Anatomia para Colorir (Completo) NETTER

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Percurso de

Aprendizagem
|||||||||||||||||||||||||||| Unidade 3

Morfofisiologia dos
Sistemas I
Sistema Esquelético e
Sistema Muscular – O Sistema Locomotor
Desenvolvimento do material
Fátima Juliane Machado Ceron

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Sistema Esquelético e
Sistema Muscular – O
Sistema Locomotor
Para Início de Conversa... ............................... 3

Pontos de Aprendizagem ............................... 4

Aprofundando os pontos ............................... 4


Tema 1 – Fisiologia do sistema muscular
e tegumentar ................................................ 4
Tema 2 – Anatomia do Sistema
Cardiovascular - Coração. Coração.
Sistema linfático ........................................ 11
Tema 3 – Fisiologia do Sistema
Cardiovascular - Artérias. Sistema
linfático. ...................................................... 17
Tema 4 – Fisiologia do Sistema
Cardiovascular - Veias. Sistema
linfático ...................................................... 22

Teoria na Prática ............................................. 27

Sala de Aula ...................................................... 28

Infográfico ......................................................... 28

Direto ao Ponto ............................................... 29

Referências ....................................................... 30
1 Para Início de Conversa...
Este material abordará conteúdos pertinentes ao sistema
cardiovascular. Para isso, trataremos de como as fibras musculares
cardíacas são organizadas, a partir do ponto de vista fisiológico,
garantindo a ritimicidade da contração. Também estudaremos as
definições para a vasculatura sanguínea e sua porção linfática,
além do mecanismo e regulação do ciclo cardíaco.

É importante verificar a íntima relação entre o sistema


cardiovascular com o respiratório. A partir destes
princípios, é possível compreender a manutenção da
oxigenação e nutrição celular do organismo como um
todo, percebendo as consequências de patologias
relacionadas a este conjunto de órgãos.

Morfofisiologia dos Sistemas I 3


2 Pontos de Aprendizagem
Durante seu estudo, perceba as peculiaridades da organização morfo-fisiológica das
fibras musculares cardíacas, bem como seu mecanismo de transmissão de sinais
e autoexcitação. É importante salientar que, por ser uma musculatura estriada, há a
existência de sarcômeros em suas miofibrilas, de forma similar ao estudado na Unidade
anterior.

A localização da bomba cardíaca se faz fundamental como força de pressão para o fluxo
sanguíneo em todos os vasos existentes. É imprescindível se ater sobre a separação o
sangue oxigenado e desoxigenado pelo organismo.

Atente-se também à participação dos cátions envolvidos na transmissão do potencial


de ação das fibras nervosas cardíacas e às causas e efeitos das disfunções deste sistema,
que de maneira significativa, interfere em outros sistemas do organismo.

3 Aprofundando os pontos
O sistema cardiovascular permite a nutrição do organismo, já que, por meio do coração,
mantém o fluxo sanguíneo, que carreia, por meio de seus constituintes, os açúcares e
gases necessários para o metabolismo celular gerador de energia química.

Por esta definição, é possível compreender a relevância do entendimento da


morfofisiologia deste sistema, que quando disfuncional, escala uma parcela significativa
de morbidades, sequelas ou óbitos da população humana, em parte por mudanças de
hábitos de vida nocivos a manutenção do equilíbrio interno.

Ao se tratar de sistema cardiovascular, é importante também compreender sua


interdependência com o sistema respiratório e sistema linfático, componentes estes
intimamente relacionados na homeostasia do corpo.

O músculo cardíaco compreende uma contração independente de nossa vontade, mas


ainda assim, que necessita de uma sincronia em suas respostas celulares aos estímulos
recebidos. É relevante diferenciar estas fibras cardíacas da musculatura esquelética, a
fim de compreender a funcionalidade de cada.

Tema 1 – Fisiologia do sistema muscular e


tegumentar
Infarto (ou infarte), parada cardíaca, falência múltipla, isquemia, derrame, hipertensão...
estas e outras são consequências advindas, direta ou indiretamente, de alguma
descompensação da fisiologia cardiovascular. Assim, é importante depreender que este

Morfofisiologia dos Sistemas I 4


sistema comporta o coração e suas estruturas anatômicas, junto ao conjunto de vasos
sanguíneos e suas diferenciações.

O prefixo –mio, como já explicado, identifica uma estrutura muscular, e portanto,


passível de contratilidade. Logo, o miocárdio consiste no conjunto das fibras musculares
cardíacas e suas singularidades. Para compreendê-las, é relevante se ater sobre a
necessidade fisiológica do batimento rítmico cardíaco, conferido por células específicas
deste órgão. Neste momento, a transmissão do impulso nervoso ainda não será
detalhada, ainda assim, é relevante caracterizar diferenças gerais entre o mecanismo
contrátil cardíaco do evidenciado pela musculatura esquelética.

Objetivos de Aprendizagem:
Relatar a embriologia e anatomia do sistema cardiovascular.

▪ Diferenciar a contração cardíaca da esquelética.


▪ Relacionar o marca-passo cardíaco com a ritmicidade dos batimentos.

Conteúdo:

1.1 Embriologia e Anatomia do Sistema Cardiovascular


Até a segunda semana de vida, o embrião não possui uma rede vascular estruturada,
chegando ao embrião por mecanismos de difusão a partir de células extra embrionárias.
O sistema cardiovascular é um dos primeiros a se desenvolver completamente na fase
embrionária, devido a sua importância para a nutrição do organismo.

Entre o 21º dia de gestação, inicia-se a formação da vasculatura, a partir de regiões


mesodérmicas não embrionárias, a exemplo da que reveste o saco vitelínico; poucos
dias depois, ocorre a vasculogênese e angiogênese embrionárias. A partir de células
precursoras dos vasos sanguíneos, os angioblastos, capilares, vênulas, veias, arteríolas
e artérias são formadas. Já na angiogênese, há a ramificação de estruturas vasculares
pré-existentes.

Por isso, um clínico vascular é específico para o estudo dos vasos sanguíneos, e realiza
exames como angiograma ou angiografia. Em relação as células sanguíneas, há a
formação no saco vitelino e vasos primitivos, passando, a partir da 5ª semana, para
o fígado, baço, linfonodos (diferenciação de células de defesa específicas) e medula
óssea (inicialmente, no interior de ossos longos. Na vida adulta, no interior da bacia
pélvica – por isso, ao se tratar de um transplante de medula, trata-se deste tecido
hematopoiético).

O coração, por sua vez, se forma a partir da 3ª semana de vida embrionária, em células
mesodérmicas próximas a estrutura buco-faríngea (adjacente aos primeiros arcos e
bolsas faríngeas, na porção cranial do embrião).

Morfofisiologia dos Sistemas I 5


Figura 1: Desenvolvimento cardíaco embrionário: A e B: vista dorsal. C: corte sagital. Fonte: NAZARI e MÜLLER,
2011.

Espessamentos das células mesodérmicas formam os cordões precursores dos vasos


sanguíneos, além do tubo endocárdico, que, com o dobramento do embrião, se estrutura
na região do mediastino corpóreo. O conjunto deste tubo dará origem as porções internas
do coração, a exemplo das câmaras cardíacas. Já as células mesodérmicas esplâncnicas
(mesoderma + endoderme), estruturarão os miótomos cardíacos, formando o miocárdio.
O epicárdio, por sua vez, delimita o órgão cardíaco, enquanto o pericárdio envolve toda
a estrutura do coração. Logo, inflamações nestas diferentes regiões comprometem a
funcionalidade cardíaca, caracterizando a endocardite, miocardite e pericardite.

1.2 A Morfofisiologia Cardíaca


Retomando a história evolutiva dos vertebrados, os peixes formam duas câmaras
cardíacas: 1 átrio e 1 ventrículo, que perdura por todos os estágios de vida do animal.

Anfíbios já possuem uma circulação dupla, pois o sangue entra por dois átrios, ainda
que desemboque em um único ventrículo. Répteis, em crocodilianos, já possuem 4
aberturas, 2 superiores e 2 inferiores, mas sem uma formação completa do septo que
separa os “tipos” de sangue circulantes. Assim, é a partir de aves que o órgão cardíaco
se organiza como nos seres humanos: 2 átrios e 2 ventrículos, com circulação dupla
completa, ou seja, em sua normalidade, com total separação entre o fluxo de sangue
oxigenado e desoxigenado.

No caso do ser humano, há um leve deslocamento para a esquerda, o que sugere a


poesia de que “o coração fica do lado esquerdo do corpo”.

Como nos demais vertebrados e anelídeos, que apresentam sistema circulatório, a


circulação é destinada a suprir oxigênio e nutrientes aos demais tecidos do organismo,
sendo fundamental para a manutenção tecidual dos tegumentos. No caso dos
seres humanos, por exemplo, a epiderme, formada de tecido epitelial; bem como as
cartilagens, não possuem vascularização. Portanto, na conformação do órgão, há o
tecido sanguíneo adjacente, um tecido conjuntivo que permite a difusão dos gases
respiratórios e nutrientes para os demais tecidos. Logo, os órgãos por si são irrigados,
ou seja, possuem vasos circulantes envolvendo diferentes tecidos da constituição
destas estruturas. Assim sendo, o próprio órgão cardíaco do sistema vascular também

Morfofisiologia dos Sistemas I 6


recebe nutrição vascular, a fim de ter força contrátil necessária para o fluxo de sangue
circular por todo o organismo.

De forma concentrada no átrio esquerdo, há fibras que possuem grânulos secretores


do hormônio natriurético. Este hormônio sinaliza os túbulos renais a excretar maior
quantidade de água e sódio, de forma funcional similar ao hormônio diurético
neurohipofisário e de forma oposta a aldosterona supra-renal. Através do mecanismo
deste mensageiro cardíaco, o aumento de volume urinário permite a queda da pressão
arterial, já que diminui o volume da água presente no plasma sanguíneo.

Músculos papilares e cordões tendíneos estruturam as válvulas cardíacas mitrais


e tricúspides, do lado esquerdo e direito do coração, respectivamente. Tais válvulas
garantem que não haja refluxo de sangue para as câmaras anteriores. A estenose
ou o comprometimento das funções das válvulas cardíacas, causam a insuficiência
cardíaca e a hipertrofia muscular, pois o sangue não é conduzido ao sentido normal
da homeostase. Geralmente, é a partir de uma disfunção valvar que ocorre o sopro
cardíaco.

É preciso retomar certos conceitos básicos sobre o impulsionamento de cargas


elétricas por entre as células. Existem apenas dois tipos de células que podem ter uma
diferença de potencial entre os meios extra e intracelular, sendo a voltagem positiva
na porção interior. Estas células sofrem uma despolarização (pois quando negativas,
estão polarizadas). No caso do sistema nervoso, células específicas, os neurônios,
podem inverter a polaridade de seu meio intracelular. Células musculares cardíacas
altamente especializadas também podem se despolarizar. Assim, ainda que não sejam
células nervosas, conduzem a carga elétrica, fundamental para a manutenção do
batimento cardíaco.

A transmissão elétrica para o miocárdio inclui 4 elementos:

▪ Nó sinoatrial (ou nodo S.A. – que oscila em manter a frequência cardíaca em cerca
de 60 batimentos/minuto): Conhecido como marca-passo cardíaco, com fibras
modificadas auto-excitáveis, que iniciam a transmissão do impulso.
▪ Nó atrioventricular: Converge os sinais ao feixe de His, localizado na região do septo
ventricular.
▪ Feixes atrioventriculares (A.V.): induzem a completa contração ventricular.
▪ Fibras de Purkinje: Suprem a coordenação nervosa dos músculos papilares e da
parede dos ventrículos.

Disfunções no nodo S.A. podem sintomatizar como hemiparesia e dificuldades de


fala, além de “queda” da musculatura facial (semelhante ao diagnóstico de derrames
encefálicos). Contudo, pode também ser assintomático ou com progressão lenta dos
sintomas, o que dificulta o diagnóstico.

O marca-passo cardíaco sintético pode ser cirurgicamente implantado em casos do


nodo sinoatrial não ser eficiente e causar arritmias cardíacas. Da mesma forma,

Morfofisiologia dos Sistemas I 7


o desfibrilador transfere uma voltagem as fibras musculares auto-excitáveis na
tentativade restabelecer o batimento cardíaco.

No desenvolvimento embrionário placentário, a troca entre o fluxo de sangue materno


e fetal é interrompido após o nascimento, pois, durante as contrações uterinas, o ducto
venoso fecha-se, e a musculatura lisa das artérias umbilicais contrai-se. Com o início da
respiração pulmonar e o aumento do leito vascular, a pressão dos vasos que levarão o
sangue aos pulmões, bem como a do interior das câmaras cardíacas, diminui.

As fibras musculares cardíacas, diferentemente da esquelética, são organizadas de forma


ramificada e através de discos intercalados ou intercalares (Figura 2), que permitem
uma comunicação entre as fibras adjacentes. Estes discos se formam pela organização
de proteínas de adesão ou comunicantes existentes entre as fibras musculares.

Esta morfologia é importante para permitir a passagem ritmada dos sinais elétricos,
permitindo a sincronia entre contrações atriais e ventriculares. Envolta a essas fibras,
há tecido conjuntivo, por onde circundam terminações nervosas e capilares.

Figura 2: Fibras estriadas cardíacas em corte longitudinal. D: discos intercalados. N: núcleos.


Fonte: GARTNER e HIATT, 2007.

Devido ao gasto de energia para a contração ininterrupta, metade do volume celular


das fibras cardíacas é preenchido por mitocôndrias. É preciso lembrar que estas
organelas convertem a glicose (que entra nas células-alvo por receptores específicos)
e o oxigênio, transportado por difusão, e produz gás carbônico, água e energia química
em forma de ATP.

Ou seja, o coração também possui metabolismo. Logo, também precisa receber irrigação
sanguínea para captar o oxigênio e secretar o dióxido de carbono, direcionado dos vasos
sanguíneos ao sistema respiratório, ou vice-versa, respectivamente. Por serem músculos,
o oxigênio é desligado da mioglobina. Além disso, há o glicogênio e triglicerídeos como
reserva energética para a contração muscular. Em condições contraídas, as fibras estão
em um estado de sístole. Em relaxamento, denomina-se diástole.

Nos níveis da linha Z sarcomeral, há terminações das cisternas do sarcolema, que


formam os túbulos T, porém, organizados em díades. Na contração, além do cálcio
sarcoplasmático, há a entrada do cátion por canais iônicos de membrana, impulsionando

Morfofisiologia dos Sistemas I 8


o gradiente químico do meio extracelular. A falta de cálcio no meio extracelular
suspende a contração cardíaca dentro de um minuto.

Também, há canais de cálcio-sódio para uma manutenção da abertura por tempos


mais prolongados, garantindo o estímulo para a contração. Em síntese, há tempos
diferenciados para os estímulos elétricos na contração cardíaca, conforme a região
do miocárdio. O conjunto destas transmissões conformam as contrações atriais e
ventriculares, em frequências que indicam a normalidade ou não do ritmo cardíaco.

SA node

Atrial muscle

AV node

His bundle

Bundle branches

Purkinje fibres

Ventricular muslce

P QRS T

Figura 3: Estímulos nervosos em diferentes terminações nervosas cardíacas. Adaptado de: Wikimedia Commons.

A ascendência da voltagem corresponde a despolarização, enquanto o retorno ao


estado polarizado (negativo) é gradual, em etapas de uma repolarização, seguido do
estado de platô (mantém a carga positiva no meio intracelular) até a hiperpolarização,
que precede o retorno ao estado de repouso (eletronegatividade celular).

Não há regeneração tecidual da musculatura cardíaca. Logo, não há uma hiperplasia


celular. A hipertrofia, por sua vez, sinaliza um miocárdio sobrecarregado, que, se com
morte celular, é substituído por tecido fibroso. Ou seja, uma fibra muscular perdida não
é recuperada.

Por isso, a parada cardíaca, ou ainda cardiorrespiratória, pode ser identificada como
uma dor aguda no peito, causada pelo acúmulo do volume do sangue em dado local
do vaso sanguíneo. Esta dor, irradiada sobretudo para o lado esquerdo do corpo, é
caracterizada como angina.

Doenças cardiovasculares, a exemplo do acúmulo de colesterol e da obstrução de


artérias, são os principais eventos relacionados a esta perda da capacidade contrátil.

Morfofisiologia dos Sistemas I 9


A formação de um coágulo, que provoca uma embolia cardíaca e um estado isquêmico
cardíaco, também são causas comuns da perda do batimento cardíaco. A reanimação
cardiopulmonar, por massagem cardíaca, pode reorganizar o fluxo sanguíneo nas
células cardíacas, revertendo a inércia do coração.

!Curiosidade
Ainda assim, o resultado da manobra – se bem feita – representa 15% da necessidade
do cérebro em se manter ativo.

O infarto pode ser causado por eventos diversos:

▪ Fibrilação ventricular: Fibras não relaxam completamente, comprometendo a


contração dos músculos.
▪ Taquicardia: Frequência cardíaca mais alta do que o valor normal.
▪ Assistolia: Não há contração.
▪ Despolarização insuficiente das fibras cardíacas auto-excitáveis, impossibilitando a
mensuração do pulso, pois há uma queda da pressão arterial.

Em uma parada cardíaca é observado a redução da atividade do neocórtex após 20


segundos. A tolerância máxima para o cérebro não entrar em um estado completamente
inativo é de até 5 minutos. Cardiopatias são exemplos de consequências advindas de
uma parada cardíaca.

É importante salientar que em idosos ou cardíacos, pode haver uma aparente – ainda
que contraditória – maior tolerância ao estresse da desregulação mecânica. Pense
como um elástico de roupas. Quando novo, a força elástica é maior, bem como sua
sensibilidade ao rompimento. Um elástico usado estará em um estado de maior
relaxamento, mas não romperá sua estrutura de forma facilitada. Por isso, é mais
comum morte súbita causada por paradas cardíacas em jovens do que em adultos. Os
jovens têm um coração com alta capacidade contrátil, em que qualquer evento que
desregule este mecanismo, pode ser fatal.

O primeiro sistema completamente desenvolvido no embrião é o sistema cardiovascular.


Isto, pois, é por meio deste aparato que há a nutrição dos demais componentes do
organismo, garantindo uma maior independência entre a troca de nutrientes de feto
e placenta.

A formação do coração se faz por células mesodérmicas esplâncnicas, que estruturam,


primeiramente, duas câmaras cardíacas: uma superior e a outra inferior. No completo
desenvolvimento do embrião, há a separação de dois átrios e dois ventrículos. Enquanto
átrios e ventrículos não se comunicam entre si, cada átrio com o seu respectivo
ventrículo é separado por válvulas, que permitem o direcionamento unidirecional do
fluxo sanguíneo.

Morfofisiologia dos Sistemas I 10


Reconhecer a morfofisiologia cardíaca, bem como as características da contração da
musculatura, se fazem importantes ao desvendar possíveis morbidades cardíacas, ainda
que não como causas primárias para uma insuficiência ou infarto cardíaco.

" Além da Sala de Aula


Sugerimos a leitura da pesquisa indicada, Óbitos Intra e Extra-Hospitalares por Infarto
Agudo do Miocárdio nas Capitais Brasileiras, de Abreu et al. (2021), nas páginas 1 a
12, que relata que quase metade dos casos fatais de infarto agudo do miocárdio (IAM)
ocorrem fora de hospitais, com aumento de casos em capitais brasileiras. Aquelas,
resultados da demora de atendimento médico especializado; e estas, devido ao ritmo
de vida geral da população, sobretudo exposição a agentes químicos, sedentarismo e
alimentação desbalanceada.

Por outro lado, os dados sociodemográficos também evidenciam uma redução da taxa
de óbitos em atendimentos intra hospitalares do infarte. Ou seja, a pesquisa observa
resultados dicotômicos: enquanto há uma piora nos índices de mortalidade em
infartos fora do hospital, há uma taxa de reversão da condição cardíaca em ambientes
hospitalares, indicando um melhor preparo da equipe médica nesta situação.

Título: Óbitos Intra e Extra-Hospitalares por Infarto


Agudo do Miocárdio nas Capitais Brasileiras
Páginas indicadas: 1 a 12
Acesse
Referência: ABREU, S. L. L. et al. Óbitos Intra e Extra- aqui
Hospitalares por Infarto Agudo do Miocárdio nas Capitais
Brasileiras. Arq. Bras. Cardiol. v. 117, n. 2, 2021.

Tema 2 – Anatomia do Sistema Cardiovascular


- Coração. Coração. Sistema linfático
O sistema cardiovascular compreende o coração e os vasos sanguíneos, no caso dos
vertebrados, um sistema fechado para a distribuição de nutrientes. Os vasos sanguíneos
permitem carrear nutrientes e oxigênio a todas as células do organismo, além de
regular a pressão arterial.

Logo, disfunções nesta rede de vasos podem comprometer a funcionalidade da


contração cardíaca, exigindo maior força para impulsionar o sangue por entre os
demais sistemas. Isto, logicamente, descompensa a fisiologia de – senão todos – muitos
outros sistemas associados, a exemplo do respiratório, urinário e nervoso.

Para compreender a estrutura destes componentes, igualmente é importante


caracterizar os constituintes do sangue: plasma e elementos figurados. A partir daí, é
preciso comparar as características que didaticamente distinguem veias de artérias, e a
função de cada uma.

Morfofisiologia dos Sistemas I 11


Objetivos de Aprendizagem:
Reconhecer o tipo de tecido que constitui o sangue.

▪ Identificar os elementos do sangue.


▪ Diferenciar os vasos sanguíneos.
▪ Relacionar os vasos sanguíneos com suas funções no ciclo cardíaco.

Conteúdo:

2.1 O que é o Sangue?


Para entendermos o que é o sangue, devemos retomar conceitos sobre os tecidos básicos
do organismo: tecido epitelial, com células justapostas; tecido conjuntivo, que conecta
diferentes tecidos; tecido muscular, com característica contrátil; e tecido nervoso,
para a transmissão de sinais elétricos. O sangue é categorizado no tecido conjuntivo
especializado. Através dele, ocorre a nutrição dos demais tecidos do organismo. Assim
sendo, um tecido que não é vascularizado, tem um potencial regenerativo menor, e/ou
tem como resultados uma morte celular não programada, necrótica.

Infecções em tecidos podem levar a necrose devido a interrupção do fluxo sanguíneo


em tais regiões. Todo e qualquer elemento que possa dificultar ou obstruir a irrigação
sanguínea, potencializa eventos de trombos (coágulos), hemorragias (sangramentos)
ou isquemias (hipóxia ou apóxia, ou seja, diminuição ou impedimento da oxigenação
tecidual). Assim sendo, existem algumas condições e patologias que favorecem
estes eventos.

Em viagens longas de avião - principalmente


devido as pressões diferentes – a manutenção da
postura por extensos períodos podem provocar a
formação de um coágulo na região dos membros
inferiores. Quando há o retorno da postura ereta,
de forma abrupta, este coágulo, como em um
êmbolo, se desprende, podendo ser direcionado
para distintos órgãos, provocando o que conhece-
se por embolia. A embolia, portanto, interrompe
o fluxo sanguíneo para o tecido, podendo se
desdobrar em dois caminhos: isquemia, pois há o
bloqueio da difusão do oxigênio; ou hemorragia,
por aumento da pressão no local adjacente ao
coágulo. Independente, ambos eventos podem
provocar lesões irreversíveis ou até mesmo fatais
nos órgãos acometidos.

A elevada concentração de açúcar é também outro


fator de risco para a fluidez do sangue por entre os
vasos. A quantidade exacerbada do soluto faz com Figura 4: Pé com parte necrosada, de
uma pessoa diabética. Fonte: Wikipedia.

Morfofisiologia dos Sistemas I 12


que o sangue seja mais viscoso, exigindo maior força do coração para impulsioná-lo, o
que eleva a pressão arterial. Mas, além disso, este componente, quando em altos níveis,
é tóxico para as células sanguíneas. Assim, a hipertensão e potenciais necroses são
características de pessoas diabéticas.

Também pode-se tratar de outra desregulação metabólica comum, causada pelo


acúmulo de colesterol nos vasos sanguíneos. O LDL ou VLDL Low Density Lipoprotein
(LDL) Very Low Density Lipoprotein (VLDL) são colesteróis ligados à lipoproteína, em
que o conjunto destes compostos possui baixa densidade em relação ao sangue. Isto
permite que progressivamente placas de formem nos vasos sanguíneos, obstruindo
gradualmente os mesmos.

Por isso, é típica a sintomatologia da arterosclerose em pacientes com altos níveis de


colesterol, o que aumenta a probabilidade de derrames cerebrais e cardíacos.

Logo, a alta concentração destas gorduras pode ser perigosa para a saúde. Igualmente,
a baixa concentração de High Density Lipoprotein (HDL) com fisiologia antagônica
aos primeiros dois tipos de colesteróis, é um sinal de alerta. Isto, pois enquanto os
primeiros carreiam o colesterol do fígado para depositá-los no sangue, o último faz o
caminho contrário.

O sangue, em um volume de 5 litros no corpo, representa uma média de 7% do peso


corpóreo. Continuamente filtrado pelos rins, é formado por plasma, em sua maior
proporção, e elementos figurados. O plasma é a porção líquida, uma solução contendo
água, açúcares, proteínas (a exemplo de anticorpos quando estimulados a serem
liberados) e hormônios (também liberados na corrente sanguínea sob estímulos).

!Curiosidade
Em um sangue a recém coletado, não é visível esta diferenciação, mas, após a
centrifugação, o plasma, menos denso, se separa dos demais elementos do sangue.

Ou seja, é auto-explicativo que o aumento da viscosidade do sangue está relacionado


à composição plasmática. Logo, como os elementos figurados tem seu fluxo decorrido
pela existência do plasma, quando menor sua fluidez, este deslocamento é dificultado.

A existência de anticorpos no plasma explica algumas avaliações sorológicas para


identificar patógenos, e também a incompatibilidade entre transfusões sanguíneas, por
exemplo, de alguém com sangue do tipo “A” receber o sangue do tipo “B”: no plasma
receptor, há anticorpos anti-B, reagindo com as células do sangue doador.

"Importante
O sangue deve se manter levemente alcalino (pH 7,4). Uma acidose ou alcalose
metabólica leva há um desequilíbrio deste potencial, devendo ser corrigido pelo
transporte de bicarbonatos e prótons, além de outras compensações de outros
sistemas, como respiratório e urinário.

Morfofisiologia dos Sistemas I 13


As hemácias representam a maior quantidade de elementos figurados do sangue.
São células em formato de disco, que comportam, individualmente, cerca de 250
milhões de hemoglobinas. Estas proteínas se ligam ao ferro, caracterizando sua cor,
e sendo, portanto, também chamadas de eritrócitos ou glóbulos vermelhos. Em cada
hemoglobina, há a ligação de 4 moléculas de oxigênio (oxi-hemoglobina) ou gás
carbônico (carboxi-hemoglobina), a depender da concentração destes gases. A saturação
está relacionada a concentração destes gases. Logo, quanto maior a saturação, menor o
desprendimento de oxigênio aos tecidos.

O monóxido de carbono (CO) possui uma afinidade muito maior pela porção heme
da hemoglobina quando comparado ao oxigénio, e quando o CO se liga ao ferro
do grupamento heme, a molécula de hemoglobina aumenta a afinidade com o
oxigênio de uma forma que ele não possa ser liberado para os tecidos mesmo em
condições hipóxicas.

As pessoas que ficam presas em áreas com pouca ventilação em presença de um


veículo a gasolina em funcionamento, ou em um prédio em chamas, sucumbem
por envenenamento por CO. Muitas dessas vítimas, quando de pele clara, em vez de
cianose (pele com cor branca e azulada) apresentam um aspecto saudável, com pele
avermelhada, devido à cor do complexo CO-hemoglobina.

É também nas hemácias que existem antígenos de membrana que caracterizam os


tipos sanguíneos baseados no sistema ABO + Rh-D: o tipo “A” apresenta antígeno “A”,
que é diferente do “B”, podendo ambos serem expressos, no sangue “AB”, ou nenhum
deles, no sangue do tipo “O”; sendo estes com antígeno Rh, o Rh-positivo, ou sem a
proteína Rh.

A anemia falciforme, hereditária, é uma doença que desregula a conformação


discoide das hemácias, tendo elas um formato de foice. Além de se ligar a menos
oxigênios, pois falta-lhe espaço para as hemoglobinas, esta conformação pode levar
a obstrução de vasos com maior facilidade. Pessoas com anemia falciforme devem
ter cuidados redobrados na atenção de sua saúde, e consideravelmente se sentem
constantemente fadigadas.

As células de defesa, chamadas de células ou glóbulos brancos, ou ainda leucócitos


(Figura 5), são reconhecidos conforme suas características avaliadas na histologia, como
a presença ou não de grânulos e a ligação com corantes específicos. A exemplos, há os
eosinófilos, neutrófilos, basófilos, monócitos, plasmócitos e macrófagos. Estes últimos
podem migrar para outros tecidos quando recrutados, com a capacidade de fagocitose.
Por isso, o pus se caracteriza por ter uma mistura de agentes pró-inflamatórios, células
de defesa e os patógenos.

Morfofisiologia dos Sistemas I 14


Figura 5: Elementos figurados. E: eritrócitos, setas: plaquetas. (A): linfócito, (B): monócito, (C): neutrófilo, (D):
eosinófilo, (E): basófilo. Fonte: GARTNER e HIATT, 2007.

Linfócitos são células de defesa da linha mais específica, pois são classes que produzem
anticorpos. São diferenciados em regiões de órgãos linfoides, como timo e baço.

Por fim, no tecido hematopoiético há a formação de uma célula de grande volume, o


megacariócito, que se desprende, e seus fragmentos, presentes na corrente sanguínea,
caracterizam as plaquetas. Estas são responsáveis pela coagulação sanguínea, a partir
de uma cascata de reação com pró-trombinas. Assim, disfunções neste mecanismo
potencializam eventos hemorrágicos (a exemplo de pessoas hemofílicas) ou formação
de trombos com maior facilidade.

2.2 O Sangue e os Vasos Sanguíneos


O sistema circulatório fechado caracteriza-se pelo fluxo de sangue no interior de vasos,
propulsionado por uma bomba (no caso, o coração), e o retorno deste fluxo a este local
de impulsão da corrente.

Os vasos sanguíneos se ramificam, e são classificados conforme a extensão de seus


calibres, bem como a existência de válvulas ou camadas musculares. Delimitando
o tecido conjuntivo sanguíneo, há um tecido epitelial simples e pavimentoso, que
estrutura o endotélio (epitélio de vasos sanguíneos). O conjunto do sangue + endotélio
caracteriza os capilares, que podem serem ou não fenestrados. É na região dos capilares
que ocorre a difusão dos gases respiratórios, unicamente.

As arteríolas e artérias, em ordem de maior calibre, são responsáveis pelo


direcionamento do sangue do coração aos demais tecidos do corpo. Ou seja, direcionam
tanto sangue oxigenado (arterial) quanto desoxigenado (venoso). Como este trajeto é,
em sua maioria, descendente, ou seja, a favor da gravidade, a força da ejeção do sangue
é maior. Para comportar essa maior pressão em paredes destes vasos, há a existência
de camadas musculares lisas envoltas.

Morfofisiologia dos Sistemas I 15


Vênulas e veias, também em ordem crescente de diâmetros, carreiam o sangue
dos tecidos ao coração. Por isso, ao invés de apresentarem uma camada muscular
proeminente, possuem válvulas em regiões de maior possibilidade de refluxo de
sangue, a exemplo dos membros inferiores.

Curiosamente, o sangue não tem cor azulada para diferenciar as veias de artérias. A
cor azul é a que visualizamos por sobre a pele, porém, esta divisão de cor é totalmente
didática. Tanto artérias quanto veias podem transportar sangue arterial ou venoso.

O número de veias no corpo humano é maior do que o das artérias, não só porque
é muito frequente a existência de duas veias satélites (principais, a partir das quais
ramificam-se outras veias ou vênulas) acompanhando uma artéria, como também pela
existência de um sistema de veias superficiais às quais não correspondem artérias. Mas
há exceções: por exemplo, na porção proximal dos membros há uma veia satélite; no
pênis e no cordão umbilical há duas artérias e uma veia.

Para compreender o ciclo cardíaco, é importante identificar os componentes sanguíneos


principais existentes: a veia cava é o vaso sanguíneo do lado direito do coração, que
desemboca no átrio direito. No lado esquerdo, em similar localização, há as veias
pulmonares. Por sua vez, as artérias pulmonares se localizam no lado direito, e a aorta,
artéria de maior calibre do corpo, se dispõe no lado esquerdo. São as pressões nestes
vasos de maior calibre que permitem a mensuração da pulsação, inferindo a pressão
arterial e a frequência dos batimentos cardíacos.

O sistema cardiovascular é estruturado pelo coração e vasos sanguíneos. Conhecer e


diferenciar a histologia e disposição destes vasos é fundamental para o conhecimento
da perfuração desta porção, conforme os exames ou tratamentos solicitados.

É essencial compreender que o sangue nutre os demais tecidos, através da difusão


da glicose e oxigênio para as células-alvo. A ausência da captação do soluto pode
se relacionar a inexistência ou disfunção da ligação entre os receptores GLUT e a
glicose. Por outro lado, descompensações na difusão se relacionam com a obstrução
parcial ou total destes vasos, bem como aumento da distância de transporte dos gases
respiratórios.

Apenas reconhecendo os componentes sanguíneos, é possível se atentar para


sintomatologias ou morbidades caracterizadas por um aumento ou queda na
concentração de tais elementos, de forma combinatória.

Por fim, é relevante diferenciar o real papel de artérias e veias, erroneamente


relacionados aos tipos de sangue que seriam transportados. Artérias possuem
transportes majoritariamente descendentes, enquanto veias, ascendentes.

" Além da Sala de Aula


A pseudoartrose atrófica, caracterizada como uma lesão óssea, é entendida como
avascular, sem capacidade de cicatrização. Porém, a estabilidade e a vascularidade
das extremidades da lesão são fatores importantes para a formação do calo em ossos

Morfofisiologia dos Sistemas I 16


fraturados em oposição. Assim, embora a interrupção inicial do suprimento sanguíneo
possa ser a causa da pseudoartrose, a avascularização persistente pode não ser um
fator constante associado a ela.

A pesquisa indicada, Pseudoartrose atrófica é um termo incorreto? – Um estudo


hospitalar transversal prospectivo, de Chaudari; Dhingra; Joshi (2022), nas páginas 1 a
5, teve como objetivo avaliar esta possível vascularização associada a estas fraturas em
particular.

Título: Pseudoartrose atrófica é um termo incorreto? –


Um estudo hospitalar transversal prospectivo
Páginas indicadas: 1 a 5
Referência: CHAUDARI, S. K.; DHINGRA, M.; JOSHI, P. Acesse
Pseudoartrose atrófica é um termo incorreto? – Um
aqui
estudo hospitalar transversal prospectivo. Rev. bras. ortop.
v. 57, n. 6, 2022.

Tema 3 – Fisiologia do Sistema Cardiovascular


- Artérias. Sistema linfático.
O coração bate de forma rítmica. Isto é essencial para oxigenar de forma eficaz todos
os tecidos do organismo, permitindo a continuidade de suas atividades de forma
normal. Para tanto, há uma coordenação entre as contrações das câmaras cardíacas,
promovendo o fluxo de sangue de maneira sincronizada. O auscultar o coração, através
da vibração das bulhas (“sons”) cardíacas, permite identificar, em um primeiro momento,
o desvio desta ritmicidade, avaliando possíveis morbidades relacionadas.

A circulação, em síntese, entrega às células o gás oxigênio, fundamental para o


metabolismo aeróbico, enquanto recebe o gás carbônico, produto deste metabolismo.
Logo, a associação com o sistema respiratório é percebida de maneira integral, ou seja,
a descompensação respiratória pode comprometer a cardíaca, e vice-versa.

Compreender as etapas do ciclo cardíaco auxilia o diagnóstico de arritmias, e a


análise de exames de maneira certa, permitindo um plano de ação para tratamento
ou correção desta desregulação. Mais uma vez, em um conjunto sistêmico, a disfunção
tecidual de um conjunto de órgãos pode acarretar o desbalanço de demais estruturas
do organismo, até uma completa perda de função, caracterizando o óbito.

Objetivos de Aprendizagem:
Identificar as bulhas cardíacas com as etapas do ciclo cardíaco.

▪ Relacionar a sequência do ciclo cardíaco com as circulações.


▪ Diferenciar as circulações pulmonar e sistêmica no ciclo cardíaco.
▪ Indicar as ondas de um eletrocardiograma a partir do ciclo cardíaco.

Morfofisiologia dos Sistemas I 17


Conteúdo:
Iniciemos com algumas características anatômicas antes de iniciar a compreensão do
ciclo cardíaco: o coração é formado por 4 câmaras, 2 superiores, os átrios; e 2 inferiores,
os ventrículos. O caminho do sangue passa por uma veia, seguido do átrio, ventrículo e
artéria, de forma quase que concomitante dos dois lados do septo cardíaco.

No lado direito, há passagem de sangue desoxigenado, ou venoso, e do esquerdo,


sangue oxigenado, ou arterial. Por conta do septo, estes lados não devem se comunicar.
Também, em uma situação de normalidade, as válvulas mitrais e tricúspides evitam
o retorno do sangue a região atrial. Logo, o entendimento do ciclo cardíaco pode ser
resumido por diferenças de volumes, e portanto, de pressões, em cada válvula ou
câmara cardíaca (Figura 1).

Figura 6: Cortes e eixos para evidenciar a anatomia cardíaca. Fonte: HANSEN, 2019.

Para compreender o ciclo cardíaco, é importante remeter o metabolismo de todas


as células. Após a inspiração, os alvéolos pulmonares se enchem de oxigênio. Este
oxigênio, em maior concentração nestas estruturas, por difusão passa aos capilares
sanguíneos, caracterizando o sangue arterial.

"Importante
O oxigênio é importante para a captação, por meio da mitocôndria, e reação química,
junto à glicose também difundida e transportada no meio intracelular, para formar
energia e gás carbônico. Ou seja, os tecidos produzem gás carbônico com a respiração
celular. Este gás carbônico, maior no meio intracelular, passa por difusão para o meio
extracelular para seguir aos capilares, caracterizando o sangue venoso.

Morfofisiologia dos Sistemas I 18


Assim, nos vasos sanguíneos que entregam o sangue dos tecidos ao coração, ou seja, as
veias, do lado direito, há o fluxo de sangue desoxigenado. Este sangue, após o transporte
para o átrio e ventrículo direito, passa para a artéria pulmonar. Como se sugere, a
artéria pulmonar leva este sangue até capilares próximos aos alvéolos pulmonares. O
processo da troca gasosa permite a oxigenação do sangue, didaticamente conhecido
como hematose por “tornar” o sangue venoso em arterial.

O sangue, agora oxigenado, entra no átrio esquerdo por meio de veias pulmonares, e
é distribuído ao organismo por meio da aorta. Desta forma, didaticamente, o trajeto
do sangue venoso caracteriza a circulação pulmonar, enquanto que do arterial, a
circulação sistêmica.

Os “sons” cardíacos, ou bulhas cardíacas, são possíveis de serem auscultados (pois não
é uma vibração sonora) por meio do estetoscópio. A primeira bulha representa os sons
das válvulas entre átrios e ventrículos, sendo a esquerda ligeiramente anterior ao lado
direito. A segunda bulha confere o fechamento das válvulas semilunares, em um único
som durante a expiração, e na inspiração, com um pequeno retardamento da semilunar
do lado direito. A terceira bulha ocorre devido ao enchimento ventricular para sua
posterior contração. E, a quarta bulha, por fim, após a contração atrial.

As duas primeiras bulhas são determinadas pela pressão sistólica atrial, seguida
da diastólica (já que o sangue flui ao ventrículo, relaxando as fibras cardíacas
atriais). Este som pode ser proeminente em casos de estenose mitral, quando há um
estreitamento deste fluxo sanguíneo, por conta do espessamento e encurtamento dos
cordões tendíneos da válvula; isto pode provocar estalidos de abertura. Pode causar
hipertensão pulmonar, fibrilação atrial e tromboembolia. Como sintomas, são similares
aos de insuficiência cardíaca, além de sopro diastólico. Durante a regurgitação mitral
(retorno do sangue para a região atrial esquerda) pode ser hipofonética se os folhetos
valvares estiverem rígidos, ou auscultada em razão de uma alteração miocárdica.

Na segunda bulha, em geral, a valva pulmonar se fecha com um maior intervalo de


tempo. Se este tempo tiver um retardamento prolongado, pode indicar uma obstrução
da passagem de sangue ou um defeito no septo atrial, que se configura em uma
abertura da separação entre átrios, causando sobrecarga do lado direito do coração.

▪ A B3 é auscultada em gestantes ou em pessoas até 40 anos, sendo a direita durante


a inspiração e na posição de decúbito dorsal (barriga para cima), e a esquerda, na
expiração, em decúbito lateral esquerdo.
▪ A B4, quando auscultada em uma frequência maior que a bulha anterior, indica um
grau de disfunção atrial. Está ausente na fibrilação atrial, e presente na isquemia
miocárdica ou após um infarto.

O galope de soma ocorre quando há a fusão das bulhas B3 e B4, devido ao encurtamento
do período diastólico, caracterizando a taquicardia. O ruído diastólico, por sua vez,
ocorre junto a B3, sem acompanhamento da B4. Indica a interrupção abrupta do
enchimento ventricular. Na verificação de sopros, há manobras que auxiliam na
localização destas disfunções. De toda forma, podem ser categorizados em sistólicos e

Morfofisiologia dos Sistemas I 19


diastólicos. Os primeiros se subdividem em de ejeção, regurgitante e derivação. Os de
ejeção se relacionam ao fluxo turbulento do sangue, nem sempre representando uma
cardiopatia. Os de regurgitação, ocorrem com o retorno do sangue para a câmara atrial,
enquanto os de derivação, são defeitos em regiões septadas.

Sopros diastólicos sempre indicam anormalidade, assim como sopros contínuos, ou seja,
que ocupam todo o ciclo cardíaco, sendo audíveis na B2. Por fim, atritos pericárdicos,
com sons característicos, indicam inflamações entre as camadas pericárdicas.

Então, o ciclo completo se faz da seguinte forma: o sangue venoso, proveniente da


captação do gás carbônico dos tecidos, entra pela veia cava. Há o enchimento do átrio
direito, abertura da tricúspide contração atrial para passagem do sangue ao ventrículo
direito, fechamento da tricúspide após o completo enchimento do ventrículo, abertura
da válvula semilunar pulmonar, passagem do sangue para as artérias pulmonares,
contração ventricular, fechamento da válvula, e transporte do sangue aos alvéolos
pulmonares. Isto completa a circulação pulmonar. Importante salientar que, enquanto
há o enchimento ventricular, mais sangue venoso está chegando na câmara atrial.

Após a hematose, o sangue arterial se direciona para as veias pulmonares. Dali, o


sangue passa ao átrio esquerdo, que, com a válvula mitral aberta, encaminha o sangue
ao ventrículo. Para esvaziar a câmara atrial, há a contração e o fechamento da válvula.
O ventrículo, quando completamente cheio, se contrai, passando o total do volume
sanguíneo a artéria aorta, e fechando a semilunar aórtica em sequência.

Da aorta, o sangue flui para os tecidos do organismo, desligando o complexo da oxi-


hemoglobina, para permitir a respiração celular. Todo este processo caracteriza a
circulação sistêmica.

Da mesma forma que na circulação anterior, enquanto há o esvaziamento do ventrículo,


a câmara atrial já está recebendo volume sanguíneo. Além disso, quando o processo de
contração atrial ocorre, e após, o de contração ventricular, deve-se entender que isso se
dá de maneira quase que síncrona, nos dois lados do coração.

Com a compreensão completa do ciclo cardíaco, é possível depreender a análise do


eletrocardiograma, baseado nas voltagens mensuradas em diferentes fases do ciclo
cardíaco. A onda P, por exemplo, representa a despolarização atrial (lembre que
despolarização é a inversão de cargas entre os meios intra e extracelulares). O nó S.A.
dispara as cargas elétricas, que se dispersam para os átrios, permitindo a contração de
tais câmaras. Como este maciço celular localizam-se no átrio direito, a despolarização
atrial é levemente retardada do lado esquerdo.

Após, há uma grande reflexão chamada complexo QRS, representando a despolarização


atrioventricular, e portanto, a contração ventricular. Graficamente, isto converge a uma
deflexão para baixo (Q), para cima (R) e para baixo (S). Quando a corrente atinge a
parede do septo, pode seguir pelos feixes de His (divide-se em ramos laterais) e fibras
terminais de Purkinje. No momento em que as fibras miocárdicas estão em período

Morfofisiologia dos Sistemas I 20


refratário, ou seja, não são passíveis de estímulo, há a repolarização, sendo representada
pela onda T.

Como o ciclo cardíaco está relacionado as contrações (sístoles) e relaxamentos


(diástoles) do miocárdio, assim o é para a interpretação da pressão arterial. Com um
valor médio de 120 mm de Hg na sístole ventricular e 80 mm de Hg na diástole, o
famoso 12 por 8, são pressões derivadas da ejeção do sangue na artéria aorta pós
contração ventricular, caracterizando, respectivamente, a pressão sistólica e diastólica.

!
Curiosidade
A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) porque a coluna
de mercúrio é uma substância densa e pesada o suficiente para ser influenciada
pela pressão sanguínea. O esfigmomanômetro é um aparelho utilizado para medir a
pressão arterial, e ele possui um manômetro que exibe a pressão em mmHg.

É importante discutir o conceito de hiper ou hipotensão entre os indivíduos. Para


alguém com uma pressão frequentemente mensurada em 13/9, por exemplo, a aferição
deve ser próxima de 18/10 para ser considerada alta. Agora, para alguém com uma
pressão arterial média de 11/7, 13/9 já pode ser entendido como um valor de alerta.

Os batimentos cardíacos, regulados pela liberação e reconhecimento de


neurotransmissores, aceleram na recepção de adrenalina, e diminuem com a acetilcolina.
Esta diminuição dos batimentos cardíacos, junto a resposta de vasodilatação, acarreta
na queda da pressão arterial geral.

Algumas pessoas possuem hipotensão ortostática, ou seja, a queda de sua P.A. ocorre na
mudança de postura. Também, é possível uma superestimulação do nervo vago, ou falta
de ligação de adrenalina em receptores cardíacos, o que desencadeia quedas frequentes
de P.A. junto a episódios de síncope, caracterizando a síndrome neurocardiogênica, ou
Vaso Vagal. Esta, pode ser parcial (se a disfunção for apenas neurológica ou cardíaca)
ou mista.

Em síntese, portadores da síndrome em questão não conseguem normalizar


fisiologicamente a pressão arterial em tempo hábil, se expostos a quaisquer
situações que ocasionem a queda desta pressão (pouca ventilação, hipoglicemia, alta
temperatura, medo, estresse...). Como forma de proteger o metabolismo encefálico, o
corpo “desliga” através do desmaio, facilitando o reestabelecimento das condições de
pressão sanguínea.

Ainda que com baixo risco de morte, a qualidade de vida de pessoas com “pressão
baixa” deve ser destacado. Logicamente, a hipertensão é mais nociva a homeostase do
organismo, pois acentua as chances de hemorragias ou mesmo falências miocárdicas,
devido a descompensação das forças contráteis necessárias para a impulsão do sangue
pelos vasos sanguíneos.

Morfofisiologia dos Sistemas I 21


Interpretar as etapas do ciclo cardíaco, através do auscultar ou da análise de
eletrocardiogramas, permitem ao profissional da saúde a competência em avaliar
com acurácia distintas patologias cardiovasculares, interpretando um diagnóstico com
menores chances de erro, bem como aplicando tratamentos correspondentes.

O sistema cardiovascular não é chamado assim a toa: a rede de vasos sanguíneos


está intimamente relacionada com o padrão de funcionamento destes componentes.
Uma disfunção na vasculatura interfere na força necessária para o fluxo sanguíneo
em seus distintos compartimentos. Da mesma forma, uma desregulação nesta bomba
propulsora pode acarretar queda ou perda da oxigenação tecidual, caracterizando
múltiplas morbidades em distintos sistemas.

" Além da Sala de Aula


Artérias coronárias já são mais tortuosas normalmente, acompanhando os movimentos
da contração e relaxamento miocárdico do ciclo cardíaco. A tortuosidade anormal
causa alterações no fluxo coronariano, com uma redução na pressão de perfusão distal,
o que pode levar à isquemia miocárdica.

Sugerimos a leitura do texto sugerido, Tortuosidade das Artérias Coronárias como um


Novo Fenótipo para Isquemia sem Doença Arterial Coronariana, de Estrada (2022),
nas páginas 1 a 7, que investiga a correlação entre esta tortuosidade e isquemias
miocárdicas, em pacientes com angina e sem obstrução coronária.

Título: Tortuosidade das Artérias Coronárias como um


Novo Fenótipo para Isquemia sem Doença Arterial
Coronariana
Páginas indicadas: 1 a 7 Acesse
aqui
Referência: ESTRADA, A. Tortuosidade das Artérias
Coronárias como um Novo Fenótipo para Isquemia sem
Doença Arterial Coronariana. Arq Bras Cardiol. v. 119, n. 6,
pgs 883-890, 2022.

Tema 4 – Fisiologia do Sistema Cardiovascular


- Veias. Sistema linfático
A circulação adjacente da linfa contribui para a manutenção do funcionamento regular
do sistema cardiovascular, podendo comportar o que descreve-se como sistema
circulatório.

A volemia dos vasos, quando disfuncional, compromete indiretamente outros sistemas


do organismo, além do cardiovascular.

Morfofisiologia dos Sistemas I 22


É essencial fundamentar os sistemas de maneira holística, entendendo o papel do
sistema sanguíneo e linfático na manutenção do balanço hídrico corporal, importante
para regular a pressão arterial do organismo.

Logo, neste percurso de aprendizagem vamos perceber o controle indireto do sistema


cardiovascular e linfático nos demais elementos do corpo, e sua função essencial
na regulação do equilíbrio interno. É sempre necessário reforçar o olhar atento e
integrado por entre o funcionamento dos sistemas do corpo. Por vezes, uma disfunção
aparentemente local é provocada pela desregulação de outro sistema. Desta forma,
o acompanhamento da fisiologia não deve ser nunca feito de forma fragmentada ou
isolada.

Objetivos de Aprendizagem:
Reconhecer o papel do sistema linfático na regulação do volume sanguíneo
e intersticial.

▪ Associar a regulação da pressão arterial em razão da drenagem dos líquidos


intersticiais.
▪ Identificar patologias associadas a estes sistemas.

Conteúdo:
O coração, um órgão predominantemente muscular, possui células especializadas auto-
excitáveis, que garantem a sincronia e ritmicidade dos batimentos cardíacos em ambos
os lados do coração: direito, sangue desoxigenado, e esquerdo, sangue oxigenado. Em
suma, o sistema cardiovascular permite a oxigenação tecidual, a nutrição tecidual, e o
transporte do gás carbônico produzido pelo metabolismo da respiração celular, até os
alvéolos, para sua posterior eliminação pela expiração.

Ainda que os sistemas cardiovascular e respiratório sejam evidentemente


interdependentes, é preciso reconhecer o papel chave do sistema digestório na quebra
do açúcar e sequente absorção do mesmo para ser direcionado aos tecidos pelo fluxo
sanguíneo. Também, o sistema nervoso no controle da frequência cardíaca e pressão
arterial, bem como do sistema urinário, na manutenção regular do volume deste sangue.

Adiante, perceberemos que o sistema linfático também apresenta funções


desempenhadas em associação ao sistema circulatório, sendo imprescindível a
compreensão de sua fisiologia e características morfo-anatômicas.

4.1 O Sistema Linfático


Conformando o sistema circulatório junto ao sangue, a linfa percorre vasos linfáticos
que passam por órgãos linfáticos, estruturando, portanto, o sistema linfático,
também desenvolvido pela porção mesodérmica do organismo. Desenvolve-se na
6ª ou 7ª semana do desenvolvimento embrionário, cerca de quatro semanas após o
aparecimento dos primeiros componentes da circulação sanguínea.

Morfofisiologia dos Sistemas I 23


Produzida pelo fígado e intestino delgado, a linfa também possui fluxo unidirecional.
A função básica e fundamental deste sistema é drenar, ou seja, absorver o excesso de
líquido entre os tecidos, o líquido intersticial. Não por acaso, há a drenagem linfática
para estimular a circulação destes fluidos.

Além desta regulação de volume, o sistema linfático está intimamente relacionado ao


sistema imunológico, pois em seus órgãos há a maturação de linfócitos, células de
defesa da linha específica do organismo, que estimulam e/ou sintetizam os anticorpos.
Assim, o timo e o baço possuem células linfocitárias precursoras, enquanto os
linfonodos são regiões de acúmulo destas células, formando as conhecidas ínguas, que
indicam inflamações em diferentes partes do organismo. Portanto, são estruturas que
filtram resíduos antes de retornar parte deste volume linfático ao sangue. Um órgão
linfoide aumentado pode também sugerir doenças crônicas auto-imunes e cânceres.

Uma propriedade essencial dos vasos linfáticos é a sua capacidade de apresentar


constrições rítmicas espontâneas, auxiliadas pela pressão arterial.

O sistema linfático é também uma das principais vias para a absorção de nutrientes do
trato gastrointestinal, sendo responsável principalmente pela absorção de gorduras.

Os vasos linfáticos apresentam válvulas que se abrem para o interior do capilar; o


fechamento destas válvulas, pela diferença de pressão entre os vasos, evita o retorno
do fluxo ao interstício.

Há uma íntima relação entre o Sistema Nervoso Central e o sistema linfático, quando
os linfócitos T se apresentam infiltrados nas porções do SNC, ainda que não haja
um sistema linfático clássico permeando estas estruturas, mesmo que meninges
apresentem vasos.

▪ Células da micróglia secretam interleucinas, que irão induzir a produção de


uma cascata de citocinas inflamatórias. Essas citocinas diminuem a função de
barreira hematoencefálica, aumentam a adesão dos leucócitos no endotélio e,
consequentemente, permite a passagem de células do sistema imune adaptativo
(linfócitos) para combater a inflamação.
▪ Células de tumores malignos (especialmente carcinomas) se difundem pelo corpo
através dos vasos linfáticos. Quando as células malignas chegam a um linfonodo,
elas se tornam mais lentas e multiplicam-se lá, finalmente formando uma metástase,
ou seja, um tumor em local secundário. Por isso, na remoção cirúrgica de um
crescimento canceroso, o exame dos linfonodos e a remoção tanto dos linfonodos
aumentados como dos vasos linfáticos associados daquele trajeto são essenciais
para a prevenção do crescimento secundário do tumor.
▪ Células do tecido hematopoiético são células imunoincompetentes, que se
dirigem ao córtex do timo onde proliferam, amadurecem e começam a expressar
marcadores na superfície celular. À medida que os marcadores de superfície
aparecem na membrana plasmática da célula T (tais como os receptores de célula
T e os marcadores de grupos de diferenciação, as moléculas CD), as células se

Morfofisiologia dos Sistemas I 24


tornam linfócitos T imunocompetentes. A maioria destas células T recém-formadas
é destruída no timo e fagocitada pelos macrófagos residentes. Tanto os linfócitos
B quanto os linfócitos T migram para os órgãos linfóides (tais como o baço ou
os linfonodos), onde eles formam clones de células T e B imunocompetentes em
regiões bem definidas dos órgãos.

Delimitado por tecido epitelial, como no endotélio capilar, o fluxo deste fluido linfático
depende diretamente da contração muscular esquelética. Isso explica o porquê, em
vasodilatação, como em temperaturas altas, há o inchaço (edema) dos dedos das mãos
e pés, principalmente, já que estão a favor da força gravitacional.

A filariose ou popular elefantíase, é caracteriza pelo acúmulo de larvas de nematelmintos


eliminados pela saliva do mosquito Culex, que obstrui parte da circulação linfática,
sintomatizando edemas, principalmente em membros inferiores. Linfedemas, celulites
e linfomas também caracterizam morbidades na circulação linfática.

Edemas são popularmente chamados de inchaços, formados por sais e proteínas do


plasma. Ocorrem em razão de um acúmulo anormal de líquido no compartimento
extracelular intersticial ou nas cavidades corporais.

A drenagem manual, através da massagem linfática, exerce pressões sobre os vasos


linfáticos, estimulando a sua circulação no organismo, otimizando, assim, a drenagem.

Quando há o excesso de volemia sanguíneo, caracterizado, em conjunto, pela parcial ou


total ausência de drenagem do líquido intersticial, a resposta fisiológica do organismo
é estimular a vasodilatação. Porém, se o limite do calibre dos vasos, junto ao aumento
do fluxo de sangue produz uma pressão de expansão não tolerada, as chances de
hemorragias são maiores. Em contraponto, se há atividade de drenagem em excesso,
ou baixo volume comportado nos vasos sanguíneos, há a tendência da vasoconstrição.
Estes mecanismos, quando não mediados frente a uma resposta de reversão de alguma
disfunção externa ou interna, ou seja, quando recorrentes, levam ao comprometimento
da função de outros órgãos, a exemplo dos rins e intestino.

4.2 Regulação da Pressão Arterial


Sangue e linfa trabalham em conjunto para regular o volume sanguíneo, o que
interfere na manutenção ou restabelecimento da pressão arterial. Os estímulos para
tais mecanismos são regulados pelo centro vasomotor do cérebro, a partir de estímulos
de compressão de células sensoriais (em caso de vasodilatação), ou redução do volume
das mesmas. Enquanto a vasodilatação é mediada por fibras nervosas parassimpáticas,
a partir da liberação de óxido nítrico; a vasoconstrição é processada por conta de fibras
simpáticas, de funções antagônicas as primeiras.

Quando a pressão sanguínea está baixa, os rins secretam a enzima renina, que converte
o angiotensinogênio circulante no sangue em angiotensina I e posteriormente em
angiotensina II, que se localiza na membrana plasmática luminal das células do
endotélio dos capilares. A angiotensina II é um potente vasoconstritor que resulta no

Morfofisiologia dos Sistemas I 25


aumento da pressão sanguínea junto a liberação de ADH (aumenta reabsorção de água
pelos rins) e aldosterona (induzida para estimular a reabsorção de sódio).

Desta forma, é possível compreender as funções do sistema cardiovascular e linfático


na regulação da homeostase de distintos sistemas. A descompensação de um destes
sistemas estudados pode desencadear sintomatologias de proporções extensas no
organismo, dado o controle direto da oxigenação e nutrição tecidual, dependente do
volume e viscosidade dos fluidos.

Para compreender melhor a fisiologia da regulação do volume do sangue, é


importante retomar um conceito químico básico: o gradiente químico. Substâncias que
passivamente passam pela membrana plasmática, por difusão simples ou facilitada,
vão a favor de seu gradiente, ou seja, da onde estão em maior concentração, para o
meio de menor concentração.

Assim, o excesso de açúcar no sangue, conhecido como hiperglicemia, é a principal


sintomatologia do diabetes mellitus. A viscosidade do sangue aumenta, bem como a
força de contração para ejetar o fluxo sanguíneo do coração ao restante do corpo. Como
os vasos sanguíneos estão concentrados, a tendência é que a água seja transportada
para o interior destes vasos. Isso aumenta ainda mais a pressão do fluxo exercida nas
paredes dos vasos sanguíneos, o que torna o paciente hipertenso constantemente.

O colesterol, por sua vez, obstrui a passagem do fluxo sanguíneo de forma normalizada.
As placas de gordura diminuem o diâmetro dos vasos, e isto resulta em uma maior
força contrátil cardíaca para que haja a circulação sanguínea. Ainda que, neste caso,
o sistema linfático trabalhe em homeostasia, a pressão arterial é desregulada e
permanece alta. Riscos de derrames são mais comuns em pacientes diabéticos ou com
alto colesterol, devido a esta força acrescida sobre os vasos.

Em contraponto, a pressão arterial é mantida baixa em algumas patologias


indiretamente associadas ao sistema circulatório, a exemplo da Síndrome VasoVagal,
ou Síncope Neurocardiogênica. O nervo vago, cardíaco, estimula a diminuição
da frequência cardíaca, e o coração, por não ter força contrátil suficiente, acaba
diminuindo a velocidade do fluxo sanguíneo. Este, por sua vez, não oxigena e nem
distribui nutrientes aos tecidos de maneira normalizada, o que promove a queda da
pressão arterial e em consequência, o desmaio (síncope). Outras disfunções associadas
a queda de pressão ortostática, ou seja, relacionada a postura corporal, podem ser
exemplificadas.

Ainda que a pressão arterial baixa seja considerada menos nociva, devido a menor
letalidade, ela exerce um estresse contínuo aos sistemas adjacentes.

É importante compreender a junção entre as funções dos sistemas cardiovascular e


linfático no sistema circulatório, atuando na regulação da pressão arterial (e, em
consequência, da frequência cardíaca) e no sistema imunológico. Ou seja, a perda
parcial ou total da fisiologia de um destes sistemas compromete o organismo como
um todo, seja na regulação de um volume fisiológico ou mesmo em respostas de
defesa imunitárias.

Morfofisiologia dos Sistemas I 26


A pressão arterial é diretamente regulada pelo sistema linfático, que permite a
drenagem do excesso dos líquidos intersticiais. Assim, de forma secundária, seu
funcionamento estimula o aumento ou diminuição do calibre dos vasos, e portanto,
a pressão do fluxo sanguíneo exercida. Morbidades crônicas exigem mais do sistema
circulatório, resultando em desbalanços nos sistemas adjacentes, já que todos
necessitam do controle volêmico para sua fisiologia normal.

" Além da Sala de Aula


Os rins filtram o sangue, impulsionado pelo coração. Logo, uma disfunção na estrutura
filtradora renal, acarreta, indiretamente, a necessidade de maior força contrátil para o
fluxo sanguíneo ser mantido. Ou, ainda, uma hipertrofia ventricular interfere no fluxo
de sangue até então normalizado, requisitando mais da função do filtro renal. Ou
seja, uma sintomatologia não deve ser compreendida de maneira isolada. A avaliação
sistêmica da fisiologia humana permite um diagnóstico com menores chances de erro
e posterior tratamento.

Desta forma, reforçando a análise fisiológica combinatória de diferentes sistemas, a


pesquisa indicada, O eletrocardiograma no diagnóstico da hipertrofia ventricular
de pacientes com doença renal crônica, de Costa (2009), nas páginas 1 a 8, procura
caracterizar uma inter-relação entre doenças renais com a hipertrofia ventricular.

Título: O eletrocardiograma no diagnóstico da hipertrofia


ventricular de pacientes com doença renal crônica
Páginas indicadas: 1 a 8
Acesse
Referência: COSTA, F.A. et al. O eletrocardiograma no aqui
diagnóstico da hipertrofia ventricular de pacientes com
doença renal crônica. Arq. Bras. Cardiol. v. 93, n. 4, 2009.

2 Teoria na Prática

Caso clínico – sistema cardiovascular

Doenças cardíacas possuem alta prevalência mundial. Hereditariedade e hábitos de


vida parecem ser os grandes aliados nestas morbidades. Um paciente cardíaco somatiza
a disfunção circulatória em distintos sistemas, e por isso, deve ter um acompanhamento
multidisciplinar de forma contínua e consistente.

Por isso, reconhecer as características morfo-anatomo-fisiológicas do sistema


cardiovascular é essencial em uma avaliação diagnóstica.

Acompanhe um exemplo de estudo de caso a seguir.

Morfofisiologia dos Sistemas I 27


Uma paciente de 62 anos, sem histórico significativo de doenças cardiovasculares
prévias, apresenta-se ao pronto-socorro com dor súbita e intensa na região torácica,
descrita como “rasgante” e irradiando para as costas. Relata palidez, sudorese e sensação
de desmaio. Pressão arterial inicialmente desigual entre os membros superiores (maior
no braço direito que no esquerdo). Não há história recente de trauma significativo.

É solicitado uma tomografia de tórax com contraste, e um ecocardiograma transtorácico,


sinalizando a dissecção aórtica tipo A.

Baseado neste relato, responda:

▪ Qual as razões dos exames solicitados?


▪ Descreva o diagnóstico obtido.
▪ Qual ou quais os tratamentos possivelmente disponíveis?

3 Sala de Aula
Após o embasamento teórico, vamos estender nossa
aprendizagem assistindo as videoaulas a seguir.
Primeiramente, trataremos dos conceitos básicos sobre o
sistema cardiovascular e linfático; depois, detalharemos
Acesse
alguns destes conceitos importantes em análises da saúde aqui
cardíaca. E, por fim, trabalharemos as questões abordadas no
estudo de caso deste percurso de aprendizagem.

Atente-se às questões gerais que caracterizam estes sistemas, compreendo a principal


função de convergência: a manutenção do volume sanguíneo e intersticial para
regulação das atividades celulares de forma eficaz.

Lembre-se que o organismo, como uma engrenagem, é formado por peças que
desempenham funções orgânicas chaves. Um desequilíbrio de uma atividade de uma
destas estruturas pode desencadear uma cascata de disfunções sistêmicas. De qualquer
forma, fisiologicamente, a correção de um possível desnível é também feita de maneira
integrada por distintos componentes do organismo.

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4 Infográfico
O infográfico a seguir apresenta as especificidades que diferem os vasos sanguíneos. As
artérias são vasos descendentes, e portanto, comportam uma maior pressão do fluxo
sanguíneo. Atente-se sempre, também, que nos capilares – e apenas neles – ocorre a
difusão dos componentes do sangue!

Morfofisiologia dos Sistemas I 28


VASOS
SANGUINEOS
Arterias
Dentre as camadas da 1 2 Veias
artéria, é importante Diferente das artérias,
observar a existência veias podem possuir
de uma camada válvulas para permitir o
muscular lisa. movimento ascendente
do sangue.

Arteriolas e
venulas 3 4 Capilares
São ramificações das Capilares permitem
artérias e veias, as difusões dos
respectivamente, elementos
formando vasos de menor permeáveis do
calibre que se convergem sangue aos tecidos,
nos capilares. ou vice e versa.

5 Direto ao Ponto
Neste percurso de aprendizagem, abordamos o maquinário da regulação da volemia
do corpo humano, atribuída ao sistema circulatório, e, portanto, aos sistemas vascular
e linfático. No primeiro sistema, de forma particular, há a propulsão deste sangue no
interior de vasos, através da pressão exercida pelo músculo cardíaco.

As contrações musculares devem ser síncronas, e em uma sequência pré-determinada


geral: veias – átrios – ventrículos – artérias. O transporte do sangue pelas artérias vai
determinar o tipo de circulação do ciclo cardíaco, compreendendo que ele ocorre em
ambos os lados do órgão cardíaco, com maior ou menor oxigenação sanguínea.

Tratamos também que este ciclo pode ser avaliado a partir das bulhas cardíacas, dadas
pelos fechamentos de válvulas cardíacas; e pelo exame gráfico da descarga elétrica
que ocorre na rede neuronal e sinoatrial do coração. Tais análises, complementares a
outros exames, podem indicar uma anomalia na frequência cardíaca, e portanto, uma
causa ou efeito da descompensação do volume sanguíneo.

Para sua autorreflexão: (Perguntas relacionadas aos Objetivos de Aprendizagem)

Exemplos:

▪ Identificou as diferenças entre fibras musculares cardíacas e esqueléticas?


▪ Diferenciou os elementos do sistema circulatório?
▪ Definiu a sequência do ciclo cardíaco?

Morfofisiologia dos Sistemas I 29


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