A08 Articolo Aispeb 2014

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Impossível Descolonização – Para um novo

enquadramento das literaturas


da África Lusófona: perspectivas críticas
Marco Bucaioni
Università della Tuscia

1. Delimitação e definição do espaço pós-colonial português

O conjunto dos actuais países de língua oficial portuguesa, mais ou


menos agrupados na CPLP, por um lado não coincide com a totalida-
de dos territórios e regiões do mundo que foram “frequentados” pelos
portugueses nos cerca de cinco séculos da sua experiência ultramarina,
por outro lado, esse conjunto integra países e territórios muito diferen-
tes entre si pelo que diz respeito a superfície, população, clima, posi-
ção geográfica e “penetração” da própria língua portuguesa no tecido
sócio-cultural local.
Dentro deste “Ultramar” lusófono pós-colonial, a primeira distin-
ção importante é a que se pode traçar entre três áreas: 1) o Brasil, 2) os
países africanos de língua oficial portuguesa e 3) os territórios orientais
(Goa, Macau e Timor Leste)1; isto é, entre uma potência regional em
desenvolvimento, que sozinha abarca mais do que oitenta por cento
dos falantes da língua no globo e dois grupos de países e territórios
dispersos entre dois continentes, a África e a Ásia, muitos dos quais
estando numa situação económica e de desenvolvimento humano trá-
gica e com enormes diferenças dentro do próprio conjunto. Além de
todas as diferenças geo-políticas actuais, temos que acrescentar que o
Brasil “se libertou” da afiliação político-colonial com Portugal na pri-
meira metade do século XIX (1822), enquanto todas as outras colónias
obtiveram a rescisão dos laços de dependência política de Portugal só
na segunda metade do século XX (entre 1961 e 1999, com a maioria
dos territórios, os africanos, a obterem a independência entre 1974 e
1975). Além disso, se na África há cinco países que têm o português
como língua oficial e em que esta língua domina o sistema de ensino,
o panorama literário e o uso no dia-a-dia, mesmo que nalguns casos
como língua segunda, no Oriente temos três reduzidos territórios, dois
dos quais são englobados dentro de estados enormes e com o portu-
guês num estado de co-oficialidade com outras línguas locais, ou sem
oficialidade sequer. Quando se fala de espaço pós-colonial português,
muitos deixam de fora o Brasil, talvez pelas distinções acima refe-

1 Esta distinção em três zonas recalca as três “épocas” do colonialismo português, tal como

identificadas pelo historiador britânico Charles Boxer (1977).

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ridas. Assim faremos nós, pois a situação do Brasil não se enquadra


nos moldes da descolonização europeia do século XX, pertencendo,
quando muito, à história da descolonização das Américas, paralela à
do império espanhol no hemisfério ocidental. De qualquer forma, não
podemos deixar de olhar para o Brasil num discurso sobre a pós-colo-
nialidade dos outros países de língua oficial portuguesa, pois existem
laços directos entre o Brasil e o seu desenvolvimento cultural e certos
grupos e correntes em certos países africanos2. Além disso, o exemplo
brasileiro pode servir de pano de fundo para um possível (paralelo ou
divergente) desenvolvimento futuro de alguns países mais “jovens”.
Deixando, por enquanto, de lado o Brasil, existem na África cinco
países que surgiram do processo de descolonização portuguesa, entre
1974 e 1975: Cabo Verde, a Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, An-
gola e Moçambique. Todos esses países foram colónias portuguesas,
todos eles tiveram movimentos que lutaram para o fim do sistema co-
lonial, que em três deles desencadearam guerra aberta contra o exér-
cito português (Guiné, Angola e Moçambique); todos eles obtiveram
a independência na sequência directa da queda do Estado Novo em
Portugal, despoletada pela Revolução dos Cravos de 25 de Abril de
1974, todos eles têm hoje o português como única língua oficial e de
uso do estado3, todos eles desenvolveram um corpus literário mais ou
menos vasto em português, ao lado, onde é o caso, de um corpus pa-
ralelo em crioulo. A estes cinco países temos que acrescentar a Guiné
Equatorial, que adicionou recentemente o português ao espanhol e ao
francês como língua oficial. Tradicionalmente, este pequeno país não é
considerado parte da África lusófona. De facto, ex-colónia espanhola,
a Guiné Equatorial não participou das mesmas vicissitudes dos países
acima referidos, nem a presença do português na nação se traduziu na
criação de um corpus cultural-literário. A base que justificou a escolha
de acrescentar o português às línguas oficiais foi a presença histórica
de portugueses principalmente na ilha de Annobon, que integra o seu
território, e o objectivo desta operação é o de integrar-se numa asso-
ciação internacional que pode vir a ajudar o país a sair da situação de
subdesenvolvimento em que se encontra. Mesmo deixando de lado a
Guiné Equatorial, porém, o conjunto dos cinco países que se liberta-
ram do colonialismo português na década de 70 do século XX é uma
área do mundo sem a mínima coesão interior. Dois destes cinco países
2 A título de exemplos: todos concordam em afirmar uma clara influência do romance nor-

destino brasileiro dos anos Trinta na produção “claridosa” de Cabo Verde, ou em ver na obra
de Guimarães Rosa uma das fontes fundamentais de certo experimentalismo literário africano,
que toca a Luandino Vieira e chega até Mia Couto.
3 Embora tenha havido tentativas por parte do governo de Cabo Verde de dar mais espaço

institucional ao crioulo nacional, chegando este a ser incluído como língua de uso na escola, nos
primeiros anos do currículo.

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são arquipélagos (Cabo Verde e São Tomé), enquanto os restantes têm


o seu território no continente africano. Os dois países insulares, jun-
to com a Guiné-Bissau, têm uma população combinada que mal chega
aos dois milhões de habitantes, frente a uma população angolana e mo-
çambicana que ultrapassa os quarenta milhões.
Do ponto de vista linguístico tampouco estamos perante um espa-
ço homogéneo. Em três destes países (Cabo Verde, a Guiné-Bissau e
São Tomé e Príncipe) existem comunidades que falam línguas criou-
las de base portuguesa, enquanto nos outros dois países não há pre-
sença de língua crioula (ou pelo menos já não há), e sim há línguas
africanas (do grupo banto e, limitadamente, do grupo khoi-san) a se-
rem faladas. Também há línguas africanas (do grupo niger-congo) na
Guiné-Bissau. A penetração do português é também desigual. Seja-nos
permitido repetir que todos estes países, porém, têm alguma produção
literária em português, como foi dito, sendo ela mais ou menos
extensa dependendo do país e das condições e, nalguns casos, sendo
acompanhada por uma produção literária em língua crioula.
Na Ásia, a prolongada presença portuguesa deixou menos rastos do
que na África. Hoje em dia o português é oficial só em Timor Leste,
que voltou a ser estado soberano só em 2002, no fim dum longo perí-
odo de ocupação indonésia, e em Macau, último reduto ultramarino
português a ser descolonizado, tendo sido devolvido à China em 1999,
e tendo sido enquadrado dentro do estado chinês como região admi-
nistrativa especial. Nos dois casos, a presença da língua portuguesa é
escassa, sendo a população local de língua materna portuguesa uma
percentagem não significativa. Nos dois casos, além do português, é
oficial uma língua local (o tétum em Timor Leste e o cantonês em Ma-
cau). A estes territórios temos que acrescentar Goa, na Índia, que foi
invadida (ou libertada?) pelas tropas indianas em 1961. Não sendo ali
o português língua oficial, é difícil hoje integrar este território no espa-
ço lusófono propriamente dito, mantendo-se Goa no espaço de desco-
lonização recente.
A consistência demográfica deste espaço de descolonização recen-
te (que exclui, portanto, o Brasil, mas considerando África e Oriente)
ronda os cinquenta milhões de indivíduos, a esmagadora maioria dos
quais (além de quarenta e cinco) na África. Todos vivem em territó-
rios onde a língua portuguesa continua num estado de oficialidade, ex-
cluindo os goeses. Mas enquanto a lusofonia na Ásia definha (já está à
beira da extinção, se exceptuarmos os avanços recentes em Timor), na
África o número de indivíduos capazes de falar e escrever o português
não tem parado de crescer a partir da independência, quer em termos
absolutos, quer relativos.

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2. Literaturas da África Lusófona: perspectivas tradicionais

Existem claramente literaturas africanas escritas em português, como


quer que se chamem4. No sentido em que existe uma produção de tex-
tos literários oriundos de cada um dos países da África Lusófona. Me-
nos clara é a data de nascimento de cada uma das literaturas em ques-
tão, dependendo do enquadramento de quem observa. Também pouco
clara é a definição de literaturas africanas, no sentido de inclusão e ex-
clusão de textos e autores da lista dos que integram tais literaturas.
A crítica e a historiografia sobre as literaturas africanas de expressão
portuguesa remonta ao despertar que houve para temas africanos a par-
tir dos anos 50 do século XX. Este interesse foi muitas vezes ligado à
questão de uma possível descolonização, visto que, naquela década, co-
meçaram a difundir-se dentro e fora do espaço africano sob administra-
ção portuguesa conjuntos teóricos políticos que invocavam o fim do co-
lonialismo, juntamente com instâncias ideológicas fortemente contrárias
ao mesmo5. De facto, a maioria dos textos produzidos nos países africa-
nos naqueles anos e nas décadas seguintes podem ser classificados co-
mo “literatura de luta” contra o sistema colonial. Por isso, e por serem
estes primeiros críticos, em alguns casos alguns dos próprios autores e
noutros casos pessoas próximas deles, era inevitável que fosse definida
como “literatura africana” (ou, dependendo do caso, angolana, moçam-
bicana, etc…) só a parte da produção que alinhasse com certas e deter-
minadas temáticas ou ideologias. Assim sendo, a produção literária pas-
sada e presente que não mostrasse sinais de oposição ao sistema colo-
nial, e/ou marcos de genuína africanidade (como, por exemplo, a temá-
tica do “ser negro”) foi descartada, sendo excluída das literaturas dos
(num primeiro momento futuros) países africanos. Ficou a ser incluída
só a produção anti-colonial, negritudinista, que suportasse a luta pelo
fim do sistema colonial. Verdade seja dita: antes de 74/75 não devia ser
fácil fazer certas distinções; Angola e as outras colónias eram institucio-
nalmente parte de Portugal e, dalguma forma, todas as pessoas que ali
residiam eram portugueses. O que é que distinguia no plano oficial um
colono fascista do escritor anti-colonial Luandino Vieira? De facto, era
o posicionamento político, e não a cor da pele ou a língua materna. É
evidente, porém, que esta distinção não é criticamente válida tout court.
Nenhum espaço literário, quer nacional, quer em qualquer outro pla-
4 Neste artigo usa-se a locução “Literaturas da África Lusófona” para evitar o polémico

“de expressão portuguesa”, embora em tempos recentes também o adjectivo “lusófono” tenha
sido criticado como politicamente não correcto. A escolha foi feita por falta de uma convincente
alternativa mais consensual e não quer carregar algum sentido “imperialista”.
5 Quer do mundo francófono (Négritude), quer do anglófono (pan-africanismo, black re-

naissance) chegaram instâncias para a libertação do indivíduo negro da subalternidade racial e


colonial.

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no, pode ser definido a partir de uma temática ou de um estilo. Seria


como “impor” a todos os autores de um dado país que escrevessem só
sobre o tal país, ou temáticas estritamente relacionadas com ele. Sendo
assim, italiano que escrevesse um romance existencialista com a acção
ficcional que se localiza em Banguecoque já não seria classificável como
um autor italiano, desde que a literatura italiana se definisse como uma
literatura de temática italiana e de exclusiva reflexão sobre Itália. Estas
perspectivas críticas sobreviveram ao regime colonial e continuaram ac-
tivas nos anos do pós-independência, de construção da literatura e da
identidade das novas nações. Mais uma vez, o que estava a contribuir
para construir a nova identidade da nação livre, opondo-se ao antigo
regime, foi considerado “africano”, enquanto o que não mencionava ou
tocava nestes problemas, era excluído da vida literária (e da construção
da memória) nacional.
Estas são as premissas teóricas que animaram as primeiras antolo-
gias de poesia africana e depois a inteira obra de vários críticos. Cé-
lebre a este propósito a introdução de Manuel Ferreira à sua impor-
tantíssima antologia No Reino de Caliban (1975), em que se afirma de
várias maneiras e de forma muito clara que o que não tem “temática
negra” não é para considerar-se parte das nascentes literaturas dos pa-
íses africanos. Até hoje, quem quer começar o estudo das literaturas
da África Lusófona em Portugal pode, como em muitas disciplinas
das humanidades, contar com um manual de enquadramento publica-
do pela Universidade Aberta (Laranjeira 1995). Ele foi escrito pelo
professor Pires Laranjeira, um dos críticos activos desde muito cedo,
e tem claramente esta perspectiva. O professor Pires Laranjeira, ver-
dade seja dita, não é muito contundente nem sistemático em excluir
da literatura africana tudo o que não diz respeito à luta ou à constru-
ção da cultura nacional, mas com certeza não hesita em definir o co-
meço das literaturas da África Lusófona a partir das literaturas de luta,
identificando claramente as duas coisas. Menos claros a esse respeito
são outro manuais sobre as Literaturas da África Lusófona, como o co-
ordenado e organizado por Patrick Chabal (1996) ou o de Francisco
Salinas Portugal (2006). Entre estes, Portugal parece o mais disposto
a dar coordenadas de natureza estética sobre as obras de que fala, e
até consegue escapar do “mandamento da luta” nas secções relativas
à produção dos anos cinquenta e sessenta, mantendo assim uma dis-
tância crítica que lhe permite interpretar a literatura de luta contra o
sistema colonial e a literatura negritudinista como um dos aspectos,
uma das correntes, um dos episódios (aliás, uns e multifacéticos ao
mesmo tempo), por importante que seja, da história destas literaturas,
evitando identificá-las com a própria literatura dos países africanos.
Um facto, porém, é evidente: não dispomos de manuais de história

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das literaturas da África Lusófona satisfatórios pelo que diz respeito


ao que se seguiu à metade dos anos Oitenta. Não só isto é grave em
si, pois estamos a falar de uma duração enorme dentro de umas litera-
turas tão jovens, mas a coisa é estanha porque as mesmas pessoas que
tão pormenorizadamente nos analisam as obras e os autores dos anos
Sessenta, parecem ter uma cegueira crítica quando falam de autores e
obras posteriores. De facto, por exemplo, Pires Laranjeira não deixa
de registar autores e obras mais recentes no seu manual, mas fá-lo sem
conseguir dizer muito. A maioria destes críticos formou-se durante o
período da (historicamente justa) luta pela independência e dá a im-
pressão de não conseguir ultrapassar a nível crítico aquele período e
aquela fase histórica. O que é estranho é que também os manuais his-
tóricos em questão não foram actualizados por especialistas de gera-
ções sucessivas ou com outras perspectivas críticas.
De facto, temos que ressalvar que a literatura africana de luta con-
tra o colonialismo obteve uma certa visibilidade e despertou muito in-
teresse quer em Portugal, quer noutros países europeus. A existência,
na altura, de uma parte de opinião pública, no Ocidente europeu, que
simpatizava com os movimentos de libertação e com a sua causa, quan-
do não abertamente com os partidos comunistas, teve um papel fun-
damental nisto. Decerto, enquadrar a produção literária das colónias
nos últimos anos do colonialismo dentro do prisma da luta não é er-
rado, como também não é errado enquadrar a produção sucessiva das
jovens nações recém-independentes dentro do quadro da necessidade
da construção de uma nova identidade nacional pós-colonial. Também
fazer isso, especialmente com um ponto de vista europeu, é muito mais
fácil do que postular a existência de uma literatura, e de certa forma de
uma cultura que vai além da luta pela independência e além da cons-
trução da memória/identidade nacional.
Depois de obtida a independência, a história mais recente destas na-
ções africanas não parece ter conseguido despertar a mesma solidarie-
dade, ou empatia, como no tempo das lutas, talvez até porque saindo
do esquema da luta anti-colonial tenha sido mais difícil para o público
ocidental acompanhar um desenvolvimento cultural e literário que fo-
ge do que é imediatamente compreensível para parte deste público.

3. A teoria pós-colonial aplicada às Literaturas


da África Lusófona

Os estudos pós-coloniais viriam a iluminar o quadro destas litera-


turas de uma nova luz. Foi possível enquadrar a literatura de luta e de
construção identitária dos novos países em face da dialéctica coloni-

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zado/colonizador de uma forma nova: graças a este enquadramento


percebeu-se que a luta contra o colonialismo não tinha acabado com
a Independência política destes países, tendo que descolonizar-se
as “consciências”, as culturas e as bagagens culturais dos povos ex-
colonizados. Por outro lado, os estudos pós-coloniais falham rotunda-
mente em enquadrar a produção literária posterior ao período da luta
e/ou da construção da identidade nacional e/ou em geral toda a pro-
dução literária que não se encaixa nos moldes da dialéctica coloniza-
dor/colonizado, num embate directo e maniqueísta.
Podemos dizer que, apesar das suas variadas interpretações6, um
traço fundamental da teoria pós-colonial continua ser o colonial. Os
estudos pós-coloniais parecem continuar a enquadrar as populações
descolonizadas com a mesma “piedade” para com um ser claramente
inferior com que os racistas mais dissimulados disfarçavam o seu ra-
cismo durante o regime colonial. Também, em geral, outro traço fun-
damental desses estudos é dividir claramente tudo em dois elementos
contrapostos: o colonizador e o colonizado. Não parece, ao menos nas
formulações mais radicais, haver espaço para o “crioulo”, para o “mis-
cigenado”. Temos a impressão que isso, de facto, faça sentido e conti-
nue fazer sentido em certos países e em certos contextos, na medida em
que temos igualmente a impressão que isso não faz quase nunca sentido
aplicado à realidade da África Lusófona, mesmo na sua variedade e he-
terogeneidade de situações. Outra vertente discutível dos estudos pós-
-coloniais é a pretensão à descolonização interior e exterior das novas
nações africanas, que às vezes tem o risco de identificar tudo o que não
é tradicional (tribal) com o exógeno, portanto herança do colonizador,
arriscando-se a acabar por pregar um regresso impossível a uma irre-
al “idade de ouro” da “pureza africana”. Acreditamos, portanto, que é
necessário repor em discussão a perspectiva de enquadramento das lite-
raturas da África Lusófona, o que pressuporia uma mudança de enqua-
dramento geral da realidade cultural e sócio-política da África Lusófo-
na, para melhor entender as últimas duas décadas (e tanto) de produ-
ção literária e inserir estas literaturas no mapa das literaturas mundiais
já livres de distorções ideológicas que não fazem jus à sua realidade.
Um dos grandes méritos da teoria pós-colonial em comparação com
as perspectivas anteriores que só se baseavam no “grau de anti-colonia-
6 Há uma contínua oscilação na interpretação do termo “pós-colonial”, sendo que há quem
o use no mero sentido cronológico, para indicar o que se seguiu ao fim do sistema colonial, e quem
o use num sentido mais profundo, e mais criticamente correcto, isto é, para indicar tudo o que foi
originado pelo sistema colonial e ainda persiste e se lhe opõe, antes e/ou depois do fim do colo-
nialismo. A ambiguidade, às vezes, mantém-se dentro da obra de um mesmo autor, como no caso
do já referido livro organizado por Patrick Chabal (1996) que, tendo “post-colonial” no próprio
título, não hesita em tratar de autores e épocas claramente coloniais, incluindo também autores e
obras que não podemos enquadrar estritamente no pós-colonial mesmo sendo posteriores.

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lismo” ou na “ortodoxia ideológica” para basear a inclusão ou exclu-


são de certos autores e obras das literaturas destes países, é o facto de
deixar a porta aberta à inclusão daquela parte de produção de autores
brancos não claramente ligados aos movimentos anti-coloniais, como o
notório caso de Rui Knopfli ou de Ruy Duarte de Carvalho ou Eduardo
White, que abordam, às vezes, a questão da identidade vista pelos afri-
canos brancos, que não deixa de ser um dos episódios mais interessan-
tes destas literaturas. Também a teoria pós-colonial permite um olhar
sinóptico com a produção pós-colonial de autores portugueses, que é
riquíssima e é, de certa forma, o “espelho” do que se escreve em África.
Desta forma, os estudos pós-coloniais permitem uma nova leitura
de obras como Jornada de África de Manuel Alegre (1989) (e de toda a
“literautura da guerra colonial”), de vários romances de Lobo Antunes
(por exemplo Os Cus de Judas, 1979; O Esplendor de Portugal, 1997;
e o pós-colonialíssimo As Naus, 1988), d’O Retorno (2011) de Dulce
Maria Cardoso, d’A Árvore das Palavras (1997) de Teolinda Gersão,
d’A Costa dos Murmúrios (1988) de Lídia Jorge ou do Caderno de Me-
mórias Coloniais (2011) de Isabela Figueiredo, para citar só uns dos
exemplos possíveis.
Por outro lado, um dos grandes “defeitos” metodológicos desta
teoria é que lhe continuam a escapar aquelas obras que não encaram
directamente a questão da condição do homem colonizado depois do
fim do colonialismo. É difícil ler algumas prosas breves de José Eduar-
do Agualusa, especialmente as que jogam com algumas personalidades
da literatura portuguesa ou hispano-americana ou de outros países7,
como sendo pós-coloniais. Também é difícil encaixar o único romance
do prémio Camões caboverdiano Arménio Vieira (No Inferno, 1999)
dentro das problemáticas pós-coloniais, ou certas obras do outro gran-
de escritor caboverdiano contemporâneo: Germano Almeida.

3.1. As peculiaridades da África Lusófona no discurso pós-colonial


Como é sabido, o Estado Novo tinha tornado propaganda de regime
alguns conceitos contidos na obra do brasileiro Gilberto Freyre. Sim-
plificando muito, a ideia era que o colonialismo português, ao longo
dos seus quase cinco séculos de existência, tinha sido o único, diferente
dos outros e muito melhor, especialmente porque “não racista”. A base
histórica para a teorização de Freyre reside essencialmente em dois fac-
tos inegáveis: o grau de miscigenação e a relativa falta de discriminação

7 Só um exemplo: a antologia de crónicas O Lugar do Morto (Agualusa 2011) está cheia

de exemplos neste sentido, envolvendo figuras tão diversas como Bruce Chatwin, Jorge Luis
Borges, Fernando Pessoa, Euclides da Cunha, Jorge Amado, Bertrand Russell, Antoine de Saint-
-Éxupery entre outros.

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racial. De facto, na visão quinhentista portuguesa (mas também euro-


peia em geral) o conceito de “raça” não tinha sido elaborado em termos
contemporâneos. Os portugueses dividiam a população mundial, para
fins de contacto comercial e diplomático, com base confessional: havia
cristãos, mouros e gentios. A partir do momento em que se convertes-
se ao cristianismo, em princípio qualquer indivíduo gozaria das mesmas
prerrogativas e deveres de qualquer outro cristão. É inútil aqui afirmar
a obviedade de que não podemos julgar melhor discriminar com base
religiosa do que fazê-lo com base rácica. Mas de facto, e também graças
a isso, a união entre indivíduos de grupos étnicos diferentes criou, em
vários cantos dos domínios portugueses do Ultramar (e às suas margens)
populações mestiças. Também isso não é apanágio exclusivo do colo-
nialismo português, aflorando, em vários espaços ex-coloniais, especial-
mente nas Américas, extensas comunidades mestiças dentro do domínio
inglês, francês ou espanhol. Portanto, a formulação mais simplista das
teorias de Freyre não parece encontrar conforto nos dados históricos, de
uma maneira absoluta, em consideração também do indiscutível entu-
siasmo racista demonstrado pela máquina colonial portuguesa nos sécu-
los XIX e XX, quando, já formuladas e devidamente espalhadas as teo-
rias racistas da superioridade europeia e branca na Europa, elas tiveram
boa recepção nas colónias portuguesas. Podemos portanto afirmar que a
experiência ultramarina portuguesa não foi efectivamente racista nas su-
as primeiras fases, mas teve uma viragem em tal sentido a partir do fim
do século XIX, por influência das teorias europeias.
Os vários estatutos que regulavam a vida dos indígenas durante o
Estado Novo previam a possibilidade de parificação jurídica dos in-
dígenas, desde que eles demonstrassem merecer o rótulo de “assimi-
lados”, portanto aculturados como portugueses (e a partir de certa
altura, todos os indígenas foram considerados oficialmente cidadãos
portugueses a pleno título)8. Esta situação, no papel, era sem dúvida
menos segregacionista do que o conjunto legal que na mesma época vi-
gorava na África do Sul do apartheid e nos próprios Estados Unidos de
América. A situação real era bem diferente, havendo uma grande sepa-
ração racial e de enorme dificuldade de acesso a recursos e direitos por
parte dos africanos.
A cosmologia freyriana, portanto, o dito “luso-tropicalismo”, foi
atacada com grande força por parte dos adeptos e dos simpatizantes
dos movimentos independentistas e pelas esquerdas em geral, sendo

8 Em 1961 acabou a vigência do «Estatuto dos Indígenas» de 1926, posteriormente mo-

dificado (Marques 1995: pp. 679-680), na sequência da nova política de Salazar de integração
legislativa e administrativa total dos territórios ultramarinos na Metrópole, para reforçar a ideia
de que pertenciam “organicamente” à essência de Portugal e para tentar fugir às novas obriga-
ções impostas pela ONU às potências coloniais.

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enquadrada como bagagem ideológica da direita fascista e imperialis-


ta. Hoje em dia, todavia, passados mais de quarenta anos desde a in-
dependência, temos que reconhecer alguma validade ao pensamento
freyriano e até à sua vulgata simplista. No momento da independência
e nos anos imediatamente sucessivos, as elites governamentais das no-
vas nações surgidas do processo de descolonização fizeram uma série
de escolhas fundamentais que contribuíram para projectar para dentro
da “Lusofonia” o futuro destas novas nações. A primeira e fundamen-
tal delas foi a adopção do português como única língua oficial dos no-
vos estados, acompanhada de planos massivos de alfabetização.
Sem dúvida, não foi uma escolha historicamente original: a quase
totalidade dos países da África Subsahariana mantém até hoje a língua
do ex-colonizador como língua oficial. Muitos países, porém, têm lín-
guas africanas como oficiais ao lado da língua europeia. Recentemente,
a Tanzânia e o Quénia acrescentaram o swahili ao lado do inglês como
língua oficial. A África do Sul, aquando da queda do apartheid, decla-
rou a oficialidade de todas as línguas nacionais ao lado do inglês e do
afrikaans, promovendo a sua sistematização, padronização e difusão.
Não temos, porém, notícias de tentativas ou de hipóteses em tal sentido
nas ex-colónias portuguesas. O que favoreceu o português como língua
única do Estado não foi, com certeza, o amor a Portugal das novas eli-
tes de governo que, integrando movimentos marxistas tinham contactos
com a União Soviética e a Europa Ocidental democrática e professa-
vam um ódio mortal à antiga metrópole. Também a situação no terreno
não favoreceria o português: uma vez que a quase totalidade dos colo-
nos brancos tinha fugido para Portugal ou para a África do Sul, em An-
gola e Moçambique o conhecimento do português devia, em 1975, ser
limitado a uma percentagem muito pequena da população urbana des-
tes países. Mesmo assim, e de alguma forma inesperadamente, não hou-
ve nenhuma hesitação e Angola e Moçambique enveredaram, no exacto
momento da libertação do jugo colonial, num espectacular processo de
lusitanização linguística da nação que não tem parado até hoje.
O resultado actual deste processo é que Angola está prestes a
tornar-se na maior nação lusófona do Velho Mundo, com cerca de
40% da população a falar português como língua materna em 2014.
Moçambique, com menor penetração, tem cerca de 8% de falantes
português como língua materna, mas em aumento. Estes dados,
combinados com a situação linguística dos outros países, com a adesão
ao português a rondar 100% da população em Cabo Verde e São To-
mé e Príncipe, fazem da África lusófona a porção do continente com
maior penetração da língua do ex-colonizador. Independentemente das
razões históricas para tal desenvolvimento (isto é: independentemente
de o Freyre ter razão), a verdade é que temos uma África ex portuguesa

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a falar cada dia mais português, e cada dia o português é menos a língua
do ex-colonizador, tornando-se numa língua africana stricto sensu.
Este processo, de facto, parece-se com o desenvolvimento do Brasil
mais do que de outros países africanos. Não faltam nações africanas
em que o francês é língua quotidiana de maior parte da população,
mas a impressão geral é a de populações que, na sua maioria falantes
de línguas africanas, são também francófonas, mas não se esqueceram
da sua origem étnico-tribal. Neste sentido, o processo de hibridação, e
portanto de crioulização cultural parece em estado avançado mesmo
em países, como Angola ou Moçambique, onde houve uma certa se-
gregação racial até aos últimos anos do colonialismo.
As consequências culturais desta situação são, obviamente, enor-
mes. As análises pós-coloniais, quando embatem com esta realidade,
deixam de fazer sentido crítico. Se parte da herança da época colo-
nial, parte fundamental na cultura, como a língua e seus corolários, foi
abraçada e apropriada pela população africana, como postular uma
descolonização cultural completa? Em literatura, as consequências
desta situação são de enorme importância. A existência de uma popu-
lação lusófona maioritária em África para começar muda as posições
relativas de autor e público: muitas vezes se diz que o autor africano
que escreve numa língua europeia fá-lo para dialogar com a Europa
ou com o Ocidente. O autor africano é assim visto como um selvagem
europeizado (um indígena assimilado?), que se afasta da sua comuni-
dade originária para entrar num circuito cultural cosmopolita que não
lhe pertence e a que não pertence, fundamentalmente. Imaginar um
autor que escreve na sua língua materna num país onde a sua obra é
compreensível para a quase totalidade da população muda radicalmen-
te os termos da questão. O autor africano deixa assim de ser um ente
exilado e alienado da sua comunidade para assumir uma posição mais
“natural”, isto é, equivalente à dos seus colegas europeus e americanos.
Aliás, a sua “alienação” seria até menor do que a de certos autores eu-
ropeus que escrevem em línguas menores da Europa Central ou Orien-
tal, dentro do panorama da circulação de obras e ideias no espaço das
línguas coloniais originarias da Europa Ocidental. De facto, a obra de
um autor angolano hoje em dia tem grandes hipóteses de ser lida e cri-
ticada no seu país, nos círculos dos outros países da África Lusófona,
em Portugal e no Brasil. Além disso, esta situação faz do acto literário
uma acção menos episódica e mais sistemática. Os circuitos literários
da África Lusófona “dependem” só em medida mínima, hoje em dia,
da antiga metrópole. Existem editoras, livrarias, revistas literárias, su-
plementos críticos de jornais, universidades, em quase todos os países
de língua portuguesa em África. A cena é um pouco desértica só na
Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe, por causas que têm a ver com

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a dimensão destes países e a instabilidade do primeiro. De qualquer


forma, os obstáculos materiais que estas obras encontram na sua circu-
lação têm mais a ver com a pobreza geral destes países do que com a
condição de ex-colónias, mesmo se postularmos que as duas coisas têm
algo a ver uma com a outra.
De facto parece que, de um modo geral, a cultura dos cinco países
da África Lusófona tenha tido uma tendência para integrar-se no âm-
bito da Lusofonia, aceitando no fundo uma parte consistente da heran-
ça colonial, que integra a língua, traços de cultura e literatura in primis,
ao mesmo tempo justamente reivindicando um lugar próprio dentro
deste mundo pós-colonial, criando uma africanidade autêntica, mas
nova, já não necessariamente negritudinista ou tribal, e em português,
ou “de base portuguesa”, sem com isso outorgar um papel “criador” à
nação portuguesa.

4. Normalização. Um Cânone Ocidental alargado?

Como foi dito, o Brasil foi colónia portuguesa, embora tenha dei-
xado de sê-lo muito mais cedo do que os países africanos. Todo o ter-
ritório americano foi colónia europeia. Todas as nações americanas se
libertaram do vínculo político com a Europa numa época sensivelmen-
te anterior à da descolonização da África. Em quadros bastante dife-
rentes, em todos os países americanos prevaleceu o uso das línguas de
origem europeia, com marginais tentativas de oficialização de línguas
ameríndias ao lado da variedade de origem europeia local. Todos os
países americanos têm, por consequência disso, uma literatura escrita
na língua do ex-colonizador. No entanto, é difícil que hoje algum crí-
tico aborde a obra de um Jorge Luis Borges, de um Philip Roth ou de
um Jorge Amado referindo-se no seu percurso de análise ao facto de o
autor estar a usar um código linguístico importado e não próprio, po-
dendo-se assim postular uma colonização cultural do autor. Da mesma
forma, não é considerado relevante se um autor americano tem cara de
índio ou mulato, sendo relevante só a negritude para a análise de certa
literatura norte-americana ou caraíbica de tendência negritudinista.
É postulável um desenvolvimento paralelo ao americano para
algumas partes de África? Nomeadamente, a África Lusófona parece
ter enveredado por um caminho de hibridação e apropriação muito
parecido com o percurso dos países americanos. Paralelamente, seria
desejável que a crítica acompanhasse este desenvolvimento.
As literaturas dos países americanos escritas em línguas originaria-
mente europeias são hoje, embora com todas as suas peculiaridades,
lidas e estudadas num plano de paridade com as suas congéneres euro-

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Impossível Descolonização – Para um novo enquadramento 285

peias. Se de um ponto de vista crítico pode ser útil e correcto ler alguns
autores americanos como americanos, com o que isto acarreta, ninguém
sonharia restringir e enjaular as literaturas americanas dentro de um
“funil” crítico monotemático que as identifique e contenha na sua to-
talidade. Em outras palavras: estas literaturas libertaram-se do rótulo
de pós-colonial (que foi cunhado quando elas eram já “adultas”). Não
lemos T. S. Eliot ou Jorge Luis Borges por serem americanos ou como
americanos ou por tratarem de uma certa “americanidade” e sim por-
que, de alguma forma, foram acolhidos numa espécie de Cânone Oci-
dental (e já não europeu) que os sagrou clássicos contemporâneos.
Seria necessário que as literaturas africanas saíssem dos rótulos de
pós-colonial, e entrassem numa “normalidade crítica” equivalente à
sua verdadeira libertação, desta forma cessariam de operar em estado
de “excepcionalidade”.
No dia em que conseguirmos ler os africanos sem estarmos a pensar
continuamente no facto de que estamos a ler africanos, estas literaturas
também se libertarão e estarão prontas para o seu ingresso paritário na
literatura mundial, ou talvez numa espécie de Cânone Ocidental Alar-
gado (sendo escritas numa língua “ocidental” e dialogando nalgumas
das suas partes com outras literaturas “ocidentais”). Viveremos para
ver esse dia chegar?

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