Fabiano Gontijo - Sexualidade e Ruralidade No Brasil

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SEXUALIDADE E RURALIDADE

NO BRASIL: O QUE OS ESTUDOS


RURAIS E OS ESTUDOS DE GÊNERO E
SEXUALIDADE (NÃO) DIZEM SOBRE
ESSA RELAÇÃO?
SEXUALITY AND RURALITY IN BRAZIL: WHAT
DO THE RURAL STUDIES AND THE GENDER
AND SEXUALITY STUDIES (NOT) SAY ABOUT
THIS RELATIONSHIP?

Fabiano de Souza Gontijo


fgontijo@hotmail.com
Doutor em Antropologia Social pelo Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, França,
professor associado da UFPA.

RESUMO artigos | papers


Apesar da consolidação dos campos de estudos sobre ruralidade, por um lado, e, por
outro, sobre gênero e sexualidade no Brasil, percebe-se que pouco foram tratados, em
ambos os campos, quaisquer aspectos relacionados à experiência sexual e à diversidade
sexual e de gênero nas zonas rurais brasileiras. Trata-se aqui de iniciar uma reflexão so-
bre a persistência da (quase) inexistência de pesquisas nas Ciências Sociais brasileiras
sobre essa temática.

Palavras-chave: Estudos rurais. Estudos de gênero e sexualidade. Diversidade sexual.

ABSTRACT
Despite the consolidation of both rural studies and gender and sexuality studies in Bra-
zil, we can notice that just a few texts were written about the sexual life and the gender
and sexuality diversity experiences in the rural areas of the country. This article pre-
sents some reflections on the persistent lack of researches in Social Sciences about that
subject.

Keywords: Rural studies. Gender and sexuality studies. Sexual diversity.

Em 1974, Peter Fry realiza uma pesquisa de campo etnográfica que


gerou o artigo intitulado “Homossexualidade Masculina e Cultos Afro-Brasilei- 145
ros”, publicado inicialmente em inglês sob a forma de comunicação apresentada
em congresso (FRY, 1982a). A pesquisa partiu dos questionamentos que Ruth
vivência 45 REVISTA DE ANTROPOLOGIA

Landes havia apresentado trinta anos antes, publicados em seu polêmico artigo
“Matriarcado Cultual e Homossexualidade Masculina” (LANDES, 1967). A
pesquisa de Fry foi realizada em locais de “cultos de possessão afro-brasileira”
na cidade de Belém, capital do Pará (FRY, 1982a, p. 54). Nessa pesquisa, Fry

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infere sobre a relação entre homossexualidade e religiosidade, propondo um
esboço do que chamará de sistema de representação hierárquico da sexualidade
masculina, comum em cidades do Norte e Nordeste brasileiros, assim como nas
periferias dos grandes centros urbanos industrializados do Sul e do Sudeste e
eventualmente nas zonas rurais1.

Os escritos de Fry (1982a; 1982b), assim como os de Fry e MacRae


(1982), e as obras de Guimarães (2004 [1977]), Parker (1986), Perlongher
(1987), Mott (1987a; 1987b), Muniz de Oliveira (1992), Heilborn (1996; 2004
[1992]) e Costa (1992), dentre outras, contribuíram decisivamente para a ins-
tituição do campo dos estudos sobre (homo)sexualidade no Brasil. Mas, quase
sempre, (homo)sexualidade masculina e urbana.

Até as publicações dos autores citados acima, os estudos sobre (homo)


sexualidade no Brasil, de maneira geral, poderiam ser agrupados em três áreas:
na primeira, os estudos realizados na área das ciências biomédicas (incluindo-
se aí a psicologia e as áreas correlatas), que visavam a demarcação acadêmica
das áreas científicas no Brasil, tipologizando as práticas – e identidades a elas
atreladas – patológicas; na segunda, os estudos realizados na grande área das
ciências humanas (incluindo-se aí a filosofia), tipologizando as práticas – e iden-
tidades a elas atreladas – normais, com designações de sociabilidades anormais.
Enquanto os primeiros estudos são continuados, os outros são esporádicos,
sem grandes efeitos ou com efeitos efêmeros na consolidação tanto da área das
ciências humanas, como de um campo de saberes autônomo sobre sexualidades.
Enfim, na terceira, os estudos na área de literatura (incluindo-se aí os ensaios
jornalísticos realistas e naturalistas), com um número relativamente extenso de
obras que abordam direta ou indiretamente (nomeadamente ou não) as expe-
riências sexuais, muito diversas e bem particulares, de setores da população
brasileira e a relação dessas experiências com os modos de vida desses setores,
seja como objeto principal da obra ou como elemento tangencial ao objeto
principal, seja como fruto de uma reflexão moral (O Bom Crioulo, de Adolfo
Caminha) ou como relato de vivências mundanas divergentes, estigmatizadas
e periféricas (Capitães de Areia, de Jorge Amado).

Enquanto os estudos médicos encaravam as sexualidades “divergen-


tes” como problemas a serem corrigidos e tratados, as ciências humanas as
viam como curiosidades das camadas populares, geralmente negras, periféricas,
umbandistas e prostituídas. A literatura, por sua vez, as via como “fatos” e
“experiências” a serem relatados, ainda que com subterfúgios ardilosos para a
emissão de juízos morais (de cunho médico e/ou filosófico)2. Pouco – ou pratica-
mente nada – foi versado sobre as experiências (homo)sexuais no universo rural.

Em 2006, uma tese de doutorado e uma dissertação de mestrado em


Antropologia, defendidas respectivamente na Universidade de São Paulo e na
Universidade de Brasília, trataram, com abordagens diferentes, de aspectos
relativos à temática da sexualidade no mundo rural brasileiro, acrescentando,
assim, novidades aos já tão consolidados estudos rurais brasileiros, por um
lado, e, por outro, aos também já tão consolidados estudos sobre gênero e
sexualidade no Brasil.

A tese de Silvana de Souza Nascimento e a dissertação de Paulo


146 Rogers Ferreira partiram da denúncia da (quase total) ausência de pesquisas
sobre sexualidade no âmbito dos estudos rurais3. A tese de Nascimento, intitu-
lada “Faculdades Femininas e Saberes Rurais. Uma Etnografia sobre Gênero e
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA

Sociabilidade no Interior de Goiás”, tratou das relações de gênero no mundo


rural levando-se em consideração a experiência da vivência das sexualidades,
ao passo que a dissertação de Ferreira, intitulada “Os Afectos Mal-Ditos: o

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indizível das sociedades camponesas”, tratou mais especificamente da experi-
ência das sexualidades no interior do Ceará4.

Os trabalhos de Nascimento e Ferreira serviram de inspiração inicial


para nossas indagações sobre a experiência das sexualidade no mundo rural
piauiense5. Aqui, vamos confirmar a leitura crítica que ambos os autores fazem
dos estudos rurais brasileiros, acrescentando-se a insinuação sobre as inúmeras
lacunas e quase total ausência da vivência sexual dos camponeses nos estudos
de gênero e sexualidade6 e esboçaremos um início de discussão sobre os efeitos
dessas críticas, lacunas e ausências nas Ciências Sociais brasileiras7.

A pesquisa que nos levou à produção desse texto se inseriu no âmbito


das atividades relativas à vigência do convênio firmado entre o Programa de
Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia (PPGAArq) da Universidade
Federal do Piauí (UFPI) e o Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O convênio fazia parte do Programa Nacio-
nal de Cooperação Acadêmica – Ação Novas Fronteiras (PROCAD-NF) da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Um
projeto de pesquisa bastante amplo, geral, abarcava os diversos projetos de pes-
quisa individuais dos professores/pesquisadores integrantes do convênio8. Esse
projeto de pesquisa geral tratava dos mais diversos tipos de impactos culturais
locais de diferentes propostas de desenvolvimento econômico em curso então
no Piauí, notadamente aquelas ligadas à sojicultora, à apicultura, à celulose e,
enfim, à produção de biodiesel.

No âmbito do projeto geral, ficamos encarregados de analisar, particu-


larmente, as configurações familiares, as composições conjugais e os arranjos
parentais, por um lado, e, por outro lado, as relações de gênero – e também
as práticas sexuais – que estariam na base dessas configurações, composições
e arranjos, tendo como contexto as situações sociais geradas pelas (novas)
ruralidades contemporâneas9. Tratar-se-ia, assim, de cartografar as estruturas
das famílias rurais piauienses envolvidas, direta ou indiretamente, nos grandes
projetos de desenvolvimento econômico10, sociografar a realidade cotidiana das
famílias e etnografar as relações familiares, conjugais e parentais, tendo como
mote a ideia de que as famílias que vivem no mundo rural estariam passando
por importantes modificações em suas estruturas, o que poderia estar vinculado,
dentre outros fatores, às consequências da efetivação do ideal desenvolvi-
mentista no Piauí – a noção de família rural aqui era pensada tanto a partir da
redefinição proposta por Almeida (1986) como da complexificação apresentada
por Comerford (2003).

Um novo direcionamento foi dado ao projeto inicial a partir de con-


versas com uma estudante da primeira turma do curso de mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do
Piauí, Maria Elza Soares da Silva, que vinha estudando os “parceiros” (termo
usado pelos camponeses em questão) envolvidos no projeto de “assentamento
rural privado” (termo oficial) da Fazenda Santa Clara, na “região do semiárido”
no Centro-Sul piauiense. A estudante encontrou, em sua “etnografia da terra
prometida”11, famílias de “tipos” bastante diversificados, que dificilmente se
encaixavam nos modelos “tradicionais” de famílias rurais descritas pela vasta
literatura existente nas Ciências Humanas brasileiras (e estrangeiras) sobre o 147
assunto12. Apesar de não ser o foco da pesquisa da estudante, ela se deparou,
no convívio com a comunidade estudada, com o caso de uma travesti que exer-
vivência 45
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cia certa influência na gestão política dos conflitos na comunidade. E o mais


interessante era o fato de que, aparentemente, essa travesti não seria alvo de
forte preconceito por parte de homens e mulheres da comunidade, fossem eles,
de um lado, parceiros ou, de outro, empregados da administração da empresa

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gestora do empreendimento de assentamento. Esse fato foi confirmado por outra
estudante da segunda turma do mesmo curso, que também se interessou pela
Fazenda Santa Clara, Joyce Kelly da Silva Oliveira13, tratando mais especifica-
mente da relação, muitas vezes conflituosa, entre parceiros e administradores14.

A partir dessas conversas e da visita à Fazenda Santa Clara, decidimos


dar ênfase, em nossas pesquisas, aos “desvios e divergências” (VELHO, 1985)
relativos às construções identitárias no mundo rural – em particular, no que diz
respeito à diversidade sexual e de gênero – para apreender os significados das
relações sociais mais amplas vigentes nesse contexto contemporâneo de grandes
transformações sociais e culturais – aqui marcadas pela implantação da lógica
do agronegócio no Piauí. A pesquisa voltou-se, assim, para a maneira como os
“padrões hegemônicos de normalidade” (BUTLER, 2003) seriam (ré) inter-
pretados e experimentados (talvez às avessas) em contextos culturais distintos,
criando novos ou outros sujeitos imbuídos de novas ou outras moralidades e
(até mesmo) constituindo novas ou outras legalidades.

Após algumas viagens ao interior do Piauí (regiões Centro-Sul e Norte


do estado) para conversar com sujeitos cujas trajetórias de vida não se encai-
xavam exatamente naquilo que vínhamos lendo, por um lado, sobre aquele
camponês tal qual tratado pelos estudos rurais, e, por outro lado, sobre identi-
dades e transgressões sexuais e de gênero nos estudos de gênero e sexualidade,
decidimos iniciar uma reflexão sobre o porquê (e o como) desses desencaixes
ou lacunas e ausências. Os primeiros resultados dessas reflexões serão expostos
aqui abaixo.

O trabalho de Paulo Rogers Ferreira, premiado pela Associação Nacio-


nal de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) em 2007, foi
publicado no formato de livro em 2008, ao passo que o trabalho de Silvana de
Souza Nascimento vem sendo publicado no formato de artigos em periódicos
(NASCIMENTO, 2012). Como já dissemos acima, em ambos os casos, aponta-
se para o fato de que nos estudos rurais parece haver uma quase total ausência
de pesquisas que tratem especificamente das experiências e/ou práticas sexuais
no mundo rural. A partir dessa constatação, fizemos uma pequena pesquisa
bibliográfica entre o final de 2012 e o início de 2013 para averiguar o fato.

No que diz respeito aos estudos rurais, demos ênfase à análise dos
artigos publicados nos principais periódicos nacionais sobre o assunto (Revistas
de Economia e Sociologia Rural, Estudos Sociedade e Agricultura, IdeAs, Ruris
e Raízes), já que Ferreira (2006) havia dado conta, nos primeiros capítulos de
sua dissertação, dos livros publicados no Brasil sobre a realidade rural ao longo
do século XX.

A Revista de Economia e Sociologia Rural15, mantida pela Sociedade


Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER), é publi-
cada há mais de trinta anos e está, no final de 2012, em seu volume 50, número
4. Tivemos acesso aos números da revista desde 2002 (volume 40, número 3).
No volume 47 de 2009, há um artigo de Reginaldo Sales Magalhães sobre a
“masculinização” da produção de leite que aborda as relações de gênero no
campo. Também foram encontrados dois ou três estudos sobre famílias rurais.

148 A Revista Estudos Sociedade e Agricultura16, do Programa de Pós-


Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
(CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, teve seu primeiro
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA

número publicado em 1993. Entre o primeiro número da revista e o número


1 de 2012, encontramos alguns artigos sobre mulheres camponesas de autoria
de Maria José Carneiro (número 2 de 1994, pp. 11-22 e número 5 de 1995, pp.
45-57, em coautoria com Vanessa Lopes Teixeira) e Ana Louise de Carvalho

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Fiúza (número 9 de 1997, pp. 178-189), ambos da década de 1990. O CPDA/
UFFRJ possui ainda um periódico semestral dos estudantes do Programa,
intitulado IdeAs – Interfaces em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade17,
que começou a funcionar em 2007. Do início das publicações até o volume 6,
número 1, de 2012, encontramos um único artigo sobre relações de gênero em
assentamentos do Movimento dos Sem-Terra em Minas Gerais, de autoria de
Pedro Magrini et al. (volume 4, número 2, 2010).

Por sua vez, a Revista Ruris18, do Centro de Estudos Rurais (CERES)


da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), inicia suas publicações em
2007 e, logo no início, apresenta um artigo de Paulo Rogers Ferreira (volume
2, número 1, 2007) – o primeiro capítulo de sua dissertação, sobre a ausência de
estudos que abordem a sexualidade no mundo rural ou o que tratem do “corpo
do camponês” no que ele chama de “Texto Brasileiro”. Já a Revista Raízes19,
do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade
Federal de Campina Grande (um dos Programas de Pós-Graduação mais antigos
do Brasil voltado particularmente para os estudos rurais), inicia suas publica-
ções na década de 1980, embora só tenhamos acesso, pelo site da revista, aos
números publicados a partir de 1998 (ou seja, do volume 15 em diante). Nesse
periódico, encontramos alguns artigos sobre relações de gênero e/ou mulheres
camponesas (um artigo de Paolo Cappellin e Elisa Guaraná Castro, no volume
15, número único, de 1998; um artigo de Renata Menasche, no volume 17,
número único, de 2000; um artigo de Evander Eloí Krone e Renata Menasche,
no volume 26, números 1 e 2, de 2007; um artigo de Mary Alves Mendes, no
volume 27, número 1, de 2008; e um artigo de Noemi Porro, Dalva Mota e
Heribert Schmitz, no volume 30, número 2, de 2010).

Quanto aos periódicos mais direcionados para a divulgação dos estu-


dos de gênero e sexualidade, foram consultados Perspectivas Antropológicas da
Mulher, Cadernos Pagu, Boletim Sexualidade, Gênero e Sociedade, Revistas
Bagoas Sexualidad, Salud y Sociedad e Estudos Feministas. Aqui, procuramos
os artigos ou dossiês que tratassem da sexualidade do camponês e/ou as expe-
riências e práticas sexuais no mundo rural. Nada foi encontrado no primeiro
periódico, pioneiro do gênero no Brasil20.

A Revista Estudos Feministas21, abrigada pela Universidade Federal


de Santa Catarina (UFSC), iniciou suas publicações em 1992 com o volume 0,
número 0. Na última edição da revista – volume 20, número 3, de 2012 – encon-
tramos um artigo sobre pescadoras (de autoria de Maria Cristina Maneschy et
al.) e um artigo sobre mulheres empregadas de abatedouros aviários (de autoria
de Laila Graf e Maria Coutinho) – ou seja, mulheres enquanto trabalhadoras.
No volume 4, número 2, de 1996, há um artigo de Maria José Carneiro sobre
“esposa de agricultor na França”. No volume 5, número 2, de 1997, há um inte-
ressante artigo da coluna “Ponto de Vista”, intitulado “Sem Terra Sem Roupa!”,
de Céli Regina Jardim Pinto, sobre a polêmica publicação das fotos sensuais
da militante do Movimento dos Sem-Terra, Débora Rodrigues, numa revista
masculina – o curioso é que a nudez da militante impressionou pelo fato de
que ela era militante, não porque era mulher – nudez parece não combinar com
militância. No volume 11, número 1, de 2003, há um importante dossiê sobre
“publicações feministas no Brasil”, mas praticamente nada sobre sexualidade, e,
em particular, nada sobre sexualidade no mundo rural. Já o volume 12, número 149
1, de 2004, traz um dossiê sobre mulheres camponesas do sul do Brasil que,
em seus nove artigos, apresenta a mulher trabalhadora ou a mulher em sua vida
vivência 45

familiar, porém, nunca a mulher sexualizada ou mesmo homossexual.


REVISTA DE ANTROPOLOGIA

O volume 14, número 1, de 2006, apresenta um dossiê organizado por


Laura Moutinho, Simone Monteiro, Osmundo Pinho e Sérgio Carrara abor-
dando a sexualidade em suas articulações com gênero, raça e saúde, embora não

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haja artigos sobre a sexualidade no mundo rural. No volume 14, número 2, de
2006, um dossiê organizado por Anna Paula Uziel, Miriam Grossi e Luiz Mello
trata da família e da homossexualidade, também com uma lacuna referente ao
mundo rural. No volume 15, número 2, de 2007, é publicado um dossiê sobre
“mulheres em áreas rurais nas regiões Norte e Nordeste do Brasil”, organizado
por Rosineide de L. M. Cordeiro e Russel Parry Scott, mas, aqui também, nada
aparece sobre a sexualidade dessas mulheres. Enfim, no volume 18, número
3, de 2010, a revista apresenta um dossiê (organizado por Carmen Susana
Tornquist et al.) sobre mulheres e meio ambiente, aproximando-se dos estudos
rurais, sem artigos sobre a sexualidade no campo.

Cadernos Pagu22 é o periódico interdisciplinar do Núcleo de Estu-


dos de Gênero Pagu da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que
começa a ser publicado em 1993. Até o número 39, de 2012, encontramos o
artigo de Margo L. Matwychuck, no número 8/9, de 1997, sobre estratégias de
casamento em um grupo de mulheres de famílias de usineiros paraibanos, e um
artigo de Silvana de Souza Nascimento sobre homossociabilidades no mundo
rural goiano (capítulo de sua tese de doutorado), na última edição (número 39,
de 2012).

O Boletim Sexualidade, Gênero e Sociedade do Instituto de Medicina


Social (IMS) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), atualmente
sob a responsabilidade do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos
Humanos (CLAM), publicado desde 1994, não apresentou nenhum artigo sobre
a sexualidade no mundo rural, assim como outros periódicos do CLAM e/ou
do IMS, como Physis – Revista de Saúde Coletiva23, publicado desde 1991, e
Sexualidad, Salud y Sociedad24, publicado desde 2009.

Enfim, Bagoas25, uma revista acadêmica brasileira dedicada exclusi-


vamente aos “estudos gays, gêneros e sexualidades” (subtítulo do periódico),
vinculada ao Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), surge em 2007 e está
atualmente em seu oitavo número no final de 2012. Encontramos um artigo de
nossa autoria na última edição (GONTIJO & COSTA, 2012), tratando de alguns
aspectos da diversidade sexual e de gênero no mundo rural piauiense e uma
resenha do já citado livro de Paulo Rogers Ferreira, “Os Afectos Mal-Ditos”,
de autoria de Daniel Gonçalves de Menezes, então doutorando em Ciências
Sociais na UFRN, no número 5, de 2010.

Ao privilegiar aqui os estudos rurais e os estudos de gênero e sexu-


alidade no âmbito das Ciências Sociais brasileiras, temos consciência de que
alguns periódicos publicados em particular por Programas de Pós-Graduação
em Ciências Sociais ou Sociologia e/ou Antropologia poderiam conter artigos
sobre as temáticas que nos interessam e teriam sido deixados de lado em nossa
análise. Poderíamos ainda ter analisado as comunicações/papers apresentados
nos principais eventos científicos que tratam de temáticas brasileiras, como
o Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), o Congresso da
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER),
a Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (RBA), o Congresso da
Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), o Congresso da Associa-
ção Latino-Americana de Sociologia Rural (ALASRU), o Encontro Fazendo
150 Gênero, o Encontro de Ciências Sociais do Norte/Nordeste, a Reunião Equato-
rial de Antropologia (REA), a Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM), o
Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA

e Sociedade (Anppas) e a Reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação


e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), dentre outros. Enfim, poderíamos
ter analisado as dissertações e teses apresentadas aos Programas de Pós-Gra-
duação em Ciências Sociais, Sociologia e/ou Antropologia na última década

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e até mesmo os anais de seminários e congressos em que são apresentados os
trabalhos de pesquisa de iniciação científica. Deixaremos essa tarefa para outros
pesquisadores ou para nossas pesquisas futuras, já que não pretendemos, nesse
artigo, ser exaustivos.

Tivemos a curiosidade ainda de analisar, em seguida, alguns com-


pêndios de “estado da arte” e histórias das Ciências Sociais brasileiras, do
pensamento social no Brasil e dos estudos de gênero e sexualidade no País e,
aqui também, confirmou-se a ausência de referência à sexualidade no mundo
rural: foi assim em Miceli (1999a, 1999b, 1999c, 2002), Ianni (2004), Grossi
e Schwade (2006), Trindade (2007), Duarte e Martins (2010) e Martins e Mar-
tins (2010). Ressaltemos ainda que os excelentes capítulos de autoria de Maria
Luiza Heilborn e Bila Sorj, por um lado e, por outro, Maria Filomena Gre-
gori, em Miceli (1999b) e o capítulo de autoria de Miriam Grossi em Duarte
e Martins (2010), assim como o esclarecedor artigo de Sérgio Carrara e Júlio
Simões (2007), nada trazem sobre a sexualidade no mundo rural, embora entre
as linhas apontem a necessidade de se pesquisar aquilo que aparentemente não
vem sendo pesquisado.

Assim, por um lado, no que diz respeito aos estudos rurais, parece que
a maior parte dos artigos e textos analisados estão ora voltados para a organiza-
ção social vinculada aos aspectos econômicos da vida no campo, ora voltados
para as questões morais relativas à família e aos arranjos familiares camponeses
– o gênero aparece quase sempre na forma da mulher trabalhadora e/ou mili-
tante ou dos papéis familiares. Por outro lado, no que diz respeito aos estudos
de gênero e sexualidade, quando há articulação com a ruralidade, nota-se um
grande número de artigos e textos que abordam, num primeiro momento, a con-
dição da mulher camponesa (reprodutora e eventualmente produtora), às vezes
vinculada aos movimentos sociais no campo, e/ou, em seguida, as relações de
poder que permeiam as relações de gênero e as transformações dessas relações
no mundo rural contemporâneo. A sexualidade(a) parece relegada à vida urbana:
o “indizível das sociedades camponesas” (FERREIRA, 2006, título).

Nos estudos rurais, a invisibilização do outro no que diz respeito às


práticas sexuais e às construções identitárias ligadas a essas práticas parece
concernir também à criança e até mesmo, em menor grau, ao negro, o que é
confirmado, não somente pelos trabalhos de Ferreira (2006, 2008) e Nascimento
(2006, 2012), como apontamos acima, mas também pelos textos de Maria Isabel
Ferraz Pereira Leite (1996) e, mais recentemente, de Jairo Barduni Filho, Ana
Louise de Carvalho Fiúza, Erika Oliveira Amorim e Adriana Maria da Silva
Costa (FILHO et al., 2010).

A sexualidade e, mais particularmente, a diversidade sexual e de


gênero e as práticas sexuais que podem se tornar marcadores sociais da dife-
rença nas pesquisas sobre o mundo rural não teriam se transformado em objetos
de estudo per se por diversas razões, não necessariamente por uma suposta
incapacidade dos pesquisadores em perceber sua importância para a compre-
ensão das relações sociais marcadas pelas ruralidades. Talvez a principal dessas
razões seja a própria agenda de pesquisas, tanto nos estudos rurais, como nos
estudos de gênero e sexualidade, pautada por outros interesses de pesquisa
ligados a certas tradições intelectuais (muitas vezes, a montagem da agenda se
faz de acordo com demandas oriundas dos mais diversos pontos do campo de 151
força em jogo nas Ciências Sociais) – no caso dos estudos rurais, em algumas
tradições intelectuais que buscam entender as sociedades camponesas como
vivência 45
REVISTA DE ANTROPOLOGIA

sistemas sociais específicos, a economia e a política se tornam dimensões mais


privilegiadas do que a sexualidade, entendida, esta última, como secundária
(pensamos aqui, como exemplo, numa certa tradição já clássica desenvolvida,
por um lado, por Eric Wolf e Sydney Mintz, e, por outro, por Henri Mendras).

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Embora historicamente as Ciências Humanas e, em particular, as
Ciências Sociais, venham deixando de lado esses aspectos da vida social no
campo problematizados aqui, percebe-se que, também historicamente, outros
campos de produção de saberes e conhecimentos, como a literatura brasileira
já consagrada ou as artes plásticas já celebradas, estão repletos de referências
(muitas vezes explícitas) à sexualidade do camponês ou do homem que vive
no campo. Para citar somente um caso emblemático da literatura brasileira,
pensemos na relação dos personagens Diadorim e Riobaldo, de Grande Sertão:
Veredas, de 1956, de autoria de Guimarães Rosa26. E, nas artes plásticas, não
passa despercebida a sensualidade e a sexualidade de alguns personagens rurais
de Cândido Portinari ou até mesmo de Djanira27.

No entanto, é sabido que as Ciências Humanas se construíram,


enquanto ciências, como legítimas provedoras de “verdades” sobre o mundo,
por oposição à literatura, esta relegada ao campo da “ficção” e, eventualmente,
da produção de informação despreocupada com as “verdades”, como já era
apontado pela crítica pós-moderna (CLIFFORD, 1998; CLIFFORD E MAR-
CUS, 2010). Coube às ciências, assim, a instituição do que seria bon à penser;
e, à literatura e às artes plásticas, o resto, a saber a sexualidade no mundo rural,
dentre outros temas.

Enquanto isso, os sujeitos que encontramos nos “interiores” do Piauí


nos apresentavam suas trajetórias de vida nada conformes àquelas que encon-
tramos nos livros de histórias sobre eles, sobre seus territórios, sua economia,
sua organização social e suas relações de parentesco, sua mobilização política,
sua moralidade, sua religiosidade, seus ritos e mitos... em que nunca são leva-
dos em conta seus corpos desejantes e desejados ou seus “afectos mal-ditos”
(FERREIRA, 2006).

NOTAS
1
Agradecemos à Profa. May Waddington Telles Ribeiro (DCIES/UFPI) e aos doutoran-
dos Jaqueline Pereira de Sousa (PPGA/UFPA) e Rafael Gaspar (PPGSA/IFCS/UFRJ)
pelas preciosas sugestões de leitura e até mesmo de interpretação. Devemos agradeci-
mentos especiais à Profa. Eli de Fátima Napoleão de Lima, do CPDA/UFRRJ, supervi-
sora do estágio de pós-doutorado que gerou a necessidade da escrita desse artigo, pelas
boas dicas. Enfim, nossos agradecimentos ao CNPq, pela bolsa de produtividade em
pesquisa.
2
Para as referências acerca da genealogia dos estudos sobre (homo) sexualidade no
Brasil, ver o próprio artigo de Fry (1982b), mas também os de Arney, Fernandes e Gre-
en (2003) e ainda, para entender a maneira como a obra de Fry abriu novos espaços para
a instituição do campo dos estudos sobre (homo) sexualidade no Brasil, sobre novas
bases teóricas e metodológicas, ver também Facchini (2003) e Carrara e Simões (2007).
3
Entende-se por estudos rurais o conjunto de textos oriundos de pesquisas realizadas
no contexto das ruralidades ou do mundo rural e que se serve de um aparato teórico-
metodológico das ciências sociais e humanas. Maria José Carneiro fala de ruralidades,
no plural, como representações sociais que orientam “(...) práticas sociais distintas em
universos culturais heterogêneos, num processo de integração plural com a economia e
a sociedade urbano-industrial.” (1998: 12) ou “como um processo dinâmico em cons-
tante reestruturação dos elementos da cultura local, mediante a incorporação de novos
152 valores, hábitos e técnicas” (2008: 35).
4
Na década de 1990, artigos de Ellen e Klaas Woortmann (1993, dentre outros) já aten-
tavam para a sexualidade no mundo rural, embora esse não fosse o foco dos estudos,
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como apontado pelo próprio Ferreira (2006).


5
A excelente dissertação de mestrado de Luanna Mirella, intitulada “Localidade ou
Metrópole? Demonstrando a capacidade de atuação política das travestis no mundo-co-
munidade”, defendida em 2010 junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia

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Social da Universidade de Brasília, sob a orientação de Rita Laura Segato, apresenta
com seriedade e rigor a trajetória biográfica de Kátia Tapety, travesti que exerceu cargos
políticos em um pequeno município rural paiuiense, mas não se trata especificamente
de uma pesquisa sobre a sexualidade de travestis no mundo rural brasileiro.
6
Entende-se por estudos de gênero e sexualidade o conjunto de textos oriundos de
pesquisas realizadas em contextos sociológicos e antropológicos diversos, retratando
a construção social e a formulação cultural não somente das relações e estruturas de
gênero (ROSALDO et alii, 1979; SCOTT, 1995; BUTLER, 2003), mas também das
diferenças sexuais (VANCE, 1995; HEILBORN, 1999; CARRARA E SIMÕES, 2007);
estudar a diversidade sexual e de gênero aparece como uma maneira de interpelar a
“analítica da normalização” (MISKOLCI, 2009), ou seja, a forma como as fronteiras
da diferença são constituídas ou a maneira como se dá a construção de um(uns) pa-
drão(ões) – “heterossexualidade compulsória” ou “padrão heteronormativo” (RICH,
1983; BUTLER, 2003) – que regula(m) a vida dos sujeitos em sua práticas cotidianas
(JAGOSE, 1996).
7
Antes de prosseguir, cabe um esclarecimento sobre o uso que fazemos aqui da cate-
goria camponês. Sem entrar no acalorado debate sobre definições, entendemos o cam-
ponês como o sujeito “múltiplo” que vive nas zonas rurais (ainda que, muitas vezes, a
zona rural não seja definida pelos próprios sujeitos que ali e/ou dela vive/m, mas por
instâncias administrativas e governamentais ou até mesmo não-governamentais). Esse
sujeito é “múltiplo”, pois sua construção identitária não pode mais ser reduzida a uma
ou duas de suas atividades, geralmente entendida/s como econômica/s. A partir de Ke-
arney (1996) – e também Brunt (1992) –, falaremos de camponês (e não de “polybian”)
como um sujeito vinculado a múltiplos processos sociais, estratégias econômicas, dinâ-
micas de poder e, enfim, lógicas de diferenciação cultural que marcam sua presença no
mundo – é assim que os sujeitos que encontramos no interior do Piauí se mostravam.
8
O projeto se intitulava “Dinâmicas Sociais e Ruralidades Contemporâneas: Análise
dos Impactos Culturais Locais de Diferentes Propostas de Desenvolvimento Econômi-
co no Piauí (Apicultura, Soja, Biodiesel e Celulose)”.
9
O projeto se intitulava “Campos de Desejos: Família, Gênero e Sexualidade no Mundo
Rural Piauiense” e contou, de 2010 a 2012, com recursos do Edital Universal – 2010
e de uma Bolsa de Produtividade em Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico (CNPq) e com uma bolsa de Iniciação Científica do
mesmo órgão de fomento para a aluna Francisca Célia da Silva Costa. A pesquisa se
inseriu nas atividades do grupo de pesquisa Sexualidades, Corpo e Gênero (SEXGEN),
liderado por nós. Ao CNPq, nossos agradecimentos pelos recursos que viabilizaram a
realização da pesquisa.
10
Os grandes projetos de desenvolvimento econômico então em voga no Piauí envol-
viam o agronegócio da soja e da celulose, a indústria do biocombustível (mamoma) e
a apicultura.
11
A dissertação de mestrado da estudante teve por título “Etnografia da Terra Prometida:
trajetórias sociais, conflitos e cotidiano dos/as camponeses/as parceiros/as da Brasil
EcoDiesel – O caso da Fazenda Santa Clara, no Piauí” e foi defendida em março de
2011.
12
Para uma síntese dessa literatura, veja Woortman (1995).
13
A dissertação de mestrado da estudante teve por título “Fazenda Santa Clara: encon-
tros e desencontros entre camponeses/parceiros e a Brasil Ecodiesel em um assenta-
mento rural privado no sul do Piauí” e foi defendida em agosto de 2012.
14
Um artigo tratando de alguns aspectos da diversidade sexual e de gênero na Fazenda
Santa Clara foi publicado na Revista Bagoas, v. 6, n. 8, jul./dez. 2012, pp.171-186,
sob o título “Ser Traveco é Melhor que Mulher: considerações preliminares acerca
das discursividades do desenvolvimentismo e da heteronormatividade no mundo rural
piauiense”, de nossa autoria com a coautoria de Francisca Célia da Silva Costa.
15
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issues&pi-
153
d=0103-2003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: mar. 2013.
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16
Consulta feita na biblioteca do CPDA/UFRRJ e no site do periódico. Disponível em:
REVISTA DE ANTROPOLOGIA

<http://r1.ufrrj.br/esa/>. Acesso em: nov. 2013.


17
Consulta feita na biblioteca do CPDA/UFRRJ e no site do periódico. disponívem em:
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18
Disponível em: <http://www.ifch.unicamp.br/ceres/?p=ruris-edicoes>. Acesso em:
dez. 2012.
19
Disponível em: <http://www.ufcg.edu.br/~raizes/index.php>. Acesso em: jan. 2013.
20
A consulta foi feita em nosso acervo pessoal, contendo todos os números.
21
Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/ref>. Acesso em: fev.
2013.
22
Disponível em: <http://www.pagu.unicamp.br/node/>. Acesso em: jan. 2012.
23
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issues&pi-
d=0103-7331&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: mar. 2013.
24
Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/SexualidadSaludySo-
ciedad>. Acesso em: jan. 2013.
25
Disponível em: <http://www.cchla.ufrn.br/bagoas/>. Acesso em: mar. 2013.
26
Nas Ciências Humanas e Sociais brasileiras em sua formação, encontramos referên-
cias à experiência sexual dos sujeitos que vivem no interior do Brasil na obra majestosa
de Gilberto Freyre, por exemplo, e até mesmo nas obras de Caio Prado Júnior, de Sér-
gio Buarque de Holanda, de Paulo Prado ou de Antônio Cândido, obras muitas vezes
consideradas ensaísticas.
27
Somos imensamente gratos à Profa. Eli de Fátima Napoleão de Lima, do CPDA/
UFRRJ, por ter-nos levado a essa reflexão, por outras vias.

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