SOCIOLINGUÍSTICA

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1) (3,0 pontos) Ao problematizar a questão da escrita como forma de linguagem

privilegiada na/pela escola, Santos (no TEXTO 4), afirma que


a escrita é vista comumente como um bem em si mesma, já que,
nessa acepção, seria fator preponderante do desenvolvimento
cognitivo do sujeito, ou seja, qualquer indivíduo poderia ter o mesmo
desempenho na aquisição e no uso deste recurso social
independente de seu contexto sociocultural, o qual, sabese, pode
favorecer ou dificultar tal domínio (p. 120).

Discorra sobre esse pensamento, levando em conta uma sociedade


heterogênea, como a brasileira, e questões que estão ligadas a uma
dicotomia entre oralidade e escrita:

Santos não leva em consideração as diversas realidades socioculturais que


influenciam o acesso à escrita ao afirmar que a escrita é comumente vista como um
bem em si mesma e fator preponderante no desenvolvimento cognitivo do sujeito. Em
um país diverso como o Brasil, onde as desigualdades sociais são bastante evidentes,
presumir que todos os indivíduos podem desenvolver o mesmo nível de letramento,
independentemente do contexto em que vivem, é problemático.
A dicotomia entre oralidade e escrita torna essa questão ainda mais evidente. Na
escola, a escrita geralmente recebe mais destaque que a oralidade, que é considerada
menos formal e menos importante. Porém, em comunidades que têm menos acesso à
escrita formal, a oralidade é a base da comunicação e da transmissão cultural. Quando o
sistema educacional coloca a escrita em um pedestal, acaba marginalizando formas
legítimas de aprendizado e conhecimento, que estão profundamente ligadas à vivência
diária dessas populações.
A crítica de Santos ao modelo de letramento autônomo reflete essa visão limitada.
Nesse modelo, a escrita é tratada como um símbolo de progresso e civilização, e a falta
de domínio dela é associada a um suposto atraso cultural ou cognitivo. Mas, em uma
sociedade tão diversa como a brasileira, o acesso à escrita está diretamente relacionado
ao ambiente e às oportunidades disponíveis para cada pessoa. Mas, em uma sociedade
tão diversa como a brasileira, o acesso à escrita depende muito das oportunidades e do
ambiente em que a pessoa está inserida. Uma criança de uma área rural, por exemplo,
pode ter muito menos contato com a escrita do que uma criança que vive em um
contexto urbano, e isso, naturalmente, afeta seu desempenho escolar.
Por outro lado, o modelo de letramento ideológico, defendido por autores como
Street, traz uma perspectiva mais ampla. Este modelo entende que o letramento é
influenciado por fatores culturais e sociais. Não se trata apenas de aprender a ler e
escrever, mas de entender como a escrita se insere nas práticas sociais de cada grupo
Assim, o ensino da escrita precisa reconhecer essas diferenças e incluir as vivências
orais no processo educativo, para que a educação seja mais inclusiva e menos
excludente para aqueles que estão em condições mais vulneráveis.
2) (3,0 pontos) No TEXTO 5, Brandão et al afirmam o seguinte: “A escolha pelo
caminho ‘louco e longo’ mostra o ritual de passagem de Fita-Verde, que acaba por
perder sua fita e sua ingenuidade ao longo desse ritual, ao rejeitar o caminho
“encurtoso”(p. 192)

De que tratam os caminhos ‘loucos e longos’ evocados pelos autores?


Construa um texto argumentativo, levando essa questão em consideração no
que se refere à comparação com os ‘caminhos encurtosos’, também ressaltado
pelos estudiosos. No decorrer de sua argumentação, apresente, pelo menos,
UM EXEMPLO:

Os caminhos “loucos e longos” mencionados por Brandão et al. representam uma


jornada de aprendizado mais profunda e desafiadora, onde o indivíduo é convidado a
refletir, questionar o que sabe e amadurecer. Esses caminhos envolvem enfrentar
questões complexas, como preconceitos e as normas linguísticas tradicionais, como o
preconceito linguístico e as variações de fala. São percursos opostos aos "caminhos
encurtosos", que oferecem soluções rápidas e simplificadas, reforçando uma visão rígida
e limitada da língua, sem realmente fomentar uma compreensão genuína da diversidade
linguística.

Ao escolher o caminho "louco e longo", Fita-Verde, perde sua ingenuidade e, ao


mesmo tempo, ganha maturidade. Ela escolhe não seguir o caminho mais fácil, o
"encurtoso", e decide enfrentar os desafios que a fazem crescer. O mesmo acontece na
educação: seguir o caminho "encurtoso" significa manter um ensino rígido, focado
apenas em regras e normas prescritivas, que ignora as diferentes formas de falar e
perpetua preconceitos. Já o caminho "louco e longo" exige mais esforço, mas leva a uma
educação inclusiva, que valoriza as diferentes formas de expressão e permite aos alunos
entenderem a língua dentro do contexto social em que estão inseridos.

Um exemplo disso pode ser visto nas discussões sobre o preconceito linguístico em
sala de aula. Uma professora que segue o caminho "encurtoso" poderia simplesmente
ensinar que o preconceito linguístico é errado, sem aprofundar a questão. Ela pode até
afirmar que é importante respeitar as diferentes maneiras de falar, mas sem realmente
explorar as causas do preconceito. Por outro lado, uma professora que escolhe o
caminho "louco e longo" traz exemplos concretos de variação linguística, como
expressões regionais ou dialetos, e estimula a turma a refletir sobre como essas
variações são vistas na sociedade. Essa abordagem leva os alunos a desenvolver uma
compreensão mais crítica e respeitosa da linguagem.

Por exemplo, ao discutir expressões regionais, uma professora que segue o


caminho "louco e longo" não apenas corrigiria as expressões “erradas” com base na
norma-padrão. Ela explicaria de onde essas expressões vêm e quais os contextos em
que são usadas, mostrando que elas fazem parte de um sistema linguístico legítimo.
Dessa forma, os alunos não só aprenderiam a norma-padrão, mas também passariam a
respeitar as diferentes formas de falar, entendendo a língua como algo dinâmico e em
constante mudança.
3) (4,0 pontos) Serafim da Silva Neto foi um filólogo, linguista e um dos
precursores, dentro da área, de estudos do Português Brasileiro. Foi um dos
fundadores da PUC-Rio e ocupou a cadeira de Filologia Românica na Faculdade de
Filosofia, daí sua importância no cenário dos estudos sobre o Português Brasileiro.
No TEXTO 6, Rosa Virgínia Mattos e Silva traz uma fala de Neto, que é a seguinte:
Por causa, precisamente, desta falta de prestígio é que a
linguagem adulterada dos negros e índios não se impôs senão
transitoriamente: todos os que puderam adquirir uma cultura
escolar e que, por este motivo, possuíam o prestígio da literatura
e da tradição, reagiram contra ela. (Neto, 1960, p. 21, GRIFOS
MEUS)

Analise o pensamento que consolida a fala de Neto no bojo das discussões


que vimos tendo nas nossas aulas e, no decorrer de sua argumentação,
apresente alternativas para uma visão decolonial do português brasileiro.
Sua discussão pode, também, recair sobre o ensino de PB na escola básica:

A citação de Serafim da Silva Neto reflete uma visão tradicional e até excludente
sobre a história do português brasileiro. Para Neto, a "linguagem adulterada dos
negros e índios" não se consolidou porque as pessoas que tiveram acesso à educação
formal e à cultura literária resistiram a essas variações linguísticas. Esse ponto de
vista acaba valorizando apenas a língua associada às elites escolarizadas e à cultura
europeia, sem considerar as ricas contribuições dos povos indígenas e africanos para
a formação do português no Brasil.

Essa perspectiva, ainda que comum em alguns setores, perpetua uma ideia de que
só a norma culta tem valor, ignorando a realidade de um país tão diverso linguística e
culturalmente como o Brasil. Esse preconceito se reflete, por exemplo, nas escolas,
onde as variantes populares e regionais muitas vezes são vistas como "erradas",
criando uma hierarquia entre as formas de falar que desvaloriza o modo de expressão
de muitas pessoas.

Uma abordagem mais inclusiva e decolonial, por sua vez, reconheceria essa
diversidade linguística e daria valor às contribuições das línguas indígenas e africanas
na construção do português brasileiro. No ensino, seria possível mostrar aos alunos
que o português que falamos é o resultado de uma mistura de várias culturas e que
não existe um jeito "certo" ou "errado" de falar, mas sim diferentes formas de se
expressar, dependendo do contexto.

Por exemplo, ao invés de apenas corrigir uma expressão como "nós vai" como se
fosse um erro, os professores poderiam usar essa oportunidade para explicar que esse
tipo de construção é uma variação linguística, comum em certas regiões ou entre
determinados grupos sociais. Assim, os alunos entenderiam que essas formas de falar
têm uma história e um valor, e que a norma culta não é necessariamente superior,
mas apenas uma das formas de uso da língua. Dessa forma, o ensino se tornaria mais
inclusivo e respeitoso com a diversidade cultural e linguística do Brasil.

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