Apostila Direito Aplicado - Mód II - CFSD 2023.2

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CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA

Apostila de Direito Aplicado


Módulo II

Salvador / Bahia - Brasil, 15 de Janeiro de 2023


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - NOVEMBRO - PMBA 1

Direitos desta edição reservados ao

CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS - CFAP ©


ESTABELECIMENTO CEL PM JOSÉ IZIDRO DE SOUZA NETO
Criado em 06/03/1922, com missão de formar exclusivamente Graduados instituída
através de publicação do Estado da BAHIA, Lei nº 20.508 de 19/12/1967.

Direção do CFAP
Diretor - Cel PM Fernando Jorge Portugal do Nascimento
Diretor Adjunto -Ten Cel PM José Mesquíades Rodrigues dos Santos

Equipe Pedagógica
Chefe da Divisão de Ensino: Maj PM Helena Carolina Jones da Cunha
Coordenadora dos Núcleos de Ensino : Maj PM Karina Silva Seixas
Design: Sub Ten PM Karina da Hora Farias

Créditos de Autoria e Atualização


Apostila elaborada e revisada pelo Cabo PM André Abreu de Oliveira e Cabo PMIgor de
Macedo Sena – Colaboradores CFAP.

Apostila tualizada em 2023 pelo Cap PM José Cerqueira Lima Filho e pelo Cap PM Hugo
Souza Veloso.

VENDA PROIBIDA. A reprodução e divulgação do material é permitida mediante citação da fonte;


nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios
eletrônicos ou gravações, para fins não educacionais, comerciais ou ilícitos.
Os infratores serão punidos com base na Lei nº 9.610/98

Impresso no Brasil / Printed in Brazil


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SUMÁRIO

DIREITO PENAL - CRIMES EM ESPÉCIE .......................................................................... 5


1 HOMICÍDIO.................................................................................................................... . 5
1.1 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO............................................................................................. 5
1.2 HOMICÍDIO QUALIFICADO.............................................................................................. 6
1.3 HOMICÍDIO E CRIME HEDIONDO .......................................................................................................8
1.4 HOMICÍDIO CULPOSO ................................................................................................................................9
1.5 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA ............................................................................................ 11
2 LESÃO CORPORAL ............................................................................................................. 12
2.1 CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA ....................................................................................... 14
2.2 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA ............................................................................................ 14
2.3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ....................................................................................................................... 15
2.4 LESÃO CORPORAL X VIAS DE FATO....................................................................................... 18
3 OMISSÃO DE SOCORRO .................................................................................................. 18
4 MAUS-TRATOS ................................................................................................................................. 20
4.1 FORMAS QUALIFICADAS ...................................................................................................................... 22
4.2 CAUSA DE AUMENTO DE PENA .............................................................................................. 22
5 RIXA..................................................................................................................................................... 22
6 CONSTRANGIMENTO ILEGAL ....................................................................................... 23
7 FURTO ................................................................................................................................................ 24
7.1 CAUSA DE AUMENTO DE PENA .............................................................................................. 25
7.2 FURTO PRIVILEGIADO ............................................................................................................................ 26
7.3 ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................................................................. 26
7.4 FURTO QUALIFICADO ............................................................................................................................. 27
7.5 FURTO FAMÉLICO ..................................................................................................................................... 29
7.6 FURTO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ............................................................................... 30
7.7 FURTO E CRIME IMPOSSÍVEL .............................................................................................................. 31
8 ROUBO ................................................................................................................................................ 31
8.1 ROUBO CIRCUNSTANCIADO .............................................................................................................. 33
8.2 ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO MORTE (LATROCÍNIO) .............................. 35
8.3 ROUBO E INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ........................ 37
9 EXTORSÃO ........................................................................................................................................ 38
9.1 FORMAS MAJORADAS E QUALIFICADAS .................................................................................... 39
10 APROPRIAÇÃO INDÉBITA ........................................................................................................ 40
10.1 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA ............................................................................................ 40
11 CRIMES SEXUAIS ................................................................................................................ 41
11.1 ESTUPRO .......................................................................................................................................................... 41
1.1.1 ESTUPRO QUALIFICADO ....................................................................................................................... 43
1.1.1.2 ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR ..................................................................... 44
11.2 IMPORTUNAÇÃO SEXUAL .................................................................................................................... 46
11.3 ASSÉDIO SEXUAL. ...................................................................................................................................... 46
11.4 DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE
VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA. .......................................... 48
11.5 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NOS CRIMES CONTA A DIGNIDADE
SEXUAL .............................................................................................................................................. 49
12 DESOBEDIÊNCIA ............................................................................................................................. 50
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13 DESACATO ........................................................................................................................... 51
14 TRÁFICO DE DROGAS ....................................................................................................... 52
15 CRIMES CONTRA A HONRA ............................................................................................. 54
16 CRIMES RACIAIS ................................................................................................................. 55
17 DELITOS INFORMÁTICOS (CIBERNÉTICOS) ............................................................... 57

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ......................................................................... 59


1 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL .......................................................................... 59
2 DISTINÇÃO ENTRE CRIANÇA E ADOLESCENTE ......................................................... 59
3 CONCEITO DE ATO INFRACIONAL ................................................................................. 60
4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS. ....................................................................................... 60
5 APREENSÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI ................................ 61
6 CRIMES CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. ....................................................... 63
REFERÊNCIAS. ........................................................................................................................................... 66
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APRESENTAÇÃO

“A miopia intelectual é a mais constante geradora


do egoísmo.”
Ruy Barbosa

Neste módulo, serão estudados os crimes em espécie, isto é, as infraçõespenais


propriamente ditas, as quais devem trazer a exata descrição legal da conduta
criminosa. Nesse estudo, serão analisados tanto aqueles crimes que compõem a
denominada Parte Especial do Código Penal, bem como os que integram a chamada
legislação penal extravagante, que engloba normas como a Lei de Drogas, por
exemplo.
O objetivo a ser alcançado nessa etapa é fazer com que o aluno compreenda
detalhadamente os elementos que integram determinados crimes, entre aqueles de
maior incidência no dia a dia do policial militar. Com isso, pretende-se torná-lo capaz
de identificar a ocorrência de uma possível infração penal quando da execução do
policiamento ostensivo, dotando-o dos conhecimentos necessários para atender a
situação da maneira mais adequada.
Na análise dos tipos penais, serão ainda pontuadas possíveis divergências
doutrinárias existentes, bem como o posicionamento dos tribunais superiores, diante
de algumas questões controvertidas que envolvem os delitos em estudo.
Cumpre deixar claro que o presente material não tem a pretensão de esgotar o
exame das diversas infrações penais com que pode se deparar o futuro soldado PM
em sua atuação. Nem poderia pretender inesgotável missão, a par de tantas e tantas
condutas criminalizadas em nosso ordenamento jurídico atual. Diante disso, caberá
também aos instrutores da disciplina atualizar os discentes do Curso de Formação de
Soldados em relação as novidades legislativas que digam respeito mais diretamente
às nossas atividades policiais-militares.
Enfim, desejamos sucesso nos estudos e na futura vida profissional!

Salvador, 01 de Dezembro de 2021.

Cb PM André Abreu de Oliveira - Conteudista


Mestre em Segurança Pública, Justiça e Cidadania pela Faculdade de Direito da UFBA;
Pós-graduado lato sensu em Direito Penal Militar e Processual Penal Militar;
Pós-graduado lato sensu em Ciências Criminais;
Bacharel em Direito.

Cb PM Igor de Macedo Sena- Conteudista


Pós-graduado lato sensu em Direito Público;
Bacharel em Direito.
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DIREITO PENAL (PARTE II)

CRIMES EM ESPÉCIE

1 HOMICÍDIO

O crime de homicídio encabeça o Capítulo I (Dos crimes contra a vida) do Título


I (Dos crimes contra a pessoa) do Código Penal (CP), em sua denominada Parte
Especial, que traz os crimes em espécie:

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

O artigo 121, caput, trata do homicídio simples, ou seja, o tipo penal básico, isento
de qualificadoras, que são circunstâncias que agravam o crime e consequentemente
majoram a pena.
O bem jurídico tutelado pelo delito em questão é a vida. O sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa (crime comum). O mesmo se aplica ao sujeito passivo.
Deve-se atentar que a vida tutelada pelo crime em estudo é a vida extrauterina,
vez que antes do parto haverá o crime de aborto (art.124, CP). Ademais, se o crime for
praticado durante, ou logo após o parto, estando à mãe em estado puerperal, haverá
o crime de infanticídio (art.123, CP).
A consumação do crime de homicídio se dá com a morte, que compreende a
cessão da vida encefálica, consoante estabelece a o artigo 3º da Lei n. º 9.434/97, que
regula o transplante de órgãos: “A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes
do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de
diagnóstico de morte encefálica [...]”.

1.1 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO

No § 1º do art. 121 do Código Penal, encontra-se tipificado o chamado


homicídio privilegiado, nos seguintes termos:

Caso de diminuição de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social


ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

O dispositivo supracitado traz causas que interferem na quantidade da pena.


Assim, se o agente comete o delito amparado por uma das circunstancias previstasno
§ 1º do art.121, a pena será reduzida de um sexto a um terço. Cumpre destacarque
não obstante a redação do parágrafo em estudo estabelecer que o juiz pode
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reduzir a pena, é pacífico o entendimento que, ocorrendo a causa de diminuição,


estará o magistrado obrigado a diminuí-la conforme os parâmetros acima
estabelecidos.
A primeira circunstância que impõe a redução da pena é o relevante valor
social. Esta causa de diminuição refere-se a interesses da coletividade. O exemplo
citado na doutrina é daquele que mata o traidor da pátria.
Em seguida, o Código Penal faz referência ao relevante valor moral. Trata-se,
desta feita, de interesse individual do agente. Quando, por exemplo, os sentimentos
de piedade, de misericórdia, levarem a prática da eutanásia, estaremos diante de um
homicídio privilegiado.
Por fim, a última causa que privilegia o homicídio está ligada ao estado
emocional do agente. É o chamado homicídio emocional. Nesse caso, deve agir o autor
logo em seguida a injusta provocação da vítima e sob violenta emoção. Em suma, o
autor é injustamente provocado pela vítima e não há uma autorização legal ou uma
justificativa razoável para essa provocação. Deve ainda agir o ofendido logo em
seguida, ou seja, imediatamente após a injusta provocação, sob a influência de
violenta emoção que afasta a sua capacidade de autocontrole, o que resulta com o
cometimento do delito. Um exemplo é o marido que flagra a esposa em adultério.

1.2 HOMICÍDIO QUALIFICADO

Nesse caso, a existência de uma das qualificadoras indicadas no § 2º do artigo


121 do Código Penal também influenciará na quantidade da pena, mas dessa vez para
aumentá-la, em face da ocorrência de uma ou mais qualificadoras.

Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Feminicídio [Incluído pela Lei n.º 13.104, de 2015]

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: [Incluído


pela Lei n.º 13.104, de 2015]

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da


Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
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de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou


contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição: [Incluído pela Lei n.º 13.142, de 2015]

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:


[Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019]
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

§ 2º-A Considerasse que há razões de condição de sexo feminino quando o


crime envolve: [Incluído pela Lei n.º 13.104, de 2015]

I - Violência doméstica e familiar; [Incluído pela Lei n.º 13.104, de 2015]


II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. [Incluído pela Lei
n.º 13.104, de 2015]

O inciso I trata do homicídio mercenário, aquele em que o agente age por


dinheiro. É indiferente se ele recebe o valor antes da prática do crime (paga), ou após
cometê-lo (promessa de pagamento). Ademais, trata o inciso em questão do motivo
torpe, aquele motivo repugnante, asqueroso, moralmente reprovável; o que ocorre,
por exemplo, quando o filho mata o pai para ficar com a herança.
O inciso II refere-se ao motivo fútil, aquele motivo insignificante,
desproporcional. Exemplo disso é o do motorista que mata o motociclista que
esbarrou no retrovisor do seu veículo.
O meio insidioso a que se refere o inciso III é o motivo desleal, traiçoeiro, como
ocorre com o emprego do veneno. Já o meio cruel é aquele doloroso, que causa
sofrimento ao ofendido, o que ocorre, por exemplo, quando se tortura a vítima até a
morte ou quando se ateia fogo em uma pessoa. Já o meio que resulta perigo comum é
aquele que expõe a risco um número indeterminado de pessoas. Exemplos desses
meios são o incêndio e a utilização de explosivos com a finalidade de matar alguém.
O inciso IV trata da traição, da emboscada, da dissimulação ou de outro recurso
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. A traição ocorre quando a vítima
é pega de surpresa, desprevenida. Já na emboscada o agente se esconde e espera a vítima
a fim de surpreendê-la. A dissimulação, por sua vez, ocorre quando o agressor disfarça
as suas reais intenções a fim de matar a sua vítima. Por fim, o emprego de outro recurso
que venha a dificultar ou tornar impossível a defesa do ofendido refere-se à utilização
de quaisquer outros métodos similares aos acima citados que tenham essas
características, tratando-se de fórmula genérica.
O inciso V qualifica o homicídio quando este tiver por objetivo assegurar: a) a
execução de outro crime (agente mata o vigilante de um banco durante a madrugada para
seus comparsas roubarem o estabelecimento na manhã seguinte); b) a ocultaçãode
outro crime (agente mata a vítima que ameaçava denunciá-lo por determinado crime
que ninguém conhecia); c) a impunidade de outro crime (agente mata a única testemunha
que podia indicá-lo como autor de determinado crime); d) a vantagem de outro crime
(agente mata coautor do roubo para ficar com todo o valor subtraído).
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O inciso VI, inserido pela Lei n.º 13.104, de 9 de março de 2015, passou a prever
o denominado feminicídio (nomenclatura utilizada pela própria lei) como forma de
homicídio qualificado. Como o próprio nome já indica, consiste na conduta de matar
mulher, mas especificamente sendo o crime motivado por razões da condição de sexo
feminino. As hipóteses que caracterizam essas razões vêm elencadas no novo § 2º-A,
incisos I e II, do artigo 121 do Código Penal, dispositivo incluído também pela Lei n.º
13.104/2015, e são elas: a prática do crime em um contexto de violência doméstica e
familiar ou a sua execução por menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Ainda, o inciso VII, incluído pela Lei n.º 13.142, de 6 de julho de 2015,passou a
dispor como nova hipótese de homicídio qualificado aquele praticado contra
determinadas autoridades ou agentes de órgãos de segurança pública ou de defesa
nacional.Esse maior rigor em relação aos crimes cometidos contra profissionais de
segurança pública há muito era reivindicado por setores relacionados a essa área, já
que isso poderia funcionar como forma de coibir ações delituosas contra esses
agentes, muitas das vezes relacionadas ao exercício de suas missões institucionais.
Desse modo, atualmente, será qualificado o homicídio cometido contra policiais
federais, policiais rodoviários federais, policiais ferroviários federais, policiais civis,
policiais militares, bombeiros militares e guardas municipais (todos previstos no art.
144 da Constituição Federal), militares das Forças Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica; art. 142 da Constituição Federal), integrantes do sistema prisional
(diretores, agentes e guardas prisionais, por exemplo) e membros da Força Nacional
de Segurança Pública, mas desde que eles estejam no exercício de suas funções ou o
crime tenha ocorrido em razão de seus ofícios. Além disso, incidirá igualmente a
qualificadora quando o homicídio for praticado contra cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau de quaisquer daquelas autoridades ou
agentes mencionados, contanto que o crime aconteça em decorrência dessas
condições.
Por fim, a partir de inovação trazida pela lei Lei nº 13.964, de 2019 (pacote
anticrime), o inciso VIII, promulgado após derrubada de veto do Presidente da República,
pelo Congresso Nacional, impõe pena de 12 a 30 anos, ao homicídio perpetrado com o
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Ressalte-se que a classificação
desse tipo de armamento encontra-se delineada no art. 3º, parágrafo único, do Anexo I
do Decreto 10.030/19.

1.3 HOMICÍDIO E CRIME HEDIONDO

O homicídio simples, quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, bem como o homicídio qualificado (em todas aquelas formas previstas
nos incisos I a VIII do § 2º do art. 121 do CP), são considerados crimes hediondos,
conforme estabelece o art. 1º da Lei n.º 8.072/90:
Art. 1º. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados
ou tentados:
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
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(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei
n.º 13.964, de 2019)

A mesma lei estabelece que tais crimes, por serem hediondos, são insuscetíveis
de alguns benefícios que podem ser outorgados aos condenados pela prática de crimes
não hediondos:

Art. 2º. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:

I - anistia, graça e indulto;


II - fiança.

§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em


regime fechado.
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste
artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. [lembre-se que
a regra é de 1/6 da pena para os crimes em geral, conforme o artigo
112 da Lei de Execuções Penais]
§ 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente
se o réu poderá apelar em liberdade.
§ 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe Lei n.º 7.960, de 21 de dezembro
de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias,
prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
[A regra geral é o prazo de 5 dias, de acordo com a Lei n.º 7.960/89]

Assim, o autor de crime hediondo não terá acesso a determinados benefícios


conferidos àqueles que cometeram crimes comuns. Nessa esteira, não poderão ter
seus crimes perdoados por anistia (exclui o crime e seus efeitos, sendo concedida
pelo Congresso Nacional), graça (extingue a punibilidade, preservando os efeitos do
crime, sendo concedida pelo Presidente da República de forma individual, após o
trânsito em julgado da sentença) ou indulto (extingue a punibilidade, preservando
os efeitos do crime, sendo concedida pelo Presidente da República de forma coletiva,
após o trânsito em julgado da sentença). Ademais, não será arbitrada fiança e em caso
de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar
em liberdade. Ainda a progressão de regime se dará após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se for
reincidente, diferentemente do que ocorre com os condenados por crimes comuns,
cuja progressão se dá com 1/6 (um sexto) da pena (art. 112 da Lei de Execuções
Penais). Por fim, em se tratando de crimes hediondos, a prisão temporária terá prazo
de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, enquanto que nos crimes comuns o
prazo é de 5 (cinco) dias (art. 2º da Lei n.º 7.960/89).

1.4 HOMICÍDIO CULPOSO


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Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.

O § 3º do artigo 121 do Código Penal faz referência ao homicídio culposo, aquele


em que o resultado morte é produzido por imprudência, negligência ou imperícia do
agente. Nesse tipo de crime, o autor do homicídio não buscava o resultado morte, mas
este foi decorrente de sua conduta descuidada, ou seja, o agente deixou de empregar a
cautela, o cuidado que a circunstância exigia. Assim, estará sujeito a uma pena bem
menor a que estaria se tive agido com dolo.
Cumpre esclarecer que no homicídio culposo, conforme estabelece o § 5º doart.
121, quando as consequências de o delito atingirem gravemente o agente, tornando-se a
sanção desnecessária, poderá o juiz deixar de aplicar a pena. É chamado perdão judicial:
§ 5º. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma
tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Entretanto, deve-se atentar que o perdão judicial só se aplica ao homicídio


culposo. Exemplo disso é aquele em que a mãe, ao engatar a marcha ré em seu veículo,
acaba atropelando o próprio filho, que brincava atrás do automóvel, ou o do pai que
esquece o filho trancado no carro, causando-lhe a morte por asfixia. Note que, nessas
situações apresentadas, o autor do crime será duramente atingido pela sua própria
conduta. Além da dor em razão da perda do filho, terá que conviver com a culpa de ter
sido o responsável por sua morte em razão de uma ação descuidada.

A dúvida surge quando o agente mata culposamente o seu filho e uma outra
pessoa. Caberia nesse caso a aplicação desse benefício? A resposta é sim, pois, de
acordo com o Superior Tribunal de Justiça, o perdão judicial tem aplicação extensiva,
devendo, portanto, ser aplicado a todos os efeitos causados por uma única ação
delitiva (STJ, HC n.º 21.442/SP, 5.ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 07/11/2002,
DJ 09/12/2002).

Ainda, em se tratando de homicídio na modalidade culposa, deve-se ficaratento


para o delito cometido na direção de veículo automotor. Nesse caso, o crime será o
previsto no artigo 302 da Lei n.º 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro):

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter


a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;


II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
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III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de
transporte de passageiros.
V -[Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008]
§ 2º [Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016]
§ 3º Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: [Incluído
pela Lei n.º 13.546, de 2017]
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. [Incluído
pela Lei n.º 13.546, de 2017]

Desse modo, deve ficar claro que o cometimento de homicídio culposo na


direção de veículo automotor será regulado pelo Código de Trânsito Brasileiro, norma
especial, afastando-se a incidência do artigo 121 do Código Penal. Vale lembrar que,
na prática desse crime, caso o condutor do veículo esteja sob influência de álcool ou
de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, ele será
responsabilizado por homicídio culposo na direção de veículo automotor em uma
forma qualificada. Nessa hipótese, a pena será de 5 a 8 anos de reclusão, além da pena
de suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor. Essa qualificadora foi inserida por meio da Lei n.º 13.546,
de 19 de dezembro de 2017, que acrescentou o § 3º ao art. 302 do Código de Trânsito
Brasileiro com a sua previsão.

1.5 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime


resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

[...]

§ 6º - A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for


praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio. [Incluído pela Lei nº 12.720, de
2012]
§ 7º - A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado: [Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015]
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; [Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015]
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos,
com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; [Redação dada pela Lei nº
13.771, de 2018 ]
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 12

III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;


[Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018 ]
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos
incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.
[Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018]

Os parágrafos quarto, sexto e sétimo do artigo 121 do Código Penal


estabelecem causas de aumento de pena para o homicídio cometido em determinadas
circunstâncias.
No homicídio culposo, conforme previsto na primeira parte do § 4º do art. 121
do Código Penal, aumenta-se a pena em 1/3:
 Se o crime resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício;
 Se o agente deixar de prestar imediato socorro à vítima;
 Se o agente não buscar diminuir as consequências de seu ato;
 Se o agente fugir com o intuito de evitar a sua prisão em flagrante.
Já no homicídio doloso, consoante prevê a parte final do mesmo § 4º do art.
121, aumenta-se a pena em1/3:
 Se o crime for praticado contra menor de 14 anos;
 Se o crime for praticado contra maior de 60 anos.
A Lei n.º 12.720/2012 inseriu o§ 6º no art. 121 do Código Penal, dispositivo
que passou a prever uma majoração da pena, de um terço até a metade, quando o crime
de homicídio for praticado por milícia privada a pretexto de prestação de serviço de
segurança. Esse mesmo § 6º também estabeleceu o mesmo aumento de pena para o
homicídio cometido por grupo de extermínio. A referida lei inseriu ainda o artigo
288-Ano Código Penal, tipificando o crime de constituição de milíciaprivada:
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização
paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

Ainda, a Lei n.º 13.104/2015, que trouxe a figura do feminicídio, introduziu o §


7º no art. 121 do Código Penal, instituindo um novo aumento de pena, de um terço
até a metade. Essa majoração ocorrerá quando o feminicídio (forma qualificada do
crime de homicídio) for praticado contra mulher em estado gestacional ou que esteja
no período dos três primeiros meses após ter dado à luz, ou contra mulher menor de
14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; ou ainda na presença de descendente
(filho ou neto, por exemplo) ou ascendente (mãe ou avó, por exemplo) da vítima.
Por fim, no ano de 2018, fruto da edição da lei 13.771, que também modificou os
incisos II e III do dispositivo legal em questão , foi inserido o inciso IV, que estabelece o mesmo
aumento de pena, quando houver, por parte do autor do feminicídio, o descumprimento das
medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caputdo art. 22 da Lei Maria
da Penha.

2 LESÃO CORPORAL
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 13

O crime de lesão corporal tutela a incolumidade do indivíduo. Objetiva


proteger a saúde corporal, fisiológica e mental. É crime comum, logo pode ser
cometido por qualquer pessoa. O mesmo se aplica ao sujeito passivo. É ainda um
crime material, pois a consumação se dá no instante em que a ofensa é praticada.
O caput do artigo 129 do Código Penal trata da denominada lesão corporal
leve:

Lesão corporal

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

Já a lesão corporal grave está prevista no § 1º do mesmo artigo:

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida; [comprovado por perícia]
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

A incapacidade de que trata o inciso I é para qualquer atividade corriqueira.


Não se restringe apenas as atividades laborais. No inciso II deve se atentar para a
necessidade de perícia que comprove a ocorrência efetiva do perigo de morte. A
análise do inciso III exige atenção, haja vista que a debilidade indicada não precisa ser
perpétua, bastando ser incerta, ou até mesmo por tempo indeterminado. Por fim, em
se tratando de aceleração do parto (inciso IV), é fundamental que o agente saiba do
estado gestacional da vítima.
Por sua vez, a lesão corporal gravíssima foi prevista no §2º do art. 129:

§ 2º Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II – enfermidade incurável;
III – perda ou inutilização do membro sentido ou função;
IV – deformidade permanente; [dano estético irreparável]
V – aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

O inciso I refere-se a uma incapacidade permanente para o trabalho. Nesse caso


a vítima, em razão da lesão, fica impedida de exercer qualquer atividade laboral. A
enfermidade incurável, tratada no inciso II, é aquela doença física ou mental, cuja cura
ainda não foi descoberta pela medicina. O inciso III, por sua vez, trata da perda ou
inutilização de membro, sentido ou função. Já o inciso IV refere-se à deformidade
permanente, ou seja, a ocorrência de um dano estético irreparável, capaz de submeter
a vítima a situação vexatória. Por fim, deve-se atentar que no caso previsto no inciso
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 14

V, o aborto decorrente da lesão corporal deve ser culposo, ou seja, a intenção inicial
do agente deve ser tão somente de lesionar – caso contrário há concurso de crimes,
de modo que será responsabilizado o autor pela lesão corporal e pelo aborto.
A lesão corporal seguida de morte estará configurada quando o agente tiver a
intenção de lesionar, mas em razão de sua ação ocorrer a morte. Há no caso uma
espécie de fusão entre a lesão corporal dolosa e o homicídio culposo. É o chamado
crime preterdoloso. A conduta dolosa menos grave provoca um resultado culposo
mais grave:

Lesão corporal seguida de morte

§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o


resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

2.1 CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA

Assim como acontece no homicídio, no crime de lesão corporal, a ocorrência de


algumas circunstâncias interferirá no cômputo da pena, de modo a diminuí-la. É oque
estabelece o § 4º do art. 129 do Código Penal:

Diminuição de pena

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social


ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

O § 5º do art. 129 do CP traz a possibilidade de substituição da pena:

Substituição da pena

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de


detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

Já o § 6º do mesmo art. 129 trata da lesão corporal culposa:

Lesão corporal culposa

§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

2.2 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 15

Ao tratar das causas de aumento de pena no crime de lesão corporal, o Código Penal
faz referência às mesmas causas que majoram a pena no delito de homicídio. Assim, em
se tratando desse tema, o que foi dito anteriormente sobre o homicídio, aplica-se também
à lesão corporal. É o que se depreende da leitura do § 7º do art. 129:

Aumento de pena

§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses


dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código.

§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

Perceba-se que, no § 8º do art. 129 do CP, a mesma referência é feita no que diz
respeito ao perdão judicial.

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.
[Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015]

Além daquelas causas de aumento de pena já mencionadas, o § 12 do art. 129,


inserido pela Lei n.º 13.142/2015, trouxe nova majorante para o delito de lesão
corporal. Esse aumento, de um a dois terços da pena, incidirá quando o crime de lesão
corporal for cometido contra policiais federais, policiais rodoviários federais,
policiais ferroviários federais, policiais civis, policiais militares, bombeiros militares e
guardas municipais (todos previstos no art. 144 da Constituição Federal), militares
das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica; art. 142 da Constituição
Federal), integrantes do sistema prisional (diretores, agentes e guardas prisionais,
por exemplo) e membros da Força Nacional de Segurança Pública, mediante a
condição de que eles estejam no exercício de suas funções ou o crime tenha sucedido
em decorrência de suas atividades. Do mesmo modo, haverá o referido aumento de
pena quando a lesão corporal for praticada contra cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau de quaisquer daquelas autoridades ou agentes
mencionados, mas desde que o crime tenha ocorrido em razão dessas condições.

2.3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição


do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:
[Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021]

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). [Incluído pela Lei nº


14.188, de 2021]
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 16

O parágrafo 13, recentemente incluído no dispositivo legal em estudo pela lei


federal nº 14.188 de 28 de julho de 2021, decorre da instituição do programa de
cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas de
enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei Maria
da Penha.
Como é sabido, a Lei n.º 11.340, 7 de agosto de 2006, que ficou conhecida como Lei
Maria da Penha, foi editada com objetivo de resguardar a integridade físico- psíquica da
mulher, reconhecidamente vulnerável nas relações domésticas.
Nesse contexto, o diploma legal em questão definiu a violência contra mulher,
além de enrijecer o sistema legal, objetivando o combate daquela espécie de violência.
Entretanto, importante observar que, diferentemente do que se comenta na esfera do
senso comum, a referida lei não foi editada com a finalidade de tipificar crimes ou
cominar penas; mas, sim, de criar mecanismos capazes de prevenir e coibir a violência
no âmbito doméstico e familiar. Para melhor entendimento, destaca-se abaixo alguns
dispositivos da lei em questão:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar


contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem
de orientação sexual.

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 17

aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou


manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.

Oportuno ressaltar que, apesar de não ter definido crimes nem cominado penas
em seu texto original, a Lei Maria da Penha trouxe repercussão no âmbito criminal,
sobretudo por promover alterações no art. 129 do Código Penal, na medida em que
alterou o seu § 9º e incluiu o §11, como se vê adiante:

Violência Doméstica

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge


ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: [Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006 – Lei Maria da
Penha]

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são


as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se


o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. [Redação dada
pela Lei nº 11.340, de 2006 – Lei Maria da Penha]

O § 9º do art. 129 traz uma forma qualificada de lesão corporal, com pena prevista
de 3 meses a 3 anos de detenção, quando o crime ocorrer em um contexto de violência
doméstica, isto é, quando for praticado contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. Por seu turno, o§ 10
estabelece que, nos casos de lesão corporal grave, gravíssima ou qualificada pelo
resultado morte, se estas forem praticadas naquelas circunstâncias do § 9º, as penas
previstas para esses crimes serão aumentadas em 1/3 (um terço). Jáo § 11 prevê que,
caso o crime de lesão corporal suceda também naquelas hipótesesdo § 9º e seja contra
pessoa portadora de deficiência, haverá um aumento de 1/3 (um terço) da pena.
Ressalte-se ainda que a referida Lei n.º 11.340/2006 alterou a alínea f do inciso
II do art. 61do Código Penal, que passou a vigorar com a seguinte redação:
Circunstâncias agravantes
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime:
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 18

[...]
II – ter o agente cometido o crime:
[...]
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da
lei específica; [Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006 – Lei Maria da
Penha]

Após todas as alterações mencionadas em relação ao crime de lesão corporal


praticado no contexto de violência doméstica, suscitou-se a dúvida sobre a
possibilidade de aplicação do § 9º (e dos parágrafos relacionados a ele) à vítima do
sexo masculino. Nesse sentido, vale recorrer a julgado do Superior Tribunal de Justiça
que esclarece a questão:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LESÃO


CORPORAL PRATICADA NO ÂMBITO DOMÉSTICO. VÍTIMA DO
SEXO MASCULINO. ALTERAÇÃO DO PRECEITO SECUNDÁRIO
PELA LEI N. 11.340/06. APLICABILIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO
PARA O DELITO DESCRITO NO ARTIGO 129, CAPUT, C/C ART.
61, INCISO II, ALÍNEA "E", DO CÓDIGO PENAL. NORMA DE
APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. RECURSO IMPROVIDO. 1. Não obstante a Lei n.
11.340/06 tenha sido editada com o escopo de tutelar com mais rigor
a violência perpetrada contra a mulher no âmbito doméstico, não se
verifica qualquer vício no acréscimo de pena operado pelo referido
diploma legal no preceito secundário do § 9º do artigo 129 do Código
Penal, mormente porque não é a única em situação de vulnerabilidade
em tais relações, a exemplo dos portadores de deficiência. 2. Embora
as suas disposições específicas sejam voltadas à proteção da mulher,
não é correto afirmar que o apenamento mais gravoso dado ao delito
previsto no § 9º do artigo 129 do Código Penal seja aplicado apenas
para vítimas de tal gênero pelo simples fato desta alteração ter se
dado pela Lei Maria da Penha, mormente porque observada a
pertinência temática e a adequação da espécie normativa
modificadora. 3. Se a circunstância da conduta ser praticada contra
ascendente qualifica o delito de lesões corporais, fica excluída a
incidência da norma contida no artigo 61, inciso II, alínea "e", do
Código Penal, dotada de caráter subsidiário. 4. Recurso improvido.
(STJ, RHC 27.622/RJ, 5.ª Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 07/08/2012,
DJe 23/08/2012)

Desse modo, fica claro que, não obstante a alteração tenha sido editada com a
finalidade de estabelecer um tratamento mais severo às lesões praticadas contra a
mulher no âmbito doméstico, é possível a aplicação dos dispositivos em estudo
quando a vítima for do sexo masculino.

2.4 LESÃO CORPORAL X VIAS DE FATO


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 19

Finalmente, encerrando o estudo do crime de lesão corporal, cumpre


estabelecer a diferença entre este crime e a contravenção penal de vias de fato,
prevista no art. 21 da Lei das Contravenções Penais:

Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:


Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis
a um conto de réis, se o fato não constitui crime.

É comum a confusão entre essas duas infrações. Todavia, deve-se deixar


assente que, enquanto o crime de lesão corporal caracteriza-se por uma ofensa à
integridade corporal ou à saúde da vítima, as vias de fato não provocam ofensa à
integridade física ou à saúde do sujeito passivo, o que ocorre, por exemplo, quando o
autor desfere contra a vítima socos ou tapas que não provoquem lesões.

3 OMISSÃO DE SOCORRO

Omissão de socorro

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão


corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Nesse delito, o bem jurídico tutelado é a vida e a saúde do indivíduo. O sujeito ativo
pode ser qual quer pessoa (crime comum) e o sujeito passivo é a pessoa em grave ou
iminente perigo. A consumação ocorre com a situação concreta de risco – vítima adulta,
ou em se tratando de criança abandonada ou extraviada – perigo abstrato (presumido).
Deve-se observar que o crime prevê, alternativamente, a ocorrência de duas
condutas. Comete o delito tanto aquele que se omite de prestar o socorro, bem como
aquele que, não tendo condições de prestar o auxílio de forma direta, não aciona a
autoridade pública para fazê-lo. A segunda opção só deve ser adotada quando não for
possível prestar o socorro à vítima sem se submeter a risco pessoal.
Ainda cumpre esclarecer que não comete o crime aquele que depois de lesionar
deixa de socorrer – responderá por lesão corporal ou homicídio (na forma dolosa ou
culposa).
Por outro lado, se um administrador ou funcionário (ou qualquer outra pessoa
responsável pelo atendimento, como médicos ou enfermeiros) exigir qualquer
garantia (cheque-caução ou nota promissória, por exemplo) como condição para o
atendimento de pessoa que necessite de atendimento médico-hospitalar emergencial,
ele incorrerá no crime do art. 135-A do CP:
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 20

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial

Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia,


bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como
condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de


atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta
a morte.

Também em outros diplomas legais, encontra-se a previsão do delito de omissão


de socorro. A omissão do art. 304 do CTB é crime próprio, logo só pode ser cometida pelo
condutor do veículo:

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar


imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa
causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:

Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir


elemento de crime mais grave.

Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo,
ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima
com morte instantânea ou com ferimentos leves.

Já no caso de omissão de assistência a idoso, aplica-se o art. 97 da Lei n.º


10.741/2003 (Estatuto do Idoso):

Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou
dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses
casos, o socorro de autoridade pública:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão


corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

4 MAUS-TRATOS

Maus-tratos

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou
disciplina:
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 21

Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

O bem jurídico tutelado no crime em questão é a vida e a incolumidade física


de pessoas sob guarda, autoridade ou vigilância do agente para os fins de educação,
ensino, tratamento ou custódia. Trata-se de crime próprio, sendo sujeito ativo aquele
que tem autoridade, guarda ou vigilância em relação à vítima. O sujeito passivo é a
pessoa sob autoridade, guarda ou vigilância do agente. O delito se consuma com a
criação de um risco real.
Se a intenção é lesionar ou matar a vítima, o crime será outro. Lesão corporal
ou morte, conforme o caso.
O crime é executado mediante a restrição de alimentos, sendo que a privação
total poderá configurar o crime de homicídio em sua modalidade tentada; privação
de cuidados indispensáveis, como ausência de cuidados médicos ou não
disponibilização de cama, permitindo que o filho durma no chão, por exemplo;
sujeição a trabalho excessivo ou inadequado; ou abuso de meio corretivo ou
disciplinar.
Cumpre ainda diferenciar a infração penal em estudo da modalidade do crime
de tortura previsto no art. 1º, inciso II, da Lei n.º 9.455/97 (Lei dos Crimes de Tortura):

Art. 1º Constitui crime de tortura:


[...]
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma
de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Enquanto o delito de maus-tratos tem como característica a exposição da vítima


a simples perigo, com a finalidade de punir, de corrigir, o de tortura é bem mais grave,
haja vista submeter o ofendido a intenso sofrimento físico ou mental. A intenção nesse
último é fazer a vítima sofrer.
Vale ainda ressaltar que o crime previsto no Código Penal não se aplica a
animais. Há nesse caso regulação específica na Lei n.º 9.605/98 (Lei dos Crimes
Ambientais), conforme art. 32 desse diploma legal:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais


silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em


animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 22

Finalmente, havendo maus-tratos contra idosos, o crime será o previsto no artigo


99 da Lei n.º 10.741/2003 (Estatuto do Idoso).

4.1 FORMAS QUALIFICADAS

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de um a quatro anos.

§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Os parágrafos 1º e 2º tratam de formas qualificadas do delito. Nesses casos,quando


a exposição ao perigo resultar lesão corporal grave ou morte, as penas serãode reclusão
de 1 (um) a 4 (quatro) anos e 4 (quatro) a 12 (doze) anos, respectivamente. Ressalte-se
que haverá a ocorrência de crime doloso agravado pelo resultado culposo, já que o dolo
do agente deve ser no sentido de expor a perigo.

4.2 CAUSA DE AUMENTO DE PENA

§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa


menor de 14 (catorze) anos

Por sua vez, o parágrafo terceiro traz uma causa de aumento de pena,
estabelecendo a majoração da sanção em um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos. Esse dispositivo legal foi inserido no Código Penal por
meio da Lei n.º 8.069/90, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente.

5 RIXA

O crime de rixa encontra-se tipificado no Código Penal nos termos a seguir:

Rixa

Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores:

Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.

Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-


se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois
anos.

Pode-se conceituar esse delito como briga generalizada, em que pelo menos
três pessoas se agridem entre si, mediante contato físico ou arremesso de objetos.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 23

Note que há nesse caso concurso necessário de pessoas, haja vista a participação de
pelo menos três envolvidos para a configuração do delito em estudo.
O crime de rixa tutela a incolumidade da pessoa humana. Os sujeitos do crime
podem ser qualquer pessoa e a consumação ocorre com o início do conflito (crime de
mera conduta).
Popularmente, trata-se a rixa como uma “diferença”, uma situação mal
resolvida entre duas pessoas, ou dois grupos. Contudo, esse entendimento mostra-se
equivocado, pois, conforme ensina Sanches (2011, p. 250), “não haverá rixa quando
possível definir, no caso concreto, dois grupos contrários lutando entre si. Nessa
hipótese, os integrantes de cada grupo serão responsabilizados pelas lesões corporais
causadas nos integrantes do grupo contrário”. Assim, aquelas brigas previamente
agendadas nas redes sociais por integrantes de torcidas rivais identificadas não
configuram rixa.
O parágrafo único do artigo 137 trata da rixa qualificada. Esta ocorrerá quando
do crime de rixa resultar morte ou lesão grave. Nesse caso, todos envolvidos, inclusive
a vítima de lesão corporal grave, responderão pela forma qualificada do crime. Se na
ocasião for possível identificar os autores da morte ou da lesão, estes responderão pelo
respectivo crime, enquanto os demais responderão por rixa qualificada.
Por fim, vale pontuar que, se um dos rixosos reconhece um desafeto e se
aproveita da rixa para matá-lo, não incidirá a qualificadora. Note que a morte não
decorre da rixa em si, mas de uma motivação diversa. Desse modo, os envolvidos na
rixa responderão pelo crime em sua forma simples, enquanto o autor do homicídio
será responsabilizado nos termos do artigo 121 do Código Penal.

6 CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Constrangimento ilegal

Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, oudepois


de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade deresistência, a
não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Aumento de pena

§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a


execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.

§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.

§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:


I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de
seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 24

Nesse crime o bem jurídico tutelado é a liberdade individual da pessoa. É crime


comum e o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que tenha autodeterminação
(exclui-se crianças de pouca idade, loucos, embriagados). A consumação ocorre no
momento que a vítima age ou deixa de agir, conforme determinado pelo coator (crime
material).
Constranger consiste em coagir, em obrigar alguém a fazer aquilo que a lei não
manda, ou a não fazer o que a lei não proíbe. O fundamento constitucional do delito
em estudo é o art. 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988: “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Só a lei pode
impor obrigações ao particular, lhe sendo permitido fazer o que não estávedado pela
legislação.
De acordo com o caput do dispositivo em estudo, o delito pode ser executado
mediante emprego de violência, grave ameaça, ou qualquer outro meio que reduza a
capacidade de resistência da vítima, o que ocorre, por exemplo, com o emprego de
drogas, de hipnose, etc.
Vale ressaltar, que o crime de constrangimento ilegal é delito subsidiário, tendo
em vista constitui-se elemento de vários tipos penais. É o que ocorre por exemplo no
estupro, em que a vítima é constrangida a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir
que se pratique com ela outro ato libidinoso. Neste caso, por ser elemento do crime de
estupro, o delito em estudo será por ele absolvido.
O parágrafo primeiro impõe a aplicação da pena cumulativamente e em dobro,
quando, para a execução do crime, se reunirem mais de três pessoas, ou houver
emprego de armas. Já o parágrafo segundo estabelece que serão também observadas
as penas referentes à violência. Por fim, o parágrafo terceiro prevê a atipicidade de
determinadas condutas que não se enquadram no tipo penal emestudo. Assim, não
configuram crime: a) a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; b)
a coação exercida para impedir o suicídio. Nesses casos, a preservação da vida é
tratada de forma primordial.
Finalmente, deve-se atentar que havendo finalidade econômica, o crime será o
de extorsão (art. 158, CP).

7 FURTO

Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Tutela-se no crime de furto a propriedade, a posse e a detenção legítima de


coisa móvel. Qualquer pessoa, exceto o proprietário da coisa, pode ser sujeito ativo
do crime. O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa. Quanto à consumação, entende
o Superior Tribunal de Justiça (STJ) que ocorre quando a coisa subtraída passa para o
poder do agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de
deslocamento ou posse mansa e pacífica.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 25

O tipo penal em estudo é composto por elementos a saber: a) subtrair: retirar a


coisa da posse da vítima, passando ao poder do agente; b) coisa: possui natureza corpórea
e valor econômico; c) alheia: pertencente a outrem; d) móvel: possível de ser deslocada
de um local para outro.
Quando estudamos o crime de furto, necessário se faz enfrentar algumas
questões controvertidas, que acabam por despertar dúvidas.
É comum se ouvir que ladrão que furta ladrão não comete furto. Todavia, tal
afirmação não é procedente, já que nesse caso haverá sim o crime de furto.
Entretanto, a vitima será a real dona da coisa.
É também corriqueiro o entendimento que quem acha coisa alheia perdida não
comete crime. Tal entendimento é também equivocado, já que nesse caso estará
configurado o crime de apropriação de coisa achada, previsto no art. 169 do Código Penal:
Art. 169. [...].

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de coisa achada

II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente,


deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à
autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

Ainda há dúvida se aquele que se apossa de coisa abandonada comete crime.


Nesse caso, já que a coisa abandonada não pertence a ninguém, não é coisa alheia,
logo não há furto ou apropriação indevida.
Também são recorrentes os questionamentos acerca do furto de uso. Essa
conduta configura-se pela subtração de coisa alheia (não consumível) com a intenção
de usá-la momentaneamente e em seguida devolvê-la ao real proprietário. É conduta
atípica no âmbito criminal comum, haja vista não haver previsão no Código Penal.

Entretanto, configura crime militar, consoante estabelece o art. 241 do Código


Penal Militar:

Furto de uso

Art. 241. Se a coisa é subtraída para o fim de uso momentâneo e, a seguir, vem
a ser imediatamente restituída ou reposta no lugar onde se achava:

Pena - detenção, até seis meses.

Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se a coisa usada é veículo


motorizado; e de um terço, se é animal de sela ou de tiro.

7.1 CAUSA DE AUMENTO DE PENA


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 26

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso


noturno.

Quando o furto for praticado durante o repouso noturno, a sua pena será
aumentada em um terço. Nesse ponto, é importante lembrar que o local do delito é
irrelevante, incidindo essa majoração da pena mesmo nos estabelecimentos comerciais
e no furto de veículo estacionado na rua, por exemplo, quando efetuados nesse período.
Ainda, para identificar o período em que incide essa causa de aumento,
necessário se faz observar o costume local.

7.2 FURTO PRIVILEGIADO

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz


pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
terços, ou aplicar somente a pena de multa.

Pela regra do § 2º do art. 155 do Código Penal, se a coisa subtraída for de


pequeno valor e o criminoso for primário, o juiz poderá substituir a pena de reclusão
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Coisa de pequeno valor, consoante entendimento jurisprudencial, será aquela cujo
valor não ultrapasse o de um salário mínimo. Já o criminoso primário é aquele que
não é reincidente, ou seja, em relação ao qual ainda não houve nenhuma sentença
transitada em julgado por qualquer outro delito.

7.3 ENERGIA ELÉTRICA

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha


valor econômico.

O parágrafo terceiro do artigo 155 trata da energia elétrica, equiparada a coisa


móvel para fins de aplicação do Código Penal. De fato, não há dúvida sobre a possibilidade
de furto de energia elétrica. Contudo, a questão torna-se controvertida quando o assunto
é o sinal de TV a cabo. Esse sinal é considerado energia? De acordo com o Supremo
Tribunal Federal (STF), não é. Nesse caso, é atípica a conduta de ligar clandestinamente
TV a cabo. Equiparar o sinal de TV à energia elétrica, de acordo com o STF, seria analogia
in malam parte, o que é vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro, já que se estaria
utilizando a analogia em prejuízo do réu.
Abaixo julgado do Supremo Tribunal Federal nesse sentido:

Ementa: Furto e ligação clandestina de TV a cabo. [...] O sinal de TV a


cabo não é energia, e assim, não pode ser objeto material do delito
previsto no art. 155, § 3º, do Código Penal. Daí a impossibilidade de se
equiparar o desvio de sinal de TV a cabo ao delito descrito no referido
dispositivo. Ademais, na esfera penal não se admite a aplicação da
analogia para suprir lacunas, de modo a se criar
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 27

penalidade não mencionada na lei (analogia in malam partem), sob


pena de violação ao princípio constitucional da estrita legalidade.
Precedentes. Ordem concedida. (HC n.º 97.261/RS, 2ª Turma, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, j. 12/04/2011, DJe 03-05-2011).

Coaduna com tal entendimento os ensinamentos de Bitencourt (2010, p. 67),


que esclarece: “A energia se consome, se esgota, diminui e pode, inclusive, terminar,
ao passo que sinal de televisão, não se gasta, não diminui; mesmo que metade do País
acesse o sinal ao mesmo tempo, ele não diminui, ao passo que, se fosse a energia
elétrica, entraria em colapso. ”
Por fim, cumpre esclarecer que haverá furto de energia elétrica quando a
subtração for perpetrada mediante ligação clandestina (“gato”), pois se a fraude
ocorrer no medidor, o crime será o de estelionato (art. 171, CP).

7.4 FURTO QUALIFICADO

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;


II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver


emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
[Incluído pela Lei n.º 13.654, de 2018]

§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto


mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático,
conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo
de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou porqualquer outro
meio fraudulento análogo. [Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021]

§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do


resultado gravoso: [Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021]

I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é


praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional; [Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021]
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso
ou vulnerável [Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021]

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de


veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 28

§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de


semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes
no local da subtração. [Incluído pela Lei n.º 13.330, de 2016]

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a


subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. [Incluído
pela Lei n.º 13.654, de 2018]

O § 4º do artigo 155 do Código Penal traz, em seus incisos, algumas hipóteses


de furto qualificado, estipulando uma pena mais rígida em relação ao furto simples. O
delito de furto será qualificado (inciso I) quando cometido com destruição ou
rompimento de obstáculo à subtração da coisa.
Se, por exemplo, o sujeito quebra o vidro de um automóvel para subtrair o
aparelho de som que está em seu interior, responderá por furto qualificado, ainda que
existam decisões judiciais recentes considerando essa situação furto simples. Por
outro lado, se o vidro for quebrado para que o agente possa adentrar no veículo e
subtraí-lo, haverá furto simples.
Haverá também furto qualificado (inciso II) quando este for praticado com
abuso de confiança (por exemplo, por uma empregada doméstica que possui uma
cópia da chave da casa dos patrões por confiança destes nela), mediante fraude (ex.:
alguém que se passa por agente da Sucam para ter acesso a residência e furtar algo
dali), escalada (pulando um muro alto de uma casa, por exemplo) ou destreza (como
no furto realizado pelo chamado “lanceiro”, que consegue subtrair a carteira de
alguém com habilidade suficiente para que este não perceba).
No furto realizado com emprego de chave falsa, outra hipótese de furto
qualificado (inciso III), o sujeito pode utilizar-se de uma cópia clandestina da chave
original, da denominada “chave mixa” ou de qualquer objeto que se preste a abrir
fechaduras.
O furto será igualmente qualificado (inciso IV) quando praticado mediante
concurso de duas ou mais pessoas. Nesse caso, poderá haver coautoria, quando todos
os envolvidos praticam a execução do furto, ou participação, quando alguém presta
auxílio moral ou material ao executor do delito, como o sujeito que deixa destrancada
a porta do local de trabalho para que outro adentre o local e subtraia bens que ali se
encontram.
Em razão do aumento considerável de furtos contra caixas eletrônicos de
instituições bancárias, geralmente com o uso de explosivos, casos estes amplamente
divulgados na mídia, inseriu-se uma nova qualificadora no delito de furto.
O novo § 4º-A do artigo 155 do Código Penal, incluído pela Lei n.º 13.654, de
23 de abril de 2018, prevê como furto qualificado aquele praticado com emprego de
explosivo ou de outro artefato análogo que cause perigo comum. Nesse caso, a pena
é 4 a 10 anos de reclusão, além de multa.
A recente inserção dos § 4º-B e § 4º-C, teve o objetivo de tornar mais graves os
crimes de violação de dispositivo informático, de forma eletrônica ou pela internet,
em decorrência do sensível crescimento dessa espécie de delitos, consequência da
potencialização das transações financeiras realizadas a partir de aplicativos, sites e
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 29

dispositivos eletrônicos. Nesse particular, como tratam-se de delitos essencialmente


investigativos, dificilmente o policial militar atuará na repressão de tais delitos.
Já o § 5º do artigo 155 traz, em separado e com uma pena diferente das demais,
mais uma figura de furto qualificado, quando este for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro estado ou para o exterior. Ressalte-se que veículo
automotor pode ser um automóvel, uma motocicleta, um caminhão, entre outros. Assim,
além de o objeto do furto ser necessariamente um veículo automotor,este deverá ser
efetivamente levado para outro estado brasileiro ou para outro país.
Por seu turno, inserido pela Lei n.º 13.330, de 2 de agosto de 2016, o § 6º do art.
155 do Código Penal descreve outra qualificadora do crime de furto, que incidirá
quando a subtração for de semovente domesticável de produção.
Nos dizeres de Gagliano e Pamplona Filho (2006, p. 297): “Os semoventes são
os bens que se movem de um lugar para outro, por movimento próprio, como é ocaso
dos animais.”Desse modo, como a qualificadora em questão destina-se especificamente
aos semoventes domesticáveis de produção, inclui-se, então, entre eles os bovinos,
caprinos, suínos ou quaisquer outros animais que ali se classifiquem. Além disso, a
qualificadora também aplicar-se-á nas situações em que o animal furtado seja abatido
ou dividido em partes, mas desde que isso ocorra no local da subtração.
Assim, a qualificadora em análise não terá emprego, por exemplo, no furto de
uma peça de carne em um açougue.
Em correspondência com a inclusão dessa nova espécie de furto qualificado, aLei
n.º 13.330/2016 passou a prever uma nova forma de receptação, incluída no Código
Penal por meio do no art. 180-A:

Receptação de animal

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito


ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve
saber ser produto de crime: [Incluído pela Lei n.º 13.330, de 2016]

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. [Incluído pela Lei n.º
13.330, de 2016]

Por fim, a partir da edição da supracitada Lei n.º 13.654/2018, que inseriu o
novo § 7º do artigo 155, conforme previsto nesse dispositivo, também será
qualificado o furto de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, proporcionem a fabricação, montagem ou emprego daqueles
elementos explosivos. A pena do furto será, então, de 4 a 10 anos, além de multa.

7.5 FURTO FAMÉLICO

A coisa furtada para saciar a fome se insere no estado de necessidade previsto


no artigo 24 do Código Penal, havendo, assim, a exclusão da ilicitude da conduta.
Entretanto, para que se configure esse estado de necessidade, necessário se faz a
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 30

presença e determinados requisitos, consoante ensina Rogério Sanches (2011, p.292): “1)
que o fato seja praticado para mitigar a fome; 2) Inevitabilidade do comportamento
lesivo; 3) subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência; 4)
insuficiência de recursos adquiridos ou impossibilidade de trabalhar. ”
7.6 FURTO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

De acordo com os ensinamentos de Bittencourt (2006, p.26), “a tipicidade


penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois nem
sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o
injusto típico. ”
Também chamado de princípio de bagatela, esse instituto objetiva afastar o
crime nos casos em que a lesão jurídica provocada é irrelevante, de modo a não causar
prejuízo significante nem ao titular do bem jurídico tutelado nem a ordem social.
Contudo, para que seja possível a exclusão do crime com fundamento no
princípio em questão, entende o Supremo Tribunal Federal que necessário se faz o
atendimento dos requisitos a seguir:

 Mínima ofensividade da conduta do agente;


 Nenhuma periculosidade social da ação;
 Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
 Inexpressividade da lesão jurídica provocada;

A seguir, duas decisões proferidas por tribunais superiores, acerca da


possibilidade de aplicação do princípio da insignificância ou bagatela:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. TENTATIVA.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. OCULTA
COMPENSATIO. 1. A aplicação do princípio da insignificância há de
ser criteriosa e casuística.

2. Princípio que se presta a beneficiar as classes subalternas,


conduzindo à atipicidade da conduta de quem comete delito movido
por razões análogas às que toma São Tomás de Aquino, na Suma
Teológica, para justificar a oculta compensatio. A conduta do paciente
não excede esse modelo.

3. O paciente tentou subtrair de um estabelecimento comercial


mercadorias de valores inexpressivos. O direito penal não deve se ocupar
de condutas que não causem lesão significativa a bens jurídicos
relevantes ou prejuízos importantes ao titular do bem tutelado, bem
assim à integridade da ordem social. Ordem deferida. (HC n.º 97.189/RS,
2ª Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 09/06/2009, DJe 14/08/2009).
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 31

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE


FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. BOTIJÃO DE GÁS,
CUJO VALOR FOI ESTIMADO EM R$169,00. VÍTIMA IDOSA,
APOSENTADA, COM RENDA PRESUMIDA DE UM SALÁRIO-
MÍNIMO. 1. No caso em exame, o valor do bem objeto da tentativa de
furto - um botijão de gás, cujo valor foi estimado em R$169,00 -, não
pode ser considerado insignificante para a vítima, pessoa idosa e
aposentada, com renda presumida de um salário mínimo. 2. Recurso
ordinário constitucional ao qual se nega provimento. (RHC n.º
28.527/TO, 6ª Turma, Rel. Min. Celso Limongi (Des. convocado), j.
28/09/2010, DJe 18/10/2010).

7.7 FURTO E CRIME IMPOSSÍVEL

Discute-se no âmbito jurídico se o monitoramento constante do bem por


câmeras torna o crime de furto impossível por absoluta ineficácia do meio de
execução. De acordo com o STF, os equipamentos apenas dificultam a ocorrência do
crime, mas não o impedem, afastando-se, portanto, a alegação de crime impossível. É
o que aponta a decisão a seguir:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO QUALIFICADO


TENTADO. ALEGAÇÃO DE CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO
CONFIGURAÇÃO. MEIO EFICAZ PARA A OCORRÊNCIA DO
CRIME, QUE SÓ NÃO SE CONSUMOU POR MOTIVOS ALHEIOS
À VONTADE DO AGENTE. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA.
I - A questão discutida neste habeas é saber se o constante
monitoramento do agente pelo equipamento de vigilância eletrônico, com
a posterior abordagem de um segurança da loja para impedir a
consumação do crime, é suficiente para torná-lo impossível, nos termos
do art. 17 do Código Penal. II – No caso sob exame, o meioempregado pelo
paciente não foi absolutamente ineficaz, tanto que demandou a
participação de um agente de segurança para impedir asua saída com os
objetos furtados do estabelecimento comercial. III - A existência de
equipamentos de segurança apenas dificulta a ocorrência do crime, mas
não o impede totalmente, a ponto de torná- lo impossível. IV - A
jurisprudência desta Suprema Corte, em outras oportunidades, afastou a
tese de crime impossível pela só existência de sistema de vigilância
instalado no estabelecimento comercial, visto que esses dispositivos
apenas dificultam a ação dos agentes, sem impedi-la. V – Habeas corpus
denegado.(HC n.º 104.341/MG, 1ª Turma, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 21/09/2010, DJe 08/11/2010).

8 ROUBO

Roubo
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 32

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa,emprega


violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

No delito em estudo o bem jurídico tutelado é o patrimônio e a liberdade


individual. Note que o crime de roubo combina o furto com o constrangimento ilegal.
Tanto o sujeito ativo quanto o passivo podem ser qualquer pessoa.
A consumação ocorre com a subtração da coisa, no roubo próprio e com o
emprego da violência ou grave ameaça, no roubo impróprio.
O roubo próprio está previsto no caput do art. 157: a violência ou grave ameaça
é empregada antes da subtração da coisa. Já o roubo impróprio é previsto no § 1º do
art. 157: a violência ou grave ameaça é empregada logo depois de subtraída a coisa, a
fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para
terceiro. No roubo próprio o agente constrange a vítima para subtrair a coisa alheia;
no impróprio, ele primeiro subtrai e em seguida emprega a violência ou a grave
ameaça para assegurar a coisa. Exemplificando: o agente abre a mochila da vítima e
retira o celular desta. Em seguida, a vítima vira e percebe que o seu celular foi
subtraído. O agente, então, desfere um soco contra ela a fim de assegurar a subtração
do objeto.
De fato, para a realização do roubo, o agente utiliza-se de violência ou grave
ameaça a pessoa, ou de qualquer outro meio que reduza ou impossibilite a resistência
da vítima.
A grave ameaça é a promessa de causar mal grave e possível a própria vítima
ou a terceiros (parentes, amigos, etc.). Conforme ensina Capez (2013, p.363):
“Configura grave ameaça o simples porte ostensivo de arma de fogo, assim como a
simulação do porte do referido artefato. O emprego de arma de fogo defeituosa,
desmuniciada ou de brinquedo também configuram grave ameaça. ”
Já a violência refere-se a agressão, a utilização de força física contra a pessoa,
com ou sem lesão corporal. Se a lesão corporal for leve, será absolvida pelo roubo.
Tratando-se da violência empregada no crime de roubo, necessário se faz
enfrentar dois temas que causam discussão na doutrina e jurisprudência. Se o agente,
para realizar a subtração da coisa trombar na vítima? Ou se arrebata, arranca um
objeto preso ao corpo do ofendido? Uma corrente de ouro, por exemplo.
Para a resposta desses questionamentos, necessário se faz recorrer a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que, não obstante a existência de
decisões divergentes, vem se sedimentando no sentido de se classificar como roubo
as duas condutas acima descritas. Desse modo, sendo a vítima derrubada e lesionada
durante a subtração, o crime será de roubo (STJ, REsp n.º 778.800/RS, 5ª Turma, Rel.
Min. Laurita Vaz, j. 02/05/2006, DJ 05/06/2006). Contudo, deve-se ficar claro que
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 33

trata-se de uma trombada, que levou a vítima ao chão, já que um simples esbarrão ou
toque no corpo da vítima não configura roubo.
Da mesma forma, quando os objetos presos ao corpo da vítima, uma corrente
de ouro, por exemplo, for arrancada, causando-lhe lesões ou diminuindo-lhe a
possibilidade de resistência, restará também configurado o crime de roubo (STJ, REsp
n.º 631.368/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 27/09/2005, DJ
07/11/2005).
Por fim, o outro meio que reduz ou impossibilita a resistência pode ser
tratado como violência imprópria. Ex: emprego de soníferos (prática conhecida como
“boa noite cinderela”), drogas, etc., com a finalidade de facilitar a subtração da coisa.
Nesses casos, mesmo não havendo emprego da violência propriamente dita, o crime
será de roubo.
Contudo, se a redução da resistência decorre de ato da própria vítima, não
haverá roubo, devendo o agente responder por furto. Ex.: cidadão mistura álcool
com medicamento antidepressivo e fica embriagado, facilitando a ação do agente que
subtrai a sua carteira.

8.1 ROUBO CIRCUNSTANCIADO

§ 2º - A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: [Incluído pela Lei n.º
13.654, de 2018]

I - [Revogado pela Lei n.º 13.654, de 2018]


II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado


para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego. [Incluído pela Lei n.º 13.654, de 2018]

§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): [Incluído pela Lei n.º 13.654,
de 2018]
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena previstano
caput deste artigo. [Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019]

O chamado roubo circunstanciado encontra previsão nos incisos do § 2º do e do


§ 2º-A do art. 157 do Código Penal. Trata-se, na verdade, de determinadas circunstâncias
que, quando presentes, fundamentam o aumento de pena da proporção de um terço
até a metade (§ 2º), ou de dois terços (§ 2º-A).
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 34

O inciso I do § 2º, que foi revogado pela Lei n.º 13.654, de 23 de abril de 2018,
estabelecia o aumento da pena em razão do emprego de arma. No entanto, houve a
revogação desse dispositivo, mas não a revogação da conduta como causa do aumento
de pena, que permanece, agora no inciso I do § 2º-A, com uma majoração ainda maior
que a anterior.
O inciso II do § 2º estabelece que é causa de aumento de pena o concurso de
duas ou mais pessoas para o cometimento do crime, ou seja, pessoas se unem, em
coautoria ou participação, para cometer o delito de roubo. A dúvida que pode surgir
é a seguinte: e se um dos agentes for inimputável, haverá esse aumento de pena? Sim.
Ainda assim será aplicada a causa de aumento, pois computa-se para tal finalidade
tanto os inimputáveis quanto pessoas não identificadas que participaram do crime.
Já nos termos do inciso III do § 2º, a pena será aumentada se estiver a vítima
em serviço de transporte de valores e o agente conhecer tal circunstância. Todavia, se
o valor pertence à própria vítima, não se aplica a causa de aumento, já que não restará
configurado o serviço de transporte de valores.
Outra situação em que a pena será aumentada está prevista no inciso IV do §
2º. É a do roubo de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
do território nacional ou para outro país. Nesse caso, o veículo automotor (automóvel,
motocicleta, ônibus, caminhão. etc.) deverá necessariamente ser levado para outro
estado brasileiro ou para o exterior.
Também, consoante estabelece o inciso V do § 2º, quando no roubo o agente
mantiver a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade, existirá causa de
aumento de pena. Essa hipótese não é a do popularmente chamado “sequestro-
relâmpago”, pois esta configura o delito de extorsão qualificada, como será visto
adiante. Seria, então, aquela situação, por exemplo, na qual o agente, após roubar o
automóvel da vítima, a coloca no porta-malas, para evitar que chame a polícia,
soltando-a há alguns quilômetros do local do crime.
Devido ao expressivo aumento da prática de roubos contra instituições
financeiras, conforme amplamente divulgado na mídia, e com parte considerável
dessas ações delituosas envolvendo explosões de caixas eletrônicos, inseriu-se nova
causa de aumento de pena no crime de roubo, por meio da Lei n.º 13.654, de 23 de
abril de 2018.
Essa majorante da pena incidirá quando a subtração no crime de roubo for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
proporcionem a fabricação, montagem ou emprego daqueles elementos explosivos.
Isso é o está previsto no novo inciso VI do § 2º do artigo 157 do Código Penal, havendo
um aumento de um terço até metade da pena.
Também por meio da Lei n.º 13.654/2018 acrescentou-se o § 2º-A no artigo 157
do Código Penal, dispositivo que estabelece duas situações de majoração de pena, ambas
as situações com aumento de 2/3. A primeira delas, disposta no inciso I do § 2º-A, prevê
o aumento de 2/3 da pena quando a violência ou ameaça no roubo é exercida com
emprego de arma.
No crime de roubo, o entendimento do que seja arma tem sentido amplo: arma
de fogo, faca, espada, martelo, caco de vidro, etc., contudo, pode ocorrer da
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 35

arma não ser localizada no ato da prisão, já que o agente, tentando se livrar do
flagrante, pode dispensá-la. Sobre essa questão, já se posicionou o Supremo Tribunal
Federal: “A apreensão da arma de fogo, no afã de justificar a causa de aumento de
pena prevista no art. 157, § 2º, I, do CP, não é necessária nas hipóteses em que sua
efetiva utilização pode ser demonstrada por outros meios de prova” (STF, HC n.º
104.197/MS, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, j. 06/09/2011, DJe 20/09/2011).
Outra dúvida comum diz respeito à intimidação realizada pelo agente com o
emprego de arma de brinquedo. Conforme observamos em tópico anterior, o roubo
estará configurado, haja vista a ocorrência da grave ameaça.
Entretanto, o emprego desse tipo de arma não poderá fundamentar uma causa
de aumento de pena com fulcro no art. 157, § 2º, inciso I, do CP, pois, conforme
entendimento do STJ, o emprego de arma de brinquedo no delito de roubo não é hábil
para fazer incidir a causa de aumento de pena prevista no Código Penal. Esse
posicionamento foi firmado após o cancelamento da Súmula 174, que tinha o seguinte
teor: “No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o
aumento da pena”.
O fundamento para essa nova posição é que a arma de brinquedo não possui
potencialidade lesiva, de modo que não seria lógico lastrear uma causa de majoração
que se funda no perigo concreto causado ao agente.
A outra circunstância de aumento de pena prevista no § 2º-A, em seu inciso II,
surgiu como forma de coibir as já mencionadas ações criminosas contra instituições
financeiras envolvendo explosões de caixas eletrônicos. Desse modo, essa majorante da
pena incidirá quando, no roubo, existir destruição ou rompimento de obstáculo por
meio da utilização de explosivo ou de qualquer artefato análogo que ocasione perigo
comum.
Por fim, § 2º-B, inserido pela lei 13.964 de 2019 (pacote anticrime), estabeleceu
a aplicação em dobro da pena estipulada no caput do art. 157, quando a violência ou grave
ameaça for exercida com o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

8.2 ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO MORTE (LATROCÍNIO)

§ 3º Se da violência resulta: [Redação dada pela Lei n.º 13.654, de 2018]

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e


multa;
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

O Código Penal, no § 3º do seu artigo 157, parágrafo este que teve sua redação
alterada pela Lei n.º 13.654/2018, prevê o roubo qualificado pelo resultado lesão
corporal grave e pelo resultado morte.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 36

No primeiro caso (inciso I), se a violência empregada no roubo resultar em


lesão corporal grave (que inclui a denominada lesão corporal gravíssima) na vítima,
a pena será de reclusão de 7 a 18 anos, além da multa.
Aqui houve um aumento da pena máxima cominada, de 15 para 18 anos,
operado pela Lei n.º 13.654/2018.Já na segunda hipótese (inciso II), a de roubo
qualificado pelo resultado morte, também chamado latrocínio, a pena será de 20 a 30
anos de reclusão, além da multa. Nesse delito, o agente tem o objetivo de subtrair a
coisa valendo-se da morte da vítima como meio para alcançar esse intento.
Dessa maneira, ocorrendo a morte a título de dolo ou de culpa, estará
configurado o latrocínio.
Vale ressaltar que, mesmo que o agente não consiga subtrair a coisa, havendo
o homicídio, estará configurado o crime de latrocínio, consoante estabelece a Súmula
n.º 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
não realize o agente a subtração de bens da vítima.”

Desse modo, a consumação do latrocínio seguirá o seguinte esquema:


MORTE SUBTRAÇÃO LATROCÍNIO
Consumada Consumada Consumado
Tentada Tentada Tentado
Consumada Tentada Consumado
Tentada Consumada Tentado

Uma outra questão diz respeito à extensão da qualificadora no caso de


coautoria. Nesse sentido, havendo concurso de pessoas para a realização do delito,
não importa que apenas um dos coautores tenha efetuado o disparo, de modo que,
ocorrendo a morte da vítima, todos os envolvidos no roubo serão responsabilizados
pelo latrocínio (STJ, HC n.º 31.169/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j.
16/12/2004, DJ 06/02/2006).
Por outro turno, Greco (2012, p.24), destacando posicionamento sedimentado
no Superior Tribunal de Justiça, ensina que, havendo uma única subtração com
pluralidade de mortes, o entendimento majoritário é no sentido da unidade da ação
delituosa, havendo por conseguinte crime único. Nesse caso, o número de mortes
atuará como agravante judicial na determinação da pena-base.

Finalmente, vale lembrar que o crime de latrocínio é considerado crimehediondo,


consoante estabelece a Lei n.º 8.072/90:

Art. 1º. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no


Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados
ou tentados:
[...]
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 37

Esse fato afasta qualquer possibilidade de arbitramento de fiança ao indiciado


ou acusado pelo crime de latrocínio, bem como impede a concessão de anistia, graça
e indulto. Além disso, por conta também dessa natureza hedionda do crime de latrocínio,
o condenado por esse delito iniciará o cumprimento da pena necessariamente em regime
fechado.
Também a progressão de regime de cumprimento de pena somente ocorrerá
depois de cumpridos2/5 da pena, isto se o condenado for réu primário, ou de 3/5 da
pena caso seja reincidente. Lembre-se que, para os crimes não hediondos, a exigência
é de cumprimento de ao menos 1/6 da pena, nos termos do art. 112 da Lei de
Execução Penal.
Já em caso de prisão temporária decorrente de autoria ou participação no crime
de latrocínio, esta terá o prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias (desde que haja
extrema e comprovada necessidade), igualmente em razão da natureza hedionda do
delito em questão. Ressalte-se que o prazo é de 5 dias, prorrogáveis pelo mesmo período,
para os crimes não hediondos.

8.3 ROUBO E INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

É possível aplicar o princípio da insignificância a agente que simula portar


arma e ameaça a vítima, subtraindo desta coisa de pequeno valor econômico?
De acordo com o Supremo Tribunal Federal, e do mesmo modo o Superior
Tribunal de Justiça, não é possível a aplicação do princípio da insignificância no crime
de roubo.
Isto, sobretudo, pelo crime de roubo caracterizar-se pelo emprego de violência ou
grave ameaça, ainda que relacionado a coisa de ínfimo valor, o que afasta a aplicação do
princípio em questão. Nesse sentido, recorre-se a dois julgados dos referidos tribunais
superiores:

EMENTA: Habeas corpus. Penal. Crime de roubo qualificado (art. 157,


§ 2º, inciso II, do Código Penal). Inaplicabilidade. Precedentes. 1. O
crime de roubo se caracteriza pela apropriação do patrimônio de
outrem mediante violência ou grave ameaça à sua integridade física
ou psicológica. No caso concreto, ainda que o valor subtraído tenha
sido pequeno, não há como se aplicar o princípio da insignificância,
mormente se se considera que o ato foi praticado pelo paciente
mediante grave ameaça e com o concurso de dois adolescentes, fato
esse que não pode ser taxado como um comportamento de reduzido
grau de reprovabilidade. 2. A jurisprudência consolidada nesta
Suprema Corte é firme no sentido de ser inaplicável o princípio da
insignificância ao delito de roubo. 3. Habeas corpus denegado. (STF,
HC n.º 97.190/GO, 1ª Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 10/08/2010,
DJe 08/10/2010, grifo nosso).

EMENTA: Habeas corpus. Roubo circunstanciado. Pena aplicada: 5


anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial semiaberto.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 38

Impossibilidade de aplicação do princípio da insignificância. Delito


complexo. Pluralidade de bens jurídicos ofendidos. Integridade física
da vítima que jamais pode ser considerada como um irrelevante
penal. Precedentes do STJ. Crime consumado. Dispensabilidade da
posse tranquila da res furtiva. Parecer do MPF pelo conhecimento em
parte do writ e, nessa parte, pela denegação da ordem. Ordem
denegada. 1. Apesar do ínfimo valor do bem subtraído, o caso sub
judice não merece a aplicação do postulado permissivo (princípio da
insignificância), eis que o delito de roubo não ofende apenas o
patrimônio furtado, mas também a integridade física da vítima que
jamais pode ser considerada como um irrelevante penal.
Precedentes do STJ. 2. Conforme orientação já sedimentada nesta Corte,
a posse tranquila sobre a res furtiva não é imprescindível para a
consumação do crime de roubo. 3. Parecer do MPF peloconhecimento
em parte do writ e, nessa parte, pela denegação da ordem. 4. Ordem
denegada. (STJ, HC n.º 149.877/MG, 5ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, j. 17/06/2010, DJe 02/08/2010, grifo nosso).

9 EXTORSÃO Extorsão

Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o


intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

O crime de extorsão consiste em constranger (obrigar, forçar) alguém,


mediante violência ou grave ameaça, e com a finalidade de obter para si ou para
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer
alguma coisa. Assim, não é necessário o recebimento da indevida vantagem
econômica para a consumação do delito, bastando que a vítima, constrangida por
violência ou ameaça, faça, tolere que se faça ou deixe fazer alguma coisa.
Nesse sentido, a Súmula n.º 96 do Superior Tribunal de Justiça dispõe: “O crime
de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. Um
exemplo comum do delito de extorsão é o chamado golpe do falso sequestro, no qual
a vítima é compelida, mediante ameaça e pela simulação do sequestro de algum
familiar, a efetuar recargas para telefones celulares outransferências bancárias.
Cumpre ainda diferenciar o crime de extorsão do crime de roubo, já queambos,
apesar de serem delitos distintos, possuem algumas semelhanças. Conforme ensina
Dupret, (2008, p.425): “hoje prevalece que a diferença está no comportamento da
vítima. Quando for dispensável para a consumação do crime haverá roubo. Quando
for indispensável, haverá extorsão.”
Se um indivíduo obriga a vítima a realizar uma transferência bancária para sua
conta, o comportamento dessa vítima é indispensável para a consumação do delito,
uma vez que a operação dependerá do fornecimento de sua senha, havendo,
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 39

pois, crime de extorsão. Por outro lado, se o sujeito, apontando um revólver, pede que
a vítima entregue a bolsa, essa conduta da vítima não é indispensável para a
consumação do crime, já que o bandido pode arrancá-la à força, logo se trata de roubo.

9.1 FORMAS MAJORADAS E QUALIFICADAS DO ROUBO

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de


arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do


artigo anterior.

§ 3º - Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa


condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal
grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º,
respectivamente.

O parágrafo primeiro do artigo 158 do Código Penal (CP), de forma semelhante


ao crime de roubo, prevê o aumento da pena, de um terço até metade,quando a extorsão
for cometida por duas ou mais pessoas.
No entanto, deverá haver necessariamente coautoria na extorsão para incidir essa
causa de aumento de pena. Se o agente atuar como mero partícipe no crime, não incidirá
a referida causa de aumento de pena.
Isto porque, enquanto no delito de roubo o texto legal faz referência a concurso
de pessoas (englobando, assim, tanto a coautoria quanto a participação), no crime de
extorsão a literalidade da lei em sua majorante exige que o crime seja cometido por duas
ou mais pessoas, restringindo, então, o aumento de pena aos casos de coautoria. Existirá
ainda a mesma majorante (causa de aumento de pena) se o delitofor praticado com
emprego de arma, que, como no roubo, poderá ser arma própria ou imprópria.
De acordo com o parágrafo segundo do artigo 158, serão aplicadas as mesmas
penas previstas para o roubo qualificado pelos resultados lesão corporal grave e
morte (latrocínio), respectivamente, quando a extorsão praticada mediante violência
resultar lesão corporal grave ou morte.
Nessas hipóteses qualificadas, a pena é de 7 a 15 anos de reclusão no caso da
lesão corporal grave, e de 20 a 30 anos de reclusão quando resultar a morte da vítima,
além da pena de multa em ambas as situações. Ressalte-se que essa extorsão
qualificada pelo resultado morte é considerada crime hediondo, conforme estabelece
o art. 1º, inciso III, da Lei n.º 8.072/90. Dessa maneira, todas aquelas restrições e
vedações impostas pela Lei de Crimes Hediondos estudadas em relação ao crime de
roubo aplica-se igualmente nesse último caso.
Por fim, no parágrafo terceiro do artigo 158 do CP, a partir da Lei n.º 11.923,
de 17 de abril de 2009, está previsto o chamado “sequestro-relâmpago”também como
forma qualificada do crime de extorsão. Nesse caso, a pena é de 6 a 12 anos de
reclusão, além da multa. Porém, se dessa conduta resultar lesão corporal grave ou
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 40

morte, a pena passa a ser, respectivamente, de 16 a 24 anos de reclusão ou de 24 a 30 anos


de reclusão.
Antes da Lei n.º 11.923/2009, havia muita divergência no enquadramento da
conduta conhecida como “sequestro-relâmpago”. Enquanto um posicionamento
defendia que o “sequestro-relâmpago” era espécie de extorsão mediante sequestro,
outro a tratava como roubo qualificado pela restrição da liberdade da vítima, sendo
que nenhuma dessas figuras delituosas se conformava adequadamente àquele
comportamento.
Atualmente, com a inclusão dessa conduta no crime de extorsão, o problema
foi resolvido. Nessa espécie de extorsão qualificada, o criminoso se vale da restrição
da liberdade da vítima como condição necessária para a obtenção da indevida
vantagem econômica. O exemplo mais comum é aquele em que a vítima é levada pelo
criminoso a um caixa eletrônico e, mediante violência ou grave ameaça, obrigada a
realizar saques de sua conta bancária, utilizando-se de seu cartão e senha.

10 APROPRIAÇÃO INDÉBTA

Apropriação indébita

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a


detenção:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

No delito de apropriação indébita o bem jurídico tutelado é a propriedade. É


crime comum e o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica.
O crime se consuma com a conversão da coisa alheia em uso próprio (crime material).
Importante observar que no crime em estudo o agente tem a posse da coisa. Ele
não a subtrai, mas passa a comportar-se como se fosse dono da coisa alheia queestá
sobre o seu poder. Ex.: cliente loca um DVD e, após assisti-lo, resolve não o devolver.
É fundamental que o agente tenha a posse ou detenção da coisa legitimamente
e que a vontade de se apropriar seja posterior à aquisição dessa posse ou detenção do
bem.

10.1 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:


I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 41

O parágrafo primeiro traz três circunstâncias que aumentam a pena em um


terço. A primeira diz respeito ao depósito necessário. Vale ressaltar que tal depósito,
tratado no inciso I, encontra previsão no artigo 647, inciso II, do Código Civil: “É
depósito necessário: [...] II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como
o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque. ”
A pena também será aumentada quando o agente recebe a coisa na qualidade
de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial. Nesses casos, os particulares são nomeados por um juiz como depositário.
Por fim, aumenta-se a pena se o agente recebeu a coisa em razão de ofício,
emprego ou profissão. Há aqui uma relação entre a atividade laboral desempenhada
pelo agente e o recebimento da coisa.
Contudo, deve ficar claro que, se a apropriação é realizada por um funcionário
público, o crime será o de peculato, previsto no artigo 312 do Código Penal:

Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Ainda nessa linha, quando a apropriação tiver por objeto proventos, pensão ou
qualquer outro rendimento do idoso, o crime será o previsto no art. 102 do Estatuto
do Idoso:

Art. 102.Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro


rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:Pena –
reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

11 CRIMES SEXUAIS

11.1 ESTUPRO

Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

No crime de estupro tutela-se a dignidade sexual. Atualmente, após a alteração


trazida pela Lei n.º 12.015/2009, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito
passivo também pode ser qualquer pessoa, exceto o vulnerável, pois nesse
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 42

último caso haverá um crime específico (art.217-A do CP). A consumação ocorre com
a prática do ato libidinoso.
A tipificação do delito em estudo indica o constrangimento mediante o emprego
de violência ou grave ameaça à realização da conjunção carnal (penetraçãodo pênis
na cavidade vaginal) ou de qualquer outro ato libidinoso, que consiste naquele que
atenta contra o sentimento médio de moralidade sexual e tem por finalidade satisfazer a
lascívia, o apetite sexual do agente.
Para Capez (2013, p. 459), “cuida-se de conceito bastante abrangente, na
medida em que compreende qualquer atitude com conteúdo sexual que tenha por
finalidade a satisfação da libido. ”
Importante destacar que o contato físico é prescindível (dispensável) para a
realização do crime de estupro. Conforme ensina Sanches (2011, p. 408): “De acordo
com a maioria da doutrina, não há necessidade de contato físico entre o autor e a
vítima, cometendo o crime o agente que, para satisfazer sua lascívia, ordena que a
vítima explore seu próprio corpo (masturbando-se), somente para contemplação. ”
Outra questão polêmica diz respeito beijo lascivo.
Na Bahia, durante as festas populares, é comum o policial militar deparar-secom
situações em que mulheres são beijadas à força, surgindo, assim, a seguinte indagação: o
beijo lascivo é um ato libidinoso suficiente para a configuração do crime de estupro? Não
obstante haver certa divergência na doutrina, alguns autores compreendem ser possível
a configuração do crime de estupro no caso do beijo lascivo, já que o tipo do delito em
estudo prevê o constrangimento para a prática da conjunção carnal ou de outro ato
libidinoso.
Assim consoante ensina Mirabete (1999, p. 1262): “É considerado libidinoso o
beijo aplicado de modo lascivo ou com fim erótico. ” De sorte, para que o beijo seja
considerado lascivo, deve ser prolongado, com resistência da pessoa beijada, ou
eróticos, aqueles direcionados a partes intimas da vítima.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem se manifestado pela
possibilidade de caracterização de estupro por beijo lascivo, como se constata na decisão
adiante:

EMENTA: Penal. Agravo regimental no recurso especial. Ato


libidinoso diverso da conjunção carnal. Apalpação da genitália de
vítima menor. Desclassificação para o tipo previsto no art. 65 do
decreto-lei 3.688/41. Impossibilidade. Precedentes. Fato
incontroverso nos autos. Súmula 7/STJ. Não incidência. Agravo
regimental improvido. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça vem se consolidando no sentido de que o atentado violento
ao pudor engloba atos libidinosos de diferentes níveis, inclusive os
toques, os contatos voluptuosos e os beijos lascivos (HC
154.433/MG, Rel.Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em
19/08/2010, DJe 20/09/2010), sendo, portanto, incabível a
desclassificação para a contravenção penal de importunação ofensiva
ao pudor da conduta de apalpar a genitália de menor de idade,
utilizando-se de argumentos como a equidade, justiça ou
proporcionalidade entre o delito e a pena aplicada. (STJ, AgRg no
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 43

REsp 1.671.953/MG, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 21/11/2017, DJe


04/12/2017, grifo nosso).

É óbvio que para que o delito se configure deve haver o emprego da força física
(violência) ou grave ameaça, de modo que o consentimento da suposta vítima afasta
o crime. Ademais, esse dissenso da vítima, conforme ensinam Salim e Azevedo (2011,
p. 367), deve fundar-se numa “resistência sincera e positiva. Um não querer sem
maior rebeldia (negativas tímidas) não denota discordância. ”
Discute-se ainda na doutrina como a quantidade de vítimas estupradas em uma
mesma ocasião pode influenciar no cômputo da pena. Embora não haja consenso, o
Superior Tribunal de Justiça se posiciona no sentido da ocorrência do concurso
material de crimes, ou seja, o agente que na mesma ocasião e em um mesmo lugar
estupra duas ou mais vítimas, deve responder em concurso material, ocorrendo, por
conseguinte, crimes autônomos, o que traz como consequência a soma das penas. Tal
posicionamento se mostra coerente, pois interpretação diversa restaria por
beneficiar o infrator. Diferentemente, havendo vários estupros contra a mesma vítima
na mesma ocasião, estaremos diante de crime único.

11.1.1 Estupro Qualificado

§ 1º - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é


menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º - Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

O estupro qualificado encontra previsão nos parágrafos 2º e 3º do art. 213 do


Código Penal. Nesses casos, a pena será majorada em face da ocorrência de condutas
agravadas pelo resultado, ou pela idade da vítima.
A primeira parte do § 1º e o § 2º tratam da ocorrência de crimes agravados pelo
resultado. Se da conduta do agente resultar lesão corporal grave ou lesão corporal
gravíssima, a pena será de reclusão de 8 a 12 anos; ao passo que, se resultar morte, a pena
será de 12 a 30 anos. Deve-se ficar claro que a ocorrência de lesões corporais leves,
decorrentes do constrangimento ou da realização dos atos, são absolvidas pelo estupro,
pois configuram meios para a sua execução.
Uma outra possibilidade de estupro qualificado está prevista na parte final do
referido§ 1º do art. 213 do Código Penal. Nessa hipótese, se a vítima tiver idade entre
14 e 18 anos, o estupro será qualificado, passando a ter pena de8 a 12 anos de
reclusão.
Cumpre salientar que, se o estupro for praticado contra menor de 14 anos ou
contra pessoa que não tenha o necessário discernimento para a prática do ato em
decorrência de enfermidade, de deficiência mental ou que por qualquer outra causa não
possa oferecer resistência (por exemplo, o paciente em estado de coma ou aquele que se
encontra completamente embriagado), o crime será o estupro de vulnerável, previsto no
artigo 217-A do Código Penal, nos seguintes termos:
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 44

Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso commenor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1º - Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com


alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.

§ 2º - [VETADO]

§ 3º - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4º - Se da conduta resulta morte:


Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se


independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Note, que no estupro de vulnerável, o emprego de violência ou grave ameaça


é dispensável para a consumação do delito. Ademais, no que se refere a vida pregressa
da vítima, já decidiu o STF que "Para a caracterização do crime de estuprode vulnerável
previsto no art. 217-A, caput, do Código Penal, basta que o agente tenha conjunção
carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos.
O consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a
existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência
do crime" (STJ, 3' Seção, REsp 1480881, j. 26/08/2015). Essa posição foi reforçada pela
inserção do § 5º no dispositivo legal em questão, pela lei 13.718/2018, haja vista ter
trazido a previsão que o consentimento da vítima ou o fato de ela ter mantido relações
sexuais anteriormente ao crime, não afasta a conduta criminosa.

11.1.2 Estupro e atentado violento ao pudor

Antes da edição da Lei n.º 12.015/2009, o atentado violento ao pudor estava


tipificado no artigo 214 do Código penal. Consistia, pois, no tipo que configurava o
atentado violento ao pudor o fato de o agente constranger alguém a praticar ou permitir
que com ele se praticasse ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Desse modo, quando
o agente constrangia a vítima a praticar a conjunção carnal e um outro ato libidinoso,
havia concurso material de crimes.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 45

A consequência prática disso era que o autor respondia por ambos os delitos,
ocorrendo a soma das penas. Todavia, com a supramencionada alteração legislativa
ocorrida em 2009, ocasião em que a conduta anteriormente descrita como atentado
violento ao pudor passou a integrar o crime de estupro, afastou-se a possibilidade de
concurso de crimes.
Assim, o agente que constrange a vítima a realizar as duas condutas — a de
conjunção carnal mais outro ato libidinoso diverso —, pratica apenas um crime, qual
seja, ode estupro. De fato, essa mudança acabou beneficiando alguns criminosos, já
que a referida alteração, por ser mais favorável, retroage para alcançar os casos
ocorridos antes de sua edição.
Dessa maneira, se o indivíduo foi condenado em concurso material pelos
crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, desde que os tenha praticado nas
mesmas condições de tempo e lugar, terá sua pena revisada. Nesse sentido já se
posicionou o Supremo Tribunal Federal (STF), como se observa na decisão a seguir:

EMENTA: Habeas corpus. Atentado violento ao pudor e estupro.


Absorção do primeiro pelo segundo. [...] A tese da absorção do
atentado violento ao pudor pelo de estupro (previstos,
respectivamente, nos arts. 213 e 214 do Código Penal, na redação
anterior à Lei 12.015/2009) — sob o argumento de que o primeiro
teria sido praticado como um meio para a consecução do segundo —
está relacionada à conduta do paciente no momento dos delitos pelos
quais ele foi condenado e demanda, por esse motivo, o reexame de
fatos e provas, inviável no âmbito da via eleita. Embora o acórdão
atacado esteja em harmonia com a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, cujo Plenário, em 18.06.2009, no julgamento do HC
86.238 (Rel. Min. Cezar Peluso e rel. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski), assentou a inadmissibilidade da continuidade delitiva
entre o estupro e o atentado violento ao pudor, por tratar-se de
espécies diversas de crimes, destaco que, após esse julgado,
sobreveio a Lei 12.015/2009, que, dentre outras inovações, deu nova
redação ao art. 213 do Código Penal, unindo os dois ilícitos
acima.Com isso, desapareceu o óbice que impedia o
reconhecimento da regra do crime continuado no caso. Em atenção
ao direito constitucional à retroatividade da lei penal mais benéfica
(CF, art. 5º, XL), seria o caso de admitir-se a continuidade delitiva
pleiteada, porque presentes os seus requisitos (CP, art. 71), já que
tanto a sentença, quanto o acórdão do Tribunal de Justiça que a
manteve evidenciam que os fatos atribuídos ao paciente foram
praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de
execução. [...]. (STF, HC n.º 96.818/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, j. 10/08/2010, DJe 17/09/2010, grifo nosso).

Por fim, é necessário esclarecer que não houve descriminalização (ou abolitio
criminis) do delito de atentado violento ao pudor, haja vista que a conduta descrita
para esse delito passou a integrar o delito de estupro (art. 213 do CP). Tal
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 46

entendimento decorre do princípio da continuidade normativa típica, haja vista não


ter ocorrido descontinuidade normativa da conduta que tipifica o atentado violento
ao pudor.

11.2 IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com
o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído pela Lei
nº 13.718, de 2018)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

O dispositivo legal em questão, implementado com a reforma de 2018, notadamente pela


lei nº 13.718, de 2018, regulou a conduta de praticar contra alguém e sem a sua anuência, ato
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Note, que
diferentemente do crime de estupro, não há a figura da violência ou grave ameaça, mas sim a
prática sem anuência da vítima.
Esse delito veio em resposta, sobretudo, as constantes ocorrências em transportes
coletivos, onde mulheres se queixam constantemente de indivíduos que forçam contatos
físicos através de esfregões, ou até mesmo se masturbam na frente das vítimas, com o objetivo
de satisfazer a sua lascívia.
Vale ressaltar que anteriormente, condutas dessa natureza eram penalizadas pela
contravenção tipificada no art. 61da Lei das Contravenções Penais (LCP):
“Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao
pudor”, que impunha apenas uma pena de multa. Com a edição da norma em estudo, houve
a revogação da citada contravenção e foi culminada para o crime de importunação sexual,
pena de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.

11.3 ASSÉDIO SEXUAL

Assédio sexual

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou


favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. [VETADO]
§ 2º - A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito)
anos.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 47

O bem jurídico tutelado no crime em questão é a dignidade sexual e a liberdade


de exercício de trabalho. O sujeito ativo é o superior hierárquico ou ascendente
(condição de mando) em relação de emprego, cargo ou função – crime próprio. Já o
sujeito passivo é o subalterno ou subordinado do agente. O crime é formal, logo a
consumação se dá com o constrangimento.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), configura
assédio sexual:

Atos, insinuações, contatos físicos forçados, convites impertinentes,


desde que apresentem uma das características a seguir: a) ser uma
condição clara para manter o emprego; b) influir nas promoções da
carreira do assediado; c) prejudicar o rendimento profissional,
humilhar, insultar ou intimidar a vítima.

Nesse sentido, é imprescindível que o agente se utilize de sua condição de


superioridade hierárquica ou ascendência para constranger a vítima. Contudo, deve-
se deixar claro que aqui o constrangimento é diferente daquele exercido no crime de
estupro, pois basta ao agente embaraçar, importunar, envergonhar, perseguir com
propostas. Não há violência ou grave ameaça, mas deve atuar o agente prevalecendo-
se de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função. Sobre o assunto, ensina Masson (2014, p.47):

No crime de assédio sexual o verbo constranger deve ser encarado em


outra dimensão, resultando em uma modalidade específica de
constrangimento ilegal (princípio da especialidade), sem violência à
pessoa ou grave ameaça, pois tais meios de execução não constam da
descrição típica. De fato, a conduta consiste em molestar, perturbar
uma pessoa, intimidando-a, com o propósito de alcançar vantagemou
favorecimento sexual, afetando sua dignidade, sua intimidade, sua
tranquilidade e seu bem-estar.

Recorrendo a entendimento majoritário na doutrina, a diferença entre


superioridade hierárquica e ascendência reside no fato da primeira está relacionada à
superioridade exercida na administração pública, enquanto que a ascendência é
observada nas relações privadas.
De fato, a prova da ocorrência do assédio sexual não é tarefa fácil. Por um lado,
o autor certamente vai se resguardar, não realizando as suas investidas na presença
de outras pessoas; por outro, pode ocorrer de uma suposta vítima simular uma
situação, objetivando prejudicar seu superior em razão de um desentendimento
qualquer. Sobre esse ponto, leciona Nucci (2010, p. 922):

Se para a condenação de estupradores, por exemplo, já se encontra


imensa dificuldade, por vezes sendo o juiz levado a acreditar
unicamente na palavra da vítima, o que dizer do assédio sexual?
Poderia alguém, demitido injustamente, vingar-se do seu superior,
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 48

denunciando-o à autoridade pela prática de assédio sexual,


possibilitando o indiciamento e até o processo crime, fundado na
palavra da parte ofendida. Ainda que haja absolvição porinsuficiência
de provas, lastreada a decisão no princípio da prevalência do interesse
do réu (in dúbio pro reo), o prejuízo é evidentee o constrangimento
gerado, também.

Para que não restem dúvidas acerca do delito em estudo, cabe esclarecer
algumas questões. Se um superior propõe a pessoa subalterna relação sexual, sem
intimidá-la, não há assédio sexual.
Se ainda um professor constrange um aluno, não há assédio sexual, pois, este
último não é funcionário da instituição de ensino, logo não há exercício de emprego,
cargo ou função (esse é o entendimento majoritário na doutrina). Por outro lado, é
possível assédio sexual contra um empregado doméstico, já que há exercício de
emprego, havendo por conseguinte subordinação.
Por fim, se a vítima do assédio sexual for pessoa menor de 18 anos, haverá um
aumento da pena em até um terço, conforme disposto no § 2º do art. 216-A do Código
Penal.
No entanto, se o assédio é dirigido a menor de 14 anos, o crime poderá ser o
previsto no art. 217-A do Código Penal – estupro de vulnerável, na forma tentada ou
consumada, conforme o caso.

11.4 DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE


VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA

Novidade implementada pela lei nº 13.718, de 2018, o presente dispositivo


legal atende há uma patente necessidade de controlar a divulgação de cenas
pornográficas, potencializadas pelo crescimento da circulação de dados e imagens
nas mídias sociais.
Assim, buscou-se tipificar, de forma consideravelmente abrangente, a
disseminação de conteúdos que contenham cenas de estupro ou estupro de
vulnerável, ou mesmo daqueles que façam apologia ou induzam a prática destes
delitos. Foi criminalizada ainda, a ação daquele que, sem o consentimento da vítima,
faz circular cena de sexo, nudez ou pornografia, conforme depreende-se da análise do
tipo penal abaixo:

Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à


venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio
de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia,
vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro
de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído
pela Lei nº 13.718, de 2018)
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 49

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é


praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto
com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. (Incluído pela Leinº
13.718, de 2018)

Exclusão de ilicitude (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no


caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural
ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da
vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Importante observar que trata-se de crime plurinuclear, haja vista comtemplar


inúmeras condutas, restando o crime configurado com a realização de ao menos uma
destas. Entretanto, realizando o agente a mais de uma das práticas previstas, estará
configurado um único delito.
Ainda, merece atenção a causa de aumento de pena, de um terço a dois terços,
implementada quando o agente mantém ou manteve relação intima de afeto com a
vítima, ou quando o faz com a finalidade de vingança ou humilhação.
Por fim, será excluída a ilicitude da conduta, quando a prática se der em
publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica, com a adoção de
recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização,
caso seja maior de 18 (dezoito) anos.

11.5 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA NOS CRIMES CONTA A DIGNIDADE


SEXUAL

Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)

I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou


mais pessoas; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei
nº 13.718, de 2018)
III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: (Incluído
pela Lei nº 13.718, de 2018)

Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)


a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (Incluído pela Lei nº
13.718, de 2018)
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 50

Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)


b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. (Incluído pela
Lei nº 13.718, de 2018)

O artigo 226, CP, situado no capítulo IV, do título VI (dos crimes contra a
dignidade sexual), trata das disposições gerais, estabelecendo o aumento de pena em
determinadas circunstâncias, inclusive, nos casos do estupro coletivo e do estupro
corretivo. Nesses casos, a pena será aumentada de um terço a dois terços.
Ressalte-se que essas duas modalidades foram inseridas no código penal brasileiro
pela lei federal nº 13.718, de 2018, que aperfeiçoou o rol de delitos contra a dignidade
sexual.
O estupro coletivo é aquele que se configura com o concurso de dois ou mais
agentes. Já o corretivo, tem por objetivo controlar o comportamento social ou sexual da
vítima, o que ocorre por exemplo, quando a vítima sofre a violência sexual em razão
de ser homossexual.

12 DESOBEDIÊNCIA

Desobediência

Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

Neste delito em questão, há desobediência a uma ordem legal emanada de


funcionário público, no nosso caso específico, o policial militar. Por seu turno, o PM
deverá ter competência legal para proferir a ordem, pois, estando esta fora de su as
atribuições legais, não haverá delito de desobediência.
Também essa desobediência não poderá ser realizada através de ameaça ou
violência, já que nessa hipótese, como já visto, o crime será o de resistência. Além
disso, se o sujeito desobedece a uma ordem legal mediante violência ou ameaça, não
existirão dois crimes, mas somente o de resistência, uma vez que este delito mais
grave absorverá o de desobediência, que é menos grave em relação ao anterior.
Convém ainda lembrar que não haverá crime de desobediência por parte do
condutor de veículo que se negar a realizar o teste do etilômetro (bafômetro)
oferecido pelo PM em uma “blitz”.
Nesse caso, o motorista estará exercendo seu direito de não autoincriminação,
com fundamento no art. 8º, item 2, alínea g, da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), e no art. 5º, inciso LXIII, da Constituição
Federal, só devendo incidir as medidas administrativas do Código de Trânsito
Brasileiro diante dessa recusa.
Assim como o crime de resistência, o delito de desobediência também é
infração penal de menor potencial ofensivo.
Do mesmo modo, se o sujeito que cometeu essa infração, depois da lavratura
do Termo Circunstanciado, for imediatamente encaminhado ao Juizado Especial
Criminal ou se comprometer a ele comparecer, não poderá ser preso em flagrante
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 51

delito. Do contrário, negando-se a qualquer desses procedimentos, poderá haver


prisão em flagrante delito.

13 DESACATO

Desacato

Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão


dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

O crime previsto no artigo 331 do Código Penal incrimina a conduta daquele


que desprestigia a Administração Pública, representada, naquela ocasião, pelo
funcionário público desacatado. Por essa razão, ainda que o policial militar não se
sinta ofendido ou tenha aceitado pedido de desculpas, mas tenha realmente ocorrido
a ofensa, subsistirá o delito de desacato.
Em relação a isso, Calhau (2004, p.91) cita a seguinte ementa de decisão
judicial: “Bicheiros detidos por desacato. Policiais militares que no caminho para a
D.P. aceitam pedido de desculpas e liberam os presos. Ausência de comunicação do
ocorrido. Prevaricação cometida’. (TJRJ). ”
O delito de desacato pode ser cometido por diversas formas, não estando restrito
ao uso de palavras. Como ensina Noronha, (1995, p. 308): “Consiste em palavras, gritos,
gestos, escritos (presente o funcionário), vias de fato e lesõescorporais.” O que é exigido
para caracterização do desacato é a finalidade de ofender nessas ações.
Desse modo, se a violência exercida pelo particular contra o funcionário
público tem por objetivo tão somente humilhar este último, haverá delito de desacato.
Por outro lado, se a violência tem por finalidade opor-se à execução de ato legal,
existirá crime de resistência.
Além disso, em qualquer hipótese, o policial militar deverá estar presente no
local da ofensa, ainda que não esteja frente a frente com o ofensor, podendo, por
exemplo, encontrar-se de costas quando palavras de calão são proferidas.
Vale lembrar que o simples descontentamento ou indignação do particular
perante o ato do policial militar, por si só, não caracteriza o crime de desacato. Agora,
se esses sentimentos forem exteriorizados por meio de palavras, gestos ou atos
depreciativos ou humilhantes, subsistirá o delito de desacato.
Finalmente, sendo o desacato classificado como infração de menor potencial
ofensivo, uma vez que sua pena privativa de liberdade máxima estabelecida é de 2
anos de detenção, em regra não haverá imposição de prisão em flagrante. De qualquer
modo, o infrator deverá acompanhar o policial militar até a delegacia de polícia, para
lavratura do termo circunstanciado, não podendo se negar a isso.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 52

14 TRÁFICO DE DROGAS

Lei n.º 11.343/2006

Capítulo II
Dos Crimes

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,


vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500


(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,


oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-
prima para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize,
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo comdeterminação
legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico


destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.
[Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019]

Primeiramente, o policial militar deverá saber distinguir o tráfico de drogas


propriamente dito ou equiparado, consistente naquelas condutas acima descritas, do
porte de drogas para consumo pessoal.
Com base no artigo 28 da Lei n.º 11.343 , de 23 de agosto de 2006, que ficou
conhecida como Lei de Drogas, comete o chamado crime de porte de drogas para
consumo pessoal, e não o de tráfico de drogas, a pessoa que adquirir, guardar, tiver
em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 53

Percebe-se, pois, que a infração penal não é “usar” a droga, mas portá-la (ou
transportá-la, guardá-la, etc.) para consumo pessoal.
Assim, caso o PM, em uma abordagem policial, constate que o agente consumiu
droga (por exemplo, com vestígios desse comportamento ou mesmo com a própria
confissão do indivíduo), mas não a traz mais consigo, não poderá conduzi-lo até uma
delegacia de polícia.
Ressalte-se ainda que, a partir da Lei n.º 11.343/2006, não mais existe pena
privativa de liberdade para quem porta drogas para consumo pessoal.
Hoje, as penas previstas para esse delito são: advertência sobre os efeitos das
drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento
a programa ou curso educativo. Além disso, quem é flagrado atualmente portando
(transportando, etc.) drogas para consumo pessoal não pode ser preso em flagrante
delito, conforme prevê o art. 48, § 2º, da Lei de Drogas.
Qual, então, o procedimento a ser adotado pelo PM quando flagra alguém nessa
situação?
De acordo com as regras desse mesmo artigo 48, o agente deverá ser conduzido
à autoridade policial (delegado de polícia) para lavratura do termo circunstanciado e
imediato encaminhamento ao Juizado Especial Criminal, sendo mais comum, na
prática, o conduzido se comprometer, mediante termo, a comparecer posteriormente
a esse juízo competente.
Já o crime de tráfico de drogas caracteriza-se quando alguém importa, exporta,
remete, prepara, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, tem em
depósito, transporta, traz consigo, guarda, prescreve, ministra, entrega a consumo ou
fornece drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Incorre nas mesmas penas do delito anterior, ou seja, 5 a 15 anos de reclusão e
multa, aquele que importa (exporta, etc.), ainda que gratuitamente, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo
ou produto químico destinado à preparação de drogas.
Igualmente fica sujeito a essas penas aquele que semeia, cultiva ou faz a
colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas.
Atualmente, o regulamento que determina quais substâncias são consideradas
drogas é a Portaria n.º 344, de 12 de maio de 1998, da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), em seu Anexo I.
Esse anexo sofre constantes atualizações, com vistas a inserção de novas drogas
em sua relação, como ocorreu recentemente por meio da Resolução n.º 192, de 11 de
dezembro de 2017.
Entre todas essas substâncias proibidas, é mais comum ao policial militar
encontrar em seu dia a dia drogas como maconha, cocaína, crack, entre outras, mas
não é de todo incomum se deparar com novas drogas que passaram a ser
comercializadas mais recentemente no Brasil.
O inciso IV, recém inserido pela Lei nº 13.964, de 2019 (pacote anticrime),
estabelece que comete conduta equiparada ao tráfico de drogas aquele que vende ou
entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 54

agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta


criminal preexistente.
De fato, o objetivo da lei foi afastar a incidência, nesse tipo de ocorrência, da súmula 145
do STF, que estabelece não haver crime quando a preparação do flagrante pela políciatorna
impossível a sua consumação. Assim, o legislador legitimou a atuação do policial disfarçado,
associando, entretanto, a sua ação a existência de dois requisitos, quais sejam, a presença de
elementos probatórios razoáveis e a preexistência de conduta criminal.
Por fim, o policial militar deverá conhecer as regras para determinar se a droga
encontrada com alguém se destinava ao seu consumo pessoal ou ao tráfico de
entorpecentes.
Para essa distinção, conforme disposto no § 2º do art. 28 da Lei n.º
11.343/2006, deverá levar em conta a natureza e a quantidade da substância
apreendida (quantidades que não são compatíveis com o consumo pessoal, por
exemplo), o local (como nas imediações de escola em que frequentemente há tráfico
de drogas) e as condições em que se desenvolveu a ação (as drogas estavam em
embalagens próprias para comercialização, por exemplo), as circunstâncias sociais e
pessoais do agente, bem como a sua conduta e seus antecedentes.

Ainda que o § 2º do art. 28 da Lei n.º 11.343/2006 refira-se ao juiz na utilização


daqueles critérios supracitados para determinação do tráfico ou porte para consumo
de drogas, é evidente que o delegado de polícia também se valerá deles para o juízo
de tipicidade na fase investigatória.
Essa autoridade policial, por sua vez, basear-se-á principalmente nos
elementos trazidos pelo policial militar, que foi quem participou diretamente da ação.
Observa-se também que, apesar de se levar em conta a quantidade da droga
apreendida na aferição da conduta adequada, não há uma quantidade preestabelecida
na lei para se configurar o tráfico de drogas.
Dessa maneira, o PM deverá atentar-se para todos os detalhes na ação policial,
descrevendo-os minuciosamente para a autoridade policial, possibilitando que esta
realize o correto enquadramento típico da conduta flagrada.

15 CRIMES CONTRA A HONRA

Na execução da atividade de policiamento ostensivo, não é incomum aopolicial


militar deparar-se com situações que possam caracterizar crimes contra a honra. Esses
casos são habituais em conflitos no trânsito ou em desentendimentos entre vizinhos,
por exemplo, geralmente com incidência de agressões verbais.
De todo modo, é necessário que o PM saiba diferenciar cada um dos delitoscontra
a honra, assim como deve saber quando não há caracterização dos referidos crimes. Esses
crimes dependem de representação do ofendido para poderem ser investigados pelo
Poder Público.São crimes contra a honra a calúnia (art. 138, CP), a difamação (art. 139,
CP) e a injúria (art. 140, CP).
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 55

No quadro a seguir, são destacadas as principais características de cada um:

CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia (art. 138, CP) Difamação (art. 140, CP) Injúria (art. 140, CP)
A conduta consiste em atribuir A conduta consiste em A conduta consiste em ofender,
falsamente a alguém um fato imputara alguém um fato ferira honra subjetiva de alguém,
definido como crime. desonroso, mas não descrito na seus atributos morais(dignidade)
lei como crime (diferença da ou físicos,
calúnia), podendo consistir em intelectuais, sociais
um fato verdadeiro ou não. (decoro),atribuindo qualidades
negativas à vítima, com
menosprezo e depreciação.
Pena - detenção, de seis meses adois Pena - detenção, de três meses a um Pena - detenção, de um a seis meses,
anos, e multa. ano, e multa. ou multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, § 1º - O juiz pode deixar de aplicar
sabendo falsa a imputação, apropala a pena:
ou divulga. I - quando o ofendido, de forma
reprovável, provocou diretamente a
§ 2º - É punível a calúnia contra os injúria;
mortos II - no caso de retorsão imediata,
que consista em outra injúria.
Exceção da verdade Exceção da verdade
§ 2º - Se a injúria consiste em
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, Parágrafo único - A exceção da violência ou vias de fato, que, por
salvo: verdade somente se admite se o sua natureza ou pelo meio
I - se, constituindo o fato imputado ofendido é funcionário público e a empregado, se considerem
crime de ação privada, o ofendido ofensa é relativa ao exercício de suas aviltantes:[injúria real]
não foi condenado por sentença funções. Pena - detenção, de três meses aum
irrecorrível; ano, e multa, além da pena
II - se o fato é imputado a qualquer correspondente à violência.
das pessoas indicadas no nº I do art. § 3o Se a injúria consiste na
141; utilização de elementos referentes a
III - se do crime imputado, embora raça, cor, etnia, religião, origem ou
de ação pública, o ofendido foi a condição de pessoa idosa ou
absolvido por sentença irrecorrível. portadora de deficiência: (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e
multa.[injúria qualificada pelo
preconceito, também
conhecida como injúria racial]

16 CRIMES RACIAIS

Os denominados crimes raciais são aqueles que decorrem de discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (art. 1º da Lei nº
7.716/1989). Nesse particular, vale pontuar que a CF/1988, notadamente em seu art.
5, XLII, estabelece que a prática do RACISMO constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 56

O código penal, por sua vez, ao tratar dos crimes contra honra, consoante visto
em tópico anterior, criminaliza a figura da INJÚRIA RACIAL (injúria preconceituosa ou
racismo impróprio), que configura-se quando a ofensa consiste na utilização de elementos
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora
de deficiência. (art.140 § 3o , CP).
Inicialmente, vele pontuar, que os delitos em questão, que inicialmente eram
tratados como tipos penais inteiramente distintos, passaram, a partir de decisões dos
tribunais superiores, a serem observados de maneira mais semelhante, especialmente no
que se refere a imprescritibilidade a impossibilidade de fixação de fiança. De fato,
conforme ensinam Salim e Azevedo (2017, p. 196):

no crime do art. 20, caput da Lei nº 7.716/89 (Praticar, induzir ou


incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional), haverá manifestação preconceituosa genérica
(vítima indeterminada).
Já no crime do art.140 § 3o, do CP, a manifestação preconceituosa dirige-
se contra vítima determinada.

Assim, nota-se que o direcionamento da conduta para um grupo indeterminado


de pessoas ou para uma vítima específica, apresenta-se como a principal distinção
entre os dois delitos.
Contudo, em recente decisão proferida em outubro de 2021, no bojo do HC
154.248, de relatoria do Min. Edson Fachin, o STF firmou entendimento de que o
crime de injúria racial representa uma espécie do gênero racismo, sendo, por
conseguinte, imprescritível.
Ainda nesta toada, importante destacar, que ao julgar a Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão – ADO 26/DF, o STF, ao reconhecer a omissão do
poder legislativo em editar lei que criminalize os atos de homofobia e transfobia,
estabeleceu que estas condutas, até que seja editada uma lei específica, sejam punidas
com fundamento na lei 7.716/1989 (crimes resultantes de preconceito de raça ou cor).
Diante de tudo, deve o policial miliar atentar para a necessidade de atuar no
sentido de prender em flagrante delito aqueles que cometem estas condutas, bem
como, pautar suas ações de maneira a não violar tais preceitos legais, para que assim
não seja responsabilizado por delitos dessa natureza.

17 DELITOS INFORMÁTICOS (CIBERNÉTICOS)

Nos últimos anos observou-se o aumento de alterações legislativas


desencadeadas com o objetivo de regular os crimes praticados a partir de dispositivos
informáticos, de forma eletrônica ou pela internet, em decorrência do sensível
crescimento dessa espécie de delito, que emergem como conseqüência da
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 57

potencialização das transações financeiras e interações, realizadas sobretudo através de


aplicativos, sites e redes sociais.
Nesse tipo de delito, o sujeito se utiliza de dispositivos eletrônicos ou redes de
computadores para cometer a infração penal. Inúmeras condutas tipificadas no
código penal brasileiro e legislação penal podem se adequar a esta modalidade
criminosa, desde que para tanto, sejam perpetradas por meio dos mecanismos
descritos acima. Isso ocorre, por exemplo, com o crime de injúria, estudado em tópico
anterior, em que o agente ofende a honra subjetiva de alguém lhe atribuindo
qualidades negativas com menosprezo e depreciação, bem como no delito de
estelionato, previsto no art. 171 do CP, que caracteriza-se pela obtenção de vantagem
ilícita a partir da indução ou manutenção da vítima em erro, mediante artifício ardil,
ou qualquer outro meio fraudulento.
Além disso, existem crimes que já trazem na essência essa natureza de delito
cibernético, haja vista as suas elementares já preverem a realização da conduta nesses
ambientes eletrônicos e/ou virtuais. È o que ocorre, por exemplo, no crime de furto
qualificado, previsto no art. 155, § 4º-B:
A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o
furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo
eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
computadores, com ou sem a violação de mecanismo de
segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo.

A mesma lógica se adéqua ao crime de divulgação de cena de estupro, estudado


em tópico anterior, bem como ao delito de invasão de dispositivo informático,
previsto no art. 154-A do Código Penal:

Art 154-A. Invadir dispositivo informático de uso alheio,


conectado ou não à rede de computadores, com o fim de obter,
adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Redação dada
pela Lei nº 14.155, de 2021)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.


(Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)

§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui,


vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com
o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se


da invasão resulta prejuízo econômico. (Redação dada pela Lei
nº 14.155, de 2021)
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 58

§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de


comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou
industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o
controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e


multa. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)

§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços


se houver divulgação, comercialização ou transmissão a
terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for


praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de2012)
Vigência

I - Presidente da República, governadores e prefeitos;


(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela


Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,


de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do
Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou (Incluído pela Lei
nº 12.737, de 2012) Vigência

IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal,


estadual, municipal ou do Distrito Federal. Rede de Apoio a
Crimes Cibernéticos na Bahia

Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos na Bahia.

BAHIA – Grupo Especializado de Repressão aos Crimes por Meio Eletrônicos . Rua
Tristão Nunes, nº8, CEP: 40040-130 - Mouraria, Salvador/BA. Contatos: 71 3117-6109 / 71
3116-6109

Projeto NUCCIBER – Promotorias de Justiças Criminais da Capital e do Interior da Bahia

Núcleo de Combate aos Crimes Cibernéticos que visa cooperar, assessorar e a incentivar as
atividades relacionadas ao combate dos crimes praticados no meio cibernético, com foco na
capacitação de pessoal, com olhar global e local sobre tais ameaças virtuais.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 59

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1 ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE E, O PRINCÍPIO DA


PROTEÇÃO INTEGRAL.

Impossível tratar dos direitos da criança e do adolescente sem falar no princípio


da proteção integral. Tal princípio, estampado já no artigo inaugural do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), decorre da doutrina da proteção integral à criança
e ao adolescente, consagrada na Constituição Federal, notadamenteem seus artigos 227
e 228.
De acordo com o princípio em tela, a família, a sociedade e o Estado têm o dever
de proteger as crianças, os adolescentes e os jovens (alteração promovida pela
Emenda Constitucional n. º 65/2010) contra toda forma de negligência,
discriminações, exploração, violência, crueldade e opressão, bem como são
responsáveis por assegurar, com absoluta prioridade, os seus direitos fundamentais.
O princípio da proteção integral representa um marco histórico na evolução dos
direitos da criança e do adolescente no Brasil, sobretudo por tratar as crianças e
adolescentes como titulares de direitos, não se ocupando apenas de regular as sanções
impostas aos menores em conflito com a lei.
Nesse sentido, se posiciona Andréa Amin (2009, p.27):

A doutrina da proteção integral, estabelecida no art. 227 da


Constituição, substitui a doutrina da situação irregular, que ocupou o
cenário jurídico infanto-juvenil por quase um século, que limitava-se
a tratar daqueles que se enquadravam no modelo pré-definido de
situação irregular, estabelecido no art. 2º do Código de Menores de
1979. (AMIN , 2009, p.27)

2 DISTINÇÃO ENTRE CRIANÇA E ADOLESCENTE

Para a distinção entre criança e adolescente deve ser observado o critério legal,
qual seja, aquele estabelecido no art. 2º do ECA. Assim, considera-se criança a pessoa
até doze anos de idade incompletos e adolescente aquele entre doze e dezoito anos
de idade. Essa distinção é importante, sobretudo para a aplicação do ECA, haja vista
a impossibilidade de aplicação de medidas sócio educativas a crianças, ficando estas
sujeitas apenas a medidas de segurança (mais brandas e não abarcam restrição de
liberdade), previstas no artigo 101 do ECA.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 60

3 ATO INFRACIONAL

O conceito de ato infracional é extraído do artigo 103 do ECA. Destarte, considera-


se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Desse modo,
havendo a prática de uma conduta criminosa por parte de uma criançaou adolescente,
tecnicamente não se pode afirmar que há crime, mas, sim, ato infracional.

4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas a que estão sujeitos os adolescentes em conflito


com a lei estão listadas no art. 112 do ECA, nos seguintes termos:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá


aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de


cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de


trabalho forçado.

§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão


tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.

A primeira medida possível é a advertência, que consiste em uma admoestação


verbal, uma reprimenda, que será reduzida a termo e assinada.
Ao adolescente, também pode ser imposta a obrigação de reparar o dano. Nesse
sentido, importante observar que o dano deve ser reparado pelo próprio menor e não
pelos seus pais. Na ocasião o adolescente restituirá a coisa, reparará o dano ou
compensará de alguma forma o prejuízo da vítima.
Admite-se ainda a prestação de serviços à comunidade, que representa a
realização de serviços gratuitos, de interesse social. Entretanto, deve ficar claro que o
serviço a ser prestado não pode ser proibido ao adolescente, e tampouco submetê-lo
a humilhações.
O inciso IV trata da liberdade assistida. Para a efetivação dessa medida é
designado um orientador, que terá a função de acompanhar o adolescente,
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 61

supervisionando a sua frequência escolar, a sua formação profissional, o orientando,


buscando sobretudo assegurar a sua promoção social.
Já o regime de semiliberdade equipara-se ao regime semiaberto, sendo
permitido ao adolescente a realização de atividades externas. Neste caso são
obrigatórias a escolarização e a profissionalização do menor.
A última medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do
Adolescente é a internação. Como trata de restrição de liberdade, deve-se atender a
inúmeros requisitos estabelecidos no próprio estatuto.
Assim, a sua implementação só será possível nas seguintes hipóteses: ato
infracional praticado com violência ou grave ameaça a pessoa, prática reiterada de
infrações graves e descumprimento reiterado e injustificável de outra medida
imposta. Nesse último caso, o prazo de internação não poderá ser superior a três
meses.
Como é obvio, a aplicação da medida de internação só é possível o após o
devido processo legal, devendo ser assegurado ao adolescente à ampla defesa e o
contraditório. Ademais, a internação deve ser utilizada como último recurso, de modo
que havendo outra medida adequada ao caso, deverá ser afastada a restrição da
liberdade.
Outrossim, vale observar que a medida em questão não comporta prazo
determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada no máximo a cada seis meses,
tendo o seu limite fixado em três anos. Ainda, completando o infrator 21 anos de
idade, a liberação será compulsória.

5 APREENSÃO DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Consoante preceitua o art. 106 do ECA, nenhum adolescente será privado de


sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente. Dessa forma, afasta-se a
possibilidade de apreensão para averiguação, bem como qualquer restrição
infundada da liberdade de locomoção do menor, seja em quartéis, seja em postos
policiais, sob pena de responsabilização nos termos do art. 230 do ECA:

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua


apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem
escrita da autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma
pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.

A condução do menor apreendido também exige cautela. O ECA não veda


expressamente a utilização algemas, contudo proíbe o transporte do adolescente em
compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias a sua
dignidade, ou que possam pôr em risco sua integridade física ou mental. Quanto ao
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 62

uso de algemas, dependendo do caso concreto, elas poderão ser utilizadas contra
adolescentes, em situações excepcionais, respeitando-se o disposto na Súmula Vinculante
n. º 11 do STF:

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio


de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito,
sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal doagente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se
refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Aliás, vale aqui abrir um ponto para tratar da utilização de algemas, que não se
resume, exclusivamente a aplicação da Súmula Vinculante nº 11.
Ainda sobre este tema, o Decreto n.º 8.858, de 26 de setembro de 2016, foi
editado com a finalidade de regulamentar o art. 199 da Lei de Execução Penal, que
dispõe: “O emprego de algemas será disciplinado por decreto federal. ”
Com esse objetivo, o Decreto n.º 8.858/2016 estabelece que o uso de algemas
terá como diretrizes a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana (CF,
art. 1º, III) e a proibição de submissão a tratamento desumano e degradante (CF, art.
5º, III).
Também impõe que sejam respeitados, durante o emprego das algemas, a
Resolução n. º 010/16, de 22 de julho de 2010, das Nações Unidas sobre o tratamento
de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras e ao
Pacto de São José da Costa Rica, que determina o tratamento humanitário dos presos e,
em especial, das mulheres em condição de vulnerabilidade.
Em seguida, em seu art. 2º, praticamente repetindo o teor da Súmula Vinculante
de n. º 11, determina: “É permitido o emprego de algemas apenas em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
causado pelo preso ou por terceiros, justificada a sua excepcionalidade por escrito.
”Ao final, em seu art. 3º, proíbe expressamente o uso de algemas em mulheres
presas em qualquer unidade do sistema penitenciário nacional durante o trabalho de
parto, no trajeto da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar e
depois do parto, durante o período em que estiver hospitalizada.
Além disso, o parágrafo único do art. 292 do CPP, dispositivo inserido pela Lei
n. º 13.434, de 12 de abril de 2017, prevê: “É vedado o uso de algemas em mulheres
grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto
e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério
imediato. ”
Desse modo, a algema só pode ser utilizada excepcionalmente, em caso de
resistência, aliado à possibilidade de fuga ou risco à integridade física do próprio
policial ou de terceiros. Por tratar-se de medida excepcional, a utilização da algema
deve ser justificada por escrito, sob pena responsabilidade nas três esferas, e até
mesmo da nulidade da prisão.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 63

A matéria foi tratada com extrema rigidez pelo STF, que inclusive, em um dos
julgamentos que serviu como precedente para edição da súmula em questão (HC n. º
91.952), anulou a condenação imposta pelo Tribunal do Júri de Laranjeiras Paulista
(SP), em razão do réu ter permanecido algemado durante o seu julgamento, sem ter a
juíza apresentado uma justificativa convincente para o caso.
Retomado a questão específica do adolescente, deve o policial militar atuar no
sentido de garantir a sua proteção integral, conforme estudamos em tópico anterior,
assegurando que não seja submetido, durante a sua apreensão, a discriminações,
crueldade, opressão, ou qualquer tipo de situação vexatória, inclusive, a sua
exposição ao público ou a equipes de mídia televisiva.
Nesse sentido, o ECA, em seu artigo 232, impondo pena de detenção de seis
meses a dois anos, tipifica a conduta de submeter criança ou adolescente sob sua
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento.

6 CRIMES CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

Como é sabido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990),


representou um marco no sistema de proteção a estes indivíduos, notadamente por
estabelecer um sistema pautado na proteção integral desse público, colocando-o em
uma condição de prioritária ante a outros segmentos da sociedade. Neste sentido,
além de assegurar uma gama de direitos, o ECA tipificou condutas que atentam contra
a integridade e dignidade da criança e do adolescente, estabelecendo, inclusive, a
adoção da ação pública incondicionada para estes tipos de delitos. Abaixo, listamos
alguns crimes previstos no diploma legal em tela, para que o futuro soldado da PMBA
tenha um ponto de partida para o estudo desse tema tão relevante.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,


guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de


ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo
tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária,


membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Público no exercício de função prevista nesta Lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou


registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 64

pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação


dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação


dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

§ 1 o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta,


coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança
ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda
quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de
2008)

§ 2 o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o


crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de


exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou


de hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)

III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou


afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador,
preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro
título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou


entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
munição ou explosivo:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela


Lei nº 10.764, de 12.11.2003)

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18


(dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-
o a praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei


nº 12.015, de 2009)
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 65

§ 1 o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem


pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer
meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet.
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2 o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas


de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar
incluída no rol do art. 1 o da Lei n o 8.072, de 25 de julho de 1990
. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 66

REFERÊNCIAS

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Juruá, 1994.

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