Sociologico 1690
Sociologico 1690
Sociologico 1690
Série II
17 | 2007
Envelhecimento activo. Um novo paradigma
Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/sociologico/1690
DOI: 10.4000/sociologico.1690
ISSN: 2182-7427
Editora
CICS.NOVA - Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa
Edição impressa
Data de publição: 1 de janeiro de 2007
Paginação: 157-158
ISSN: 0872-8380
Refêrencia eletrónica
Sofia Amândio, «Jack Barbalet (1998/2001). Emotion, Social Theory, and Social Structure. A
Macrosociological Approach. Cambridge University Press», Forum Sociológico [Online], 17 | 2007,
posto online no dia 01 janeiro 2007, consultado o 21 junho 2024. URL: http://journals.openedition.org/
sociologico/1690 ; DOI: https://doi.org/10.4000/sociologico.1690
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exceção de indicação em contrário.
RECENSÃO CRÍTICA 157
Jack Barbalet ( 1998/ 2001). Em otion, Social Theory, and Social Structure. A
Macrosociological Approach. Cam bridge University Press1
Sofia Amândio
Bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia ( aam andio@ens- lsh.fr)
Jack Barbalet 2 é um a referência académ ica cionais é um a visão m enos aceit e, e é, por exem plo,
int ernacional em t eoria social das em oções. A sua adopt ada por Kem per ou Scheff.
obra é, sem duvida algum a, incont ornável no que Barbalet adopt a t am bém est a últ im a perspec-
t oca à inst it ucionalização da sociologia das em oções t iva, t endo na em oção um a variável explicat iva para
com o cam po sub- disciplinar. o fundam ent o do com por t am ent o hum ano: “ The
Mesm o que não sej a apresent ado com o t al, o only good reason t o offer a sociological explanat ion
seu program a parece pret ender com bat er um dos of em ot ion is if em ot ion is it self signifi cant in t he
obst áculos epist em ológicos m ais persist ent es com const it ut ion of social relat ionships, inst it ut ions, and
que a sociologia das em oções – ainda hoj e – se pr ocesses” ( p. 9) . O aut or pr ossegue, afi r m ando
digladia: o essencialism o ( cf. Sart re, 1938) . Ou sej a, que enquant o a em oção em geral é um a cat egor ia
o sociólogo aust raliano opõe- se à perspect iva que vê abst ract a, a experiência ocorre sem pre ao nível das
a em oção com o algo que precede o ser hum ano, ou em oções par t icular es. A par t icular idade de um a
com o algo pré- cult ural que t ranscende o social. em oção deve pois ser localizada nas suas causas e
O liv r o Em ot ion, Social Theor y and Social consequências sociais. Est a dist inção ent r e causas
St ruct ure, A Macrosociological Approach pret ende e consequências é, logicam ent e, analít ica, podendo
dem onstrar que a em oção m erece um lugar central na ser ar t iculada.
invest igação sociológica e na t eorização: “ t his book Ant es de abrir um conj unt o de capít ulos em
explores part icular em ot ions in order t o ext end our que art icula várias em oções part iculares, com out ros
underst anding of social st ruct ure, and t o enhance conceit os sociológicos clássicos, o aut or discut e
t he com pet ence of our social t heory” ( p. 6- 7) . j ust am ent e a abordagem convencional que opõe
No capít ulo 1 , “ Em ot ion in social life and em oção e racionalidade. O capít ulo 2, “ Em ot ion
social t heory” é abordada a quest ão da em oção and rat ionalit y”, apresent a assim um exercício de
na sociologia e nos processos sociais, at ravés de desconst rução dest e par concept ual, por confront o
um a hist oricização do que o aut or designa com o a à abordagem crít ica ( a em oção apresent a soluções
“ carreira do conceit o de em oção na análise social” : para problem as que a razão não consegue resolver)
desde o ilum inism o escocês do século XVI I I ; pas- e à abordagem radical ( a em oção e razão com o
sando pelo Rom ant ism o; pelas sociologias europeia um cont inuum ) . Quest ionadas est as ideias feit as,
( Weber, Paret o, Sim m el…) e am ericana ( Goffm an, sedim ent adas ao longo dos últ im os t rês séculos, o
Cooley…) dos séculos XI X e XX; at é ao fi nal dos anos sociólogo passa ent ão ao exam e de em oções espe-
70 e princípio dos anos 80, período de afi rm ação de cífi cas. São desenvolvidos os seguint es t em as:
um a agenda de invest igação para est a especialidade
( Collins, Denzin, Hochschild, Kem per, Scheff …) . “ Class and resent m ent ” ( cap. 3) . O aut or t rat a
O m odo com o o conceit o de em oção é t rat ado aqui do signifi cado do ressent im ent o na const it ui-
nas ciências sociais é bast ant e plural. O livro em ção das classes sociais. Barbalet procura, dest a
recensão pensa- o de m últ iplas form as. Nom eada- for m a, r esolver quest ões r elat ivas à ar t iculacão
m ent e, de dois pont os de vist a dist int os: a em oção das diferent es escalas do social: “ em ot ions have a
est udada com o causa, e a em oção com o consequên- m acrosociological presence in t heir own right , or,
cia. De acordo com a visão dom inant e, a em oção é m ore specifi cally … em otion inheres sim ultaneously in
um a consequência do cult ural e do cognit ivo. Est a individuals and in t he social st ruct ures and relat ion-
visão social const rut ivist a ent ende a em oção com o ships in which individuals are em bedded” ( p. 65) .
um resultado, um efeito ou um produto dos processos “Act ion and confi dence” ( cap. 4) . É aqui anal-
sociais. A em oção com o um a “ coisa” é explorada por isada a base em ocional da acção e da agência:
exem plo por Hochschild. Por out ro lado, a em oção “ all act ion … is based upon t hat confi dence which
com o causa dos processos sócio- est rut urais e rela- apprehends a possible fut ure” ( p. 82) . A quest ão da
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tem poralidade torna- se desta form a central. Segundo at ract ivo aos olhos da crít ica m ais rápida. É cert o
o aut or, a confi ança t orna possíveis a acção present e que a sociologia das em oções t em um a t radição
e a proj ecção do indivíduo no fut uro. m ais t eórica que em pírica ( m esm o sem esquecer,
“ Conform it y and sham e” ( cap. 5) . Est e capít ulo por exem plo, as fundam ent ações em pír icas de
cent ra- se nas form as predom inant es de vergonha Goffm an, ou o t rabalho de cam po de Hochschild) ,
ligadas à percepção negat iva do eu ( do pont o de e que Barbalet não se propõe ir cont ra a corrent e.
vist a do out ro) , que cont ribuem inequivocam ent e Mas a t eoria sociológica, enquant o refl exão sobre
para a conform idade social. A vergonha narcísica ou conceit os t eóricos ou t eórico- em píricos, é um cam po
a vergonha agressiva são, por sua vez, consideradas de invest igação com t radição académ ica legít im a na
problem át icas para a ordem social. sociologia anglo- saxónica que int egra. Para além do
“ Right s, resent m ent , and vengefulness” ( cap. m ais, a defi nição de em oções part iculares é feit a sem
6) . A sim pat ia, em oção frequent em ent e associada nunca se deixar cair a sua variabilidade hist órica,
à obt enção de direit os básicos, t em , t al com o é sendo fornecidos exem plos de episódios diacroni-
discut ida nest e capít ulo, um a relação problem át ica cam ent e det erm inados. Est a abordagem só t em a
com a int eracção cooperat iva. Bem ao cont rário, benefi ciar, em nosso ent ender, os invest igadores
o ressent im ent o e a vingança são pensados com o que a queiram operacionalizar nos m ais diversos
fact ores de conquist a de direit os básicos, no sent ido cont ext os sociais.
em que signifi cam “ t he em ot ional aprehension of Por t udo ist o, podem os dizer sem hesit ação que
a social violat ion of t he sat isfact ion of a need” ( p. o problem a da ausência de um a linguagem descrit iva
126) . Trat a- se pois de fact ores de conquist a de das em oções, a que Pierre Bourdieu apont a o dedo
direit os básicos. nos anos 70 ( Pint o, Sapiro e Cham pagne, 2004)
“ Fear and change” ( cap. 7) . Por fi m , Barbalet perde hoj e algum a razão de ser. Est e livro cons-
problem atiza a m udança social e organizacional, m ais t it ui, de fact o, um cont ribut o singular ao t rabalho
concret am ent e, a infl uência do m edo nos processos de codifi cação t eórica das em oções, no sent ido da
sociais. Enquant o o m edo levado ao ext rem o possa sua consist ência t erm inológica. É cert am ent e um
ser incapacit ant e, a m aior part e das experiências e fut uro clássico.
episódios de m edo não são t ão ext rem os. O m edo
não é exam inado com o exclusivo dos grupos dom i- Not as
nados, dada a relevância do m edo experim ent ado
pelas elit es, que const it ui, segundo o aut or, um a 1
Est e livr o foi t raduzido para por t uguês pelo I nst it u-
condição de m udança organizacional e inst it ucional. t o Piaget , em 2001, sob o t ít ulo Em oção, Teor ia Social e
Est a proposição é dem onst rada com base num caso Est r ut ur a Social – Um a Abor dagem Macr ossocial.
em pírico, o m edo sent ido pela elit e brit ânica face 2
Jack Barbalet é hoj e Foundat ion Professor na Universit y
ao m ovim ent o dos t rabalhadores, durant e e após of West ern Sidney, após t er desem penhado durant e oit o
a I Guerra Mundial. anos a função de direct or do Depart am ent o de Sociologia
da Universit y of Leicest er ( 1999- 2008) . Jack Barbalet
foi t am bém o prim eiro president e da Sociology of Em o-
Reagindo à sociologia das em oções am er i-
t ions Research Net work 11, da European Sociological
cana dos anos 80, de t endência m icrossociólogica
Associat ion, const it uida em Maio de 2004. Ent re out ras
( cf. Toit s, 1989) , Barbalet adopt a, dest e m odo, a publicações, cont am - se o livro que edit ou em 2002,
escala das m acroest rut uras. A discussão do papel Em ot ions and Sociology, ou, publicado em Julho 2008,
da em oção em m acro unidades sociais e processos Weber, Passion and Profi t s: ‘The Prot est ant Et hic and t he
foca- se t ipicam ent e em m anifest ações pat ológicas Spirit of Capit alism ’ in Cont ext .
das em oções e das suas consequências dest rut ivas
( cf. Scheff 1999/ 1966) . Est e livro incide, ao con- Referências
t rário, nas em oções part iculares com o variáveis
explicat ivas dos processos e est rut uras sociais, do PI NTO, L., G. Sapiro, P. Cham pagne ( 2004) , Annexe.
pont o de vist a da ordem social e da norm a. São, “ Ent ret ien de Pierre Bourdieu avec Gisèle Sapiro,
nest e sent ido, em oções necessárias às est rut uras le 7 j uin, 2000”, Pierre Bourdieu, Sociologue. Paris,
da ordem social, fundam ent ais à m udança social Fayard, pp. 83- 84.
não revolucionária. SARTRE, J.- P ( 1965/ 1938) , Esquisse d’une Théorie des
Const at am os, assim , que est e livro nos afast a Em ot ions, Paris, Herm ann.
do risco de essencialização do conceit o de ‘em oção’. SCHEFF, T., ( 1999/ 1966) , Being Ment ally I ll: A Socio-
Não obst ant e, est e não sai ileso de um a out ra crít ica: logical Theory, Aldine Press.
a ausência de vert ent e em pírica. O seu caráct er em i- THOI TS, P. ( 1989) , “ The Sociology of Em ot ions”, Annual
nent em ent e t eórico poderá, de fact o, ser bast ant e Review of Sociology, Vol 15, 317- 342.
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