Esquizoanálise Aplicada À Educação: Introdução Ao Estudo Político-Linguístico Da Educação Brasileira
Esquizoanálise Aplicada À Educação: Introdução Ao Estudo Político-Linguístico Da Educação Brasileira
Esquizoanálise Aplicada À Educação: Introdução Ao Estudo Político-Linguístico Da Educação Brasileira
Jair Araújo3
RESUMO
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Jair Araújo é graduando em Ciências Sociais pela UFRN. Este paper foi elaborado sob a orientação da
professora Sandra Paris (DEPED/UFRN).
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ABSTRACT
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A obra Mil Platôs foi publicado no Brasil em cinco volumes, o último dos quais (Vol. V) foi publicado
em 1997, pela Editora 34.
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capital – que a subversão do coletivo para individualização do cotidiano e
massificação5 do indivíduo a coletivização (ambos os processos realizados
simbiótica e patologicamente) consistem em sintomas de uma doença
institucionalizada (geográfica e politicamente) que se recria, renova e multiplica no
universo social do capitalismo globalizado. É essa coexistência antitética e
simbiótica de contrários/complementares que, tanto justifica como ratifica os
pressupostos e métodos inaugurados por Deleuze & Guattari em sua
esquizoanálise.
A composição do termo vem do germânico “skhízein” cujos significados –
fendido, dividido, duplicidade – foram aplicados à psicologia clínica para o estudo
das personalidades denominadas, por derivação, esquizofrênicas. A
esquizoanálise preocupa-se com os indivíduos, os grupos e as instituições, na sua
composição com o mundo. Para Deleuze & Guattari (2007) a esquizoanálise é
propositiva e atinge a micropolítica do campo social ao fazer emergir os
agenciamentos coletivos de enunciação , as funções da subjetividade no
conjunto das instituições que compõem a estrutura do macro-sistema social.
Para esses autores, a postura metodológica e paradigmática da esquizoanálise
afirma-se por ser, sobretudo, político-linguística, no mais amplo sentido do
sintagma, uma vez que a linguagem, como característica específica da
espécie humana, é um modo de ação e meio eficaz de realizar a prática
social como prática política. Ao invés de ser um mero exercício de opinião,
portanto, a análise da esquizofrenia do sistema capitalista (adoecido e adoecedor)
passa a ser a realização efetiva e poderosa de uma intervenção social que se
inicia sob a égide do signo enquanto produtor de novos modos de ler a conjuntura
enquanto conglomerado de signos que disputam a legitimidade de existência no
corpus do discurso social e que contribuem para legitimar não somente a
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Aqui temos uma coletividade qualitativamente diferente daquela primeira que é subvertida pelo
sistema. É uma coletividade nos moldes do sistema e, por isso, adoecida como doente está aquele
que a produziu.
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conjuntura tal qual, mas também por direcionar os modos de sua compreensão
com vistas à sua manutenção.
METODOLOGIA
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GRACIALINO, Dias. A Educação e a Globalização: o MEC a serviço do FMI. Curitiba/PR: UFPR, 2006, p.23.
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cada região subdesenvolvida /dependente e a educação devida a tal
perspectiva” 7
7
GRACIALINO. Op. Cit., p.37.
8
Para um estudo do termo em seu desenvolvimento clássico ver: MOSSÉ, Cl. Dicionário da Civilização Grega. Rio de
Janeiro: Zahar, 2004 e, principalmente, CANFORA, L. O Cidadão In: VERNANT, J.P. (Org.). O Homem Grego. Lisboa:
Presença. 1993 e MOSSÉ, C. O que é preciso para se tornar cidadão? In: O cidadão na Grécia Antiga. Lisboa: Edições
70, 1992. Cf., ainda, FINLEY, M. I. Aspectos da Antigüidade. São Paulo: Martins Fontes, 1994 e, por fim, JAEGER, W. W.
Paidéia: A Formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
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Ao longo da história o conceito foi ampliado e, atualmente, constitui um dos
princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito e pode ser traduzido
por um conjunto de liberdades e obrigações políticas, sociais e econômicas. Ser
cidadão, de fato, é reclamar o Direito e implica pleitear pelo cumprimento das
conquistas liberais: direito à vida, à liberdade, ao trabalho, à moradia, à educação,
à saúde; e uma cobrança de ética por parte dos governantes: a completa fruição e
exercício dos Direitos Individuais, Sociais, Políticos e Econômicos - Direitos
Humanos - garantidos no ordenamento jurídico. Carla Pinsky sintetiza com
perfeição as implicações políticas de direitos e deveres atreladas ao termo:
9
PINSKY, Jaime e PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da Cidadania. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2003.
Este mandamento foi repetido por outras leis ordinárias, como o Estatuto da
Criança e do Adolescente – Lei nº. 8069, de 13/7/90, que no capítulo referente à
educação estabelece (Art. 53):
10
CRUANHES, Maria Cristina dos Santos. Cidadania: educação e exclusão social. Porto Alegre:
S. A. Fabris, 2000, p. 83.
11
1) KUENZER, A. Z. As Políticas de Formação: a constituição da identidade de professor
sobrante. Curitiba/PR: UFPR, 1999, p.45.
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CF (1988) & LDB (1996) CONTINUÍSMO TRANSFORMADO: DO LIBERALISMO
AO NEOLIBERALISMO
12
SEVERINO, Antônio Joaquim. Os Embates da Cidadania: ensaio de uma abordagem filosófica da
nova LDB. In: BRZEZINSKI, Iria (Org.) LDB Dez Anos Depois: Reinterpretação sob diversos olhares.
2ªed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 64.
13
SEVERINO. Op. Cit., p.71.
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4) Princípios relacionados com o mundo sociocultural: inciso XI (vinculação
entre a educação, o trabalho e as práticas sociais);
5) Princípios de democratização do poder: inciso VIII (gestão democrática do
ensino público).
A Lei 9.394/96 está alicerçada nos valores e princípios liberais, mas está
efetivamente perpassada pela lógica neoliberal em suas, por assim dizer, notas de
rodapé. Como comenta Severino:
16
Idem., p.6
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país, tudo envolvido, no caldo ideológico do neoliberalismo, totalmente
atrelado à concepção tecnicista e pragmática da formação humana, ou
seja, vista apenas como preparação para a operacionalização funcional do
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mercado de trabalho [grifos nosso].
►Antropologia neoliberal:
→Economia: homem-máquina;
→Política: homem-coisa.
→Social: homem/mercadoria.
17
SEVERINO. Op. Cit., p. 64
18
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988(Art. 205.)
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(LDB-9394/96) A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
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exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho [grifo nosso].
19
LDB - TÍTULO II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional (Art. 2º.)
20
SEVERINO. Op. Cit., p.71
21
Fernández Enguita apud SACRISTÁN, J. Gimeno & PÉREZ GÓMES, A.I. Compreender e
Transformar o Ensino. Trad. Ernani F. Rosa. 4 ed. Porto Alegre, Artmed, 2000, p. 15.
22
SACRISTÁN & PÉREZ GÓMES. Idem.,p.14,15.
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[...] a preparação para o mundo do trabalho requer o desenvolvimento
nas novas gerações, não só, nem principalmente conhecimentos, idéias,
habilidades e capacidades formais, mas também da formação de
disposições, atitudes, interesses e pautas de comportamento. Estes
devem ajustar-se às possibilidades e exigências dos postos de trabalho e
sua forma de organização em coletividades ou instituições, empresas,
23
administrações, negócios, serviços.
A conclusão dos autores não poderia ser outra senão esta que abaixo
reproduzimos:
E, finalmente:
23
SACRISTÁN & PÉREZ GÓMES. Op. Cit.,pp.15,16.
24
Idem.
25
Idem,p.15.
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socialização escolar com as exigências do mundo do trabalho dificultam a
26
compatibilidade com as demandas de outras esferas da vida social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com vistas a finalizar o nosso trabalho – que devido às minhas próprias limitações
e, ainda, pelo suporte textual que o comporta deve ser breve e objetivo –
elencamos, neste tópico, as observações, as propostas e os princípios para a
pesquisa-intervenção – nos moldes esquizoanalíticos – no quadro do dever de
crítica ao sistema da educação no nosso país. Segundo entendemos, os
pressupostos que seguem podem compor direções para futuras pesquisas
esquizoanalíticas das instituições políticas – e os planos de ação e documentos
que produzem – brasileiras, sobretudo, da educação.
26
Idem, p. 20
27
SEVERINO. Op. Cit., p. 66
28
Idem, p.67.
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De acordo com Sacristan & Peres Gómes (2000) a função da educação na
sociedade industrial contemporânea deve-se concretizar em dois eixos
complementares de intervenção29 que são:
(1) Organizar o desenvolvimento radical da função compensatória das
desigualdades, mediante a atenção e o respeito pela diversidade;
(2) Provocar e facilitar a reconstrução dos conhecimentos, das
disposições e das pautas de conduta que o educando assimila em sua
vida paralela e anterior à escola. Preparar os alunos para pensar
criticamente e agir democraticamente numa sociedade não-
democrática.
29
SACRISTÁN & PÉREZ GÓMES. Op. Cit. , p. 22
30
FREIRE. Op. Cit., p39
31
Lembramo-nos aqui o efeito rodapé apontado por Marx em seu 18 Brumário.
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No papel de pesquisadores cidadãos, devemos fiscalizar, desvendar e
denunciar as práticas e os conluios que visam a promover a dominação e os
privilégios de uma minoria sobre e em detrimento da maioria que não pode calar-
se sob pena de idiotizar-se por não exercer nem defender a sua cidadania plena.
É pela Educação – como instituição privilegiada onde e processa a socialização e
a inculcação de valores por meio da conscientização dos sujeitos – que temos de
promover uma nova cultura e uma nova mentalidade que contribuirá para que o
exercício da cidadania venha a plenificar-se em nossa sociedade a fim de que uns
não se sobreponham aos direitos de outros através de privilégios, observando
assim sempre o que está posto nas legislações que, a princípio, são estabelecidas
para legitimar o direito e deveres de todos a uma vivência em que se usufrui e se
pratica a cidadania.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 39. ed. São Paulo: Paz & Terra,
2009.