SOCIOPOLÍTICA - Tema 02 Anexo - Texto A República

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FILOSOFIA PARA VIVERI

anexo 02

PLATÃO
E O MITO DA CAVERNA

A REPÚBLICA
Breve comentário dos capítulos

LIVRO I

01. Começa o diálogo na casa de Polemarco, onde Sócrates conversa com


Céfalo acerca das vantagens e desvantagens da velhice e da fortuna.

02. A conversação com Polemarco logo começa a girar em torno da Justiça


Búsqueda de la causa del dolor: el
e vem à tona uma definição de Simônides segundo a qual é próprio da
Justiça devolver a cada um o que é seu ou, como nos faz ver Sócrates,
devolver a cada um o que lhe convém, uma vez que não é justo dar algo
a uma pessoa se, com isso, possa se fazer mal uso.
03. Sócrates deduz que o justo seria dar proveito aos amigos e prejuízo aos
inimigos, sendo os primeiros os homens de bem e os inimigos os maus;
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mas esta apreciação não é válida em tempos de paz. Além disso, às


vezes, torna-se muito difícil reconhecer os verdadeiros inimigos e, se nos
equivocarmos, teremos por amigos homens maus e por inimigos homens
bons, aos quais prejudicaremos.

04. Por outro lado, os homens se tornam injustos quando lhe é feito mal,
assim como o cachorro ou o cavalo se tornam piores quando são castiga-
dos. Além disso, da mesma forma que um músico, em virtude de sua
arte, não pode fazer alguém ignorante na Música; o homem justo não
pode, por meio da Justiça, tornar alguém injusto.
05. Nesse momento, Trasímaco intervém na conversação para defender que
a Justiça não é senão o que é proveitoso aos mais fortes: nos governos,
a Justiça seria útil para aquele que tem o poder em suas mãos. Porém,
um governo não é infalível e pode, sem querer, ditar leis contrárias aos
seus interesses. Além disso, assim como o médico não utiliza sua arte
para o seu próprio benefício, mas para o benefício do enfermo, o bom
governante não deve promulgar leis para seu bem, mas para o bem de
seus governados.
06. O problema a elucidar agora é se a vida do justo é preferível à do injusto.
07. Sócrates trata de convencer Trasímaco de que o homem justo não quer
se sobrepor aos seus semelhantes, e que, se ele intervém em assuntos
públicos, é por temer que alguém inferior governe; ou seja, o homem
justo não trata de impor sua autoridade sobre todo mundo. Entretanto, o
injusto se impõe a todos, seja bom ou mau o que eles digam; logo, a
injustiça implica ignorância.
08. Se a Justiça é uma virtude da Alma e a injustiça um vício, a alma privada
de sua perfeição não poderá governar nem administrar bem e são a alma
e o homem justos que viverão bem e serão felizes.

LIVRO II

09. Agora é Glauco que pretende uma demonstração mais sólida do que é
Justiça. Para isso, faz um discurso contra a Justiça, dizendo que é algo
que se tem que “sofrer” e que ninguém toma como um bem em si mesmo.
Opina que a vida do justo é difícil e penosa, pois, aos olhos dos demais,
pode se converter em um malvado ao tratar de ser justo, enquanto que o
homem injusto, desde que aparente ser justo, será tratado como um
homem de bem.
10. Adimanto agrega algo mais ao discurso de seu irmão Glauco e toma a
defesa dos que preferem o partido da Justiça, porém, pelas vantagens
que traz: dignidade,
Búsquedadinheiro, assimdelcomo
de la causa dolor:oselfavores dos Deuses na
Terra e depois desta vida.
11. Para aprofundar no estudo da Justiça, Sócrates propõe buscá-la numa
cidade ideal, onde ela aparecerá com características ampliadas e, em
seguida, estudá-la no Indivíduo, buscando a semelhança em ambos.
12. A origem da sociedade, da cidade, está na satisfação das necessidades
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dos homens reunidos: vestuário, alimentação, habitação. Será difícil


para um único homem satisfazer todas as suas necessidades e, portan-
to, será mais prático que cada pessoa se dedique a um ofício específico.
A cidade prosseguirá crescendo e será preciso que esteja regida por
algumas leis severas, pois sempre haverá descontentes com esse
gênero de vida.
13. A cidade com maior quantidade de pessoas e bens necessitará de defesa
e de expansão, e isso ocasionará a guerra. Assim nascerá um novo
ofício: o de guerreiro, que será o de guardiões do Estado. Esses cida-
dãos constituirão uma classe nova e seu trabalho não poderá ser
desempenhado pelos outros cidadãos, porque cada um terá sua missão
específica.

14. Esses guerreiros possuirão uma série de aptidões mentais. Terão que ser
“como os cães”: carinhosos com os familiares e amigos, ariscos e irascíveis
com os estranhos e, sobretudo, serão filósofos por natureza.

15. Os guardiões do Estado terão uma educação especial. Educarão o corpo


por meio da Ginástica e a Alma, por meio da Música. Deve-se começar
primeiramente com a Música e com os discursos e contos que fazem parte
dela; porém sempre considerando que unicamente se permitirão as fábulas
que falem de algo moral e verdadeiro e não apresentem os Deuses com
paixões humanas nem como criadores do mal. Não se pode buscar na Divin-
dade a causa dos males, mas dos benefícios. A mentira é algo que também
será banida, pois é detestada pelos Deuses.

LIVRO III

16. Mais algumas normas regerão os guardiões. Terão que perder o temor da
morte, pois não se pode ser, ao mesmo tempo, valoroso e temer a morte.
Para isso, será eliminado tudo o que fale mal de Hades: os nomes de Inferno
e Estige e as expressões como sala de trevas e horrores. Deverão desapa-
recer todas essas lamentações que se põem na boca dos grandes heróis,
pois o homem virtuoso não se queixa, basta-se a si mesmo para ser feliz e
não necessita de quase nada dos demais.
17. Se isso não se cumpre, à menor desgraça que lhes aconteça, abandonar-
-se-ão covardemente aos gemidos e lágrimas. Tampouco devem ir ao polo
oposto, a uma risada que não se possa conter, pois a risada violenta altera
o ânimo.
18. Será desenvolvida neles a temperança, o que os tornará submissos e
respeitosos com seus governantes. Outro dos efeitos da temperança é ser
dono de si mesmo no quedetange
Búsqueda aos prazeres
la causa del dolor:daelmesa e aos sentidos do
amor. Tampouco se lhes consentirá ansiar riquezas e honras, porque isso
corrompe.
19. Quanto aos estilos de literatura, Platão se inclina pela narração simples,
própria do homem de bem, antes que o estilo imitativo. Em todo caso, a
imitação será aceita sempre que se refira às ações dos grandes heróis e
homens de bem. Quanto ao conteúdo das obras, os poetas não poderão
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sustentar, como já se disse anteriormente, que os injustos são felizes e os


justos, desgraçados.
20. Referindo-se à música, explica que esta se compõe de letra, harmonia e
ritmo. A letra deverá ser, como nas obras escritas e faladas, verdadeira,
profunda e com todas as qualidades já descritas para os poetas. Quanto à
harmonia, serão eliminadas as de características lastimosas e as usadas
nos festejos, assim como os instrumentos de numerosas cordas ou sons.
Platão aceita a lira e o alaúde como instrumentos da cidade, e a flauta
para os pastores no campo. Relativamente ao ritmo, serão banidas também
a variedade e a multiplicidade de medidas, deixando aqueles que expres-
sam o caráter do homem valoroso e de bem. Depois de obter a harmonia e
o ritmo ideal, é preciso acoplá-los às palavras, não as palavras a eles. A
beleza desses três aspectos provém da simplicidade da alma, enquanto que
o contrário se acha ligado à perversão do caráter.

21. A música é parte essencial da educação, porque o ritmo e a harmonia


impressionam a alma e a ajudam a reconhecer a perfeição e a imperfeição,
tanto na natureza como na arte. A música tem por objeto o amor e a beleza.

22. Depois da música, é preciso formar os jovens na ginástica. Um corpo belo,


diz Platão, não torna uma alma boa, mas ao contrário. Portanto, a alma,
depois de educada, se encarregará de formar o corpo.

23. A simplicidade na música torna a alma sábia e, na ginástica, o corpo sadio.


Por isso procurar-se-á uma alimentação simples, sóbria, sem muita variação
e será buscada e será proibida a embriaguez.

24. Uma má e viciosa educação se manifesta numa cidade quando são neces-
sários advogados e médicos; e não somente recorrem a eles as classes
baixas, mas também os homens que dizem haverem sido educados como
livres. É vergonhoso buscar uma justiça estranha por não ser cada um o juiz
de si mesmo, e pior ainda é vangloriar-se de ser hábil em argumentações
para evitar os castigos.

25. É prejudicial preocupar-se excessivamente com o corpo, pois o medo de


contrair doenças não é compatível com o estudo, a reflexão ou a meditação.

26. Contudo, a cidade deverá possuir bons médicos e juízes. Médicos que,
desde jovens, tenham estado em contato com essa ciência e inclusive
tenham experimentado enfermidades, porque eles curarão o corpo com a
Alma. Mas, o juiz, que há de curar almas, não deverá estar familiarizado
desde jovem com o crime. Haveria que curar o homem apto, deixar morrer o
incurável e condenará à morte os perversos incorrigíveis.
Búsqueda de la causa del dolor: el
27. A ginástica e a música se complementam. A ginástica sem a música torna o
caráter duro e feroz; a música sem a ginástica, brando e indolente. O equilí-
brio torna a alma moderada e valente ao mesmo tempo.

28. Uma impetuosidade natural, através da educação, leva à valentia, assim


como o caráter filosófico conduz a uma prudente tranquilidade. Ambas as
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qualidades devem se reunir nos guardiões do Estado.

29. Os homens encarregados de governar, os magistrados, serão os anciãos e,


entre eles, os melhores. A eleição dos melhores guardiões se efetuará entre
aqueles que hajam consagrado, em maior grau, sua vida ao bem público,
antepondo-o sempre a eles mesmos, e superado certas provas capazes de
lhes fazer esquecer seu objetivo, seduzindo-os, e outras relacionadas com
a fortaleza ante a dor e os sofrimentos.
30. Tudo surge da mãe Terra, porém o Deus que formou os homens incluiu
diversos metais em sua composição: ouro nos governantes, prata em seus
auxiliares, ferro e bronze nos artesãos e lavradores. “A cidade perecerá
quando for guardada por homens de ferro e de bronze”.

31. Os guardiões não terão nada próprio, salvo os produtos de primeira necessi-
dade. Em troca dos serviços prestados por guardar a ordem, receberão dos
demais cidadãos o suficiente e necessário. Viverão juntos, como os guerrei-
ros no campo de batalha.

32. Deve-se fazê-los compreender que os Deuses colocaram ouro em sua alma
e que não devem manchá-la com o ouro do mundo. São os únicos cidadãos
proibidos de possuir uma propriedade privada, pois se não for assim, correm
o risco de se converter em lavradores ou comerciantes, descuidando de
suas tarefas de guardiões da ordem.

LIVRO IV

33. Adimanto replica a Sócrates que os guardiões não poderão ser felizes, pois
carecem de tudo o que possuem os demais. Porém Sócrates lhe diz que, ao
formar um Estado, não se trata de alcançar a felicidade de alguns, mas de
todos.

34. Se todos se dedicassem a ser felizes, desapareceriam os ofícios e se


corromperia a cidade. Que cada um participe da felicidade que sua natureza
lhe produz. Contudo, não seria surpresa que, em sua condição de guerrei-
ros, fossem felizes vivendo dessa maneira.
35. Deve-se evitar que duas coisas entrem na cidade, porque pervertem: a
riqueza e a pobreza. A primeira gera vadiagem; a segunda, ações indignas
e desejo de fazer o mal. Somente um justo meio faz prosperar a cidade.
36. A cidade não deve ser grande nem pequena em aparência, mas ser autossu-
ficiente e ser sempre unida.
Búsqueda de la causa del dolor: el
37. Os ofícios não serão herdados. Por exemplo, os filhos dos guardiões que
não reúnam as aptidões necessárias serão dedicados a outros labores, e
serão aceitas as crianças de classes mais baixas que as reúnam; e assim
ocorrerá com os demais.

38. “Em um Estado tudo depende dos princípios”. Por isso, a educação tem um
papel fundamental e, desde a infância e a juventude, estará orientada para
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formar homens completos e capazes de discernir seus problemas. Desde a


infância, os jogos serão conduzidos com regras e disciplinas, para que as
crianças sejam logo virtuosas e respeitosas com as leis.

39. O respeito à Tradição, aos anciãos, aos pais, às normas de vestimenta e de


conduta, etc., é o resultado de uma boa educação.
40. O Estado perfeito tem que ser prudente, valoroso, temperante e justo.
41. A cidade prudente é acertada em suas deliberações. Esta ciência, que
delibera sobre todo o Estado e seu governo, os guardiões a possuem, e
graças a eles, toda a cidade pode se dizer prudente.
42. O valor da cidade se encontra na classe de cidadãos que a defendem e lhe
prestam serviços na guerra. Valor é a preservação do critério que as leis nos
deram, por meio da educação, sobre as coisas que devemos temer e sua
natureza. O valor nos ensina a manter sempre esse critério em momentos
bons e ruins.
43. A temperança é a ordem que o homem põe em suas paixões e prazeres e o
domínio que exerce sobre eles. Porém, na cidade, uma minoria sensata não
pode tornar sensata toda a cidade; deve existir harmonia entre os governan-
tes e os governados. A temperança consiste no acordo, na harmonia do bom
e do menos bom, que há tanto na cidade como na pessoa, para decidir logo
qual dessas partes governará sobre a outra.
44. A justiça é fazer cada um o que lhe compete e não se ocupar de muitas ativi-
dades. Quando cada um faz o que lhe é próprio e não sai de sua classe,
torna a cidade justa.
45. Encontramos na alma uma parte racional, isto é, que pensa, e outra irracio-
nal, que deseja e sente. A parte irascível da alma é auxiliar da racional, a
menos que haja sido corrompida pela má educação.
46. O homem justo é aquele que, em cada uma de suas partes, faz o que é
próprio dela. O racional manda porque é prudente e deve vigiar a alma. A
parte irascível obedece e ajuda a primeira. E as duas juntas devem governar
a parte concupiscente, que é maior na alma e que pode sair da ordem para
dominar as outras partes.
47. No indivíduo valoroso, a cólera segue sem vacilar as ordens da razão
acerca do que é ou não temível. O homem prudente assim o é por essa
pequena parte que delibera e ordena com a razão. O Indivíduo é temperante
pela harmonia e concórdia que reina entre a parte que ordena e as que
obedecem.
48. Justiça é tanto ordem interior como exterior. É governar-se, disciplinar-se,
ser amigo de si Búsqueda
mesmo, harmonizar
de la causa as
deltrês partes
dolor: el da alma e passar da
multiplicidade à unidade. O contrário de tudo isso é injustiça.

LIVRO V
FILOSOFIA PARA VIVER anexo 02 - página 6 de 15

49. Neste livro, Platão fala sobre as mulheres e os filhos, e sobre o comporta-
mento dos guerreiros.

50. As mulheres devem ter os mesmos ofícios e fazer tudo em comum com os
homens; portanto, será necessário que recebam a mesma educação: a
música e a ginástica, e assim serão aptas para a arte da guerra. Isto pode
parecer ridículo, porém recordemos que somente o ignorante acha o ridículo
em outra coisa que não seja o mal.
51. A diferença entre o homem e a mulher não está fundamentada em que ele
fecunda e ela dá à luz, mas que são tão distintos para os ofícios como são
os homens. Pois não há homens que servem para a medicina e outros que
não? Da mesma forma, haverá mulheres que sirvam para alguns ofícios
melhor que os homens, e para outros pior. Assim, também haverá mulheres
que, por suas aptidões, poderão ser guerreiras, pois não há mais diferença
entre elas e os homens que as de serem melhores ou piores.
52. Essas mulheres serão as companheiras dos guerreiros e, como eles, não
terão nada de propriedade. “As mulheres de nossos guerreiros serão
comuns para todos eles; nenhuma coabitará em particular com nenhum. Os
filhos serão também comuns, e os pais não conhecerão os seus filhos nem
os filhos os seus pais.”
53. Esta comunidade de homens e mulheres evita os conflitos por todo tipo de
possessões, de riquezas, filhos e parentes. Tudo isso objetiva o benefício da
cidade. As relações entre os melhores homens e as melhores mulheres
serão favorecidas, se bem que por “sorteio” ou por prêmio aos mais desta-
cados nas batalhas, e assim nascerão filhos cada vez melhores.
54. O bom para a cidade é o que une, e o mal o que separa. Não haverá separa-
ção entre os guardiões, pois todos se reconhecerão como família, não só de
palavra, mas de fato, com uma atitude de respeito.
55. A educação dos filhos, nos seus primeiros anos, estará nas mãos de alguns
amos, homens e mulheres. Quando estiverem em condições para isso, os
filhos mais robustos irão à guerra com seus pais, para aprenderem o que
terão que fazer quando maiores. Porém os pais terão muito cuidado ao leva-
rem seus filhos às guerras muito difíceis e os deixarão com alguém encarre-
gado de salvá-los, fugindo em caso de perigo.
56. Haverá paz e felicidade fundamentadas nas leis, em uma condição modes-
ta, porém segura.
57. Com respeito à conduta dos guerreiros, os mais valorosos serão coroados
no próprio campo de batalha e recebidos com festa, na qual ocuparão os
lugares de honra, e serão servidos com iguarias e vinho em maior quantida-
de que os demais, como testemunho
Búsqueda de la causa de
del admiração
dolor: el e para aumentar sua
fortaleza. Os covardes serão relegados entre os artesãos e lavradores. E os
que encontraram a morte no campo de batalha passarão a fazer parte dos
Homens de Ouro.
58. Em relação à conduta com seus inimigos, terão princípios de respeito para
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com os gregos, sabendo, por exemplo, que não poderiam ser capturados
como escravos. Não devem tampouco despojar os mortos nem roubar seus
inimigos vencidos, a não ser as armas, posto que o corpo já não é seu inimi-
go.
59. A discórdia é a inimizade entre os próximos, enquanto que a guerra é a
inimizade com os estrangeiros.
60. Glauco, que deu razão a Sócrates em tudo que anteriormente foi falado,
agora lhe pede que explique como poderia tornar realidade este Estado que
estão formando, qual seria o primeiro passo. Diz Platão, através de
Sócrates, que a primeira mudança a ser introduzida seria o governo dos
filósofos, reunindo estas duas ciências: política e filosofia.

61. Porém serão verdadeiros filósofos. O verdadeiro filósofo é aquele que está
disposto a aprofundar em todas as ciências com igual ardor, que desejaria
abraçar a todas e que tem um desejo insaciável de aprender. Não podemos
entender como tal o curioso de novidades ou o que se consagra ao conheci-
mento das coisas mais ínfimas. A grande diferença entre o filósofo e aquele
que não o é, que este vê a beleza nas coisas, porém não chega a compreen-
der a beleza em si mesma e confunde o belo com as coisas belas. O filósofo
é aquele que pode elevar-se até o belo em si e contemplá-lo na sua essên-
cia. O primeiro dos casos é a opinião; o segundo, o conhecimento. A opinião
é o longo intermediário entre o conhecimento e a ignorância.

62. O saber e a opinião são potências distintas que se aplicam sobre objetos
distintos. O objeto da opinião são as variadas crenças, que muitos têm
sobre a beleza, a justiça, a santidade, e que flutuam entre o ser puro e o
não-ser puro, porque a opinião está entre a ignorância e o conhecimento. O
objeto da ignorância é o não-ser, e o do conhecimento é o ser puro.

LIVRO VI

63. Como guardiões serão eleitos: ao invés dos cegos, os de visão penetrante,
os que tenham conhecimentos do ser real, para estabelecer neste mundo as
normas do belo, do justo, do bom, e velar por seu cumprimento e conserva-
ção.
64. As naturezas filosóficas amam a ciência e, por conseguinte, a verdade; aspi-
ram aos prazeres da alma e renunciam aos do corpo; são moderados, desin-
teressados, incapazes de cometer vilezas e não temem a morte; além disso,
têm boa memória para não adquirir antipatia aos estudos mais difíceis.
Se os sábios filósofos são inúteis numa cidade, a inutilidade se deve àque-
65. les que não se valem deles,
Búsqueda dee la
nãocausa
aos filósofos.
del dolor:Quem
el necessita ser gover-
nado é que deve ir em busca do governante, assim como o enfermo vai em
busca do médico.
As naturezas que reúnem essas condições de perfeição são poucas, e as
66. causas que podem pervertê-las são aquelas coisas que a maioria considera
um bem: beleza, riqueza, força corporal, poder na cidade. Uma natureza
excelente, submetida a um regime adverso, se afeta mais que uma natureza
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medíocre, pois os débeis e medíocres não têm capacidades.


O verdadeiro sofista é o vulgo, que censura ou elogia com grande alvoroço;
67. e o jovem, ante essa onda, termina por conformar seus juízos aos da multi-
dão e se inclina para as mesmas coisas.
Os mercenários particulares, que o vulgo chama sofistas, ensinam os
68. mesmos princípios que o povo professa, pois observaram o “grande mons-
tro” (massa) e têm por isso a “sabedoria”. Sem distinguir entre o belo e o
feio, o bom e o mau, o justo e o injusto, têm por bom o que causa prazer ao
monstro e por mau o contrário.
69. Essas naturezas superiores, que, pelos prazeres da massa, abandonam a
verdadeira filosofia, acabam levando uma vida contrária a sua natureza. E a
filosofia, abandonada, é invadida por homens indignos que a desonram.
Desta união, unicamente nascem filhos bastardos: os sofismas. Os filósofos
que se salvam desta degeneração permanecem quietos e se ocupam de
seus próprios assuntos. Com uma organização política conveniente, teriam
alcançado seu mais alto destino, salvando, junto com seus próprios assun-
tos, os da comunidade.
70. A cidade deveria tomar a seu cuidado o estudo da filosofia. Não é conve-
niente que o adolescente se dedique plenamente à parte mais difícil (a dialé-
tica), para não se cansar e, em seguida, abandoná-la. Seria preciso ensinar
de acordo com cada idade, reforçando os estudos na idade madura, para
dedicar-se inteiramente à filosofia na velhice, e alcançar a felicidade neste
mundo e no outro depois da morte.
71. O filósofo, pela relação em que vive com o divino e o ordenado (as essên-
cias), se torna ele mesmo divino e ordenado, até onde possa sua natureza.
E se algum poderoso motivo o obrigue a estender essa ordem aos costumes
públicos e privados de seus semelhantes, não seria um mestre ruim em tudo
relacionado com a temperança, a justiça e as demais virtudes. O plano da
cidade será traçado por esses artistas que têm ante si um modelo divino.
72. Dissemos, anteriormente, que os governantes deviam demonstrar um
grande amor pela cidade, provado em meio ao prazer e à dor, além de
observar se seu espírito era capaz de suportar estudos superiores ou se
acovardava. Os guardiões devem alcançar a virtude em sua mais acabada
perfeição e, como conhecimento superior, sobre todos os outros, está a
ideia do Bem, sem a qual todo outro conhecimento carece de valor. As
coisas justas e belas não notarão digno guardião naquele que ignora sua
relação com o Bem.
73. No mundo visível, luz e visão têm analogia com o Sol, porém não são o Sol.
No mundo inteligível, ciência e verdade são semelhantes ao bem, porém
este último é infinitamente superior. O Sol é, além disso, causa da geração
Búsqueda de la causa del dolor: el
e do crescimento das coisas visíveis. As coisas inteligíveis recebem do
Bem, além da condição de inteligíveis, seu ser e sua essência.
74. No mundo visível, distinguimos entre imagens (sombras, figuras refletidas)
e objetos (animais, coisas fabricadas pelo homem, plantas...). Poderíamos
dizer que a imagem é para o objeto como a opinião é para o conhecimento.
75. Também o mundo inteligível se divide em duas partes. A primeira começa a
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partir da hipótese e, por meio de imagens, se chega a um resultado (mate-


máticas, geometria). Na segunda, se parte da hipótese e, valendo-se de
ideias, se chega ao princípio que não necessita de hipóteses. A essas duas
partes do mundo inteligível correspondem o entendimento e a inteligência.
Aos objetos e suas imagens visíveis correspondem a crença e a imagina-
ção.

LIVRO VII
76. Começa este livro com O Mito da Caverna, onde vivem alguns homens acor-
rentados pelo pescoço e pelas pernas, que não podem ver o que está atrás.
Por trás de todos eles, num lugar mais elevado, há um fogo que ilumina e
um muro. Ao longo do muro, passam homens portando diversos objetos,
falando ou em silêncio. Os cativos acreditam que a realidade são as som-
bras que se projetam no fundo da caverna.
77. Se um deles se libertasse para que pudesse deixar a caverna, a princípio se
sentiria deslumbrado e voltaria atrás. Se conseguisse subir pelo áspero e
escarpado caminho até chegar à luz do Sol, seus olhos não distinguiriam
nada a princípio; porém, pouco a pouco, conseguiria ver sombras, depois
imagens refletidas na água, depois objetos, astros, o céu, o Sol... Encontra-
ria no Sol a causa do mundo e sentiria verdadeira pena por seus antigos
companheiros de cativeiro.
78. Se voltasse à caverna, demoraria algum tempo para se acostumar à obscu-
ridade novamente, e por isso seus antigos companheiros lhe dirão que
perdeu “a visão das coisas” e que a subida não valia a pena. Se tentasse
libertar os presos e conduzi-los para a luz, chegariam a matá-lo por isso.
79. O antro subterrâneo é o mundo visível. O esplendor do fogo é a verdade. O
cativo que ascende é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Assim como
no mundo visível o Sol é o criador e dispensador da luz, nos limites do
mundo inteligível está a ideia do Bem, que se percebe com dificuldade,
porém que se reconhece finalmente como Causa Universal de tudo que é
reto e bom.
80. A ciência não se dá à alma, como a visão ao olho cego; a alma tem a facul-
dade de aprender e é o instrumento destinado a isso. A educação é a arte
de dirigir esse instrumento.
81. Para o governo, não são aptos nem os carentes de educação, nem os que
passam a vida no estudo. Aos segundos, será preciso obrigá-los a sair da
contemplação do Bem para ajudar os “cativos”: unir a filosofia à política.
Somente o verdadeiro filósofo desdenha os cargos públicos, porém deverá
aceitá-los periodicamente. Assim se evitam os maus governantes, ávidos de
honras e riquezas.
82. Quais serão as ciências
Búsquedaquede elevam
la causaa alma desdeelo que nasce para o que
del dolor:
É?
83. A Matemática. Ciência dos números que não se referem aos corpos visíveis
e tangíveis. Os funcionários deverão estudar cálculo, porém não como um
comerciante ou um traficante, mas para elevar-se da esfera da geração para
a essência. O cálculo facilita os outros ensinamentos e graças a ele o espíri-
FILOSOFIA PARA VIVER anexo 02 - página 10 de 15

to se sutiliza.
84. A Geometria. Seu objeto, contrariamente ao que se acredita, é o conheci-
mento do que sempre existe, e não do que nasce e morre. Os sólidos de três
dimensões (profundidade).
85. A Astronomia. Não por levantar a vista até os astros, deixamos de ver as
coisas sensíveis que não são objeto de conhecimento. As constelações são
inferiores aos astros verdadeiros, cujos movimentos se percebem com a
razão e o entendimento discursivo.
86. A música. Ciência irmã da Astronomia para os pitagóricos. O objeto funda-
mental deste estudo é descobrir as relações e afinidades entre as ciências,
e demonstrar a natureza dos vínculos que a unem.

87. A dialética. É a coroação de todos os ensinamentos. Aquele que usa a dialé-


tica pode, sem os sentidos e somente com a razão, alcançar a essência de
cada coisa para chegar à essência do Bem.

88. Deve-se começar esta educação com as crianças, mas em forma de jogo,
para que cada qual manifeste suas aptidões. Uma vez finalizado o período
obrigatório de Ginástica – pois cansaço e sono são ruins para o estudo –,
começa, para os melhores, o período de organização dos conhecimentos
adquiridos na infância.

89. Aos trinta anos, selecionar-se-ão os mais aptos na Dialética. É preciso


evitar que os jovens manejem a Dialética, pois se servem dela como de um
jogo; e tampouco os que não sejam moderados e firmes. Depois de cinco
anos de estudos, deverão voltar por quinze anos à “caverna” e passar por
suas provas. Se saírem vitoriosos, se dedicarar-se-ão à contemplação do
Bem em si pelo resto de suas vidas.

LIVRO VIII

90. Assim como há cinco formas de governo, há cinco tipos de homens que se
correspondem com essas formas, pois os governos surgem dos costumes
dos cidadãos.
91. Vejamos qual é o ciclo de degradação dos governos.
92. Aristocracia: Corresponde ao homem bom e justo. Porém a aristocracia,
como tudo o que nasce, está sujeita à corrupção. Os governantes deixarão
escapar certas alternativas nos ciclos de fertilidade e esterilidade, e gerarão
filho quando não deveriam.
Búsqueda de la causa del dolor: el
93. Timocracia ou Timarquia: É uma mescla de aristocracia e oligarquia. Seu
caráter principal é a ambição de triunfo e sede de honra e fama. O jovem
timocrático é arrogante, mais influenciado pela ginástica que pela música.
Provém de um bom pai, mas as queixas de sua mãe e o desprezo dos
demais o tornam apaixonado e colérico. Ambicioso, tenta apagar o que a ele
parece “má imagem” de seu pai.
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94. Oligarquia: Governam os ricos, e os pobres não participam do poder. Os


cidadãos, sedentos de riquezas, triunfos e fama, tornam-se ambiciosos e
avaros dessas riquezas que acumularam clandestinamente. Porém, para
conduzir a embarcação elege-se o mais rico ou o mais capaz?
95. Já não é uma cidade, mas duas (uma de ricos e outra de pobres) que cons-
piram entre si. Em caso de guerra, a plebe será armada e temida mais que
os inimigos. Incorre-se no erro de ser, ao mesmo tempo, lavradores, comer-
ciantes e guerreiros.
Será preciso proibir a venda de bens e que se continue na cidade sem
pertencer a nenhuma classe, com título de indigente e pobre; daí derivam
mendigos, ladrões e todo tipo de delinquente.
96. O jovem oligárquico, ao contemplar o destino infeliz de seu pai e vendo--se
na pobreza, decide refazer a fortuna. Torna-se avaro e ambicioso, se satis-
faz unicamente com os seus desejos elementares e considera frívolos os
demais (por exemplo, a instrução). Trabalhará com aparente virtude, porém
é por temor de perder seus bens.
97. Democracia: Na oligarquia, os homens generosos são privados de sua
fortuna e honras, e, cheios de ódio, conspiram continuamente, tratando de
promover mudanças políticas. Os ricos e os pobres chegam a se igualar em
um ponto: ambos carecem de virtudes.
98. A Democracia se estabelece quando os pobres ganham a batalha contra os
ricos, encarregando-se do governo e ocupando-se dos cargos públicos
aqueles que afirmam serem mais amigos do povo. Já não importa a forma-
ção do governante embasada em nobres princípios. É uma forma anárquica
de governo, na qual existe liberdade de ação e de expressão, e cada um faz
o que quer.
99. O homem democrático é filho do avaro oligarca. Em sua alma, vazia de ensi-
namentos, cai em falsos princípios e opiniões aventureiras. Trata o pudor
como simplório; a temperança como escassa virilidade; a moderação e a
prudência como rusticidade e avareza. Substitui as nobres maneiras pela
insolência, a liberdade pela anarquia, a magnificência pela devassidão, e a
honradez pela imprudência. Estabelece-se uma espécie de igualdade entre
seus prazeres, sejam necessários ou não, e entrega o governo de si mesmo
ao primeiro que se lhe apresenta.
100. Tirania: Assim como o desejo imoderado de riquezas leva à Oligarquia, à
ruína, o desejo imoderado de liberdade leva à Democracia, à ruína. São
igualados governantes e governados, pais e filhos, mestres e alunos, amos
e escravos.
101. Existem três classes na cidade democrática:
1. Os homens que nascem nela, classe virulenta que tem em suas
Búsqueda
mãos todos de la causa
os assuntos del dolor: el
públicos;
2. Os ricos, dos quais os zangões extraem seu mel
3. O povo que vive de seu trabalho, empobrecido e numeroso.
102. Para enganar o povo, despoja-se o rico e estabelecem-se verdadeiras lutas.
O rico despojado torna-se oligarca, e o povo se protege atrás de um líder
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defensor, germe do tirano.


103. A princípio, o tirano será afável com todo mundo. Quando termina com seus
inimigos exteriores, cria novas guerras para que o povo tenha necessidade-
de um chefe. Além disso, empobrece o povo com impostos para que se dedi-
que a ganhar seu sustento e não conspire contra ele. Terminará por fazer-se
odioso; porém, isso durará até que o povo se indigne. Os que o elevaram
começarão a criticá-lo, e o tirano se verá obrigado a eliminá-los. Os únicos
que acederão a formar sua guarda serão escravos libertos, novos amos do
povo. Porém, logo todos concluirão que estão alimentando o tirano e seus
protegidos, e compreenderão que são escravos dos escravos do tirano.
LIVRO IX

104. Entre os prazeres e desejos não necessários, há alguns ilegítimos e talvez


inatos em todos os homens, reprimidos em uns e em outros não. São os que
surgem durante o sono, enquanto dorme a razão. Porém o homem de vida
saudável e ordenada não é conturbado pelas visões ilegítimas dos sonhos.
105. O futuro tirano é filho de um homem democrático – termo médio do vício –,
porém é arrastado a uma vida de absoluta desordem (absoluta “liberdade”).
Satisfeitos os prazeres com um pouco de ambição, desaparece toda sensa-
tez e aparece um furor desconhecido. As ideias que antes afloravam nos
sonhos agora constituem a vigília, e já não haverá nenhum horror que o
detenha.
106. Na vida privada, rodeia-se de aduladores (falsos amigos) ou cai aos pés
daqueles de quem necessita favores: déspota de uns e escravo de outros.
Sendo o indivíduo mais perverso, é também o mais desgraçado.
107. Se o indivíduo se assemelha à cidade, as partes mais nobres de sua alma
são escravas de uma pequena parte perversa e colérica. Em tal estado, a
alma é escrava e não livre, não faz o que quer. Porém, mais desgraçado que
este homem em particular, semelhante à cidade, é aquele que se converte
em tirano.
108. O tirano passa a maior parte do tempo preso, sem desfrutar das coisas que
os demais cidadãos desfrutam, verdadeiro escravo dos homens mais abje-
tos.
109. O homem mais feliz é o melhor e mais justo, ou seja, aquele que reina sobre
si mesmo. O mais desgraçado é o pior e o mais injusto, ou seja, o que
exerce a tirania sobre si mesmo e sobre a cidade.
110. Se no homem e na cidade existem três classes de comportamento, a cada
uma corresponde um tipo próprio de prazer e desejos. No homem, a parte
racional é amiga da ciência e da sabedoria, a parte colérica ambiciona supe-
rioridades e honras, e a parte concupiscente ambiciona riquezas e lucros.
Búsqueda de la causa del dolor: el
Assim, surgem três caracteres: filósofo, ambicioso e avarento.
111. O filósofo é o mais experiente porque conhece também os prazeres do
avarento e do ambicioso. Em contrapartida, aos outros dois não lhes é indis-
pensável nem acessível o prazer do filósofo. Além disso, como o filósofo
reúne a maior inteligência e o melhor raciocínio, é o mais capaz para louvar
FILOSOFIA PARA VIVER anexo 02 - página 13 de 15

a verdade. Com exceção do prazer do sábio, o prazer dos demais não é


verdadeiro nem puro; é a sombra de um prazer.
112. Entre o prazer e a dor existe a serenidade. Não nos deixemos persuadir de
que um prazer puro é a cessação da dor, nem que a dor é a cessação do
prazer. Todas as coisas que servem de sustentação ao corpo participam
menos da Verdade e da Existência que aquelas que servem de sustentação
à alma. Umas se referem ao que é sempre mutável, e as outras ao ser
Imutável.
113. Aquele que se preenche de coisas reais goza do verdadeiro prazer, e o que
se preenche de coisas menos reais goza de um prazer mais inseguro e
menos verdadeiro. Gostam de prazeres mesclados de dores, fantasmas do
verdadeiro prazer que só adquirem cor em contraposição à dor, para que
uns e outros pareçam mais intensos. Portanto, o tirano é o que mais longe
está do prazer verdadeiro e próprio do homem, e quando se torna o rei, mais
dele se distancia.
114. Nada beneficia tanto o homem quanto ser governado por um ser divino e
racional, que habite dentro dele mesmo ou, na falta disso, que o governe
fora.
115. Tampouco é benéfica a impunidade na injustiça, porque o culpado torna-se
mais perverso, enquanto que o castigo “tranquiliza” a parte bestial.
116. Quanto à parte física, devemos ajustar a harmonia do corpo à da alma. Não
deixar que riquezas nem indigências transtornem a Alma. Somente aceitar
aquelas honras que a façam melhor e que não a perturbem.

LIVRO X

117. A poesia imitativa e a tragédia corrompem o pensamento, a menos que se


conheça sua verdadeira natureza.
118. Os artesãos que constroem objetos o fazem de acordo com a ideia que têm,
porque nenhum artesão constrói a ideia em si. Há um artesão que fez todas
as coisas, e outros as imitam como que as refletindo em um espelho, visto
não serem reais. Real é aquele que cria a Ideia, ou seja, a Divindade.
119. O pintor está afastado três vezes mais da verdade, porque imita as obras de
todos os artesãos. A arte imitativa pode fazer tudo, porque apreende muito
pouco de cada coisa, e esse pouco é aparência.
120. Também o poeta é imitador, e como tal não entende nada do Ser, mas das
aparências. Os poetas não prestam nenhum serviço à cidade, nem sequer
como educadores, pois, quando falam de virtude ou de qualquer outro
Búsqueda de la causa del dolor: el
assunto, somente imitam as aparências, e por isso não são dignos de
elogio. Mas o perigo está em que o imitador imita, quase sempre, o que lhe
parece belo ao vulgo.
121. Além disso, as imitações exploram a fragilidade de nossa natureza e nos
fazem ver as coisas diferentes de como são. A defesa contra esta ilusão
reside na parte razoável do homem, que mede, calcula e pesa. Desta forma,
FILOSOFIA PARA VIVER anexo 02 - página 14 de 15

a imitação, vil em si e em relação com uma parte vil, somente pode criar
coisas vis.
122. O caráter irascível se presta a imitações, porém não o meditativo, que é
difícil de imitar e de compreender, sobretudo pelo vulgo, que está sempre
disposto a festas e teatros.
123. O maior mal da tragédia é que corrompe os homens honestos. Na tragédia,
nos compadecemos da dor que trataríamos de evitar em nós mesmos.
Portanto, nossa parte emocional se satisfaz com a desgraça alheia, alimen-
tando-se negativamente. Depois será difícil controlá-la. O mesmo sucede
com a comédia.
124. Quanto aos prazeres do amor, cólera e outras paixões, a imitação alimenta
o que deveria enfraquecer, e delega o governo à parte da alma que deveria
ser governada.

125. Somente se admitirá a poesia na cidade quando se demonstrar que une o


útil com o agradável. Toda coisa tem um bem e um mal, sendo o mal tudo o
que destrói e corrompe, e bem tudo o que conserva e torna útil. Cada coisa
é destruída por seu mal intrínseco; porém, se esse mal não a destrói, já
nada poderá corrompê-la. A alma se vê afetada por males: injustiça, intem-
perança, covardia, ignorância, porém ninguém consegue destruí-la.

126. Se o mal próprio da alma, a injustiça, pudesse destruí-la, veríamos morrer


primeiramente os injustos e depois os justos. Porém, o mais frequente é que
a injustiça mantenha vivos os injustos para matar os outros; e se o injusto
morre, será no momento em que se lhe aplique a justiça. Logo a alma é
imortal, pois não perece nem por seu próprio mal nem pelos alheios.
127. Para compreender a verdadeira natureza da alma, não devemos considerá-
la degradada por sua aliança com o corpo nem pelos males que a afetam.
Vejamos tal como é em estado de pureza. Analisemos seu amor pelo saber
e a que coisas se dirige por seu parentesco com o divino, deixando de lado
os acidentes e formas de que a vida humana se reveste.
128. Além da recompensa que a justiça encerra em si mesma, os homens e os
deuses reconhecem outras aqui e no mais além.
129. Em suma, o justo é reconhecido e amado pelos deuses, aos quais trata de
se assemelhar. Assim, a única coisa que receberá deles serão benesses,
mesmo em forma de males necessários por faltas cometidas anteriormente.

130. Quanto às recompensas por parte dos homens, chega um momento no fim
da vida do justo em que suas ações são reconhecidas e cumuladas de
honras. Os injustos, embora a princípio possam dissimular, terminam por ser
desmascarados, e devem retirar-se humilhados e envergonhados.
131. Quando se refere às recompensas para o justo e o injusto depois da morte,
Platão conta O Mito de Er, que foi quem teve oportunidade de observar em
que consistiam Búsqueda
os castigos
de elaoscausa
prêmios dos Juízes
del dolor: el Divinos, retornando
logo à vida terrena.
FILOSOFIA PARA VIVER anexo 02 - página 15 de 15

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