Escolástica Cristã Alaor
Escolástica Cristã Alaor
Escolástica Cristã Alaor
Unaí - MG
2021
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
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(2017) e Lacerda (2018), este capítulo subdivide-se em outros dois tópicos, nos
quais são apresentados os dois principais filósofos de toda a Escolástica,
Anselmo da Cantuária e Tomás de Aquino. Em síntese, esses teóricos trazem a
proposição de que, o fenômeno Escolástica cristã, defende a harmonização da
ciência e religião no contexto escolar.
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instaurou: o feudalismo, cuja organização motivou uma nova cosmovisão, a qual
trouxe a teologia medieval subdividida em duas outras fases. Entre os séculos VI
e X, ocorreu o que se chamou de Alta Idade Média e, entre os séculos XI e XV, o
que se denominou de Baixa Idade Média. Após esses eventos, deu-se início ao
Renascimento e a cristandade foi intensificada, tendo como ponto inicial a fé, e
como ponto final, o dogma integral. Com isso, a filosofia medieval se propagou,
chegando ao seu auge no século XIII com Tomás de Aquino, que, dialogando
com o pensamento aristotélico, estudou as Sagradas Escrituras, e apresentou a
possibilidade de “racionalizar” a fé no contexto universitário (ENGELMANN,
2016).
Cumpre ressaltar que, a verdade filosófica surge na Idade Média, muitas
vezes, articulada em função da teologia, vinculada ou subordinada a ela. Nesse
tempo, o conhecimento era de caráter filológico, isto é, todos os conhecimentos
serviam para facilitar a leitura dos registros bíblicos, a fim de deslindar a palavra
de Deus nas Escrituras Sagradas. Logo, a filosofia medieval diferencia-se da
filosofia antiga especialmente pelo predomínio do cristianismo, que, tendo como
base uma estrutura sociopolítica e religiosa, determinou os critérios nos quais a
filosofia pôde se desenvolver (MATTAR, 2012).
Refletir sobre a filosofia medieval é, portanto, refletir sobre a íntima ligação
da filosofia grega com a religião, sobretudo, a religião cristã, na qual buscou
fortalecer essa relação no âmbito universitário, fenômeno que vem a ser chamado
de “Escolástica cristã”, que passa a ser analisado no tópico seguinte.
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Nas palavras de Silva (2010, p. 194), “a Escolástica foi a filosofia na qual
se baseou todo o pensamento erudito medieval, ditado pela Igreja Católica”.
Fundamentado nas concepções de Aristóteles, esse fenômeno buscou analisar as
revelações divinas. Mas, como nem tudo são flores, a Escolástica sofreu intensas
críticas, especialmente no que se refere à hermenêutica, à literatura e à
interpretação dos textos sagrados (SILVA, 2010).
A Escolástica, como uma escola do pensamento cristão, demarcou o
período que vai do século IX ao século XVI. De certa forma, esse período ilustrou
a ação estratégica de Carlos Magno, imperador coroado pelo Papa Leão III, de
planejar um sistema educacional sob a guarda da Igreja. Assim, a doutrina
católica ganhava notoriedade, ao passo que promovia sua ideologia de validar e
perpetuar a visão de mundo cristã (NAUROSKI, 2017).
Em outras palavras, a Escolástica foi um movimento de ensino que buscou
tratar das questões ligadas à religião, de modo que a filosofia ganhasse espaço
nas reflexões acerca da fé cristã e da razão.
Quando se traz ao diálogo o tema “Escolástica cristã”, é muito comum vir à
tona o nome de Tomás de Aquino (1225 – 1274). Se Tomás de Aquino é o nome
com maior relevância para versar sobre a filosofia cristã, é certo que quase todos
concordam. Porém, é justo denotar que outros teóricos também contribuíram não
só com a introdução, mas também com o desenvolvimento da referida questão.
Estudos apontam nomes como Carlos Magno, Anselmo da Cantuária, Pedro
Abelardo e Guilherme de Ockham, como demais pesquisadores do fenômeno
supracitado (NAUROSKI, 2017).
Todavia, tem-se como o teórico mais conhecido desse período, Tomás de
Aquino, um dos maiores mestres da filosofia medieval e o maior expoente de toda
a Escolástica, cujo objetivo foi estudar e discutir as ideias de Aristóteles e,
simultaneamente, construir os seus próprios entendimentos, os quais interagiram
com as produções do filósofo grego e com o Cristianismo (LACERDA, 2018).
Os escolásticos eram os especialistas em artes liberais, filosofia e teologia.
Nessa época, Carlos Magno esquematizou e dividiu as escolas em: a) monacais:
inerentes aos conventos; b) episcopais: sob a responsabilidade dos bispos e, c)
catedráticas e palatinas: fixadas aos palácios, que necessitavam de apoio político.
Estas últimas foram instituídas a partir de disciplinas ligadas à literatura, às artes
e aos estudos bíblicos (MARTINS, 2017).
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Doravante, as provas sobre a existência de Deus já não eram mais
suficientes, necessitando, agora, de uma concepção lógica que sustentasse as
declarações contidas na Bíblia. Renunciando a via apofática, isto é, o critério de
revelação bíblica e do mistério, a teologia aderiu a via catafática como
instrumento de entendimento das arguições sobre Deus e sua existência. Assim,
a lógica aristotélica-cristã tornou-se obrigatória nos estudos. A leitura (lectio) dos
escritos da tradição cristã era a primeira ação do aluno, sem essa conduta não
existiria meios que possibilitassem o debate (disputatio) referente aos
fundamentos da fé e da razão: teologia e filosofia. Grandes pensadores como
Carlos Magno (742 – 814); João Escoto Erígena (810 – 877); Anselmo de Aosta
(1033 – 1105); Pedro Abelardo (1079 – 1142) e Tomás de Aquino (1225 – 1274)
consolidaram um estudo teológico mais filosófico e menos bíblico (MARTINS,
2017).
A expressão “escolástica” está associada ao método de ensino da doutrina
cristã. Seu estudo era feito nas instituições educacionais da época, e o ensino dos
professores ficou conhecido como escolástico. Basicamente, o currículo que tinha
como forma de ensino uma metodologia dialética, abrangia o estudo de gramática
e retórica, além de matemática, aritmética, astronomia, geometria, artes e música.
Os educandos eram estimulados a apresentações com formato de tesinas, ou
seja, apresentavam um conjunto de argumentações relacionadas a um tema
específico proposto pelo professor, e assim, se iniciavam as reflexões e os
debates nas escolas (NAUROSKI, 2017).
Nauroski (2017, p. 100) afirma ainda que, o período escolástico simboliza
uma conquista do aristotelismo na teologia cristã, visto que o contexto de sua
evolução informa uma transformação no arquétipo de pensar a razão e a fé, uma
tendência que marcou a época e validou a lógica e a experiência como fontes de
conhecimento.
Historicamente, divide-se o pensamento escolástico em três períodos. O
primeiro deles denomina-se de pré-tomista, tendo nomes como os de São Pedro
Damião e São Bernardo de Claraval, que preservaram a tradição mística. O
segundo traz o domínio de Santo Tomás de Aquino e a repercussão de seu ponto
de vista na reformulação da doutrina cristã, enfatizando ainda a figura marcante
de Santo Anselmo da Cantuária. Já no terceiro e último período, a escolástica
complementa o seu repertório com as reflexões de Scoto Erígena sobre as
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questões universais. Esse período ainda foi marcado pelas contribuições de
Roger Bacon, Duns Scoto e Guilherme de Ockham (NAUROSKI, 2017).
Sejam quais forem as causas ou os argumentos que levaram esses
autores a analisarem a lógica filosófica cristã sob um viés crítico-reflexivo, é
possível inferir que alguns deles se destacaram mais do que outros. Contudo,
todas as interpretações vão à busca do mesmo princípio: conciliar a filosofia e o
cristianismo.
A fim de aprofundar este estudo, o próximo tópico encarregar-se-á de dar
ênfase a dois dos pensadores escolásticos, Anselmo de Aosta e Tomás de
Aquino.
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Para entender a obra mais popular de Anselmo, basta fazer uma
consideração sobre a ideia de que é fundamental crer para compreender. Em sua
análise, a teologia, apesar das disparidades em sua estrutura, é determinada pela
fé, sendo, portanto, uma atitude inteligente do que se pretende apreciar
(MARTINS, 2017).
Martins (2017, p. 24) ressalta que, para Anselmo, Deus é um ser o qual
não se pode pensar em nada maior, logo, a razão deve estar subordinada à fé.
Deus seria o fundamento de todas as coisas e de todas as criaturas, como um
elemento maior do que a própria capacidade de pensar.
Em seu argumento ontológico, Anselmo declara que não busca antes
compreender para crer, mas sim crer para compreender. Por amor, a fé procura
conhecer a verdade e, por isso, é perfeitamente possível relacionar a fé e o
pensamento.
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o que se move é movimentado por outro que, da mesma forma, recebe o auxílio
de outro, e assim, até alcançar o motor imóvel que movimenta todas as coisas por
si só: Deus; 2) Das causas à causa eficiente: qualquer causa tem outra causa.
Essa causa eficiente que ocasiona todas as outras, também é denominada de
Deus; 3) Do contingente ao necessário: existe a necessidade de um ser que
seja por si só necessário e que seja o motivo da necessidade do outro. Esse ser é
o que se chama de Deus; 4) Dos graus à perfeição: os graus de perfeição se
posicionam diante das coisas finitas como intimação de concretização. Há alguma
coisa perfeitamente boa e agradável em direção a tudo. Isso se chama Deus; 5)
Da ordem do mundo: os seres desprovidos de inteligência perecem na
desordem, mas estendem-se à ordem perfeita. Essa inclinação decorre de um ser
consciente e perspicaz pelo qual todas as coisas são classificadas. A esse ser dá-
se o nome de Deus (MARTINS, 2017).
Entende-se que, para Tomás de Aquino, a conformidade entre a razão e a
fé é a prova concreta da interação entre Deus e o homem, pois se todo
conhecimento vem de Deus, os pensamentos do ser humano, ainda que
imperfeito e limitado, mantém-se em torno do princípio maior de todo saber: Deus.
Tomás de Aquino conferiu à teologia uma teoria epistemológica,
diferenciando-a de qualquer outro tipo de conhecimento científico. Para Tomás, a
Bíblia é a ciência que tem Deus como objeto de estudo. Simultaneamente, ela é o
próprio discurso sobre Deus e a realidade na qual se assegura um princípio: a
teologia (MARTINS, 2017). O pensador filosófico distingue a teologia bíblica da
teologia filosófica e enfatiza que a teologia bíblica é concebida por princípios
revelados pelo próprio Deus. No entanto, Tomás de Aquino, sendo um
escolástico, se interessa mais intensamente pela teologia filosófica.
O maior expoente da filosofia cristã nomeia a teologia de “primeira filosofia”
ou “metafísica”, à medida que assevera que não há contradição entre a verdade
da razão, da filosofia e da fé. À vista disso, o ser humano busca estar sempre
aberto á transcendência, à apreensão e à legitimidade da verdade divina
(MARTINS, 2017).
Na tentativa de relacionar as correntes filosófica e teológica, Tomás de
Aquino ressalta que, embora sejam independentes, são interdisciplinares, e por
isso seria totalmente aceitável organizar uma síntese entre a revelação divina e o
conhecimento (MARTINS, 2017).
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Os pensamentos de Tomás de Aquino nos leva a compreender que, para
serem conhecidos, os objetos exteriores passam por um processo de construção
e síntese. Tudo se inicia com o olhar que traduz a materialidade. A continuação
dessa experiência permite ao ser humano abstrair as características comuns aos
objetos e, por fim, formular conceitos sobre eles (NAUROSKI, 2017).
Nesse sentido, o que é realmente essencial, só pode ser visto e
compreendido de modo limitado em sua materialidade pelos sentidos. Contudo,
sem a razão, dificilmente seria possível enxergar a essência de cada objeto.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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