
ampliado cada vez mais a atuação do setor privado na prestação de serviços públicos, no
caso da complementaridade do setor privado ao SUS, esta tem sido cada vez mais inversa,
se tem privatizado o fundo público da saúde por dentro do SUS.
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Decreto Legislativo no 4.682, de 24 de janeiro de 1923, que criou em cada uma das empesas de
estradas de ferro existentes no país uma Caixa de Aposentadoria e Pensões para os respectivos
empregados.
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Este texto é uma versão revista e ampliada dos artigos: “As Políticas de Seguridade Social Saúde”.
In: CFESS/ CEAD. Capacitação em Serviço Social e Política Social. Módulo III: Política Social.
Brasília: UnB- CEAD/ CFESS, 2000 e “A Política de Saúde no Brasil: trajetória histórica". In:
Capacitação para Conselheiros de Saúde - textos de apoio. Rio de Janeiro: UERJ/DEPEXT/NAPE,
2001.
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Segundo Oliveira, Araújo, Cecílio “O INPS consolida o componente assistencial, com marcada
opção de compra de serviços assistenciais do setor privado, concretizando o modelo assistencial
hospitalocêntrico, curativista e médico-centrado, que terá uma forte presença no futuro SUS”.
Disponível em:<
http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Unidade_4.pdf>
Acessado em: 27 de fevereiro de 2016.
Na década de 1970, vários movimentos sociais brasileiros pediam uma
reavaliação da política de saúde que vigorava no Brasil, e com forte influência da reforma
sanitária italiana, formou-se então no país, resultados de lutas sociais, o Movimento de
Reforma Sanitária Brasileira, que serviu como o primeiro passo para uma reformulação da
política de saúde, que inicialmente se intitulou de “Movimento Preventivista”. Segundo
Arouca (1975, p. 239), esse foi
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É a determinação de que todos os brasileiros tenham direito ao acesso as ações de saúde, sem
discriminação de raça, cor, religião, orientação sexual (FIOCRUZ, 2016). Disponível em:<
http://pensesus.fiocruz.br/universalidade> Acessado em: 28 de fevereiro de 2016
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Tem relação com a igualdade e a justiça, reconhece as condições devida e saúde de cada indivíduo
de acordo com suas necessidades e passa pelas diferenciações sociais que devem atender a
diversidade. Da norte as políticas de saúde reconhecendo a necessidade de grupos específicos
como: Negros, Ciganos, Indígenas, idosos, pessoas em situação de rua, deficientes e outros
(FIOCRUZ, 2016). Disponível em:< http://pensesus.fiocruz.br/equidade> acessado em: 28 de
fevereiro de 2016.
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Ação em saúde de forma integral, com tratamento digno, acolhimento e de qualidade (FIOCRUZ,
2016). Disponível em:< http://pensesus.fiocruz.br/integralidade> acessado em: 28 de fevereiro de
2016.
O parágrafo único do art. 24 da Lei nº 8.080/90, salienta a abertura do SUS para
ser complementado pela iniciativa privada “Quando as suas disponibilidades forem
insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o
Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa
privada”, isto é, quando o serviço público de saúde não tiver como suprir a necessidade do
usuário, o SUS irá recorrer à iniciativa privada como forma complementar para oferecer seus
serviços. Assim como diz no art. 4º, desta mesma lei em seu parágrafo segundo “a iniciativa
privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar”. E
para garantir que essa prestação de serviços não venha com finalidades lucrativas, esta lei
em seu art. 38 afirma que “não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a
instituições prestadoras de serviços de saúde com finalidade lucrativa”.
Transferência do dever do Estado atuar sob as políticas sociais, e então, deixar com
que a sociedade civil, através da ajuda, filantropia, caridade como forma de atuar na
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questão Social , motivando o processo de mercantilização da saúde por instituições
não estatais e o processo de repasses de verbas públicas para a iniciativa privada.
(CORREIA, 2007).
Segundo Behring (2003, p. 116), desde os anos de 1990 vem sendo realizada
uma proposta de reforma no Brasil que é iniciada especialmente no período do governo de
Fernando Henrique Cardoso. No entanto, o que estava em tendência seria uma
contrarreforma do Estado, por se tratar de sua desestruturação e consequentemente a
perda dos direitos da classe trabalhadora. A contrarreforma vai implicar nas políticas sociais
11
Segundo Iamamoto (1998, p.27) “A Questão Social é apreendida como um conjunto das
expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a
apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade”.
estatais e, principalmente, na política de saúde, em que se desloca a responsabilidade do
Estado para as instituições não estatais e na compra e venda de serviços, fortalecendo o
mercado e os interesses financeiros, causando prejuízos aos direitos sociais conquistados.
De acordo com Carneiro (2015, p. 131), desde 1970 o Estado já comprava
serviços oferecidos pelo setor privado, em especial os serviços de alta complexidade, sendo
facilitado pela Previdência Social. Hoje, mesmo depois da Constituição de 1988 ter
legalizado esse serviço como forma complementar, temos uma inversão de investimentos,
contemplando uma lógica comercial onde o dinheiro público passa a ser investido mais no
que é privado.
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“No convênio, os partícipes visam exclusivamente a consecução de um determinado objeto, de
comum interesse. Por esse motivo é que não se admite a obtenção de qualquer vantagem que
exceda o interesse comum pretendido com o próprio objeto [...]. Já o contrato pressupõe interesses
opostos (diferenciados), existindo sempre uma contraprestação, um benefício, uma vantagem”.
(Súmula da consultoria Zênite nº 042,1999 apud TCU 2006, p.263)
são: procedimentos especializados realizados por profissionais médicos, outros de nível
superior e nível médio; cirurgias ambulatoriais especializadas; fisioterapia; terapias
especializadas; próteses e órteses; anestesia. E a alta complexidade fica responsável por:
assistência ao paciente portador de doença renal crônica; assistência ao paciente
oncológico; cirurgia cardiovascular; cirurgia vascular; assistência aos pacientes portadores
de obesidade (cirurgia bariátrica); entre outros.
Em nossa pesquisa, com base nos dados disponibilizados pelo DATASUS
(gráfico 1), na produção ambulatorial de 2010 a 2015, pudemos constatar o quanto do fundo
público da saúde foi destinado a rede pública e ao setor privado da saúde durante os
referidos anos.
60,00%
PRODUÇÃO AMBULATORIAL - SUS
54,40%
55,00%
51,30% 51,70%
50,80% 51% 50,30%
48,70% 49,20% 49%
50,00% 48,30% 47,70%
45,60%
45,00%
40,00%
2010 2011 2012 2013 2014 2015
PÚBLICO PRIVADO
20,00%
0,00%
2010 2011 2012 2013 2014 2015
PÚBLICO PRIVADO
13
Acesso em: 23 de janeiro de 2017. http://www.brasil.gov.br/saude/2016/09/governo-federal-libera-r-
513-milhoes-a-santas-casas-e-hospitais-filantropicos
aposentadorias, e em outros países que tiveram que repactuar as obrigações do Estado
porque ele não tinha mais capacidade de sustentá-las14.”
IV. CONCLUSÃO
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Acesso em 24 de janeiro de 2017. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/05/1771901-
tamanho-do-sus-precisa-ser-revisto-diz-novo-ministro-da-saude.shtml.
no subfinaciamento crônico do SUS, no sucateamento da sua infraestrutura, na falta de
insumos e recursos humanos, fatores esses que refletem de forma negativa no fornecimento
de serviços públicos aos usuários do SUS.
REFERÊNCIAS
CORREIA, Maria Valéria Costa. Desafios para o controle social: subsídios para a
capacitação de conselheiros de saúde. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 2005
SILVA, Clara Morgana Torres Rocha da; CORREIA, Maria Valéria Costa; SANTOS,
Viviane Medeiros dos. A Privatização do Fundo Público da Saúde: Complementaridade
invertida do SUS. In: CORREIA, Maria Valéria Costa; SANTOS, Viviane Medeiros dos.
REFORMAS SANITÁRIA E CONTRARREFORMA DA SAÚDE: Interesses do
capital em curso. Maceió: Edufal, 2015. Cap. 57017505. p. 115-130.