Livro Único - My Life in Shambles
Livro Único - My Life in Shambles
Livro Único - My Life in Shambles
Filadélfia
Especialmente o anonimato.
—Você conseguiu!
Eu sorrio para ela e quando volto a meus pés, noto que meu pai
e minha mãe se juntaram à sessão de saudação improvisada no
foyer.
—Eu acho que você está linda, Valerie, — meu pai me diz
calorosamente. Ele é muito sensível às coisas que minha mãe diz
hoje em dia, não como quando eu era mais jovem.
—Ela não tem que falar sobre nada, — diz meu pai enquanto
me despeja gemada da tigela e é então que eu noto que ele está
usando sua gravata alegre de boneco de neve que ele sempre usa na
véspera de Natal. —Aqui está, querida.
—Angie, — meu pai avisa porque todos nós sabemos que nunca
é apenas uma coisa quando se trata dela e o que quer que seja
provavelmente doerá. Ela fica atrás da nossa mãe. Eu já estou
estremecendo.
Eu suspiro. —O que?
Pode também acabar com isso, porque já sabia que estaria
acontecendo.
—Eu sabia que o cara não prestava, — diz ela. —Eu sabia desde
o momento em que você o conheceu. Quero dizer, vamos lá. Seu
nome é Cole Masters. Ele parece um idiota malvado de um show na
CW.
—Idiota! — Tabby grita, embora eu saiba que ela não tem ideia
do que isso significa.
—Angie, sua língua, — minha mãe diz, mais pelo fato de que ela
odeia vulgaridade ao invés de qualquer xingamento na frente de
seus netos. —Você é mais civilizada do que isso.
Cole é tão lindo que chega a ser surreal. Tipo estrela de cinema.
Até Sandra disse que ele deveria estar em filmes. Mas Cole era todo
sobre o dinheiro de Nova York e teve enorme sucesso com um
aplicativo e agora dirige sua própria empresa, tudo com vinte e sete
anos de idade.
Ele também era muito enigmático e persuasivo e eu me
apaixonei por ele, eu me apaixonei por ele completamente,
profundamente e como nunca. O fato de que ele me queria, apenas
uma escritora humilde com mais curvas do que magreza, ao invés
das modelos do Instagram demasiada magras, com preenchimento
labial que estavam se jogando nele, me surpreendeu. Acho que
consegui encantá-lo tanto quanto ele me encantou.
Eu disse a ele que pensaria sobre isso. Fui para uma longa
caminhada até o rio e voltei.
O que significava que, no final, era minha culpa ter que sair do
apartamento e dormir no sofá da minha amiga Brielle pelos últimos
dias, e minha culpa por ter perdido o homem que amava.
Mas Angie parece saber. Ela tem aquele olhar em seu rosto, e
não é só porque suas bochechas estão rosadas como sempre são
quando ela bebe vinho.
—Não leve para o lado pessoal, — diz Angie para mim. —Ela foi
para Chicago duas vezes e não me viu.
—Ai, Jesus, isso são armas, Sandra. — Eu juro que ela ficou
ainda mais magra agora, mas é o que Hollywood faz com você. Isso
ou minha mãe.
—Na verdade, a razão pela qual você não podia antes é porque
Cole não queria que você fosse. Não estou certa? — Pergunta Angie.
—Não importa.
A verdade é que Cole me convidou para a propriedade de seus
pais em Martha's Vineyard para o Natal e Ano Novo, e eu fiquei
extremamente animada para ir. Ele vem de uma grande e maciça
família. Agora, meus pais estão bem, mas o dinheiro dele é velho, do
tipo sobre o qual você só lê em O Grande Gatsby.
Grande momento.
Eu gostaria de ter alguma resposta para isso, mas ela está certa.
Embora, pelo menos, ela esteja reconhecendo o que eu faço como
jornalismo pela primeira vez.
Ela suspira e olha para mim por baixo dos seus pesados cílios
falsos, parecendo tão bêbada como sincera. —Eu realmente sinto
muito que eu não liguei para você da última vez que estive em Nova
York.
—Está bem.
—Não, não está. Lamento que eu não consiga mais ver você ou
Angie. Só quando estamos aqui para o Natal ou aniversários ou o que
for. É por isso que eu queria que você viesse para a Irlanda. Deveria
ser uma viagem de irmãs. As irmãs Stephens enfrentando os
irlandeses. Quero dizer, é a terra natal de nossa avó afinal de contas.
e você ainda parece que se encaixa bem no país. — Ela pega uma
longa mecha do meu cabelo, tingida de vermelho-escuro e puxa-a.
—Apenas venha. Eu vou pagar por tudo.
—Eu vou para a cama, não para a Irlanda, — digo a ela, não
querendo mais falar sobre isso. Fico de pé instável e estendo a mão
para ajudar Sandra, mas ela me afasta.
—Eu vou ficar com Angie um pouco, — diz ela, tomando seu
vinho.
—Ok, mas lembre-se que o Papai Noel ainda está vindo hoje à
noite e isso pode colocá-la em sua lista de merda, — digo a ela.
O que então fez Angie se levantar por Sandra, e então tudo saiu
depois disso. Minha mãe, sentindo-se justa e com uma incessante
aljava de flechas em suas costas, deixou voar que ela estava
desapontada em Angie por não tentar o suficiente com Andrew.
Basta dizer que meu pai começou a gritar com minha mãe e
então ela deixou algumas flechas voarem para ele e para o resto de
nós, acertando o alvo todas as vezes até que todos saíssem da mesa,
renunciando ao bolo anual de Natal e conversas ao pé da fogueira
tudo o mais que costumamos fazer depois do jantar. Sandra voltou
para a cidade com as amigas, Angie levou a Tabby para dar uma
olhada em todas as luzes de Natal e eu fui para o meu quarto e me
deitei na cama, bem como fazia quando adolescente.
Demissões
Do Upward?
Oh meu Deus.
Eu nem pensei que era assim que as coisas eram feitas agora,
mas você tem isso. O que Angie disse sobre o futuro do jornalismo
de novo?
Não agora.
Eu vou.
Padraig
Dublin, Irlanda
—Você tem que voltar para casa, — minha avó diz. Suas
palavras parecem ecoar, pulando em minha cabeça sem lugar
seguro para pousar. —Ele ficou pior. — Ela faz uma pausa, sua voz
embargada. —É muito pior do que pensávamos.
—Então você precisa vir aqui o mais cedo que puder, — diz ela,
sua voz de volta para ser severa e imponente. —Ele precisa de você.
Eu quase ri disso. Meu pai nunca precisou de mim.
—Isso foi uma queda desagradável que você tomou, — diz ela.
—Eu me preocupo com você mais e mais.
—Por favor, Nana, você sabe que não sou quem você deveria se
preocupar agora.
Não nas coisas que acontecem entre nós toda vez que eu ponho
os pés na minha cidade natal de Shambles.
Eu acho que deveria ser grato por eu ter permissão para dirigir.
Nas primeiras duas semanas após a lesão, minha licença foi retirada
e eu tive que pegar um táxi para todos os lugares. Não foi um grande
negócio, considerando que costumo pegar táxis se eu não tenho que
dirigir, especialmente se eu estou indo para lugares dentro da
cidade, mas parece que minha liberdade foi tirada.
Não ajudou que fosse uma lesão tão estúpida para começar.
Num minuto eu estava com a bola e corria para cruzar a linha de
vantagem, meus olhos de águia procurando a melhor opção, no dia
seguinte comecei a ter visão dupla, meu andar vacilando. Tomei um
golpe gigante na lateral e acho que meu oponente esperava que eu
evitasse, mas não o fiz. Eu não pude. Eu nem vi ele chegando, o que
é muito diferente de mim. Parte da razão pela qual eu sou um bom
Fly Half1 é porque eu tenho olhos na parte de trás da minha cabeça.
Mesmo que eu não tenha planos, não tenho que dizer isso a ele
porque há algo em seus olhos que me diz que meus planos seriam
estragados de qualquer maneira.
—Eu não acho que ele está indo muito bem. Tenho que ir vê-lo
logo.
1
Abertura. É o grande organizador do jogo, responsável pela maior quantidade de pontos de um time nos chutes e
conversões. Além disso, é o abertura quem vai ditar a direção e o ritmo de uma partida, armando o jogo. Uma posição
que exige extrema habilidade.
—Entendo. Bem, a oferta ainda é válida se ele quiser vir a
Dublin para tratamento. O câncer de próstata não precisa ser tão
sem esperança quanto parece. Há médicos que podem ajudá-lo,
novos tratamentos que ainda são experimentais, mas podem
funcionar.
—Mas não estamos aqui para falar sobre seu pai, — diz o
médico, colocando os arquivos ao lado e cruzando as mãos sobre a
mesa. —Você pode me dizer novamente sobre o que aconteceu no
dia da concussão? Você mencionou algo sobre sua visão e é por isso
que você não viu o cara chegando.
—E agora, como é?
Ok, isso é mentira. Eu posso ter vinte e quatro anos, mas não
me sinto nem um pouco como uma adulta, especialmente agora.
Talvez um mês atrás eu teria dito sim, mas na semana passada é
como se meu cartão de adulto tivesse sido revogado, como se o
universo decidisse que eu não estava pronta para isso ainda.
Eu olho para ela com curiosidade. —Você não acha que ela seria
atriz? É tudo o que ela queria a vida toda.
—Eu acho que é assim com todos. Você não precisa ser famoso
para isso, — eu indico. —A maneira como nós a vemos é totalmente
diferente do resto do mundo. Quero dizer, isso é verdade em nossa
própria casa. Aposto que você me vê de uma forma diferente da
Sandra. Você definitivamente me vê de uma forma diferente que a
mãe.
Angie solta uma risada seca. —Eu espero que sim. Ver o mundo
através de seus olhos é aterrorizante. — Seu rosto fica sério. —
Estou muito feliz que você veio, no entanto. Eu sei que é uma hora
um pouco assustadora pra você e você quer bater nas coisas, com
razão, mas eu acho que essa viagem vai ser boa pra clarear a sua
cabeça.
Eu rio e olho para o bar para ficar de olho em Sandra. Ela está
jogando a cabeça para trás e fazendo como uma estrela de cinema
rindo de algo que alguém disse, e todo mundo parece estar
bajulando-a, como de costume. Eu normalmente não fico com
ciúmes da minha irmã, porque eu aceitei há muito tempo que ela é
de um jeito e eu sou de outro. Mas às vezes gostaria de saber como
é ter minha vida toda junta.
Angie ri. —Estou feliz por ter sua permissão. Embora talvez
seja você quem mais precise.
Aquele cara.
Como essa garota pode ser tão cega? Mesmo que às vezes eu
seja socialmente desajeitada, sou boa em pegar sugestões sociais e
humor. Talvez até um pouco boa demais, às vezes a empatia é uma
mudança que você não pode desligar. Ainda assim, é óbvio que ele
não está interessado nela.
—Sandra, você diz isso sobre todo cara que não está se
apaixonando por você, — diz Angie.
—Val, aquela garota não está fazendo uma pergunta, ela está
apenas falando, e eu tenho certeza que você vai ser rápida em pegar
os sinais.
—Alguém?
—Você prometeu.
Mas é meio difícil quando você não acredita em nada. Você tem
que começar em algum lugar, no entanto.
2
Testa, nariz e queixo.
juntamente com essa intensidade que é bastante intimidante. Uma
garota linda está atualmente encolhendo os ombros para ele e indo
embora e ele nem sequer a assiste sair.
Ah, merda.
É tarde demais para olhar por cima do meu ombro para minhas
irmãs, mas sei que elas estão me observando e por alguma razão,
também acho que é tarde demais para abortar a missão.
—Isso não parece tão ruim, — diz Angie suavemente. —Se isso
faz você se sentir melhor, ele estava observando você caminhar até
aqui. Seus olhos nunca deixaram você.
Sim, eu vim a este bar esta noite, um dos meus lugares favoritos,
sabendo que era véspera de Ano Novo e que estaria lotado, e que as
pessoas me assediariam. Eu sabia que não teria paz, mas depois do
telefonema de hoje e depois do neurologista, não havia como eu
estar sozinho em casa. Eu tinha que estar onde havia barulho e
pessoas, mesmo que eu não quisesse nada com isso, mesmo que eu
quisesse ficar sozinho.
Parece errado. Eu não deveria ter feito isso. Eu não deveria ter
sido tão indiferente a ela, deveria ter tirado a cabeça de dentro da
bunda e lido a situação um pouco melhor.
Desta vez ela está sozinha. Nenhuma das garotas que estavam
com ela está lá e ela está sentada lá, de costas para mim agora,
parecendo pequena e engolida pela multidão onde as pessoas estão
desesperadamente lutando contra a solidão delas durante a noite.
Parece que ela está abraçando a dela.
Algo sobre a maneira enfática como ela diz isso me traz de volta
ao que ela disse quando se aproximou de mim pela primeira vez. —
Você disse que fez uma resolução para dizer sim a novas aventuras.
Isso é parte disso?
Ela ri. —Não, mas talvez você deveria estar. — Ela diz isso com
diversão, provocando. —E elas são minhas irmãs. Uma acabou de
sair para ligar para a filha e desejar-lhe um feliz ano novo. A outra...
— Ela olha ao redor. —Eu não tenho ideia de onde ela foi.
Mas quando chego ao bar para fazer o pedido, vejo a outra irmã.
Ela parece vagamente familiar, mas agora de perto, é fácil ver que
elas estão relacionadas. Seu cabelo é loiro gelo, não vermelho e seu
corpo é mais magro, enquanto a de sua irmã é excessivamente
voluptuosa da melhor maneira possível. Mas elas têm os mesmos
lábios grossos, os mesmos olhos brilhantes com uma qualidade
quase etérea e fantasiosa, faces que pertencem a um conto de fadas.
Ela não me vê, ela está ocupada demais com dois caras que
parecem não acreditar na sorte deles. Ela não parece estar bêbada
ou fora de controle, então eu pego as bebidas e a deixo sozinha.
—Eu também, — digo a ela. —Eu sinto muito por ter sido rude
com você antes.
—Droga.
—Que é?
—Bem, essa maldita resolução. Bem essa merda dessa
proposta. Elas realmente iriam aceitar antes que ela se fosse. Se não
fosse por elas, eu não teria ido falar com você.
—Está bem. É só que nunca vou até os caras. É por isso que elas
queriam que eu fizesse isso.
Eu franzo a testa para ela, meus olhos olhando seu decote cheio
e macio por pouco tempo antes que eles mudem para suas delicadas
clavículas, até seu longo pescoço e parando em seu rosto
deslumbrante. —Eu vou assumir que os caras estão sempre
chegando até você.
Ela cora carmesim e eu noto que ela fica no peito. —Não. Eles
não estão.
Seus olhos estão passando por cima de mim e não sei dizer o
que ela está pensando. Eventualmente ela olha para Valerie, com
sobrancelhas levantadas. —O cara caiu em si?
—Angie, — diz ela, seu aperto de mão muito firme. —É bom ver
você de perto e não tudo isso. — Ela aponta para a linha entre as
minhas sobrancelhas e imita um rosto carrancudo.
Eu esperava que ela corasse ainda mais com isso, mas não. Ela
só me dá outro sorriso, suave, e sinto-o no meu interior.
Todos na sala sabem disso, é por isso que eles nunca pararam
de olhar para ele, durante o tempo enquanto ele falava comigo. Eu
sei que não sou nada para desprezar e que para alguns caras minhas
curvas excessivas são mais um trunfo do que um estorvo, mas eu
ainda não consigo evitar, sinto que devo estar fora do alcance desse
cara. Ele é uma estrela de rugby aqui, ele provavelmente está
acostumado a ter modelos quentes em seu braço todas as horas do
dia.
Mas mesmo que haja uma onda de tristeza que parece passar
por cima de seus olhos escuros de tempos em tempos, qualquer
coisa com a qual ele estava lidando mais cedo parece ter sido
deixado de lado. Talvez eu o distraia de seus problemas tanto
quanto ele parece me distrair dos meus.
—Deve ter sido um golpe feio. Vocês não usam capacetes como
fazem no futebol, não é?
—Eu achei que você poderia estar com fome, — diz ele. —E este
lugar tem a melhor comida chinesa da cidade.
Padraig ri. —Eu acho que você já tem uma ideia, — diz ele. —
Faça disso outra coisa a que você deve dizer sim. — Ele levanta seu
copo para o meu e nós dizemos —sláinte— de novo (embora eu
sinta que continuo massacrando-o).
A bebida é dolorosa. Tipo, o suficiente para eu quase cuspi-la
de volta. É picante e um monte de coisas que eu não consigo
descrever.
—Veja, — diz ele, acenando para mim. —É por isso que eu bebo.
Tem um sabor melhor quando sabe como vai se sentir.
Ele leva a minha pergunta com calma. —Meu pai tem câncer de
próstata. Ele tem isso há menos de um ano. Ele e minha avó
insistiram que estava tudo bem. Eu deveria ter investigado, deveria
tê-lo visitado para ter certeza. Eu deveria saber que eles são
irlandeses teimosos como qualquer outro e que eles fingiram que
estava tudo bem. Não estava tudo bem. O câncer piorou e não tenho
certeza de quanto tempo de vida ele tem.
Ele faz uma pausa e olha para mim, seus lábios se curvando em
um pequeno sorriso. —Você não parece mais como uma estranha.
Eu não sou uma menina de corpo pequeno, mas com a mão dele
sobre a minha, eu sinto como se tivesse retornado para a pequena
mulher sendo conduzida por um homem das cavernas alfa e não me
importo nem um pouco. O fato de a palma da mão dele estar quente
nesse tempo frio com o seu contato pele-a-pele me faz ter arrepios
constantemente nas costas.
Não tenho ideia de para onde estamos indo. Tudo o que sei é
que ainda não é meia-noite.
Suas mãos vão para a parte de trás do meu pescoço e para baixo
nas minhas costas. Meu queixo se inclina para cima. O resto do
mundo desaparece e eu sei que quando ele voltar ao foco, tudo será
diferente.
Às vezes é só um beijo.
Eu sei disso antes que isso aconteça.
Meus olhos se fecham e tudo que sinto é ele, sua boca se move
contra a minha, abrindo-se ligeiramente até que nossas línguas
escovem e uma onda de eletricidade percorre minha espinha como
pequenos choques. Se ele não estivesse me segurando com tanta
força, eu poderia simplesmente afundar no chão, uma garota
dissolvida, uma poça a seus pés.
—Eu não quero ficar sozinho esta noite, — ele murmura contra
a minha boca enquanto sua mão forte aperta na parte de trás do meu
pescoço. —E eu não quero pensar. Não sobre amanhã ou no dia
seguinte ou no próximo. Eu só quero estar com você. É isso.
Ele cobre meu queixo com uma mão e se inclina para frente,
beijando o canto da minha boca lentamente, em seguida,
saboreando o vinho nos meus lábios com a língua.
Puta merda
Eu continuo me dizendo para não ser tão boba sobre tudo isso,
que eu estou dizendo sim a novas aventuras, e isso inclui sexo com
essa estrela do rugby irlandesa, mas porra, se eu não estiver
morrendo por dentro de quão real isto é. Especialmente quando ele
caminha até o meio do quarto ao lado de sua cama king size e tira a
camisa.
De certa forma, eu gostaria que ele acendesse uma luz para que
eu realmente pudesse levá-lo comigo. A única luz no cômodo está
vindo da janela, uma luz fria que reflete a claridade da neve,
iluminando seu perfil. Mas é o suficiente. Eu vejo os cumes
esculpidos de seu abdômen, o músculo vigoroso de seus antebraços
e bíceps fortes, a larga extensão de seu peito. Ele tem algumas
tatuagens como Sandra previu, mas não uma tonelada. Eu gostaria
de ter tempo para conhecer todas elas e a história por trás delas.
Eu mordo meu lábio, pensando nisso. —Eu não teria ido para
casa com ninguém além de você.
—Valerie, nós não temos que fazer nada que você não queira
fazer.
Bem, ok então.
Meus olhos estão congelados em suas palavras, e quando ele
começa a remover minhas leggings e roupas íntimas, eu deixo ele,
até que eu estou nua para ele ver. Tudo feio e horrível, tudo o que eu
fui ridicularizada durante a maior parte da minha vida, tudo que eu
tive que superar, está olhando de volta para ele.
Santo Inferno.
A coisa parece perigosa, já que ele sabe melhor o que fazer com
isso ou eu vou ser empalada.
Claro que ele está falando hoje à noite e pela manhã. Claro que
não vou conseguir parar em um. Eu quero vir a noite toda.
Jesus. Eu sabia que ele era bom com sua língua antes, mas ele
está levando para outro nível. Ser fodida por ela é melhor do que
qualquer pau que já tive. Antes que eu possa juntar meus
pensamentos, a pressão está se acumulando dentro do meu núcleo
e eu estou ficando cada vez mais tensa.
—Eu poderia comer sua buceta doce por dias, Red, — ele diz
para mim, enquanto ele limpa a boca com as costas da mão.
Meu rosto fica quente e sei que pelo menos minhas bochechas
estão combinando com as cortinas. Estou prestes a dizer a ele que
sou naturalmente morena e tingi meu cabelo de vermelho-escuro,
mas antes que eu possa abrir minha boca, ele está cobrindo-a com a
dele, me fazendo refém em um beijo ardente.
Eu gemo contra ele, meu corpo já recuperado e pronto para
mais, e eu abro minhas pernas enquanto ele posiciona seu pênis na
parte inferior, esfregando a ponta grossa ao longo dos meus sucos,
os sons enchendo o quarto. É tão explícito, estou corando de novo.
Eu tento falar, para dizer a ele tudo bem, mas as palavras estão
embaralhadas e se afogam na minha garganta. Eu me concentro em
respirar. Não é como se eu tivesse sido revirginizada, já que eu não
tinha terminado com o Cole há muito tempo, mas definitivamente
parece próximo da primeira vez. Cole era grande o suficiente, mas
Padraig é outra coisa. É só quando começo a respirar devagar que
meu corpo relaxa e me estico ao redor dele.
—Tão bom pra caralho, — ele grita quando ele bombeia para
dentro de mim, seus dedos pressionando com força em meus
quadris. —Tão bom. Sua boceta é tão apertada, muito apertada para
o meu pau. Eu não posso segurar por muito mais tempo. Deus, eu
preciso vir. Eu quero gozar tão duro dentro de você.
Foda-se.
Eu não posso.
Sua mão desliza pela minha coxa. —São as cicatrizes que mais
machucam? Emocionalmente?
Sonhei em conhecer alguém como ele, que olha para mim como
se eu valesse mais do que o meu corpo.
—Eu não quero que você vá embora, — ele diz para mim.
Parece que ele quer dizer mais, mas ele não diz.
Ele concorda.
—Sinto muito, mas você vai ter que repetir tudo isso, devagar,
e então explicar tudo isso, lentamente.
—Se você conhecesse meu pai... — Ele faz uma pausa, lambe os
lábios. —Minha mãe morreu quando eu tinha dezesseis anos. Somos
apenas nós e não somos os mesmos desde então, nosso
relacionamento um com o outro... é como se minha mãe fosse a
ponte. A única coisa de que ele sempre fala é o que minha mãe queria
para mim. Apaixonar-se, casar, ter filhos. Meu pai é antiquado, diz a
mesma coisa.
Oh. Entendo. Como seu pai está morrendo, ele quer que ele
pense que finalmente encontrou o amor a longo prazo. Ele quer que
ele saiba que ele vai ficar bem quando ele partir. Ou talvez seja muito
mais complicado do que isso. O que sei é que tudo isso é muito além
da minha conta.
Eu não espero que ele ouça, mas ele faz, sentado no final da
cama, de costas para mim.
—Eu não culpo. Você está sobrecarregado. Isso tem que ser tão
difícil para você.
—Olha. Eu realmente sinto muito por ter dito isso para você. Eu
não sei o que eu estava pensando.
—Eu queria poder. Mas eu não posso fazer isso com minhas
irmãs. Vim com elas em uma viagem de irmãs, uma que realmente
precisávamos, e então deixa-las por um cara.
—Emprestada?
—Há muito que você não sabe sobre mim, querida, — diz ele
antes de sair da sala, presumivelmente para me dar privacidade
para me trocar.
Mas eu sei no fundo de mim que não é. Deve haver mais para
isso.
—A maioria tem, — diz ele. —Eu acho que sou o estranho. Até
meu pai costumava jogar profissionalmente quando eu era jovem.
Ele solta uma risada e sorri tão brilhante que realmente me dói.
Isso está errado, minha voz interior diz. Não vá. Fique! Diga-lhe
sim. Sim, sim, sim à sua ideia maluca!
Jesus.
Ele é um estranho.
Ele te deu o melhor sexo da sua vida, o que mais você quer?
Supere isso.
—Não significa que você não pode ficar triste por não o ver
novamente, — diz Sandra. —Ele não queria ver você hoje à noite?
—Ele mora aqui, sim, mas ele quis dizer como o lugar onde ele
cresceu. Uma cidade chamada Shambles. Onde seu pai mora.
—Puta merda.
Completo silêncio.
—Você me ouviu.
—Ele queria que você fingisse ser sua noiva? Por quê? —
Sandra pergunta. Então ela me bate no joelho entusiasmada. —Oh.
Oh! Esta é uma daquelas coisas de herança, onde você tem que se
casar para se qualificar para uma herança? Você vai ficar rica? Isto é
como um filme da Hallmark!
Soa forçado (quer dizer, tudo isso faz), mas me faz parar. Se o
pai dele está morrendo, essa pode ser a razão? —Eu não penso
assim, — eu digo devagar. —Quero dizer, isso significaria que você
realmente teria que se casar direito, não apenas fingir que você vai?
—Para que seu pai pudesse morrer sabendo que ele está bem,
— diz Sandra, chorando. Ela enxuga os olhos. —Oh meu deus, isso é
tão triste.
Então eu não seria uma irmã horrível se tivesse dito que sim.
—Eu não sei. Meu bilhete era barato, não poderei mudar de voo
nem ser reembolsada
Sandra aponta uma garrafa de refrigerante para mim.
—Você não acha que isso pode complicar as coisas para você?
— Diz Angie com cuidado. Eu olho para ela. Ela me conhece. Uma
vez que durmo com um cara, eu costumo cair forte e rápido, como
estou fazendo agora. Talvez a continuação do sexo quente, seja algo
ruim.
—Não desligue o sexo, ok? — Sandra diz para Angie. Ela olha
para mim com as sobrancelhas levantadas. —Mas eu estou falando
sério. O que você está tirando disso?
Diga-lhe sim.
A ideia era ridícula e eu sabia que era um erro assim que saiu
da minha boca. Eu já tive incontáveis casos de uma noite, encontros
e não teria tido esse pensamento com nenhuma delas.
E vejo uma mulher que foi devastada e cuspida pela vida. Lidar
com uma deficiência em uma idade tão jovem não poderia ter sido
fácil, e cada fraqueza aparente que ela possui, eu só vejo alguém que
teve que se virar quando a vida ficou muito difícil. Eu vejo alguém
que parece estar correndo para a vida pela primeira vez, em vez de
ir para longe dela.
Não tenho certeza do que isso diz sobre mim. Talvez pudesse
aprender uma coisa ou duas.
Mas você não pode, seu idiota, eu digo a mim mesmo enquanto
pego uma garrafa de cerveja da minha geladeira para ajudar com a
ressaca. Ela se foi. Você a assustou. Ela não podia sair desse lugar
rápido o suficiente.
Para minha surpresa, não é uma família, mas Valerie, com suas
irmãs rodeadas em ambos os lados dela.
—Oi, — diz ela com seus grandes olhos azuis. Eu sei que apenas
algumas horas se passaram desde a última vez que a vi, mas para vê-
la novamente quando pensei que nunca mais a veria, para vê-la com
o rosto fresco nos meus degraus, com a neve branca emoldurando
seu cabelo vermelho e o cabelo carmesim emoldurando seu rosto
pálido, é como se um anjo tivesse pousado na minha varanda por
engano.
—Oi. — Eu olho suas irmãs. Elas não parecem estar aqui para
fins sinistros, mas você nunca sabe com garotas. Embora eu fosse
mais ou menos filho único, nossos vizinhos que estavam crescendo
tinham cinco meninas e elas fizeram sua missão em me torturar.
—Eu acho que você é confiável, — diz ela e deixa por isso
mesmo.
—Eu sou legal. Mas se você vai fugir com um estranho e fingir
ser sua noiva por alguns dias, eu gostaria de ter certeza de que ele
não é um assassino do machado. Eu não seria uma irmã muito boa
se não fizesse a minha devida diligência.
—O quê? — Eu pergunto. —Você poderia repetir isso?
Ela acena com a cabeça. —Sim. Eu disse a elas sobre seu pai, eu
espero que você não se importe. — Sua expressão vacila em algo
como vergonha e é absolutamente adorável, porque é claro que eu
não me importo se isso significa que ela está aqui. —Elas me
disseram que era uma boa ideia.
—Bem, nós não dissemos que foi uma boa ideia, — diz Sandra.
—Mais uma ideia interessante. — Ela vem até a mesa e lança um
calendário de rugby de alguns anos atrás, um em que eu apareci nu
na capa. Eu tento manter essa coisa enterrada sob pilhas de livros,
então estou surpreso que ela tenha sido capaz de desenterrar isso
em tão pouco tempo. Talvez ela tenha visão de raio-x para os paus.
—É todo seu.
Deus sabe que minha avó tem um estoque deles que ela insiste
em dar a sua congregação da igreja.
—Eu não posso prometer que ela não vai ficar de ressaca, —
diz Sandra. —É a nossa última noite na Irlanda juntas.
Eu não posso dizer que não tenho feito essas perguntas a mim
mesmo muito nas últimas vinte e quatro horas.
Eu não posso dizer que já tive essa sensação com outra pessoa
antes. E é só o suficiente para que o meu coração acelerado se
acalme.
Agora que estou mais perto, posso ver a timidez em seus olhos,
o fato de que ela está tão insegura sobre isso quanto eu.
—Sim, mas eles tinham muitas filhas, então foi uma ocorrência
comum. — Ela ri e corre os dedos pela lateral da janela.
Eu dou de ombros. —Sim. Mas vamos dizer que você vai para a
América trabalhar por um mês ou dois.
—Logo depois que ficamos noivos? Isso não parece certo. Quer
dizer, eu apenas estive noiva e nunca teria feito isso.
—Olha, — eu digo. —Eu não tinha ideia que era assim. Isso
torna as coisas um pouco mais... triviais agora, não é? Ainda estamos
na cidade, posso te deixar...
—Não! — Ela grita. —Não, não. Por favor. Esse é o meu passado.
—É tudo para ele. Ele está morrendo e... eu preciso fazer isso.
—Quando embora?
—No Natal.
—E como eu propus?
—Mas isso não é real... Meu Deus, você não acha que é quase
um insulto à sua mãe, ao amor de seus pais, usar o anel deles para
um noivado falso?
—Mas você não sabe que é tudo o que eles falam em Shambles?
Essa é a maldição de uma cidade litorânea. Lá nada de importante
acontece, só o vento que ora sopra para um lado e ora sopra para
outro.
—Provavelmente é isso.
Eu não tenho certeza se ele está dizendo isso porque ele já está
assumindo o papel, mas saindo pela porta da frente está quem eu
assumo ser sua avó.
Por um lado, ela é alta. Mesmo que ela esteja arqueada, ela
ainda é pelo menos dois centímetros mais alta que eu (eu posso ver
por que ela seria tão terrível com uma colher de pau). Seu rosto é
pálido e enrugado, com dobras profundas ao redor da boca, mas
seus olhos são vividos, curiosos e brilhantes. Ela está enrolada em
um casaco grande e eu não acho que há um avental embaixo. Seu
cabelo branco é mantido sob um lenço, como uma jovem rainha
Elizabeth.
No que eu me meti?
—O Major? — Eu pergunto.
3
Fawlty Towers foi uma série de televisão britânica feita pela BBC e emitida pela primeira vez em 1975 pela BBC Two.
—Ele tem um nome, — sua avó o repreende, embora tenha sido
ela quem o chamou de Major primeiro. —E falando em nomes, como
diabos é seu nome, senhorita, já que Padraig perdeu os modos em
algum lugar em um campo de rugby?
—Sim, — diz ela com cuidado. Ela traz seu olhar afiado para
Padraig. —Onde você encontrou esta então? Não pense que você já
trouxe uma garota para casa antes, muito menos alguma americana.
Você está arrebatando turistas?
Mais ou menos.
—Onde está o meu pai? — Pergunta ele. Ele está em casa por
alguns minutos e seu sotaque já está se aprofundando.
Um refrigerante?
—Ah, ah, não é problema algum. Ela parece cansada. Ela precisa
de um pouco de refrigerante. Eu vou pegar um pouco para vocês
dois.
Ainda assim, quando sua avó nos entrega dois copos de 7-Up e
diz que vai voltar a —molhar o chá, — acabo bebendo metade de
uma vez. Acho que eu estava com sede, ou talvez apenas privado de
bondade xaroposo.
Quando ela sai com o bule de chá, eu terminei o copo. Ela parece
levemente impressionada e diz para Padraig: —Sim, você precisava
de um bom mineral. Ela já parece a imagem da saúde.
Não sei ao princípio o que Padraig vai dizer, mas pelo jeito que
ele não está olhando para mim, eu tenho uma ideia.
Ela olha para ele mais um pouco, depois para mim. Finalmente,
ela diz: —Seu pai pode ter um ataque cardíaco quando acordar com
essa notícia.
—Mas ele vai ficar feliz, sim? — Ele pergunta, seu tom ansioso.
Isso é tudo que ele queria, toda a razão para fazer isso.
Há um brilho nos olhos dela enquanto ela toma seu chá. —Nós
vamos ter que esperar para ver, certo? —
Padraig
Eu sei por que ela achou que não era uma ideia sensata. A
última coisa que quero é que pareça que estou cuspindo no túmulo
da minha mãe, mas a verdade é que isso significaria algo para o meu
pai. Contanto que ele nunca descubra a verdade, então ele pode
morrer sabendo que eu encontrei o amor verdadeiro e que esse
amor presta homenagem ao amor entre meus pais.
—Bem, olá jovem rapaz, — diz Major quando ele sai do seu
quarto e vê nós três no corredor. —Não sabia que você estaria por
perto. Faz algum tempo.
—E ele vai ficar um pouco dessa vez, não é garoto? — Nan diz,
me cutucando com seus cotovelos afiados.
—O que?
A perda dela.
Maldita perda.
Imagino que o meu pai sinta o mesmo. Ele também nunca mais
foi o mesmo depois disso e o nosso relacionamento desmoronou sob
o peso da nossa dor partilhada. Nós nos viramos um contra o outro
e nos afastamos um do outro.
Meu pai sempre foi um homem grande. Tão alto quanto eu,
embora ele sempre tivesse dito que era um pouco mais alto, mas
definitivamente com mais músculos que mais tarde na vida se
tornou mais massudo. Eles o chamavam de O Urso no campo de
rugby.
Isso dói.
Ele acena a mão para mim com desdém. —É, mais alguma coisa
disso e eles irão ser menos que aquilo. Eu não preciso de
explicações, meu filho. Você está aqui agora.
Ele olha para mim. —Depende. Você está aqui para fazer meus
últimos dias um inferno ou o quê?
Ele abre os olhos e se vira para olhar para mim. Eu sei que estou
desfocado para ele sem os óculos, mas tenho a sensação de que ele
prefere assim. Ele não precisa me ver.
Ele franze a testa. —Por quê? Não me diga que é por minha
causa. Eu posso aguentar por mais tempo do que você pensa. O
diabo é engraçado assim.
—Ela disse sim. Ela está aqui agora. Você vai encontrá-la no
jantar.
Ele balança a cabeça. —Ela está de barriga, não está.
Mas eu não posso forçar isso. Talvez seja cedo demais. Talvez
este seja apenas o primeiro estágio para consertar o que tínhamos
antes que seja tarde demais.
Ele tosse com a água. —Para quê? Você ainda está sofrendo com
a concussão?
Eu rio. —Eu não sei sobre isso. Nan está no comando e nos
colocou o mais longe possível um do outro.
Mesmo que a minha visita com o meu pai esta tarde não tenha
sido exatamente como eu esperava, eu imaginei que alguns dias com
Valerie por perto e ele poderia estar tão encantado com ela quanto
eu.
Eu também imaginei que teria algum tempo com Valerie
sozinha antes do jantar, talvez para ir para a cidade e conferir
algumas lojas ou dar um passeio, mas quando voltei da cabana,
encontrei Nan na cozinha que me disse que Valerie estava tirando
um cochilo e não deveria ser perturbada. Ela olhou para sua colher
de pau favorita quando disse isso, então eu sabia que não deveria
me arriscar.
—Sim, ela é uma ajuda real. Ela faz o café da manhã todas as
manhãs para que eu possa fazer uma pausa, limpar os quartos, fazer
a lavanderia dos hóspedes. E à noite ela vem para o jantar, ajuda a
servir os hóspedes, se houver e ajuda o seu pai. Ele pode andar bem,
ele só precisa de um pouco de apoio alguns dias e você sabe como
ele é, ele não ousa confiar na sua sogra.
Nós voltamos para minha cidade natal para viver uma mentira.
—Jet lag, — diz ela. —Eu pensei que eu estava aqui desde antes
do Natal.
—Esqueci. Mas posso dizer que você está doente. Eu tenho que
dizer, você está tornando muito difícil não entrar naquela cama com
você.
Ela sorri para mim, parecendo ao mesmo tempo tímida e
graciosa.
—Val será.
—Porque que você está fazendo isso? — Ele franze a testa para
ela. —Eu só estou morrendo, eu não sou o rei.
Eu rio e aperto a mão dela. —Se ela vê você como rei, papai, eu
não discutiria com ela.
Gail não está surpresa em me ver, então ela deve ter sido
avisada. Ela também parece bem, se não um pouco magra, com
olheiras sob os olhos.
—Padraig e esta moça aqui vão se casar, — ela diz em voz alta
e em seu ouvido.
—Oh que pena, — ele diz. —Você fez uma boa escolha, Padraig,
ela é uma coisa boa. — Ele olha para o meu pai e minha avó. —E
vocês dois têm guardado segredo!
—Eu acho que sua mãe gostaria muito disso. — Ele engole em
seco, e estou percebendo que pela primeira vez em muito tempo,
meu pai está realmente mostrando alguma emoção. Caramba. Eu
acho que isso realmente significa algo para ele. Alívio e culpa caem
dentro de mim e não sei qual sentimento vai vencer, mas tudo que
sei é que é isso que eu queria.
Não é?
Ele olha para Val. —Eu amava muito a mãe de Padraig, e ela foi...
ela foi levada muito cedo, — ele diz com uma corrente de pesar em
sua voz. —Ambas foram.
—Irmã? — Val pergunta. Ela olha para mim. —Eu pensei que
você fosse filho único.
—Não, — meu pai diz rispidamente. —Não. Ele tinha uma irmã.
Por cinco dias. Durante cinco dias no hospital, naquela pequena
incubadora, estava Clara. Minha esposa morreu dando à luz a ela.
Clara morreu cinco dias depois.
—Claro que você pode ter o anel, Padraig. — Ele olha para Val.
—Valerie, — ele diz para ela, —Você parece uma jovem adorável.
Fico feliz em conhecê-la melhor nas próximas semanas ou meses ou
por quanto tempo você ficar aqui.
Ah, porra.
Não sei bem como, mas sei que de repente, toda esta farsa está
prestes a ficar ainda mais complicada.
Valerie
Boa! Um país tão legal! Posso estender minhas férias haha lol, eu
digo a Brielle
Ela sabe que é você! Você não precisa continuar dizendo Sandra!
—Você não está com fome? Você não tomou café da manhã.
—Tudo bem.
—Sente-se. Eu vou trazer comida para você.
Estou prestes a dizer que tudo está bem, mas acho que preciso
ser mais direta com ela e provavelmente, com todos em geral. —
Ovos, bacon, feijão, — eu digo a ela, já que é o café da manhã que eu
tenho desde que cheguei à Irlanda. —Obrigada.
Yum
—Então, você vai se casar com Padraig, — diz Gail, com a voz
firme e animada. —Você é uma mulher de sorte. Você sabe disso,
não sabe?
—Eu não vejo o que isso tem a ver com qualquer coisa, — eu
digo rigidamente. Eu levanto meu queixo desafiadoramente, mas
então percebo que tenho um pouco de molho de feijão no meu rosto.
Merda.
Mas eu mantenho o seu olhar com o meu quando ela diz: —Eu
só estou dizendo, ele teve uma grande vida antes de você aparecer.
Não diga muito bom dia para você, não diga muito bom dia para
você.
—Bem, parece que você sabe o que está fazendo, — digo a ele.
Ele está tão confiante e confortável com essa coruja em seu braço. A
coruja parece tão calma, embora um pouco sonolenta.
—Eu sou bom em fingir, — diz ele com uma piscadela. —De
qualquer forma, eu só posso lidar com o Hooter aqui. O outro— ele
acena com a cabeça para as jaulas, —ele não me aceita tanto. Ele é
um falcão de cauda vermelha, chamado Clyde. Acho que ele é muito
parecido com meu pai dessa maneira.
Seu sorriso se alarga. —Isso é algo que eu não ouvi antes. Onde
você estava quando eu era adolescente e passeava com pássaros o
dia todo?
Ele recua para as tiras finas de couro que estão penduradas nos
tornozelos da coruja e os coloca entre os dedos. —Estas são as
jesses. Normalmente eles amarrariam em uma tira presa à manopla,
como uma trela, mas Hooter não vai a lugar nenhum, então eu
apenas seguro os jesses levemente. Caso contrário, ele se conecta ao
poleiro aqui.
—O quê? — Eu pergunto.
Ele está no chão como um animal ferido, mas ele não está se
levantando. Seus olhos estão bem fechados e ele está tentando
respirar. —McGavin. A coruja. A coruja, — diz ele, voz rouca. —Eu
não posso perdê-lo. Eu não posso perdê-lo.
Eu olho ao redor, tentando ver a coruja nas árvores próximas,
mas não consigo. —Eu não sei onde ele foi. O que aconteceu? Você
está bem?
—Eu não estou bem. Eu não posso perder essa coruja. Eu não
posso, — ele continua murmurando para si mesmo. —Meu pai vai
me matar, ele vai me matar.
Merda. Ele está mais chateado com a coruja do que com o fato
de perder o equilíbrio sem motivo e cair como uma maldita árvore.
Eu acho que ele está olhando para mim, mas quem sabe.
A coruja me vê.
Começa a voar.
Ah Merda.
Ele realmente vai pousar em mim.
Eu não sou fraca e os meus braços são o oposto dos galhos, mas
isso é um grande pássaro com um grande bico e grandes garras, e
vai pousar no meu braço e parti-lo em dois.
4
No inglês “Padraig and the mews”
Sento-me no chão ao lado de Padraig, ignorando a picada da
grama congelada contra minhas leggings. —Hey, — eu digo a ele
suavemente. —Está tudo bem. Eu fiz isso.
—Pelo quê?
Ou talvez muito.
No fundo, eu sei que estou indo para uma mágoa tão profunda
que pode me destruir de uma vez por todas.
—Que tal irmos ao bar do meu amigo Alistair? The Velvet Bone.
—Eu não quero dirigir se estou bebendo, — ele diz para mim
uma vez que estamos fora do alcance da voz. —Mas é ao fim da
estrada. Você acha que consegue lidar com a caminhada?
É uma noite linda, o céu está tão claro que eu posso ver todas
as estrelas.
—Não?
—Acho que sim, — digo eu. —Mas ainda me faz sentir pequena.
Olha só para isto. — Chegamos à estrada principal e eu mostro a
paisagem. À noite, as colinas verdejantes se tornam tão negras e
insondáveis quanto os céus acima, e a luz ocasional de uma casa
pode ser outra estrela. —Tudo se mistura, tudo se torna um. Não faz
você pensar que estamos sentados na beira do universo? Isso não
faz você parecer insignificante?
Sua mot?
E como aconteceu toda vez que Padraig diz essa palavra, a sala
fica quieta.
Então ele está com uma calça jeans charcoal que faz sua bunda
redonda e musculosa parecer incrível, suas botas, seu casaco de lã
preto amontoado sob o banquinho em uma pilha. Não tenho dúvidas
de que o casaco é de uma espécie de estilista, isso me deixa perplexa,
a ideia de ter tanto dinheiro para fazer isso com suas roupas e não
me importar.
Ou talvez seja apenas que ele é um cara. Além de seu lugar, que
apesar de pequeno, deve ter custado uma tonelada, seu carro e suas
roupas, Padraig não dá nenhuma impressão de que ele está ciente
de seu dinheiro. Ele não é presunçoso com isso, embora eu tenha
certeza de que ele poderia ter um estilo de vida luxuoso se quisesse.
Tenho a sensação de que pode ser uma coisa irlandesa, para me
manter humilde e manter a sua riqueza escondida. Ou talvez seja a
educação dele.
Eu penso no que falamos anteriormente na falcoaria. Quão
difícil deve ter sido para ele. Sua mãe se foi. Uma irmãzinha que só
viu o mundo durante cinco dias. Tanta perda, tão rápido e tão cedo.
Tive a sorte do meu acidente ter ocorrido quando eu era jovem, pois
consegui me adaptar e viver o resto da minha vida com essa nova
realidade.
Mas para perder tanto aos dezesseis anos, não sei como é que
ele o fez. Então perder o relacionamento com seu pai... Posso ver por
que tudo isso importa tanto para Padraig, mesmo que ele esteja
carregando tanta coisa lá no fundo.
—O que eu faço?
—Você deveria escrever sobre rugby. Você vai ter muito mais
sucesso. Ei, ou você pode fazer uma fita de sexo. Esses sempre
correm bem quando há um jogador de rugby envolvido. Venda isso
e bingo.
—Falando de dinheiro, — Padraig diz, mudando de assunto, já
que eu já estou corando com a menção de uma fita de sexo. —Como
vai o negócio aqui?
E nós bebemos.
E nós bebemos.
E nós bebemos.
—Shhhh!
E mais tarde na vida, eu fiz o que pude para fazer amizades, mas
eu queria, necessitava, precisava, que elas fossem algo mais que
superficial e mesmo assim eu tinha tanta dificuldade em converter
isso. Tive dificuldade em me abrir. Eu só queria parecer a mais
perfeita possível por fora para esconder a quão imperfeita eu era
por dentro.
Mas aqui... aqui neste pub, aqui com Padraig, eu não sinto que
tenho que me esconder. O que é irônico, considerando que eu
deveria estar vivendo uma mentira e metade das coisas que saem da
minha boca não são verdadeiras.
Mas por mais que eu esteja delirantemente faminta por ele, por
mais que eu tenha tentado ignorar a quão irritada eu tenho estado
desde ontem, quando ele se deitou em cima de mim na cama e eu
senti o quão malditamente ele estava duro, eu quero tirá-lo. Eu
quero que os lindos olhos dele rolem para trás na cabeça dele e eu
quero as mãos dele no meu cabelo e eu quero ele grunhindo meu
nome quando ele vier.
—Oh, eu não tenho muito tempo, querida, — diz ele com voz
rouca, puxando meu cabelo mais duro agora, quase ao ponto de dor.
Eu recuo apenas o suficiente para passar a ponta dele sobre meus
lábios, como se estivesse aplicando batom.
Eu sorrio para ela. —Se é isso que você quer, então é isso que
você vai conseguir.
—Oh meu Deus. Oh meu deus, — ela grita, seguida por uma
série de palavras distorcidas. Eu continuo sugando seu clitóris até
que sua convulsão diminua e ela solte meu cabelo.
Claro que eu não terminei com ela ainda. Eu não acho que vou
acabar com ela.
Porra de sorte.
Seu traseiro é perfeito e ele quer, não, ele exige ser espancado.
Jesus.
Eu estou morto.
Ela está tão molhada, tão apertada que faz meus olhos
revirarem na minha cabeça. Mesmo que eu tenha acabado de vir, eu
sei que tenho que levar as coisas devagar para que eu possa
permanecer no controle. No mínimo, preciso fazê-la vir de novo.
E de novo e de novo.
Eu quero passar a noite toda neste quarto, o corpo dela e o meu
nus, contorcidos e confusos, até o sol nascer e nós quase fodemos
até a morte.
Eu tomo uma das pílulas do meu pai, embora não seja tanto pela
minha dor de cabeça. Ultimamente, o meu corpo tem estado
extremamente dolorido, esta constante ardência nas minhas pernas,
especialmente à noite, quando parecem ter estas cãibras extremas.
As pílulas que meu pai me deu não param de queimar, mas param
os espasmos. O doutor disse-me que isso pode acontecer e para
retornar a ele quando isso acontecesse.
Eu não quero pensar sobre isso, mas sei que vou acabar com as
pílulas mais cedo ou mais tarde e o álcool é apenas uma solução
temporária.
E falsa.
Isso é tudo para mostrar, a voz na minha cabeça diz. Ela não é
realmente sua, não nesse sentido. Ela é um pássaro em seu braço por
agora, mas mais cedo ou mais tarde, ela vai voar para longe.
—Você vai ter que ajudar a si mesmo, garoto, — minha avó diz
para mim.
—Mas eu não quero apenas ficar por aqui. Eu quero ajudar ele.
Você deveria me usar.
—Eu não acho que você sabe o que está fazendo, — diz Gail.
Isso foi um golpe baixo, mesmo para um cara com muita dor.
—Não.
—Oh, você quer saber? Você sabe que eu tenho ajudado seu pai
há meses agora e eu nunca ouvi um pio de você.
Hmmm. É possível que Gail não esteja com raiva de mim porque
eu era um idiota quando estávamos juntos, só que tenho
negligenciado meu pai.
—Eu fiz. Muitas vezes. Nan disse que tudo estava bem.
—Muito bem. Isso foi o que pensei. Que tudo estava bem.
—Eu sei.
—Mas você não está realmente, está? Você está aqui porque se
sente culpado e quer consertar as coisas até que ele vá. Você quer se
absolver. Você quer provar algo para ele, mas ele sabe que você não
estaria aqui de outra forma.
Minha mandíbula aperta. —Isso não tem nada a ver com ela.
Isso é sobre o meu pai. E eu não me importo com o que você e sua
atitude de Holy Joe têm a dizer sobre isso. Estou aqui e vou ficar aqui
porque sou filho dele.
—Se você é filho dele, talvez você devesse mostrar isso a ele.
—Estou tentando.
Deixando-me lá fora.
E agora.
—Padraig?
Eu acho que ela pode dizer isso também porque ela balança a
cabeça cautelosamente. —Oh, tudo bem. Certo. Eu preciso pegar
minha bolsa?
—Sobre o que?
Ela está certa. Estou sendo egoísta. Eu sei disso. Mas ainda dói.
Dói saber que isso é o que está acontecendo agora. Sobre deixá-lo
mais confortável antes de morrer.
Ele vai morrer naquele chalé e vai morrer do jeito que Gail disse
que morreria, profundamente infeliz. Porque eu não posso alcançá-
lo. Eu não posso consertar ele.
Eu...
Oh merda.
Ah não.
Agora não.
—O que?!
Com a pouca força que tenho pego minha perna no joelho e tiro
o acelerador. É como mover um tronco.
—Oh meu deus, — diz ela, acenando com as mãos no ar. —Oh
meu Deus. Eu não posso acreditar nisso. Nós quase morremos. E
aquele filho da puta nem parou para nos checar!
Ela olha para mim, suas mãos no meu rosto. —Você está bem?
O que aconteceu? Você perdeu o controle de suas pernas? O que
aconteceu?
Ela exala e pega minhas mãos em suas mãos, olhando para mim
com olhos suplicantes. —Está bem então. Por favor, me deixe entrar.
Ela sacode a cabeça. —De jeito nenhum. Você me diz agora. Vou
tirar o carro da vala depois.
E aí está.
A verdade.
—O que?
—Existem tratamentos.
—Você sabe que não há cura. Você apenas tem que aprender a
conviver com isso e gerenciá-la.
Eu seguro ela.
E seguro ela.
E seguro ela.
Valerie
—Não, elas não são. Suas pernas são longas— digo a ele —
Agora aperte o cinto de segurança.
—Ei, você foi o único que bateu com este carro. Você não pode
ser chato. —
Claro, eu não acho que ele deveria dirigir mais, não até vermos
o médico e ele também não quer contar a ninguém da sua família o
que está acontecendo, então conseguir uma carona lá estava fora de
questão. Ou ele conduz ou eu conduzo.
Muito mais.
—Eu amo ver você tão brava e excitada, — ele diz para mim
enquanto eu vou para a porta. —Melhor combinação, eu acho.
Eu estou cega.
Eu paro.
—Eu não quero que eles saibam o seu nome, — diz ele e aperta
minha mão. —Não porque eu tenho vergonha de você, mas... — Ele
para e olha para o motorista, que obviamente está ouvindo.
—Ah, isso é muito bonito, — diz o médico. Ele pega seu arquivo
e coloca sua cara de negócios. —Então, você quer começar me
dizendo como está indo para você? Desde que você ligou, vou
assumir que os sintomas estão aumentando.
O médico olha para ele. —Não me diga que você dirigiu aqui.
—Isso seria com a sua equipe para decidir. — Ele faz uma
pausa. —Mas eu aconselharia contra isso. Você precisa estar em
ótima forma para jogar o jogo do jeito que você faz, e enquanto
exercícios consistentes e fáceis são importantes no tratamento da
EM, exercícios extenuantes fazem seu corpo esquentar e quando
você esquenta, os sintomas podem piorar. Em algum momento, você
pode precisar de uma cadeira de rodas.
—Ok. Eu sei que você está noiva e que também vai colocar
muita pressão em você, mas agora eu preciso que você entenda que
isso vai ser muito mais difícil e muito mais intenso do que com sua
tia. Vai ficar muito feio antes que melhore e ele vai precisar da sua
ajuda e apoio a cada passo do caminho. Eu quero que você esteja
pronta para isso e para tudo que esta doença vai jogar nele.
—Eu não penso assim, — diz Padraig, zombando. Ele olha para
mim. —Não há nenhuma maneira maldita que qualquer uma dessas
coisas possa acontecer perto de você.
Padraig tira o casaco e vai direto para a cama, caindo sobre ela
como uma árvore, o rosto primeiro. —Acho que não estou muito
bem no momento, — diz ele resmungando nas cobertas da cama.
—Eu não sei, — diz ele, com as mãos agora descendo pelo meu
pescoço e pelo meu suéter. —Isso importa?
Eu sou sua.
Ele sorri.
Eu ofego quando sua língua toca meu clitóris, então ele se afasta
e olha entre minhas coxas abertas, seu olhar se tornando primitivo,
carnal e perigoso.
—Você é como um pêssego, sabe disso? Pingando de doçura. E
meu para tomar.
Puta merda.
Com o que ele diz e o jeito que ele está olhando para mim, eu
acho que ele pode comer minha buceta até não sobrar nada.
Ele traz seu olhar para mim, olhando através de seus cílios
escuros enquanto lentamente passa um dedo sobre o meu clitóris e
em seguida, desliza dentro de mim. Minhas costas arqueiam com a
intrusão e aperto em torno de seu dedo, ofegando levemente.
—Eu adoro ver o seu rosto bonito, — diz ele grosso, —assim
como eu acaricio sua doce boceta. Eu gosto de ver como eu faço você
se sentir. Você sabe como você se parece agora? — Ele pergunta
enquanto desliza outro dedo, dolorosamente lento. —Você parece o
paraíso, querida. Puro céu.
—Eu quero você selvagem, — diz ele puxando para trás mesmo
antes de eu quase chegar, a sua linda boca molhada comigo. —Eu
quero você louca.
Ele solta uma risada áspera e então seu olhar se torna agudo e
determinado. Ele agarra minhas coxas e as puxa para que meus
joelhos se dobrem, abrindo minhas pernas. A visão de suas mãos
contra minhas cicatrizes envia uma emoção através de mim que eu
nunca soube que existia. Eu não tenho vergonha delas agora. Parece
sexy.
Porra.
Todo o ar deixa meus pulmões e ele está tão fundo, eu não acho
que haja mais espaço para ele. Eu tenho que tentar respirar ao redor
dele, esse prazer beirando a dor, o jeito que ele me faz sentir tão
cheia.
Com a mão livre, ele começa a bater nos meus seios antes de
sua cabeça mergulhar e ele pega um mamilo entre os dentes,
beliscando com força até eu gritar e então rapidamente acalmando-
os com a língua.
Oh Deus.
Oh Deus.
Muitas cicatrizes.
Esta noite, ele está me dando tudo o que tem e eu sei, eu sei no
fundo que isso significa mais do que antes. Significa algo que tenho
muito medo de examinar, mas sei que também sinto.
—O que?
—Só queria ver o motor por trás desses impulsos, — digo a ele.
—Eu juro que você poderia usar seu pênis como uma britadeira.
—Sim?
Ele não diz nada sobre isso, e o silêncio diz tudo o que ele não
pode.
—Oh, eu não vou azarar isso. Além disso, sabendo o seu último
relacionamento, eu quero ser capaz de me gabar de você antes que
tudo vá para o inferno. Você tem que aproveitar o momento. Isso é
o que você sempre costumava me dizer.
Estou apaixonada por Padraig e não sei o que isso significa para
nós.
Se houver um nós.
Às vezes ele olha para mim com tanta suavidade que eu sinto
queimar através do meu corpo, o tipo de ternura que vem da alma.
Ele me ligou ao pulsar do seu coração em Dublin e penso nisso várias
vezes ao dia.
Outras vezes ele olha para mim com dor, medo e vergonha. Ele
está lutando tanto agora que o amor tem que ser a última coisa em
sua mente.
—Sobre mim?
—Então o que ela disse sobre mim? Você contou tudo a ela?
Seu abraço aperta e ele beija meu pescoço. —Só por ser você.
Por tudo que você teve que superar. O fato de você ser muito mais
do que suas cicatrizes e você sabe disso. Você sabe o que tem para
oferecer, é o resto do mundo que é muito estúpido e cego para
perceber isso. Mas eu vejo. — Ele puxa para trás e coloca meu rosto
em suas mãos, seus olhos procurando os meus. —Eu realmente vejo.
—Sua mãe. Espero que ela esteja bem e não se importe de você
vagabundear pela Irlanda.
—Até agora ela não se importou, — digo a ela, assim que Gail
coloca a cabeça para fora da cozinha.
Ela apenas olha para mim por um momento e eu sei que ela está
me chamando de tola em sua cabeça. —Um para mim. Um para
Colin. Um para Padraig. Um para você. Um para Gail. Um para Major.
Mais alguma pergunta?
Bem, eu acho que quando ela disse que estava nos dando uma
festa de noivado, isso não significava que outras pessoas foram
convidadas. Parece que vai ser um jantar normal para nós, embora
com peixe e talheres brilhantes.
Ah e o fato de que seu pai deveria entregar o anel ao Padraig.
Mas não podemos desistir disso agora. Tudo o que posso fazer
é apenas esperar que não haja problemas.
Falando no diabo...
—Ok. Mas só por um minuto, — digo a ele. —Eu vou buscar Gail,
se for preciso.
—Claro.
—Para onde o tempo vai? De onde ele escorre? É isso que faz
ele desde o dia em que você nasceu. Você nasce e o tempo passa até
o dia da nossa morte. — Ele fecha os olhos. —Parece que foi ontem
que eu estava pedindo a mãe de Padraig em casamento. E parece
que foi ontem que ela morreu. Agora estou aqui e estou morrendo e
isso foi tão rápido, não é?
—Como ele pode ficar sozinho quando tem uma garota como
você? — Pergunta ele.
—Você pode ser solitário mesmo com as pessoas que você ama.
— Como se eu não soubesse disso.
Ela tem lido sobre eles, lido sobre tudo relacionado com a
esclerose múltipla desde que voltamos do médico. Os
antidepressivos, que não são apenas para o meu humor, mas é
suposto ajudar uma série de sintomas, não vão fazer efeito por
algumas semanas e as outras pílulas só parecem funcionar
minimamente quando eu tenho dor.
Eu acho que minha avó sabe que algo está errado. Ela me notou
cochilando e comentou várias vezes sobre como eu estava cansado
e que talvez eu devesse levar Valerie para o Mediterrâneo para um
pouco de sol, sabendo que eu não vou a lugar nenhum agora, não
como meu pai está.
Mas eu não quero contar a ela ainda. Eu vou contar. Não terei
escolha. Eu só vou esperar até que meu pai parta, para que eu possa
manter as aparências.
—O que?
Ela tenta me puxar para fora da cama, mas eu puxo para trás e
agarro seus pulsos até que eu a levo para cima de mim. Ela ri, seu
cabelo caindo no meu rosto e fazendo cócegas no meu nariz.
Ela acha que eu vou tentar alguma coisa com ela, como eu
sempre faço, mas a verdade é que estou cansado demais para sequer
pensar em sexo agora. O pensamento me assusta um pouco, mas
também estou cansado demais para ter medo disso. Eu só quero
abraçá-la, só quero olhar para ela.
Eu coloco minhas mãos ao lado do rosto dela, empurrando o
cabelo para trás para que eu possa ver seus olhos claramente. —Aí
está você, querida.
Ela corre o polegar sob o meu olho, mesmo que eu não tenha
derramado uma lágrima, e beija o topo do meu nariz antes que ela
saia de cima de mim.
—É por isso que eu digo que você precisa levar Valerie para
algum lugar ao sul. Ela está pálida como um fantasma, e está cada
vez pior.
—Que tal você tentar e ficar bonito para a sua vovó, — diz ela
antes de caminhar pelo corredor até a sala de jantar, resmungando
enquanto sai. —Você pode começar se livrando dessas tatuagens
horríveis.
Não que isso pare o Major de olhar para ela do outro lado da
mesa. Felizmente Val parece bem com isso.
Ele então olha para Valerie. —E, claro, a sua também, querida.
Ela sorri para ele e ele sorri de volta e pela segunda vez esta
noite algo dentro de mim cai. Desta vez é mais pesado, uma mistura
de alegria, orgulho e algo que não posso identificar. Val e meu pai
estão se dando bem. Eles gostam um do outro, podem significar algo
um para o outro.
Isso me deixa tão feliz que eu poderia explodir aqui na frente
de todos.
Isso me faz querer, desejar, que tudo isso deixe de ser uma
mentira.
Querido Deus, penso, por favor, perdoe-me pelo que tenho que
fazer esta noite. Por favor, saiba que estou fazendo isso por amor, que
não quero machucar ninguém. Eu só quero que isso dê certo.
E conversamos.
Se eu realmente fosse...
Se eu realmente fosse...
5
Eu rapidamente me levanto e vou até a cabeceira mesa. Meu pai
coloca na minha mão apenas com um olhar rápido no meu rosto.
Eu sorrio.
Há meu coração por trás disso, mesmo que ela nunca possa
saber.
Eu a amo.
Oh merda.
—Val!
O luar pega suas lágrimas enquanto elas caem pelo rosto dela.
—Eu não posso mais fazer isso, — ela grita.
—Eu sei! Eu sei que foi só para mostrar. Eu sei que foi mentira.
Eu sei que você o colocou para que seu pai e sua avó acreditassem
em você. Mas pense em como é para mim ouvir isso, quando você
deslizou o anel da sua falecida mãe no meu dedo!
—Eu sinto muito, — eu digo. —Eu pensei que você sabia que
isso ia acontecer.
—Olhe para mim, por favor, — digo a ela, tentando virar o seu
rosto para mim.
Eu a magoei lá no fundo.
Ela ri, suave, esperançosa e tão linda. —Então tudo o que você
disse...
—Não foi uma mentira. Nem mesmo perto. Você não poderia
dizer? Eu não sou um tão bom ator assim.
—Eu te amo.
—E eu te amo mais. —
Valerie
Mas ele nem chegou tão longe porque começou a me falar todas
as coisas que eu queria ouvir, todas as coisas que eu sinto.
Não consegui lidar com isso, não consegui mentir. Não era
apenas sobre todos os outros, era sobre mim mesma. Eu não podia
mentir para mim mesma por mais um minuto.
Mas por mais que sinta que meus pés não estão mais tocando o
chão, estou cercada por pessoas com dor.
Fizemos outra consulta médica em Dublin, desta vez fomos por
apenas um dia. Estou ficando muito boa em dirigir aqui, então não
foi um problema. O médico queria ver como os remédios estavam
funcionando e dar a Padraig os resultados do teste.
Este foi o pior cenário para nós. Em outros casos, eles podem
continuar mais ou menos normalmente, ter recaídas e crises que
vêm e vão durante vários pontos da sua vida. Mas com progressivo,
lentamente, mas constantemente piora. Ele nos disse que a
probabilidade de Padraig estar acamado em vinte anos era alta.
O que, claro, era algo que Padraig não queria ouvir. Ele mal
consegue lidar com a ideia de não dirigir ou jogar. O fato de que no
futuro ele possa não ter qualquer mobilidade, o abala até suas
próprias fundações.
Mas você só pode fingir por um determinado tempo. Ele vai ter
que dizer a eles a verdade eventualmente e quando ele fizer, o
mundo inteiro saberá.
Ele não está preparado para isso.
Então há o pai dele. A última vez que ele pareceu melhor foi
durante a festa de noivado. Quando voltamos da floresta e eu
expliquei o meu colapso como sendo tão emocionalmente
sobrecarregada (o que não era uma mentira), ele me beijou na
bochecha e nos desejou toda a felicidade do mundo.
E não o fez no dia seguinte, nem mesmo quando Nan fez Gail
fazer seu prato favorito, macarrão e cheddar. Ele não vinha para
jantar e não comia a comida quando o levavam para ele.
Ela deveria vir hoje, algo que Agnes não está muito feliz já que
isso significa que ela tem que se mudar do seu quarto na cabana para
o quarto ao lado do meu no B&B. Mas nós não tivemos nenhum
hóspede este mês, então eu não vejo como está prejudicando nada.
Na verdade, eu tenho a sensação de que Agnes está colocando uma
frente difícil e sendo mal-humorada por causa disso, porque ela
odeia o que isso significa para Colin e todos os outros.
Ele faz uma tentativa fraca de apontar para mim. —Eu quero
ensiná-la sobre Clyde, já que eu sei que você não pode.
—Você tem certeza? — Eu pergunto quando eles se
aproximam. —Você está disposto a isso?
Eles vêm até mim e ele diz, —Deixe-me ver esse anel, querida.
Padraig pega no chão, mas não dá para ele. —Tem certeza, pai?
A manopla é pesada o suficiente mesmo sem o pássaro.
Colin olha para cima e para trás em Padraig. —Ele é seu pássaro
agora, Padraig, — ele diz. —Ele também gosta de você, ele sempre
gostou. Prometa-me que você cuidará bem dele. Dê-lhe ratos em vez
de frango. Deixe-o ir caçar de vez em quando, ele pode encontrar
algo naqueles bosques. Ele quer agradar a você, você sabe.
—Isso não diz respeito a você, — diz o pai, olhando para ele por
cima do ombro.
—Eu vou sentir sua falta, velho amigo, mas eu sei que você
merece ser livre pelo resto de seus dias, isso é tudo que podemos
querer para nós mesmos. — Ele toma uma respiração trêmula. —
Você vê meu filho aqui, ele tem sua mulher para cuidar, sua carreira
e ele tem todo o seu futuro pela frente. Mais uma coruja, sabe? E sei
que Agnes também não terá muito tempo para você. Então, acho que
é hora de você viver sua vida da maneira mais livre que puder. Faça
isso por mim. Suba alto nesse céu e logo eu farei o mesmo.
Toda vez que fecho meus olhos, vejo falcões e corujas voando
sobre as florestas enluaradas. Eu sinto o vazio dos galhos, a dureza
da geada. Eu me sinto tão sozinha e tão assustada e para onde quer
que eu olhe, não consigo encontrar Padraig.
Eu mando uma mensagem para Brielle e digo a ela que não sei
quando voltarei, mas para não segurar o sofá para mim.
Eu mando para Angie que está tudo bem, embora eu saiba que
ela sabe que as coisas não estão. Ela sempre pode dizer, mesmo
através de um texto. Bem normalmente significa não estar bem.
Eu pelo menos preciso estar com ele. Sinto-me com tanto frio e
sozinha neste quarto, embora eu possa ouvir Nan roncando no
quarto ao meu lado. Essas paredes não são à prova de som.
Eu saio da cama, coloco meus chinelos e meu robe que está
estampado com o logotipo da coruja do Shambles B&B, lentamente
abro minha porta e desço as escadas em silêncio.
Nossa. Eu vim aqui apenas para dormir, mas esse pau me faz
pensar em outras coisas.
—Estou feliz que você esteja aqui, — ele sussurra para mim
enquanto eu deito minha cabeça na curva de seu braço. —Eu
poderia fazer isso todas as noites.
—Nada, nada, só... — ele diz, sua voz se quebrando. —Me deixe
em paz.
Me deixe em paz?
Eu pisco. —Ok.
—Apenas me dê um minuto.
Oh.
Oh.
Entendo.
—Eu sei que você me quer e eu também quero você. Mas é tarde
e eu acabei de te acordar. Eu deveria ter deixado você dormir. Isso
foi egoísta da minha parte.
Eu apago a luz.
Valerie
Eu me viro para sair e estou quase fora da porta quando ela diz,
—Eu sei que você está fingindo.
Eu paro.
Eu não me viro.
—Eu sei que você não é noiva dele, eu nem acho que você é a
namorada dele, — diz ela com confiança.
Não, não.
O que eu faço?
Finjo de idiota.
Wagon?
—Uh huh, — diz ela e vira a tela para outra coisa. Desta vez é
uma pesquisa no Google. —Eu sabia que havia algo de errado com
vocês dois. Eu sabia que o tempo era muito curto para Padraig trazer
para casa uma noiva que ninguém havia ouvido falar, bem a tempo
de dizer adeus ao pai. Eu cresci com ele. Eu sei o relacionamento
deles. Eu sei que Padraig faria o que pudesse para parecer que tinha
a sua vida organizada, para conquistá-lo.
6
Wagon em inglês tem como significado vagão. Mas no irlandês wagon, significa cadela.
Ela toca em um link e uma foto de Cole aparece, um artigo que
ele apareceu na revista Entrepreneur Magazine pouco antes de
terminarmos.
Porra do Twitter!
Ela me tem.
Ela revira os olhos. —Você sabe que eles têm o direito de saber.
Essa mentira só vai machucá-los. Você deveria estar com vergonha
de si mesma pelo que fez.
Por favor, por favor, não conte a eles. Não faça isso.
Ali está Colin na frente. Ele está numa cadeira de rodas agora,
empurrada para a mesa. Ele parece melhor do que recentemente e
embora pareça estar se esforçando, está bebendo um copo de vinho,
sem ajuda. Ao lado dele está sua enfermeira, Margaret, uma mulher
jovem e elegante com uma postura imaculada, depois o Major em
seu terno xadrez azul-marinho dos anos 70 e claro, Padraig.
E então seu rosto cai lentamente quando ele vê o que está nos
meus olhos.
Terrivelmente errado.
Mas eu olho.
Ele olha para Gail e ela está franzindo a testa para nós,
provavelmente não esperando que eu diga algo a ele já.
Oh Deus.
—Por que você está de pé? — Agnes diz, espetando sua salada.
—Sente-se e coma.
Padraig olha para ele e aperta minha mão ainda mais forte.
Mais silêncio, desta vez mais pesado, tão pesado que é quase
insuportável.
Colin troca um olhar com Agnes, que não está piscando.
Porra. Talvez não devêssemos ter falado, talvez ela não tivesse
dito nada.
—Eu sinto muito, pai, — diz Padraig para ele, implorando com
tanta vergonha em seus olhos. —Eu só queria que você pensasse que
eu tinha tudo aquilo. Eu queria que você soubesse que eu estava
indo bem, que eu tinha todas as coisas que a mãe queria para mim.
Eu pensei que se eu trouxesse uma garota para casa e dissesse que
nos casaríamos, talvez você pudesse ter orgulho de mim ou ficasse
feliz ou algo assim. Qualquer coisa, pai, eu tomaria qualquer coisa
por você.
Oh Deus.
—Eu não vou a lugar nenhum! — Ele late com uma quantidade
surpreendente de força e bate com o punho na mesa, fazendo os
talheres saltarem. —Como você ousa fazer isso? Como ousa entrar
em minha casa e mentir para nós? Para pegar o anel dela. Você... —
ele aponta para nós descontroladamente,
—Você propôs a ela lá, você disse coisas sobre aquele anel que
não eram verdade. Isso é blasfêmia. Você será amaldiçoado por isso!
O Major acena com a cabeça e engole. —Seu pai. Colin. Ele irá
se recuperar. Ele está um pouco magoado, isso é tudo e ele sempre
teve um temperamento explosivo, assim como você Padraig, mas
com o tempo ele vai entender que você fez isso para ajudá-lo. Eu
posso ver isso. — Ele acena para mim. —E eu posso ver que vocês
dois realmente se amam.
—O que?
—O que?
Tudo isso.
Bem-sucedido.
Que eu era alguém.
E depois...
Decepção.
Passei a minha vida tentando ser o melhor que pude ser. Meu
pai adorava falcoaria, então eu me interessei por falcoaria. Eu sabia
que meu pai não poderia continuar seu sonho de jogar rugby, então
eu peguei esses sonhos e corri com eles. Eu treinei e joguei e me
esforcei para ser o jogador que me tornei. Eu tinha o dinheiro, a fama
e a segurança que o meu pai não tinha. Mesmo assim não importava.
Ele ainda não estava orgulhoso.
Ela está na cama comigo, olhando para mim com seus olhos
azuis e cheios de emoção.
—Não, ele não estava disposto a isso. E sua avó foi a Shambles
para comprar alguns mantimentos.
—Ela veio aqui esta manhã, bem antes do café da manhã, o que
fez as coisas se atrasarem um pouco, mas de qualquer forma e ela
disse a sua avó que estava feita. Eu acho que ela não quer mais
trabalhar aqui, mas entre você e eu, eu estou bem com isso. Ela
sempre foi um pouco de Holy Joe7, se sabe o que quero dizer.
—Ah, não, Holy Joe significa que ela é muito parecida com a
verdade, — diz Major e começa a folhear o papel. —Uma hoor
significa que ela é uma hoor.
Eu olho para Val e sorrio. Como ele ouviu isso, não faço ideia.
Algo me diz que a audição do Major é mais seletiva do que
pensávamos.
7
Uma pessoa hipócrita.
8
Palavra irlandesa para prostituta ou desagradável.
Essa dor não se dissipou nem um pouco.
—Quero dizer, nós. Você. Eu. O que nós fazemos? Como nós
seguimos adiante disso? Seu pai ainda está morrendo. Sua avó ainda
está aqui e nós também e não podemos ser ignorados para sempre.
—Eu tenho que falar com eles, — digo a ela com um suspiro
pesado. —Isso é tudo que podemos fazer. Tenho que fazer com que
eles saibam que o que viram não era mentira. O que eles
testemunharam entre nós, o fato de que nos amamos, isso não era
falso. Eles apenas terão que acreditar em mim.
—E você?
—Eu sinto muito, — eu digo, olhando para ela. —Eu não sei o
que é. Talvez seja a medicação.
—Vamos ver, — eu digo. —Mas não pense que você tem que
escrever.
—Eu quero.
—Sim, mas... — Do jeito que ela fala, eu posso dizer que ela está
prestes a me dizer algo que pode me deixar na defensiva.
—Você não vai mais poder jogar rugby. O que você fará para
trabalhar?
—Tudo bem, não temos que falar sobre isso, — diz Valerie,
colocando a mão no meu braço. —Eu...
Oh Deus, não.
Valerie não pode correr muito rápido, mas sempre foi uma das
minhas maiores habilidades e neste momento, estou impecável. Eu
não tenho doença, nenhum distúrbio, nem dor. Eu sou impulsionado
para a frente pelos músculos das minhas pernas que não esquecem
como trabalhar e a adrenalina que está correndo nas minhas veias.
Eu corro mais rápido do que nunca corri em nenhum campo.
Mas é do medo.
Eu olho para a minha avó e ela tem uma mão sobre a boca,
lágrimas nos olhos, observando as portas da ambulância fecharem.
Por favor, Deus, não. Deixe-o ficar bem. Deixe-me ter outra
chance.
—Ele está vivo por enquanto, — diz Margaret. —Mas isso não
parece bom. Eles estão levando-o para Cork.
Ela sacode a cabeça. —Eu não posso, — diz ela, suas palavras
sufocadas.
Uma lágrima cai pelo rosto dela. —Você não entende, Padraig.
Eu não posso lidar com isso. Eu não quero vê-lo lá assim. Eu não
posso perdê-lo assim. Não depois que perdi sua mãe.
Já faz várias horas desde que meu pai foi internado no hospital.
Nós cinco esperamos e andamos na sala de espera, querendo ouvir
a situação, bebendo chá fraco. Todos sabíamos que não haveria
muito que eles pudessem fazer por ele, mas ainda precisávamos
saber que ele poderia pelo menos viver por mais alguns dias, só para
que todos pudessem se despedir.
O médico eventualmente saiu e nos disse que ele não tinha dias.
Minutos.
Minutos de vida.
Há um bipe.
Um batimento cardíaco
Então outro.
Então.
Ele se foi.
Minha mãe.
Clara.
Meu pai.
—Espere um minuto. Por que você está aqui? Você não deveria
estar jogando para os All Blacks? — Estou meio orgulhosa de mim
mesma por saber o nome do time de rugby deles.
Ele sorri. —Ah, eu fiz durante dois anos e depois fui negociado
para cá. Para falar a verdade, não me importaria de voltar. Eu sinto
falta de casa. Mas eu não gostaria de deixar o velho Padraig aqui. Ele
teria que começar a fazer a parte dele nas coisas, sabe.
—É claro que seu time favorito sempre foi Munster, — diz ele,
ao qual quase todo mundo aplaudem, assoviam ou gritam. Padraig
havia me dito que esse era o time para o qual a maioria das pessoas
torciam. —E quando eles perdiam, o que fazem muito, toda a cidade
trancava suas portas. Mas meu pai, Colin, era mais do que apenas
um velho irritado. Ele também era um péssimo motorista.
9
Palavra irlandesa para idiota.
Mais risos ondulam no meio da multidão, misturando-se com
as lágrimas.
Eu não acho que isso seja ele sendo superado pela dor.
—Valerie?
É uma pergunta.
Ele está olhando na minha direção, mas os olhos dele não estão
encontrando os meus.
Oh meu Deus.
—Eu sei. Mas agora você sabe. Agora todo mundo sabe.
—Valerie!
—Vá embora, — diz ele, sua voz áspera. Ele lambe os lábios
secos.
—Quero dizer, você deveria ir para casa. Para sua casa real.
—Você não sabe o que você ama, — ele rosna para mim e eu
estou com medo da maldade em sua voz. —Você acha que você me
ama, mas você não ama. Como você pode? Como pode amar uma
grande decepção como eu, um fardo pesado e doentio para os seus
ombros, para pesar sobre você pelo resto de sua vida
—Eu faço...
—Não! — Ele grita e seu monitor cardíaco vai mais e mais
rápido. —Você não sabe! Você nem me conhece. Nós nos
conhecemos há mais de um mês e de repente você acha que me ama.
Eu te envolvi nessa bagunça toda e então você descobre que eu
tenho uma doença incurável e que te prendeu. Eu não te culpo. Você
sente que você tem que ficar por perto e que você não pode sair
porque assim você vai parecer errada. Isso é o que é e você sabe.
Oh Deus.
E eu sinto todo o ódio. O ódio que ele sente por si mesmo, que
está dentro dele, o ódio que está saindo e querendo consumi-lo. Ele
está deixando ganhar. Ele está deixando ganhar, me afastando.
Ele olha para mim por um momento com olhos mortos. —Eu te
amo o suficiente para não deixar você ficar aqui. E se você me
amasse de verdade, então você me deixaria ir. — Seu olhar aguça. —
Por favor, Valerie. Apenas vá, porra. Acabou.
É verdade, porra.
Eu disse a ela que não queria deixá-lo como ele está, mas ela me
assegurou que cuidaria dele, que pediria a Margaret para ajudar se
fosse preciso. Padraig ficaria bem.
—Mas você não vai ficar, — ela disse para mim, segurando
minha mão. —Ouça-me, criança, eu sei que sou velha, mas isso
significa que sou sábia. Ele está em um lugar amargo agora. Eu
conheço meu Padraig e conheço seu humor e sei de onde eles vêm e
para onde vão e você viu o temperamento de Colin, você só pode
imaginar como Padraig pode ficar. Eu só estou pensando em você.
Volte para casa, veja seus pais e seus amigos. Encerre sua vida lá e
volte. Nós cuidaremos das coisas do nosso lado.
Mas você ainda pode sair, digo a mim mesma. Chame outro Uber
e vá reservar um hotel barato.
É meu pai.
Estou prestes a perguntar onde está minha mãe quando ela sai
do corredor, afofando as pontas do cabelo. Tenho a sensação de que
ela se fez bonita só para mim.
—Querida, — ela diz para mim, jogando os braços para fora.
Isso de novo.
—Irene, você está chateando sua filha de novo? — Meu pai grita
da cozinha. —Ela está passando por um momento de dor
novamente, seja gentil com ela.
Ela joga as mãos para fora. —Eu não sei, isso, — diz ela
gesticulando para mim. Meus olhos ficam largos. —O que quer que
você esteja fazendo que faz com que todos esses homens te deixem.
Eu suspiro.
NÃO.
—Ela está bem do jeito que está, Irene, — meu pai diz
duramente quando aparece.
Ela vê o vinho e alcança, mas ele o segura de volta. —Eu não vou
te dar isso até você se desculpar com sua filha, — ele diz significando
algo.
Isso faz com que a minha mãe se arrepie. —Por que eu deveria
me desculpar com ela? Não é minha culpa que ela seja assim.
FODA-SE. ISSO.
Eu estou abalada por ele e pela briga com a mãe e eu não sei se
tenho mais alguma coisa em mim. Mas mesmo assim, pego meu
laptop, abro um novo documento e vejo a página em branco.
Eu começo a escrever.
Eu suspiro alto. —Eu disse que não te odeio. Ok? Mas sim, você
tem sido horrível. Você é muitas vezes uma merda para mim, para
Angie, para Sandra, até para o papai. E, você sabe, todos nós ainda
amamos você, porque você pode ter pessoas de merda em sua
família e ainda amá-las, independentemente disso. — Eu paro. —
Mas eu acho que qualquer problema que você esteja tendo comigo e
com meu peso ou com as garotas e seus relacionamentos, eu acho
que isso diz mais sobre você. Você está projetando. E honestamente,
acho que você provavelmente deveria conversar com alguém sobre
isso.
Ela apenas balança a cabeça, pressionando os lábios juntos. Ela
olha ao redor da sala, tentando não chorar.
Oh meu Deus Por favor, não a deixe chorar. Eu vou perder isso.
Meu corpo está apenas procurando outra desculpa para deixar as
lágrimas caírem.
—Não foi sua culpa. Se aconteceu alguma coisa foi minha culpa,
— eu digo, tentando consolá-la. —Eu sou a única que correu para a
estrada.
Ela olha para mim e a dor em seu rosto me faz doer por dentro.
Apesar de toda a merda que minha mãe diz, essa é a primeira vez
que eu percebo como ela está quebrada por dentro.
—Isso é o que você ganha por ser um maldito eejit, — diz ela,
uma mão no quadril. —Mas eu acho que você é muito estupido para
entender. Talvez seja melhor eu pegar a colher.
—Então, o que você fez para tentar seguir em frente com sua
vida? Porque, até onde eu vi, você só tem se lamentado. E antes de
culpar a sua doença por isso, talvez você devesse pensar um pouco
sobre a verdadeira razão pela qual você está dormindo o dia e noite
toda e não comer uma única coisa que eu cozinhei para você. Porque
você está de coração partido.
Eu não posso. Nem por isso. Não, exceto para dizer que o
coração partido é um eufemismo.
Eu a afastei.
Fiz o que achei ser a melhor coisa a fazer, mas também fiz algo
que não entendo muito bem. Como é que lhe pude dizer aquelas
coisas? Como eu pude ser tão cruel? É como se nem sequer fosse eu
naquela cama de hospital.
—Agora, — ela diz, —se você acabou de ter medo da sua velha
avó e você está pronto para me ouvir, então sente-se.
—Mas e se...
—Você está vindo de um lugar de medo, não de fé.
Devidamente anotado.
Sinto falta dela com todo meu coração, mesmo com aqueles
pedaços quebrados, os pequenos demais para ver.
Ele olha para Nan. —Você está batendo nas pessoas de novo?
—Ele mereceu, — diz ela. —E agora Padraig, você já pensou
mais sobre o que vai fazer?
Ele acena com a cabeça. —Ah. Bem, por que você a mandou
embora para começar?
Não, eu digo a mim mesmo. Não foi assim que você foi criado
para pensar.
Não, e se.
—Não, fique, — ela diz para mim em voz baixa. É o tom da voz
dela que me faz parar.
Não consigo olhar para aquilo. Eu olho para ela. —Você leu?
Ela acena com a cabeça. —Eu li. — Então ela se vira e sai do
quarto.
Oh foda-se
Filho,
Amor,
Ela encolhe os ombros. —Não sei, acho que foi mais fácil para
elas.
Deus, como meu coração dói por Padraig. É essa dor aguda no
fundo do meu coração que rouba minha respiração e afasta toda a
minha atenção de todo o resto. É a dor que é tão física que você está
rezando para que ela passe. Essa é a perda. Essa é a dor. Isso é o que
eu preciso para descobrir como me mover para trás. Todo dia eu
acho que estou melhorando e então algo vai me lembrar de Padraig
e eu estou de joelhos de novo e chorando de repente.
Foda-se. Um trevo.
Ok, não chore, segure firme. É apenas latte art, nada mais.
Eu sou tão grata por elas, eu preciso dizer isso mais vezes.
Padraig.
Eu já estou de pé.
Tudo o que ele tinha que fazer era dizer meu nome e eu era dele
novamente.
—Eu estou.
—Como?
—Eu voltei para você, Valerie, — diz ele, sua voz um murmúrio
baixo. Ele faz uma pausa. —Se você me quiser de volta.
—O que mudou?
Ele estremece. —Eu fiz uma coisa horrível. Eu disse coisas que
não queria dizer. E eu realmente não quis dizer isso, você deve
entender isso. Não vou culpar minha condição porque parece uma
desculpa e estou cansado de desculpas. Eu irei me responsabilizar
por tudo para que eu nunca mais cometa um erro como esse.
—Está bem.
—Não está. Não está certo o que eu fiz. — Ele balança a cabeça,
parecendo aflito. —Você não faz isso com alguém que ama,
especialmente com você. Você é tão especial, minha querida, você
nem entende. Acho que já te amei quando te vi pela primeira vez,
mesmo que tenha demorado um pouco para entender.
Ele faz uma pausa. —Mas esse amor... bem, esse amor tornou-
se infinito quando você viu as partes mais escuras de mim, como
aquele céu acima de Shambles à noite. Lembre-se de quão profundo
e insondável foi? Escuro e frio. E em vez de fugir, você correu em
minha direção. Você se jogou na minha escuridão e me mostrou as
estrelas que eu nunca soube que estavam lá. Você nunca teve medo
do que havia em mim, queria ver tudo, queria estar presente para
mim de todas as formas possíveis.
Outra lágrima rola pela minha face e ele coloca a mão contra o
meu rosto, limpando a lágrima com a delicada carícia do seu polegar.
—E foi aí que o medo me atingiu, — diz ele. —Que eu poderia te
perder, perder isso para sempre. Eu estava com tanto medo que eu
me mataria para fazer esse medo parar. Eu pensei que talvez você
quisesse ir embora, eu pensei que talvez você iria eventualmente.
Eu era tão egoísta, como normalmente sou e eu queria me salvar.
Mas isso não me salvou de tudo. Você é a única que pode fazer isso.
Sem você, eu estou me afogando naquela escuridão, querida.
E ainda que ele diga que foi eu quem o salvou, ele está aqui
agora. Ele é o único que está na minha frente.
—Eu adoraria isso, — digo a ele enquanto ele pega minha mão.
—Mas eu devo encontrar minhas irmãs aqui... eu estou supondo que
você já sabia disso.
—Elas não virão até amanhã, — diz ele, segurando meu casaco
para mim enquanto eu deslizo.
—Isso é verdade.
—Sim, ela era menos louca acima de tudo. E ela teve essa ideia
para você vir aqui e elas fariam uma isca e trocariam. Disse que você
provavelmente não iria querer me ver se soubesse.
—Eu falei. Parece ser uma senhora simpática. Ela falou comigo
por uma hora, também.
—Estou bem, — ele admite. —Eu sabia que o voo seria difícil,
mas passei por isso com muita melatonina. Minha visão está boa,
como se nada tivesse acontecido, apesar de eu ficar com esse borrão
nos cantos quando estou cansado. E estou cansado o tempo todo.
Essa é a pior parte. A fadiga.
—Devemos parar e descansar? — Eu gesticulo para um banco
do parque.
E eu estou feliz. Eu estou tão feliz com esse lindo mundo que eu
tenho.
—E eu te amo mais.
Eu também rio.
Como eu não posso? Como posso ser qualquer coisa menos que
feliz agora?
Ele olha para a multidão. —Que estes dois tenham um amor que
nunca acabe, muito dinheiro e muitos amigos. — Ele sorri de volta
para nós. —Que tenham riqueza, não importando o que façam e que
Deus possa mandar muitas bençãos para vocês.
Mas agora ela está aqui. Agora ela vai ser minha esposa. E não
há mais nada que eu possa pedir mais.
Exceto por ter meu pai aqui. Minha mãe. Minha irmãzinha.
Eu sinto falta deles com cada fibra do meu ser, desejando que
todos estivessem aqui, desejando que eles pudessem compartilhar
essa alegria. Mas mesmo que esse buraco negro dentro de mim
ainda exista e sempre existirá, também sei que eles estão aqui em
espírito. Afinal, é um casamento irlandês e isso é sempre uma coisa
mágica.
—Eu sei que foi um grande show, — diz o ministro com uma
risada. —Mas esperem até que eles digam sim.
Ela ri, surpresa com o acréscimo aos votos que fiz com o
ministro hoje cedo. Seu sorriso é largo e radiante e sua beleza me
tira o fôlego.
É isso mesmo.
—Eu aceito, — diz ela, irradiando tanta felicidade e amor que
eu acho que todo mundo no jardim pode sentir isso.
Meu sorriso está congelado no meu rosto. Eu não acho que vou
parar de me sentir assim.
—Sim! — Sandra diz, saltando para seus pés, seu vestido azul
sem alças ondulando atrás dela enquanto ela vai até Padraig e os
padrinhos.
Eu dou de ombros e rio. —Eu não sei, parece que tudo dá sorte
aqui.
—Oh, você está muito além do seu auge, querido, — minha mãe
diz a ele.
Mas meu pai apenas ri. —Se isso é verdade, o que isso faz de
você?
—Eu sei, — diz ela. Então ela franze a testa. —Mas então aquela
coruja saiu e me assustou tanto. Você sabe que essas coisas
carregam certas doenças? Eles comem vermes.
—Eles precisam dos pais, — diz Padraig. —Eu vou buscar Nan.
Eu estou casada.
—Mesmo?
—Ela sabe o que quer e eu não acho que o pobre Hemi vai ter
voz nisso, — eu rio.
Ele olha por cima do meu ombro. —Não, seu pai está dançando
com Angie e sua mãe está dançando com o Major. E nós, bem, acho
que precisamos parar de dançar e encontrar um lugar tranquilo
onde eu possa fazer você gritar meu nome.
—Você sabe que eu vou dizer sim, — eu digo a ele —Eu sempre
direi sim para você. Para novas aventuras e mais além.
—Você sabe que eu vou tomar qualquer coisa que você pode
me dar, — digo a ele quando ele começa a beijar meu pescoço,
enviando vibrações nas minhas costas, enquanto ele amarra meu
vestido em volta da minha cintura.
—E para sempre?
—Sempre e para sempre, mo chuisle mo chroi.