Fabiano Gontijo - Sexualidade e Ruralidade No Brasil
Fabiano Gontijo - Sexualidade e Ruralidade No Brasil
Fabiano Gontijo - Sexualidade e Ruralidade No Brasil
ABSTRACT
Despite the consolidation of both rural studies and gender and sexuality studies in Bra-
zil, we can notice that just a few texts were written about the sexual life and the gender
and sexuality diversity experiences in the rural areas of the country. This article pre-
sents some reflections on the persistent lack of researches in Social Sciences about that
subject.
Landes havia apresentado trinta anos antes, publicados em seu polêmico artigo
“Matriarcado Cultual e Homossexualidade Masculina” (LANDES, 1967). A
pesquisa de Fry foi realizada em locais de “cultos de possessão afro-brasileira”
na cidade de Belém, capital do Pará (FRY, 1982a, p. 54). Nessa pesquisa, Fry
n. 45|2015|p. 145-158
n. 45|2015|p. 145-158
n. 45|2015|p. 145-158
No que diz respeito aos estudos rurais, demos ênfase à análise dos
artigos publicados nos principais periódicos nacionais sobre o assunto (Revistas
de Economia e Sociologia Rural, Estudos Sociedade e Agricultura, IdeAs, Ruris
e Raízes), já que Ferreira (2006) havia dado conta, nos primeiros capítulos de
sua dissertação, dos livros publicados no Brasil sobre a realidade rural ao longo
do século XX.
n. 45|2015|p. 145-158
n. 45|2015|p. 145-158
n. 45|2015|p. 145-158
Assim, por um lado, no que diz respeito aos estudos rurais, parece que
a maior parte dos artigos e textos analisados estão ora voltados para a organiza-
ção social vinculada aos aspectos econômicos da vida no campo, ora voltados
para as questões morais relativas à família e aos arranjos familiares camponeses
– o gênero aparece quase sempre na forma da mulher trabalhadora e/ou mili-
tante ou dos papéis familiares. Por outro lado, no que diz respeito aos estudos
de gênero e sexualidade, quando há articulação com a ruralidade, nota-se um
grande número de artigos e textos que abordam, num primeiro momento, a con-
dição da mulher camponesa (reprodutora e eventualmente produtora), às vezes
vinculada aos movimentos sociais no campo, e/ou, em seguida, as relações de
poder que permeiam as relações de gênero e as transformações dessas relações
no mundo rural contemporâneo. A sexualidade(a) parece relegada à vida urbana:
o “indizível das sociedades camponesas” (FERREIRA, 2006, título).
n. 45|2015|p. 145-158
NOTAS
1
Agradecemos à Profa. May Waddington Telles Ribeiro (DCIES/UFPI) e aos doutoran-
dos Jaqueline Pereira de Sousa (PPGA/UFPA) e Rafael Gaspar (PPGSA/IFCS/UFRJ)
pelas preciosas sugestões de leitura e até mesmo de interpretação. Devemos agradeci-
mentos especiais à Profa. Eli de Fátima Napoleão de Lima, do CPDA/UFRRJ, supervi-
sora do estágio de pós-doutorado que gerou a necessidade da escrita desse artigo, pelas
boas dicas. Enfim, nossos agradecimentos ao CNPq, pela bolsa de produtividade em
pesquisa.
2
Para as referências acerca da genealogia dos estudos sobre (homo) sexualidade no
Brasil, ver o próprio artigo de Fry (1982b), mas também os de Arney, Fernandes e Gre-
en (2003) e ainda, para entender a maneira como a obra de Fry abriu novos espaços para
a instituição do campo dos estudos sobre (homo) sexualidade no Brasil, sobre novas
bases teóricas e metodológicas, ver também Facchini (2003) e Carrara e Simões (2007).
3
Entende-se por estudos rurais o conjunto de textos oriundos de pesquisas realizadas
no contexto das ruralidades ou do mundo rural e que se serve de um aparato teórico-
metodológico das ciências sociais e humanas. Maria José Carneiro fala de ruralidades,
no plural, como representações sociais que orientam “(...) práticas sociais distintas em
universos culturais heterogêneos, num processo de integração plural com a economia e
a sociedade urbano-industrial.” (1998: 12) ou “como um processo dinâmico em cons-
tante reestruturação dos elementos da cultura local, mediante a incorporação de novos
152 valores, hábitos e técnicas” (2008: 35).
4
Na década de 1990, artigos de Ellen e Klaas Woortmann (1993, dentre outros) já aten-
tavam para a sexualidade no mundo rural, embora esse não fosse o foco dos estudos,
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA
n. 45|2015|p. 145-158
16
Consulta feita na biblioteca do CPDA/UFRRJ e no site do periódico. Disponível em:
REVISTA DE ANTROPOLOGIA
n. 45|2015|p. 145-158
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Mauro. Redescobrindo a Família Rural Brasileira. Revista Brasi-
leira de Ciências Sociais.v. 1, n. 1, p. 63-83, 1986.
ARNEY, Lance; FERNANDES, Marise; GREEN, James. Homossexualidade
no Brasil: uma bibliografia anotada. Cadernis AEL. v. 10, n. 18/19, p. 317-
348, 2003
BARDUNI FILHO, Jairo; FIÚZA, Ana Louise de Carvalho; AMORIM,
Erika Oliveira; COSTA, Adriana Maria da Silva. A Transformação das Rela-
ções Afetivas no Meio Rural: breves anotações das relações oficiosas, e ofi-
ciais na perspectiva de gênero. Anais do VIII Congreso Latinoamericano de
Sociología Rural (ALASRU). Porto de Galinhas: 2010, pp. não informadas
Disponível em: < http://www.gerar.ufv.br/publicacoes/A_TRANSFORMA-
CAO_DAS_RELACOES_%20AFETIVAS_NO_MEIO_RURAL_BRE-
VES_ANOTACOES_DAS_RELACOES_OFICIOSAS_E_OF.pdf >. Acesso
em: 4 abr. 2013.
BRUNT, D. Mastering the Struggle: gender, actors and agrarian change in a
mexican ejido. Amsterdam: CEDLA, 1992.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identi-
dade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CAPPELLIN, Paola; CASTRO, Elisa Guaraná. Fazer, Pensar e Decidir: os
papéis das mulheres nos assentamentos rurais. Algumas reflexões a partir de
três estudos de casos. Raízes. v. 15, n. único, p. 113-130, 1998.
CARNEIRO, Maria José. Mulheres no Campo: notas sobre sua participação
política e a condição social do gênero. Revista Estudos Sociedade e Agricul-
tura, n. 2, p. 11-22, 1994.
______. Esposa de Agricultor na França. Estudos Feministas. v. 4, n. 2, p.
154
338-354, 1996.
______. Ruralidade: novas identidades em construção. Estudos Sociedade e
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA
n. 45|2015|p. 145-158
2006.
GUIMARÃES, Carmen Dora. O Homossexual Visto por Entendidos. Rio de
Janeiro: Garamond, 2004 [1977].
n. 45|2015|p. 145-158
n. 45|2015|p. 145-158
n. 45|2015|p. 145-158
158
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA
n. 45|2015|p. 145-158