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Campo Grande | MS

2023

ORGANIZADORES
Marcia Naomi Santos Higashijima
Wellington Rodrigues de Almeida
Michele Scarpin Ramos
GOVERNADOR
EDUARDO CORRÊA RIEDEL

VICE-GOVERNADOR
JOSÉ CARLOS BARBOSA

SECRETÁRIO DE ESTADO DE SAÚDE


MAURÍCIO SIMÕES CORRÊA

SECRETÁRIA ADJUNTA DE ESTADO DE SAÚDE


CRHISTINNE CAVALHEIRO MAYMONE GONÇALVES

DIRETOR-GERAL DE GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO NA SAÚDE


ANDRÉ VINICIUS BATISTA DE ASSIS

DIRETOR ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DR. JORGE DAVID NASSER


ANDRÉ VINICIUS BATISTA DE ASSIS

GERÊNCIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM GESTÃO E ATENÇÃO À SAÚDE (GEPAS)


MARCIA NAOMI SANTOS HIGASHIJIMA

EQUIPE GEPAS
RODRIGO RODRIGUES DE MELO
TÂNIA RUTH ORTIZ PEREIRA
DANIELA REIS DA COSTA HERTER

Autores
Deisy Helloise de Macedo Penze
Flávio Arce da Silva
Wellington Rodrigues de Almeida
Marcia Naomi Santos Higashijima

Revisão
Wellington Rodrigues de Almeida

Revisão Final
Marcia Naomi Santos Higashijima

Diagramação
Breda Naia Maciel Aguiar
Otávio de Oliveira Guimarães

Administração Moodle
Marcia Naomi Santos Higashijima
Wellington Rodrigues de Almeida
Sumário

CAPÍTULO I

A SAÚDE MENTAL COMO POLÍTICA PÚBLICA .................................................6

Parte I: Reforma Psiquiátrica.............................................................................7

Parte II: Política Pública de Saúde Mental.................................................10

Parte III: Rede de Atenção Psicossocial......................................................14

Parte IV: Pontos de Atenção da RAPS e suas Atribuições...................16

CAPÍTULO II

CONSTITUIÇÕES DOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ...............21

Parte I: Território...................................................................................................22

Parte II: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)............................23

Parte III: Manejo das Situações de Crise....................................................32

CAPÍTULO III

FERRAMENTAS ESTRATÉGICAS PARA O CUIDADO ....................................38

Parte I: Acolhimento...........................................................................................39

Parte II: Clínica Ampliada.................................................................................45

Parte III: Matriciamento....................................................................................48

Parte IV: Projeto Terapêutico Singular........................................................50

Parte V: Visita Domiciliar..................................................................................54

Parte VI: Articulação Inter e Intrasetorial..................................................56

Parte VII: Oficinas Terapêuticas.....................................................................58

Parte VIII: Sistema de Registro das Ações


Ambulatoriais de Saúde....................................................................................60
Apresentação

Desde a publicação da Lei nº 10.216/2001 estados e municípios se mobi-


lizam para a mudança do modelo assistencial previsto, procurando im-
plantar serviços e organizar ações a partir das normativas propostas pelo
Ministério da Saúde por meio da Portaria nº 3.088/2011.

A Rede de Atenção Psicossocial é uma poderosa estratégia para realmen-


te redirecionar o modelo assistencial em saúde mental e efetivar o que foi
proposto pelo movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira com servi-
ços de base territorial.

Nesse sentido, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é o ponto estraté-


gico habilitado para prestar o cuidado em atenção psicossocial para pes-
soas com transtorno mental grave e persistente e seus familiares, bus-
cando preservar a cidadania da pessoa, o tratamento no território e seus
vínculos sociais.

Para que o CAPS possa acontecer na sua totalidade, é primordial que os


trabalhadores nele inseridos sejam qualificados e entendam seu papel,
as atribuições do serviço e, a Escola de Saúde Pública Dr. Jorge David
Nasser tem um papel fundamental na formação desses trabalhadores
do Sistema Único de Saúde, com planejamento metodológico, toman-
do como referência as necessidades e a realidade de saúde do territó-
rio, transformando as práticas e a organização do trabalho em saúde, por
meio da reflexão crítica desses profissionais quanto a seus processos co-
tidianos de trabalho.

A oferta do Curso CAPS - Cuidado em Ação, que resultou neste e-book,


traz como proposta uma reflexão sobre as práticas de cuidado desenvol-
vidas nos CAPS, propondo para o trabalhador do SUS um olhar para o
cuidado ofertado atualmente, mas também mostrando estratégias e fer-
ramentas a serem realizadas no serviço visando a melhoria dos processos
de trabalho, fortalecendo o atendimento à população.

Aproveitem este material como ferramenta de trabalho.

Michele Scarpin Ramos


Coordenadora das Redes de Atenção à Saúde
Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul
Capítulo I

A SAÚDE MENTAL
COMO POLÍTICA
PÚBLICA

Deisy Helloise de Macedo Penze


Wellington Rodrigues de Almeida
Marcia Naomi Santos Higashijima
PARTE I
REFORMA PSIQUIÁTRICA

Para a construção da Reforma Psiquiátrica foram necessários muitos


anos de transformações a respeito do conceito de hospital e do próprio
entendimento em torno do transtorno mental. Percorrendo brevemente
pela trajetória desta evolução é importante levar em consideração que
a própria instituição hospitalar passou por várias transformações no seu
papel e função diante da sociedade, como por exemplo, no princípio o
Hospital foi criado como instituição de caridade para abrigar pessoas po-
bres, mendigos, doentes, onde poderiam receber alimentação, cuidados
de saúde e religiosos, posteriormente passou a ter um papel social e polí-
tico, onde as autoridades reais e judiciárias determinavam quais indivídu-
os seriam internados, com o principal interesse de fazer o controle social,
separando e retirando do convívio em sociedade todo indivíduo que in-
terferisse na ordem social (AMARANTE, 2007).

Foi a partir de 1656 que começaram a surgir os primeiros movimentos


de humanização nos Hospitais, por um grupo de médicos franceses que
identificavam muitas internações que aconteciam de forma autoritária e
repressiva, e deram início a práticas que foram desde a liberação de inter-
nos que ali estavam devido abuso de autoridade, como a criação de orfa-
natos, escolas, centros de reabilitação e centros de correção (AMARANTE,
2007).

Assim, os hospitais passaram a ter um novo papel, o de tratar en-


fermos e ter os critérios de internações estabelecidos por médicos
(AMARANTE, 2007).

7
Capítulo I • A saúde mental como política pública

Assim como o Hospital, o conceito de saúde mental também passou por


várias transformações para chegarmos até a definição de Transtornos
Mentais. A loucura e os loucos que antes eram vistos como manifestações
dos deuses ou demônios, feitiços... nos anos de 1793 passaram a ser vistos
como alienados, ou seja, fora de si, da razão, da realidade.

Neste momento, o médico francês Philippe


Pinel inicia a proposta de tratamento asilar, de
isolamento total destes indivíduos nos hospi-
tais por entender que a causa do adoecimento
dessas pessoas estava em seu meio social, fa-
miliar e desta forma além de promover a cura
por afastá-los daquilo que os adoeceria, seria
possível também observar e estudar a doença
em tempo integral, adquirindo aprendizado
sobre a mesma (AMARANTE, 2007).
https://www.britannica.com/biography/Philippe-Pinel

Assim como as tecnologias, o próximo grande avanço no modelo de psi-


quiatria ocorreu com a Segunda Guerra Mundial, pois estas instituições
asilares, consideradas como inovadoras na época, passaram a ser obser-
vadas e questionadas pela sociedade por identificarem semelhanças nas
condições de vida oferecidas ali como nas dos campos de concentração,
com absoluta ausência de dignidade humana (AMARANTE, 2007).

Foi neste momento que diversos países começaram a repensar seus


modelos de psiquiatria. Médicos da Inglaterra, começaram a apresentar
modelos de Grupos Operativos após utilizarem o potencial dos próprios
pacientes em seus tratamentos, por meio de reuniões para discutir pla-
nos e projetos, como uma medida para lidar com o considerável aumento
do número de pacientes devido aos danos psicológicos causados pela
guerra.

8
Capítulo I • A saúde mental como política pública

Os Estados Unidos, por sua vez, introduziram


o conceito de Psiquiatria Preventiva com a
proposta de desinstitucionalização, um con-
junto de medidas para reduzir o número de
pacientes internados, o tempo de duração
das mesmas e garantir o tratamento desses
pacientes após a alta hospitalar com o intui-
to de evitar a reinternação, criando assim os
Centros de Saúde Mental (AMARANTE, 2007).

A Reforma Psiquiátrica brasileira teve a


Itália como espelho, onde na década de 70
o psiquiatra Franco Basaglia criou como
medidas sociais os Centros de Saúde
Mental, que foram inseridos como serviços
substitutivos aos hospitais psiquiátricos.
A proposta era tornar os hospitais como
recurso restrito apenas para os casos de
transtornos mentais considerados graves,
e aqueles que comprovadamente não se-
ria possível tratar em liberdade; distribuin-
do esses Centros de Saúde Mental em
regiões estratégicas para que pudessem
assumir de forma integral as questões rela-
cionadas à saúde mental de cada território
(AMARANTE, 2007).

Imagem: https://blog.cenatcursos.com.br/franco-basaglia/

9
PARTE II
POLÍTICA PÚBLICA DE
SAÚDE MENTAL

MANUELA CASTRO entrevista pessoas


que estiveram na Colônia, hospital psi-
quiátrico de Barbacena, considerado
como o Holocausto Brasileiro.

ASSISTA AQUI

ou a ce sse o GR Cod e

Podemos dizer que a Reforma Psiquiátrica é uma consequência natural


da transformação e evolução da própria ciência, onde o indivíduo passa a
ser visto como primeiro plano ao invés da doença. No Brasil, foi em 1978
que os movimentos sociais em prol dos direitos dos pacientes psiquiá-
tricos ficaram mais efetivos, como denúncias de violências nos manicô-
mios, críticas ao modelo hospitalocêntrico, a comercialização da loucura.
Estes movimentos foram organizados por associações de profissionais,
familiares e pessoas com longo histórico de internações (BRASIL, 2005).

Estas ações se fortaleceram junta-


mente com o II Congresso Nacional do
MTSM (Movimento dos Trabalhadores
em Saúde Mental) no ano de 1987, com
o surgimento das primeiras propostas
e ações para reorientação da assistên-
cia em saúde mental (BRASIL, 2005).

Imagem: https://laps.ensp.fiocruz.br/linha-do-tempo/61

10
Capítulo I • A saúde mental como política pública

DUAS DÉCADAS DE REFORMA PSIQUIÁTRICA NO SUS


Por: André Antunes (EPSJV/Fiocruz)

C L IQ U E AQUI

ou a ce sse o GR Code

Em 1989, a cidade de Santos – SP foi a primeira a estruturar suas prá-


ticas de intervenção para desinstitucionalização nos hospitais psiqui-
átricos, baseados no modelo seguido pela Itália, criando os Núcleos de
Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionavam 24 horas por dia. A prática
foi tão exitosa que se tornou um marco nacional da Reforma Psiquiátrica
no Brasil, por demonstrar na prática o quanto a Reforma Psiquiátrica era
possível de ser alcançada (BRASIL, 2005).

A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 1988, teve um


papel fundamental nesta experiência, haja vista que o processo da
Reforma se caracteriza por ações dos governos federal, estadual e
municipal para o redirecionamento ao modelo de atenção comuni-
tário (BRASIL, 2005).

11
Capítulo I • A saúde mental como política pública

O projeto de lei para a Reforma Psiquiátrica foi proposto em 1989 pelo


deputado de Minas Gerais, Paulo Delgado, contudo a mesma só foi san-
cionada 12 anos depois, visando regulamentar os direitos da pessoa com
transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios, direcio-
nando a assistência em saúde mental em serviços de base comunitária,
com a Lei nº 10.216/2001.

Foi por meio desta lei que linhas de financiamento foram criadas pelo
Ministério da Saúde para a criação de uma rede integrada de atenção à
saúde substitutiva ao modelo centrado na internação hospitalar, e garan-
tir a fiscalização e redução progressiva e programada dos leitos psiquiá-
tricos (BRASIL, 2005).

O processo de desinstitucionalização como política pública ficou ainda


mais fortalecido com a implementação de ações, como:

• A CRIAÇÃO DO PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA, que proporcio-


na subsídio para reintegração social do usuário;

• As RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS que facilitam garantia dos direitos


de morar e de circular nos espaços da cidade e da comunidade;

• A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS para questão de álcool e drogas,


bem como ESTRATÉGIAS de redução de danos (BRASIL, 2005).

SAI BA M AI S
CLI QUE AQUI

ou acesse o GR Code

12
Capítulo I • A saúde mental como política pública

Todo conjunto de transformações e inovações contribuem para a cons-


trução de uma nova perspectiva social em relação aos transtornos men-
tais e aos sujeitos em sofrimento, que não seja de rejeição ou tolerância,
mas de reciprocidade e solidariedade. Desta forma, a Lei nº 10.216/2001
promove a garantia de direito e de proteção das pessoas acometidas de
transtorno mental de qualquer tipo de discriminação, a ser tratada com
humanidade e respeito, visando alcançar sua recuperação pela inserção
na família, trabalho e comunidade, ao direito de livre acesso a socieda-
de, a assistência médica, aos veículos de comunicação, aos tratamentos
menos invasivos possíveis.

VOCÊ SABIA?

A obra literária brasileira “O Alienista”, de Machado de


Assis, é uma crítica ao modelo de hospital psiquiátrico.
Nela, você pode encontrar pontos que fazem menção
ao Hospital Psiquiátrico Pedro II (primeiro hospício bra-
sileiro) e ao debate sobre a normalidade/anormalidade,
a mensagem de como a ciência é produtora de verdade
e sobre o mito da neutralidade científica (AMARANTE,
2007; ASSIS, 1882).

Imagem: https://www.antofagica.com.br/produto/o-alienista/

13
PARTE III
REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

Com o objetivo de fortalecer um modelo de atenção aberto e de base co-


munitária foram sendo instituídos decretos e portarias, que garantissem
o direito de ir e vir das pessoas com sofrimento ou transtornos mentais e
com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Assim,
surge a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), um conjunto de diferentes
serviços disponíveis nas cidades e comunidades, que articulados formam
uma rede, devendo ser capaz de cuidar dessas pessoas em sofrimento
mental, bem como a seus familiares, nas suas diferentes necessidades.

Conheça como é
composta a RAPS:
Rede Atenção
Psicossocial

CLI QUE AQUI

ou acesse o GR Cod e

A RAPS teve seu início com a criação da Portaria nº 3.088, de 23 de dezem-


bro de 2011, e tem como finalidade a criação, ampliação e articulação de
pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras
drogas, no âmbito do SUS. Tem como objetivos gerais:

14
Capítulo I • A saúde mental como política pública

• AMPLIAÇÃO DO ACESSO à atenção psicossocial da população em


geral;

• Promoção da VINCULAÇÃO das pessoas com transtornos mentais e


com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras dro-
gas e de suas famílias aos PONTOS DE ATENÇÃO;

• Garantia da articulação e a integração dos pontos de atenção das


redes de saúde do território, qualificando o cuidado por meio do
ACOLHIMENTO, do acompanhamento contínuo e da atenção às
urgências.

SIGNIFICADO: O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma pos-


tura ética: não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, impli-
ca compartilhamento de saberes, angústias e invenções, tomando para si a
responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em suas demandas, com
responsabilidade e resolutividade sinalizada pelo caso em questão.
O acolhimento no campo da saúde deve ser entendido, ao mesmo tempo,
como diretriz ética-estética-política constitutiva dos modos de se produzir
saúde e ferramenta tecnológica de intervenção na qualificação de escuta,
construção de vínculo, garantia do acesso com responsabilização e resoluti-
vidade nos serviços.
O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde, de
forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus
pedidos e assumindo no serviço uma postura capaz de acolher, escutar e dar
respostas mais adequadas aos usuários. Ou seja, requer prestar um aten-
dimento com resolutividade e responsabilização, orientando, quando for o
caso, o usuário e a família em relação a outros serviços de saúde, para a con-
tinuidade da assistência, e estabelecendo articulações com esses serviços,
para garantir a eficácia desses encaminhamentos.
O que difere da Triagem, que é a separação, escolha, seleção, ou seja, um
funcionário da unidade ouve a queixa do usuário e seleciona para qual pro-
fissional da unidade ele irá encaminhá-lo enquanto que acolhimento é a
humanização dos serviços de saúde.

Fonte: aps-repo.bvs.br

C L IQU E AQ U I

ou a ce sse o GR Code

15
PARTE IV
PONTOS DE ATENÇÃO DA RAPS
E SUAS ATRIBUIÇÕES

No Brasil as práticas da Atenção Básica (AB) têm sido organizadas com


enfoque na descentralização para promover mudanças no modelo de
atenção centrado na doença e hospital. Desta forma, é importante a com-
preensão de que a saúde mental não é um elemento à parte da saúde
geral, suas demandas aparecem nos diversos serviços de saúde, cabendo
a todo profissional identificar e intervir dentro das possibilidades (SILVA,
2016).

Conheça os componentes e pontos de atenção da RAPS (BRASIL, 2017):

COMPONENTE | ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE

PONTOS DE ATENÇÃO

• Unidade Básica de Saúde.

• Equipes de atenção Básica para populações em Situações


Específicas (Consultório na Rua e Equipe de Apoio aos Serviços
do Componente Atenção Residencial de Caráter Transitório.

• Núcleo de Apoio à Família.

Buscando a integralidade das ações os pontos de atenção devem se or-


ganizar pela AB, buscando a ampliação do cuidado comunitário em ter-
ritório, articulando os profissionais de saúde mental com as equipes da
Estratégia Saúde da Família (ESF) e Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), priorizando a promoção de saúde, vínculo e responsabilização do
indivíduo, promoção da cidadania, dentre outros.

Apesar de ter sido revogado pela Nota


Técnica nº 03/2020 do Ministério da
Saúde, centenas de municípios man-
tiveram suas equipes e o trabalho do
NASF, considerando a sua importância
para o cuidado integral em saúde.

16
Capítulo I • A saúde mental como política pública

COMPONENTE | ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

PONTOS DE ATENÇÃO

• CAPS I • CAPS AD

• CAPS II • CAPS AD III

• CAPS III • CAPS i

A Atenção Psicossocial, através dos Centros de Atenção Psicossocial


(CAPS), emerge como serviço de referência para casos graves, e que ne-
cessitem de cuidados mais intensivos e/ou de reinserção psicossocial que
ultrapassem os cuidados prestados pela ESF e NASF.

COMPONENTE | ATENÇÃO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

PONTOS DE ATENÇÃO

• Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

• Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

• Sala de Estabilização.

• Portas Hospitalares de Atenção à Urgência / Pronto-Socorro.

A Atenção de Urgência e Emergência fica como responsável pelo aco-


lhimento, classificação de risco e cuidado nas situações de urgência e
emergência (GARCIA; REIS, 2018)

17
Capítulo I • A saúde mental como política pública

COMPONENTE | ATENÇÃO RESIDENCIAL DE CARÁTER TRANSITÓRIO

PONTOS DE ATENÇÃO

• Unidade de Acolhimento Adulto.

• Unidade de Acolhimento Infanto-juvenil.

• Serviço de Atenção em Regime Residencial.

A Atenção Residencial de Caráter Transitório, como unidades de aco-


lhimento, oferece cuidados contínuos de saúde para indivíduos que
apresentam acentuada vulnerabilidade social e/ou familiar e demandam
acompanhamento terapêutico e protetivo de caráter transitório.

COMPONENTE | ATENÇÃO HOSPITALAR

PONTOS DE ATENÇÃO

• Leitos de psiquiatria em Hospital Geral.

• Serviço Hospitalar de Referência.

A Atenção Hospitalar, como os leitos de saúde mental em hospital geral


e o serviço hospitalar de referência, oferta internações de curta duração,
com equipe multiprofissional, devendo acolher os usuários em articula-
ção com os CAPS e outros serviços da RAPS para construção do Projeto
Terapêutico Singular (PTS) (GARCIA; REIS, 2018)

18
Capítulo I • A saúde mental como política pública

COMPONENTE | ESTRATÉGIAS DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO

PONTOS DE ATENÇÃO

• Serviço Residencial Terapêutico.

• Programa de Volta para Casa.

As Estratégias de Desinstitucionalização visam garantir às pessoas em


situação de internação de longa permanência o cuidado integral por
meio de estratégias substitutivas, na perspectiva da garantia de direitos
com a promoção de autonomia e o exercício de cidadania, buscando sua
progressiva inclusão social.

COMPONENTE | ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

PONTOS DE ATENÇÃO

• Cooperativas Sociais, Empreendimentos Solidários e Iniciativas


de trabalho e Renda.

As Estratégias de Reabilitação Psicossocial são iniciativas de trabalho e


geração de renda, assim como empreendimentos solidários e cooperati-
vas sociais, tendo como objetivos a defesa da inclusão da reabilitação em
políticas públicas e o atendimento integral mediante ações de preven-
ção, promoção e reabilitação (GARCIA; REIS, 2018).

19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARANTE, Paulo. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de janeiro:


Editora Fiocruz, 2007.

BRASIL. Lei nº 10.216, de 3 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os


direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o
modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União, Brasília
(DF), ano CXXXIX, n. 69-E, seção 1, pág. 02, 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE.


Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e políti-
ca de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência
Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de
Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

Ministério da Saúde. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui


a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou trans-
torno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e
outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, ano CXLVIII, n. 251, seção 1, pág. 59-60, 30/12/2011.

BRASIL. Portaria de Consolidação nº 3, de 28 de setembro de 2017.


Consolidação das normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, seção 1, 2017.

GARCIA, P.; T.; REIS, R. S. (Org.). Redes de atenção à saúde: Rede de


Atenção Psicossocial – RAPS. Universidade Federal do Maranhão. São
Luís, MA. EDUFMA, 2018.

SILVA, T. A. O processo de construção da rede de atenção psicosso-


cial em uma região de saúde do Estado de São Paulo. Dissertação
(mestrado) – Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da
Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Saúde
de São Paulo. São Paulo, 2015.

20
Capítulo II

CONSTITUIÇÃO
DOS CENTROS DE
ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL

Deisy Helloise de Macedo Penze


Flávio Arce da Silva
Wellington Rodrigues de Almeida
Marcia Naomi Santos Higashijima
PARTE I
TERRITÓRIO

Apenas criar e ampliar serviços de saúde não é o suficiente, pois a REDE


existe quando acontece a integração e articulação dos serviços entre si
e com outras instituições, como associações, cooperativas, centro comu-
nitários, dentre tantos espaços do território, com o objetivo comum de
promover a autonomia das pessoas com transtornos mentais (BRASIL,
2004).

Desta forma, para a construção e atuação do atendimento comunitário


proposto pela Reforma Psiquiátrica é necessário compreender que o ter-
mo território não se define apenas pela localização geográfica, mas pe-
las pessoas, famílias e os infinitos cenários com as quais se relacionam,
as amizades, escola, trabalho, serviços de saúde, espaços culturais,
religiosos, lazer e outros. Assim, trabalhar no território significa ter a ca-
pacidade de organizar a rede comunitária em um objetivo comum com
a finalidade de planejar e organizar as soluções de forma conjunta, utili-
zando todos os saberes e recursos disponíveis da comunidade (BRASIL,
2004).

22
PARTE II
OS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL (CAPS)

Na Rede de Atenção Psicossocial os CAPS são os protagonistas devido


ao seu valor estratégico. Este serviço tem como finalidade ser o dispo-
sitivo de saúde substitutivo dos hospitais psiquiátricos do país, tor-
nando-se os principais responsáveis por articular a rede e as políticas de
saúde mental nos municípios, trabalhando em conjunto com as equipes
de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde, a fim de oferecer
acolhimento e atenção às pessoas com transtorno mentais, preservando
e fortalecendo seus laços sociais e produzir autonomia e protagonismo
destes em seu próprio tratamento (BRASIL, 2011).

O CAPS se configura como um espaço de referência em serviços de


saúde, de “portas abertas” e comunitário, sendo constituído pela equipe
multiprofissional que realiza prioritariamente o atendimento às pessoas
com sofrimento ou transtornos mentais graves e persistentes, incluindo
aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas
(BRASIL, 2012).

O CAPS é um serviço de referência para casos graves, que necessitem


de cuidados mais intensivos, e/ou de reinserção psicossocial, pacientes
egressos de internação psiquiátrica, e que ultrapassem as possibilidades
de intervenção conjunta das equipes de ESF e NASF.

Pessoas que buscam o CAPS por demanda espontânea devem


ser acolhidas e avaliadas pela equipe, e os casos que não tiverem
necessidade de acompanhamento neste serviço devem ser redi-
recionados para as equipes de Saúde da Família de referência,
preferencialmente por meio de contato telefônico do profissio-
nal do CAPS com o profissional da Unidade Básica ou do NASF.

23
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

A composição mínima das equipes que integram o CAPS varia de acordo


com a modalidade do serviço, sendo classificados em (BRASIL, 2014):

• CAPS I • CAPS AD (Álcool e Drogas)

• CAPS II • CAPS AD III

• CAPS III • CAPS AD IV

• CAPS i (infanto-juvenil)

Veja a classificação quanto às modalidades dos CAPS, seus critérios po-


pulacionais, modo de funcionamento e equipe mínima (BRASIL, 2014):

CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

CAPS I
CRITÉRIO POPULACIONAL

• Acima de 15 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 08h às 18h

• 02 turnos

• 05 dias úteis por semana

EQUIPE MÍNIMA

• 1 médico com formação em saúde mental;

• 1 enfermeiro;

• 3 profissionais de ensino superior: psicólogo, assistente social, te-


rapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário
ao projeto terapêutico;

• 4 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enferma-


gem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

24
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

CAPS II
CRITÉRIO POPULACIONAL

• Acima de 70 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 08h às 18h

• 02 turnos

• 05 dias úteis por semana, podendo comportar um terceiro turno


até às 21h

EQUIPE MÍNIMA

• 1 médico psiquiatra;

• 1 enfermeiro com formação em saúde mental;

• 4 profissionais de ensino superior: psicólogo, assistente social, te-


rapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário
ao projeto terapêutico;

• 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enferma-


gem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

CAPS III
CRITÉRIO POPULACIONAL

• Acima de 150 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 24h

• 04 turnos

• 07 dias por semana, incluindo feriados e finais de semana

EQUIPE MÍNIMA

• 2 médicos psiquiatras;

• 1 enfermeiro com formação em saúde mental;

25
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

• 5 profissionais de ensino superior: psicólogo, assistente social, terapeu-


ta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto
terapêutico;

• 8 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem,


técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

CAPS AD
CRITÉRIO POPULACIONAL

• Acima de 70 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 08h às 18h

• 02 turnos

• 05 dias úteis por semana, podendo comportar um terceiro turno


até às 21h

EQUIPE MÍNIMA

• 1 médico clínico;

• 1 médico psiquiatra;

• 1 enfermeiro com formação em saúde mental;

• 4 profissionais de ensino superior: psicólogo, assistente social, te-


rapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário
ao projeto terapêutico;

• 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enferma-


gem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

26
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

CAPS AD III
CRITÉRIO POPULACIONAL

• 200 a 300 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 24h

• 04 turnos

• 07 dias por semana, incluindo feriados e finais de semana, ofer-


tando retaguarda clínica e acolhimento noturno

EQUIPE MÍNIMA

• 1 médico clínico;

• 1 médico psiquiatra;

• 1 enfermeiro com experiência ou formação em saúde mental;

• 5 profissionais de ensino superior: psicólogo, assistente social,


terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional neces-
sário ao projeto terapêutico;

• 4 técnicos de enfermagem;

• 4 profissionais de nível médio;

• 1 profissional de nível médio para atividades administrativas;

Para acolhimento noturno, plantão de 12h, a equipe mínima fi-


cará acrescida de:

• 1 profissional de ensino superior, preferencialmente enfermeiro;

• 2 técnicos de enfermagem, sob supervisão do enfermeiro;

• 1 profissional de nível fundamental ou médio para atividades


administrativas;

Para o período diurno aos finais de semana e feriados, a equipe


mínima será de:

• 1 enfermeiro;

• 3 técnicos de enfermagem, sob a supervisão do enfermeiro;

• 1 profissional de nível fundamental ou médio para atividades


administrativas.

27
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

CAPS AD IV
CRITÉRIO POPULACIONAL

• Acima de 500 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 24h

• 04 turnos

• 07 dias por semana, incluindo feriados e finais de semana, ofer-


tando leitos e acolhimento noturno

EQUIPE MÍNIMA

• Profissional de nível médio para a realização de atividades de


natureza administrativa, cobertura 24 horas por dia.

Turno Diurno:

• 1 médico clínico (diarista);

• 2 médicos psiquiatras (um diarista e um plantonista 12h);

• 2 enfermeiros com experiência e/ou formação na área de saúde


mental (plantonistas 12h);

• 6 profissionais de nível universitário pertencentes às categorias


profissionais (diaristas) de psicólogo, assistente social, terapeuta
ocupacional e educador físico;

• 6 técnicos de enfermagem (plantonistas 12h);

• 4 profissionais de nível médio.

Turno Noturno:

• 1 médico psiquiatra (plantonista 12h);

• 1 enfermeiro com experiência e/ou formação na área de saúde


mental (plantonista 12h);

• 5 técnicos de enfermagem (plantonistas 12h).

28
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

CAPS i
CRITÉRIO POPULACIONAL

• Acima de 70 mil habitantes

FUNCIONAMENTO

• 08h às 18h

• 02 turnos

• 05 dias úteis por semana, podendo comportar um terceiro tur-


no até às 21h

• EQUIPE MÍNIMA

• 1 médico psiquiatra ou neurologista ou pediatra com formação


em saúde mental;

• 1 enfermeiro;

• 4 profissionais de ensino superior: psicólogo, assistente social,


terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional neces-
sário ao projeto terapêutico;

• 5 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enferma-


gem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.

PARA FIXAR o conteúdo apresenta-


do, assista o vídeo sobre o Centro
de Atenção Psicossocial:

ASSISTA AQUI

ou a ce sse o GR Cod e

29
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

De acordo com Garcia e Reis (2018), os transtornos mais prevalentes no


Brasil e diagnosticados na RAPS, são:

• Transtornos de ansiedade (generalizada e síndrome do pânico);

• Transtornos depressivos (episódio ou fase depressiva, transtorno de-


pressivo recorrente, distimia, depressão atípica, depressão tipo me-
lancólica ou endógena, depressão psicótica, etc.);

• Transtorno Afetivo Bipolar;

• Transtorno Obsessivo-Compulsivo;

• Esquizofrenia;

• Transtornos relacionados ao uso de substâncias (álcool, cocaína,


anfetaminas, crack, etc.).

O tratamento dos pacientes no CAPS é definido em três moda-


lidades (BRASIL, 2004):

INTENSIVO para os pacientes que necessitam de acompanha-


mento diário; quando se encontra em grave sofrimento psíquico,
situação de crise ou dificuldades intensas no convívio social e fa-
miliar. Se necessário, o tratamento poderá ser domiciliar.

SEMI-INTENSIVO para aqueles que necessitam de acompanha-


mento frequente, mas que já apresenta melhora nos relaciona-
mentos e no aspecto clínico. O usuário pode ser atendido até 12
dias no mês (3 vezes por semana, por exemplo).

NÃO INTENSIVO é destinado aos pacientes que não necessitam


de um suporte contínuo para desenvolver suas atividades no ter-
ritório. Podem ser atendidos até três dias do mês, considerados
casos estabilizados.

30
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

Dentre as possibilidades de tratamento es-


tão: as oficinas terapêuticas, tratamento
medicamentoso, atendimento em grupo
aos pacientes e/ou familiares, atendimen-
to individualizado ao paciente e/ou familiar,
orientações, psicoterapia, atividades comu-
nitárias, atividades de suporte social, oficinas
culturais, visitas domiciliares e desintoxica-
ção ambulatorial (BRASIL, 2004). É preciso
ressaltar que o CAPS é um serviço de base
territorial e comunitária, portanto, suas ati-
vidades são desenvolvidas prioritariamente
em espaços coletivos, articuladas com ou-
tros pontos de atenção da rede de saúde e
outras redes (BRASIL, 2011).

A inserção do usuário em alguma atividade terapêutica ocorre após a


elaboração conjunta do PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR (PTS).
Nesse processo de construção de hipótese diagnóstica, definição de
metas, reavaliações, há uma figura muito importante: o TÉCNICO DE
REFERÊNCIA (TR).

O TR é o responsável pelo acompanhamento do usuário, pelo contato


com a família e pela reavaliação das metas definidas durante o tratamen-
to, e tem como finalidade o estreitamento de vínculo, a fim de garantir
a continuidade do cuidado. É o profissional a quem o paciente ou sua
família irá recorrer em momentos de necessidade durante o tratamento.

Destaca-se que o TR não é o responsável pela execução de todas as


atividades previstas no PTS. Ele é o corresponsável, juntamente com
a equipe, para o planejamento, acompanhamento e avaliação do con-
junto de ações terapêuticas desenvolvidas no processo de reabilitação
psicossocial do usuário (SILVA, 2005; MANICA; TESSMER, 2007).

31
PARTE III
MANEJO DAS
SITUAÇÕES DE CRISE

Podemos compreender a crise como um


estado de desequilíbrio emocional, na
qual o indivíduo perde sua capacidade e
habilidades habituais de enfrentamento
(ESPINOSA, 2000).

As crises são eventos naturais da vida, faz parte do processo do


indivíduo em buscar equilíbrio em si e tudo que está à sua vol-
ta, desta forma, considera-se que as crises podem ter duas faces,
como algo positivo que facilite uma possibilidade de mudança,
de desenvolvimento; ou como algo negativo, que seria uma ma-
nifestação violenta desta quebra de equilíbrio, podendo afetar a
saúde mental e seu adoecimento (SILVA, 2013).

A forma como se lida com a crise é que pode ser um diferencial para que
este desfecho seja algo positivo ou negativo, pois quando a mesma é re-
solvida de forma satisfatória, pode proporcionar o desenvolvimento do
indivíduo, caso contrário pode se tornar um risco ao indivíduo, tornando-
-o mais vulnerável aos transtornos mentais (SÁ; WERLANG; PARANHOS,
2008). Nestes momentos é possível acontecer a perda de contato com a
realidade, manifestações de delírios, alucinações, fala e comportamentos
desorganizados, tentativas de suicídio, aumento considerável de ansieda-
de, gerando perturbação, sofrimento e vulnerabilidade, tornando o indiví-
duo disfuncional (SILVA, 2013).

32
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

É possível classificarmos as crises em três tipos (SILVA, 2013):

CRISE MATURATIVA: decorrentes de eventos do nosso próprio de-


senvolvimento humano, que vão exigindo mudanças de papéis,
como por exemplo, a passagem da fase infantil para a adolescên-
cia, que além de mudanças físicas requer desenvolvimento social,
atitudes e comportamentos.

CRISE SITUACIONAL: provém de eventos perturbadores que afe-


tam o equilíbrio psicológico, podendo gerar raiva, medo, culpa,
estresse, como por exemplo, morte de alguém querido, perda de
emprego e separação conjugal.

CRISES FORTUITAS: decorrentes de eventos acidentais, impre-


vistos, como acidentes de carro, incêndios, desastres, catástrofes,
provocando problemas emocionais, sendo aumento comum de
pânico, medo extremo, comportamento autodestrutivo.

Em intervenções de crises o objetivo central é apoiar o indivíduo a retor-


nar ao seu estado habitual de equilíbrio, voltando a ter condições para
enfrentar seus problemas. Assim, o vínculo entre equipe multiprofissio-
nal e paciente é um determinante imprescindível para alcançar o bom
manejo, e o despreparo dos profissionais para lidar com estes eventos
pode ser um dos principais elementos para ações violentas e repressivas,
sem fins terapêuticos.

33
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

Segundo Silva (2013), os elementos fundamentais para o manejo de crise


psiquiátrica são:

ESCUTA ATIVA: compreende-se por escutar o indivíduo, suas dores, seus


medos, queixas, identificando os riscos, vulnerabilidades, análise das ne-
cessidades imediatas. Assim, é necessário proporcionar um espaço se-
guro, acolhedor, respeitoso e humanizado no atendimento. Como cada
indivíduo é único, é fundamental a equipe compreender as particulari-
dades deste, para assim ter condições de pensar a melhor estratégia para
sua crise. Falhas na comunicação podem acarretar sentimento de inse-
gurança, medo, desconfiança, portanto, além de escuta ativa, manter um
diálogo claro e objetivo é fundamental.

OBSERVAR: condições físicas, expressão verbal e comportamental, rela-


ção com familiares e a equipe presente.

IDENTIFICAR: perda do controle do usuário sobre si mesmo, falta de crí-


tica quanto a seu estado psíquico, graus elevados de atividade deliran-
te-alucinatória e/ou desorganização do pensamento e comportamento,
elevação ou depressão excessiva de humor, ideação suicida severa e per-
sistente, ocorrência de episódios significativos de auto ou heteroagressi-
vidade, sobretudo com ameaça de repetição.

GARANTIR A AUTONOMIA: ter o usuário como princípio norteador do


cuidado, garantindo o respeito a singularidade, construindo o planeja-
mento juntamente com o mesmo e saindo da posição de saber o que é
melhor para ele.

CUIDADO COMPARTILHADO: o usuário em crise, mesmo encaminhado


ao CAPS ou a qualquer ponto da rede de urgência, continua pertencen-
te à área de abrangência de uma determinada equipe da Estratégia de
Saúde da Família, que é corresponsável por ele, precisando manter-se a
par de seu estado enquanto está em outro serviço, assumindo a parte
que lhe cabe no tratamento e após a alta (ZEFERINO; JEFERSON; ASSIS,
2015).

34
Capítulo II • Constituição dos Centros de Atenção Psicossocial

AVALIAÇÃO: o principal objetivo é avaliar os riscos que a crise submete o


indivíduo e a todos que o cercam, levando em conta elementos psíquicos,
físicos, econômicos e sociais. Aspectos importantes a serem considerados
neste momento são: a aceitação do indivíduo ao tratamento e a equipe, a
presença e disposição de familiares em apoiá-lo, se encontram-se fisica-
mente bem no momento, pois se o usuário não possui nenhuma rede de
apoio e apresenta resistência ao tratamento, por exemplo, está exposto a
maiores riscos, mesmo que esteja passando por uma crise menos grave.

PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR: nas crises deve ser ágil e flexível.


Ágil porque durante as crises demandam ações imediatas, flexível por-
que o tipo e grau das intervenções devem ser revistas diariamente, con-
forme evolução do caso (ZEFERINO; JEFERSON; ASSIS, 2015).

Para compreender mais sobre mane-


jo de crise, assista à VÍDEO-AULA de
Estratégias de avaliação ao Manejo
de Crise.

ASSISTA AQUI

ou a ce sse o GR Cod e

35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 336, de 19 de Fevereiro


de 2002. Estabelece que os Centros de Atenção Psicossocial poderão
constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e
CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abran-
gência populacional. Brasília, DF, 9 fev. 2002 .

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros
de atenção psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 3.088, de 23 de dezem-


bro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso
de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 130, de 26 de janeiro


de 2012. Redefine o Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras
Drogas 24h (CAPS AD III) e os respectivos incentivos financeiros. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 26 jan. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Núcleo de Apoio à
Saúde da Família: Volume 1. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

ESPINOSA, A. F. Psiquiatria: guia prático de enfermagem. Ed. McGraw-


Hill, 2000.

GARCIA, P. T.; REIS, R. S. (Org.). Redes de atenção à saúde: Rede de


Atenção Psicossocial – RAPS. São Luís/MA. EDUFMA, 2018.

36
MANICA, G.; TESSMER, L. Terapeuta de referência: uma visão referenciada
por profissionais da Saúde Mental. Psicol. hosp., São Paulo, v. 5, n. 2, p. 89-
111, 2007.

SÁ, S. D.; WERLANG, B. S. G.; PARANHOS, M. E. P. Intervenção em Crise.


Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, volume 4, número 1, 2008.

SILVA, C. H. Crise na Saúde Mental: Visão da Equipe Multiprofissional.


Trabalho de Conclusão de Curso [monografia]. UNIVATES - Centro
Universitário UNIVATES. Lajeado, 2013.

SILVA, M. B. B. E. Atenção psicossocial e gestão de populações: sobre os


discursos e as práticas em torno da responsabilidade no campo da saúde
mental. Physis: Revista de Saúde Coletiva, n. Physis, 2005 15(1), p. 127–150,
jan. 2005.

ZEFERINO, M.T.; Rodrigues, J.; ASSIS, J.T. (orgs.). Crise e Urgência em


Saúde Mental: o cuidado às pessoas em situações de crise e urgência
na perspectiva da atenção psicossocial. 4ª Edição – Florianópolis (SC):
Universidade Federal de Santa Catarina, 2015.

37
Capítulo III

FERRAMENTAS
ESTRATÉGICAS
PARA O CUIDADO

Flávio Arce Silva


Wellington Rodrigues de Almeida
Marcia Naomi Santos Higashijma
PARTE I
ACOLHIMENTO

O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH),


criada em 2003, e um dos eixos centrais do trabalho em saúde. Ocorre
em todo o processo de cuidado e, portanto, é considerado transver-
sal. Situa-se desde a entrada do usuário na unidade até a definição
da terapêutica ou encaminhamento responsável para outro ponto da
rede. O acolhimento NÃO é um local, espaço ou mais um serviço dentro
da unidade e não tem hora, nem profissional específico para realizá-lo. Ele
deve estar presente em todos os momentos, da ambiência ao primeiro
contato com algum profissional, independentemente do nível de forma-
ção acadêmica (BRASIL, 2009a; BRASIL 2010).

39
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

O acolhimento é um modo de operar processos de trabalho em saúde


e requer uma escuta qualificada, construção de vínculo, responsabili-
zação pelo cuidado, resolutividade e, se necessário, encaminhamen-
to seguro (BRASIL, 2010a).

O acolhimento se sustenta muito mais pela prática do que pelo discurso.


Assim, fazemos acolhimento quando disponibilizamos espaços de escu-
ta para a comunidade compartilhar os seus saberes e construir coletiva-
mente, na perspectiva da inclusão, um cuidado horizontal, corresponsa-
bilizando-se nesse processo.

Acolher implica em desenvolver uma postura, uma técnica e um proces-


so de trabalho. Postura por depender da atitude do trabalhador em es-
cutar e tratar como legítimas as necessidades dos usuários. Também por
considerar relações de escuta entre os profissionais em uma relação de-
mocrática que estimula a participação, autonomia e tomada de decisões
coletivas. Técnica porque instrumentaliza ações e procedimentos que
favorecem a escuta e a busca por soluções ou alternativas para os pro-
blemas apresentados (SCHEIBEL; FERREIRA, 2011; ROSSI; REINHEIMER,
2019).

E, por último, o acolhimento como forma de reorganizar os processos


de trabalho, uma vez que identifica os problemas e oferece respostas às
questões de organização do serviço, com vistas à garantia de acesso uni-
versal e a resolutividade dos problemas em saúde (SCHEIBEL; FERREIRA,
2011; ROSSI; REINHEIMER, 2019).

40
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

“Dona Margarida, 48 anos, procurou o CAPS para


atendimento psiquiátrico. Relatou episódios de cho-
ro, desânimo, insônia e irritação, e que se sentia só.
Atualmente está afastada do trabalho por proble-
mas de saúde e fica o dia todo sozinha, assistindo TV
ou dormindo. E como os filhos estão todos crescidos,
sente falta de ter alguém para conversar.

Durante o acolhimento individual Dona Margarida


relatou que gosta de fazer crochê e outros trabalhos
manuais. Também gostava de caminhar, porém pa-
rou, já que não se sente motivada a ir sozinha. No
acolhimento explicamos à Dona Margarida o perfil
dos pacientes atendidos pelo CAPS e que o caso dela
não se enquadrava no serviço, mas que merecia ser
cuidado.

Apresentamos as possibilidades de atividades em


grupo ofertadas pela sua ESF, como: grupos de pila-
tes, funcional e rodas de conversa em saúde mental.
Dona Margarida ficou animada. Desejou participar
de todos. Elaboramos um encaminhamento para a
equipe da unidade de Dona Margarida a fim de inse-
ri-la nas atividades. Por contato telefônico acionamos
a enfermeira responsável para informar sobre o caso
e enviamos uma foto do encaminhamento.

Também orientamos Dona Margarida a procurar o


Centro de Referência da Assistência Social (CRAS)
para se informar sobre o calendário de cursos dispo-
nibilizados pela unidade, uma vez que é recorrente
a oferta de cursos de artesanato, confeitaria, dentre
outros. Dona Margarida agradeceu muito pelo aten-
dimento. Estava empolgada com as propostas.”

41
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

Sobre o exemplo apresentado conseguimos observar que o acolhimento,


na modalidade individual, possibilitou a ampliação do olhar sobre a quei-
xa. De uma possível medicalização dos sintomas ampliou-se as possibili-
dades de tratamento. Através da escuta qualificada é possível identificar
as potencialidades e vulnerabilidades de Dona Margarida, que mesmo
não apresentando o perfil para atendimento no CAPS recebeu uma res-
posta positiva para sua demanda. E, que o encaminhamento não foi ape-
nas um procedimento burocrático, mas uma articulação entre os serviços
da rede. É necessária a responsabilidade do profissional na condução do
processo de cuidado de Dona Margarida, evidenciando a transversalida-
de do acolhimento.

O acolhimento além de ser uma diretriz, é também um dispositivo do


cuidado. Há alguns modelos de acolhimento (BRASIL, 2013):

O ACOLHIMENTO PELA EQUIPE DE REFERÊNCIA, em que um ou mais


profissionais realizam a primeira escuta e definem junto com o usuário as
propostas mais adequadas para suas necessidades;

A EQUIPE DE ACOLHIMENTO DO DIA, em que é selecionado um ou mais


profissionais para realizar o acolhimento da demanda espontânea, fican-
do a agenda exclusiva para isso. Os demais permanecem atendendo a
demanda programada e os casos agudos.

ACOLHIMENTO MISTO é realizado em unidades em que há mais de uma


equipe (equipe de referência do usuário e equipe de acolhimento do dia).
São definidas quantidades de usuários ou horários de acolhimento para
que cada enfermeiro acolha a demanda de sua área. Após a quantidade
ou o horário definido, fica estipulado um enfermeiro e um médico, sem
agendas prévias estabelecidas, para acolher a demanda espontânea de
todas as áreas referenciadas por ambas as equipes.

ACOLHIMENTO COLETIVO, que acontece no primeiro momento do dia


e da tarde na unidade, em que toda a equipe se reúne com os usuários
(demanda espontânea), faz-se a escuta coletiva, e apresenta o modo de
funcionamento da unidade, e de acordo com as demandas são direcio-
nados para orientações mais objetivas.

42
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

Conheça um pouco da experiência de acolhimento coletivo


vivenciada no município de Aracaju/SE, que possibilitou a re-
organização do processo de trabalho, extinguindo a distribui-
ção de senhas ou filas na unidade de saúde, e potencializou
o atendimento resolutivo com uma atuação de toda a equipe
(médico, enfermeira, agentes de saúde, etc.), na apresenta-
ção da unidade, na escuta qualificada e na troca de saberes
(CAVALCANTI FILHO et al, 2009).

C L IQ U E AQUI

ou a ce sse o GR Cod e

Para o acolhimento ter êxito é preciso que todos participem do processo.


Ele garante o compartilhamento horizontal e democrático dos saberes,
descentraliza a figura do médico e valoriza a equipe de profissionais da
unidade, responsabilizando todos no processo de escuta. Desta maneira,
há a necessidade de reorganizar o processo trabalho, do fluxo ao papel
de cada um na produção do cuidado (BRASIL, 2009a). Acolhe-se quando
é criado grupos multiprofissionais para mapeamento da unidade; rodas
de conversa para o enfrentamento das problemáticas; articulações com a
rede para os encaminhamentos e acompanhamentos dos casos; desen-
volve-se oficinas, entre outros (BRASIL, 2010a).

43
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

Assista ao documentário ACOLHIMENTO, DIFERENTES OLHARES, DIFE-


RENTES PRÁTICAS, e reflita Quais ações você e a equipe executam para
promover um acolhimento integral e resolutivo aos usuários do CAPS?

PA RT E 1
C L IQ U E AQUI

ou a ce sse o GR Code

PA RT E 2
C L IQ U E AQUI

ou a ce sse o GR Code

PA RT E 3
C L IQ U E AQUI

ou a ce sse o GR Code

44
PARTE II
CLÍNICA AMPLIADA

Historicamente a concepção de clínica esteve associada à figura do mé-


dico prescrevendo e/ou solicitando exames. Este modelo de cuidado,
conhecido como biomédico, medicaliza a vida em suas mais diversas
manifestações, sendo individualista e centrado na doença, perdendo a
totalidade do sujeito e, portanto, apresentando um cuidado fragmentado
(BRASIL, 2007; BRASIL, 2009b).

Autor: André Dahmer


Fonte: https://twitter.com/malvados/status/668767147389280260

A tirinha do Duende dos Remédios evidencia de modo explícito um mo-


delo de cuidado autoritário, de dominação e de prescrição de normas,
que empobrece a complexidade e as diferentes possibilidades do viver
humano (BRASIL, 2007; BRASIL, 2009b).

Tendo em vista as várias limitações do modelo biomédico surge a neces-


sidade de repensar a clínica. Torna-se urgente ampliá-la para além das
expressões patológicas, dos sintomas e das partes analisadas na produ-
ção do cuidado. Propor uma clínica ampliada é reconhecer o potencial
dos diferentes saberes, é a aposta no compartilhamento e corresponsa-
bilização do cuidado, garantindo a autonomia do usuário e a invenção de
saídas criativas diante do adoecimento. Ampliar a clínica é possibilitar
a criação de novas formas de cuidado (BRASIL, 2007; BRASIL, 2009b).

45
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

A clínica ampliada é definida como uma diretriz


da PNH, que tem o compromisso radical com os
sujeitos e seus coletivos. Humanizar é reconhecer
as diferenças na produção de saúde, tanto em rela-
ção aos usuários quanto aos trabalhadores. Nesta
perspectiva, o desenvolvimento de uma clínica
ampliada dependerá da indissociabilidade entre
os modos de produzir saúde e os modos de geren-
ciar os processos de trabalho (BRASIL, 2009b).

A CLÍNICA AMPLIADA ENGLOBA CINCO EIXOS FUNDAMENTAIS


(BRASIL, 2009):

Compreensão ampliada do processo saúde-doença: analisar o sujeito


em sua totalidade (aspectos físicos/orgânicos, psicológicos, sociais, eco-
nômicos, outros).

Construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas: o reco-


nhecimento da complexidade dos casos, pode despertar a sensação de
desamparo pelo profissional. Faz-se necessário compartilhar com a equi-
pe, com outros serviços de saúde, com o próprio usuário a fim de produzir
um cuidado integral. Uma abordagem compartilhada é muito mais po-
tente do que uma abordagem pontual, individual.

Ampliação do “objeto de trabalho”: o cuidado não é mais centrado na


doença, mas sim na pessoa ou no grupo de pessoas. Isso implica na am-
pliação do trabalho para que as pessoas se responsabilizem por pessoas.
Rompe com a lógica da fragmentação expressa na pergunta “De quem é
este paciente?” O paciente é de todos. Para isso, o matriciamento consti-
tui ferramenta fundamental.

46
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

Transformação dos meios ou instrumentos de trabalho: ampliar a clí-


nica exige a aposta em técnicas relacionais, tais como: escuta do outro e
de si mesmo; capacidade de lidar com condutas automatizadas de forma
crítica e de lidar com a expressão dos problemas sociais e subjetivos.

Suporte para os profissionais de saúde: criar espaços acolhedores e pro-


tegidos para os profissionais expressarem as suas dificuldades, identifi-
cações positivas ou negativas com o usuário. Possibilitar a grupalidade e
solidariedade entre os profissionais.

Para mais informações sobre a prática da Clínica Ampliada você


pode acessar a cartilha elaborada pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).

C L IQ U E AQU I

ou a ce sse o GR Cod e

O professor Deivisson conta a sua experiência de um olhar am-


pliado na condução de um caso.

ASSISTA AQUI

ou a ce sse o GR Cod e

47
PARTE III
MATRICIAMENTO

O matriciamento ou apoio matricial é uma proposta de intervenção pe-


dagógica-terapêutica que visa produzir saúde a partir do compartilha-
mento de saberes entre diferentes equipes. Ele objetiva assegurar uma
retaguarda especializada a equipes e profissionais de saúde. Amplia-se
as possibilidades para o desenvolvimento da clínica ampliada e para in-
teração entre as especialidades e profissionais de referência (CHIAVERINI,
2011; CUNHA; CAMPOS, 2011).

NO MATRICIAMENTO SURGEM NOVOS ARRANJOS ORGANIZACIONAIS


DEFINIDOS EM (BRASIL,2009):

EQUIPE DE REFERÊNCIA EQUIPE DE APOIO MATRICIAL

Aquela que possui responsa- É definida pelo conjunto de


bilidade pela coordenação do profissionais especialistas que
cuidado longitudinal. É deno- garantirão o suporte técnico-
minada como referência haja -pedagógico para a condução
vista a facilidade do vínculo e de alguns casos). Este novo ar-
da convivência mais próxima ranjo organizacional possibilita
com o usuário. um aprendizado coletivo, cujo
sucesso está na capacidade re-
solutiva do cuidado.

“As Equipes de Referência são uma forma de resgatar o compro-


misso com o sujeito, reconhecendo toda a complexidade do seu
adoecer e do seu projeto terapêutico” (BRASIL, 2009b, p. 39).

48
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

O matriciamento ao organizar o processo de partilha de experiências e


conhecimentos entre duas ou mais equipes opera com os conceitos de
núcleo e campo de saber. Segundo Chiaverini (2011), o matriciamento
pode ser solicitado quando:

• equipe de referência sentir a necessidade de esclarecimentos sobre


abordagem, diagnóstico, etc.;

• suporte para intervenções psicossociais, como por exemplo, grupos


com pessoas que possuem transtornos mentais;

• integração entre especialidade e atenção básica na elaboração do PTS


de usuários com transtornos psiquiátricos;

• apoio para resolver alguma tarefa, como por exemplo, o manejo de


casos severos.

NÚCLEO: É definido como núcleo do saber os conhecimentos específicos das profissões,


aqueles que garantem a identidade profissional. Já o campo do saber, são os conheci-
mentos e práticas comuns aos profissionais da saúde, extrapola as categorias e sugere
ações interdisciplinares (CHIAVERINI, 2011; CUNHA; CAMPOS, 2011).

Ainda, dispõe de alguns instrumentos para o seu desenvolvimento, como:


elaboração do PTS, interconsulta, consulta conjunta, visita domiciliar
(CHIAVERINI, 2011).

Interconsulta “é uma ação colaborativa entre profissionais de di-


ferentes áreas” (CHIAVERINI, 2011, p. 25). Existem modalidades de
interconsulta, que vão desde a discussão de caso até uma consulta
conjunta e/ou visita domiciliar.

Consulta conjunta é uma ação que envolve na mesma cena, os


profissionais da saúde de diferentes categorias, o paciente e, se ne-
cessário, a família. É uma técnica de aprendizagem com a finali-
dade de responder de forma mais resolutiva às questões de saúde
(CHIAVERINI, 2011).

Para saber mais sobre matriciamento


em saúde mental.

C L IQ U E AQUI

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49
PARTE IV
PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR

O Projeto Terapêutico Singular (PTS) é um conjunto de propostas de con-


dutas terapêuticas resultado de uma discussão coletiva entre equipe
e usuário, onde todas as opiniões são importantes e as discussões de-
vem ser baseadas na singularidade do usuário, respeitando as diferenças
(BRASIL, 2007; BRASIL, 2009b; SUNDFELD, 2010).

O PTS apresenta quatro movimentos (BRASIL, 2007; BRASIL, 2009b):

DIAGNÓSTICO: a hipótese diagnóstica é feita a partir de uma avaliação


que engloba os aspectos biológicos, sociais e psicológicos. Neste primeiro
momento é importante identificar como o sujeito se relaciona diante da
doença: desejos, interesses, trabalho, cultura. É o momento para captar as
fragilidades e principalmente as potencialidades.

50
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

DEFINIÇÃO DE METAS: após o diagnóstico, são definidas metas de curto,


médio e longo prazo. As metas devem ser negociadas com o usuário, ga-
rantindo a sua autonomia e protagonismo neste processo. Cabe ressaltar
que a negociação deve ser realizada por um profissional que apresente
maior proximidade com o sujeito.

DIVISÃO DE RESPONSABILIDADES: esta etapa não deve ser confundida


com a fragmentação do cuidado, referindo-se à definição clara dos papéis
e tarefas de cada um na condução do caso; sendo todos são responsáveis
pelo usuário e seu coletivo. Também é nessa etapa em que é escolhido o
profissional de referência, figura de maior vínculo, responsável por acom-
panhar de perto e articular com a equipe e o apoio matricial as decisões
sobre o caso.

REAVALIAÇÃO: é um momento importante para identificar a evolução


do caso, bem como os limites encontrados. Serve para realizar alterações
no projeto inicial e adequar às necessidades do sujeito.

Algumas perguntas podem nortear a construção do PTS:


• Qual a situação problema?

• Quem são as pessoas envolvidas no caso?

• Qual a relação delas com os profissionais de saúde?

• Quais as vulnerabilidades identificadas? Quais as potencialidades?

• Quais as necessidades de saúde percebidas pelo usuário?

• Quais as necessidades de saúde deverão ser respondidas no caso?

• Como o usuário imagina que o seu “problema” será resolvido?

• Haverá pactuação com outros setores? Quais? Como?

• Quais os objetivos deverão ser alcançados?

• Quais ações, responsáveis e prazos necessários para execução do PTS?

• Qual o papel do usuário e família no desenvolvimento das ações do PTS?

• Quem será o Técnico de Referência?

• Quando será a próxima reavaliação?

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Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

O êxito de um PTS depende da participação e corresponsabilização dos


usuários neste processo, bem como o comprometimento dos trabalhado-
res e da gestão na garantia da proposta. Há dois aspectos fundamentais:
a reunião de equipe e a anamnese ampliada. (BRASIL, 2007; BRASIL,
2009b).

REUNIÃO DE EQUIPE ANAMNESE AMPLIADA

Com uma agenda segura, se- Reconstrói a história de vida


manal ou quinzenal, que cons- pelo sujeito, por meio de sua
titua um espaço de fala para implicação nos fatos narrados.
manifestar os afetos positivos Permite reconhecer as singu-
ou negativos, as evoluções ou laridades que compõem o pro-
estagnações do processo em cesso de adoecimento, assim
que todos tenham direito à voz como os laços estabelecidos
e opinião. pelo Sujeito com seus grupos.
Desta maneira, transcende
os limites das classificações
diagnósticas.

Conheça as ferramentas de abordagem da família: Genograma,


Cliclo da Vida da Família, F.I.R.O., P.R.A.C.T.I.C.E., APGAR Familiar e
os mapas de redes no livro O Cuidado das Condições Crônicas na
Atenção Primária à Saúde, de Mendes, a partir da página 264.

C L IQU E AQ U I

ou a ce sse o GR Cod e

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Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

Para exemplificar a construção de um PTS:

ASSISTA AQUI

ou a ce sse o GR Cod e

Para saber mais, assista à videoaula sobre Projeto Terapêutico


Singular como instrumento de cuidado na RAPS e registro docu-
mental em Psicologia ministrada no Núcleo Telessaúde Goiás:

ASSISTA AQUI

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PARTE V
VISITA DOMICILIAR

A visita domiciliar é um recurso que faz parte do conjunto de terapêu-


ticas disponibilizadas nos serviços de saúde de base territorial, como o
CAPS. Ela se configura como uma tecnologia de intervenção que pro-
move a articulação da equipe com o usuário, com a família e com o
território. Ela favorece o reconhecimento da realidade do usuário, poten-
cializa a formação de vínculos e possibilita a inclusão ativa do contexto fa-
miliar na produção do cuidado, além de ampliar a articulação com outros
serviços da rede (MORAIS et al., 2021).

A visita domiciliar pode ocorrer de forma individual ou compartilhada.


No caso do CAPS, a visita pode ser uma boa estratégia de cuidado com-
partilhado com a atenção básica, uma vez que a equipe de referência e
apoio matricial pode atuar juntas no mesmo caso, garantindo uma aná-
lise sob diferentes ângulos e uma resolutividade maior. Para organização
da visita compartilhada é preciso eleger os casos prioritários do território,
bem como definir em reunião o seu objetivo, dia e profissionais. O agente
comunitário de saúde pode ser parte fundamental na realização de uma
visita domiciliar, uma vez que possui vínculo maior com o usuário e o ter-
ritório (CHIAVERINI, 2011; PEREIRA et al., 2014; MORAIS et al., 2021;).

“Não há um manual de visitação, intervenção e cuidado em


saúde mental, o que requer do trabalhador o exercício de sua
capacidade criativa e de acolher o sujeito em sua singularida-
de, respeitando-se a diferença” (MORAIS et al., 2021, p. 1170).

54
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

No entanto, é preciso atenção e cuidado quanto algumas condutas dos


profissionais, tais como: estabelecer uma comunicação acessível ao ní-
vel de formação cultural do sujeito; o cuidado no manejo dos profissio-
nais ao estabelecer intervenções, evitando discussões do caso na frente
do usuário, principalmente se houver divergências quanto à conduta a
ser adotada CHIAVERINI, 2011; PEREIRA et al., 2014; MORAIS et al., 2021;).

Assista o vídeo “Visita domiciliar na Atenção Básica como prática


emancipatória: que óculos você usa?” :

ASSISTA AQUI

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PARTE VI
ARTICULAÇÃO INTER E
INTRASETORIAL

A intra e intersetorialidade constitui aspecto fundamental para a cons-


trução das redes do cuidado, uma vez que há a ampliação do entendi-
mento e das práticas em saúde. O sujeito pode passar a ser compreen-
dido em sua totalidade, exigindo assim a reorganização dos processos
de atenção e gestão, e a articulação com os diferentes pontos da Rede
de Atenção à Saúde (RAS) e outras redes (BRASIL, 2010b; LEAL; ANTONI,
2013).

INTERsetorialidade INTRAsetorialidade

A intersetorialidade é compre- Já a intrasetorialidade pode


endida como uma articulação ser entendida como a articula-
dos diferentes setores com vis- ção entre os diferentes serviços
tas a garantir um cuidado com- ofertados pelo mesmo setor
partilhado e resolutivo (BRASIL, (BRASIL, 2018).
2010b).

Dentro deste âmbito, as ações requerem a troca de saberes e práticas en-


tre os diferentes setores a fim de produzir condutas inovadores e resolu-
tivas no processo do cuidado. O modo como os serviços dialogam, vincu-
lam, definem ações complementares, estabelecem relações horizontais
e interdependentes, que garantem a integralidade do cuidado (BRASIL,
2010b; LEAL; ANTONI, 2013).

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Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

A articulação é fundamental no processo de reabilitação psicossocial dos


usuários do CAPS, pois pensar o cuidado no âmbito comunitário e terri-
torial é transcender os limites institucionais (LEAL; ANTONI, 2013). Para
isso é importante garantir um cuidado compartilhado com os diferentes
setores:

• Saúde (ESF, UBS, UPA, Hospitais, etc.);

• Assistência (CRAS, CREAS, Centro Pop, etc.);

• Educação (Escolas, Creches e Universidades);

• Habitação (moradia);

• Segurança Pública (Centro de Atendimento à Mulher, delegacias


especializadas).

Para que o sujeito e sua família possam ser (re)inseridos à dinâmica co-
munitária, por meio de espaços e ações que potencializam a autonomia
e garantam a cidadania (AZEVEDO; MIRANDA, 2011).

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PARTE VII
OFICINAS TERAPÊUTICAS

As oficinas terapêuticas são atividades realizadas em grupo com a media-


ção de, no mínimo, um profissional. Constitui-se como uma das princi-
pais formas de tratamento oferecido nos CAPS, uma vez que potencia-
liza a integração social e familiar; incentiva a expressão de sentimentos
e incômodos; desenvolve habilidades corporais e competências relacio-
nais; valoriza o potencial criativo; fortalece a autoestima e autoconfiança;
além de garantir o exercício coletivo da cidadania. É um instrumento po-
tente no processo de reabilitação psicossocial (BRASIL, 2004; AZEVEDO;
MIRANDA, 2011).

As oficinas são programadas a partir do interesse dos usuários, das pos-


sibilidades técnicas dos profissionais e dos recursos disponibilizados na
unidade. Também podem ser criadas a partir de uma necessidade iden-
tificada no serviço, como oficinas de integração familiar, por exemplo.

O desenvolvimento de oficinas terapêuticas precisa ser dinâmico,


criativo e flexível. Assim, são consideradas terapêuticas quando
possibilitam aos usuários um lugar de fala, de expressão, de aco-
lhimento e de garantia da autonomia, da realização do potencial
criativo e do exercício de sua cidadania.

Neste sentido, as oficinas que não consideram as necessidades do usuá-


rio e/ou do serviço, tornam-se meros dispositivos de ocupação do tempo,
e pode ser de sofrimento (AZEVEDO; MIRANDA, 2011).

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Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

AS OFICINAS PODEM SER CLASSIFICADAS EM (BRASIL, 2004):

EXPRESSIVAS: são espaços de expressão plástica (pintura, argila, dese-


nho, etc); expressão corporal (dança, ginástica e técnicas teatrais); expres-
são verbal (poesia, leitura, peças teatrais, etc); expressão musical, dentre
outras.

GERADORAS DE RENDA: são instrumentos que possibilitam o aprendi-


zado de atividades específicas que podem auxiliar no complemento fi-
nanceiro. Podem ser de culinária, marcenaria, costura, fabricação de ar-
tesanatos, etc.

ALFABETIZAÇÃO: é uma modalidade que contribui para a retomada da


cidadania do usuário a partir do ensino da escrita e leitura.

Assista o vídeo a seguir “Oficinas Terapêuticas”, do canal Papo de


Psicologia, que apresenta quatro experiências desenvolvidas em
um CAPS: oficina de poesia, arteterapia, produção audiovisual e ofi-
cina de música, que buscaram estimular a autonomia, a cidadania,
a criatividade e a expressividade do sujeito, aumentando sua auto-
estima e autoconfiança.

ASSISTA AQUI

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PARTE VIII
SISTEMA DE REGISTRO DAS AÇÕES
AMBULATORIAIS DE SAÚDE

O Sistema de Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS) foi


instituído em março de 2012 com a finalidade de monitorar as ações e
serviços pertencentes a Rede de Atenção à Saúde (BRASIL, 2012; BRASIL,
2022).

Imagem: http://raas.comunidades.net/

A implantação do RAAS no CAPS foi um importante passo para anali-


sar os processos de trabalho, bem como das ações desenvolvidas para o
cuidado territorializado e centrado no usuário. Sendo possível identificar
informações sobre o uso de alguma droga, origem do usuário, encami-
nhamentos realizados ou ainda a execução de ações no território ou na
instituição (BRASIL, 2022).

Os procedimentos são registrados a partir de três instrumentos


(BRASIL, 2022):

• Registro de Ações Ambulatoriais em Saúde (RAAS):


No sistema RAAS são registrados procedimentos decorrentes do cui-
dado direto com o paciente e/ou seus familiares, após a sua inserção
no serviço (cadastro).

• Boletim de Produção Ambulatorial Individualizado (BPA-I):


Já o BPA-I é destinado apenas para o acolhimento inicial por CAPS.

• Boletim de Produção Ambulatorial Consolidado (BPA-C):


E o BPA-C inclui ações institucionais e de articulação das redes de
cuidado.
60
Capítulo III • Ferramentas Estratégicas para o Cuidado

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022, p. 62) há uma “difi-


culdade em monitorar e avaliar a RAPS a partir de informações apenas
dos procedimentos realizados, sem conhecimento sobre a população
atendida, sobre a integralidade das ações e do cuidado, e sobre o percur-
so dos usuários na rede”, diante disso está havendo a implementação do
E-SUS como alternativa no registro das ações desenvolvidas nos diferen-
tes serviços da RAS.

Assista ao vídeo sobre Registro de Procedimentos dos CAPS e


identifique quais procedimentos você já utiliza em sua prática pro-
fissional; quais poderia lançar a partir do desenvolvimento de suas
atividades no CAPS e quais as dificuldades encontradas no lança-
mento dos procedimentos no sistema.

ASSISTA AQUI

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, D. M.; MIRANDA, F. A. N. Oficinas terapêuticas como instru-


mento de reabilitação psicossocial: percepção de familiares. Escola Anna
Nery, v. 15, n. 2, abr. 2011. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ean/a/
KyzjNqgnCN9cFrL5dNStkRS/?lang=pt#>. Acesso em: 15 fev. 2023.

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classificação de risco nos serviços de urgência. Brasília: Ministério da
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es/acolhimento_classificaao_risco_servico_urgencia.pdf>. Acesso em: 05
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política


Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Clínica amplia-
da e compartilhada. Brasília: Ministério da Saúde, 2009b. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_comparti-
lhada.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo


Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas
de produção de saúde. 2. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
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gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude_3ed.pdf>.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 276, de 30 de Março de 2012.


Institui o sistema de Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS).
Brasília, DF, 30 mar. 2012. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/sas/2012/prt0276_30_03_2012.html>. Acesso em: 14 fev. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea. 1. ed. Brasília:
Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/acolhimento_demanda_espontanea_cab28v1.pdf>. Acesso
em: 26 jan. 2023.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria


de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS
- Anexo I da Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017,
que consolida as normas sobre as políticas nacionais de saúde do SUS.
Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: <https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude.pdf>. Acesso
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas. Instrutivo Técnico da Rede de
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