Capitulo 27

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CAPÍTULO VINTE E SETE

Jennie

De alguma forma, eu me encontrei na parte de trás de um táxi. Nem tinha certeza de como
consegui. Os últimos trinta minutos giraram em torno de mim em um borrão de lágrimas,
choque e tanta dor inacreditável que não sabia como eu estava. Tudo dentro de mim doía.
Meus músculos tensos com cada movimento. Minhas pernas resistiram a cada passo para
longe do apartamento de Rosé. Meu coração, uma bagunça assassinada no chão do quarto
dela.

A pior parte... fui eu que arranquei e deixei lá.

Minha cabeça bateu contra o vidro, combinando com o mesmo latejar repetitivo em meu
crânio. Eu odiava meu cérebro. Foi tudo culpa dele. Enquanto todas as outras partes de mim se
revoltavam, ele se erguia ao longo de um precipício. Minha mente governava com a frágil
confiança de seguir o plano. Nenhum casamento. Nada de se apaixonar. Nunca. Enquanto isso,
todo o resto se enfureceu, destruindo o pilar de força até que nada restou, exceto um palito
de dente.

— Foda-se. — Sussurrei, batendo minha cabeça novamente.

— Estamos aqui. — Anunciou o motorista.

Olhei para a entrada curva e as portas da frente majestosas do lado de fora da cidade. Teria
sido mais perto ir para a cobertura de YonnA. É para lá que eu deveria ter ido, retribuindo o
favor por todas as vezes que elas apareceram com o coração partido e chorando na minha
porta.

No entanto, de alguma forma, eu estava na porta da frente da casa da minha família. Ou a casa
que eu chamava de lar desde os doze anos. Levantei meu punho, mas só consegui fazê-lo
pairar a centímetros da porta, hesitando.

Eu poderia voltar. Poderia ir até minhas amigas, chorar e tomar sorvete e ameaçar matar
quem nos machucasse.

Mas eu tinha perguntas. Perguntas que apenas uma pessoa em particular poderia responder.

Algo se abriu dentro de mim esta manhã. Eu nunca tinha falado sobre meu pai com ninguém.
Empurrei-o de lado, fazendo-me acreditar que, porque estava no passado, e eu não podia
mudá-lo, não havia necessidade de pensar sobre isso. Acreditava que não poderia me
machucar mais. Em vez disso, optei pelo poder através de qualquer dúvida, recusando-me a
ser outra coisa senão uma mulher forte por conta própria.

No território desconhecido de confissões e revelações, eu tagarelei, acidentalmente


escorregando sobre Min-ho também.
O lampejo de simpatia, pena, antes que Rosé pudesse mascará-lo ainda me deixou
estremecendo. Isso ainda me deixou sentindo fraca e estúpida. E quando a pena de Rosé se
transformou em uma super-heroina furiosa, entrei em pânico, entrando em um buraco do qual
eu tinha certeza que nunca conseguiria sair. O pensamento dela confrontando Min-ho, de
pessoas descobrindo e espalhando no noticiário, fez a bile subir do meu estômago. Já era ruim
o suficiente eu ter que viver com a vergonha de me deixar chegar lá quando jurava que nunca
iria, mas ter todo mundo sabendo também?

Entrei em pânico, cuspindo as palavras que disse, aquelas que me fizeram, eu, mas desta vez,
elas pareciam erradas, fora do lugar. Desta vez elas me deixaram questionando meus
fundamentos. Desta vez elas me deixaram sozinha, vendo Rosé me deixar para trás.

E agora eu estava do lado de fora da porta da minha mãe, sem coração e muito orgulho,
incapaz de bater.

E se as respostas que obtivesse só piorassem? E se eu estivesse prestes a abrir a caixa de


Pandora?

E se você se sentir oca e vazia para sempre? Uma voz sussurrou por baixo de todo o resto.

— Eu sou Jennie Kim. — Murmurei através das lágrimas que continuei sufocando. — Eu não
corro, porra.

Mantendo minha decisão, bati contra a porta. Com o clique da fechadura, as lágrimas
brotaram até a borda. Quando a porta se abriu, revelando minha mãe, perdi a batalha e elas
transbordaram.

— Mãe. — Chorei antes de voar em seus braços, assim como fiz quando era uma garotinha.

Ela me abraçou forte e me deixou encharcá-la em lágrimas, acariciando minhas costas para
cima e para baixo, nos balançando para frente e para trás.

— Eu estou bem aqui. Shhh. Shhh.

Assim que houve uma pausa nas lágrimas, as perguntas vieram à tona.

— Por que você se casou com ele?

— Seung? — Minha mãe perguntou, surpresa. — Por que você iria...

— Por que você ficou com ele por tanto tempo? — Eu não tinha coragem de parar e explicar a
enxurrada de perguntas. — Por que ele nos machucou tanto? Ele sempre foi assim? Ele mudou
em algum lugar ao longo do caminho? Você viu isso vir?

A compreensão substituiu a confusão, seguida rapidamente pela aceitação, como se ela


estivesse esperando por essas perguntas.

— Jennie, eu não achei que deveríamos... — A saudação do meu pai parou bruscamente
quando levantei os olhos lacrimejantes para os dele chocados. Atrás de seus óculos, eu vi o pai
carinhoso que me amou desde o primeiro dia endurecer em um homem pronto para a batalha.
— Quem eu preciso matar?

— Seung. — Minha mãe repreendeu suavemente.

— É Min-ho? — Ele perguntou, indiferente à reprimenda. — Vou limpar o chão com esse
pedaço de merda.

Mais lágrimas se acumularam sobre sua rotina de pai de cavaleiro de armadura brilhante.
Incapaz de dizer as palavras, balancei minha cabeça.

Suas sobrancelhas baixaram mais enquanto ele resolvia o quebra-cabeça em sua mente. A
realização amanheceu.

— Merda. É Rosé? — A decepção brilhou antes que ele endurecesse novamente. — Bem,
então, ela pode limpar o chão comigo, mas vou acertar o suficiente para fazer valer a pena.

Uma risada truncada engasgou através das lágrimas, vendo meu pai tentar se animar como se
estivesse prestes a entrar no ringue ali mesmo. Com um gole, ele relaxou o suficiente para
oferecer um sorriso triste.

— Desculpe, garota. Você, uh, quer tomar uma bebida e conversar sobre isso?

Enquanto papai e eu sempre conseguíamos fazer uma piada aqui e ali para aliviar a tensão em
qualquer situação, ele ainda lutava para lidar com todas "as coisas de garotas" como ele
chamava. Mas ele sempre tentou, e eu o amava por isso.

— Está tudo bem, Seung. Eu resolvo essa. Estaremos lá em cima.

Depois de uma ligeira hesitação, ele assentiu.

— Ok. Mas deixe-me saber quando a parte de chutar a bunda for necessária.

— Obrigada, pai, mas a única bunda que precisa ser chutada agora é a minha. — Dei um beijo
rápido em sua bochecha antes de seguir minha mãe escada acima para o meu quarto.

— Sente-se. — Minha mãe sugeriu assim que entramos na sala. Quase protestei, pensando
que precisaria andar de um lado para o outro, mas as últimas horas me atingiram, e subi na
montanha de travesseiros em tons de joias em cima da minha cama branca.

— O que você está fazendo? — Perguntei quando minha mãe foi até o armário em vez de subir
ao meu lado. Ela caiu de joelhos e empurrou as roupas para o lado. — Mamãe?

— Estou pegando uma bebida. — Ela respondeu como se isso devesse fazer sentido para mim.

— Do meu armário?

Ela caiu sobre os calcanhares com um suspiro, me dando um olhar que dizia ‘não me julgue’.

— Eu gosto de vir aqui para relaxar e me esconder às vezes.

— Mas você tem uma sala de estar.


— Sim, mas ninguém pensa em procurar aqui por mim.

Eu ri de seu sorriso tortuoso, observando-a mergulhar de volta no armário.

— De qualquer forma, é muito cedo para vinho.

— Obviamente. — Ela zombou antes de se virar, segurando uma garrafa de vidro cheia de
líquido claro. — Eu peguei a vodka.

— Ah. Foi isso que me colocou nessa confusão.

— Ei, não culpe a vodka. — Mamãe brincou, juntando-se a mim na cama. — Você não precisa
beber se não quiser, mas se estamos falando do seu pai, vou precisar de uma bebida.

Ela tirou um copo da gaveta de cabeceira, e era tão absurdo que imaginei por que não entrar
na insanidade.

— Foda-se. Eu vou tomar uma bebida.

— Boa garota.

Ela serviu dois copos e passou um. Nós brindamos com nossas bebidas e a engolimos de uma
vez só. Tentei devolver meu copo para ela, mas ela apenas o encheu de novo.

— Este é para beber. — Explicou ela. Deixando a garrafa de lado, ela se inclinou para trás e
soltou um suspiro pesado. — Então o que você quer saber.

— Tudo.

— Jen, eu pensei que nós já tínhamos feito isso. — Ela disse lentamente. — Os bebês são feitos
quando um homem e mu...

— Mamãe! Nojento! — Empurrei seu ombro com o meu e ri. No caos da dor consumindo tanto
espaço dentro de mim, encontrei um pequeno pedaço de gratidão. Que sorte eu tinha de ter
pais que sabiam exatamente o que fazer para me fazer rir mesmo nos piores momentos?

Nosso riso desapareceu, e tomamos goles combinando do nosso copo antes de voltar a olhar
para o teto, perdidos em pensamentos. Ela se preparando para o impacto, e eu tentando
descobrir por onde começar.

— Como isso aconteceu? — Finalmente perguntei, deslocando minha cabeça contra o


travesseiro para estudar seu perfil.

— Qual parte?

— Como você, uma mulher tão forte, acabou casada com um homem como ele?

Seus lábios se apertaram enquanto ela pensava.

— Ele nem sempre foi assim.


— Eu sei. Você já me disse isso antes, mas o que significa? Você sempre para depois disso, e eu
não entendo. Ele simplesmente mudou? Quero dizer, como posso confiar em alguém quando
estou sempre preocupada que acabem como ele a longo prazo? Como eu... Como eu amo
alguém? — Terminei em silêncio. Nem tinha percebido que era uma pergunta que eu queria
fazer até que veio à tona.

Ela empurrou seu olhar castanho escuro combinando com o meu, preocupação e
compreensão girando em suas profundezas.

— Ah, Jennie. Lamento nunca ter falado sobre isso antes. Eu queria protegê-la de lidar com
mais do que você já tinha. Nunca quis fazer você ficar com medo de deixar alguém entrar.

— Eu não estou com med... — A mentira ficou na ponta da minha língua. Quase disse isso, mas
esta era minha mãe, e eu precisava de um momento de honestidade se quisesse consertar
alguma coisa. Então, em vez de dizer qualquer coisa, apenas dei de ombros.

— Eu nem sempre fui tão forte. — Ela explicou tristemente, tirando uma mecha de cabelo do
meu ombro. — Quando conheci seu pai, estávamos nos últimos meses de faculdade. Ele era
bonito e cativante, com uma personalidade que sugava você. Eu vim de uma educação
modesta, e era tão fácil ficar extasiada por ele. Tanto que apaguei qualquer sinal de que algo
mais escuro espreitava sob a superfície. Quando ele perdeu a paciência porque um cara me
encarou por muito tempo? Achei romântico porque ele estava com ciúmes e me queria muito.
Quando ele não queria que eu fosse para casa para que eu pudesse ficar com ele? Era
romântico que ele não suportasse ficar longe de mim por um segundo. Quando ele perdeu a
paciência? Ele explicou que era porque eu o fiz sentir tanta paixão como nunca sentiu antes.
Eu era especial enquanto antes era simples.

— Você nunca foi simples. — Interrompi. Eu não conseguia imaginar a mulher vibrante e forte
que me ensinou tudo como algo além de um farol de esperança e amor.

— Obrigada. — Ela sorriu e então fez uma pausa para outra respiração profunda. — Nem
sempre foi como você experimentou quando era jovem, mas os sinais sempre estiveram lá. Eu
apenas os ignorei porque quanto mais perto chegava do final da faculdade, mais perto eu
chegava de voltar para as restrições da minha cidade natal, e eu não queria. Quando os sinais
se tornaram grandes demais para serem ignorados, eu tinha você e, de alguma forma,
precisava fazer isso funcionar. Minha mãe faleceu alguns anos antes, e eu não tinha para onde
ir. Ele controlava tudo, e percebi que se eu pudesse esperar meu tempo, poderia mantê-lo
calmo, e tudo daria certo no final. Então ele te machucou, e foi demais.

Ela desviou o olhar antes de voltar com os olhos lacrimejantes. Odiando vê-la chorar, estendi a
mão entre nós e segurei sua mão na minha, apertando com força.

— Sinto muito, Jennie. Deveria ter sido mais forte. Deveria ter ido embora ao primeiro sinal.
Lamento não ter saído antes. Eu me arrependo de ignorar os sinais. Eu me arrependo muito,
mas não posso me arrepender de ter acontecido porque ele me deu você, e você vale tudo.

— Mamãe. — Lágrimas queimavam a parte de trás dos meus olhos, e segurar as mãos não era
suficiente. Rolando para o meu lado, eu joguei meus braços ao redor dela e enterrei minha
cabeça em seu ombro, assim como eu fazia quando era uma garotinha. — Você não precisa se
desculpar. Você fez o melhor que pôde, e olhe para nós agora. Duas cadelas chorando em uma
mansão, bebendo vodka de alta classe que você guardou em um armário.

Como pretendido, nós duas rimos através de nossas lágrimas, enxugando-as como sempre
fazíamos.

— Rosé... machucou você?

Só assim, o alívio que o riso oferecia desapareceu. Agora era a vez dela fazer perguntas e
minha vez de falar.

— Não. — Rolei de costas. — Não fisicamente. Na verdade, não mesmo. — Confessei com uma
risada triste. — Eu montei tudo. Sou eu machucando nós duas.

— Jen...

— Eu só... sempre disse que não me casaria. Mesmo como uma menina. Usei isso como um
mantra para construir a base do meu personagem, e em algum lugar ao longo do caminho,
tornou-se tudo o que eu sabia. Nem questionei. Era apenas quem eu era.

— Até ela.

— Até ela. — Concordei. — Até que Rosé fez parecer errado não estar com ela. Até dizer a ela
uma e outra vez que eu não queria ser sua esposa parecia... errado. Durante todo o tempo em
que preenchi a papelada do nosso divórcio, meu corpo tremeu. Assumi que era porque eu
estava com medo de perder sua amizade, mas era como se tivesse que me forçar a fazê-lo.
Como se meu corpo estivesse tentando me dizer o quão errado estava, mas minha mente
estava muito condicionada para ouvir. Eu estava muito focada no mantra.

— E agora?

— E agora eu a perdi completamente.

— Você a ama?

— Sempre a amei.

— Jen. — Ela repreendeu minha resposta fácil. — Você a ama?

Fechei os olhos para me concentrar no baque no meu peito. Ouvi o órgão inútil bombeando
pulso após pulso de dor em minhas veias. Eu odiei isso. Mas tinha que ser honesta sobre por
que doía tanto.

— Sim. — Sussurrei.

— Você quer ser a esposa dela?

Eu me encolhi com a palavra. Minha mente engasgou enquanto meu coração pulou uma
batida extra.
— Ok, depois vamos voltar a essa. — Minha mãe disse, lendo meu rosto. — Você acha que ela
iria machucá-la?

Eu nem hesitei.

— Não. Mesmo no momento de raiva justificada com outras pessoas, Rosé sempre
permanecia calma. Só um pouco afiada verbalmente.

Quando mamãe não respondeu, espiei pelo canto do olho para encontrar o olhar de você está
brincando comigo que ela aperfeiçoou apenas para mim.

— Conheço outra pessoa que também fala um pouco.

— Bobagem. — Neguei.

— Pfff.

Eu tinha ouvido aquele som tantas vezes que nem precisei olhar para saber que um revirar de
olhos veio com ele.

— Então, não responda se você quer ser a esposa dela. — Ela disse, seguindo em frente. — Às
vezes, tomar uma decisão não é sobre o que você quer. É sobre o que você não pode viver
sem. É fácil se afastar de algo quando está cercado de dor e confusão.

— E se nada parecer certo? — Perguntei.

— Raramente qualquer decisão parece boa ou ruim. Então, em vez de se concentrar na dor
agora e fazer o que for necessário para se livrar dela, pergunte a si mesma se você pode viver
sem nunca ligar para Roseanne novamente. Você pode viver sem suas maratonas The Bachelor
juntas? Você pode viver sem se encontrar para compartilhar um sorvete nojento juntas? Você
pode viver sem dançar com ela novamente? Pode viver sem segurar a mão dela? Você pode
viver sem beijá-la, sem nunca mais acordar ao lado dela?

— Não. — A palavra escapou em uma respiração, a verdade grande demais para conter.

— Então, o que vai fazer sobre isso?

O que eu vou fazer sobre isso?

A pergunta girou em torno do meu cérebro, lutando para encontrar uma solução, lutando para
encontrar uma resposta. Antes que eu pudesse pensar nisso, a porta se abriu.

Quase pulando para fora da minha pele com a intrusão, bati a mão no meu peito e olhei para
encontrar minhas duas melhores amigas de pé ao pé da cama. Ambas as mulheres olharam
para nós, segurando nossos copos meio cheios de vodka. Elas não poderiam parecer mais
diferentes, mas de alguma forma, todas nós nos encontramos e nos apaixonamos tão
ferozmente que conseguiram chegar até aqui sem que eu tivesse que ligar.

— Eu não posso acreditar que vocês estão aqui. — Eu disse, chorando novamente.

— E perder de retribuir o favor de apoiá-la em seu primeiro desgosto? — Perguntou YonnA.


— Você quer dizer, julgá-la através de seu desgosto como ela fez com o nosso? — Hyunji
brincou.

— Isso também. Você nos deve isso.

Soltei uma risada aguada.

— Eu mandei uma mensagem para o seu pai enquanto caminhávamos até aqui para ligar para
elas. — Mamãe explicou antes de levantar o copo. — Vodka?

As sobrancelhas de YonnA subiram até a linha do cabelo.

— Bem, pelo menos sabemos de onde ela tira seu amor por vodka.

— Ela é honesta. — Minha mãe piscou os cílios enquanto nos sentamos para abrir espaço na
cama para as meninas. — Então, vocês gostariam de um copo?

— Quão ruim é isso? — Perguntou YonnA.

Minha mãe assobiou um suspiro por entre os dentes e estremeceu.

— Tem sido uma manhã difícil.

— Talvez. — Hyunji respondeu primeiro com um encolher de ombros.

Tanto YonnA quanto eu olhamos com os olhos arregalados. — Uau, Parker está tendo uma má
influência sobre você. Você costumava hesitar pelo menos um segundo antes de aceitar uma
bebida a qualquer hora do dia. Muito menos uma antes do meio-dia.

— Meh, é mais como se toda a banda estivesse tendo uma má influência sobre mim. — Ela
explicou, aceitando sua bebida.

— Ah, eu aposto. — Esperei até que ela começasse a tomar um gole antes de perguntar: — De
todas as maneiras ultimamente.

Como esperado, ela engasgou com o gole. YonnA e eu começamos a rir.

— Isso é nojento. — Hyunji resmungou.

— Vamos, Hyunji. Despeje todos os detalhes. — Bajulei. Ela deu um olhar sem graça que só me
fez sorrir ainda mais. — Ainda minha doce Hyunji.

— Tudo bem. — YonnA interrompeu. — Não tente se concentrar em nós. Fale.

Olhei de uma pessoa para outra para uma saída. Quando não encontrei uma, soltei um suspiro
pesado e cedi, repassando tudo. Optei por deixar Min-ho fora da equação porque tínhamos o
suficiente para focar.

E eu não estava pronta para admitir o que tinha acontecido com ninguém. Muito menos minha
mãe. Eu simplesmente... não podia.

Quando cheguei ao fim, três pares de olhos sem piscar observaram todas as minhas reações.
— Bem... — YonnA perguntou.

— Ela estava prestes a me dizer o que ia fazer sobre isso antes de você chegar aqui. — Minha
mãe explicou.

— E? — Perguntou Hyunji.

— Não sei.

— Sim, você sabe. — Minha mãe assegurou. — Você é uma mulher inteligente. Agora, feche os
olhos e confie no seu instinto. Não sua mente, mas seu instinto.

Por mais desconfortável que parecesse fechar meus olhos enquanto três pessoas assistiam, eu
fiz o que ela disse. Pensei em todas as coisas sem as quais não queria viver. Minha amizade
com Rosé brilhou por trás das minhas pálpebras fechadas como um rolo de destaque. Lembrei-
me de cada vez que ela estava lá para mim. Lembrei-me de todas as vezes que ela me
defendeu. Lembrei-me de todas as vezes que rimos. Lembrei-me de cada vez que ela seria a
única a ir comigo em qualquer aventura que eu quisesse.

Eu me lembrei do jeito que ela me beijou, do jeito que segurou minha mão. Lembrei-me do
jeito que Roseanne olhou para mim como se nada mais existisse. Lembrei-me da maneira
como ela fez amor comigo.

— Eu quero ela. — Admiti, abrindo meus olhos. Não queria dizer isso em voz alta, mas não
havia como mantê-lo. — Eu a quero tanto que dói. E não posso não ter todas essas coisas.

— Então você sabe sua resposta, e pode chamar ser casada com ela do jeito que você quiser.
Você poderia ser sua patroa, sua mulher ou até mesmo sua consorte.

— Mãe. — Eu ri.

— Sua parceira. — YonnA entrou na conversa.

— Sua uxor. — Acrescentou Hyunji.

— Que porra é uxor? — Eu perguntei, completamente confusa. Mas ela não teve a chance de
responder porque elas continuaram.

— Sua dama. — YonnA cantarolou.

— Sua outra metade. — Hyunji exclamou.

— Mais como sua cara-metade. — Brinquei.

— Como você quiser chamar. — Minha mãe interrompeu antes de perdermos o controle. —
Basta estar com ela.

Isto. O que foi para nós? Na linha de base, imaginei que seria sua esposa, mas não parecia
certo. Não soava como uma palavra para descrever o que tínhamos entre nós quando
tínhamos muito mais.
— A amiga dela. — Eu disse suavemente, acrescentando minhas próprias ideias à lista. — Seu
amor.

Três mãos repousaram sobre mim, na minha mão, no meu joelho e em meu ombro. Todos elas
me apoiando.

— Você sabe o que fazer. — Minha mãe encorajou.

— Eu preciso ir até ela.

— Sim. — YonnA concordou. — Mas talvez lave o rosto primeiro. Seu rímel está manchado...
— Ela fez uma pausa, gesticulando por todo o rosto. — Aqui.

— E mais uma bebida. — Minha mãe disse.

— Aqui, aqui. — Gritamos em uníssono.

Mesmo que as coisas não dessem certo com Rosé, o que criou uma cratera em meu ser que
queria me engolir inteira, olhando para essas mulheres, eu sabia que ficaria bem.

Só queria estar mais do que bem. Eu queria ser todos os nomes que disseram e muito mais. Eu
queria ser tudo de Roseanne, e queria que ela fosse minha.

Mas antes, uma bebida.

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