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Variação e Preconceito

Luiz Carlos Cagliari

Resumo
Neste artigo, a variação lingüística é discutida em relação ao Português. Do ponto de vista da
Lingüística Histórica, o problema da variação é uma força subjacente que induz as línguas a mudarem no
decorrer do tempo. Como resultado desta mudança, não apenas a estrutura adquire uma nova dimensão,
mas também valores do uso podem ser readaptados a uma nova situação.
O fenômeno da variação é uma desculpa para introduzir preconceito lingüístico na sociedade. Este
fato pode ser modificado apenas através de um programa de educação apropriado, no qual os alunos
entendam a língua como um sistema de regras, com a ajuda de uma abordagem descritiva a todas as
variedades da linguagem, ao invés de um programa normativo de gramática.
Palavras chaves: variação lingüística , mudança histórica, linguagem e educação.

Abstract
In this article, the linguistic variation is discussed with particular reference to Portuguese. From the
point of the view of the Historical Linguistics, the problem of variation is an underlying force that induces
languages to change in time. As a result of this changing, not only the structure acquires a new dimension,
but also values of use can be re-adapted to a new situation.
The phenomenon of variation is an excuse for introducing linguistic prejudice in society. This fact
can be modified only through proper education program, in which the students see the language as a system
of rules, with the help of a descriptive approach to all varieties of the language, instead of a normative
grammar program.
Key words: linguistic variation, historical change, language and education.

INTRODUÇÃO cionassem de maneira minimamente adequada


em uma sociedade. A ortografia recupera o cará-
Desde as primeiras manifestações de escri- ter ideográfico da escrita, neutralizando a varia-
ta, ficou claro à consciência dos observadores ção lingüística atrelada aos elementos sonoros
atentos, que a linguagem humana apresenta for- da linguagem, no caso do sistema alfabético. Essa
mas e estruturas variantes, mesmo dentro de uma neutralização permite que os falantes de dife-
pequena comunidade de falantes. Por esta ra- rentes dialetos possam ler e escrever sem se pre-
zão, a opção pelos sistemas ideográficos sempre ocupar com a própria pronúncia nem com a dos
foi uma escolha muito consciente, com excelen- outros. Ninguém precisa ler um livro escrito em
tes resultados para a comunicação e para o de- Portugal com o sotaque lusitano...
senvolvimento de tecnologias. Até hoje, uma ci- Esta consciência da variação também foi
ência como a matemática não abriu mão do uso sentida de maneira mais ampla quando surgi-
de um sistema ideográfico. Por outro lado, com ram as primeiras gramáticas. Neste caso, as vari-
o aparecimento dos sistemas fonográficos, como, ações passaram a ser tratadas de duas maneiras:
por exemplo, o alfabético, foi necessário estabe- 1) variantes estruturais, ou seja, maneiras dife-
lecer uma ortografia para que esses sistemas fun- rentes de usar estruturas lingüísticas, gerando o

Luiz Carlos Cagliari é Professor Titular de Fonética e Fonologia da Universidade Estadual de Campinas; Pesquisador do CNPQ.
Texto de conferência no III Congresso Internacional de Língua e Literatura do Mercosul, 4,5,e 6 de novembro de 1999 – Ulbra, Canoas, RS.

Canoas n. 2 1º semestre de 2000 p. 15-22


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que se costuma dizer ser a ‘regra geral’ e o restan- outro falante nativo dela. As variações da fala dos
te, ‘as exceções’; 2) variantes sociais, isto é, mo- pais são apenas transitórias e morrem com eles,
dos de falar típicos de diferentes classes sociais e raramente, deixando alguns vestígios durante
de lugares diferentes. Tais variantes dividiam os certo tempo. Quando, porém, a língua imposta
falantes em dois grupos: a) a fala das pessoas segue um processo de adaptação diacrônica base-
ricas e poderosas, que passaram a ditar uma moda ado nas necessidades lingüísticas dos usuários, a
lingüística, e b) a fala das pessoas de nível sócio- interferência de uma língua em outra é enorme,
econômico e cultural baixo, que passaram a ter bem como as idiossincrasias que levam os falan-
um comportamento lingüístico considerado tes de maior prestígio na sociedade a diferenciar
imperfeito ou errado, uma vez que seu modo de o próprio modo de falar, para não ser confundido
falar denunciava a origem e o status social dos com a fala dos ‘invasores’, ‘conquistadores’ ou
falantes. As gramáticas colocaram este último apenas do fato inevitável de vida em que se en-
caso em um capítulo especial chamado de ‘víci- contram. Neste caso, as variantes tornam-se rapi-
os de linguagem’, quando, por algum descuido, damente mudanças, espalham-se e difundem-se
tais fatos eram encontrados em autores conside- na comunidade e passam para novas gerações
rados bons escritores. como um novo modelo. Como o exemplo vem
Vista por outro ângulo, a linguagem hu- das camadas bem sucedidas da sociedade, tais
mana é, sem dúvida, o fato mais notável do pro- inovações são vistas como formas de prestígio e
cesso de evolução da espécie humana, biologi- acabam gerando uma nova língua.
camente falando. Para chegar lá, foi preciso um Na Península Ibérica, o Latim substituiu as
longo caminho de evolução, cujo processo pas- línguas locais, as quais deixaram de existir, por
sou a ser parte ativa e constante do próprio uso causa do poder e do prestígio dos romanos. Curi-
da linguagem. As necessidades dos usuários fi- osamente, a mesma península foi invadida pelos
zeram com que os elementos e as estruturas lin- árabes, porém não foi implantada a língua árabe.
güísticas fossem se modificando, adaptando-se O Latim que existia na época resistiu e acabou
às contingências da vida social, biológica e lin- gerando, entre outras, a Língua Espanhola e, de-
güística das comunidades de falantes. A idéia pois, o Português, com pouca influência árabe.
de uma ‘babel’ ilustra bem o que se quer dizer. Um outro fato notável aconteceu com a
Algumas variações passam para gerações Renascença. Os renascentistas copiaram os mo-
seguintes como mudanças do sistema anterior delos literários do Latim e do Grego Clássicos,
num processo incessante. O que era apenas dia- pensando em recuperar uma cultura antiga inve-
letos diferentes, com o tempo, passa a constituir jável, produziram obras de arte de grande valor
línguas diferentes, quando se comparam esses literário, não em Latim ou em Grego, mas nas lín-
sistemas lingüísticos entre si. Por isso dizemos guas vernáculas. Com isso, tais línguas passaram
que do Latim vieram as línguas românicas e que a ter um prestígio literário enorme e estabelece-
Português não é mais Espanhol, nem Galego, ram um padrão de norma culta à altura das obras
nem Francês, Italiano, etc. Porém, pelas mesmas literárias clássicas da antigüidade. Uma conseqü-
razões estruturais, dizemos que, no Brasil, há ência disso foi a morte declarada do Latim e do
muitos modos diferentes (variantes) de falar que, Grego como línguas de uso diário. Os renascen-
no entanto, constituem apenas dialetos da Lín- tistas, insatisfeitos com as línguas vernáculas, que-
gua Portuguesa e não línguas diferentes. rendo reaver os antigos modelos clássicos, acaba-
Um dos fatores mais típicos e atuantes que ram com o que pensavam que estavam salvando.
transformam variantes lingüísticas em mudanças O surgimento, pois, das mudanças lingüís-
é o contato com línguas estrangeiras, quando o ticas está condicionado ao aparecimento de va-
falante nativo de uma língua é obrigado a deixar riações lingüísticas (dialetos, jargões, sotaques,
de lado a sua para se tornar falante de uma outra etc.) e estas fazem parte do esforço do homem
língua. Essa é a situação em que se encontram, em para adaptar a linguagem às suas necessidades
geral, os emigrantes ou os povos dominados, obri- como falante, ouvinte, enfim, como usuário de
gados a adotar a cultura dos estrangeiros. Nessas uma língua. Nesse sentido, a linguagem segue
ocasiões, se houver uma política lingüística de um caminho evolutivo semelhante ao das muta-
forte imposição, as novas gerações abandonarão a ções das espécies em biologia. Embora não se
língua e os sotaques dos pais e passarão a ser fa- possa dizer que a mudança depende da vontade
lantes nativos da nova língua, como qualquer do indivíduo, a vontade de muitos indivíduos,

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certamente, é um fator primordial para que sim- portamentos lingüísticos semelhantes. Surge,
ples variantes tornem-se fatos estabelecidos no então, o que se pode definir como um ‘sotaque’.
sistema. Apesar de ter estado em moda durante Existe uma expectativa natural de que fa-
um certo tempo das pesquisas lingüísticas, a cha- lantes que passam a usar uma língua estrangei-
mada ‘lei do menor esforço’ é uma razão muito ra apresentem algum tipo de sotaque, o qual,
secundária. A adaptação lingüística almejada como foi dito antes, se fundamenta no substra-
pelo usuário nem sempre encontra no menor to lingüístico dos falantes e, por esta razão,
esforço o motivo para aceitar uma forma e não mostra traços comuns às línguas que formam
outra. O fenômeno de assimilação tão comum, esse substrato, de tal forma que não é difícil
em geral, tem outras razões para ser, que não uma predizer qual é a língua de origem dos falantes,
pronúncia frouxa, relaxada, ou seja, uma razão pela simples observação dos traços que definem
baseada na lei do menor esforço. Para ilustrar um determinado sotaque. Muitas vezes, os ele-
isto, basta dizer que toda assimilação precisa ter mentos prosódicos, como o ritmo e a entona-
um contexto estrutural favorável e isto já é um ção, são muito evidentes, bem como a presença
forte argumento que dispensa a preguiça do fa- muito constante de certas qualidade vocálicas
lante. Há, ainda, uma falta de estudos específi- ou consonantais. Por exemplo, é fácil distinguir
cos e completos a respeito da percepção dos sons um falante nativo de Português, de um que usa
da fala, para mostrar até que ponto as distorções um sotaque francês ou americano. Este usará a
de produção afetam o entendimento do que foi retroflexão como um dos traços distintivos do
dito e o reconhecimento das estruturas lingüís- seu sotaque, e, aquele, vogais anteriores arre-
ticas. Por razões extra-lingüísticas, uma pessoa dondadas. por outro lado, sempre causa admi-
pode falar omitindo ou acrescentando sons. De- ração e, até uma certa estranheza, ver um es-
pendendo do interlocutor tais irregularidades trangeiro falando sem sotaque. Certamente, es-
podem gerar uma compreensão errada do que tas observações são muito importantes para
foi dito ou serem consideradas irrelevantes, não quem ensina línguas estrangeiras ou lida com
causando, portanto, nenhum dano à comunica- questões de bilingüismo. A perfeição do siste-
ção. Por outro lado, uma irregularidade desse ma é algo que se adquire como falante nativo,
tipo pode gerar uma forma nova, tida como cor- não sendo um ideal para o falante estrangeiro.
reta pelo interlocutor que, eventualmente, irá Os limites dessa medida, todavia, são uma ques-
tentar usá-la e passá-la adiante, gerando uma si- tão que tem de ser estabelecida em função de
tuação nova, caso não seja corrigido de seu en- uma pesquisa específica que leve em conta as
gano. Equívocos de falantes, entretanto, costu- expectativas da sociedade.
mam ser barrados pelos demais usuários, inter- Como os falantes nativos adquirem a lin-
rompendo um processo de mudança descontro- guagem através de um uso natural, em um ambi-
lada da língua. ente natural e sem os pesadelos dos aprendizes
A influência de um substrato lingüístico – de línguas estrangeiras, juntamente com as for-
um sistema nativo interferindo em um sistema mas e estruturas lingüísticas, vêm os contextos
adquirido posteriormente – é um fator muito de uso e os valores socioculturais que estão atre-
mais importante. A linguagem até certo ponto lados aos elementos de linguagem e, de modo
realiza-se como um processo que foi automatiza- particular, à vida de uma determinada língua,
do, ou por ser inato ou quando se adquire a lin- num tempo e lugar. Conhecer a cultura de um
guagem e o uso de uma língua pela primeira povo é um fator importante quando se aprende
vez. Ao falar uma língua estrangeira, os substra- uma língua nova, mas não é tudo. Existe um uso
tos da própria língua agem inconsciente e auto- específico da linguagem que não está claro e evi-
maticamente e, se o falante não ativar um pro- dente na suas forma estrutural, na regras da gra-
cesso de auto-avaliação constante, acaba-se acos- mática. Ignorar tal fato pode levar as pessoas a
tumando com elementos e estruturas lingüísti- cometer gafes lingüísticas ou a serem mal-inter-
cas que, na verdade, não deveriam estar nem em pretadas, com todo o tipo de conseqüência que
sua língua de origem, nem na nova língua que isto pode causar. Na prática, equívocos provoca-
passou a usar. Dada a natureza do fenômeno, é dos por esse tipo de uso da linguagem são seme-
fácil constatar que há tendências gerais que fa- lhantes aos equívocos provocados por falsos cog-
zem com que muitos indivíduos que se acham natos ( por exemplo, bicha em Portugal significa
na mesma situação acabem manifestando com- ‘fila’, mas, no Brasil, significa outra coisa; em Ita-

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liano salire significa ‘subir ’ e não ‘sair ’...). Uma pode ser histórica, como o uso de formas arcaicas
pessoa pode ouvir em muitos filmes americanos da língua ou em desuso. Por exemplo, hoje não
o uso da palavra fucking ou da palavra bloody, em se diz mais no tempo do onça. A variação pode ser
filmes britânicos. Porém, na situação de sala de determinada por fatores geográficos: diferentes
aula em uma universidade de língua inglesa, um regiões congregam diferentes comunidades de
aluno estrangeiro não pode dizer this fucking rule falantes que acabam fazendo usos específicos da
doesn’t work properly, ou this bloody phoneme is dri- linguagem, sobretudo de vocábulos ou de re-
ving me crazy, mesmo que tenha ouvido algum gras fonológicas. Por exemplo, o legume que al-
colega dizer estas coisas em casa. guns chamam de mandioca é também chamado
A variação lingüística não é apenas uma de aipim no Sul e de macaxeira no Norte. A vari-
questão estrutural, é, sobretudo, uma questão de ação pode ser estilística, sendo, então, interpre-
uso. A situação torna-se mais complicada quando tada como mais ou menos formal. Por exemplo, o
se leva em conta o fato de que todo indivíduo é uso corriqueiro da palavra fucking é muito infor-
falante de pelo menos uma variedade da língua, mal, assim como o uso da palavra intoxicated, ao
mas é ouvinte e entendedor de muitas variedades invés de drunk, para ‘bêbado’, representa um uso
de uma ou de várias línguas. Manter distinto na estilístico muito formal da linguagem. As vari-
mente os usos específicos dos elementos, formas e antes estilísticas podem definir também o que se
estruturas lingüísticas e colocá-los em ação de chama de jargão, assim como elementos da lin-
maneira adequada e correta, no tempo, no espaço guagem de classes específicas de pessoas, como
e no ambiente social em que a linguagem está marinheiros, jogadores de futebol, médicos, ad-
presente, é uma tarefa extremamente complexa e vogados, malandros e bandidos... Nestes casos,
difícil. Daí a preocupação de alguns professores e o que mais se sobressai é o uso específico de cer-
métodos de ensino de línguas estrangeiras, a acha- tos termos ‘técnicos’. Por exemplo, embora signi-
rem que é mais barato, mais rápido e mais eficaz fique a mesma coisa, somente um botânico irá
que as pessoas aprendam línguas estrangeiras vi- chamar a ‘mandioca’ de manihot palmata, defi-
vendo em comunidades onde essas línguas são nindo-a como planta da família das Euforbiáceas.
faladas, se possível, com a menor chance de usar a Já no jargão de certas classes sociais, mandioca
língua de origem, para forçar as pessoas não só a pode significar outra coisa bem diferente do le-
aprenderem as estruturas lingüísticas, mas, tam- gume. Um jargão contempla variantes que per-
bém, os usos corretos dessas estruturas nas mais manecem e costumam passar para novas gera-
variadas situações de vida. ções, diferentemente do que acontece com as
Um caso curioso é encontrado na fala de chamadas gírias, que apresentam variantes de
emigrantes que mantém a língua de origem, mas duração curta e muito marcadas no tempo e no
perdem o contato com a comunidade de onde espaço em que aparecem. Dizer boco-moco foi
vieram. Com o passar do tempo, não adquirem uma expressão de gíria dos anos 60, assim como
as mudanças introduzidas, ficando com um sis- é uma brasa, mora! As variantes lingüísticas po-
tema antiquado. Se depois de muitos anos vol- dem estar ligadas a variáveis do tipo sexo e ida-
tam a falar com um membro da comunidade de de. As mulheres, diferentemente dos homens,
origem, acabam passando por pessoas que ‘não empregam um vocabulário muito maior de co-
evoluíram’, ou que falam como os avós. Isso acon- res, por exemplo. Gerações mais antigas podem
teceu, por exemplo, com muitos filhos e netos de manter formas que caíram em desuso na fala das
imigrantes japoneses que voltaram ao Japão. Um novas gerações, como dizer bacana em vez de uma
outro tipo de caso curioso ocorre com pessoas palavra como legal, usada pelas novas gerações.
que aprendem a falar uma língua e a usam ape- Uma geração mais antiga pode manter traços fo-
nas até uma certa idade, não chegando a ser fa- nológicos, como a não palatalização de t diante
lantes adultos. Depois de muito tempo, já adul- de i, ao passo que as novas gerações só admitem
tos, ao falarem a língua que aprenderam quando a palatalização neste contexto. De muitas manei-
crianças, acabam revelando um padrão lingüís- ras a fala das crianças é diferente da fala dos adul-
tico infantil que, não raramente, desperta a curi- tos. Diante desse quadro, os lingüístas foram obri-
osidade ou mesmo a zombaria dos adultos. gados a reconhecer que não existe na lingua-
Vendo mais de perto a natureza da varia- gem o que se poderia chamar de ‘variante livre’,
ção lingüística, encontramos uma variedade de ou seja, uma variante que seja puramente estru-
tipos e de fatores condicionantes. A variação tural. Toda variante estrutural traz consigo algu-

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ma marca sócio-cultural, histórica ou geográfica às regras da gramática, acabam passando os li-
que define seu uso na sociedade. As chamadas mites do tolerável, sendo consideradas pessoas
‘variantes livres’ podem não encontrar um con- de falas pedantes e arrogantes, que querem exer-
texto estrutural previsível, mas certamente, en- cer uma certa forma de poder através da gra-
contrarão um contexto pragmático de uso. mática, e não comunicar ou convencer através
Assim, por trás de toda variação lingüísti- do conteúdo do seu discurso.
ca existe uma certa manipulação da linguagem Uma norma culta pode ser imposta através
por parte dos usuários. Por essa razão, não se da força do poder de governar, principalmente
pode falar de variação sem falar de preconceito. em situação de conflito de línguas. O mais co-
O preconceito associado ao tratamento das vari- mum, entretanto, é o reconhecimento de uma
antes lingüísticas pode ser remontado à própria norma culta no uso da língua feito por pessoas de
origem das gramáticas, como se disse acima. A cultura, sobretudo, por autores de obras literári-
distinção entre norma culta ou dialeto padrão e a as, técnicas, científicas, artísticas e culturais, em
fala errada, entre a lógica da gramática e as figu- geral. A escrita, entretanto, tende a não manifes-
ras de linguagem, existe na sociedade e na gra- tar conflitos entre diferentes normas cultas, en-
mática por causa de uma forma de preconceito contradas em diferentes regiões do país. As dife-
que usa a linguagem como motivo de discrimi- renças, como se disse antes, são mais evidentes na
nação. O preconceito que estava na figura dos pronúncia e no uso de palavras e de expressões.
usuários da língua, se pobre ou ignorante, pas- O preconceito marca primeiro o interlo-
sou para as estruturas da gramática, quando uma cutor e, depois, busca nas peculiaridades de seu
lógica filosófica passou a servir de juiz dos usos falar os traços distintivos que o tornam vulnerá-
da linguagem, ou seja, da lógica da linguagem. vel à discriminação. Se alguém não gosta de po-
Quando um gramático diz que você não é prono- bre, é só ver em sua fala as variantes que apresen-
me de segunda pessoa, porque o verbo está ‘na ta, julgá-las fruto da ignorância e não de um uso
terceira’, busca uma lógica que a Língua Portu- diferenciado das estruturas lingüísticas e, em
guesa de certas regiões não tem mais, uma vez seguida, passar tal julgamento dos elementos lin-
que a conjugação verbal não segue mais o mode- güísticos para a pessoa do falante. A pobreza que
lo antigo. As mesmas pessoas que se investem não tinha nada a ver com a ignorância, através
contra o sistema pronominal em uso comum desse jogo preconceituoso de manipulação dos
hoje, por ser diferente daquele de algumas déca- valores lingüísticos, acaba sendo sinônimo de
das atrás, não tem o mesmo sentimento de ilogi- falta de cultura, de conhecimentos, de capacida-
cidade diante de uma frase como amanhã vou ao de para seguir as regras do pensar lógico, enfim,
cinema, em que aparece um advérbio denotando da gramática. A atitude da sociedade invade
o futuro, o verbo no tempo presente e o signifi- todo o comportamento social, se torna presente
cado geral da frase expressando uma ação a rea- nos meios de comunicação, na mídia, nos meios
lizar-se no futuro. A contradição temporal nem de propaganda, na literatura, etc., e, como não
sequer é aventada porque trata-se de um uso tão podia deixar de ser, vai ser encontrado até mes-
antigo quanto a existência da própria língua. A mo nas escolas e nos livros didáticos. O mais
gramática normativa com esse olhar preconcei- incrível é que as próprias vítimas dos preconcei-
tuoso faz de descrição da linguagem uma carica- tos acabam se convencendo de que falam erra-
tura. Embora algumas pessoas achem, elas não do, de que não sabem pensar, enfim, de que não
têm razão completa em dizer que a dita norma sabem falar. Como todo preconceito, é difícil de
culta representa o que a gramática normativa ser extirpado da sociedade. Não basta constatar
prescreve. Como a linguagem é um processo as diferenças, as pessoas querem se julgar me-
dinâmico, está em constante transformação, as lhores ou superiores às demais e, para isto, lan-
próprias regras das gramáticas normativas tam- çam mão de forma de diferença, como pretexto
bém sofrem alterações com o tempo, mas isto só para suas avaliações e atitudes.
é percebido quando se comparam gramáticas O fato de a escola querer “ensinar Portugu-
muito distantes no tempo. Pesquisas sociolin- ês” para quem é falante nativo de Português tem
güísticas cuidadosas têm mostrado que a cha- uma boa dose de preconceito. O “ensino de Por-
mada norma culta é algo muito mais complica- tuguês” deveria privilegiar a descrição das estru-
do do que os gramáticos pensam. Muitas vezes, turas e dos usos da língua. O uso da expressão
quando as pessoas cultas querem se ater demais “ensinar Português” é um rótulo que pode escon-

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der um preconceito. Quem só ensina a gramática cas. Ninguém precisa saber Latim para conhecer
normativa, certamente acha que está corrigindo o Português, nem vice-versa. O que se verifica, às
um “Português errado”, “ensinando a pensar di- vezes, é a constatação de que o conhecimento de
reito” e que simplesmente descrever a língua é muitas línguas, sejam elas quais forem, é um bem
forma de misturar o bom com o estragado. cultural que acrescenta habilidades lingüísticas.
Historicamente, convém lembrar, a norma se alguém conhece Português e Latim acaba ten-
culta nada mais é do que a fala da classe domi- do mais conhecimentos do que quem sabe ape-
nante. Se esta mudar, o status social da língua nas Português. Se, em lugar do Latim, estivesse o
também muda. O que chamamos hoje de Lín- Chinês, o Xavante ou o Basco também acontece-
guas Portuguesa, Espanhola, Francesa, Italiana, ria uma situação semelhante. Na verdade, o fa-
etc., que pertencem às línguas românicas, eram, a lante de uma língua não pode usar em sua língua
um certo tempo, um Latim estropiado, deselegan- as estruturas de outras línguas, porque acabaria
te, considerado, pelos eruditos falantes do Latim gerando formas agramaticais. Nesse sentido, o que
Clássico, como uma forma errada e indesejável é bom para o Latim não é bom para o Português, e
de falar e escrever o Latim. Depois que os povos vice-versa. A vantagem do bilingüismo em qual-
dominados pelos romanos adquiriram o poder quer uma de suas formas e manifestações é ape-
nas províncias e passaram a reinar e a estabelecer nas cultural. O mesmo tipo de crítica se deve fa-
uma nova ordem sócio-cultural, o seu modo de zer àquelas pessoas que acham, por exemplo, que
falar o Latim já muito modificado acabou se tor- o Alemão é uma língua clara, que serve melhor
nando um modelo social, passando a ser uma do que as demais para exprimir conceitos filosó-
nova norma culta. A partir de então, começaram a ficos, ou que o Italiano é a língua mais melodiosa
surgir gramáticas normativas nessas e dessas no- da face da Terra, que o falar brasileiro é arrastado
vas línguas e a história da variação e preconceito porque o povo é preguiçoso e errado porque o
lingüísticos voltaram a se instalar nas novas soci- povo é ignorante. Achar que o Francês é a língua
edades e nas novas línguas. Os novos pobres pas- por excelência da literatura e o Inglês a língua
saram a ter o seu modo de falar, que também re- perfeita para a tecnologia são outras tantas afir-
sultara de um Latim estropiado como o dos pode- mações descabidas, equivocadas, que manifestam
rosos, como um símbolo de ignorância, de falta grandes preconceitos. Certamente, alguns povos
de cultura e até mesmo da falta de capacidade produzem mais e melhor material literário, filo-
para ver como deveriam ser as estruturas da lin- sófico, técnico, etc., do que outros, mas nem por
guagem. O velho Latim Clássico, como acontece isso se deve confundir o resultado do uso da lin-
nesses casos, passou a ser uma língua morta, sem guagem com a própria natureza das estruturas
ter mais falantes nativos, apenas aprendizes. gramaticais. O que faz um alemão ser filósofo não
De vez em quando, surge alguém achando tem nada a ver com a estruturas gramaticais da
que o certo é falar Latim ou, então, que para se Língua Alemã. A Língua Italiana apresenta varia-
saber Português é preciso saber Latim: sem co- ção melódica como qualquer outra língua. Por
nhecer o sistema lingüístico latino, uma pessoa outro lado, não é porque um povo não desenvol-
não é capaz de analisar corretamente o Portugu- ve certo tipo de atividade cultural ou tecnológi-
ês, nem de usá-lo com propriedade. Além de ser ca que sua língua é pobre. Pior ainda seria consi-
um equívoco do ponto de vista científico sem derar que certos povos não se desenvolvem cul-
qualquer fundamento, tais afirmações denotam, tural e tecnicamente porque usam uma língua
ainda, um preconceito. Os latinos deviam falar o inferior, impossível de chegar aos requintes da
mesmo do grego clássico e este, quem sabe, de arte e da ciência. As necessidades lingüísticas va-
algum antecessor, o que, em última instância nos riam muito de uma comunidade para outra, mas
levaria, falantes de Português, a ter que estudar a todos têm na língua que falam todos os elementos
língua primeira da humanidade para encontrar a necessários para dizer tudo o que quiserem e en-
verdadeira fonte do saber lingüístico. A Lingüís- tender tudo o que ouvirem. Se aparecer algo novo,
tica Moderna já explicou e provou muito bem que precisa de nome, arranja-se um nome. O uso
que as línguas e a linguagem se explicam através literário, e, sobretudo, poético, quando intensifi-
de teorias específicas e que a referência a ances- cado, acaba descobrindo dentro da própria lín-
trais lingüísticos, quando muito, serve para con- gua formas de expressão com relação às quais as
tar uma história lingüística. Os sistemas se expli- demais pessoas ainda não tinham se dado conta.
cam por si e são revelados pelas teorias lingüísti- Uma outra questão séria é a atitude da es-

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cola e do processo escolar e educativo, em geral, tiva a concepção de linguagem da Gramática
perante a variação lingüística. Não passa de uma Normativa, em detrimento de qualquer tentativa
medida paliativa a sugestão de que a escola pre- de estudo através de uma Gramática Descritiva.
cisa ensinar a norma culta para permitir a pro- Como um professor forma outro professor à sua
moção social dos alunos menos favorecidos. Tra- imagem e semelhança, forma-se um círculo vicio-
ta-se, na verdade, de um ‘quebra-galho’, da ati- so sem saída. Os professores saem das faculdades
tude de ‘quem não tem cão, caça com gato’. A de Letras e se espalham por muitos setores da so-
atitude mais honesta da escola seria denunciar o ciedade e levam uma enorme bagagem de pre-
preconceito, mostrando suas origem e forma de conceitos lingüísticos, uma visão distorcida da
propagação. É preciso acabar com o mal pela raiz, natureza, função e usos da linguagem, já bem des-
usar medicina preventiva, para que os efeitos critos pela Lingüística Moderna, que não encon-
indesejáveis do preconceito lingüístico não te- tram nenhuma referência no modelo das gramá-
nham chance de sobreviver na sociedade. En- ticas normativas. Basta ver os programas de estu-
quanto o processo de renovação não se espalha dos da língua das escolas de qualquer nível para
de maneira significativa, deve-se propor como se encontrar diante de um quadro realmente la-
medida de emergência a preferência pela nor- mentável. Os próprios programas do governo for-
ma culta, como uma opção lingüística melhor çam a manutenção desse status quo. Como se não
na atual sociedade em que os alunos vivem. In- bastasse ter que aturar provas e exames em todos
verter os procedimentos é enfatizar o precon- os níveis e para tudo, o conteúdo que exigem ra-
ceito, amenizá-lo ou mesmo descaracterizá-lo, ramente toca em alguma questão realmente rele-
coisa que a escola não deveria fazer nunca. vante, atendo-se quase que exclusivamente a re-
O preconceito lingüístico começou, como gras da gramática normativa ou a interpretações
vimos, com o nascimento das primeiras gramá- de texto baseadas num equilíbrio de bom senso,
ticas e se perpetuou, assim como as próprias um malabarismo mental que procura um matching
gramáticas normativas. Apesar de todo o esfor- entre o que pensa o autor da prova e o paciente
ço dos lingüistas em derrubar esses dois tabus, dessa atividade. Questões importantes das estru-
parece que quanto mais se adquire cultura e turas lingüísticas do discurso passam longe e só
dinheiro, mais fica reforçado o preconceito lin- vão ser encontradas em uns poucos lingüistas,
güístico e a ilusão de uma gramática normativa dedicados a esse tipo de pesquisa.
como guia seguro de bom uso da linguagem. A É uma manifestação clara de preconceito
reação aos lingüistas se manifesta, às vezes, de lingüístico achar que a linguagem se reduz ao
maneira contundente, por exemplo, com a mí- que diz uma gramática normativa, ou que fazer
dia bancando uma campanha de ‘melhoria’ da análise sintática leva os alunos a terem um pensa-
língua, de ‘limpeza étnica lingüística’, através mento lógico, claro e ordenado. Na verdade, a
da divulgação de ‘formas de bem dizer ’ a lín- educação lingüística deveria ser tão abrangente
gua. Ao atacar violentamente os estrangeiris- de modo a mostrar os mais variados aspectos da
mos, as pessoas se esquecem que o vocabulário natureza e do uso da linguagem e das línguas.
que usam, por exemplo, falando Português, é, Por que não se estudam as teorias lingüísticas:
em grande parte, emprestado do Latim e do estruturalismo, gerativismo, fonologia métrica e
Grego e, em parte não menos significante, de prosódica, otimalidade, teorias funcionalistas,
outras línguas. Na verdade, ninguém inventa etc.? O que se estuda de semântica, muitas vezes,
nada por si e tudo o que existe em uma língua não tem nada a ver com a semântica que interessa
veio de outras línguas. O que fere a sensibilida- aos lingüistas. Os próprios estudos de Filologia,
de dessas pessoas é a contemporaneidade dos praticados em algumas instituições, são muito re-
empréstimos, como se isto revelasse uma falta trógrados, não tendo evoluído como os estudos
de capacidade de quem toma emprestado e uma de Lingüística Histórica. Qual professor de Por-
superioridade de quem empresta. No fundo, tuguês que sabe fazer uma transcrição fonética?
isso não passa de preconceito. que sabe descrever padrões rítmicos e entoacio-
O ensino de Língua Portuguesa sem o ensi- nais e relacioná-los com as atitudes dos falantes?
no de Lingüística Geral tem sido um dos respon- E assim por diante. Os professores de língua fa-
sáveis pela situação infeliz dos estudos da lingua- zem tanta questão das formas escritas e dificil-
gem entre nós. Nas faculdades, o ensino de Por- mente se encontra um que conheça a história da
tuguês reforça de maneira absurdamente imposi- escrita e da ortografia da língua. Esta é uma ques-

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tão que precisaria ser seriamente debatida pelos língua, porque tais formas precisam ser não ape-
encarregados da educação lingüística das novas nas elementos de compreensão, mas também ha-
gerações e deveria começar, é claro, nos níveis bilidades que devem estar à disposição dos usuá-
mais altos dos estudos universitários. Somente aí rios, quando necessárias. A Lingüística, portanto,
se pode quebrar a rotina do círculo vicioso men- não é contra o ensino da norma culta, como tam-
cionado acima. bém não é contra o estudo das formas dialetais,
Não se pode tratar de um assunto como dentro dos mesmos parâmetros descritivos.
variação lingüística e ação escolar, sem mencio- Em países com uma população muito gran-
nar uma atitude também muito perversa e equi- de, aparecem várias normas cultas, dependendo
vocada, falsamente atribuída à Lingüística, de que da história de diversas regiões, principalmente,
a escola deve aceitar tudo sem interferir, que vale do desenvolvimento econômico e cultural que
tudo, seja feito da maneira como for. A favor dessa tiveram. A língua do país é dividida em partes,
atitude são arroladas teorias psicológicas, peda- em normas cultas que podem até mesmo estarem
gógicas e lingüísticas, em geral, mal interpreta- em conflito umas com as outras. O que representa
das. Não se trata apenas de achar que qualquer uma norma culta em uma região pode não gozar
teoria vale, que todas são iguais, porque, de fato, do mesmo prestígio em outra. Isso acontece, por
elas não o são. A linguagem representa um bem exemplo, no Brasil. Não é difícil reconhecer dife-
cultural que precisa ser tratado com carinho e rentes normas cultas, como as que se encontram
com atenção. A aceitação da existência da varia- no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de
ção lingüística na fala não é pretexto nem descul- Janeiro, no Nordeste, etc. Nestes casos, como o
pa para que as pessoas não usem as formas orto- nosso, as diferenças se localizam mais na pronún-
gráficas requeridas, porque a ortografia não tem cia e um pouco no léxico.
variação, trata-se de uma forma congelada de es- A título de conclusão, juntando um pou-
crita das palavras, justamente para neutralizar a co as reflexões apresentadas acima, nota-se que
variação lingüística da fala. O mesmo se estende a questão da variação lingüística é apenas um
aos demais níveis da gramática. O que os estudos problema entre muitos outros que a escola en-
lingüísticos fazem é descrever uma língua e ex- frenta. Talvez seja o problema mais sério da es-
plicar uma linguagem e isto nada mais é do que cola com relação aos estudos lingüísticos. Mas,
uma gramática. É uma gramática descritiva, não para resolvê-lo, na verdade, é preciso mudar
prescritiva, normativa. Para a Lingüística, tam- muito mais coisa do que a simples compreen-
bém existem formas agramaticais, modos errados são da variação lingüística. É preciso ter uma
de usar a língua. A Lingüística também tem uma outra atitude perante a linguagem e os estudos
posição muito clara com relação à adequação no lingüísticos. Enquanto os professores de língua
uso da linguagem em função das necessidades não forem lingüistas, há pouca esperança de
lingüísticas dos usuários e da comunidade de fa- melhorar o ensino.
lantes e, entre outras coisas, diz que há muitos A ação da escola é de fundamental impor-
modos de empregar a linguagem e que cada qual tância para se estabelecer uma cultura lingüística,
se insere num contexto muito específico. Há dife- um modo de ver a linguagem difundido cultural-
rentes estilos para diferentes ocasiões. Diferenças mente nos mais variados setores da sociedade.
dialetais, por exemplo, de pronúncia e de sintaxe, Hoje, e, infelizmente, ainda num futuro que se
devem acontecer nos seus habitats naturais, caso estende até não se sabe quando, o preconceito
contrário, podem parecer um “peixe fora da água”. causado pela má interpretação da variação lin-
A linguagem da escola não é necessariamente a güística irá causar aborrecimentos, confusão, trans-
linguagem do botequim ou da cozinha e vice- tornos a muita gente, sobretudo nas relações inter-
versa. Porque a Lingüística descreve de maneira nacionais, que ocorrem com muito mais facilidade
melhor a natureza, a função e os usos da lingua- e freqüência nos dias de hoje, e criar empecilhos,
gem, tem condições de dizer também, melhor do decepções e frustrações para muita gente que po-
que qualquer outra forma de interpretar a lingua- derá se ver preterida ou excluída, talvez, sem nem
gem, como os falantes devem se comportar lin- saber o porquê. Mesmo que sejamos impotentes
güisticamente nas mais diferentes situações da para mudar a situação lamentável em que vive-
vida. Em muitos casos, dentro dessa perspectiva, mos, o simples fato de tomar consciência dela e
a escola deverá ensinar formas variantes dialetais agir com um mínimo de decência lingüística, já é
para certos alunos, como quem ensina uma outra abrir caminho para um futuro melhor.

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