YOGA SUTRA Cap 01
YOGA SUTRA Cap 01
YOGA SUTRA Cap 01
Patãnjali teve a habilidade literária de organizar e construir um livro que fosse levado
como uma referência para todos os yogins e não é à toa, que esse livro já dura 2.500
anos ou mais. A tradição, na qual ele se inspirou, a tradição do Yoga é ainda mais
ancestral que o Yoga Sutra.
Muita gente que passa por um início frustrante quando busca desenvolver-se
internamente e torna-se cética com relação a esse tipo de conhecimentos. Deixam de
acreditar que o conhecimento espiritual, que tem o intuito de fazer com que se viva
uma vida com menos sofrimento, não funciona para nada. Muita coisa de
espiritualidade não serve para nada mesmo, a não ser para enriquecer os escritores
e palestrantes, mas essas informações também costumam serem esquecidas depois
de alguns anos. Sendo assim, a própria permanência de uma tradição é a prova de
que algum valor para as pessoas esse conhecimento possui.
Esse é o caso do Yoga Sutra, ele é um livro que já foi testado e validado ao longo dos
anos por milhares ou quem sabe bilhões de yogins. Ele ficou marcado e dura até hoje
por conta da eficiência do seu ensinamento.
01
Patãnjali foi um grande sábio e sua obra teve um valor enorme para a Tradição do
Yoga, sua capacidade de concisão dos ensinamentos merece toda a reverência dos
yogins de todos os tempos. No entanto, a cultura do Yoga incluiu mais elementos os
seu manancial que foram sendo registrados em escrituras posteriores. Entretanto, os
nomes dados as partes do Yoga e dos estados de consciência, ainda são usados da
forma como Patãnjali explica, na maior parte das tradições do Yoga. Por isso, tudo
que está no Yoga Sutra válido para quem vai praticar e ensinar Yoga.
Existe uma grande dificuldade com relação a traduzir qualquer tipo de texto antigo
em qualquer língua, especialmente se for uma língua morta, pois a língua é algo
dinâmico e que está o tempo todo em transformação. A nossa geração já fala um
português muito diferente dos nossos avós e bisavós. Então, de fato, a língua está em
constante mudança, algo que falávamos há um tempo atrás, já não é falado da
mesma forma hoje. Palavras que funcionavam em um certo contexto, hoje podem
funcionar em outro.
Justamente por isso que preferimos não seguir uma tradução literal que tem a
grande chance de estar errada por conta dessa mudança das palavras ao longo do
tempo.
02
Escolhemos uma tradução conceitual, que significa que a pessoa, que fez a tradução,
tem conhecimento e entendimento do Yoga e sabe o que o autor estava querendo
dizer em cada termo. Essa foi a nossa opção de escolha, mas não impede que você
possa ler outras traduções. Disponibilizaremos a melhor versão do Yoga Sutra na
nossa opinião, mas você pode estudar e comparar com outras traduções também e
escolher qual representa mais verdades para você.
03
2. Yoga Sutra: Capítulo 01 - Samadhipada: O caminho do Samadhi
04
O filme traz várias histórias motivantes com gente até recebendo dinheiro pelo
correio. Só que na realidade, a maior parte das coisas que mentalizamos não se
concretizam. A partir dessa dura, mas verdadeira constatação, aceita-se o fato de que
não basta mentalizar para que as coisas aconteçam ou acredita-se que falta algum
Gyana Vidya.
Finalmente pela própria experiência pessoal de cada leitor desses ensinamentos que
ao testá-los percebe-se seu real valor e continua a usar esse conhecimento ao longo
de toda a vida.
05
Patãnjali não é o pai do Yoga
acreditar nas paranormalidades descritas no 3º capítulo (vibhuti pada) tais como ficar
A tradução deste Yoga-Sutra foi feita por Rajnath com validação de Mangalnath, dois
yogins da Tradição Natha, a Tradição que criou o Hatha-Yoga e da qual Patanjali fazia
parte. Esta tradução é conceitual, não literal. Quem quiser, poderá consultar a versão
06
CAPÍTULO 1
समा$धपाद
SAMADHIPADA
Yoga é Samadhi
07
अथ योगानुशासनम ् ॥१॥
atha yogAnushAsanam ||1||
atha yogAnushAsanam
Atha - “E agora...” (significa uma bênção para o começo de algo); Yoga - absorção em samadhi;
Anu - de acordo com a tradição;
Shasanam - (shas implica uma instrução que acontece juntamente com a disciplina), portanto
shasanam significa instrução e também disciplina.
yogashchittavrîttinirodhaH ||2||
yogashchittavrîttinirodhaH
Vritti - turbilhões;
Comentário
A partir desse sutra, não haverá a tradução de cada palavra, mas somente o sutra completo e
o comentário.
Nirodha (estado de ausência das volições da consciência). O objetivo do Yoga é que esse nirodha
produza a compreensão de que na verdade nada pode abalar o observador é um efeito do
samadhi.
08
“Yoga é Samadhi” Vyasa Nessa definição de Patanjali ele está dizendo que Yoga é
igual a samadhi. A “prática do yoga” é o caminho para o samadhi. Ao comentar esse
sutra, Vyasa, o principal comentarista do YS disse: “Yoga é Samadhi”
O processo não é revelar o EU, mas perceber algo que sempre esteve ali. Um ponto
que nunca se deslocou, sempre esteve em nirodhah, completa ausência de agitações.
O Yoga não demoniza a mente, mas sabe que são suas agitações, vrittis que
produzem o sofrimento. Para explicar como é a agitação ou identificação que produz
o sofrimento.
Há uma metáfora que explica esse distanciamento da agitação mental que produz o
sofrimento comparando duas pessoas num dia de feira na cidade. A primeira pessoa
vê a feira do alto de uma colina e aquilo não a abala em nada, a outra está dentro da
feira, sendo conturbada pelo barulho e por todo o tipo de distração. A que está
distante apenas percebe, não é afetada pelo barulho ou pela agitação, enquanto a
pessoa que está dentro da feira está sujeita a todo tipo de perturbação.
09
O que é chitta da frase que define o Yoga segundo
Patanjali?
Imagine que você está passando na rua e um carro passa numa poça de
água e dá um banho em você. O primeiro aspecto de chitta (a gaiola) é o
que percebe o banho, esse aspecto é buddhi. O que apenas constata. O
segundo aspecto de chita conduz a percepção para a personalidade
observando o quanto o fato o afeta diretamente. É o macaco ahamkara,
expressão que refere-se a egoidade. O terceiro aspecto é a parte da
mente que cria a narrativa e uma história para contar e resolver o
problema.
10
Buddhi é um aspecto importante no Yoga, é o aspecto estimulado na
Meditação. Buddhi significa o impassível, aquele que apenas percebe. A
expressão dá origem a palavra Buddha, que é aquele que não é afetado
e se mantém sereno, pois entende que o que produz sofrimento na
visão do Yoga são os vrittis e não a mente.
Comentário
11
व1ृ . साDHयIमतरJ ॥४॥
vRittisArUpyamitaratra ||4||
1.4- Fora do samadhi você sempre estará identificado aos turbilhões mentais, ao invés de sua
Fonte. Para Patanjali só há dois caminhos ou você entende a diferença para mente ou você irá
produzir sofrimentos a partir dos vrittis.
Comentário
Para isso ser aprendido, o Yogin deve dedicar-se à Meditação. Ele precisa vivenciar essa não
identificação e não apenas ouvir um professor ensinando, pois as palavras, por mais próximas
da essência que estiverem, continuam sendo vrittis. .
व.
ृ यः पLचतMयः िNलAटािNलAटाः ॥५॥
1.5- Embora nem sempre isso seja sinônimo de sofrimento para o ego. Pois existem
experiências não-dolorosas.
Comentário
A identificação com os vrittis foi explicada no sutra I, IV. Nem todo vritti é doloroso e por isso é
tão difícil desapegar deles.
12
Qमाण 1वपयSय 1वकUप 2न@ा Cमत
ृ यः ॥६॥
pramANaviparyayavikalpanidrAsmritayaH ||6||
1.6- Existem 5 tipos de vrittis (turbilhões da mente que turvam a visão de nossa real
natureza): o conhecimento correto, conhecimento equivocado, o imaginar, o sono e o
rememorar.
Comentário
Aqui Patanjali lista coisas que ocorrem na mente fora do samadhi. Foi a forma
encontrada por ele para detalhar o processo, assim como em muitas outras partes
do Yoga-Sutra. O Yoga-Sutra descreve racionalmente aquilo que está acima do
próprio racionalismo. E a tentativa de descrever com palavras aquilo que É.
13
QWयXानम
ु ानागमाः Qमाणा2न ॥७॥
Comentário
Existem três formas de obtê-lo: percebimento direto e claro (do Ser), pela correta dedução
(por conseguir discernir entre o Eterno e o ilusório. E o critério é que o que não é eterno é
ilusório) e pelo ensinamento de um mestre.
1वपयSयो IमZया[ानमत@प
ू Q2तAठम ् ॥८॥
1.8 - O conhecimento equivocado é qualquer outro tipo de conhecimento que for deduzido a
partir das formas e não da experiência direta na Natureza Real do Eu.
Comentário
Assim como no início Patanjali deixa claro que também com relação ao conhecimento, ou você
o absorve diretamente da experiência ou, por mais elaborado que seja, sempre será
conhecimento imanente.
14
श_द[ानानप
ु ाती वCतश
ु a
ू यो 1वकUपः ॥९॥
1.10) O estado mental do sono se apoia na ausência de cognição (não tem nada a ver
com o samadhi).
Comentário
O 4º estado , Turya ou Samadhi, corpo ligado e mente desligada! Temos três estados,
que são:
1- vigília, (Jagrat)
2 - sonho (Svapna)
15
Pessoas perguntam se o sono profundo se assemelha ao Samadhi pela pausa
nos pensamentos. No entanto, em sono profundo (Sushupti) pode parece não
haver pensamentos, mas o que não há é a consciência deles.
अनभ
ु त
ू 1वषयासंQमोषः Cम2ृ तः ॥११॥
Comentário
16
अiयासवैराkयाiयां तिaनरोधः ॥१२॥
Comentário
Comentário
Abhyasa pode ser entendida como disciplina de repetir algo até a excelência.
1.14) Porém este nirodha só se firma se for feito por um longo tempo, sem
interrupção e com profunda dedicação, consolidando o samskara de nirodha.
17
Samskaras são marcas deixadas na mente pelas nossas ações, pensamentos e tudo
aquilo que chega até nós pelos 5 sentidos. Tais marcas não são passivas, exercendo
uma poderosa força na ação de nossa psique. As ações podem ser de dois tipos:
vyutthana (que levam para fora) e nirodhah (que inibem os processos mentais,
porém não a Consciência). O yogin procura cultivar este último, que vai na contramão
do primeiro.
oAटानq
ु 1वक1वषय1वतAृ णCय वशीकारसंrणा वैराkयम ् ॥१५॥
Comentário
É a prática da indiferença a tudo que não seja o Eu. É a prática de retirar o foco das
coisas percebidas e imaginadas (o mundo dos cinco sentidos mais a mente) e voltar
este foco ao Eu (e permanecer neste foco com abhyasa).
18
तWपरं पs
ु षtयातेः गुणवैतAृ uयम ् ॥१६॥
1.16 - Tendo em mente que todo o universo é uma manifestação do Eu, então, surge
a indiferença às coisas compostas pelos gunas (o mundo material dos 5 sentidos
mais a mente).
Comentário
Esta indiferença surge com a visão do Supremo Eu Silencioso que ocorre no último
estado de vairagya. Quando nos desapegamos do que não É, o que É revela-se por si
mesmo. Perto disto o resto torna-se sem graça.
1वतकS1वचारानaदािCमताsपानग
ु माWसंQ[ातः ॥१७॥
Comentário
Samadhi não é um estado, é uma prática que poderia muito bem ser chamada de
"meditação profunda", por ser a continuidade de Dhyanam como veremos no
capitulo 2. Os primeiros samadhis que são os samadhis "com semente" (sa-bija) são
chamados de samapattis para diferenciar do último samadhi, o "sem semente" (nir-
bija)
19
1वरामQWययाiयासपव
ू ःS संCकारशेषोऽaयः ॥१८॥
1.18 - Isto surge com o samskara criado por abhyasa através da prática.
Comentário
1.19 - Este é o sentimento dos que estão incorpóreos na Criação. Tal sentimento nasce da persistência
do Eu.
Comentário
qwधावीयSCम2ृ त समा$धQ[ापव
ू क
S इतरे षाम ् ॥२०॥
1.20 - Visto que o estado que surge da prática do Samadhi desvanece-se tão logo a prática acaba,
podemos reter/prolongar isto através da fé nos shastras (escrituras) e no Guru, através da firme
disposição da vontade e através de um esforço rememorativo do Eu. Retendo assim a percepção
intuitiva do Ser nas atividades quotidianas.
Comentário
20
तीyसंवेगानामासaनः ॥२१॥
tIvrasanvegAnAmAsannaH ||21||
1.21 - Isto está próximo quão mais dedicado e inquieto para atingir a libertação o praticante estiver.
Comentário
Ele está falando do Samadhi em que os mais dedicados tem mais chance de alcançar.
मद
ृ म
ु zया$धमाJWवा.तोऽ1प 1वशेषः ॥२२॥
1.22 - Você pode querer pouco, médio ou muitíssimo (principal objetivo da sua vida). Daí vem a diferença
de como e quanto os praticantes evoluem no caminho.
Comentário
ई,वरQ|णधानाwवा ॥२३॥
IshvarapraNidhAnAdvA ||23||
1.23 - Também há a via inconsciente para a obtenção do conhecimento intuitivo que é a entrega
absoluta ao Íshwara.
Comentário
21
Nलेश कमS 1वपाकाशयैःपरामAृ टः पs
ु ष1वशेष ई,वरः ॥२४॥
Comentário
Comentário
22
स एष पव
ू •षाम1पगs
ु ः कालेनानव€छे दात ् ॥२६॥
1.26 - Atemporal, é o mestre dos antigos mestres. Por ser o mestre interno de cada
Comentário
Comentário
tajjapastadarthabhAvanam ||28||
23
ततः QWयNचेतना$धगमोऽHयaतरायाभव,च ॥२९॥
limitações/obstáculos.
Comentário
As limitações que impediam o samadhi, será explicado no próximo sutra quais são
eles.
vyAdhistyAnasanshayapramAdAlasyAvirati
bhrAntidarshanAlabdhabhUmikatvAnavasthitatvAni
chittavikShepAsteantarAyAH ||30||
praticante): (1) desinteresse, (2) preguiça, (3) doença, (4) dúvida, (5) falta de
deixa a prática instável e fácil de ser abandonada por opiniões de terceiros, pressão
social ou falta de firme vontade), (8) falta de sensibilidade para sentir o caminho e (9)
desatenção.
24
दःु खदौमSनCया…गमेजयWव,वासQ,वासाः 1वXेप सहभव
ु ः ॥३१॥
duHkhadaurmanasyAñgamejayatvashvAsaprashvAsA
vikShepasahabhuvaH ||31||
Comentário
Estas são as consequências das dispersões.
तWQ2तषेधाथSमेकत†वाiयासः ॥३२॥
tatpratiShedhArthamekatattvAbhyAsaH ||32||
1.32 - Para evitar isso o yogi deve concentrar-se (vivenciar) no Atman, o seu Eu real.
Comentário
Atman é uma individualização do Purusha.
maitrIkaruNAmuditopekShANA.n
sukhaduHkhapuNyApuNyaviShayANAn
bhAvanAtashchittaprasAdanam ||33||
25
Q€छदS न1वधारणाiयां वा QाणCय ॥३४॥
1.34 - Alcança-se isso através de uma respiração profunda e calma com atenção aos
intervalos de não-movimento existentes entre os sucessivos movimentos, e tendo
consciência de que você é o Observador.
Comentário
Lacunas de silêncio, tudo vem do silêncio e volta ao silêncio.
Comentário
26
शोका वा rयो2तAमती ॥३६॥
vishokA vA jyotiShmatI ||36||
Comentário
A luz é o autoconhecimento.
1.37 - Ou quando a mente está desfocada dos objetos dos sentidos (pratyahara).
Comentário
svapnanidrAj~nAnAlambana.n vA ||38||
Comentário
27
यथाIभमतzयानाwवा ॥३९॥
yathAbhimatadhyAnAdvA ||39||
Comentário
1.40 - Ao exercitar Atman (o Ser, o Verdadeiro Eu) ele estende-se desde as menores
partículas aos corpos celestiais.
Comentário
Xीणव.
ृ ेरIभजातCयेव मणेˆह
S mतˆ
ृ हणˆा‰येषु तWCथतदLजनता समाप1.ः ॥४१॥
kShINavRitterabhijAtasyeva maNergrahItRigrahaNagrAhyeShu
28
तJ श_दाथS[ान1वकUपैः संकŠणाS स1वतकाS समाप1.ः ॥४२॥
Comentário
Cम2ृ तप‹रशw
ु धौ CवDपशa
ू येवाथSमाJ2नभाSसा 2न1वSतकाS ॥४३॥
Comentário
O yogin vê nas coisas e nas pessoas não a ideia conceitual que as define, mas as vê
como projeções/emanações de seu Eu (Atman-Brahman).
29
एतयैव स1वचारा 2न1वSचारा च सŒ
ू म1वषय ‚याtयाता ॥४४॥
Comentário
सŒ
ू म1वषयWवdचाIलuग पयSवसानम ् ॥४५॥
Comentário
30
Conclusões finais
O Este é apenas o primeiro capítulo dessa obra clássica, mas temos certeza que este trecho
já tem muito a nos ensinar sobre autoconhecimento.
A sabedoria do Yoga-Sutra pode ser usada tanto no dia a dia do yogin quanto
na sua prática. Espero que essa sabedoria tenha iluminado o seu caminho e
que você retorne a esses ensinamentos regularmente na sua trajetória.
Namastê!
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