Filosofia 3

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PUC Minas – Poços de Caldas

Disciplina: Filosofia: Razão e Modernidade


Aluno/a (s): Júlia Corrêa Pereira
Lívia Alves de Oliveira
Curso: Psicologia
Texto: Resposta à Pergunta: Que é “Esclarecimento”? – Immanuel Kant

Questões
1) O que é Esclarecimento (Aufklärung)? O que é menoridade?
Immanuel Kant define o Esclarecimento (Aufklärung) como a saída do homem
de sua menoridade. A menoridade (Unmündigkeit), para Kant, é uma condição
de dependência, onde o indivíduo não consegue usar o próprio entendimento
sem a orientação de outra pessoa. Ele caracteriza essa condição pela
incapacidade de fazer uso do próprio entendimento sem a direção de outro. Para
Kant, essa menoridade é autoinfligida quando a pessoa não tem a coragem de
pensar por si mesma e continua a aceitar passivamente as orientações de
outros, seja por preguiça, comodismo ou por medo de errar. O lema do
Esclarecimento, segundo ele, é “Sapere Aude” (ousa saber), ou seja, tenha
coragem de fazer uso do seu próprio entendimento.

2) Quem é o culpado da menoridade? (Explique as condições)


Kant argumenta que a responsabilidade pela condição de menoridade recai
sobre o próprio indivíduo quando ele não consegue pensar por si mesmo, apesar
de ter capacidade para isso. Segundo Kant, muitas vezes a menoridade é
causada pela preguiça e pelo medo: as pessoas preferem que outros tomem
decisões por elas, aceitando autoridades como líderes, livros ou instituições,
sem questionamento.No entanto, Kant também reconhece que existem
obstáculos externos que dificultam o abandono da menoridade. Ele menciona
que existem “tutores”, figuras de autoridade, como líderes religiosos,
governantes ou especialistas que preferem que os indivíduos permaneçam
dependentes. Esses tutores reforçam a menoridade ao criar um ambiente em
que questionar e pensar de forma autônoma é desencorajado ou até punido. Em
muitos casos, eles dizem: “Não pense, apenas obedeça”, mantendo o controle e
limitando o pensamento crítico. Para superar essa condição, segundo Kant, é
necessária coragem (Sapere Aude – “Ouse saber”) para desafiar a autoridade e
usar o próprio entendimento. Kant acredita que a liberdade para expressar e
discutir ideias publicamente é fundamental para o processo de Esclarecimento,
pois, com essa liberdade, as pessoas podem aprender a pensar por si mesmas
e, eventualmente, superar a menoridade.

3) Qual o lema do Esclarecimento?


O lema do Esclarecimento, segundo Kant, pode ser traduzido como “Ousa saber”
ou “Tenha coragem de usar o próprio entendimento”. Com essa expressão, Kant
incentiva cada pessoa a se libertar de uma vida de dependência intelectual em
relação a outras pessoas ou instituições. Ele acredita que muitos se mantêm em
um estado de “menoridade”, uma condição de imaturidade e dependência
porque não têm coragem de pensar por si mesmos. Essa dependência
frequentemente ocorre por comodidade, preguiça ou medo de cometer erros,
levando as pessoas a aceitar as opiniões e decisões de autoridades externas
sem questionamento. Para Kant, “Sapere Aude” significa um chamado para que
cada indivíduo tenha a coragem de buscar a própria compreensão e autonomia,
mesmo que isso exija esforço e assuma o risco de errar. O lema incentiva a
superação das limitações impostas, tanto pelas pressões internas (como a
insegurança) quanto pelas externas (como as figuras de autoridade que
desencorajam o questionamento).Portanto, o Esclarecimento é, para Kant, um
processo em que a pessoa aprende a ser livre em seu pensamento,
comprometendo-se com o uso consciente, crítico e independente de sua própria
razão.

4) Quais as causas pelas quais os homens tendem a ficar na menoridade?


Por que a imensa maioria da humanidade considera a passagem à
maioridade difícil e até perigosa? (Explique)
Segundo Kant, as causas que levam os homens a permanecerem na
menoridade são, principalmente, a preguiça e o medo. Muitos indivíduos
preferem que outros pensem por eles, pois agir de forma independente exige
esforço e coragem. Na menoridade, eles não precisam se esforçar para buscar
respostas por conta própria e nem assumir a responsabilidade por suas ações e
decisões. Assim, a dependência em relação a autoridades ou tutores se torna
confortável e conveniente, gerando uma forma de acomodação. Além disso, a
imensa maioria da humanidade considera a passagem para a maioridade difícil
e até perigosa porque os tutores e as autoridades que controlam o conhecimento
frequentemente desincentivam qualquer tentativa de questionamento. Essas
figuras de autoridade como, líderes religiosos, políticos ou especialistas
preferem que as pessoas se mantenham dependentes, pois isso preserva seu
poder e influência. Elas reforçam a ideia de que é perigoso pensar por conta
própria, afirmando que agir assim pode levar ao erro ou ao fracasso, alimentando
o medo nas pessoas.
Para Kant, esse medo é reforçado pela ideia de que, uma vez livre para pensar,
a pessoa terá que enfrentar as consequências de suas próprias escolhas. A
possibilidade de errar ou ser criticado torna a autonomia intelectual algo
assustador para muitos. Assim, a passagem para a maioridade é vista como
perigosa porque exige a coragem de enfrentar desafios e assumir riscos, o que,
para muitos, parece uma ameaça à segurança que a menoridade proporciona.

5) Como é possível que um público se esclareça (aufkläre)? Discorra sobre


este conceito central do Iluminismo (Aufklärung).
Para Kant, o Esclarecimento (ou Aufklärung) de um público é possível quando
os indivíduos têm liberdade de pensamento e expressão. Ele argumenta que,
para uma sociedade se esclarecer, é essencial que as pessoas tenham o direito
de discutir, criticar e questionar livremente as ideias e as normas estabelecidas.
Segundo Kant, essa liberdade de expressão é o núcleo do processo de
Esclarecimento, pois permite o desenvolvimento de um pensamento coletivo
autônomo, essencial para o progresso intelectual e moral de uma sociedade.No
contexto do Iluminismo, Kant vê o Esclarecimento como uma jornada em direção
à autonomia intelectual, em que os indivíduos e, por extensão, o público como
um todo deixam de depender de tutores e autoridades para pensar por si
mesmos. Ele acredita que quando as pessoas se expressam abertamente,
compartilham ideias e corrigem-se mutuamente, o conhecimento avança, e a
sociedade se torna mais esclarecida.
Além disso, Kant distingue entre o uso público e privado da razão. O uso público
da razão, que ele encoraja, refere-se ao direito de qualquer pessoa expressar
livremente suas ideias e questionamentos em um espaço público. Já o uso
privado da razão, por outro lado, refere-se ao cumprimento de deveres e normas
dentro de determinadas instituições, onde a liberdade de expressão pode ser
limitada para garantir a ordem e o funcionamento adequado. Para Kant, é
principalmente por meio do uso público da razão que uma sociedade pode
progredir rumo ao Esclarecimento.Portanto, o conceito central do Iluminismo de
Kant é a emancipação intelectual: uma sociedade esclarecida é aquela onde as
pessoas ousam pensar por si mesmas e contribuem para o desenvolvimento
coletivo, rompendo com o estado de menoridade e alcançando uma autonomia
intelectual que se espalha pela coletividade.

6) Defina e compare o uso público e o uso privado da razão.


O uso público da razão: é o espaço de crítica e de compartilhamento de ideias
onde o sujeito pode expressar-se livremente, questionando instituições, normas
e dogmas. Para Kant, este uso deve ser o mais livre possível, pois é por meio
dele que o progresso e o esclarecimento são promovidos na sociedade. A
liberdade de expressão, especialmente nas esferas de ciência, filosofia e
política, é fundamental para que os cidadãos possam contribuir para o
desenvolvimento do conhecimento e o avanço da sociedade.O uso privado da
razão: refere-se ao uso que um indivíduo faz da razão enquanto membro de uma
organização ou de um cargo específico que implica certas obrigações e deveres.
Esse uso está limitado pelo contexto organizacional e pelas responsabilidades
do indivíduo dentro de instituições como o governo, o exército ou a igreja. Neste
caso, a liberdade de expressão pode ser restringida, pois o indivíduo deve
respeitar as normas e regulamentos da organização para manter a ordem e o
funcionamento adequado da instituição.
A distinção entre esses dois usos está na liberdade de expressão e na
responsabilidade dentro de contextos específicos. Enquanto o uso público
incentiva a liberdade para o progresso social e intelectual, o uso privado impõe
limites para garantir a estabilidade e a funcionalidade das instituições. Kant
acredita que a coexistência desses usos é essencial: a liberdade no uso público
da razão promove o Esclarecimento e o desenvolvimento crítico, enquanto a
restrição no uso privado permite a manutenção da ordem social. Para ele, o
Esclarecimento implica o uso da razão de forma crítica e independente, era visto
como a saída do ser humano de sua “menoridade”, entendida como a
incapacidade de fazer uso autônomo da razão sem a orientação de outros.

7) Em que casos é razoável a obediência? (Sem que isso implique em abrir


mão do raciocínio próprio).
Para Kant, a obediência é razoável e até necessária em contextos onde ela
contribui para a manutenção da ordem social e do funcionamento das
instituições, sem que isso signifique abdicar do pensamento autônomo ou da
capacidade crítica. A obediência, nesses casos, é associada ao uso privado da
razão, onde o indivíduo, ao desempenhar uma função ou posição dentro de uma
organização. Como um membro de uma instituição, um indivíduo deve respeitar
as leis e regras vigentes para garantir a estabilidade e a ordem, o que é
necessário para a convivência social. Entretanto, o mesmo indivíduo pode
argumentar e criticar essas leis em espaços públicos de debate, buscando
reformas que possam aperfeiçoar a sociedade.Contudo, essa obediência não
significa a renúncia ao raciocínio próprio. Kant acredita que o indivíduo pode, e
deve, manter uma postura crítica em relação a essas normas, ainda que as siga
temporariamente. Ele acredita que uma sociedade esclarecida permite a
coexistência da obediência responsável no uso privado da razão com o
questionamento livre no uso público da razão, o que promove um progresso
racional e pacífico.

8) Por que é inviável e até impossível exercer uma supertutela sobre o


povo? Por que não se pode renunciar ao conhecimento? Ao responder
explique como Kant entende a natureza humana.
Para Kant, é inviável e até impossível exercer uma supertutela sobre o povo
porque a própria natureza humana está orientada para a autonomia e para o
desenvolvimento do conhecimento. Ele argumenta que, embora seja possível
manter as pessoas em um estado de “menoridade” temporária, em que são
dependentes de autoridades para orientação e tomada de decisões, essa
condição não é natural e não pode ser sustentada indefinidamente. Isso porque
os seres humanos, segundo Kant, têm uma inclinação natural para buscar a
liberdade, o esclarecimento e a autonomia no uso da razão.
Entedia-se que a natureza humana como fundamentalmente racional e dotada
de potencial para a autonomia. A capacidade de pensar por si mesmo e de fazer
escolhas de forma independente é, para ele, o que distingue os humanos dos
demais seres. Uma supertutela implicaria o controle completo da sociedade
sobre os pensamentos, decisões e ações dos indivíduos, impedindo-os de
desenvolver a autonomia. Argumenta que tal tutela é inviável, pois as pessoas
têm a capacidade e o desejo de raciocinar por conta própria e, ao longo do
tempo, vão inevitavelmente questionar, criticar e rejeitar essa dependência
excessiva. Além disso, ele considera que restringir o acesso ao conhecimento e
à liberdade de expressão acaba por prejudicar a sociedade, que não pode
progredir sem o debate crítico e o desenvolvimento intelectual de seus cidadãos.
Ele considera que abrir mão do conhecimento seria o mesmo que desistir de um
aspecto fundamental da própria humanidade. Sem o exercício da razão e do
conhecimento, o ser humano regrediria para um estado de ignorância e
dependência, que contradiz o impulso natural de liberdade e esclarecimento.

9) Kant interpretava sua época (século XVIII) como uma época esclarecida?
Kant não via o século XVIII como uma época esclarecida, mas sim como uma
época de esclarecimento. Ele acreditava que o esclarecimento saída da
menoridade e o desenvolvimento da autonomia racional era um processo em
andamento, mas ainda incompleto. Para Kant, uma época verdadeiramente
esclarecida seria aquela em que todos os indivíduos usariam a razão de forma
independente e crítica. No entanto, ele reconhecia que, em sua época, ainda
havia estruturas de poder que mantinham as pessoas em um estado de
dependência intelectual. Argumentava que o progresso rumo a uma sociedade
esclarecida exigia liberdade de expressão e o direito ao uso público da razão,
permitindo que os indivíduos questionassem normas e dogmas e, assim,
impulsionassem o avanço do conhecimento e o desenvolvimento social. Para
ele, esse ambiente de liberdade era essencial para que as pessoas
desenvolvessem a autonomia intelectual, saindo gradualmente da minoria
imposta pelas estruturas de poder.
10) Por que Kant considerava Frederico um príncipe esclarecido?
Kant considerava Frederico um príncipe esclarecido porque ele promovia e
defendia a liberdade de pensamento e de expressão em seu reino. Embora
Frederico mantivesse uma autoridade forte, ele permitia que os cidadãos,
especialmente intelectuais e estudiosos, usassem publicamente a razão para
criticar ideias, normas e até mesmo aspectos do governo, sem temer represálias.
Esse apoio à liberdade intelectual era essencial para o Esclarecimento, pois
criava um ambiente em que as pessoas poderiam, progressivamente, sair da
menoridade e desenvolver sua autonomia racional, um líder verdadeiramente
esclarecido incentivaria a livre troca de ideias e o debate público, reconhecendo
que o progresso e o desenvolvimento de uma sociedade dependem da
capacidade de seus cidadãos questionarem e criticarem. Ao promover essas
condições, Frederico exemplificava a figura do governante esclarecido, que não
apenas tolera, mas valoriza o uso público da razão como motor para a melhoria
da sociedade.

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