Anexo Riscos Climaticos

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Anexo III - Riscos Climáticos

Anexo sobre Riscos Climáticos do Guia Geral


de Análise Socioeconômica de Custo-Benefício
de Projetos de Investimento em Infraestrutura

1
Ministério da Economia
Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade
Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura

Avaliação de Metodologias de
Levantamento de Risco Climático, Fontes
de Informações Climáticas

Anexo ao Guia ACB

VERSÃO CONSULTA À SOCIEDADE

Brasília-DF
Novembro de 2022

1
Esse Anexo foi realizado pela Kralingen Consultoria Ltda. sob a coordenação da
Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura da Secretaria Especial de Produ-
tividade e Competitividade do Ministério da Economia do Brasil (SDI/Sepec/ME) e a
Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio do projeto Apo-
io ao Brasil na Implementação da Agenda Nacional de Adaptação à Mudança do
Clima (ProAdapta). O projeto foi pactuado no âmbito da Cooperação Alemã para o
Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério do Meio
Ambiente do Brasil (MMA) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusam-
menarbeit GmbH (GIZ), no âmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI, sig-
la em alemão), do Ministério Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Se-
gurança Nuclear e Proteção ao Consumidor da Alemanha (BMUV, sigla em alemão).

APOIO TÉCNICO - Kralingen Consultoria LTDA

Daniel Thá
Layla Lambiasi

COORDENAÇÃO TÉCNICA E REVISÃO

Ministério da Economia (SDI/Sepec/ME)

Fabiano Mezadre Pompermayer


Rodolfo Gomes Benevenuto
Fabio Hideki Ono
Renato Alves Morato
Raul Menezes dos Santos
Diego Camargo Botassio

Deutsche Gesellschaft für Internationale


Zusammenarbeit (GIZ) GmbH

Ana Carolina Câmara – Diretora de projetos


Eduarda Silva Rodrigues de Freitas – Assessora técnica
Pablo Borges de Amorim – Assessor técnico

2
Sumário

Apresentação 5
Definições 7
Siglas 12

1. Por que considerar riscos climáticos em projetos de


investimento de infraestrutura 13
2. Como usar este Anexo 25
3. Etapa 1 - Triagem preliminar do risco climático: O proje-
to e seu contexto estão potencialmente sob risco climático? 31
4. Etapa 2 - Avaliação e análise do risco climático: como as
ameaças climáticas afetam a performance do meu projeto? 47
5. Etapa 3 - Tomada de decisão considerando a compo-
nente climática 77
6. Fontes de informações e bases de dados climáticos 89
Referências 97

3
APRESENTAÇÃO

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mu-


dança do Clima das Nações Unidas conclui que a mudança do clima
induzida pelo homem já afeta extremos climáticos em praticamente
todas as regiões do mundo. Para o Brasil, as projeções apresenta-
das no Climate Change Knowledge Portal indicam que as temperatu-
ras médias anuais podem subir de 1,7 a 5,3°C até o final do século.

Para reduzir os danos e prejuízos decorrentes desses im-


pactos e tornar nossos ativos de infraestrutura mais resilientes,
faz-se necessária uma seleção otimizada dos investimentos alo-
cados para esse setor. A padronização de ferramentas e a dissemi-
nação de bases de dados climáticos disponíveis para aprimorar
o planejamento da infraestrutura representa, portanto, um im-
portante e necessário avanço institucional do governo brasileiro.

Nesse contexto, o presente Anexo sobre riscos climáticos do Guia


Geral de Análise Socioeconômica de Custo-Benefício de Projetos de In-
vestimento de Infraestrutura (Guia ACB) apresenta os conceitos e as fer-
ramentas básicas para incorporação dos riscos associados à mudança
do clima na análise socioeconômica dos projetos de infraestrutura.
A metodologia de análise socioeconômica apresentada no Guia ACB
tem se consolidado como um passo fundamental no planejamento da
nossa infraestrutura. A partir de sua aprovação e recomendação no âm-
bito do Comitê Interministerial de Governança (CIG) e do Comitê Inter-
ministerial de Planejamento da Infraestrutura (CIP-Infra), sua utilização
tem sido amplamente difundida em setores como transportes, san-
eamento, segurança hídrica, telecomunicações, energia, entre outros.

Assim, as diretrizes apresentadas neste documento visam de-


talhar e padronizar o processo de incorporação dos riscos climáticos
em um sólido instrumento de análise já estabelecido dentro do ciclo
de planejamento dos principais projetos de infraestrutura do país. Por
fim, encorajamos as contribuições no âmbito dessa consulta pública
de modo a aprimorar ainda mais o conteúdo deste Anexo.

5
DEFINIÇÕES

Adaptação à mudança do clima: nos sistemas humanos, é o proces-


so de ajuste ao clima real ou esperado e seus efeitos, a fim de mod-
erar danos ou explorar oportunidades benéficas; nos sistemas natu-
rais, é o processo de ajuste ao clima real e seus efeitos; a intervenção
humana pode facilitar o ajuste ao clima esperado e seus efeitos (IPCC,
2022). Sistemas naturais que não são gerenciados pelo homem apre-
sentam adaptação espontânea, ao passo que sistemas humanos po-
dem adotar estratégias deliberadas (planejadas) ou reagir de forma
espontânea a estímulos climáticos (Smit et al., 2000). A adaptação
pode se basear em ecossistemas quando faz uso da biodiversidade e
dos serviços ecossistêmicos como parte de uma estratégia de adap-
tação completa (CBD, 2015).

Ameaça climática: ocorrência potencial de um evento ou tendência


física natural ou induzida pelo homem que pode causar perda de vi-
das, ferimentos ou outros impactos à saúde, bem como danos e per-
das à propriedade, infraestrutura, meios de subsistência, prestação
de serviços, ecossistemas e recursos ambientais (ex. aumento do
nível do mar, chuva forte, enchentes e secas) (IPCC, 2022).

Ativo encalhado (stranded assets): ativos podem perder a uti-


lidade como resultado da transição de políticas globais, mudanças
tecnológicas ou de comportamentos dos consumidores em resposta
à mudança do clima. Sob tal risco, a própria relevância dos serviços
prestados pela infraestrutura é colocada em xeque, independente-
mente dos riscos físicos (van der Ploeg & Rezai, 2020).

Canais de impacto da mudança do clima: no contexto e na con-


cepção (design) de infraestruturas, são os mecanismos que trans-
mitem os impactos climáticos aos setores de infraestrutura, ou seja,
as formas com as quais a mudança do clima pode afetar as variáveis
de projeto (Dawson et al, 2016).

Cenário climático: resposta simulada do sistema climático a um


cenário de emissões futuras ou concentrações de gases de efeito
estufa e mudanças no uso da terra. As projeções dependem de um
cenário de emissão/concentração/forçante radiativa, que por sua vez
é baseado em premissas relativas, por exemplo, a desenvolvimentos
socioeconômicos e tecnológicos futuros que podem ou não ser real-
izados (IPCC, 2022).

7
Cenário de emissões de gases de efeito estufa: representações
plausíveis das trajetórias futuras de substâncias que contribuem para
o efeito estufa (gases de efeito estufa, ou GEE), tendo como base um
conjunto coerente e consistente de suposições sobre suas forças mo-
trizes (desenvolvimento demográfico e socioeconômico, mudança
tecnológica, energia e uso da terra) e suas principais relações. As pro-
jeções futuras do clima, derivadas de modelos de clima, consideram
os cenários de emissões (IPCC, 2022).

Co-benefícios (co-benefits): efeito positivo que uma política ou


medida destinada a um dado objetivo tem sobre um outro objeti-
vo, aumentando assim o benefício total para a sociedade ou o meio
ambiente. Os co-benefícios também são chamados de benefícios aux-
iliares (ancillary benefits) (IPCC, 2022).

Exposição à ameaça climática: presença de pessoas; meios de sub-


sistência; espécies ou ecossistemas; funções, serviços e recursos am-
bientais; infraestrutura; ou bens econômicos, sociais ou culturais, em
lugares e configurações que podem ser afetados negativamente pela
mudança do clima. (IPCC, 2022).

Gases de efeito estufa (GEE): substâncias gasosas presentes na


atmosfera, tanto naturais quanto antropogênicos, que absorvem e
emitem radiação em comprimentos de onda específicos dentro do
espectro de radiação emitido pela superfície da Terra, pela própria
atmosfera e pelas nuvens. Esta propriedade causa o efeito estufa.
Vapor de água (H2O), dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O),
metano (CH4) e ozônio (O3) são os principais gases de efeito estufa
na atmosfera da Terra (IPCC, 2022).

Gerenciamento de risco de desastres (disaster risk management


- DRM): processos para projetar, implementar e avaliar estratégias,
políticas e medidas para melhorar a compreensão do risco de de-
sastres atual e futuro, promover a redução e transferência de risco
de desastres e promover a melhoria contínua nas práticas de prepa-
ração, prevenção e proteção, resposta e recuperação de desastres,
com o explícito objetivo de aumentar a segurança humana, o bem-es-
tar, a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável (IPCC, 2022).

Impacto climático: consequências dos riscos percebidos nos siste-


mas naturais e humanos, onde os riscos resultam das interações de
ameaças relacionadas ao clima (incluindo eventos climáticos extrem-
os), exposição e vulnerabilidade. Os impactos geralmente se referem
a efeitos sobre vidas, meios de subsistência, saúde e bem-estar, ecos-
sistemas e espécies, ativos econômicos, sociais e culturais, serviços

8
(incluindo serviços ecossistêmicos) e infraestrutura. Os impactos po-
dem ser referidos como consequências ou resultados e podem ser
adversos ou benéficos (IPCC, 2022).

Lente climática: consiste em um processo, passo ou ferramenta


analítica para analisar uma política, plano ou programa, indicando os
riscos que a mudança do clima representa para as metas de desen-
volvimento em longo prazo (OCDE, 2011).

Má adaptação: ações que podem levar ao aumento do risco de re-


sultados adversos relacionados ao clima, inclusive por meio do au-
mento das emissões de GEE, aumento da vulnerabilidade à mudança
do clima ou diminuição do bem-estar, atualmente ou no futuro. A
má adaptação é geralmente uma consequência não intencional (IPCC,
2022). Pode também resultar de desenvolvimento econômico busi-
ness-as-usual que, ao negligenciar os impactos da mudança do clima,
inadvertidamente aumenta a exposição e/ou vulnerabilidade à mu-
dança do clima (OCDE, 2011).

Medidas de adaptação de nenhum ou baixo arrependimen-


to (no-regret / low-regret): medidas ou atividades que trazem
benefícios sociais e ecológicos, independentemente do nível de mu-
dança climática (IPCC, 2022).

Mitigação à mudança do clima: ações para limitar a magnitude ou


a taxa de mudança do clima de longo prazo, geralmente envolvendo
reduções nas emissões humanas (antropogênicas) de gases de efeito
estufa (IPCC, 2022).

Modelos de clima: representações numéricas do sistema climáti-


co com base em propriedades físicas, químicas e biológicas de seus
componentes, suas interações e processos de retroalimentação. A
complexidade da representação do sistema climático é variável, con-
tingente do número de dimensões espaciais, da extensão em que
os processos são explicitamente representados ou mesmo do nível
das parametrizações empíricas envolvidas. Modelos acoplados de
circulação atmosfera-oceano fornecem representações do sistema
climático no qual o ciclo do carbono é incluído, permitindo o cálculo
interativo de CO2 atmosférico ou emissões compatíveis. Componen-
tes adicionais (ou seja, química atmosférica, mantos de gelo, vege-
tação dinâmica, ciclo do nitrogênio, mas também modelos urbanos
ou de cultivo) podem ser incluídos. (IPCC, 2022)

9
Normais climatológicas: valores médios de variáveis meteorológicas
calculadas para um período relativamente longo e uniforme, incluin-
do médias de temperatura mínima e máxima, umidade, insolação,
vento, precipitação, extremos de temperatura e chuva, entre outros.
São utilizadas como referência contra a qual observações recentes ou
atuais podem ser comparadas, inclusive fornecendo uma base para
muitos conjuntos de dados climáticos baseados em anomalias (por
exemplo, temperaturas médias globais). Também são amplamente
utilizados, implícita ou explicitamente, para prever as condições mais
prováveis de serem experimentadas em um determinado local (WMO,
2018).

Perdas evitadas: os danos e perdas imediatos e de longo prazo que


as medidas de adaptação e de redução de risco de desastres podem
evitar em caso de manifestação da ameaça climática (PNUD, 2005).

Recursos informacionais: abrangem dados, informações e análises


em diversos formatos, tais como: variáveis climáticas e projeções de
clima (ex. temperatura, precipitação, umidade, velocidade do vento
etc.); análises de variáveis climáticas e projeções de clima (ex. tendên-
cias de temperatura e precipitação para uma dada região em um dado
período); impactos climáticos secundários (ex. mapas de inundação,
rendimento de culturas); ou ainda abordando vulnerabilidades e
opções de resposta (ex. mapas de pobreza e portfólios de medidas
de adaptação à mudança do clima no campo da ciência climática).

Resiliência: a capacidade de sistemas sociais, econômicos e ecológi-


cos interconectados para lidar com uma ameaça ou distúrbio, re-
spondendo ou reorganizando-se de maneira a manter sua função,
identidade e estrutura essenciais. A resiliência é um atributo positi-
vo quando mantém a capacidade de adaptação, aprendizagem e/ou
transformação (IPCC, 2022).

Risco climático: potencial de consequências adversas para sistemas


humanos ou ecológicos, reconhecendo a diversidade de valores e ob-
jetivos associados a tais sistemas. No contexto da mudança do cli-
ma, os riscos podem surgir dos impactos potenciais, bem como das
respostas humanas. No contexto dos impactos da mudança clima,
os riscos resultam de interações dinâmicas entre as ameaças rela-
cionadas ao clima com a exposição e vulnerabilidade do sistema hu-
mano ou ecológico afetado aos perigos. No contexto das respostas à
mudança do clima, os riscos resultam do potencial de tais respostas
não atingirem o(s) objetivo(s) pretendido(s), ou de gerarem possíveis
compensações ou efeitos colaterais negativos em outros objetivos
sociais (IPCC, 2022).

10
Risco de fundo: a possibilidade de uma ameaça climática colocar
em perigo as perspectivas da atividade econômica em andamento,
provocando a restrição do investimento privado de longo prazo e re-
duzindo o potencial de crescimento econômico, mesmo na ausência
da ocorrência de um desastre (Infrastructure Australia, 2018).

Sensibilidade: grau em que um sistema ou espécie é afetado, de for-


ma adversa ou benéfica, pela variabilidade ou mudança do clima. O
efeito pode ser direto (ex. uma mudança no rendimento da cultu-
ra em resposta a uma mudança na média, intervalo ou variabilidade
da temperatura) ou indireto (ex. danos causados por um aumento
na frequência de inundações costeiras devido à elevação do nível do
mar) (IPCC, 2022).

Soluções baseadas na Natureza (SbN): soluções inspiradas e apoia-


das pela natureza, que proporcionam benefícios ambientais, sociais e
econômicos e ajudam a construir a resiliência. Também estão ligadas
ao conceito de economia verde, que traz o uso sustentável dos recur-
sos naturais e dos processos ecológicos como um dos fundamentos
para sistemas econômicos mais estáveis e robustos, gerando impac-
tos positivos inclusive em ecossistemas altamente modificados como
as lavouras e pastagens (Comissão Europeia, 2015).

Tempo de retorno ou período de retorno: estimativa do intervalo


de tempo médio entre as ocorrências de um evento (ex. inundação ou
chuva extrema) de (ou abaixo/acima) uma determinada magnitude
ou intensidade (IPCC, 2022).

Variável hidrometeoceanográfica: é a característica de interesse


que é medida em fenômenos hidrológicos, atmosféricos e ocean-
ográficos, como temperatura, pressão atmosférica, precipitação,
vazão de um corpo d’água ou nível do mar.

Vulnerabilidade: propensão ou predisposição a ser adversamente


afetada. A vulnerabilidade engloba uma variedade de conceitos e ele-
mentos, incluindo sensibilidade ou suscetibilidade a danos e falta de
capacidade para lidar e se adaptar aos efeitos adversos da mudança
do clima (IPCC, 2022).

11
SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquaviários
CCKP - Climate Change Knowledge Portal
CEMADEN - Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais
CMIP - Coupled Model Intercomparison Project
GEE - Gases de efeito estufa
GIZ - Cooperação Alemã para o Desenvolvimento
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
ISO - International Standards Organization
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
MINFRA - Ministério da Infraestrutura
MVA - Movimento Viva Água
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PIEVC - Engineering Protocol for Infrastructure Vulnerability Assessment
and Adaptation to a Changing Climate
RCP - Representative Concentration Pathways
SbN - Soluções baseadas na Natureza
SSP - Shared Socioeconomic Pathways
WMO - World Meteorological Organization

12
1
POR QUE CONSIDERAR
RISCOS CLIMÁTICOS
EM PROJETOS DE
INVESTIMENTO DE
INFRAESTRUTURA?

13
A mudança do clima e seus impactos

Atualmente, os efeitos decorrentes das emissões de origem antrópi-


ca são inequívocos, com a mudança do clima estando associada ao
aumento do risco climático e da severidade de eventos extremos em
escala global. Segundo o IPCC (2022)1, “as mudanças climáticas induzi-
das pelo homem, incluindo eventos extremos mais frequentes e intensos,
causaram impactos adversos generalizados e perdas e danos relaciona-
dos à natureza e às pessoas, além do que teria ocorrido pela variabili-
dade natural do clima”.

O planeta está 1,1°C mais quente em relação aos níveis pré-industri-


ais, sendo um aquecimento de 1,5°C previsto para ocorrer já na próx-
ima década, independentemente da trajetória de emissões adotada
a partir da cena atual (IPCC, 2022). Mesmo que o nível de emissões
de gases de efeito estufa seja reduzido drasticamente, o aumento
da temperatura média terrestre deverá seguir seu curso, em inten-
sidades ainda desconhecidas e dependentes das ações antrópicas,
uma vez que o tempo de residência do CO2 na atmosfera é de cerca
de 500 anos. Isso não significa, no entanto, que esforços de mitigação
não devam ser perseguidos: ao contrário, conclusões do IPCC rev-
elam importante e estreita janela de oportunidade capaz de evitar
consequências graves, principalmente em relação às projeções para
o clima no final do século2. O clima de uma Terra 2,0°C mais quente
é exponencialmente mais hostil do que o clima de uma Terra 1,5°C
mais quente.

O IPCC (2022) também apresenta prognósticos para o Brasil e suas


regiões3: enquanto a maior parte das alterações identificadas como
severas se concentram nas regiões Norte e Nordeste, todo o país está
sujeito a grandes consequências. Em termos gerais, os aumentos de
temperatura são praticamente certos e devem se fazer sentir com
bastante intensidade em todo o território nacional. Caso as emissões

¹ Tradução livre de trecho do 6º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças


Climáticas (IPCC), Grupo II. Disponível em [link].

² A mudança do clima demanda respostas da sociedade que podem ser agrupadas em duas
distintas categorias: mitigação e adaptação. A mitigação refere-se à redução das emissões
de gases de efeito estufa (GEE) para evitar ou reduzir a incidência da mudança do clima; en-
quanto a adaptação busca reduzir seus efeitos danosos e explorar possíveis oportunidades.
A adaptação é necessária independentemente do quanto conseguimos reduzir de emissões
de GEE, pois as emissões históricas já alteraram o clima de maneira que a temperatura
média global da Terra vem batendo recordes a cada ano. Enquanto ações de mitigação
atuam no sentido de reduzir o risco climático pela redução da ameaça, as ações de adap-
tação têm a possibilidade de influenciar o risco por meio da redução da vulnerabilidade. É
recomendável que exista sinergia entre ações de mitigação e adaptação.

³ Capítulo 12 do 6º Relatório de Avaliação, disponível em [link].

14
sigam em alta, a precipitação média anual no Nordeste pode ser
reduzida em 22% ao longo do século, sendo que chuvas mais con-
centradas e em períodos menos regulares são previstas de ocorrer
em todo o país. Nesse contexto, a população exposta a enchentes
e deslizamentos de terra pode dobrar ou até triplicar nas próximas
décadas. Projeções de secas mais prolongadas afetam tanto a região
Nordeste, quanto a Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Da mesma forma,
a floresta amazônica deve observar a aceleração do processo de
savanização4, tendo como consequência, dentre outras coisas, uma
redução (de até 40%) das chuvas ali geradas, afetando a circulação
da monção sul-americana e modificando a distribuição dos regimes
pluviométricos - em especial nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

O impacto da mudança do clima nas insfraestruturas é mate-


rial

A década passada mostrou que eventos climáticos extremos, bem


como mudanças crônicas nos ciclos hidrológicos, podem prejudicar
o desenvolvimento econômico do país. É bem reconhecido como in-
vestimentos públicos e privados têm se tornado mais expostos aos
riscos climáticos.

Elevação do nível do mar, alterações nas médias de temperaturas


e precipitação e outros fatores climáticos afetam diversos tipos de
infraestruturas e serviços associados. Eventos extremos, como tem-
pestades, inundações e secas severas também têm aumentado de
frequência e intensidade nos últimos anos, representando possíveis
interrupções e perdas diretas e indiretas associadas à operação dess-
es ativos. Impactos agudos e crônicos advindos do clima já se man-
ifestam em termos financeiros, não só em economias emergentes,
mas também em países de renda média como o Brasil (UNDP, 2019).
Nesse cenário, projeções quanto ao impacto da mudança do clima
sobre a economia brasileira apontam para uma queda de quase 6%
no PIB até 2070 (PBMC, 2013).

A crescente exposição de infraestruturas a riscos climáticos, seus re-


tornos de investimento e sua capacidade de suprir as demandas para
as quais foram projetadas têm evidenciado a necessidade de abor-
dagens robustas de identificação e gerenciamento de tais riscos no

4
O processo de savanização advém de pressões de degradação e desmatamento, como
demonstrado em diversas publicações científicas, e tanto exacerba como é exacerbado pe-
las mudanças do clima (ciclo de feedback positivo). Ver, por exemplo: Boulton, Lenton &
Boers (2022), Painel Científico para a Amazônia (2021) e Silvério et al. (2013).

15
ciclo de análise, tanto no nível do projeto quanto do portfólio. Assim,
identificar, avaliar e quantificar esse risco climático é uma condição
importante e necessária para evitar perdas socioeconômicas futuras.

A promoção da resiliência climática como estratégia ganha-


ganha

Embora existam incertezas quan-


Gerir o risco climático pode sig-
to à magnitude das mudanças as-
nificar construir infraestruturas de
sociadas ao clima, há uma elevada
acordo com padrões diferentes (ex.
confiança de que os riscos decor-
uma ponte para uma especificação
rentes de falhas na gestão dessas
de inundação mais alta), ou con-
mudanças continuarão a aumentar
siderar diferentes opções para se
nas próximas décadas (Neumann et
alcançar os mesmos resultados de
al., 2021).
serviço (ex. mover um corredor ro-
doviário para longe de áreas de pos-
Uma vez que a ação climática e o
sível inundação costeira futura, ou
desenvolvimento sustentável são
mudar o modo de transporte para
processos interdependentes, o
se tornar mais flexível).
desenvolvimento resiliente ao cli-
ma é possível quando essa inter-
dependência é alavancada a partir da implementação de opções de
mitigação e adaptação (climate resilient development pathways) (IPCC,
2022). Nesse contexto, a infraestrutura está no nexo da adaptação às
mudanças climáticas, da mitigação das emissões de gases de efeito
estufa, bem como da busca por justiça ambiental. Investimentos de
interesse público em infraestrutura resiliente oferecem, portanto,
oportunidades “ganha-ganha”, reduzindo emissões, aumentando
benefícios sociais e reduzindo desigualdades por meio do acesso a
saneamento, energia, comunicação, alimentos e a um meio ambiente
mais equilibrado (Neumann et al., 2021).

Por outro lado, impactos adversos da mudança do clima se configu-


ram como graves ameaças ao desenvolvimento sustentável, sendo
fundamental fortalecer o gerenciamento de risco de desastres ex
ante, fomentando a construção de resiliência societária. Mesmo as-
sim, investimentos no gerenciamento de risco de desastres perman-
ecem aquém do necessário; possivelmente em decorrência da per-
cepção de que seus benefícios só ocorrem quando há efetivamente
um desastre. Crescentes evidências revelam, no entanto, que investi-
mentos em resiliência produzem benefícios significativos e tangíveis
mesmo na ausência (ou ocorrência tardia) de um desastre (Tanner et
al, 2018). Além de evitar perdas quando os desastres efetivamente
ocorrem, os co-benefícios promovem a atividade econômica.

16
Projetos de adaptação à mudança do clima vs. projetos resil-
ientes

Algumas tipologias de projetos de in- Infraestruturas hídricas para


fraestrutura trazem uma relação direta contenção de cheias ou abas-
com a resiliência climática, visto que ob- tecimento de água podem ser
jetivam reduzir a exposição ou a vulner- consideradas projetos de adap-
abilidade de sistemas naturais ou hu- tação à mudança do clima.
manos, contribuindo de forma explícita
para a resiliência de seus beneficiários, comunidades, ativos, ou
sistemas mais amplos em que estão situados (ex., barragem de con-
tenção de cheias). Tendo em vista que estes projetos visam minimizar
danos e prejuízos ocasionados pelo clima, denomina-se projeto de
adaptação à mudança do clima. Promove-se, nesses casos, a resil-
iência por meio do projeto, ou seja, projetos que visam a adaptação
à mudança do clima.

No mais das vezes, no entanto, os investimentos de interesse público


buscam atender demandas que não estão diretamente relacionadas
à redução dos impactos da mudança do clima. Porém, estes proje-
tos devem estar preparados para possíveis alterações nos padrões
climáticos a fim de garantir os serviços aos quais foram concebi-
dos (ex., uma rodovia com uma drenagem que considera o regime
de chuva futuro). Neste caso, denomina-se projeto resiliente. Caso
um projeto seja concebido sem a devida consideração dos impactos
de desastres trazidos pela mudança do clima, pode estar colocando
em risco seu desempenho. Uma vez que a análise de custo-benefício
deve informar o tomador de decisão acerca dos ganhos líquidos do
projeto, seus riscos devem ser reportados de forma sistemática e
transparente para que sejam adequadamente gerenciados. Projetos
resilientes acabam por promover a resiliência de forma indireta, ao
que se denomina resiliência do projeto.

Avaliações socioeconômicas são sensíveis aos efeitos da mu-


dança do clima

Com base no anteriormente exposto, a consideração da mudança


do clima na avaliação socioeconômica de projetos de infraestrutura
se torna imperativa, uma vez que uma maior variabilidade climática
afeta o ambiente em que os ativos de infraestrutura estão inseridos,
gerando impactos na sua performance operacional, ambiental, social
e econômica. Nesse novo contexto climático, limites de operação se-
gura e eficiente serão ultrapassados com maior frequência, passando
de caráter excepcional e efeitos aceitáveis para frequência não ex-

17
cepcional e com efeitos, por vezes, inaceitáveis. Assim, a ACB socio-
econômica é sensível a efeitos climáticos, tanto pela redução da vida
útil do ativo, quanto pelo aumento de custos operacionais (Opex) e
necessidade de capital adicional (Capex), perda de renda do ativo, au-
mento de danos ambientais, bem como alteração nas demandas de
bens e serviços associados, entre outros (Comissão Europeia, 2013)5.

Lente climática no planejamento setorial e regional

Os efeitos da decisão de con- Embora a ACB possa capturar a maioria


strução de uma ferrovia nacio- dos efeitos de eventos climáticos sobre
nal que permita, por exemplo, determinada infraestrutura, geralmente
a atividade agrícola em uma de caráter físico ou operacional, o clima
região sujeita a perdas de pro- futuro tem incidência mais ampla e con-
dutividade no futuro por conta juntural. Decisões estratégicas do setor,
de novos padrões climáticos, seu planejamento, ou ainda, grandes
dificilmente serão capturados infraestruturas com poder de deslo-
pela ACB em si, mas deverão car padrões socioeconômicos (projetos
ser antecipados pelo planeja- estruturantes), também precisam ser
mento setorial e regional. avaliados sob uma perspectiva climática
robusta.
A primeira etapa da avaliação do projeto de infraestrutura é sua jus-
tificativa no atendimento às demandas sociais identificadas, fase que
se alinha à proposta inicial de investimento do Modelo de Cinco Di-
mensões. A concepção do projeto deve ter coerência política, insti-
tucional e regulatória, sendo a adaptação à mudança do clima um dos
temas a serem avaliados.

Projetos de infraestrutura resilientes à mudança do clima devem se


alinhar ao planejamento federal, estadual, setorial e regional, deven-
do também ser avaliados como potenciais promotores de adaptação.
Ademais, em setores de infraestrutura organizados como redes com-
plexas (transportes e logística, sistema elétrico interligado, sistemas
metropolitanos de mobilidade), a observação dos novos padrões
climáticos deve ser realizada de forma integrada às modelagens
quantitativas tradicionalmente utilizadas, haja vista que cada inter-
venção individual afeta e é afetada pelos demais elementos da rede.

5
A incorporação do risco climático nas avaliações socioeconômicas é abordada por di-
versas publicações, com destaque para AECOM/Australian Government (2012), IISD (2014),
Infrastructure Australia (2018), New Zealand Government (2020), The Asian Development
Bank - ADB (2015), World Bank (2021), UK Department for Environment, Food and Rural
Affairs (2020) e USAID (2013).
18
Sobre a natureza da ameaça climática e susas formas
de incorporação na avaliação socioeconômica

A natureza da ameaça climática que se espera enfrentar pode, gros-


so modo, se manifestar de forma crônica, por meio de alterações
nas condições climáticas médias, ou aguda, por meio de alterações
de eventos extremos. Esta seção detalha ambas as situações e suas
implicações para a avaliação socioeconômica de projetos, ilustran-
do formas de integrar tais riscos climáticos às estimativas de custos,
benefícios e externalidades. Nota-se que uma dada infraestrutura
pode apresentar vulnerabilidade a um, a outro ou a ambos os tipos
de risco climático. Caso se manifestem conjuntamente, deve-se aten-
tar para que suas considerações não promovam dupla contagem.

Risco crônico, oriundo das condições climáticas médias

As mudanças nas condições climáticas médias (climatologia) podem


desempenhar um papel fundamental no risco de determinadas in-
fraestruturas, especialmente naquelas cujo bem ou serviço é intrin-
secamente dependente das condições ambientais, tais como sanea-
mento básico, recursos hídricos e geração de energia hidrelétrica,
eólica e solar. Nestes casos, a performance das infraestruturas está
vinculada de forma direta ao clima e a devida consideração de mod-
ificações crônicas é essencial para que a performance esperada pelo
projeto seja de fato entregue. Caso contrário, haverá sobrestimação
de benefícios e falsa atestação de viabilidade socioeconômica.

A climatologia também pode afetar setores da infraestrutura de for-


ma indireta, ao promover alterações na demanda pelos serviços.
Regiões mais quentes podem requerer mais energia ou mais recur-
sos hídricos (residencial, comercial e industrial). O setor de trans-
portes também pode ser indiretamente afetado pela climatologia: a
demanda de cargas agropecuárias e insumos correlatos deve sofrer
modificações, seja pela produção de volumes maiores ou menores,
mudanças no perfil das cargas ou em sua sazonalidade. Até mesmo
os fluxos de passageiros podem se alterar em decorrência de modifi-
cações na climatologia.

Dessa forma, a mudança do clima afetará as projeções de demanda


e de oferta pelos serviços e, consequentemente, no porte do projeto
(custos) e em seus benefícios e externalidades. Diferentes tipos de
projetos – e em diferentes localidades – podem ser impactados de
formas específicas.

19
O efeito do clima em um componente do custo pode ser calculado
com base na seguinte formulação:

Custo_com_risco_climático (categoria, ano, cenário climático) =


Custo_sem_risco_climático (categoria, ano) * (1 + ∆Custo (%) (cate-
goria, ano, cenário climático))

Já o efeito do clima em um dado benefício ou externalidade pode


alterar tanto suas variáveis de performance (m 3/s, kWh, ton/ha etc.)
como seu custo unitário (R$/m 3, R$/kW, R$/ton etc.). Nesse caso, o
valor revisto do benefício (ou da externalidade) deve seguir a se-
guinte formulação:

Benefício_com_risco_climático (categoria, ano, cenário climático) =


Benefício_sem_risco_climático (categoria, ano) * (1 + ∆Quantidade
(%) (categoria, ano, cenário climático)) * (1 + ∆Preço (%) (categoria,
ano, cenário climático))

Abaixo, alguns exemplos de como as mudanças nas médias climáti-


cas podem interferir em projetos de infraestrutura:

Capex: pode ser necessário considerar um reinvestimento (Repex)


ou retrofit adicional caso um projeto de irrigação exija a substitu-
ição da unidade de bombeamento no futuro para compensar a re-
dução ou irregularidade das chuvas, ou se um projeto rodoviário
exigir recapeamento com materiais mais resilientes (e caros) em
20 anos.

Opex: maiores níveis médios de chuva podem aumentar o custo


de manutenção de estradas; menores precipitações podem au-
mentar os custos de energia ligados ao bombeamento de água
para irrigação; menores níveis médios de umidade podem exi-
gir manutenção mais intensa nas faixas de servidão de linhas de
transmissão dado o maior risco de incêndio.

Benefícios e externalidades (efeito direto): o aumento da tem-


peratura pode forçar a redução da velocidade operacional de uma
ferrovia; maiores precipitações e umidade do ar aumentam prob-
lemas com descargas atmosféricas e prejudicam as condições de
propagação de radiofrequências; chuvas reduzidas e temperatu-
ras mais altas podem diminuir os rendimentos agrícolas futuros.

Benefícios e externalidades (sob efeito indireto): as condições


climáticas podem afetar os preços unitários da produção do pro-
jeto (a exemplo da produção agrícola, que tende a sofrer um
aumento nos preços globais devido à mudança do clima) ou os
preços nos mercados secundários.

20
Risco agudo, oriundo das condições climáticas extremas

Danos e prejuízos (públicos e privados)6 causados por eventos climáti-


cos extremos já figuram entre as principais ameaças diretas a ativos
de infraestrutura. Além de alterações crônicas na climatologia, a mu-
dança do clima também altera a frequência, magnitude e intensidade
de eventos climáticos extremos (IPCC, 2022).

Para lidar com riscos agudos, muitos projetos de engenharia consid-


eram o tempo de retorno como parâmetro de projeto com o intuito
de minimizar os efeitos prejudiciais de fenômenos naturais. Quanto
maior o dano e prejuízo da falha da infraestrutura, maior é o tempo
de retorno a ser considerado. Um sistema de drenagem pode consid-
erar um tempo de retorno curto (de 2 a 10 anos), pois a falha de um
sistema de drenagem acarreta danos e prejuízos leves. Por outro lado,
uma barragem ou reservatório de água deve considerar um tempo de
retorno longo (de 50 a 1000 anos), pois a falha pode ocasionar eleva-
dos danos e prejuízos (ex. inundação de cidades). Algumas normas
técnicas de engenharia consideram tempos de retorno em função da
vida útil de diversos ativos e seus métodos construtivo7.

Para considerar os danos e prejuízos na avaliação de um projeto de


infraestrutura, é necessário estabelecer a curva de tempo de retorno
de danos (Figura 2.1), que estabelece a relação entre a magnitude
dos impactos (expressos em valor monetário a preços sociais) e sua
probabilidade de ocorrência (representada por três ou quatro even-
tos e seus respectivos tempos de retorno). Com base nessa relação,
calcula-se o valor anualizado do dano, ou seja, o que se espera mate-
rializar em qualquer ano no horizonte de análise do projeto8.

6
Danos (materiais) se referem às danificações em habitações, infraestrutura e em insta-
lações públicas e privadas, geralmente apresentadas em números (ex. cinquenta casas afe-
tadas) ou em valores monetários. Prejuízos (imateriais) se referem às perdas reportadas
nos setores público e privado. No primeiro, tem-se prejuízos pela interrupção de serviços
essenciais (ex.: assistência médica, abastecimento de água, coleta e destinação de resíduos
sólidos, geração e distribuição de energia, transportes, segurança pública, educação etc.).
No segundo (setor privado), os prejuízos geralmente são estimados pelo tempo de inter-
rupção das atividades econômicas (agropecuária, indústria e serviços).

7
Curvas de vulnerabilidade padrão conseguem relacionar, para muitos setores, característi-
cas físicas de um evento e os custos de reparo (ex. se uma rodovia for inundada por mais
de 1 metro de água, o custo do reparo é de cerca de 15% do custo inicial da construção).

8
Um dos métodos mais simples previstos por Olsen et. al. (2015) para calcular os danos e
prejuízos anualizados é pela somatória da multiplicação das médias dos danos previstos
nos ano T e anoT-1 pela diferença na probabilidade de excedência entre estes mesmos anos.

21
Medidas de prevenção e/ou mitigação são prescritas no intuito de re-
duzir a curva de probabilidade de excedência de danos, diminuindo,
respectivamente, a probabilidade e/ou a severidade da ocorrência
de cada evento. As perdas evitadas (na recuperação dos bens dan-
ificados e na cobertura dos prejuízos econômicos) representam os
benefícios esperados pelas medidas. Já os custos associados às medi-
das devem retroalimentar os dados de entrada da ACB, podendo im-
pactar Capex, Opex ou mesmo externalidades. A comparação entre
os cenários base (sem medidas de mitigação) e alternativos (com me-
didas de adaptação) permite explicitar se a combinação entre custos
e benefícios é positiva, sendo que os custos da adaptação devem ser
inferiores à perda potencial de bem-estar identificada, para justificar
as ações a serem tomadas.

A consideração do risco climático deve ser realizada com base no ris-


co adicional, pressupondo-se que a análise default do projeto (de-
sconsiderando o clima) já incorpora os danos esperados pela ocor-
rência de eventos extremos sob as condições atuais 9. Idealmente,
se faz necessário identificar o efeito de cada cenário climático na
intensidade, duração, frequência e extensão espacial de cada um
dos riscos naturais identificados como relevantes10. Uma vez que a
severidade dos eventos extremos não consegue ser reduzida a um
único número (ex. o prejuízo de uma estiagem é decorrente de sua in-
tensidade, duração e extensão espacial), pode-se assumir a premissa
de que apenas as probabilidades de ocorrência (tempos de retorno)
serão afetadas.

De fato, é esperado que nas próximas décadas o principal impacto


da mudança do clima seja na alteração da frequência de eventos ex-
tremos (IPCC, 2022). Como exemplo, a excepcional onda de calor que
assolou o Reino Unido em julho de 2022 foi tornada 10 vezes mais
provável devido às emissões humanas de gases de efeito estufa11.
Embora simplista, a premissa de consideração da mudança na fre-
quência como proxy mínima para a modificação na intensidade, du-
ração e extensão espacial atende a uma primeira aproximação para
testar a vulnerabilidade do projeto; caso o risco remanescente per-
maneça elevado, pode-se recomendar representações mais complex-

9
No caso de a análise default não contemplar os riscos naturais, deve-se realizar sua in-
clusão com base nas condições atuais, de forma que se identifique apenas o risco adicional
trazido pela mudança do clima.

10
Se o projeto estiver sujeito a vários riscos, o processo de cálculo das curvas de excedência
de danos deve ser repetido para cada um, individualmente - a combinação de diferentes
ameaças com diferentes períodos de retorno não é trivial, pois depende da correlação es-
paço-temporal entre eventos.

11
Análise do World Weather Attribution, disponível em [link].

22
as da mudança nas demais características de eventos extremos, para
além de sua frequência.

Nesse caso, a adicionalidade em danos e prejuízos trazida pelo risco


climático pode ser calculada com base na diferença entre as curvas
de probabilidade de excedência de danos, tal como ilustrado na Figu-
ra 1.1. A mudança do clima desloca a curva, ou seja, os mesmos níveis
de perdas passam a ocorrer com maior frequência: a curva em roxo
representa a relação entre os danos e os tempos de retorno atuais; a
curva em azul mostra que os mesmos danos são associados a tempos
de retorno menores (mais frequentes).

Tabela 1.1: Ilustração do deslocamento da curva de Tempo de Retor-


no de danos devido à mudança do clima

Fonte: Elaboração própria.

23
2
COMO USAR ESSE ANEXO

25
O presente anexo integra o Guia ACB e deve ser utilizado em conjunto
com este. Embora as etapas de avaliação do risco climático em pro-
jetos de investimento preconizadas pela literatura possam ser apli-
cadas de forma autônoma, o objetivo é incorporá-las ao processo de
elaboração de uma ACB Socioeconômica, em especial à aplicação do
Guia ACB e seus passos.

A Figura 2.1 relaciona as três etapas de avaliação dos riscos climáti-


cos em projetos de investimento de infraestruturas com os quatro
grandes blocos da elaboração de uma ACB e respectivos capítulos do
Guia ACB. A figura objetiva situar o leitor quanto à natureza paralela
que a consideração de riscos climáticos tem na jornada de construção
de uma análise de custo-benefício. À direita, as questões estratégicas
orientam o que o analista deverá fazer em cada fase da ACB e da
aplicação deste anexo, com base nas interações e repercussões da
consideração do risco climático na avaliação socioeconômica.

O fluxograma seguinte (Figura 2.2) guia o analista pelas etapas e sub-


etapas, por meio de perguntas orientadoras, pontos de decisão, in-
dicações de referências e registros até a consideração compreensiva
dos riscos climáticos nos diversos componentes da ACB.

As próximas seções trazem mais detalhes de cada etapa e subeta-


pa, baseadas no fluxograma exposto, e são estruturadas em (i) ob-
jetivo da etapa (ii) perguntas orientadoras (iii) informações e dados
necessários, (iv) descrição e exemplificação da aplicação nas etapas e,
(v) pontos de decisão, em que o analista deve se orientar para passar
para as etapas subsequentes.

26
AVALIAÇÃO DO RISCO CLIMÁTICO
Interações e repercussões
Avaliação da dimensão

Capítulo 3 • A área de estudo foi ou pode vir a ser


estratégica para o

Etapa 1 afetada por eventos climáticos


Fundamentos para intervenção
investimento

(mudanças nas média ou nos extremos)


Antes do início da ACB, questões estratégicas Triagem do risco • O projeto pode promover resiliência e
para a intervenção devem ser claramente climático ajudar a reduzir desastres
identificadas: o contexto institucional; objetivos • Demanda e oferta para o cenário base
O projeto e seu contexto estão sob
do projeto; a análise estratégica de alternativas podem se alterar pela mudança do clima
risco climático?
e adequada identificação do projeto; definição • Os cenários alternativos podem ser
de objetivos; identificação do projeto; definição Etapa 1.a: O que esperar da aprimorados
do cenário base e cenários alternativos mudança do clima?
Etapa 1.b: Como meu projeto pode
ser afetado pelo clima?
Etapa 1.c: a magnitude e/ou a
probabilidade da ameaça e das
Fontes de dados que

vulnerabilidades do projeto tornam • O planejamento setorial e estudos de


Capítulo 4
alimentam a ACB

a consideração do risco relevante? demanda devem considerar as


Requisitos informacionais repercussões das alterações climáticas
• Estudos de demanda, para subsidiar a • Estudos, dados históricos e referências
identificação e cálculo dos benefícios setoriais podem ser consultados
• Estudos de engenharia as alternativa técnicas • O projeto pode ser repensado para se
possíveis, estimativas de custos e cronograma tornar resiliente, com reflexo em custos e
de implementação cronograma de implantação
• Estudos ambientais que fundamentam as Etapa 2
estimativas de externalidades
Avaliação e análise do
risco climático
Etapa 2.a: Quais cenários climáticos
Capítulo 5 utilizar para a análise?
• Um projeto resiliente pode requerer
Passos metodológicos para a condução da

Estimativas de custos Etapa 2.b: Como estimativas de custos maiores (Capex e Opex), que
econômicos demandas e ofertas do cenário
GUIA ACB

podem ser mais que compensados por


base se alteram ao longo do perdas evitadas!
• Custos de investimento (Capex)
tempo? • Em projetos resilientes, tem-se a não-
Avaliação Socioeconômica

• Custos operacionais (Opex)


Etapa 2.c: Como estimativas de interrupção dos benefícios econômicos e
custos (Capex, Opex etc.) do projeto a não-ocorrência de desastres ou
Capítulo 6 se alteram ao longo do tempo? redução de seus danos, variações no
Estimativas de benefícios Etapa 2.d: Como estimativas de bem-estar que devem ser consideradas
no fluxo de benefícios
econômicos benefícios do projeto se alteram ao
longo do tempo? • Toda a ambiência na qual o projeto se
Identificação e estimativa dos benefícios diretos
insere pode ser modificado pelo clima,
Etapa 2.e: Como estimativas de afetando também as externalidades
Capítulo 7 externalidades do projeto se (positivas ou negativas) do projeto
alteram ao longo do tempo?
Estimativas de externalidades
• Identificação das externalidades
• Estimativa das externalidades

Capítulo 8
Indicadores de viabilidade • Se o risco climático for incorporado nos
• Fluxo de caixa comparativo custos, benefícios e externalidades, os
• Cálculo dos indicadores de viabilidade resultados da ACB refletirão seus custos
e as análises resultantes podem seguir
Etapa 3 as recomendações-padrão do Guia ACB

Capítulo 9
Tomada de decisão • Se o risco climático não puder ser

Análise de risco considerando a incorporado, conduz-se a análise de


sensibilidade específica (teste de
componente climática
Avaliações e análises

Análise de sensibilidade; Avaliação qualitativa estresse ou análise probabilística) para


as variáveis de maior repercussão nos
complementares

de riscos; Análise probabilística de risco


Etapa 3.a: Configuração da análise canais de impacto
de sensibilidade
Capítulo 10 • A análise distributiva deve considerar
Etapa 3.b: Condução da análise de que a mudança do clima pode afetar a
Análise distributiva sensibilidade distribuição de custos e benefícios entre
Distribuição de custos e benefícios entre as Etapa 3.c: Encaminhamentos da as partes, podendo recair sobre grupos
partes afetadas pelo projeto ACB com a consideração climática menos favorecidos da população

Capítulo 11
Alternativas de Implementação
do projeto e a ACB

27
INÍCIO
Quadro de ligações
impactos X setores

contexto estão potencialmente sob risco climático?


Etapa 1- Triagem do risco climático: o projeto e seu
Etapa 1.a – Quais são as principais ameaças climáticas no Existem NÃO
FIM
contexto do projeto? ameaças?

SIM

Etapa 1.b – As ameaças afetam variáveis-chave do projeto


(demanda, oferta etc.)? As ameaças podem se traduzir em Lista de ameaças
impactos, alterando o cenário base? e como impactam
‒ Os cenários alternativos estão expostos às ameaças e impactos os cenários base /
potenciais? alternativos
‒ Os impactos potenciais afetam as variáveis de performance ou
os custos de implantação do projeto?

Etapa 1.c – Qual a magnitude do impacto potencial para o cenário Qual a


Classificação BAIXA
base e alternativos? magnitude
FIM
preliminar do risco potencial
‒ O impacto potencial é relevante, precisa ser analisado e
considerado? do risco?

MODERADA/ALTA

Referência - seção X
Possível quantificar
cenários climáticos para NÃO
Etapa 2 - Avaliação e análise do risco climático: como as ameaças

Etapa 2.a – Quais cenários climáticos devo utilizar na análise?


as variáveis de interesse
do projeto?
SIM
climáticas afetam a performance do meu projeto?

Referências setoriais/
planejamento
Etapa 2.b – Como as estimativas de demandas e ofertas do Possível quantificar os NÃO
cenário base são alterados ao longo do tempo em decorrência efeitos do clima na demanda
das mudanças no clima? e oferta do cenário base?

SIM Incorporar na
Referências setoriais ACB
/ engenharia
Etapa 2.c – Como as estimativas de custos (Capex, Opex) do Possível a quantificar os
NÃO
projeto são alterados ao longo do tempo? efeitos do clima nos
custos?
SIM Incorporar na
Referências setoriais
/acadêmicas ACB
/políticas públicas
Possível quantificar os
Etapa 2.d – Como as estimativas de benefícios do projeto são NÃO
efeitos do clima nos
alterados ao longo do tempo? benefícios?
Referências setoriais SIM Incorporar na
/acadêmicas ACB
/políticas públicas Possível quantificar os
Etapa 2.e – Como as estimativas de externalidades do projeto são efeitos do clima nas
NÃO
alterados ao longo do tempo? externalidades?
SIM Incorporar na
ACB

Efeitos do clima foram


Etapa 3.a – Efeitos do clima foram incorporados em todos SIM
incorporados nos
parâmetros relevantes da ACB? parâmetros da ACB?
Etapa 3 - Tomada de decisão considerando a

NÃO

Teste de estresse/
Etapa 3.b - Quão sensíveis são os indicadores do projeto às Análise de Monte Carlo
alterações em cenários de clima? | Quais variáveis são críticas em NÃO
componente climática

relação a riscos climáticos? | Quão robusto é o projeto frente aos Efeitos do clima foram
SIM
cenários de clima futuro? incorporados na análise
de sensibilidade?
Análise de sensibilidade específica para consideração do risco climático
que não pôde ser incorporado nos resultados da ACB (inclusive análise
para variáveis-chave nos canais de impacto e seus valores de inflexão)
Identificação das principais
vulnerabilidades do projeto

Etapa 3.c - É necessário propor e avaliar uma nova alternativa de Recomendações de


projeto, considerando os elementos de vulnerabilidade revelados? aprofundamentos para FIM
SIM próximas fases de avaliação

Alternativa preferida é NÃO


resiliente aos cenários
Retomar o processo de
definição de alternativas 28
climáticos?
Em síntese, ambas as figuras explicitam que o tratamento do risco
climático deve se dar em todas as etapas de desenvolvimento da ACB,
pois se trata de um tema transversal. O formato dessa consideração
deve ser objeto de avaliação, por parte do proponente do projeto
(analista), a partir da classificação preliminar ao final da Etapa 1, que
revela os riscos climáticos aos quais a infraestrutura está sujeita, ao
longo de todo o seu horizonte de análise.

Caso o risco seja alto ou inaceitável, deve-se prosseguir para as de-


mais etapas, sendo que na Etapa 2, o analista irá selecionar cenári-
os climáticos e horizontes temporais aplicáveis ao contexto de inter-
venção e buscar incorporar seus efeitos em todos os componentes
relevantes às estimativas da ACB, seja via oferta e demanda, custos
(Capex e Opex), benefícios ou externalidades projetados, tanto no
cenário do projeto como no contrafactual. Idealmente, os efeitos da
mudança do clima serão incorporados de forma quantitativa nas esti-
mativas, garantindo que os indicadores de resultado da ACB integrem
um contexto climático realista para o projeto.

A ausência de informações climáticas futuras, e sobretudo de uma


tradução clara e quantitativa dos efeitos climáticos em parâmetros
do projeto relevantes à valoração (canais de impacto) pode ser um
empecilho à plena incorporação dos efeitos do clima na metodologia
padrão da ACB. Nesse caso, recorre-se à condução de análise de sen-
sibilidade (teste de estresse ou análise probabilística) a fim de avaliar
a relevância e o grau de influência que variações potenciais causadas
pelo clima teriam nesses parâmetros, procedimentos que integram a
Etapa 3 deste anexo.

Também na Etapa 3, a partir dos resultados obtidos (seja pela incorpo-


ração direta dos efeitos do clima nos cálculos ou por meio da análise
de sensibilidade) cabe uma avaliação crítica do analista identificando
quais elementos do projeto são os mais vulneráveis (sensíveis e ex-
postos às variações climáticas projetadas) e propor recomendações
ou até mesmo novas alternativas de projeto. Cabe ressaltar a ade-
quabilidade da consideração do risco climático na condução da ACB
Preliminar: é na fase estratégica que a avaliação dos efeitos do risco
e a concepção das alternativas estudadas se torna ideal na promoção
de projetos resilientes, pois na fase de concepção de projetos alia-se
uma ampla margem de interferência nos resultados futuros e um rel-
ativamente baixo esforço de análise.

Essa condução se preza, inclusive, a orientar o operador da ACB


quanto ao grau de consideração e esforços necessários para incor-
porar tais elementos complexos, evitando negligenciar riscos impor-
tantes, mas também evitando esforços analíticos desnecessários em
cada fase. Por exemplo, a triagem inicial pode concluir que o projeto

29
(e contrafactual) não está exposto, ou não é vulnerável, a alterações
climáticas, poupando o analista de tais considerações. Por outro lado,
pode evidenciar a necessidade de uma consideração mais minuciosa
que, por sua vez, pode revelar oportunidades de adaptação ou mes-
mo a necessidade de novas alternativas de projeto.

As orientações prescritas neste Anexo abordam de forma conjunta


duas vertentes da avaliação socioeconômica de projetos sob mu-
dança do clima: tanto a do risco climático per se (negativo, prejudicial
à performance do projeto e redutor de bem-estar social); como a da
promoção da adaptação à mudança do clima (positiva, que visa ga-
rantir resiliência aos cenários climáticos, garantir os fluxos previstos
de benefícios e agregar potenciais co-benefícios). O tratamento dos
diferentes resultados da análise do risco climático e suas alternativas
de adaptação são discutidos na Etapa 3.

30
3
ETAPA 1

TRIAGEM PRELIMINAR DO
RISCO CLIMÁTICO: O PRO-
JETO E SEU CONTEXTO ES-
TÃO POTENCIALMENTE
SOB RISCO CLIMÁTICO?

31
Objetivo

Esta etapa corresponde à fase de “pré-triagem e triagem”, presente


em vários guias de avaliação e gestão de riscos climáticos de proje-
tos e também preconizada pela OCDE (2011), que visa avaliar a per-
tinência ou não da consideração de ameaças climáticas no contexto
do projeto e da sua ACB. É realizada de forma qualitativa, com base
no histórico de impactos relacionados ao clima que a infraestrutu-
ra pode sofrer e suas causas, climáticas (ameaças climáticas) e não
climáticas (relevo, tipo de solo, uso e ocupação do solo, presença de
corpos hídricos), na probabilidade de ocorrência da ameaça e de seu
nível de severidade (consequência). Ao final desta etapa, composta
por três subetapas, espera-se ter uma classificação preliminar do
nível de ameaça climática a qual a infraestrutura está exposta. Caso
o risco seja baixo ou moderado, o projeto pode seguir os passos da
ACB sem a incorporação da componente climática na avaliação (dis-
pensa-se o uso deste Anexo). Sendo este alto ou inaceitável, deve-se
seguir para as etapas seguintes de avaliação e análise deste risco. Os
resultados dessa análise devem ser anotados para posterior consid-
eração no relatório da ACB.

Perguntas orientadoras

Quais as principais ameaças climáticas no contexto do projeto?


(Etapa 1.a.)

Essas ameaças afetam variáveis-chave no contexto de inter-


venção, tal como a demanda e a oferta de serviços? Ou seja, as
ameaças podem se traduzir em impactos? (Etapa 1.b.)

As ameaças identificadas e os potenciais impactos climáticos al-


teram o cenário base? (Etapa 1.b.)

As ameaças e potenciais impactos identificados alteram os cenári-


os alternativos do projeto? (Etapa 1.b.)

Essas ameaças e seus potenciais impactos afetam variáveis de


performance do bem ou serviço ofertado, como seus Capex,
Opex, serviços, benefícios? (Etapa 1.b.)

Qual a magnitude do impacto potencial para o cenário base e


para os cenários alternativos? (Etapa 1.c.)

O impacto potencial é relevante, precisa ser analisado e consider-


ado? (Etapa 1.c.)

32
Relação com o Guia ACB, interações e repercurssões de aval-
iação

Capítulo 3 - Fundamentos para intervenção

• A área de estudo pode ter sido ou vir a ser afetada por


eventos climáticos (tanto por mudanças na média como
nos extremos).
• O projeto pode promover a resiliência à mudança do clima
e reduzir danos e prejuízos nos sistemas naturais e hu-
manos nos quais se insere.

Capítulo 4 - Requisitos informacionais da ACB

• Tanto a demanda como a oferta projetadas para o cenário


base, podem ser alteradas pela mudança do clima.
• Os cenários alternativos podem ser aprimorados para pro-
mover a resiliência do projeto.

Capítulo 9 - Análise de risco

• A abordagem do risco climático deve ser realizada con-


forme a orientação do Guia ACB para análise qualitativa de
riscos, fazendo uso da matriz de risco.

Etapa 1.a. Identificação das ameaças: quais as princi-


pais ameaças climáticas no contexto do projeto?

A etapa mais preliminar da consideração do risco climático numa ACB


consiste no levantamento de informações relacionadas ao clima atual
e futuro, ou seja, na busca das principais variáveis hidrometeocean-
ográficas relevantes no contexto de intervenção do projeto. Assim,
considera-se o clima incidindo na área de implementação e influên-
cia do projeto de investimento (área Um exemplo seria adotar um
de estudo) e num horizonte temporal recorte geográfico em nível
que cubra o horizonte de análise e o de bacia hidrográfica para
ciclo de vida útil de seus principais a consideração do risco hi-
ativos. Recomenda-se levantar infor- drológico.
mações que extrapolem os limites
geográficos e temporais do projeto a fim de compor uma visão mais
ampla das ameaças potenciais.

Neste estágio, se está apenas identificando e classificando as


ameaças que podem afetar a localização do projeto como um
todo, não classificando seu impacto na infraestrutura, nos ativos
e sua operação.

33
A identificação de ameaças potenciais ao contexto de intervenção se
inicia pela observação dos acontecimentos históricos e pelos regis-
tros de impactos na região, tal como os da Defesa Civil e de serviços
meteorológicos (ver Quadro 3.1). Além disso, certas infraestruturas
estão sujeitas a normas e padrões de construção que estabelecem
limiares para condições climáticas 12.

Quadro 3.1: Recursos disponíveis para facilitar a identificação dos


impactos e ameaças climáticas na região de interesse

Diversas instituições atuam na sistematização de dados hidromete-


oceanográficos e de registros históricos de desastres e impactos climáti-
cos. A Seção 6 deste Anexo traz diversas referências, dentre as quais
algumas se destacam para uso na fase de triagem preliminar.

Sobre desastres já ocorridos, o Atlas digital de desastres no Brasil13


(CEPED/UFSC), que apresenta danos e prejuízos materiais sistematiza-
dos a partir da organização dos dados históricos de desastres segre-
gados em diversas tipologias e associados a desastres climatológicos e
hidrometeorológicos por município, estado e região do país.

O Sistema Integrado de Informações sobre Desastres S2iD14, do


MDR, apresenta as principais informações sobre os Reconhecimentos
Federais de Situação de Emergência e Estado de Calamidade Pública,
integrando diversos produtos da Secretaria Nacional de Proteção e Def-
esa Civil - SEDEC de forma a apoiar o trabalho dos gestores públicos e
informar a sociedade em geral.

A plataforma ThinkHazard!15, do Banco Mundial, fornece uma visão ger-


al das ameaças naturais que devem ser consideradas na concepção e
implementação de projetos, destacando a probabilidade de serem afe-
tados por diferentes ameaças, tais como inundações fluviais e urban-
as, deslizamento de terra, incêndio, escassez de água, calor extremo,
inundação costeira e ciclone. Fornece, ainda, orientações sobre como
reduzir o impacto às ameaças e onde encontrar mais informações, tais
como avaliações de risco de países, melhores práticas internacionais e
fontes adicionais de consulta.

Centros estaduais de monitoramento hidrometeorológicos, tais como


EPAGRI/CIRAM em Santa Catarina, SIMEPAR no Paraná e DAEE em São
Paulo, também sistematizam dados de monitoramento e permitem con-
sultas regionalizadas16.

12
A NBR nº 5422, por exemplo, estabelece que linhas de transmissão devem ser implemen-
tadas de forma a suportar ventos com tempo de retorno de 50 anos.
13
Disponível em [link].
14
Disponível em [link].
15
Disponível em [link].
16
Disponível em EPAGRI/CIRAM [link], SIMEPAR [link] e DAEE-SP [link].
34
Na sequência do olhar retrospectivo, deve-se adotar também o olhar
prospectivo, no qual a consulta a cenários de mudança do clima pode
relevar consistência com observações e prover um entendimento do
sistema atual e futuro que permite inferir tendências e projeções fu-
turas do clima.

Nesta etapa de triagem preliminar, é comum uma análise baseada


nas variáveis de temperatura do ar e de precipitação, resultados bási-
cos dos modelos climáticos. No entanto, sobretudo no contexto de
infraestruturas, é importante que também sejam considerados out-
ros indicadores derivados desses dados, uma vez que indicam severi-
dade de eventos extremos. Exemplos de índices climáticos relevantes
e disponibilizados por modelagens são:

Precipitação: média anual, sazonal;

Temperatura: média anual, sazonal, mínima e máxima;

Eventos extremos de precipitação em relação ao período de


referência (RX1day - quantidade máxima de chuva acumulada em
um dia; RX5day - quantidade máxima de chuva acumulada em
cinco dias);

Eventos de dias secos consecutivos em relação ao período de


referência (CDD - número máximo de dias consecutivos com pre-
cipitação < 1 mm);

Eventos de dias úmidos consecutivos em relação ao período de


referência (CWD - número máximo de dias consecutivos com pre-
cipitação ≥ 1 mm);

Quantidade de eventos em um dado período (anual, sazonal ou


mensal, por exemplo) no qual houve a superação de um determi-
nado nível de temperatura ou precipitação (R10, R20, R50 - índi-
ces, respectivamente, correspondes ao número total de dias no
período nos quais a precipitação foi maior do que 10, 20 e 50
mm);

Aumento de dias quentes (%) em relação ao período de referência


(TX90p).

Além da consideração de dados climatológicos, seja por meio de


variáveis ou índices climáticos, esta etapa também poderá considerar
fontes de informações de impactos observados ou projetados. Nesse
contexto, entende-se por impactos: os resultados da ação de
variáveis climatológicas em sistemas naturais e humanos, como
inundações, perdas de safra, aumento de doenças, disponibili-
dade hídrica entre outros.
35
A Seção 6 deste Anexo traz uma listagem de fontes de dados, infor-
mações e análises de recursos informacionais no campo da ciência
climática ou relacionados aos riscos e impactos pertinentes ao levan-
tamento do risco climático no contexto da ACB. A Tabela 3.1 apre-
senta exemplos de perguntas que podem ser feitas pelo analista ao
buscar informações sobre a tendência das ameaças no contexto de
intervenção.

Tabela 3.1: Exemplo de perguntas que orientam a busca por infor-


mações sobre a tendência das ameaças climáticas

Ameaça climática
Perguntas iniciais
de interesse
• Projetam-se mudanças na temperatura média anual da
área de interesse?
• Projetam-se mudanças na temperatura anual e mensal
Temperatura (ou seja, na sazonalidade)?
• Prevê-se que a frequência, intensidade e duração das
temperaturas extremas mudem?
• Projetam-se mudanças na evapotranspiração potencial?
• Projetam-se mudanças na vazão anual na bacia hidro-
gráfica de interesse?
• Projetam-se mudanças nos padrões de precipitação
anual e mensal (ou seja, na sazonalidade)?
Precipitação e • Prevê-se que a frequência, intensidade e duração da
inundações precipitação extrema mudem?
• Prevê-se que o escoamento superficial se altere na bacia
hidrográfica de interesse?
• A vazão base anual está projetada para mudar na bacia
hidrográfica de interesse?
• Prevê-se que a frequência, intensidade e duração das
secas mudem?
Secas
• Projetam-se mudanças na vazão mínima anual na bacia
hidrográfica de interesse?
• A área de interesse está exposta a ventos de ciclones
tropicais, como furacões ou tufões?
Ventos fortes
• Preveem-se mudanças na frequência, intensidade e
duração de ciclones tropicais?
Aumento do nível • Projetam-se mudanças no nível do mar local até o final
do mar da vida útil do projeto?

Fonte: Elaboração própria.

36
Quadro 3.2: Compreendendo as grandes tendências do clima

Para o não-especialista, a compreensão das grandes tendências do cli-


ma se torna a primeira aproximação à complexidade do tema. Desta-
ca-se a 4ª Comunicação Nacional do Brasil à Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Brasil, 2020), relatório-sín-
tese que apresenta, em português acessível, bons resumos de grandes
tendências para biomas, setores e temas prioritários tratados. Permite,
a partir de dados oficiais, compreender tendências de impactos e vul-
nerabilidade em setores-chave para infraestruturas como energia (hídri-
ca, eólica, solar, mix), abastecimento e agricultura (como setor deman-
dante de infraestruturas). O histórico e projeções de variáveis climáticas
é bem detalhado e aponta ameaças hidrometeorológicas em todo ter-
ritório nacional.

Etapa 1.b. Identificação do risco: Como meu projeto


pode ser afetado pelo clima?

Esta subetapa avalia se, e em que grau, as ameaças climáticas iden-


tificadas anteriormente impactam o projeto e seu contexto. Ou seja,
se as ameaças afetam componentes da demanda ou da oferta de
serviços, o cenário base identificado e alternativas de intervenção,
assim como componentes da análise como custos, benefícios e ex-
ternalidades.

Esse processo envolve, além da identificação das ameaças climáticas


presentes e projetadas (subetapa anterior), a caracterização da po-
tencial exposição e vulnerabilidade dos elementos de performance
do projeto a tais ameaças. Assim, a identificação do risco climático
passa pelo estabelecimento dos canais de impacto entre as variáveis
climáticas e os elementos de performance da infraestrutura. A partir
daí compreende-se como essas ameaças podem afetar operações,
desempenho, fornecedores e cadeias de suprimentos, mercados ou
outros aspectos que influenciam os fluxos socioeconômicos do em-
preendimento.

Em outras palavras, os impactos físicos da mudança do clima têm um


efeito direto na viabilidade de um projeto por meio da sua vulnerabil-
idade e exposição às ameaças climáticas agudas e crônicas, incluindo
aquelas relacionadas a temperatura, estresse hídrico, aumento do
nível do mar, seca, precipitação e inundação, ventos extremos e tem-
pestades. A manifestação do risco pode resultar em danos físicos
aos ativos (perda de valor dos ativos), aumento dos custos de
operação, interrupções na cadeia de suprimentos, alterações nos
preços de recursos/insumos, interrupções na produção/operação
e possíveis alterações na demanda por produtos e serviços. Esses
impactos são tangíveis e facilmente quantificáveis em retrospec-
to, mas difíceis de traduzir em riscos futuros esperados.
37
Quadro 3.3: Recursos disponíveis para facilitar a triagem e identi-
ficação de riscos climáticos

A plataforma Climate and Disaster Risk Screening Tools17, do Banco


Mundial, apresenta compreensivas fichas setoriais para a condução
da triagem do risco climático e de desastres, tanto para uma primei-
ra aproximação (rapid screening assessment), como para uma mais de-
talhada (in-depth screening assessment). Essa última avaliação permite
a produção de um relatório de risco, sendo uma opção adequada para
aplicação nos casos de avaliação socioeconômica de projetos. Os seto-
res detalhados são o de agricultura, energia, saúde, transporte e água.

Diversos outros recursos online podem facilitar a realização não apenas


da triagem do risco, mas também de sua quantificação. A Seção 6 deste
Anexo apresenta uma listagem de 35 fontes de dados e informações
climáticas, sendo que 25 fornecem dados hidrometeoceanográficos
(históricos e projetados), enquanto 10 disponibilizam conteúdo abor-
dando vulnerabilidades, riscos e impactos. Dentre essas, duas se desta-
cam pela combinação entre abrangência, facilidade de uso, atualização,
resolução espacial e disponibilidade de dados primários: o Climate
Change Knowledge Portal e o IPCC WGI Interactive Atlas.

O Climate Change Knowledge Portal (CCKP)18, do Banco Mundial, é uma


plataforma que oferece produtos de análise de variáveis climáticas, com
uma vasta gama de informações apresentadas e consultadas em forma-
to acessível e de fácil navegação e utilização. Destacam-se as análises
de climatologia e de tendências climáticas para países ou regiões, bem
como as análises de extremos climáticos, vulnerabilidade, incidência de
desastres naturais e aumento do nível do mar. A plataforma permite
acessar diferentes formatos gráficos para análise de índices e indica-
dores climáticos, bem como exportar em formato gráfico ou de planilha.
Os dados observados, as projeções climáticas, bem como as análises
de eventos extremos (ex. período de retorno de 50 anos projetado no
cenário de emissões SSP3-7.0 para o maior evento de precipitação de 1
dia entre 2035-2064), podem ser extraídos por coordenada geográfica.
nacional.

O IPCC WGI Interactive Atlas19, do Working Group I do IPCC, é uma plata-


forma que oferece projeções e dados históricos em uma mesma base,
além de produtos de análises regionais por meio do denominado con-
dutor de impacto climático (climatic impact-drivers), que se assemelham
aos canais de impacto ora abordados. Tem como base os dados utiliza-
dos pelo IPCC no âmbito do Sexto Relatório de Avaliação (IPCC, 2022), e

17
Disponível em [link].
18
Disponível em [link].
19
Disponível em [link].

38
fornece informações para observações (para o passado recente) e sim-
ulações de modelos (para períodos paleoclimáticos20, passado recente
e futuro). Permite, de forma bastante intuitiva e em sínteses regionais,
identificar o “sinal” da mudança do clima. O Atlas apresenta duas inter-
faces: uma simples, destinada ao público em geral, e outra avançada,
com foco em pesquisadores e profissionais, na qual se torna ferramen-
ta compreensiva e permite uma grande variedade e profundidade de
análises.

A Tabela 3.2 relaciona, para diferentes perfis de infraestrutura, os


efeitos da mudança do clima e os impactos potencialmente sofridos.
Ilustra, assim, os canais pelos quais os impactos do clima se material-
izam em cada tipo de infraestrutura.

Tabela 3.1: Exemplo de perguntas que orientam a busca por infor-


mações sobre a tendência das ameaças climáticas

Efeitos da mudança do
Infraestrutura Impactos sofridos
clima
Menor confiabilidade do sistema |
Alteração na estacionarie-
Necessidade de maior capacidade
Hidrelétricas dade das vazões afluentes
instalada e/ou maior reservação |
dos reservatórios
Geração abaixo do previsto
Temperaturas mais altas e Capacidade reduzida da rede
Sistemas de
ondas de calor | Alteração elétrica | Inundações de sub-
transmissão
nos padrões de precipitação: estações | Danos nas linhas de alta
e distribuição
maior frequência e inten- transmissão | Desgaste dos mate-
(energia elétri-
sidade | Inundações | Ventos riais e redução de vida útil | Maior
ca)
fortes, tempestades e raios manutenção do sistema
Inundações nas estradas | Aumen-
Aumento/intensificação de
to de áreas de pontes | Instabili-
precipitação e extremos de
Rodovias dade de taludes | Danos à superfí-
temperatura| Ondas de calor
cie das estradas e redução de vida
mais intensas e frequentes
útil
Aumento/intensificação de Inundações das linhas | Aumento
precipitação e extremos de de áreas de pontes | Instabilidade
Ferrovias
temperatura| Ondas de calor de taludes | Deformação dos tril-
mais intensas e frequentes hos e maior manutenção
Secas prolongadas e mais
Interrupção de serviços | In-
intensas | Assoreamento da
Hidrovias e undações de portos | Redução da
calha do rio | Elevação do
portos capacidade de operação | Aumento
nível do mar | Tempestades
do custo médio de operação
e ventos
Fonte: Elaboração própria.

20
Clima da Terra em um ponto especificado no tempo geológico.

39
A Tabela 3.3, adap-
Tendo o setor de Tecnologia da Informação e Comuni-
tada e expandida a
cação como exemplo, vê-se que a estabilidade do solo
partir de Dawson et
- afetada pela precipitação - pode repercutir direta e
al. (2016), apresenta
negativamente tanto nas redes de comunicação aéreas
as principais ligações
quanto nas subterrâneas. O efeito da intrusão salina,
entre os impactos
no entanto, é indireto, pois afeta a manutenção de eq-
climáticos e os seto-
uipamentos e torres por causa da corrosão. Já o efeito
res de infraestru-
das secas e baixas precipitações pode, por um lado, vir
tura. Um ‘X’ denota
a ser benéfico ao reduzir os problemas com descargas
que o link foi identi-
atmosféricas e melhorar as condições de propagação
ficado nos relatórios
de radiofrequências. No sentido oposto, no entanto,
técnicos de especial-
os centros de dados (data centers) são negativamente
istas em cada uma
afetados, pois a água é insumo direto para resfriar eq-
das infraestruturas,
uipamentos.
sendo que quanto
maior o número de relacionamentos, maior o potencial de que a mu-
dança do clima impacte as infraestruturas. Enquanto a maior parte
das relações são bastante evidentes, outras são mais sutis e ainda um
terceiro grupo pode apresentar relações ambíguas

40
Tabela 3.3: Principais relações entre as ameaças climáticas e os setores de infraestrutura

Precipitação Temperatura

Setores de infraestrutura

gelo

(erosão,

Danos ou
eficiência
eficiência

enxurradas
precipitação
Calor severo

e/ou doença
e/ou doença

dessecação*

alagamentos
Secas e baixa
Alterações na
Alterações na

deslizamento)

capacidade ou
capacidade ou

assoreamento,

por enchentes ou
Subsidência e/ou

perturbações por
Estabilidade de solo
Frio severo, neve ou
Demanda de serviço

Processos biológicos
Processos biológicos

Danos ou perturbações
Transporte Ferroviário X X X X X X X X X X
Transporte Rodoviário X X X X X X X X X
Transporte Aquaviário X X X X X X X X X
Transporte Marítimo e Portos X X X X X
Abastecimento de Água X X X X X X X X X X X
Serviços de Saneamento /
X X X X X X X X X
Esgotamento
Gerenciamento Costeiro e
X X X X X X X X
Controle de Erosão
Tecnologia da Informação e
X X X X X
Comunicação
Resíduos Sólidos X X X X X X X X
Energia - Óleo & Gás, Carvão
X X X X X X X
e Nuclear
Energia - Renováveis X X X X X
Energia - Sistemas,
X X X X
Transmissão e Distribuição
Energia - Demanda X X X X X X
* Subsidência: Afundamento do solo por esgotamento da água subterrânea. Dessecação: Remoção de umidade do solo.

41
42
(continuação)
Aumento do nível do mar Outras ameaças

Setores de infraestrutura

Umidade

Danos ou
incêndios

Relâmpago
Queimadas e

Radiação solar

Intrusão salina
Erosão costeira

perturbações por
Névoa ou neblina

Bloqueio de maré
causados pelo vento
Tempestade e danos

inundações costeiras
Transporte Ferroviário X X X X X X
Transporte Rodoviário X X X X X X
Transporte Aquaviário X X
Transporte Marítimo e Portos X X X X X
Abastecimento de Água X X X X X
Serviços de Saneamento /
X X X
Esgotamento
Gerenciamento Costeiro e
X X X X X
Controle de Erosão
Tecnologia da Informação e
X X X X X X X X
Comunicação
Resíduos Sólidos X X X
Energia - Óleo & Gás, Carvão
X X X
e Nuclear
Energia - Renováveis X X X
Energia - Sistemas,
X X X X
Transmissão e Distribuição
Energia - Demanda X X
Fonte: Adaptado e expandido a partir de Dawson et al., 2016.
Se por um lado alguns guias processuais, principalmente aqueles mais foca-
dos em setores específicos, podem dar luz à identificação das ameaças ao
projeto por meio do fornecimento prévio de listas de verificação (checklists),
ou mesmo cadernos setoriais específicos, é comum que esta avaliação seja
baseada em informações externas ao processo da ACB em si, inclusive com
auxílio de especialistas do setor.

Alguns setores da infraestrutura possuem estudos e levantamentos apro-


fundados sobre os impactos e riscos da mudança do clima, como é o caso
da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ e GIZ, 2021) e dos
setores rodoviário e ferroviário (projeto AdaptaVias)21. Existem, ainda, guias
específicos para a identificação e avaliação de impactos e riscos setoriais, a
exemplo do publicado pela agência ambiental alemã (GER, 2017).

Nesta fase, ferramentas e fontes informacionais mais genéricas e abrangen-


tes já podem guiar o analista a uma boa identificação e avaliação de sua per-
tinência. Estas fontes incluem relatórios governamentais de impactos, vul-
nerabilidades e adaptação à mudança do clima em temas e setores, e sua
distribuição no espaço, mesmo que em escalas menores. Destaca-se, nesse
âmbito, o 6º Relatório de Avaliação do IPCC focado em impactos, adaptação e
vulnerabilidade (IPCC, 2022) que fornece, dentre outros, uma avaliação por-
menorizada dos impactos, riscos e adaptação nas cidades e suas infraestru-
turas críticas, incluindo sistemas de energia e transporte.

Quadro 3.4: Índices e indicadores de risco de impactos da mudança


do clima no Brasil

A plataforma AdaptaBrasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e In-


ovações (MCTI)22, tem como objetivo consolidar, integrar e disseminar
informações que possibilitem o avanço das análises dos impactos da
mudança do clima, observados e projetados no território nacional, dan-
do subsídios às autoridades competentes pelas ações de adaptação. A
plataforma traz informações integradas e atualizadas sobre o clima e os
riscos de impactos no Brasil para os setores estratégicos de infraestru-
tura portuária, recursos hídricos, segurança alimentar, segurança en-
ergética e saúde. Novos setores de infraestrutura deverão em breve ser
incluídos, permitindo acessar, em nível municipal, diversos índices e in-
dicadores de risco de impactos da mudança do clima.

21
Disponível em [link].

22
Disponível em [link].

43
Etapa 1.c. Avaliação preliminar do risco climático: A
severidade e/ou a probabilidade da ameaça tornam a
consideração do risco relevante?

Ao final desta Etapa 1, espera-se que o analista consiga ter uma aval-
iação preliminar e qualitativa - minimamente embasada e justifica-
da - do potencial risco climático que o projeto e seu contexto estão
sujeitos. Isso inclui uma caracterização, mesmo que preliminar,
simplificada e realizada através de julgamento de especialis-
tas, da magnitude dos efeitos da alteração climática no projeto
e seu contexto, assim como uma aproximação da probabilidade
de ocorrência associada. Deve contemplar as tendências climáticas
passadas e projetadas de temperatura, precipitação e outras variáveis
e índices climáticos de interesse, bem como a ocorrência, frequência
e gravidade das principais ameaças.

A avaliação preliminar de risco climático deve seguir a metodologia


recomendada pelo Guia ACB (Capítulo 9 - Análise de risco, seção so-
bre a análise qualitativa de riscos), pela qual se utiliza da matriz de
risco. Essa matriz identifica o nível de risco a partir do cruzamento
entre a probabilidade de ocorrência do evento adverso e o nível de
severidade de impacto, ou seja, considerando a exposição e possíveis
impactos ao projeto relacionados às mudanças climáticas. O nível de
risco ponderado, que corresponde à combinação da probabilidade e
da severidade (P × S), é definido por quatro níveis: baixo, moderado,
alto e inaceitável, conforme segue.
Tabela 3.4: Matriz de riscos

-
Inaceitavel Inaceitavel

Inaceitavel

Inaceitavel

Fonte: Elaboração própria.

44
Caso o risco seja baixo ou moderado, o projeto deve-se prosseguir com a
ACB sem a necessidade de incorporação da componente climática na aval-
iação (dispensa-se o uso deste Anexo). Sendo alto ou inaceitável, deve-se se-
guir para as etapas de avaliação e análise deste risco.

A depender das escolhas do analista, das informações consolidadas e


do setor em análise, espera-se que a matriz de risco inclua uma estima-
tiva qualitativa e justificativa para determinar o julgamento da proba-
bilidade e da severidade de cada ameaça, incluindo fontes de dados e
cenários climáticos, além do racional usado em sua determinação.

PONTO DE DECISÃO

Ao final desta etapa de triagem (Etapa 1), caso o projeto e/ou seu con-
texto sejam classificados de baixo ou moderado risco climático, sua
consideração explícita na ACB pode ser ignorada. Caso apresente risco
alto ou inaceitável, passa-se às etapas seguintes deste anexo, em
que se busca avaliar e analisar mais em detalhe como as ameaças iden-
tificadas afetarão os parâmetros de performance da ACB.

45
4
ETAPA 2

AVALIAÇÃO E ANÁLISE DO
RISCO CLIMÁTICO: COMO
AS AMEAÇAS CLIMÁTICAS
AFETAM A PERFORMANCE
DO MEU PROJETO?

47
Objetivo

Esta etapa, composta por 5 subetapas, corresponde à fase de “aval-


iação e análise de risco” preconizada pela OCDE (2011), entre outros.
A análise do risco climático deve se dar, seguindo a recomendação
do Guia ACB (Capítulo 9), preferencialmente por meio da incorpo-
ração dos efeitos da mudança do clima na estrutura da ACB pa-
drão e nos seus indicadores socioeconômicos. Durante a análise
de risco incluída na ACB, as modificações impostas pelo clima se
refletem em todas as etapas da avaliação socioeconômica, ou seja,
no levantamento de oferta e demanda, custos, benefícios e exter-
nalidades, o que implica na obtenção de indicadores de viabilidade
socioeconômica que já reflitam os cenários climáticos subjacentes.

Muito embora a incorporação do risco climático na ACB padrão seja


o tratamento preferencial tanto para a fase de análise indicativa
(ACB Preliminar) quanto para a detalhada (ACB Completa), é nes-
sa última que poderá vir a ser imprescindível, caso o nível de risco
identificado seja significativo (subetapas 2.a e 2.c). Nesses casos,
a análise deverá contar com especialistas para a manipulação e
análise de dados climáticos, principalmente se o projeto identificar
a necessidade de considerar múltiplos cenários e modelos de pro-
jeção de clima.

Caso não seja possível realizar a incorporação do risco climático


na estrutura da ACB padrão, seja por incertezas oriundas da quan-
tificação dos cenários climáticos ou da quantificação dos custos,
benefícios e externalidades, deve-se realizar análises de sensibi-
lidade específicas (i.e. teste de estresse ou análise probabilística),
contornando assim a não-incorporação do risco nos resultados da
ACB padrão. Embora esse não seja o tratamento preferencial, é am-
plamente aceito na fase de análise indicativa (ACB Preliminar), na
qual é grande a influência no design, permitindo a avaliação de alter-
nativas estratégicas e encaminhamentos práticos para as próximas
fases de análise com (relativo) baixo esforço analítico.

De toda forma, uma vez que o risco climático foi preliminarmente


identificado como sendo alto ou inaceitável (Etapa 1), sua con-
sideração se faz imprescindível: seja na fase indicativa (ACB Pre-
liminar) ou detalhada (ACB Completa), seja por meio da incorpo-
ração na ACB padrão ou pela realização de análise de sensibilidade.

48
Perguntas orientadoras

Quais cenários climáticos devo utilizar para conduzir a análise?


(Etapa 2.a.)

Como os parâmetros relevantes de estimativas de oferta e de-


manda do cenário base são alterados ao longo do tempo em
decorrência do clima? (Etapa 2.b.)

Como os parâmetros relevantes de estimativas de custos (Capex,


Opex etc.) do projeto são alterados ao longo do tempo? (Etapa
2.c.)

Como os parâmetros relevantes de estimativas de benefícios do


projeto são alterados ao longo do tempo? (Etapa 2.d.)

Como os parâmetros relevantes de estimativas de externali-


dades do projeto são alterados ao longo do tempo? (Etapa 2.e.)

Relação com Guia ACB, interações e repercurss]oes da aval-


iação

Capítulo 4 - Requisitos Informacionais da ACB

• Idealmente, o planejamento setorial e seus estudos de de-


manda devem considerar, de partida, as repercussões das
alterações climáticas nas projeções de demanda. Caso con-
trário, serão necessários ajustes nas premissas de demanda
para contemplar as variações decorrentes da mudança do
clima.
• Estudos, dados históricos e referências setoriais podem ser
consultados.

Capítulo 5 - Estimativas de custos econômicos

• A concepção (design) do projeto pode ser repensado para se


tornar resiliente, com reflexo no cronograma de implemen-
tação.
• Um projeto resiliente pode requerer custos econômicos
maiores (Capex e Opex), que podem ser mais do que com-
pensados pelas perdas evitadas.

Capítulo 6 - Estimativas de benefícios econômicos

• Pode ser necessário reavaliar, para mais ou para menos, os


benefícios do projeto.

49
• Devido à resiliência do projeto, tem-se a não-interrupção na
geração de benefícios econômicos, a não-ocorrência de de-
sastres ou mesmo a redução de seus danos.

Capítulo 7 - Estimativas de externalidades

• Toda a ambiência na qual o projeto se insere pode ser mod-


ificada pelo clima, afetando também as externalidades (pos-
itivas ou negativas) do projeto.
• A promoção da resiliência climática pode agregar co-
benefícios.

Etapa 2.a. Quantificação da ameaça do clima: Quais


cenários climáticos devo utilizar para conduzir a
análise?

Informações e dados: são necessários dados, informações e aná-


lises de recursos informacionais no campo da ciência climática ou
relacionados aos riscos e impactos (ver listagem de fontes de dados e
informações climáticas pertinentes ao levantamento do risco climáti-
co no contexto da ACB, Seção 6 deste Anexo). Recomenda-se que a
equipe de análise do projeto conte com especialista em clima.

Nesta etapa, o analista definirá os cenários de mudança do clima que


serão usados nos cálculos nas etapas seguintes. Diferentemente da
Etapa 1, nesta o analista irá coletar dados e informações climáticas
mais detalhadas para apoiar na elaboração dos cenários de mudança
do clima. Uma vez que a análise de custo-benefício é um método
quantitativo, é necessário que a aplicação dos cenários climáti-
cos definidos como relevantes para o projeto também se tradu-
za de forma quantitativa nas variáveis da ACB (ex. Capex, Opex,
benefícios, externalidades etc.), refletindo os riscos crônicos e/ou
agudos aos quais o projeto estará submetido (conforme Seção 1 do
Cap. 1 - Sobre a natureza da ameaça climática e suas formas de incor-
poração na avaliação socioeconômica).

Enquanto a literatura sobre impactos e A construção sistemática de


vulnerabilidades pode apontar poten- bases de dados de ocorrência
ciais riscos ao projeto, sua tradução histórica de desastres naturais,
quantitativa exige esforços de proces- incluindo a documentação e
samento de dados específicos - exer- análise dos danos e prejuízos
cício que dependerá, muitas vezes, de econômicos por setor e local-
dados hidrometeoceanográficos ainda ização, auxilia a estimar a inten-
não traduzidos em impactos. Méto- sidade e frequência dos riscos,
dos, modelos e fontes de informações gerando extrapolações ra-
climáticas nem sempre irão responder zoáveis para situações futuras.
de forma precisa como os indicadores

50
da ACB serão impactados pelo clima, tornando o estabelecimento de
cenários climáticos um exercício não trivial.

A escolha dos cenários de mudança do clima depende das variáveis e


índices climáticos de interesse, do período de referência, da vida útil
do projeto, da abrangência espacial da infraestrutura e dos cenários
de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

A Tabela 4.1 traz um exemplo de informações necessárias para elab-


orar e escolher cenários de mudança do clima, a exemplo da imple-
mentação de uma infraestrutura de transportes rodoviários que deve
considerar o efeito da chuva na drenagem da pista. Cada um dos
critérios é na sequência pormenorizado.

Tabela 4.1: Exemplo de informações necessárias para elaborar cenári-


os de mudança do clima

Critérios Ex. Drenagem de rodovia

Variáveis climáticas Chuva

Índices climáticos Total anual e TR de 10 anos

Período base 1995-2014

Abrangência espacial Local

Cenários de emissões de GEE SSP1-1.9 e SSP3-7.0

Horizonte temporal 2035-2064 (centrado em 2050)

Modelos de clima Multi-modelos do CMIP6 (Global)

Fonte: Elaboração própria.

Variáveis climáticas

O primeiro passo é listar as variáveis climáticas que afetam significa-


tivamente a infraestrutura, como definido na Etapa 1. Exemplos: chu-
va, temperatura máxima, temperatura mínima, velocidade do vento,
vazão e altura máxima da maré.

51
Índices climáticos

A escolha dos índices climáticos é contingente ao intuito da análise,


cujo foco pode ser na estimativa de falhas da infraestrutura e/ou na
diminuição na capacidade de fornecimento do serviço. Para falhas
na infraestrutura (ex. queda de uma torre de transmissão elétri-
ca), é importante verificar ameaças agudas (extremos). Enquan-
to a diminuição na capacidade de fornecimento de serviço (ex.
produção de energia elétrica hidráulica) está mais associada a
ameaças crônicas (médias).

Falhas nas infraestruturas são causadas predominantemente pela


ocorrência de eventos climático extremos e, por isso, muitas in-
fraestruturas são projetadas com base no Tempo de Recorrência (TR),
ou Tempo de Retorno (probabilidade de ocorrência), de parâmetros
climáticos. Dessa forma, o índice climático recomendado é o TR para
as variáveis climáticas que afetam significativamente a infraestrutu-
ra. Recomenda-se que o analista verifique a existência de normas
técnicas, diretrizes ou manuais que estabelecem o limiar do TR e as
variáveis climáticas para o desenho da infraestrutura. Na ausência de
norma técnica, diretriz ou manual específico, pode-se adotar a vida
útil do projeto como referência mínima para o limiar do TR. Por exem-
plo, caso um projeto tenha uma vida útil de 50 anos, pode-se adotar
um TR mínimo de 50 anos.

É importante ressaltar que as projeções climáticas derivadas de mod-


elos de clima não contemplam dados de vazão. Caso não seja pos-
sível estimar a vazão por meio do Método Racional (DNIT, 2006), mod-
elagem hidrológica ou outro método, recomenda-se usar dados de
chuva para calcular o TR, pois a vazão está diretamente relacionada
com a chuva (WMO, 2009). O Quadro 4.2 apresenta fontes de dados e
informações climáticas sobre TR. A Tabela 4.2. descreve alguns exem-
plos de índices climáticos usados para projetar infraestruturas.
Para a diminuição na capacidade de fornecimento de
A escolha dos índi- serviço (ex. abastecimento de água, produção hidrelétrica),
ces vai depender uma ameaça climática pode se manifestar por meio das al-
do contexto do terações nas condições climáticas médias (ameaça crônica).
serviço que a in- Existem diversos índices climáticos que podem ser usados
fraestrutura for- para representar tal ameaça, como a temperatura média
nece e deve se dar anual e a chuva total anual. Outros índices ajudam a com-
com base na opin- preender aspectos relacionados à sazonalidade (ex.: um
ião de especialis- reservatório de água, projetado com base numa determina-
tas, pois também da distribuição anual de chuva pode sofrer com estiagens
varia em função mais longas). Projetos de linhas de transmissão também
do comportamen- consideram as condições médias de ameaças climáticas,
to da variável de tais como temperatura máxima e mínima, que afetam a ca-
interesse 23. pacidade de transmissão de energia.
23
Exemplos de índices climáticos para determinadas aplicações podem ser encontrados em
52 [link] e [link].
Pode-se requerer o estabelecimento de um compasso diário, mensal,
sazonal, anual ou mesmo decenal. Para cômputo do indicador RX-
5day, por exemplo, as projeções devem ser expressas em unidades
temporais iguais ou menores do que o dia, de forma a permitir a
agregação dos eventos diários na quantidade máxima acumulada em
cinco dias.
Tabela 4.2: Exemplo de índices climáticos para diferentes tipos de in-
fraestrutura

Infraestrutura Variável climática Índice climático Referência

Drenagem de
Chuva TR de 10 anos DNIT, 2006
rodovias

Pontes Vazão TR de 100 anos DNIT, 2006

Barragens Vazão TR de 500 anos ANA, 2016

Vento TR de 50 anos
Linhas de trans-
NBR 5422/1985
missão
Temperatura do ar Máxima e mínima

Fonte: Elaboração própria.

Quando se identifica, na Etapa 1, que um evento adverso se tornará


mais frequente devido à mudança do clima, o tempo de retorno
desse evento no futuro deve ser ajustado, conforme as informações
mais atuais disponíveis, de forma a se obter a fração incremental de
risco identificada.

Período base

Também denominado de normal climatológica, é o período de


referência que representa o clima médio passado (ou atual), usado
no cálculo de cenários de mudança do clima. Os valores do perío-
do base são comparados com os valores dos períodos futuros para
estimar o cenário de mudança do clima (cenário de mudança =
período futuro – período base). A Organização Meteorológica Mun-
dial recomenda a utilização de períodos de 30 anos (ex. 1961-1990 e
1991-2020), porém períodos de 20 anos (ex. 1995-2014) também são
usados (IPCC, 2022c).

Recomenda-se utilizar o período base mais recente para representar


o clima atual (Quadro 4.1), a menos que exista norma técnica, diretriz
ou manual que defina parâmetros climáticos distintos. Por exemplo,
a NBR 5422/1985 para construção de linhas de transmissão conside-
ra dados de velocidade do vento, temperatura mínima e máxima da
década de 1980. Logo, um período de referência representativo para
a norma das linhas de transmissão seria 1956-1985 ou 1961-1990.
53
Vale ressaltar que, na maioria dos casos, quanto mais antigo for o
período base, maior tende a ser a percepção de mudança do clima
resultante (ex. 1961-1990 ao invés de 1995-2014), pois os dados ob-
servados já podem incorporar sinais da mudança do clima. A Seção
6 deste Anexo traz diversas referências para fontes de dados hidro-
meteoceanográficos históricos, destacando-se o do Instituto Nacion-
al de Meteorologia (INMET), do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA)24, e o Hidroweb da Agência Nacional de Águas
e Saneamento Básico (ANA)25.

Quadro 4.1: A mudança do clima e as normais climatológicas do


Brasil

A atualização das normais climatológicas do Brasil para o período de


1991 a 2020 (INMET, 2022)26 identifica a presença de variações signifi-
cativas em relação aos períodos anteriores, destacando-se a elevação
da temperatura média e a intensificação das chuvas de grande porte.
Em São Paulo, por exemplo, registra-se um aumento consistente e per-
sistente de temperaturas mínimas e máximas nas últimas três décadas
na comparação com outros períodos similares no passado, com altas
de 1,2°C a 1,6°C na temperatura mínima. A frequência de tempesta-
des também aumentou, principalmente na última década: entre 2011
e 2020, o número de dias com precipitação acima de 50 mm diminuiu,
ao passo que eventos acima de 80 e 100 mm aumentaram. Dados dos
últimos 60 anos também apontam uma diminuição no volume total de
chuvas ao longo do ano, bem como na duração dos períodos chuvosos.

Abrangência espacial

A abrangência espacial da análise das ameaças climáticas vai depend-


er da área de domínio da infraestrutura. Os cenários de mudança do
clima podem abranger um local (ex. um porto) ou uma região (ex. ro-
dovia, linha de transmissão, ou mesmo uma barragem que depende
de uma bacia hidrográfica). Na maioria dos casos, a abrangência
espacial é local pois as projeções climáticas possuem uma res-
olução espacial da ordem de 40 x 40 km a 100 x 100 km de grade.
Logo, só faz sentindo subdividir a análise se a infraestrutura

24
Informações meteorológicas para todo o território brasileiro, incluindo produtos como: normais
climatológicas; previsão climática; monitoramento; banco de dados meteorológicos históricos; entre
outros. Disponível em [link].

25
Séries históricas diárias de precipitação e vazão para mais de 4,6 mil pontos de monitoramento em
todo o território nacional. Disponível em [link].

26
Disponível em [link].
54
abranger uma área superior à da resolução espacial das pro-
jeções climáticas. Quanto à aplicabilidade na ACB, é admissível uma
granulometria mais grosseira para a indicativa (ACB Preliminar), sen-
do recomendável uma mais fina para a detalhada (ACB Completa).

Cenários de emissões de gases de efeito estufa

Existem diversas versões e tipos de cenários de emissões de GEE. Até


o momento da elaboração deste Anexo, a versão mais recente é de-
nominada de Shared Socioeconomic Pathways (SSP), porém é comum
encontrar o Representative Concentration Pathway (RCP) em relatórios
e estudos ou, em casos mais antigos, o Special Report on Emissions
Scenarios (SRES). Preferencialmente, deve-se considerar o SSP por ser
a versão mais recente e usada no 6º Relatório de Avaliação do IPCC
(2022). O SSP possui 5 classes, ou caminhos socioeconômicos, que
representam diferentes níveis de emissões globais de GEE. Quanto
maior o número do SSP, maior o nível de emissões (Tabela 4.3). O SSP
possui uma relação muito próxima com o RCP, sendo comum encon-
trar nomenclaturas como “SSP1-2.6”, onde o número “2.6” refere-se
ao tipo de cenário RCP, neste caso o “RCP2.6”. A existência de mais
de um cenário de emissões permite estimar as incertezas asso-
ciadas aos caminhos socioeconômicos que a sociedade pretende
tomar. O SSP1-1.9 está diretamente relacionado ao cumprimento
das metas do Acordo de Paris, ou seja, manter a temperatura global
bem abaixo de 2,0°C. Já o SSP1-2.6 também apresenta uma redução
drástica nas emissões, porém de forma mais lenta que o anterior. Os
cenários SSP3-7 e SSP5-8.5 são os que mais se adequam ao camin-
ho socioeconômico atual, ou seja, o cenário mais pessimista, embora
exista um debate quanto à factibilidade deste último27. Outra opção
é o uso de um cenário intermediário como o SSP2-4.5, a depender
do interesse do analista. Em síntese, os cenários SSP1-1.9 e SSP1-2.6
seriam os mais aderentes a um cenário otimista para fins da ACB; o
cenário SSP2-4.5 seria o intermediário; e o SSP3-7 e SSP5-8.5 seriam
os mais representativos como cenário pessimista.

27
Hausfather & Peters (2020) argumentam que o SSP5-8.5 é pouco provável de se concretizar pois a
sociedade já está tomando medidas de redução de emissões de GEE (ex. a intensificação do uso de
energias renováveis). No entanto, Schwalm et al. (2020) recomendam o uso deste cenário devido ao
que se sabe hoje sobre feedbacks bióticos, o caminho atual e previsões anteriores sobre o comporta-
mento da sociedade.

55
Tabela 4.3: Descrição dos cenários SSP de emissões de GEE e o aquec-
imento global estimado.

Aquecimento Aquecimento
SSP-RCP Cenário Socioeconômico (2041-2060) (2081-2100)
[faixa provável] [faixa provável]
Sustentabilidade: o mundo muda rapida-
mente e de forma generalizada em direção 1,6 °C 1,4 °C
SSP1-1.9
a um caminho mais sustentável. Emissões [1,2 – 2,0 °C] [1,0 – 1,8 °C]
de GEE reduzidas a zero por volta de 2050.
Sustentabilidade gradual: o mundo muda
de forma gradual e generalizada em
1,7 °C 1,8 °C
SSP1-2.6 direção a um caminho mais sustentável.
[1,3 – 2,2 °C] [1,3 – 2,4 °C]
Emissões de GEE reduzidas a zero por
volta de 2075.
Meio do caminho: o mundo segue um
caminho com tendências socioeconômi-
cas e tecnológicas similares aos padrões 2,0 °C 2,7 °C
SSP2-4.5
históricos. Emissões de GEE em torno dos [1,6 – 2,5 °C] [2,1 – 3,5 °C]
níveis atuais até 2050, depois caindo, mas
não atingindo emissões zero até 2100.
Competição regional: ressurgência de
nacionalismo, competitividade e conflitos
2,1 °C 3,6 °C
SSP3-7.0 regionais levam os países a se concentra-
[1,7 – 2,6 °C] [2,8 – 4,6 °C]
rem em questões domésticas ou regionais.
Emissões de GEE dobram até 2100.
Desenvolvimento movido a combustíveis
fósseis: o impulso para o desenvolvimento
econômico e social é combinado com uma
2,4 °C 4,4 °C
SSP5-8.5 intensa exploração de combustíveis fósseis
[1,9 – 3,0 °C] [3,3 – 5,7 °C]
e estilos de vida intensivos em recursos e
energia no mundo todo. Emissões de GEE
triplicam até 2075.
Fonte: Adaptado de IPCC (2021).

Horizonte temporal

O horizonte temporal está diretamente relacionado com a vida útil


do projeto. Se o projeto deve ser concluído em 2030 e a vida útil for
de 50 anos, o horizonte temporal será 2080. Logo, o período clima-
tológico futuro sugerido é aquele que engloba o ano de 2080. Uma
vez que é comum se obter informações climáticas para períodos fu-
turos (ex. 2021-2040, 2041-2060, 2081-2100), recomenda-se utilizar
os dados dos períodos correspondentes para embasar as projeções
das variáveis respectivas nos fluxos de demandas, custos, benefícios
e externalidades.
56
Modelos de clima

Existem diversas gerações e tipos de modelos de clima e, via de reg-


ra, deve-se adotar a geração mais recente e a maior quantidade de
modelos possível. A principal referência para modelos de clima é o
Coupled Model Intercomparison Project (CMIP). Assim como os cenári-
os de emissões de GEE, deve-se adotar a geração mais recente de
modelos de clima. Até o momento da elaboração deste guia, a versão
6 (CMIP6) é a geração de modelos de clima mais recente. Porém é co-
mum encontrar relatórios e estudos que adotam modelos do CMIP5
e até mesmo do CMIP3. O CMIP6 contempla projeções de dezenas
de modelos de clima de diversos centros de pesquisa ao redor do
mundo.

Via de regra, recomenda-se adotar a abordagem de conjunto de


multi-modelos (multi-model ensemble) onde são considerados to-
dos os modelos de clima disponíveis e analisa-se a distribuição
estatística. Alternativamente, pode-se realizar as análises com base
em um conjunto de vários modelos, selecionados com base na ad-
erência do período histórico do modelo com os dados observaciona-
is. Essa análise, no entanto, requer um nível elevado de conhecimen-
to em processamento de dados e climatologia e o recomendável é
usar todos os modelos disponíveis.

Para calcular os cenários de mudança do clima, deve-se considerar


medidas que descrevem a distribuição estatística, como a média, ou a
mediana, e os percentis. Os percentis servem para estimar o nível de
incerteza do cenário de mudança do clima e os limiares mais usados
são 10° e 90° (Banco Mundial 2021 e IPCC, 2022c). Outro aspecto é
a questão da resolução espacial dos modelos de clima. Os modelos
atuais possuem uma resolução na ordem de 40 x 40 km a 100 x 100
km de grade e podem ter limitações em representar o clima na escala
local ou regional. Uma maneira de aprimorar a resolução espacial
das projeções de clima é usar dados de modelos regionais de clima
(downscaling). No entanto, até o momento os dados são limitados,
seja devido ao número limitado de modelos regionais (ex. NASA-NEX-
GDDP-CMIP6) ou devido ao uso de gerações mais antigas de modelos
globais de clima como dado de entrada nos modelos regionais (ex.
ESGF-CORDEX-CMIP5).

É preciso considerar ainda que maior resolução espacial não sig-


nifica, necessariamente, maior nível de certeza; a pertinência de
se considerar projeções de modelos regionais vai depender das
condições fisiográficas do local de interesse e da capacidade do
analista em processar dados de clima. Em regiões com topografia
acentuada, onde a chuva ou a temperatura são afetadas pela orogra-

57
fia, recomenda-se usar projeções de modelos regionais. Porém estas
informações nem sempre estão prontas para uso, o que demandaria
processar dados de clima.

Cenários climáticos

A combinação entre cenários de emissões e modelos de clima resulta


em cenários climáticos (ou projeções climáticas), ou seja, uma série
de respostas simuladas a partir de uma representação do sistema
climático a um cenário futuro de emissões (concentração de gases de
efeito estufa e aerossóis). É importante ressaltar que as projeções
climáticas não são previsões, mas representações plausíveis de
condições climáticas futuras, não devendo, portanto, ser inter-
pretadas de forma probabilística. Também ao contrário das pre-
visões, as projeções estão condicionadas a suposições relativas (ex.
desenvolvimento socioeconômico, transição energética, cooperação
política global e avanços tecnológicos) que podem ou não se realizar.

Quadro 4.2: Onde encontrar dados e informações climáticas e


como usá-los?

Os dados climáticos são uma coleção de observações diretas ou de


registros derivados de simulações de modelos de clima. Já as infor-
mações climáticas são resultado do processamento de dados em um
formato que seja compreensível e de interesse do público-alvo (ex.
mapas e gráficos).

O analista deve dar preferência às informações climáticas, pois estão


prontas para uso, dispensando o processamento de dados. Dados ob-
servacionais (registros históricos) devem apoiar a validação dos resul-
tados dos cenários futuros. Recomenda-se verificar as tendências em
curso (exemplo na Figura 4.1) e compará-las com o sinal de mudança
das projeções futuras (exemplo na Figura 4.2). Para condições ex-
tremas, pode-se consultar as mudanças no TR. A Figura 4.3 ilustra um
exemplo para o Distrito Federal onde a chuva que atualmente acon-
tece a cada 10 anos (TR 10 anos) terá a sua probabilidade de ocorrên-
cia alterada uma ocorrência a cada 8,58 anos.

O analista deve julgar se as informações climáticas disponíveis aten-


dem minimamente aos critérios de elaboração de cenários climáticos
definidos nessa etapa (Tabela 4.1) e se são suficientes para dar segui-
mento a etapa seguinte. Os valores dos cenários de mudança do clima
podem ser definidos com base no julgamento de especialistas em cli-
ma, amparados pelas informações climáticas disponíveis. O caminho
a ser adotado vai depender da capacidade da equipe em processar e
analisar dados de clima e o tempo disponível de execução do estudo.
A Tabela 4.4 apresenta as principais fontes de dados e informações
climáticas disponíveis.

58
Tabela 4.4: Principais fontes de dados e informações para a con-
strução de cenários climáticos

Abrangência Dados1 Informações2

Atlas-IPCC - conjunto de
dados do CMIP6 [link]
Climate Knowledge Portal - Climate Knowledge Portal -
Global
Dados para download [link] Projeções de clima [link]
Climate Knowledge Portal -
Extremos [link]
ESGF-CORDEX-CMIP5
Atlas-IPCC conjunto de
[link]
Regional dados do CORDEX-South
NASA-NEX-GDDP-CMIP6
America [link]
[link]
1
Necessita de expertise em processamento de dados; 2 Pronto para uso
Fonte: Elaboração própria.

Exemplos de consulta e utilização de informações climáticas

Figura 4.1: Tendência observada nas últimas décadas para: tem-


peratura média anual (esquerda) e chuva anual (direita) para o
Distrito Federal.

Fonte: consulta ao portal CCKP, Banco Mundial, 2022.

59
Figura 4.2: Projeções de multi-modelos do CMIP6 para: temperatu-
ra média anual (esquerda) e chuva anual (direita) para o Distrito
Federal considerando os cenários de emissões SSP1-1.9 e SSP3-7.0
em relação ao período base de 1995-2014.

Fonte: consulta ao portal CCKP, Banco Mundial, 2022.

Figura 4.3: Cenários de mudança do clima para chuva extrema de


TR 10 anos para o Distrito Federal considerando os cenários: a)
SSP1-1.9 e b) SSP3-7.0, período 2035-2064 (centrado em 2050), em
relação ao período base de 1995-2014.

Fonte: consulta ao portal CCKP, Banco Mundial, 2022.

60
A partir das variações dos tempos de retorno para os cenários de
emissões e os horizontes de análise, como ilustrado na Tabela 4.5, tor-
na-se possível calcular o deslocamento da curva de probabilidade de
excedência de danos sob mudança do clima conforme método descri-
to na Seção: Sobre a natureza da ameaça climática e suas formas de
incorporação na avaliação socioeconômica (ilustrado na Figura 2.1).
As informações climáticas apresentadas na Tabela 4.5 tem como base
o Climate Knowledge Portal (CCKP) do Banco Mundial (exemplificado na
Figura 4.3). Para situações que requerem maior resolução espacial, es-
pecialistas em clima podem calcular os novos TR a partir da manipu-
lação de dados climáticos.

Tabela 4.5: Exemplo de dados de entrada para a estimativa do des-


locamento da curva de probabilidade de excedência de danos sob
mudança do clima: Tempo de Retorno (TR) futuro

Novo Tempo de Retorno (anos)


Nível de retorno (mm)
2035-2064 (centrado em 2050)
Obsevado Histórico
SSP1-1.9 SSP3-7.0
INMET* (modelos)
TR de 5 anos 95,7 82,1 4,0 3,7

TR de 10 anos 102,1 95,7 7,6 7,0

TR de 20 anos 111,8 109,2 14,4 13,3

* Dados da estação meteorológica do INMET em Brasília (código 01547004)


obtidos em [link].
Fonte: elaboração própria.

61
Gestão proativa das incertezas

Uma última nota sobre as projeções climáticas diz respeito à sua


inerente e eventual discordância de resultados - notadamente para a
precipitação. Resultados antagônicos entre projeções devem ser
interpretados não como erros, mas sim como incertezas que re-
querem gestão proativa de risco. Ao contrário do que justificativas
para a inação, a observação da variabilidade permite identificar el-
ementos críticos ao projeto e a amplitude das mudanças. A “gover-
nança antecipatória” para lidar com a mudança do clima consiste em
abraçar a incerteza e incorporá-la no processo de decisões, criando
sistemas mais versáteis e, consequentemente, resilientes, tal como
defendido por Quay (2010).

Dada a complexidade na seleção dos cenários climáticos, re-


força-se a necessidade de condução anterior da Etapa 1, que per-
mite compreender o sinal das mudanças do clima e a característi-
ca do risco antes de se partir em busca de projeções específicas.
A princípio, a adoção de qualquer cenário climático permite o cálculo
de indicadores de viabilidade socioeconômica seguindo os passos
apresentados na Etapa 2 e sua avaliação na Etapa 3. Dado o exposto,
recomenda-se o estabelecimento de cenários climáticos que repre-
sentem limites inferiores, medianos e superiores dentro da gama de
resultados possíveis.

PONTO DE DECISÃO

É possível estabelecer, de forma quantitativa, cenários climáticos para as


variáveis de interesse ao projeto?

Tendo em vista a existência e disponibilidade de dados e informações


climáticas, e considerando a eventual necessidade de customizações, a
resposta depende exclusivamente do conhecimento e experiência da
equipe de analistas em processamento de dados e interpretação de in-
formações climáticas.

Caso seja possível, realizar as etapas subsequentes dando preferência à


incorporação da quantificação dos efeitos do clima diretamente na ACB;
caso não, prosseguir para a conformação do teste de estresse (ver sub-
seção abaixo: Incorporando os efeitos dos cenários de clima nas subetapas
2.b, 2.c, 2.d e 2.e).

62
Incorporando os efeitos dos cenários de clima nas sub-
etapas 2.b, 2.c, 2.d e 2.e

As quatro subetapas subsequentes à quantificação da ameaça


climática, quais sejam: estimativas de demanda e oferta (subetapa
2.b), custos (subetapa 2.c), benefícios (subetapa 2.d) e externalidades
(subetapa 2.e), englobam duas importantes considerações que se
desdobram em diferentes caminhos para a avaliação do risco climáti-
co na análise de custo-benefício.

A primeira importante consideração é quanto à possibilidade de se


incorporar - de forma quantitativa e com base em estimativas críveis
- os riscos do clima nas estimativas de demanda, custos, benefícios
e externalidades para os distintos cenários. São dois os encaminha-
mentos possíveis:

A incorporação quantitativa do risco climático nas projeções do


estudo de demanda e de custos, benefícios e externalidades para
os diferentes cenários da ACB (base e alternativos) - o que leva a
resultados da ACB que refletem o risco climático em seus indica-
dores-padrão; ou

A não incorporação quantitativa e consequente condução de


testes de estresse ou análise probabilística - que consideram
variações plausíveis de forma a qualificar a avaliação do risco e
encaminhar a tomada de decisão.

Preferencialmente, a análise do risco climático deve se dar por


meio da incorporação da mudança do clima na estrutura da ACB
padrão, considerando as modificações impostas pelo risco em to-
das as etapas da avaliação socioeconômica de projetos que en-
volvem a quantificação pecuniária dos impactos do projeto (cus-
tos, benefícios e externalidades) a preços sociais.

Para que essa incorporação seja possível, o analista deve conseguir


estimar, de forma quantitativa, os efeitos do clima nas projeções de
demanda e nas estimativas de custos, benefícios e/ou externalidades.
Geralmente, essa incorporação só se faz possível com base em estu-
dos e informações setoriais de suporte, pois as relações físicas dos
impactos são complexas e muitas vezes dependem de modelagens
sofisticadas.

Incorporar o risco climático dessa forma pressupõe o estabelecimen-


to - também quantitativo - das variáveis climáticas de interesse (ex.
50 mm de chuva a menos entre janeiro e março nos anos de 2041 a
2060), como descrito na subetapa 2.a. A qualidade das estimativas

63
de entrada determinará a qualidade dos resultados, devendo-se
avaliar se há consistência suficiente para realizar a incorporação
quantitativa do risco. Podem-se classificar as seguintes tipologias
de estimativas:

Estimativa baseada em fontes de dados/estudos relevantes para


a localização, perfil e horizonte de análise específica ou semel-
hante à do projeto;

Estimativa baseada em fontes de dados/estudos e extrapolação


de tendências; e

Estimativa baseada em conhecimento e informações de especial-


istas e técnicos.

Caso as estimativas quantitativas possam ser realizadas de forma


crível para cada um dos cenários de clima (definidos na subetapa 2.a),
prossegue-se com a condução da ACB padrão. Os indicadores de
viabilidade da ACB, resultante da aplicação dos cenários climáti-
cos, terão as condições de risco incorporadas e informarão sobre
a viabilidade socioeconômica do projeto e a eventual presença
de riscos remanescentes. Não há necessidade, nesse caso, de se
conduzir o teste de estresse ou a análise probabilística de risco.

A incorporação do risco climático na estrutura padrão da ACB


nem sempre será possível: pode-se ter tanto incertezas oriundas
da quantificação dos cenários climáticos como da quantificação das
alterações na demanda e nas estimativas de custos, benefícios e ex-
ternalidades. Nesses casos, o risco deve ser avaliado por meio de
teste de estresse ou de análise probabilística de risco (detalhada
na Etapa 3 deste Anexo). A condução dessa análise inclui as variáveis
de maior repercussão nos canais de impacto e análise de valores de
inflexão (tal como preconizado pelo Guia ACB), contrastando uma
gama de possíveis resultados.

A segunda importante consideração (independente da primeira) ad-


vém da identificação da natureza da ameaça climática que se es-
pera enfrentar, haja vista que o risco pode se manifestar de forma
crônica e/ou aguda, conforme já anteriormente explicitado na Seção:
Sobre a natureza da ameaça climática e suas formas de incorporação na
avaliação socioeconômica.

Essa distinção é, claramente, uma simplificação, tanto frente à com-


plexidade dos aspectos que configuram a climatologia; imperfeita
frente as sobreposições existentes (ex. ciclos interdecenais); como
ainda imprecisa frente a eventos como deslizamentos de encostas e
incêndios florestais, que dependem de interações entre o “crônico”
e o “agudo”. Não obstante, é didática ao ilustrar as implicações na
incorporação do risco climático na avaliação socioeconômica.
64
Quadro 4.3: Exemplo da incorporação do risco climático na ACB

O estudo de caso de ACB em infraestrutura hídrica denominado “Pro-


jeto Vaza-Barris” 28, no rio homônimo, endereça o problema de inse-
gurança hídrica para uma população de 210 mil habitantes da área
urbana de nove municípios sergipanos. Apesar da universalização do
acesso à água potável, com plena cobertura de atendimento pela rede
pública, o planejamento setorial identificou a presença de notório risco
hídrico devido à irregularidade na oferta de água bruta. A situação de
risco hídrico tende a se agravar no tempo, tanto devido às projeções de
crescimento demográfico, como também devido às projeções das mu-
danças do clima. Estas últimas apontam consistentemente para tem-
peraturas mais altas e redução na disponibilidade hídrica, o que faz
com que o risco atual se agrave. A concepção do projeto de ampliação
da oferta de água, portanto, considerou tanto o déficit de atendimento
majorado pela mudança do clima, assim como sofreu adequações em
seu porte para acomodar essa nova demanda.

Etapa 2.b. Incorporação dos efeitos dos cenários de cli-


ma nas estimativas de oferta e demanda do cenário
base

Informações e dados necessários: instrumentos de planejamento


setoriais de médio e longo prazo; avaliações setoriais de risco climáti-
co; referências setoriais para planejamento de longo prazo; estudos
de demanda do setor a ser atendido.

Projetos expostos a risco climático significativo, devem consid-


erá-lo o mais cedo possível, preferencialmente desde a fase de
concepção do projeto ou pelo menos na elaboração do cenário
base (ou contrafactual), haja vista que pode ser relevante para
a própria conformação do contexto de análise. Uma vez que esse
cenário busca prescrever a evolução previsível das variáveis de in-
teresse na ausência do projeto, desdobramentos relacionados ao
clima podem alterar os efeitos socioeconômicos conformadores da
demanda e da oferta, que constituem, por sua vez, as característi-
cas do serviço a ser prestado pelo projeto. Maiores temperaturas ou
menores precipitações, afinal, podem modificar a realidade na qual o
projeto pretende se inserir (e interferir).

Uma vez que as infraestruturas detêm vidas úteis longas (30, 50 anos
ou mais), o próprio cenário base deve ser analisado no compasso
das incertezas críticas da mudança do clima e seu rebatimento nas

28
Disponível em [link].

65
projeções de oferta, demanda, custos, benefícios e externalidades,
realizadas para todo o horizonte de análise 29 . A consideração dessas
implicações pode motivar reavaliações dos cenários alternativos que
são projetados de forma a atender aos anseios sociais que podem,
por sua vez, serem modificados.

Certamente, essa modificação deve


Como dados de entrada para a considerar outras variáveis que con-
análise, tem-se, geralmente séries figuram essa situação, tal como
temporais (ex. população do o crescimento populacional, mu-
município y que demanda água danças no perfil demográfico, mi-
potável) e formas de realizar esse gração por conta de crescimento
atendimento (ex. incremento de econômico etc. Fatores que não es-
disponibilidade hídrica de x m3/s). tão correlacionados com a mudança
Do lado da oferta, projeções de do clima podem, também, vir a ser
maior aridez (menores índices de por ela influenciados, gerando um
precipitação na média) e/ou insta- processo de iteração que deve ser
bilidade na oferta natural de água escrutinado (ex. a taxa de migração
(estações chuvosas mais intensas) pode ser modificada como consequên-
podem resultar reduções na dis- cia das maiores temperaturas; mu-
ponibilidade prevista, efeito que danças na política global podem redu-
gera um acréscimo na demanda a zir a viabilidade da exploração e uso
ser atendida pelo projeto. Nesse de carvão mineral como combustível).
exemplo, haverá maior insegu-
rança hídrica - materializada em Nota-se que, como pontuado no
um déficit hídrico mais agudo do Capítulo 1 deste Anexo, diversas des-
que o previsto na ausência da con- sas relações deverão estar previstas
sideração do efeito da mudança no planejamento setorial, pois requer-
do clima. Do lado da demanda, em modelagens específicas que não
pode-se ter um incremento na são tratadas ao nível de projeto (ex. na
taxa de consumo per capita de variação na segurança hídrica, na de-
água em decorrência das maiores manda por energia, na modificação da
temperaturas. adequabilidade de culturas agrícolas a
cenários climáticos, dentre outros).

Quando o nível de complexidade extrapola a ACB, porém a incer-


teza permanece, recomenda-se não incorporar os resultados dos
efeitos climáticos nas estimativas de demanda e oferta, mas sim
realizar o teste de estresse ou a análise probabilística de risco
(Etapa 3).

29
Considerando a geração de energia hidrelétrica, por exemplo, as projeções de oferta no cenário
base podem não ser mais tão regulares quanto previsto, devido à maior variabilidade no regime
pluviométrico.
66
PONTO DE DECISÃO

Com base na subetapa 2.a e no risco gerado pelos cenários climáticos, é


possível estimar (de forma quantitativa) a variação nas demandas e ofertas
do cenário base?

Caso a quantificação seja possível, realizar a incorporação respectiva a


cada cenário climático; caso não, anotar variações percentuais mínimas
e máximas plausíveis, para cada variável afetada, de forma a conduzir o
teste de estresse.

Etapa 2.c. Incorporação dos efeitos dos cenários de cli-


ma nas estimativas de custos econômicos

Informações e dados necessários: sistemas setoriais de infor-


mações de custos referenciais; normativas técnicas de engenharia,
requisitos regulamentares e práticas setoriais voluntárias (normas
técnicas e códigos de construção).30

A mudança do clima pode gerar uma série de repercussões que


afetam os custos diretos de capital (Capex) e de operação e ma-
nutenção (Opex). Na fase de implantação de um projeto (Capex), a
construção pode se estender por mais tempo do que o previsto devido
à ocorrência de inundações, ondas de calor que impedem o trabalho
ao ar livre ou interrupções no fornecimento de energia devido a ven-
davais. Na fase de operação (Opex), os custos com a manutenção e
operação podem ser maiores do que previsto devido, dentre outros:
aos danos causados por tempestades, incêndios ou ventos fortes; às
taxas aceleradas de corrosão; à tecnologia inadequada para as tem-
peraturas mais altas; ao acionamento de energia de backup devido à
intermitência na rede.

Esse último exemplo revela dependências cruzadas: quando a in-


stalação e operação de um projeto depende da infraestrutura de
outro projeto/setor, que por sua vez pode ser afetada pelo clima. O
abastecimento de água, por exemplo, depende de eletricidade para
bombeamento, e as linhas de transmissão de energia correm mais
risco sob ventos mais fortes. Caso esse risco seja significativo, uma
forma de mitigá-lo é por meio da aquisição e manutenção de gera-
dores para backup - promovendo um aumento nos custos de Capex
e Opex do projeto.

30
Sistemas setoriais de compilação e atualização de custos referenciais podem vir a incorporar coefi-
cientes ou índices que espelham a adaptação requerida sob maior estresse climático.

67
Outro aspecto a ser considerado é a possibilidade de a mudança
do clima afetar o valor residual do ativo: pode-se ter um ativo que
não será mais capaz de gerar benefícios devido ao clima; ou mesmo
pode-se vir a ter a geração de passivos para além do horizonte de
análise do projeto (ex. barragens de controle de cheias que podem
não mais dar conta do aumento das inundações no final do século,
estruturas costeiras que se tornam proibitivamente caras de manter
com o aumento do nível do mar etc.).

A adaptação à mudança do clima geralmente envolve alterações aos


custos dos projetos, e salvo quando Soluções baseadas na Natureza
(SbN) são possíveis, tais modificações implicam em custos mais eleva-
dos. Espera-se, no entanto, que incrementos nos custos para resiliên-
cia e adaptação sejam mais do que compensados pelos benefícios as-
sociados. Para tornar um projeto mais resiliente, a consideração
de alterações em seu design pode ir além da retroalimentação
dos custos (Capex e Opex), mas também motivar a concepção de
novas alternativas de projeto. Cabe lembrar que a incorporação do
risco climático nas estimativas de custos deve se dar, preferencial-
mente, nas projeções do cenário base e alternativo(s).

A incorporação do risco climático deve considerar o perfil da aval-


iação socioeconômica sendo conduzida. Em uma ACB Preliminar
(ou indicativa), há grande margem para influência no design e
no alinhamento estratégico do projeto, com avaliação de alter-
nativas estratégicas e encaminhamentos práticos para as próx-
imas fases de análise (ex. a definição da tecnologia adotada, com
grande influência nos custos previstos). Já em uma ACB Completa
(ou detalhada), a margem de influência é reduzida, pois o foco das
alternativas avaliadas está no refinamento da solução de engenharia
adotada ou na definição do melhor traçado, por exemplo.

Nessa fase detalhada, em que se conduz a ACB completa, a perspec-


tiva de um risco catastrófico deve motivar análises pormenorizadas,
embasadas em normativas e requisitos regulamentares vigentes
(como as normas técnicas e códigos de construção) ou em práticas
voluntárias formalizadas por entidades de classe. Esses padrões po-
dem ser aplicados às especificações dos materiais, equipamentos e
insumos utilizados, ou aos processos de concepção e gerenciamen-
to de projetos. Nesse contexto, as normas técnicas e padrões de in-
fraestrutura podem desempenhar um papel importante na promoção
da resiliência climática31.

31
Como exemplo, as normas técnicas de engenharia civil (Eurocódigos) para transporte, energia, ed-
ifícios e construção civil foram revistas com base na Estratégia Europeia de Adaptação (2013) para
abranger a avaliação, reutilização e adaptação da infraestrutura existente, bem como a concepção
de novos desenvolvimentos, sob a lente climática.
68
PONTO DE DECISÃO

Com base na subetapa 2.a e no risco gerado pelos cenários climáticos, é


possível estimar (de forma quantitativa) a variação dos custos?

Caso a quantificação seja possível, realizar a incorporação respectiva a


cada cenário climático; caso não, anotar variações percentuais mínimas
e máximas plausíveis, para cada variável afetada, de forma a conduzir o
teste de estresse.

Quadro 4.4: Padrões para avaliação e tratamento do risco climáti-


co em infraestruturas

A International Standards Organization (ISO) apresentou a normativa


ISO 14091:2021, que trata especificamente da adaptação à mudança
do clima: Adaptation to climate change - Guidelines on vulnerability,
impacts and risk assessment. É baseada no guia de gerenciamento de
risco trazido pela ISO 31000:2018, e apresenta três etapas para a aval-
iação do risco climático, quais sejam: (i) preparação da avaliação de
risco climático - inclui o estabelecimento do contexto, a identificação
dos objetivos e resultados esperados, a definição de uma equipe de
projeto, a determinação do escopo e metodologia, a definição de um
horizonte temporal, a coleta de informações relevantes e a preparação
de um plano de implementação; (ii) implementação da avaliação de
risco climático - consiste na triagem de impactos e desenvolvimento
da cadeia de impactos, na identificação de indicadores, na aquisição
e gerenciamento de dados, na produção de indicadores e análise das
componentes de risco, na avaliação da capacidade adaptativa e na in-
terpretação dos resultados; e (iii) comunicação dos resultados - inclui
um relatório de avaliação do risco climático, bem como a interpretação
dos resultados no âmbito do planejamento para a adaptação à mu-
dança do clima.

O Engineering Protocol for Infrastructure Vulnerability Assessment


and Adaptation to a Changing Climate - PIEVC (LAPP, 2011) tem por
objetivo detalhar a avaliação de infraestruturas frente à capacidade de
resposta à mudança do clima, orientando operadores na incorporação
de medidas de adaptação no design, desenvolvimento e gestão de in-
fraestruturas, tanto existentes quanto planejadas. O guia PIEVC oferece
um passo-a-passo para a avaliação do risco a partir da perspectiva da
engenharia, identificando possíveis estratégias de adaptação de forma
pragmática e com base em metodologias consolidadas. Os resultados
quantitativos objetivam auxiliar na identificação dos riscos prioritários,
sendo relevante para a quantificação das modificações de engenharia
que podem deles decorrer. Embora o método prescrito não esteja in-
serido no contexto de avaliação socioeconômica de projetos, já serviu
de insumo para avaliações socioeconômicas com base no método de
análise custo-benefício.

69
Etapa 2.d. Incorporação dos efeitos dos cenários de cli-
ma nas estimativas de benefícios econômicos

Informações e dados necessários: catálogos de parâmetros (geral e


setoriais); sistematização de resultados de políticas públicas; dados
setoriais históricos; estudos acadêmicos e publicações de instituições
de pesquisa.variações plausíveis de forma a qualificar a avaliação do
risco e encaminhar a tomada de decisão.

Os benefícios socioeconômicos podem sofrer diversas consequências


negativas da mudança do clima. Grosso modo, podem-se classificar
dois tipos de efeitos:

A interrupção no fluxo de bens ou serviços gerados pela oper-


ação da infraestrutura. Por exemplo: altas temperaturas causan-
do o desligamento de um transformador; inundação bloqueando
o tráfego de uma rodovia; estiagem gerando déficit no abasteci-
mento de água; deslizamento de encosta derrubando um sistema
de comunicação; queda na eficiência de uma usina termelétrica
de ciclo combinado devido ao aumento na temperatura da água
usada para resfriamento.

O atraso na entrada em funcionamento de um novo ativo,


por exemplo, de geração de energia, devido a condições climáti-
cas desfavoráveis à construção, prolongando o período de obras
e atrasando sua entrada em operação e o início da geração de
benefícios.

O comprometimento da vida útil do ativo - situação na qual


não há uma mera interrupção nos fluxos de benefícios espera-
dos, mas sim uma impossibilidade na continuidade de sua ger-
ação. Por exemplo: incapacidade de promover o controle de in-
undações costeiras durante o horizonte de tempo pretendido à
medida que o nível do mar aumenta; perda estrutural do ativo
devido à erosão; ativos encalhados (stranded assets).

A incorporação do risco climático no cômputo dos benefícios


exige considerar a temporalidade e abrangência dos impactos,
permitindo qualificar a interrupção do fluxo dos benefícios e a
consequente métrica de perda de bem-estar (ex. 10% de perda de
eficiência; 20 dias de interrupção do serviço por ano; 10 mm a menos
de pluviosidade entre janeiro e março etc.). Embora menos comum,
pode haver situações em que ocorrem ganhos (maiores benefícios)
ao invés de perdas, como o aumento na geração de energia solar.

70
No mais das vezes, a incorpo-
ração do risco climático nas esti-
mativas de benefícios deve se dar Supondo um projeto de energia
tanto nas projeções do cenário cujo benefício seja a redução de
base como na dos cenários alter- perdas na transmissão, o aumento
nativos, sendo da diferença entre projetado de temperatura irá influ-
estes que se obtêm a medida dos enciar tanto a projeção de perdas
benefícios incrementais ou com- na transmissão do cenário base
parativos. Caso um projeto resili- (situação sem o projeto) quanto as
ente promova a redução do risco, do cenário alternativo (com o pro-
impedindo ou reduzindo a proba- jeto). O mesmo racional se estende
bilidade e/ou a severidade da in- para benefícios de aumento do uso
terrupção dos fluxos de benefícios, produtivo da terra, na qual o poten-
valora-se tal efeito pelo método de cial de rendimento da terra pode
perdas evitadas. Uma vez que a mo- ser positiva ou negativamente im-
tivação para a promoção da redução pactado pelo clima. O risco de aci-
do risco de desastres é salvar vidas, dentes em uma rodovia, caso seja
reduzir os danos e prejuízos associa- majorado pela mudança do clima,
dos e também promover a recuper- afeta as projeções de acidentes do
ação efetiva das áreas impactadas, cenário base e, a depender do pro-
estas são exatamente as métricas jeto, também do cenário alternati-
para o cômputo das perdas evitadas vo. Atenção deve ser tomada para
(i.e. vidas salvas, danos ou prejuízos que não haja dupla contagem.
que deixaram de ocorrer, áreas que
permaneceram produtivas ao invés
de abaladas por desastres).

Por fim, haja vista que a valoração dos benefícios - especialmente


os de não mercado - pode requerer o uso de técnicas de estimação
da disposição a pagar (DAP), torna-se importante identificar se essa
métrica pode vir a ser influenciada sob o contexto do risco climático
(majorada frente a um maior risco de desabastecimento, por exem-
plo). Caso essa incorporação tenha sido realizada, é importante dis-
tinguir os resultados de acordo com as alternativas de projeto (caso
uma delas, por exemplo, reduza a exposição ao risco e outra não),
evitando-se dupla contagem.

PONTO DE DECISÃO

Com base na subetapa 2.a e no risco gerado pelos cenários climáticos, é


possível estimar (de forma quantitativa) a variação dos benefícios?

Caso a quantificação seja possível, realizar a incorporação respectiva a


cada cenário climático; caso não, anotar variações percentuais mínimas
e máximas plausíveis, para cada variável afetada, de forma a conduzir o
teste de estresse.

71
Etapa 2.e. Incorporação dos efeitos dos cenários de cli-
ma nas estimativas de externalidades

Informações e dados necessários: catálogo de parâmetros (geral


e setoriais); indicadores de resultados de políticas públicas; estudos
acadêmicos e publicações de instituições de pesquisa; repositórios
de informações sobre valoração ambiental32.

A consideração das externalidades sob mudança do clima requer


avaliar, primeiramente, quais delas - dentro do rol das previamente
identificadas, quantificadas e valoradas (independentemente do cli-
ma) - poderão vir a ser alteradas. Caso haja algum impacto nas
externalidades elencadas, sua incorporação na ACB deve seguir
o mesmo racional prescrito para os benefícios, incluindo-se as
repercussões nas estimativas tanto do cenário base quanto dos
cenários alternativos.

O risco climático e seu gerenciamento (ex.: construção de resiliência)


podem, adicionalmente, desencadear novas externalidades que de-
vem também ser consideradas, sejam elas positivas ou negativas33.
Afinal, como premissa geral da avaliação socioeconômica, devem ser
incluídos todos os custos, benefícios e externalidades geradas pelo
projeto.

Geração de co-benefícios

A promoção de adaptação climática com Soluções baseadas na Na-


tureza (SbN) é associada à geração de externalidades positivas, co-
mumente denominadas de co-benefícios ou ainda de benefícios aux-
iliares (ancillary benefits). Um exemplo é o reflorestamento de uma
encosta cujo propósito é a mitigação do risco de que uma infraestru-
tura de transporte venha a sofrer com deslizamentos de terra: o re-
florestamento pode ser realizado com espécies nativas zoocóricas
(que atraem a fauna e promovem a biodiversidade local); as árvores
sequestram carbono (mitigação climática) e atuam como mecanismo
auxiliar de regulação hídrica (promovendo a infiltração e a regulari-
dade dos fluxos hidrológicos de base). Outro exemplo é a restauração
e manutenção de manguezais como forma de promover a proteção
de infraestruturas portuárias contra ressacas do mar; promovendo,
também, habitats para espécies de interesse pesqueiro, sequestro

32
Exemplos de inventários e bases de informações: Environmental Valuation Reference Inventory [link];
Development Evidence Portal [link]; Enabling a Natural Capital Approach - ENCA, Reino Unido, com
preços de serviços ecossistêmicos e outros [link]; Dataset CBAx do governo da Nova Zelândia [link].

33
O item sobre má adaptação (maladaptation), na Etapa 3 deste Anexo, tece mais considerações
sobre a promoção de externalidades negativas.

72
de carbono e retenção de sedimentos (que beneficiam o próprio
porto por meio de dragagem evitada). Embora a natureza dos co-
benefícios varie significativamente, todos se materializam na
prevenção de desastres e podem ser, assim, incorporados no
fluxo de caixa do projeto.

Há um interesse crescente em avaliar o potencial de abordagens que


promovem serviços ecossistêmicos para adaptação e resiliência em
geral, seja de forma individualizada ou em conjunto com soluções
de engenharia tradicionais (infraestrutura cinza). Uma vez que in-
vestimentos em gerenciamento de risco de desastres podem servir
a múltiplos propósitos, mesmo soluções tradicionais de engenharia
ou a promoção de medidas de gestão (soft measures) também podem
ser geradores de co-benefícios. Dispositivos de controle de cheias ou
manejo de águas pluviais, por exemplo, podem funcionar como pis-
tas de caminhada ou como parques lineares; abrigos para desastres
podem, enquanto não cumprem sua função, ser usados como esco-
las ou espaços comunitários; sistemas de monitoramento e alerta de
desastres podem fortalecer a capacidade de previsão do tempo, que
por sua vez pode beneficiar agricultores locais.

Quadro 4.5: Promoção da segurança hídrica e resiliência climática


com ações de conservação, restauração de ecossistemas e mod-
elos produtivos sustentáveis

O Movimento Viva Água (MVA), iniciativa multiatores criada para pro-


mover a segurança hídrica, a conservação da natureza e o empreend-
edorismo sustentável da bacia hidrográfica do rio Miringuava, em São
José dos Pinhais/PR, manancial estratégico para o abastecimento de
água da Região Metropolitana de Curitiba, também promove a adap-
tação à mudança do clima por meio de suas ações de conservação,
restauração de ecossistemas e modelos produtivos sustentáveis. A
análise de custo-benefício do MVA estimou 16 benefícios diretos e ex-
ternalidades positivas (algumas sendo co-benefícios) da adaptação à
mudança do clima, aninhados em seis categorias: (i) sistema de pro-
dução com princípios de sustentabilidade; (ii) sequestro de carbono;
(iii) regulação hídrica; (iv) retenção de sedimentos; (v) negócios suste-
ntáveis; e (vi) associativismo e cooperativismo. Os benefícios superam
em 2,46 vezes os custos com as intervenções, contribuindo para au-
mentar a resiliência da Bacia aos efeitos da mudança do clima e assim
evitar potenciais aumentos de custos futuros34.

34
Disponível em [link].

73
Papel indutor da redução de riscos

Uma última consideração acerca da promoção da adaptação à mu-


dança do clima é quanto ao seu potencial papel indutor da atividade
econômica (ver seção Efeitos econômicos indutivos, indiretos e de se-
gunda ordem no Guia ACB). A ocorrência de frequentes desastres,
bem como a mera possibilidade de ocorrência de um desastre
catastrófico futuro, desencadeia impactos reais nas decisões dos
agentes econômicos que alteram seu comportamento em função
do risco. Agentes econômicos avessos ao risco podem, devido à per-
cepção de risco, evitar investimentos em determinadas localidades
ou classes de ativos, levando à perda de oportunidades de desen-
volvimento. Quando a possibilidade de ameaça climática coloca em
perigo as perspectivas da atividade econômica e restringe o investi-
mento privado de longo prazo, ocorre um risco de fundo.

Uma vez que a ação climática e o desenvolvimento sustentável são


processos interdependentes, investimentos resilientes ao clima e
promotores da mitigação de emissões podem apoiar o próprio desen-
volvimento econômico (climate resilient development pathways), des-
encadeando planejamentos prospectivos de investimentos privados
de capital de longo prazo. Dessa forma, pode-se ter o fomento ao
investimento em resiliência mesmo que os desastres não ocorram
ou ocorram tardiamente em relação ao esperado. Nas situações em
que o projeto reduz o risco de fundo ao promover mudanças com-
portamentais, afetando decisões de investimentos privados, há
indução sobre o investimento, podendo tal efeito ser consider-
ado na análise de custo-benefício. Embora a identificação do efeito
seja relativamente clara e suportada por evidências 35, sua quantifi-
cação e valoração não é trivial, fazendo-se valer as recomendações
expostas no Guia ACB acerca dos efeitos indutivos (Capítulo 7).

PONTO DE DECISÃO

Com base na subetapa 2.a e no risco gerado pelos cenários climáticos, é


possível estimar (de forma quantitativa) a variação das externalidades?

Caso a quantificação seja possível, realizar a incorporação respectiva a


cada cenário climático; caso não, anotar variações percentuais mínimas
e máximas plausíveis, para cada variável afetada, de forma a conduzir o
teste de estresse.

35
Por exemplo, Tanner et al. (2018) apontam que a redução e gestão eficaz do risco permite que
famílias pobres acumulem economias, invistam em ativos produtivos e melhorem seus meios de sub-
sistência.
74
Quadro 4.6: Exemplo de efeito indutivo pela redução do risco
climático

O estudo de caso de ACB em infraestrutura hídrica “projeto de con-


trole de cheias na bacia hidrográfica do rio Muriaé” , entre os estados
de Minas Gerais e Rio de Janeiro, pretende reduzir o elevado grau de
risco associado a tais eventos. Entre os anos de 1991 e 2019, 135 mil
pessoas foram afetadas por cheias nos seis municípios contemplados,
com perdas econômicas (danos e prejuízos, públicos e privados) esti-
madas em cerca de R$ 900 milhões. Os eventos de inundações e enx-
urradas vêm ocorrendo, na média, a cada 4 anos. Com base em técni-
cas de econometria, confirmou-se a hipótese de que existem, embora
discretas, restrições ao investimento por parte dos agentes econômi-
cos que são atingidos pelas frequentes cheias. O projeto, portanto, é
promotor da indução do investimento ao reduzir o risco climático de
fundo, e o benefício desse alívio de restrição se soma aos demais con-
siderados na ACB.

36
Disponível em [link].

75
5
ETAPA 3

TOMADA DE DECISÃO
CONSIDERANDO A COM-
PONENTE CLIMÁTICA

77
Objetivo

Sendo a ACB uma ferramenta de auxílio à tomada de decisões, o obje-


tivo dessa etapa é a qualificação desta frente aos riscos trazidos ou
majorados pelo clima. A partir da identificação dos riscos, deve-se
avaliar e analisar como estes podem ser absorvidos pelo projeto
(internalizados) ou se permanecerão remanescentes (impossíveis
e/ou muito trabalhosos para serem incorporados).

Ao cabo dessa análise, os resultados podem tanto indicar a viabilidade


social do projeto ou podem apontar, caso se conclua pela presença
de riscos remanescentes, para revisões das alternativas de projeto ou
mesmo estudos mais aprofundados.

Perguntas orientadoras

Efeitos do clima foram incorporados em todos os parâmetros rele-


vantes da ACB? (Etapa 3.a.)

Quão sensíveis são os indicadores econômicos do projeto às alterações


em cada cenário adotado? Quais são as variáveis-críticas? (Etapa 3.a)

É necessário propor e avaliar uma nova alternativa de projeto, consid-


erando os elementos de vulnerabilidade revelados? (Etapa 3.b.)
Existem repercussões do risco climático específicas para grupos menos
favorecidos? (Etapa 3.b.)

A consideração do risco climático afeta as alternativas de intervenção


do projeto? (Etapa 3.b.)

Relação com o Guia ACB, interações e repercussões da aval-


iação

Capítulo 8 - Indicadores de viabilidade do projeto


• Reavaliação dos indicadores de viabilidade do projeto à luz da
incorporação do risco climático.

Capítulo 9 - Análise de risco


• Se o risco climático for incorporado nos custos, benefícios e
externalidades, os resultados da ACB refletirão essa compo-
nente - a condução das análises complementares pode seguir
as recomendações-padrão do Guia ACB.
• Já quando o risco climático não pôde ser incorporado, tem-se
a condução da análise de sensibilidade específica (teste de es-
tresse ou análise probabilística) para as variáveis de maior re-
percussão nos canais de impacto.

78
Capítulo 10 - Análise distributiva
• A mudança do clima pode afetar a distribuição de custos e
benefícios entre as partes afetadas pelo projeto, recaindo, por
exemplo, sobre grupos menos favorecidos da população.

Capítulo 11 - Alternativas de implementação do projeto e a ACB


• O risco do clima pode afetar os diferentes atores de maneiras
distintas, conforme o modelo de implementação escolhido,
devendo ser considerado na fase de avaliação das alternativas
de implementação do projeto.

Etapa 3.a. Configuração e condução da análise de sen-


sibilidade

Esta subetapa consiste, primeiramente, em revisar os processos an-


teriores e assegurar que os efeitos do clima relevantes ao cálculo
foram devidamente incorporados nas estimativas da ACB padrão, in-
clusive os parâmetros do cenário contrafactual.

Caso tenha sido possível incorporar a variação causada pelos


cenários de clima em todas as estimativas, passa-se à subetapa
3.b do Anexo, ou seja, aos encaminhamentos finais para tomada
de decisão sob risco climático. Pressupõe-se, nesse caso, que os in-
dicadores de viabilidade do projeto reflitam o risco climático de forma
orgânica, atestando ou não a viabilidade socioeconômica do projeto
com a consideração do clima. Adicionalmente, a condução da análise
de sensibilidade deve seguir o roteiro descrito no Guia ACB (Capítulo
9), embutindo as incertezas acerca do clima em conjunto com as de-
mais variáveis da análise (ex. parâmetros de projeção da demanda,
consumo per capita, disposição a pagar, Capex, Opex etc.). No âmbito
da análise de sensibilidade, deverão ser conduzidas a identificação de
variáveis críticas e seus valores de inflexão, bem como a análise de
cenários - que estuda o impacto de combinações de valores assumi-
dos por variáveis identificadas como críticas em situações “otimistas”
e “pessimistas”.

Caso, nas etapas anteriores, por qualquer razão que seja, não tenha
sido possível estimar de forma quantitativa os cenários climáti-
cos ou sua repercussão quantitativa na variação causada em
uma ou alguma das estimativas (demanda, custos, benefícios
ou externalidades), cabe conduzir uma análise de sensibilidade
própria para o contexto climático identificado, por meio de um
teste de estresse ou análise probabilística de risco. Isso porque,
quando a incorporação do risco climático na ACB não é possível, os
indicadores de viabilidade resultantes (∆VSPL, TRE, IBC) não irão re-
fletir as repercussões dos impactos climáticos ao bem-estar. De for-

79
ma análoga, a condução da análise de sensibilidade prescrita pelo
Guia ACB no Capítulo 9 não irá capturar, com a devida propriedade, a
amplitude e magnitude do risco.

Dessa forma, qualquer parâmetro das estimativas de demandas e


ofertas dos cenários base e alternativo(s), dos custos, benefícios e
externalidades que podem sofrer alterações devido aos efeitos do cli-
ma, precisam passar por uma análise de sensibilidade específica, de-
nominada de teste de estresse. A metodologia prescreve uma análise
quantitativa relativamente simplificada para complementar a análise
socioeconômica existente de um projeto e destacar considerações
importantes para melhorar a resiliência climática, qualificando a de-
cisão acerca da viabilidade do projeto sob tal incerteza.

Teste de estresse

A concepção do teste de estresse em muito se assemelha à análise de


cenários prescrita na seção de análise de sensibilidade do Guia ACB
(Capítulo 9), que estuda o impacto de combinações de valores assu-
midos por duas variáveis identificadas como críticas em combinações
de cenários “otimistas” e “pessimistas”, além do cenário mais provável
(default). O resultado dessa análise é uma matriz onde os quadrantes
apresentam as combinações assumidas nos cenários por cada uma
das variáveis, quais sejam: otimista-otimista, otimista-pessimista,
pessimista-otimista, pessimista-pessimista. O teste de estresse ora
delineado, como o nome indica, também apresenta o contraste entre
situações limites - a diferença sendo que as combinações não se dão
entre duas variáveis críticas, mas sim entre situações extremas de
(i) um conjunto de variáveis críticas e de (ii) cenários de mudança do
clima. Cada um desses dois elementos é abordado na sequência37.

O primeiro elemento do teste de estresse é composto por um con-


junto de variáveis críticas não correlatas ao clima (ex. parâmetros
de projeção da demanda, consumo per capita, disposição a pagar,
itens de Capex e Opex etc.), dentre as variáveis utilizadas para a mod-
elagem das demandas e ofertas do cenário base ou alternativos, es-
timativa de custos, benefícios ou externalidades. A identificação de
quais destas são críticas deve seguir o preconizado pelo Guia ACB
(Capítulo 9)38. A incerteza acerca do valor assumido para uma dada
variável também pode contribuir para sua inclusão no conjunto das
“críticas”, desde que sua variação seja capaz de influenciar de forma

37
O teste de estresse não intenta calcular um impacto esperado ou mais provável, mas sim explicitar
as vulnerabilidades do projeto em simulações que permitam informar os tomadores de decisão.

Variáveis críticas são aquelas cujas variações, positivas ou negativas, têm impacto mais significativo
38

na viabilidade socioeconômica, para as quais uma mudança de ±1% do seu valor inicial ocasiona
uma variação absoluta de mais que 1% no ∆VSPL.
80
relevante os resultados da ACB. Para cada uma das variáveis críticas,
é necessário atribuir seus valores plausíveis em duas situações dis-
tintas:

Otimista, no qual os fluxos de benefícios e custos refletem uma


situação vantajosa para a implementação do projeto; e

Pessimista, no qual as incertezas não relacionadas ao clima se


desdobram de forma negativa, ou seja, refletindo situações inde-
sejadas (porém plausíveis) para a implementação do projeto.

Os valores otimistas e pessimistas das variáveis (não correlatas ao


clima) devem ter, sempre que possível, referências em base dados
históricos e experiências passadas. A produção dos cenários “oti-
mista” e “pessimista” se dá por meio da variação concomitante
das variáveis críticas em cada caso, representando variações, re-
spectivamente, para mais e para menos, nos seus valores, des-
considerando o efeito da mudança do clima.

Já o segundo elemento do teste de estresse é composto por ao menos


dois cenários climáticos, que também assumem perfis “otimista”
e “pessimista”. O primeiro é aquele de menor impacto negativo ou,
eventualmente, o que representa o impacto positivo da mudança do
clima; já o segundo é o de maior impacto negativo. A subetapa 2.a
deste Anexo deve permitir, mesmo que baseada em intervalos de
variação grosseiros, estabelecer tais cenários.

As referências para o esta-


Com base na sequência das subetapas 2.b,
belecimento das variações
2.c, 2.d e 2.e deste Anexo, para as variáveis
podem ser oriundas de
de maior repercussão nos canais de impac-
estimativas baseadas nos
to do risco climático39, devem-se atribuir
dados históricos, referên-
variações plausíveis em decorrência das
cias acadêmicas, registros
variações climáticas otimista e pessimista.
de experiências históricas,
Estas variações, claramente, não serão
parâmetros setoriais ou
precisas - caso fossem, poderiam ter sido
julgamento de especialis-
incorporadas na ACB - mas sequer neces-
tas
sitam ser: objetiva-se identificar limites
que qualificam a tomada de decisões em
detrimento a falsas atestações de viabil-
idade que podem esconder riscos signifi-
cativos 40.

39
Idealmente, as diferentes categorias de custos, benefícios e externalidades devem ser discriminadas,
permitindo que o teste de estresse aponte os impactos individualizados.

40
Cabe lembrar a frase do matemático americano John W. Tukey: “melhor uma resposta aproximada
à uma pergunta certa, que é muitas vezes vaga, do que uma resposta exata para a pergunta errada,
que sempre pode-se fazer soar precisa” (tradução livre).

81
Uma vez que os intervalos de variações otimistas e pessimistas são
definidos - tanto para o conjunto de variáveis críticas como para as
variáveis que repercutem o risco climático - o teste de estresse se
operacionaliza pela produção de indicadores de viabilidade alterna-
tivos, que podem então ser analisados em contraste aos resultados
default, conforme a Tabela 5.1.

Tabela 5.1: Ilustração do resultado do teste de estresse

Conjunto de variáveis críticas


Indicadores de via- (independentes do clima)
bilidade resultantes
(ΔVSPL; TRE; IBC) Otimista Default Pessimista

Otimista otimista-otimista otimista-default otimista-pessimista


climáticos
Cenários

Default default-otimista default-default default-pessimista


pessimista-de-
Pessimista pessimista-otimista pessimista-pessimista
fault
Fonte: Adaptado de IPCC (2021).

A partir da configuração inicial do teste de estresse, torna-se


possível obter os resultados para as diferentes combinações de
cenários, de maior otimismo e pessimismo, permitindo inferir
sobre a resiliência do projeto. Além disso, pela análise de sensibili-
dade (vide Guia ACB, Cap. 9), é possível variar, de forma independen-
te, as variáveis relacionadas aos estudos de demanda, custos, valores
sociais dos benefícios, magnitude do impacto de eventos extremos,
mudança na frequência de eventos extremos etc.

Quadro 5.1: Princípios para a escolha de cenários otimistas e pes-


simistas

Segundo guia do Banco Mundial (2021), que discute a condução de tes-


te de estresse para consideração do risco climático na avaliação socio-
econômica de projetos, as seguintes justificativas favorecem a adoção
de uma gama ampla de variações para os cenários otimistas e pessi-
mistas: (i) uma vez que o objetivo é identificar vulnerabilidades, é mais
adequado superestimar do que subestimar a incerteza; (ii) quando o
projeto tem risco de falha catastrófica, é importante identificar este
risco, mesmo quando associado a uma baixa probabilidade de ocor-
rência; (iii) explorar cenários de baixa probabilidade é também uma
boa maneira de se contornar a tendência inata de subestimar riscos
oriundos de grandes mudanças ou eventos extremos.

82
Análise probabilística de riscos climáticos

O teste de estresse descrito acima pode ser substituído, com vanta-


gens, pela condução da análise probabilística de riscos pela met-
odologia de Monte Carlo. Seguindo o Guia ACB (Capítulo 9), trata-se
de uma avaliação mais sofisticada que resulta em uma vasta gama de
resultados, produzidos com base na alteração simultânea, sucessiva
e aleatória de variações para as variáveis críticas e para os cenários
de clima. A análise de Monte Carlo permite combinar incertezas cu-
mulativas, capturando interações não lineares entre as variáveis e
incertezas correlacionadas. A realização dessa análise percorre os
mesmos passos do teste de estresse, adicionados da atribuição
de uma distribuição de probabilidades para cada elemento.

Etapa 3.b. Encaminhamentos da ACB com a consider-


ação climática

Uma vez que todos os parâmetros alterados pelo clima foram, ou


incorporados nos cálculos, ou submetidos à análise de sensibilidade
(teste de estresse), o analista deve registrar no Relatório da ACB um re-
sumo deste processo, identificando as principais vulnerabilidades do
projeto nos cenários climáticos. Ou seja, a partir da incorporação de
alterações causadas pelo clima nos parâmetros ou da análise de sen-
sibilidade, avalia-se quais elementos do projeto são mais sensíveis e
suscetíveis aos cenários climáticos futuros.

Os registros desse processo de incorporação (todas as etapas), as-


sim como dos resultados dos eventuais testes de estresse servirão
de insumo para recomendações posteriores de aprofundamentos
necessários na própria ACB e sobretudo no refinamento do proje-
to e suas alternativas. Por exemplo, se identificada a vulnerabilidade
excessiva da operação de um porto, e por consequência sua perfor-
mance socioeconômica, à alteração na frequência e intensidade fu-
tura de tempestades marítimas, o proponente de projeto terá rica
informação para conceber alternativas de projeto e de operação que
respondam melhor a tais circunstâncias.

Gerenciamento a incerteza

As conclusões geradas pela análise de sensibilidade do projeto


sob risco climático, permitem gerenciar a incerteza e qualificar a
tomada de decisões acerca da viabilidade do projeto. Ao se identi-
ficar, por exemplo, que um projeto se mantém viável mesmo nas
condições pessimistas, tem-se atestação de um projeto robusto.
Pode-se identificar que o projeto, ao embutir determinadas medidas
de adaptação, se prova custo-benéfico mesmo na ausência da mani-
festação dos impactos da mudança do clima: alternativa classificada

83
como sem arrependimento (no-regret), que agrega bem-estar social
sob quaisquer cenários futuros. Outra possibilidade é a identificação
de medidas de adaptação que tornam um projeto custo-benéfico
mediante pequenos gastos adicionais que dão conta dos impactos
negativos da mudança do clima - medidas de baixo arrependimento
(low-regret)41.

Se o resultado da análise sugerir, por outro lado, que o ∆VSPL do pro-


jeto só é positivo em cenários otimistas, ou sem influência das mu-
danças climáticas, então o projeto não é mesmo viável. Já um projeto
que é negativo apenas no cenário climático pessimista, ainda pode
ser interpretado como um bom projeto, caso apresente retornos pos-
itivos nos demais casos - e que a ocorrência do risco não resulte em
catástrofe. Aceitar que um projeto pode falhar em casos pessimistas
evidencia a necessidade de considerar formas alternativas de geren-
ciamento do risco remanescente (ex. contratação de seguros, implan-
tação em fases ou mesmo aprimoramentos ao design que podem ser
realizados em momentos futuros).

Ao cabo dessa análise, os resultados podem indicar a presença de


riscos remanescentes inaceitáveis, situações que obrigam repensar
a concepção do projeto e o desenho de suas alternativas 42. Encamin-
hamentos possíveis perpassam, dentre outros: a tomada de novos
dados e estudos para fornecer estimativas mais precisas acerca da
probabilidade e plausibilidade do risco climático; a concepção de al-
ternativas combinadas de infraestrutura (grey), medidas de gestão
(soft) e Soluções baseadas na Natureza (green); identificação de
oportunidades complementares de adaptação para a geração de
co-benefícios (ex. em um projeto vulnerável a riscos de inundação,
pode-se adicionar um componente de gestão desse risco).

Tomada de decisões considerando a mudança do clima

Os resultados da análise socioeconômica de um projeto sob ris-


co climático, especialmente quando este aborda alternativas de
adaptação e resiliência à mudança do clima, podem gerar (grosso
modo) três diferentes tipos de decisão. O primeiro deles é a real-

41
Como exemplo, considere medidas que tornem determinada infraestrutura portuária resiliente
a marés 50 cm mais elevadas que as médias históricas. Se for executada (praticamente) sem cus-
tos adicionais (ex. via SbN), seriam medidas do tipo no-regret; se executadas com baixos custos
adicionais (ex. via defensas marginalmente maiores), seria do tipo low-regret, caso a elevação de
marés não venha a ocorrer.

⁴² Uma resposta eficiente ao risco climático poderá ser a de aceitar determinados riscos, mesmo
com a implementação de medidas de adaptação, uma vez que seria impossível ou muito custoso
mitigá-los adequadamente.

84
ização da adaptação desde a concepção do projeto - o que decorre
de resultados sem arrependimento ou de baixo arrependimento, nos
quais os custos sociais da adaptação são menores (relativamente) do
que os benefícios e co-benefícios por eles promovidos. Outra situ-
ação que pode levar à adaptação imediata decorre da inviabilidade
técnica de se realizar a adaptação em um momento futuro.

O segundo tipo de decisão se dá a partir de resultados da análise so-


cioeconômica que apontam para a inviabilidade de se investir imedi-
atamente na adaptação do projeto. Pode-se investigar a possibilidade
de preparar o projeto para a mudança do clima mediante a realização
de investimentos mínimos no momento da concepção e implemen-
tação do projeto para garantir que este possa vir a ser adaptado no
futuro, se e quando as circunstâncias indicarem ser propício. Trata-se
de preservar a flexibilidade para se investir na resiliência climática
(valor de opção) à medida que a observação da mudança do clima
aponte para a direção de maior risco. Nem todas as infraestruturas
poderão considerar, tecnicamente, essa opção.

Por fim, um terceiro tipo de decisão pode ser o de implementar o


projeto sem as medidas de adaptação, aguardando mais informações
sobre a mudança do clima e seus impactos na infraestrutura para
que o investimento ocorra, em momento posterior, se e quando
necessário. Essa decisão pode decorrer de custos de adaptação proi-
bitivamente altos no presente, não compensados pelos benefícios e
co-benefícios esperados. Essa decisão pode também ser tomada me-
diante a identificação de que os de adaptação serão menores em um
momento posterior (ex. adoção de uma determinada tecnologia que
passa a estar disponível).

A incorporação do risco climático e suas medidas de adaptação e re-


siliência, quando realizadas desde o início do ciclo de vida do projeto,
não implica que medidas precisem ser implementadas desde o pri-
meiro ano. Implica, no entanto, que as decisões sobre a concepção
do projeto (cenários alternativos) e a adoção de um cronograma de
implementação de medidas de adaptação (grey, soft ou green) estejam
avaliadas e informadas desde as fases iniciais - e que sejam evitadas
decisões de natureza irreversível.

85
Considerações acerca da questão distributiva

É relevante, em paralelo à condução da Análise Distributiva (Cap. 10


do Guia ACB), tecer considerações quanto aos efeitos que a consider-
ação de alterações climáticas pode ter na análise distributiva dos cus-
tos e benefícios do projeto. Especialmente quando da ocorrência de
desastres, geralmente as parcelas menos favorecidas da população
acabam sendo as mais afetadas, seja pela maior exposição (ex. ocu-
pação de áreas periféricas, infraestrutura menos adequada) e/ou pela
maior vulnerabilidade (ex. menor capacidade de lidar com as conse-
quências do evento). Sempre que pertinente, essa distinção deve ser
pormenorizada e incluída na tabela de incidência de benefícios (ma-
triz de stakeholders).

Considerações acerca das alternativas de implementação

O Capítulo 11 do Guia ACB aborda as alternativas de implementação


do projeto, avaliação na qual a consideração do risco climático pode
contribuir, principalmente ao se considerar as dimensões subse-
quentes do Modelo de Cinco Dimensões, quais sejam a Comercial, Fi-
nanceira e Gerencial. Sobretudo na determinação da distribuição de
riscos entre agentes públicos e privados em investimentos, a análise
de sensibilidade pode gerar ricos insumos.

Embora existam interesses privados em agregar resiliência ao pro-


jeto, instituições governamentais também podem contribuir com a
adequada divisão dos riscos em uma concessão, por exemplo. Buscar
a resiliência climática deve ser do interesse de proprietários, opera-
dores e investidores das infraestruturas, uma vez que afetam seus re-
tornos de investimento, continuidade de negócios ou conformidade
com os reguladores. No entanto, mesmo estando em melhor posição
para gerenciar riscos de suas operações e determinar as estratégias
de mitigação mais apropriadas, a falta de informações sobre riscos
climáticos, visão de curto prazo ou incentivos regulatórios desali-
nhados, a ausência ou fragilidade de contratos explícitos ou bem
definidos quanto à responsabilidade de riscos (climáticos, no caso),
podem atuar como barreiras à adaptação com consequências sociais
mais amplas. Assim, governos têm reconhecido o papel das políti-
cas públicas e o alinhamento das suas instituições governamentais
em garantir que investimentos públicos futuros resultem em uma
maior resiliência, evitem aumentos de vulnerabilidades irreversíveis
e não tragam maiores custos sociais. Há, portanto, uma importante
interseção entre a análise distributiva e as estratégias de implemen-
tação sob risco climático.

86
PONTO DE DECISÃO

Caso a(s) alternativa(s) de projeto se mostrem satisfatórias do ponto


de vista socioeconômico e igualmente resilientes a cenários climáticos
futuros, a ACB se finaliza com recomendações. Caso as melhores alter-
nativas não se mostrem resilientes, deve-se retomar o processo inicial
de definição de alternativas de projeto a fim de conceber novas alterna-
tivas que sejam resilientes aos riscos climáticos identificados e retomar
todo o processo de avaliação.

Quadro 5.2: Má adaptação (maladaptation)

Uma forma de má adaptação se dá ao negligenciar o risco: caso um


projeto de risco moderado ou alto não promova a adaptação, sua ex-
ecução pode exacerbar a exposição dos sistemas naturais e humanos
à mudança do clima (ex. promovendo a ocupação ou a atividade
econômica em uma área de risco).

A má adaptação também pode resultar de medidas ostensivas para


reduzir o risco climático de um projeto que, intencionalmente ou não,
geram aumento da vulnerabilidade de outros projetos, sistemas, seto-
res ou grupos sociais. Uma vez que tais resultados adversos impact-
am negativamente o bem-estar social, na medida em que possam ser
identificados, quantificados e valorizados, devem ser incorporados na
avaliação socioeconômica como externalidades negativas. Ademais,
devem ser analisados à luz da análise distributiva (Cap. 10 do Guia
ACB).

87
6
FONTES DE INFORMAÇÕES
E BASES DE DADOS

89
Recursos informacionais no campo da ciência climática ou relacio-
nados aos riscos e impactos, apresentam dados, informações e aná-
lises em diversos formatos, tais como: variáveis climáticas e pro-
jeções de clima (ex. temperatura, precipitação, umidade, velocidade
do vento etc.); análises de variáveis climáticas e projeções de clima
(ex. tendências de temperatura e precipitação etc.); impactos climáti-
cos secundários (ex. mapas de inundação, rendimento de culturas
etc.); ou ainda abordando vulnerabilidades e opções de resposta (ex.
mapas de pobreza, portfólios de medidas de adaptação à mudança
do clima etc.). A aplicabilidade desses recursos, principalmente no
caso de dados primários e secundários, tende a depender de alguma
capacidade técnica, além de muitas vezes requerer procedimentos
específicos para seu uso e obtenção de produtos analíticos.

A Tabela 6.1 apresenta uma classificação instrumental de fontes de


dados climáticos em dois grandes grupos, visando auxiliar na com-
preensão tipológica dos recursos disponíveis.

Tabela 6.1: Tipologias de recursos de fontes e dados climáticos

Recursos Observados / Históricos Projeções

Dados Ex.: projeções de pre-


Ex. banco de dados de séries
hidrometeocean- cipitação geradas por
históricas de chuvas
ográficos modelos de clima
Ex.: projeções de dis-
ponibilidade hídrica
Impactos e vulnerabi- Ex. perdas e danos municipais
futura para abastecimen-
lidades causados por enchentes
to humano e/ou outros
setores
Fonte: Elaboração própria.

De 35 fontes de dados e informações climáticas levantadas, 25 for-


necem dados hidrometeoceanográficos, enquanto 10 disponibilizam
conteúdo abordando vulnerabilidades, riscos e impactos. Em relação
ao recorte temporal, 19 fontes contêm dados de natureza histórica e
observacional, enquanto 15 fornecem produtos de projeções climáti-
cas obtidas por meio de recursos de modelagem. A maior parte das
fontes cobrindo dados hidrometeoceanográficos disponibilizam da-
dos primários de variáveis climáticas e indicadores de eventos ex-
tremos.

A utilização desses dados, em muitos casos, requer capacidades


específicas para a devida manipulação dos grandes conjuntos de

90
variáveis climáticas, contidos em formatos de arquivo que exigem
conhecimento especializado para extração. Por isso, muitas das fon-
tes foram classificadas como requerendo elevada expertise por parte
do analista.

No entanto, quanto mais acessível o formato e visualização dos da-


dos, menor tende a ser a resolução espacial e geográfica das infor-
mações, o que reforça a necessidade de avaliar a pertinência de cada
tipo de recurso em relação ao nível de detalhamento pretendido pela
ACB. Assim, dados primários, de alta resolução espacial e em fre-
quência diária, por exemplo, serão mais adequados no caso de uma
ACB Completa (ou detalhada), que nessa fase deverá contar, então,
com especialistas para a manipulação e análise de dados climáticos,
principalmente se o projeto identificar a necessidade de considerar
múltiplos cenários e modelos de projeção de clima.

91
92
Tabela 6.2: Fontes de Dados e Informações Climáticas (em ordem alfabética, versão simplificada)

Tipo de informação Recorte temporal

Ref. Fonte Autor/Organização Descrição resumida Link de acesso

requerido

ficos

Dados
Histórico
Projeções
Grau de expertise

Vulnerabilidade,
Riscos e Impactos

hidrometeoceanográ
Plataforma de índices e Indicadores de risco de
1 Adaptabrasil MCTI ◉ Baixo https://adaptabrasil.mcti.gov.br/
impactos da mudança do clima no Brasil

Mudanças globais na superfície de água entre


2 Aqua Monitor Deltares ◉ Baixo https://aqua-monitor.appspot.com/
1985 e 2016

Brazilian Daily Dados diários de 6 variáveis em alta resolução https://sites.google.com/site/alexan


3 Weather Gridded Xavier et al. (2022) para todo o território brasileiro entre 1961 - ◉ ◉ Alto drecandidoxavierufes/brazilian-daily-
Data (BR-DWGD) 2020 weather-gridded-data?authuser=1

CGIAR Research Program


Projeções para variáveis climáticas anuais e
CCAFS-Climate data on Climate Change,
4 mensais de precipitação e temperatura de ◉ ◉ Alto http://ccafs-climate.org/
portal Agriculture and Food
2026 a 2100
Security (CCAFS)

Cemaden - Centro
Plataforma de consulta aos dados da rede
CEMADEN - Mapa Nacional de
observacional do Cemaden (pluviômetros, Baixo- http://www2.cemaden.gov.br/mapai
5 Interativo de Monitoramento e ◉ ◉
estações hidrológicas e radares Médio nterativo/#
Desastres Naturais Alertas de Desastres
meteorológicos)
Naturais

Diversos centros Exemplos: EPAGRI/CIRAM


estaduais, tais como (http://ciram.epagri.sc.gov.br),
Centros estaduais de
EPAGRI/CIRAM em Santa Diversas informações, com ênfase nos dados SIMEPAR (http://www.simepar.br),
6 monitoramento ◉ ◉ -
Catarina, SIMEPAR no de monitoramento DAEE-SP
hidrometeorológico
Paraná e DAEE em São (http://www.daee.sp.gov.br/site/hid
Paulo rologia)
Valores globais diários, mensais e anuais de
Swiss Federal Institute
diferentes variáveis climáticas derivadas de
7 Chelsa climate for Forest, Snow and ◉ ◉ ◉ Alto https://chelsa-climate.org
temperatura e precipitação entre 1979 e 2016.
Landscape Research WSL
Projeções de clima para o CMIP5 e CMIP6

Dados de precipitação e temperatura mensais,


Climate Change Baixo a Alto https://climateknowledgeportal.worl
anuais ou sazonais no período entre 1901-
8 Knowledge Portal The World Bank Group ◉ ◉ ◉ (vários dbank.org/country/brazil/climate-
2020. Produtos de projeções climáticas para o
(CCKP) módulos) data-historical
CMIP5 e CMIP6

Climate Hazards
Center InfraRed
Precipitation with Dados globais de precipitação e temperaturas https://www.chc.ucsb.edu/data/chir
9 Climate Hazards Center ◉ ◉ Alto
Station data máximas e mínimas diária ps
(CHIRPS) e
CHIRTSdaily

Copernicus Climate
Diferentes conjuntos de dados históricos e
Change Service https://cds.climate.copernicus.eu/#!
10 União Europeia/ECMWF futuros para múltiplas variáveis e regiões do ◉ ◉ ◉ Alto
(C3S) /home
globo
Climate Data Store

Daily gridded
meteorological Dados diários de 6 variáveis para todo o https://utexas.app.box.com/v/Xavier
11 Xavier et al. (2016) ◉ ◉ Alto
variables in Brazil território brasileiro entre 1980 -2013 -etal-IJOC-DATA
(1980–2013)

Earth System
NOAA Physical Sciences Dados diários, mensais, anuais e sazonais para https://psl.noaa.gov/cgi-
12 Research Laboratory ◉ ◉ ◉ Alto
Laboratory (PSL) produtos de reanálise de diferentes variáveis bin/data/getpage.pl
(ESRL)

Department of Energy
Resultados de diferentes projetos envolvendo https://esgf-
13 ESGF Portal Lawrence Livermore ◉ ◉ Alto
modelos climáticos globais node.llnl.gov/search/esgf-llnl/
National Laboratory

Dados mensais, anuais, normais e tendências


Global Climate University of Seville Baixo- https://www.globalclimatemonitor.o
14 lineares para precipitação, temperatura e ◉ ◉
Monitor Climate Research Group Médio rg/
evapotranspiração potencial desde 1901

93
94
Global Historical National Centers for https://www.ncei.noaa.gov/products
Dados diários e mensais para 100.000 estações
15 Climate Network Environmental ◉ ◉ Médio /land-based-station/global-historical-
meteorológicas em 180 países
(GHCN) Information climatology-network-daily

Escoamento superficial, fluxo de águas


NASA Goddard Earth
Global Land Data subterrâneas, fluxos de calor, de umidade,
Sciences Data and
16 Assimilation System umidade do solo, precipitação, ventos, neve, ◉ Alto https://ldas.gsfc.nasa.gov/gldas
Information Services
(GLDAS) temperatura da superfície da terra e
Center (GES DISC)
evapotranspiração em nível global desde 1948

Dados globais de risco para desastres naturais,


Global Risk Data https://preview.grid.unep.ch/index.p
17 UNEP / UNISDR incluindo secas, inundações, tempestades e ◉ Médio
Platform hp?preview=home&lang=eng
deslizamentos, entre outros.

Produtos de dados climáticos e meteorológicos


18 GloH2O GloH2O.org de alta qualidade, mesmo para locais sem ◉ ◉ Alto http://www.gloh2o.org
estações ou dados observados.

Agência Nacional de Séries históricas diárias de precipitação e vazão https://www.snirh.gov.br/hidroweb/


19 Hidroweb ◉ ◉ Alto
Águas para 4.641 pontos de monitoramento no país apresentacao

Informações meteorológicas para todo o


Instituto Nacional de Ministério da território brasileiro, incluindo produtos como:
20 Meteorologia Agricultura, Pecuária e normais climatológicas; previsão climática; ◉ ◉ Médio https://portal.inmet.gov.br
(INMET) Abastecimento monitoramento; banco de dados
meteorológicos históricos; entre outros.

IPCC Data Produtos dos modelos climáticos globais para


21 IPCC Task Group on Data ◉ ◉ Alto https://ipcc-data.org
Distribution Centre o CMIP3, CMIP5 e CMPI6.

Ferramenta para análises espaciais e temporais


flexíveis de grande parte das informações
Baixo a Alto
IPCC WGI Interactive sobre mudança do clima observadas e
22 IPCC Working Group I ◉ ◉ ◉ ◉ (vários https://interactive-atlas.ipcc.ch
Atlas projetadas que sustentam a contribuição do
módulos)
Working Group I (Grupo de Trabalho I) para o
Sexto Relatório de Avaliação

KNMI Climate World Meteorological Precipitação mensal, temperatura e pressão do https://climexp.knmi.nl/plot_atlas_f


23 ◉ ◉ ◉ Médio-Alto
Explorer Organization ar para regiões, países ou pontos do globo. orm.py
NASA Earth Diferentes conjuntos de dados cobrindo
Exchange Global cenários de mudança do clima para 21 GCMs
NASA Center for Climate https://www.nccs.nasa.gov/services/
24 Daily Downscaled do CMIP6 regionalizados para o período 1950– ◉ ◉ Alto
Simulation climate-data-services
Projections (NEX- 2100, para precipitação e temperaturas
G D D P) máximas e mínimas, entre outras variáveis.

NASA Sea Level Mapa interativo mostrando as mudanças


https://sealevel.nasa.gov/data-
25 Change Data NASA/JPL Earthdata observadas em variáveis-chave para o oceano ◉ ◉ Alto
analysis-tool/
Analysis Tool (DAT) e áreas costeiras.

Mapa interativo que permite ao usuário


NASA Sea Level NASA Observations from consultar as projeções de elevação do nível do https://sealevel.nasa.gov/ipcc-ar6-
26 ◉ ◉ Baixo
Projection Tool Space mar contidas no 6º Relatório de Avaliação do sea-level-projection-tool
IPCC.

Banco de publicações contendo levantamento


Observatório dos CMN - Confederação de dados e informações das anormalidades
27 ◉ Baixo https://desastres.cnm.org.br
desastres naturais Nacional de Municípios provocadas por desastres naturais nos
municípios brasileiros

PERSIANN
(Precipitation Center for
Estimation from Hydrometeorology and Dados estimados de precipitação diárias,
28 Remotely Sensed Remote Sensing (CHRS) mensais e anuais globais para os períodos ◉ ◉ Alto http://chrsdata.eng.uci.edu/
Information using at the University of 2000-Atual; 2003-Atual e 1983-Atual.
Artificial Neural California, Irvine (UCI)
Networks)

Projeções de mudança do clima sobre o


Projeções climáticas
29 INPE território brasileiro a partir de modelagens ◉ ◉ Alto http://pclima.inpe.br/
no Brasil
brasileiras e internacionais.

Ministério do Meio
Projeções de mudança do clima para a América
30 ProjEta Ambiente (MMA); ◉ ◉ Alto https://projeta.cptec.inpe.br/
do Sul regionalizadas pelo modelo Eta
CPTEC/INPE; UPF; GIZ

Relatório de danos Danos e prejuízos materiais com diversas


materiais e prejuízos tipologias e associados a desastres https://relatoriodedesastres.ceped.u
31 CEPED/UFSC ◉ Médio
decorrentes de climatológicos e hidrometeorológicos por fsc.br
desastres naturais município

95
96
no Brasil : 1995 –
2019

S2iD-Sistema
Informações principais sobre os
Integrado de
32 MDR Reconhecimentos Federais de Situação de ◉ Baixo https://s2id.mi.gov.br/
Informações sobre
Emergência e Estado de Calamidade Pública
Desastres

Mapa interativo mostrando áreas ameaçadas


pelo aumento do nível do mar e inundações
Surging Seas - Climate Central -
costeiras. Combinando o modelo global mais https://sealevel.climatecentral.org/
33 Coastal Risk Program on Sea Level ◉ ◉ Baixo
avançado de elevações costeiras com as maps/
Screening Tool Rise
projeções mais recentes para níveis futuros de
inundação.

Visão geral de riscos climáticos por país,


Global Facility for incluindo inundações fluviais e urbanas,
Disaster Reduction and terremoto, deslizamento de terra, incêndio,
34 ThinkHazard ◉ Baixo https://thinkhazard.org/en/
Recovery (GFDRR)/The escassez de água, calor extremo, inundação
World Bank Group costeira, ciclone, tsunami e erupções
vulcânicas.

Médias mensais para diferentes variáveis no


período entre 1970-2000. Dados climáticos
Fick, S.E. and R.J. futuros regionalizados do CMIP6, fornecendo
35 WorldClim ◉ ◉ ◉ Alto https://www.worldclim.org/
Hijmans valores mensais de temperatura mínima,
temperatura máxima e precipitação entre
2021-2100

Fonte: elaboração própria.


REFERÊNCIAS

97
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5422 - Projeto de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica.

AECOM/Australian Government. 2012. Economic framework for


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Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens: Diretrizes Para
Elaboração de Projetos de Barragens. Brasília: ANA. 156 p. Disponível
em [link].

Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ e Cooper-


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