Apostila Direito Aplicado - Mód II - CFSD 2023.2
Apostila Direito Aplicado - Mód II - CFSD 2023.2
Apostila Direito Aplicado - Mód II - CFSD 2023.2
Direção do CFAP
Diretor - Cel PM Fernando Jorge Portugal do Nascimento
Diretor Adjunto -Ten Cel PM José Mesquíades Rodrigues dos Santos
Equipe Pedagógica
Chefe da Divisão de Ensino: Maj PM Helena Carolina Jones da Cunha
Coordenadora dos Núcleos de Ensino : Maj PM Karina Silva Seixas
Design: Sub Ten PM Karina da Hora Farias
Apostila tualizada em 2023 pelo Cap PM José Cerqueira Lima Filho e pelo Cap PM Hugo
Souza Veloso.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
CRIMES EM ESPÉCIE
1 HOMICÍDIO
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
O artigo 121, caput, trata do homicídio simples, ou seja, o tipo penal básico, isento
de qualificadoras, que são circunstâncias que agravam o crime e consequentemente
majoram a pena.
O bem jurídico tutelado pelo delito em questão é a vida. O sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa (crime comum). O mesmo se aplica ao sujeito passivo.
Deve-se atentar que a vida tutelada pelo crime em estudo é a vida extrauterina,
vez que antes do parto haverá o crime de aborto (art.124, CP). Ademais, se o crime for
praticado durante, ou logo após o parto, estando à mãe em estado puerperal, haverá
o crime de infanticídio (art.123, CP).
A consumação do crime de homicídio se dá com a morte, que compreende a
cessão da vida encefálica, consoante estabelece a o artigo 3º da Lei n. º 9.434/97, que
regula o transplante de órgãos: “A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes
do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de
diagnóstico de morte encefálica [...]”.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:
O inciso VI, inserido pela Lei n.º 13.104, de 9 de março de 2015, passou a prever
o denominado feminicídio (nomenclatura utilizada pela própria lei) como forma de
homicídio qualificado. Como o próprio nome já indica, consiste na conduta de matar
mulher, mas especificamente sendo o crime motivado por razões da condição de sexo
feminino. As hipóteses que caracterizam essas razões vêm elencadas no novo § 2º-A,
incisos I e II, do artigo 121 do Código Penal, dispositivo incluído também pela Lei n.º
13.104/2015, e são elas: a prática do crime em um contexto de violência doméstica e
familiar ou a sua execução por menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Ainda, o inciso VII, incluído pela Lei n.º 13.142, de 6 de julho de 2015,passou a
dispor como nova hipótese de homicídio qualificado aquele praticado contra
determinadas autoridades ou agentes de órgãos de segurança pública ou de defesa
nacional.Esse maior rigor em relação aos crimes cometidos contra profissionais de
segurança pública há muito era reivindicado por setores relacionados a essa área, já
que isso poderia funcionar como forma de coibir ações delituosas contra esses
agentes, muitas das vezes relacionadas ao exercício de suas missões institucionais.
Desse modo, atualmente, será qualificado o homicídio cometido contra policiais
federais, policiais rodoviários federais, policiais ferroviários federais, policiais civis,
policiais militares, bombeiros militares e guardas municipais (todos previstos no art.
144 da Constituição Federal), militares das Forças Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica; art. 142 da Constituição Federal), integrantes do sistema prisional
(diretores, agentes e guardas prisionais, por exemplo) e membros da Força Nacional
de Segurança Pública, mas desde que eles estejam no exercício de suas funções ou o
crime tenha ocorrido em razão de seus ofícios. Além disso, incidirá igualmente a
qualificadora quando o homicídio for praticado contra cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau de quaisquer daquelas autoridades ou
agentes mencionados, contanto que o crime aconteça em decorrência dessas
condições.
Por fim, a partir de inovação trazida pela lei Lei nº 13.964, de 2019 (pacote
anticrime), o inciso VIII, promulgado após derrubada de veto do Presidente da República,
pelo Congresso Nacional, impõe pena de 12 a 30 anos, ao homicídio perpetrado com o
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Ressalte-se que a classificação
desse tipo de armamento encontra-se delineada no art. 3º, parágrafo único, do Anexo I
do Decreto 10.030/19.
(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei
n.º 13.964, de 2019)
A mesma lei estabelece que tais crimes, por serem hediondos, são insuscetíveis
de alguns benefícios que podem ser outorgados aos condenados pela prática de crimes
não hediondos:
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
A dúvida surge quando o agente mata culposamente o seu filho e uma outra
pessoa. Caberia nesse caso a aplicação desse benefício? A resposta é sim, pois, de
acordo com o Superior Tribunal de Justiça, o perdão judicial tem aplicação extensiva,
devendo, portanto, ser aplicado a todos os efeitos causados por uma única ação
delitiva (STJ, HC n.º 21.442/SP, 5.ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 07/11/2002,
DJ 09/12/2002).
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de
transporte de passageiros.
V -[Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008]
§ 2º [Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016]
§ 3º Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: [Incluído
pela Lei n.º 13.546, de 2017]
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. [Incluído
pela Lei n.º 13.546, de 2017]
[...]
2 LESÃO CORPORAL
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 13
Lesão corporal
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida; [comprovado por perícia]
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º Se resulta:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II – enfermidade incurável;
III – perda ou inutilização do membro sentido ou função;
IV – deformidade permanente; [dano estético irreparável]
V – aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
V, o aborto decorrente da lesão corporal deve ser culposo, ou seja, a intenção inicial
do agente deve ser tão somente de lesionar – caso contrário há concurso de crimes,
de modo que será responsabilizado o autor pela lesão corporal e pelo aborto.
A lesão corporal seguida de morte estará configurada quando o agente tiver a
intenção de lesionar, mas em razão de sua ação ocorrer a morte. Há no caso uma
espécie de fusão entre a lesão corporal dolosa e o homicídio culposo. É o chamado
crime preterdoloso. A conduta dolosa menos grave provoca um resultado culposo
mais grave:
Diminuição de pena
Substituição da pena
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Ao tratar das causas de aumento de pena no crime de lesão corporal, o Código Penal
faz referência às mesmas causas que majoram a pena no delito de homicídio. Assim, em
se tratando desse tema, o que foi dito anteriormente sobre o homicídio, aplica-se também
à lesão corporal. É o que se depreende da leitura do § 7º do art. 129:
Aumento de pena
Perceba-se que, no § 8º do art. 129 do CP, a mesma referência é feita no que diz
respeito ao perdão judicial.
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.
[Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015]
Oportuno ressaltar que, apesar de não ter definido crimes nem cominado penas
em seu texto original, a Lei Maria da Penha trouxe repercussão no âmbito criminal,
sobretudo por promover alterações no art. 129 do Código Penal, na medida em que
alterou o seu § 9º e incluiu o §11, como se vê adiante:
Violência Doméstica
O § 9º do art. 129 traz uma forma qualificada de lesão corporal, com pena prevista
de 3 meses a 3 anos de detenção, quando o crime ocorrer em um contexto de violência
doméstica, isto é, quando for praticado contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. Por seu turno, o§ 10
estabelece que, nos casos de lesão corporal grave, gravíssima ou qualificada pelo
resultado morte, se estas forem praticadas naquelas circunstâncias do § 9º, as penas
previstas para esses crimes serão aumentadas em 1/3 (um terço). Jáo § 11 prevê que,
caso o crime de lesão corporal suceda também naquelas hipótesesdo § 9º e seja contra
pessoa portadora de deficiência, haverá um aumento de 1/3 (um terço) da pena.
Ressalte-se ainda que a referida Lei n.º 11.340/2006 alterou a alínea f do inciso
II do art. 61do Código Penal, que passou a vigorar com a seguinte redação:
Circunstâncias agravantes
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime:
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 18
[...]
II – ter o agente cometido o crime:
[...]
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da
lei específica; [Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006 – Lei Maria da
Penha]
Desse modo, fica claro que, não obstante a alteração tenha sido editada com a
finalidade de estabelecer um tratamento mais severo às lesões praticadas contra a
mulher no âmbito doméstico, é possível a aplicação dos dispositivos em estudo
quando a vítima for do sexo masculino.
3 OMISSÃO DE SOCORRO
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública:
Nesse delito, o bem jurídico tutelado é a vida e a saúde do indivíduo. O sujeito ativo
pode ser qual quer pessoa (crime comum) e o sujeito passivo é a pessoa em grave ou
iminente perigo. A consumação ocorre com a situação concreta de risco – vítima adulta,
ou em se tratando de criança abandonada ou extraviada – perigo abstrato (presumido).
Deve-se observar que o crime prevê, alternativamente, a ocorrência de duas
condutas. Comete o delito tanto aquele que se omite de prestar o socorro, bem como
aquele que, não tendo condições de prestar o auxílio de forma direta, não aciona a
autoridade pública para fazê-lo. A segunda opção só deve ser adotada quando não for
possível prestar o socorro à vítima sem se submeter a risco pessoal.
Ainda cumpre esclarecer que não comete o crime aquele que depois de lesionar
deixa de socorrer – responderá por lesão corporal ou homicídio (na forma dolosa ou
culposa).
Por outro lado, se um administrador ou funcionário (ou qualquer outra pessoa
responsável pelo atendimento, como médicos ou enfermeiros) exigir qualquer
garantia (cheque-caução ou nota promissória, por exemplo) como condição para o
atendimento de pessoa que necessite de atendimento médico-hospitalar emergencial,
ele incorrerá no crime do art. 135-A do CP:
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Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo,
ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima
com morte instantânea ou com ferimentos leves.
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou
dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses
casos, o socorro de autoridade pública:
4 MAUS-TRATOS
Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou
disciplina:
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§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Por sua vez, o parágrafo terceiro traz uma causa de aumento de pena,
estabelecendo a majoração da sanção em um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de 14 (catorze) anos. Esse dispositivo legal foi inserido no Código Penal por
meio da Lei n.º 8.069/90, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente.
5 RIXA
Rixa
Pode-se conceituar esse delito como briga generalizada, em que pelo menos
três pessoas se agridem entre si, mediante contato físico ou arremesso de objetos.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 23
Note que há nesse caso concurso necessário de pessoas, haja vista a participação de
pelo menos três envolvidos para a configuração do delito em estudo.
O crime de rixa tutela a incolumidade da pessoa humana. Os sujeitos do crime
podem ser qualquer pessoa e a consumação ocorre com o início do conflito (crime de
mera conduta).
Popularmente, trata-se a rixa como uma “diferença”, uma situação mal
resolvida entre duas pessoas, ou dois grupos. Contudo, esse entendimento mostra-se
equivocado, pois, conforme ensina Sanches (2011, p. 250), “não haverá rixa quando
possível definir, no caso concreto, dois grupos contrários lutando entre si. Nessa
hipótese, os integrantes de cada grupo serão responsabilizados pelas lesões corporais
causadas nos integrantes do grupo contrário”. Assim, aquelas brigas previamente
agendadas nas redes sociais por integrantes de torcidas rivais identificadas não
configuram rixa.
O parágrafo único do artigo 137 trata da rixa qualificada. Esta ocorrerá quando
do crime de rixa resultar morte ou lesão grave. Nesse caso, todos envolvidos, inclusive
a vítima de lesão corporal grave, responderão pela forma qualificada do crime. Se na
ocasião for possível identificar os autores da morte ou da lesão, estes responderão pelo
respectivo crime, enquanto os demais responderão por rixa qualificada.
Por fim, vale pontuar que, se um dos rixosos reconhece um desafeto e se
aproveita da rixa para matá-lo, não incidirá a qualificadora. Note que a morte não
decorre da rixa em si, mas de uma motivação diversa. Desse modo, os envolvidos na
rixa responderão pelo crime em sua forma simples, enquanto o autor do homicídio
será responsabilizado nos termos do artigo 121 do Código Penal.
6 CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Constrangimento ilegal
Aumento de pena
7 FURTO
Furto
Furto de uso
Art. 241. Se a coisa é subtraída para o fim de uso momentâneo e, a seguir, vem
a ser imediatamente restituída ou reposta no lugar onde se achava:
Quando o furto for praticado durante o repouso noturno, a sua pena será
aumentada em um terço. Nesse ponto, é importante lembrar que o local do delito é
irrelevante, incidindo essa majoração da pena mesmo nos estabelecimentos comerciais
e no furto de veículo estacionado na rua, por exemplo, quando efetuados nesse período.
Ainda, para identificar o período em que incide essa causa de aumento,
necessário se faz observar o costume local.
Furto qualificado
Receptação de animal
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. [Incluído pela Lei n.º
13.330, de 2016]
Por fim, a partir da edição da supracitada Lei n.º 13.654/2018, que inseriu o
novo § 7º do artigo 155, conforme previsto nesse dispositivo, também será
qualificado o furto de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, proporcionem a fabricação, montagem ou emprego daqueles
elementos explosivos. A pena do furto será, então, de 4 a 10 anos, além de multa.
presença e determinados requisitos, consoante ensina Rogério Sanches (2011, p.292): “1)
que o fato seja praticado para mitigar a fome; 2) Inevitabilidade do comportamento
lesivo; 3) subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência; 4)
insuficiência de recursos adquiridos ou impossibilidade de trabalhar. ”
7.6 FURTO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
8 ROUBO
Roubo
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Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
trata-se de uma trombada, que levou a vítima ao chão, já que um simples esbarrão ou
toque no corpo da vítima não configura roubo.
Da mesma forma, quando os objetos presos ao corpo da vítima, uma corrente
de ouro, por exemplo, for arrancada, causando-lhe lesões ou diminuindo-lhe a
possibilidade de resistência, restará também configurado o crime de roubo (STJ, REsp
n.º 631.368/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 27/09/2005, DJ
07/11/2005).
Por fim, o outro meio que reduz ou impossibilita a resistência pode ser
tratado como violência imprópria. Ex: emprego de soníferos (prática conhecida como
“boa noite cinderela”), drogas, etc., com a finalidade de facilitar a subtração da coisa.
Nesses casos, mesmo não havendo emprego da violência propriamente dita, o crime
será de roubo.
Contudo, se a redução da resistência decorre de ato da própria vítima, não
haverá roubo, devendo o agente responder por furto. Ex.: cidadão mistura álcool
com medicamento antidepressivo e fica embriagado, facilitando a ação do agente que
subtrai a sua carteira.
§ 2º - A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: [Incluído pela Lei n.º
13.654, de 2018]
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): [Incluído pela Lei n.º 13.654,
de 2018]
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena previstano
caput deste artigo. [Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019]
O inciso I do § 2º, que foi revogado pela Lei n.º 13.654, de 23 de abril de 2018,
estabelecia o aumento da pena em razão do emprego de arma. No entanto, houve a
revogação desse dispositivo, mas não a revogação da conduta como causa do aumento
de pena, que permanece, agora no inciso I do § 2º-A, com uma majoração ainda maior
que a anterior.
O inciso II do § 2º estabelece que é causa de aumento de pena o concurso de
duas ou mais pessoas para o cometimento do crime, ou seja, pessoas se unem, em
coautoria ou participação, para cometer o delito de roubo. A dúvida que pode surgir
é a seguinte: e se um dos agentes for inimputável, haverá esse aumento de pena? Sim.
Ainda assim será aplicada a causa de aumento, pois computa-se para tal finalidade
tanto os inimputáveis quanto pessoas não identificadas que participaram do crime.
Já nos termos do inciso III do § 2º, a pena será aumentada se estiver a vítima
em serviço de transporte de valores e o agente conhecer tal circunstância. Todavia, se
o valor pertence à própria vítima, não se aplica a causa de aumento, já que não restará
configurado o serviço de transporte de valores.
Outra situação em que a pena será aumentada está prevista no inciso IV do §
2º. É a do roubo de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
do território nacional ou para outro país. Nesse caso, o veículo automotor (automóvel,
motocicleta, ônibus, caminhão. etc.) deverá necessariamente ser levado para outro
estado brasileiro ou para o exterior.
Também, consoante estabelece o inciso V do § 2º, quando no roubo o agente
mantiver a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade, existirá causa de
aumento de pena. Essa hipótese não é a do popularmente chamado “sequestro-
relâmpago”, pois esta configura o delito de extorsão qualificada, como será visto
adiante. Seria, então, aquela situação, por exemplo, na qual o agente, após roubar o
automóvel da vítima, a coloca no porta-malas, para evitar que chame a polícia,
soltando-a há alguns quilômetros do local do crime.
Devido ao expressivo aumento da prática de roubos contra instituições
financeiras, conforme amplamente divulgado na mídia, e com parte considerável
dessas ações delituosas envolvendo explosões de caixas eletrônicos, inseriu-se nova
causa de aumento de pena no crime de roubo, por meio da Lei n.º 13.654, de 23 de
abril de 2018.
Essa majorante da pena incidirá quando a subtração no crime de roubo for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
proporcionem a fabricação, montagem ou emprego daqueles elementos explosivos.
Isso é o está previsto no novo inciso VI do § 2º do artigo 157 do Código Penal, havendo
um aumento de um terço até metade da pena.
Também por meio da Lei n.º 13.654/2018 acrescentou-se o § 2º-A no artigo 157
do Código Penal, dispositivo que estabelece duas situações de majoração de pena, ambas
as situações com aumento de 2/3. A primeira delas, disposta no inciso I do § 2º-A, prevê
o aumento de 2/3 da pena quando a violência ou ameaça no roubo é exercida com
emprego de arma.
No crime de roubo, o entendimento do que seja arma tem sentido amplo: arma
de fogo, faca, espada, martelo, caco de vidro, etc., contudo, pode ocorrer da
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arma não ser localizada no ato da prisão, já que o agente, tentando se livrar do
flagrante, pode dispensá-la. Sobre essa questão, já se posicionou o Supremo Tribunal
Federal: “A apreensão da arma de fogo, no afã de justificar a causa de aumento de
pena prevista no art. 157, § 2º, I, do CP, não é necessária nas hipóteses em que sua
efetiva utilização pode ser demonstrada por outros meios de prova” (STF, HC n.º
104.197/MS, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, j. 06/09/2011, DJe 20/09/2011).
Outra dúvida comum diz respeito à intimidação realizada pelo agente com o
emprego de arma de brinquedo. Conforme observamos em tópico anterior, o roubo
estará configurado, haja vista a ocorrência da grave ameaça.
Entretanto, o emprego desse tipo de arma não poderá fundamentar uma causa
de aumento de pena com fulcro no art. 157, § 2º, inciso I, do CP, pois, conforme
entendimento do STJ, o emprego de arma de brinquedo no delito de roubo não é hábil
para fazer incidir a causa de aumento de pena prevista no Código Penal. Esse
posicionamento foi firmado após o cancelamento da Súmula 174, que tinha o seguinte
teor: “No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o
aumento da pena”.
O fundamento para essa nova posição é que a arma de brinquedo não possui
potencialidade lesiva, de modo que não seria lógico lastrear uma causa de majoração
que se funda no perigo concreto causado ao agente.
A outra circunstância de aumento de pena prevista no § 2º-A, em seu inciso II,
surgiu como forma de coibir as já mencionadas ações criminosas contra instituições
financeiras envolvendo explosões de caixas eletrônicos. Desse modo, essa majorante da
pena incidirá quando, no roubo, existir destruição ou rompimento de obstáculo por
meio da utilização de explosivo ou de qualquer artefato análogo que ocasione perigo
comum.
Por fim, § 2º-B, inserido pela lei 13.964 de 2019 (pacote anticrime), estabeleceu
a aplicação em dobro da pena estipulada no caput do art. 157, quando a violência ou grave
ameaça for exercida com o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
O Código Penal, no § 3º do seu artigo 157, parágrafo este que teve sua redação
alterada pela Lei n.º 13.654/2018, prevê o roubo qualificado pelo resultado lesão
corporal grave e pelo resultado morte.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 36
9 EXTORSÃO Extorsão
pois, crime de extorsão. Por outro lado, se o sujeito, apontando um revólver, pede que
a vítima entregue a bolsa, essa conduta da vítima não é indispensável para a
consumação do crime, já que o bandido pode arrancá-la à força, logo se trata de roubo.
10 APROPRIAÇÃO INDÉBTA
Apropriação indébita
Peculato
Ainda nessa linha, quando a apropriação tiver por objeto proventos, pensão ou
qualquer outro rendimento do idoso, o crime será o previsto no art. 102 do Estatuto
do Idoso:
11 CRIMES SEXUAIS
11.1 ESTUPRO
Estupro
último caso haverá um crime específico (art.217-A do CP). A consumação ocorre com
a prática do ato libidinoso.
A tipificação do delito em estudo indica o constrangimento mediante o emprego
de violência ou grave ameaça à realização da conjunção carnal (penetraçãodo pênis
na cavidade vaginal) ou de qualquer outro ato libidinoso, que consiste naquele que
atenta contra o sentimento médio de moralidade sexual e tem por finalidade satisfazer a
lascívia, o apetite sexual do agente.
Para Capez (2013, p. 459), “cuida-se de conceito bastante abrangente, na
medida em que compreende qualquer atitude com conteúdo sexual que tenha por
finalidade a satisfação da libido. ”
Importante destacar que o contato físico é prescindível (dispensável) para a
realização do crime de estupro. Conforme ensina Sanches (2011, p. 408): “De acordo
com a maioria da doutrina, não há necessidade de contato físico entre o autor e a
vítima, cometendo o crime o agente que, para satisfazer sua lascívia, ordena que a
vítima explore seu próprio corpo (masturbando-se), somente para contemplação. ”
Outra questão polêmica diz respeito beijo lascivo.
Na Bahia, durante as festas populares, é comum o policial militar deparar-secom
situações em que mulheres são beijadas à força, surgindo, assim, a seguinte indagação: o
beijo lascivo é um ato libidinoso suficiente para a configuração do crime de estupro? Não
obstante haver certa divergência na doutrina, alguns autores compreendem ser possível
a configuração do crime de estupro no caso do beijo lascivo, já que o tipo do delito em
estudo prevê o constrangimento para a prática da conjunção carnal ou de outro ato
libidinoso.
Assim consoante ensina Mirabete (1999, p. 1262): “É considerado libidinoso o
beijo aplicado de modo lascivo ou com fim erótico. ” De sorte, para que o beijo seja
considerado lascivo, deve ser prolongado, com resistência da pessoa beijada, ou
eróticos, aqueles direcionados a partes intimas da vítima.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem se manifestado pela
possibilidade de caracterização de estupro por beijo lascivo, como se constata na decisão
adiante:
É óbvio que para que o delito se configure deve haver o emprego da força física
(violência) ou grave ameaça, de modo que o consentimento da suposta vítima afasta
o crime. Ademais, esse dissenso da vítima, conforme ensinam Salim e Azevedo (2011,
p. 367), deve fundar-se numa “resistência sincera e positiva. Um não querer sem
maior rebeldia (negativas tímidas) não denota discordância. ”
Discute-se ainda na doutrina como a quantidade de vítimas estupradas em uma
mesma ocasião pode influenciar no cômputo da pena. Embora não haja consenso, o
Superior Tribunal de Justiça se posiciona no sentido da ocorrência do concurso
material de crimes, ou seja, o agente que na mesma ocasião e em um mesmo lugar
estupra duas ou mais vítimas, deve responder em concurso material, ocorrendo, por
conseguinte, crimes autônomos, o que traz como consequência a soma das penas. Tal
posicionamento se mostra coerente, pois interpretação diversa restaria por
beneficiar o infrator. Diferentemente, havendo vários estupros contra a mesma vítima
na mesma ocasião, estaremos diante de crime único.
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso commenor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 2º - [VETADO]
A consequência prática disso era que o autor respondia por ambos os delitos,
ocorrendo a soma das penas. Todavia, com a supramencionada alteração legislativa
ocorrida em 2009, ocasião em que a conduta anteriormente descrita como atentado
violento ao pudor passou a integrar o crime de estupro, afastou-se a possibilidade de
concurso de crimes.
Assim, o agente que constrange a vítima a realizar as duas condutas — a de
conjunção carnal mais outro ato libidinoso diverso —, pratica apenas um crime, qual
seja, ode estupro. De fato, essa mudança acabou beneficiando alguns criminosos, já
que a referida alteração, por ser mais favorável, retroage para alcançar os casos
ocorridos antes de sua edição.
Dessa maneira, se o indivíduo foi condenado em concurso material pelos
crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, desde que os tenha praticado nas
mesmas condições de tempo e lugar, terá sua pena revisada. Nesse sentido já se
posicionou o Supremo Tribunal Federal (STF), como se observa na decisão a seguir:
Por fim, é necessário esclarecer que não houve descriminalização (ou abolitio
criminis) do delito de atentado violento ao pudor, haja vista que a conduta descrita
para esse delito passou a integrar o delito de estupro (art. 213 do CP). Tal
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 46
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com
o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído pela Lei
nº 13.718, de 2018)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Assédio sexual
Para que não restem dúvidas acerca do delito em estudo, cabe esclarecer
algumas questões. Se um superior propõe a pessoa subalterna relação sexual, sem
intimidá-la, não há assédio sexual.
Se ainda um professor constrange um aluno, não há assédio sexual, pois, este
último não é funcionário da instituição de ensino, logo não há exercício de emprego,
cargo ou função (esse é o entendimento majoritário na doutrina). Por outro lado, é
possível assédio sexual contra um empregado doméstico, já que há exercício de
emprego, havendo por conseguinte subordinação.
Por fim, se a vítima do assédio sexual for pessoa menor de 18 anos, haverá um
aumento da pena em até um terço, conforme disposto no § 2º do art. 216-A do Código
Penal.
No entanto, se o assédio é dirigido a menor de 14 anos, o crime poderá ser o
previsto no art. 217-A do Código Penal – estupro de vulnerável, na forma tentada ou
consumada, conforme o caso.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
O artigo 226, CP, situado no capítulo IV, do título VI (dos crimes contra a
dignidade sexual), trata das disposições gerais, estabelecendo o aumento de pena em
determinadas circunstâncias, inclusive, nos casos do estupro coletivo e do estupro
corretivo. Nesses casos, a pena será aumentada de um terço a dois terços.
Ressalte-se que essas duas modalidades foram inseridas no código penal brasileiro
pela lei federal nº 13.718, de 2018, que aperfeiçoou o rol de delitos contra a dignidade
sexual.
O estupro coletivo é aquele que se configura com o concurso de dois ou mais
agentes. Já o corretivo, tem por objetivo controlar o comportamento social ou sexual da
vítima, o que ocorre por exemplo, quando a vítima sofre a violência sexual em razão
de ser homossexual.
12 DESOBEDIÊNCIA
Desobediência
13 DESACATO
Desacato
14 TRÁFICO DE DROGAS
Capítulo II
Dos Crimes
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize,
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo comdeterminação
legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Percebe-se, pois, que a infração penal não é “usar” a droga, mas portá-la (ou
transportá-la, guardá-la, etc.) para consumo pessoal.
Assim, caso o PM, em uma abordagem policial, constate que o agente consumiu
droga (por exemplo, com vestígios desse comportamento ou mesmo com a própria
confissão do indivíduo), mas não a traz mais consigo, não poderá conduzi-lo até uma
delegacia de polícia.
Ressalte-se ainda que, a partir da Lei n.º 11.343/2006, não mais existe pena
privativa de liberdade para quem porta drogas para consumo pessoal.
Hoje, as penas previstas para esse delito são: advertência sobre os efeitos das
drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento
a programa ou curso educativo. Além disso, quem é flagrado atualmente portando
(transportando, etc.) drogas para consumo pessoal não pode ser preso em flagrante
delito, conforme prevê o art. 48, § 2º, da Lei de Drogas.
Qual, então, o procedimento a ser adotado pelo PM quando flagra alguém nessa
situação?
De acordo com as regras desse mesmo artigo 48, o agente deverá ser conduzido
à autoridade policial (delegado de polícia) para lavratura do termo circunstanciado e
imediato encaminhamento ao Juizado Especial Criminal, sendo mais comum, na
prática, o conduzido se comprometer, mediante termo, a comparecer posteriormente
a esse juízo competente.
Já o crime de tráfico de drogas caracteriza-se quando alguém importa, exporta,
remete, prepara, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, tem em
depósito, transporta, traz consigo, guarda, prescreve, ministra, entrega a consumo ou
fornece drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Incorre nas mesmas penas do delito anterior, ou seja, 5 a 15 anos de reclusão e
multa, aquele que importa (exporta, etc.), ainda que gratuitamente, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo
ou produto químico destinado à preparação de drogas.
Igualmente fica sujeito a essas penas aquele que semeia, cultiva ou faz a
colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas.
Atualmente, o regulamento que determina quais substâncias são consideradas
drogas é a Portaria n.º 344, de 12 de maio de 1998, da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), em seu Anexo I.
Esse anexo sofre constantes atualizações, com vistas a inserção de novas drogas
em sua relação, como ocorreu recentemente por meio da Resolução n.º 192, de 11 de
dezembro de 2017.
Entre todas essas substâncias proibidas, é mais comum ao policial militar
encontrar em seu dia a dia drogas como maconha, cocaína, crack, entre outras, mas
não é de todo incomum se deparar com novas drogas que passaram a ser
comercializadas mais recentemente no Brasil.
O inciso IV, recém inserido pela Lei nº 13.964, de 2019 (pacote anticrime),
estabelece que comete conduta equiparada ao tráfico de drogas aquele que vende ou
entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 54
Calúnia (art. 138, CP) Difamação (art. 140, CP) Injúria (art. 140, CP)
A conduta consiste em atribuir A conduta consiste em A conduta consiste em ofender,
falsamente a alguém um fato imputara alguém um fato ferira honra subjetiva de alguém,
definido como crime. desonroso, mas não descrito na seus atributos morais(dignidade)
lei como crime (diferença da ou físicos,
calúnia), podendo consistir em intelectuais, sociais
um fato verdadeiro ou não. (decoro),atribuindo qualidades
negativas à vítima, com
menosprezo e depreciação.
Pena - detenção, de seis meses adois Pena - detenção, de três meses a um Pena - detenção, de um a seis meses,
anos, e multa. ano, e multa. ou multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, § 1º - O juiz pode deixar de aplicar
sabendo falsa a imputação, apropala a pena:
ou divulga. I - quando o ofendido, de forma
reprovável, provocou diretamente a
§ 2º - É punível a calúnia contra os injúria;
mortos II - no caso de retorsão imediata,
que consista em outra injúria.
Exceção da verdade Exceção da verdade
§ 2º - Se a injúria consiste em
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, Parágrafo único - A exceção da violência ou vias de fato, que, por
salvo: verdade somente se admite se o sua natureza ou pelo meio
I - se, constituindo o fato imputado ofendido é funcionário público e a empregado, se considerem
crime de ação privada, o ofendido ofensa é relativa ao exercício de suas aviltantes:[injúria real]
não foi condenado por sentença funções. Pena - detenção, de três meses aum
irrecorrível; ano, e multa, além da pena
II - se o fato é imputado a qualquer correspondente à violência.
das pessoas indicadas no nº I do art. § 3o Se a injúria consiste na
141; utilização de elementos referentes a
III - se do crime imputado, embora raça, cor, etnia, religião, origem ou
de ação pública, o ofendido foi a condição de pessoa idosa ou
absolvido por sentença irrecorrível. portadora de deficiência: (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e
multa.[injúria qualificada pelo
preconceito, também
conhecida como injúria racial]
16 CRIMES RACIAIS
O código penal, por sua vez, ao tratar dos crimes contra honra, consoante visto
em tópico anterior, criminaliza a figura da INJÚRIA RACIAL (injúria preconceituosa ou
racismo impróprio), que configura-se quando a ofensa consiste na utilização de elementos
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora
de deficiência. (art.140 § 3o , CP).
Inicialmente, vele pontuar, que os delitos em questão, que inicialmente eram
tratados como tipos penais inteiramente distintos, passaram, a partir de decisões dos
tribunais superiores, a serem observados de maneira mais semelhante, especialmente no
que se refere a imprescritibilidade a impossibilidade de fixação de fiança. De fato,
conforme ensinam Salim e Azevedo (2017, p. 196):
BAHIA – Grupo Especializado de Repressão aos Crimes por Meio Eletrônicos . Rua
Tristão Nunes, nº8, CEP: 40040-130 - Mouraria, Salvador/BA. Contatos: 71 3117-6109 / 71
3116-6109
Núcleo de Combate aos Crimes Cibernéticos que visa cooperar, assessorar e a incentivar as
atividades relacionadas ao combate dos crimes praticados no meio cibernético, com foco na
capacitação de pessoal, com olhar global e local sobre tais ameaças virtuais.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 59
Para a distinção entre criança e adolescente deve ser observado o critério legal,
qual seja, aquele estabelecido no art. 2º do ECA. Assim, considera-se criança a pessoa
até doze anos de idade incompletos e adolescente aquele entre doze e dezoito anos
de idade. Essa distinção é importante, sobretudo para a aplicação do ECA, haja vista
a impossibilidade de aplicação de medidas sócio educativas a crianças, ficando estas
sujeitas apenas a medidas de segurança (mais brandas e não abarcam restrição de
liberdade), previstas no artigo 101 do ECA.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 60
3 ATO INFRACIONAL
4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma
pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
uso de algemas, dependendo do caso concreto, elas poderão ser utilizadas contra
adolescentes, em situações excepcionais, respeitando-se o disposto na Súmula Vinculante
n. º 11 do STF:
Aliás, vale aqui abrir um ponto para tratar da utilização de algemas, que não se
resume, exclusivamente a aplicação da Súmula Vinculante nº 11.
Ainda sobre este tema, o Decreto n.º 8.858, de 26 de setembro de 2016, foi
editado com a finalidade de regulamentar o art. 199 da Lei de Execução Penal, que
dispõe: “O emprego de algemas será disciplinado por decreto federal. ”
Com esse objetivo, o Decreto n.º 8.858/2016 estabelece que o uso de algemas
terá como diretrizes a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana (CF,
art. 1º, III) e a proibição de submissão a tratamento desumano e degradante (CF, art.
5º, III).
Também impõe que sejam respeitados, durante o emprego das algemas, a
Resolução n. º 010/16, de 22 de julho de 2010, das Nações Unidas sobre o tratamento
de mulheres presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras e ao
Pacto de São José da Costa Rica, que determina o tratamento humanitário dos presos e,
em especial, das mulheres em condição de vulnerabilidade.
Em seguida, em seu art. 2º, praticamente repetindo o teor da Súmula Vinculante
de n. º 11, determina: “É permitido o emprego de algemas apenas em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
causado pelo preso ou por terceiros, justificada a sua excepcionalidade por escrito.
”Ao final, em seu art. 3º, proíbe expressamente o uso de algemas em mulheres
presas em qualquer unidade do sistema penitenciário nacional durante o trabalho de
parto, no trajeto da parturiente entre a unidade prisional e a unidade hospitalar e
depois do parto, durante o período em que estiver hospitalizada.
Além disso, o parágrafo único do art. 292 do CPP, dispositivo inserido pela Lei
n. º 13.434, de 12 de abril de 2017, prevê: “É vedado o uso de algemas em mulheres
grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto
e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério
imediato. ”
Desse modo, a algema só pode ser utilizada excepcionalmente, em caso de
resistência, aliado à possibilidade de fuga ou risco à integridade física do próprio
policial ou de terceiros. Por tratar-se de medida excepcional, a utilização da algema
deve ser justificada por escrito, sob pena responsabilidade nas três esferas, e até
mesmo da nulidade da prisão.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS PMBA 63
A matéria foi tratada com extrema rigidez pelo STF, que inclusive, em um dos
julgamentos que serviu como precedente para edição da súmula em questão (HC n. º
91.952), anulou a condenação imposta pelo Tribunal do Júri de Laranjeiras Paulista
(SP), em razão do réu ter permanecido algemado durante o seu julgamento, sem ter a
juíza apresentado uma justificativa convincente para o caso.
Retomado a questão específica do adolescente, deve o policial militar atuar no
sentido de garantir a sua proteção integral, conforme estudamos em tópico anterior,
assegurando que não seja submetido, durante a sua apreensão, a discriminações,
crueldade, opressão, ou qualquer tipo de situação vexatória, inclusive, a sua
exposição ao público ou a equipes de mídia televisiva.
Nesse sentido, o ECA, em seu artigo 232, impondo pena de detenção de seis
meses a dois anos, tipifica a conduta de submeter criança ou adolescente sob sua
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Jorge Cesar de. Lições de direito para a atividade policial militar. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 1994.
BITTENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2006.
CAPEZ, Fernando. Código Penal Comentado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para Concursos. 4. ed. Salvador: Juspodvim,
2011.
DE AZEVEDO, Marcelo André; SALIM, Alexandre. Direito Penal parte especial: dos
crimes contra a incolumidade pública aos crimes contra a administração pública 5.ed.
Salvador: Juspodivm, 2017.
DE JESUS, Damásio. Direito Penal: Parte Geral. 12. ed. São Paulo, 1988.
. Direito Penal: Parte Especial. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MASSON, Cléber. Direito Penal Parte Especial Esquematizado. 4. ed. São Paulo:
Método, 2014.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2010.