Alguns Poemas Românticos - CRRGD

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ALGUNS POEMAS ROMÂNTICOS

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,


Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar —sozinho, à noite—
Não gorjeiam como lá. Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá;
Mais prazer eu encontro lá; Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias

NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO

Um sabiá Onde é tudo belo


na palmeira, longe. e fantástico,
Estas aves cantam só, na noite,
um outro canto. seria feliz.
(Um sabiá,
O céu cintila na palmeira, longe.)
sobre flores úmidas.
Vozes na mata, Ainda um grito de vida
e o maior amor. e voltar
para onde é tudo belo
Só, na noite, e fantástico:
seria feliz: a palmeira, o sabiá,
um sabiá, o longe.
na palmeira, longe.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.5)
Canto de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos aqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas


E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas


Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra


Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
ANDRADE, Oswald. Canto de regresso à pátria. 1924. Disponível em:
https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2017/05/10/canto-de-regresso-a-patria-oswald-de-andrade/

Modinha do exílio

Os moinhos têm palmeiras


Onde canta o sabiá.
Não são artes feiticeiras!
Por toda parte onde eu vá,
Mar e terras estrangeiras,
Posso ver mesmo as palmeiras
Em que ele cantando está.
Meu sabiá das palmeiras
Canta aqui melhor que lá.
Mas, em terras estrangeiras,
E por tristezas de cá,
Só à noite e às sextas-feiras.
Nada mais simples não há!
Canta modas brasileiras.
Canta – e que pena me dá!
Ribeiro Couto
Em sua página nas redes sociais, @sebastiao.salgados criou o “Festival
Miojo Literário” (Instagram) em comemoração ao Dia do Escritor
(#sebastiaoseriesescritores). O desafio era que seus seguidores assumissem
a máscara discursiva de um(a) escritor(a) literário(a) para narrar o ato de
comer um miojo. A primeira provocação se deu com a seguinte postagem: − Você
é escritora? − Sou sim. − Então fala: “Comi um miojo”. Vários seguidores
toparam o desafio, como, por exemplo, o internauta @aldanuzio,que assumiu
ser o poeta Gonçalves Dias, e escreveu:

Minha terra tem miojo


E não é de Sabiá
É galinha caipira
Tempero que aqui não há.

Em cismar sozinho à noite


Não sabes prazer que me dá
O fervor em três minutos
Macarrão melhor não há.

HINO NACIONAL BRASILEIRO (Excerto)

Do que a terra mais garrida,


Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida,"
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/hino.htm.


Acesso em: 02 jun. 2021.
“Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.”

Gonçalves Dias. Canção do Tamoio (FRAGMENTO).

CANTO IV

Meu canto de morte, Nas ondas mendaces


Guerreiros, ouvi: Senti pelas faces
Sou filho das selvas, Os silvos fugaces
Nas selvas cresci; Dos ventos que amei.
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi. Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Da tribo pujante, Vaguei pelas serras
Que agora anda errante Dos vis Aimorés;
Por fado inconstante, Vi lutas de bravos,
Guerreiros, nasci; Vi fortes — escravos!
Sou bravo, sou forte, De estranhos ignavos
Sou filho do Norte; Calcados aos pés.
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi. [...]

Já vi cruas brigas, (DIAS, Gonçalves. I-Juca Pirama.


De tribos imigas, Os timbiras. Outros poemas. São
E as duras fadigas Paulo: Martin Claret, 2002. p. 24-
Da guerra provei; 25.)
MEUS OITO ANOS
Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

MEUS OITO ANOS


Oswald de Andrade

Oh que saudades que eu tenho


Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[...]

Meus oito anos

Luci Collin (in A palavra Algo. São Paulo: Iluminuras, 2016. p. 67),
Navio Negreiro (fragmento)
V
Senhor Deus dos desgraçados! São os filhos do deserto,
Dizei-me vós, Senhor Deus! Onde a terra esposa a luz.
Se é loucura... se é verdade Onde vive em campo aberto
Tanto horror perante os céus?! A tribo dos homens nus...
Ó mar, por que não apagas São os guerreiros ousados
Co'a esponja de tuas vagas Que com os tigres mosqueados
De teu manto este borrão?... Combatem na solidão.
Astros! noites! tempestades! Ontem simples, fortes, bravos.
Rolai das imensidades! Hoje míseros escravos,
Varrei os mares, tufão! Sem luz, sem ar, sem razão. . .

Quem são estes desgraçados São mulheres desgraçadas,


Que não encontram em vós Como Agar o foi também.
Mais que o rir calmo da turba Que sedentas, alquebradas,
Que excita a fúria do algoz? De longe... bem longe vêm...
Quem são? Se a estrela se cala, Trazendo com tíbios passos,
Se a vaga à pressa resvala Filhos e algemas nos braços,
Como um cúmplice fugaz, N'alma — lágrimas e fel...
Perante a noite confusa... Como Agar sofrendo tanto,
Dize-o tu, severa Musa, Que nem o leite de pranto
Musa libérrima, audaz!... Têm que dar para Ismael.

Navio Negreiro – Atenção não é a Disney


Até quando os nossos meninos pretos
Mortos
Sem chinelos, pés tortos
Até quando nossas mulheres
Arrastadas
Pelo capitão do mato destruídas
Destroçadas as famílias
Até quando o meu pão virá com moedas contadas
Até quando veremos as quedas?
Nossos gritos são abafados pela TV
Onde a gente não se vê.

SOBRAL, Cristiane. Terra negra. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2017. p. 97.
A canção do africano
(fragmento)

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala, “Aquelas terras tão grandes,
Junto ao braseiro, no chão, Tão compridas como o mar,
Entoa o escravo o seu canto, Com suas poucas palmeiras
E ao cantar correm-lhe em pranto Dão vontade de pensar…
Saudades do seu torrão…
“Lá todos vivem felizes,
De um lado, uma negra escrava Todos dançam no terreiro;
Os olhos no filho crava, A gente lá não se vende
Que tem no colo a embalar… Como aqui, só por dinheiro.”
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde, O escravo calou a fala,
Talvez pra não o escutar! Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
“Minha terra é lá bem longe, E a escrava acabou seu canto,
Das bandas de onde o sol vem; Pra não acordar com o pranto
Esta terra é mais bonita, O seu filhinho a sonhar!
Mas à outra eu quero bem!
CASTRO ALVES.
“O sol faz lá tudo em fogo, Disponível em:
Faz em brasa toda a areia; <http://www.dominiopublico.gov.br/
Ninguém sabe como é belo download/texto/jp000009.pdf>.
Ver de tarde a papa-ceia! Acesso em: 20 ago. 2020.

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