AVALIAÇÃO CONTRATURAL II

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

CAMPUS DEP. JESUALDO CAVALCANTE


CURSO: BACHARELADO EM DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO CONTRATUAL II
CARGA HORÁRIA: 60 HORAS/AULA – PERÍODO: 2024/2
PROFESSOR: NEHANDEARA NAZIRA NOGUEIRA GUERRA
Corrente – Piauí, 02 de dezembro de 2024.

DA FIANÇA; DA TRANSAÇÃO.

Corrente (PI)
2024
ALINE NOGUEIRA PEREIRA
ALINE PEREIRA DOS SANTOS
CAMILA AMORIM ROCHA NOGUEIRA
KAROLAINE DA COSTA SILVA
LIVIA GOMES BARBOSA

DA FIANÇA; DA TRANSAÇÃO.

Trabalho acadêmico apresentado para a disciplina


DIREITO CONTRATUAL II, no curso de
Bacharelado em Direito, da Universidade Estadual do
Piauí - UESPI, como forma de avaliação da disciplina.

Prof. NEHANDEARA NAZIRA NOGUEIRA


GUERRA.

Corrente (PI)
2024
SUMÁRIO
CURSO: BACHARELADO EM DIREITO...............................................................................4

DISCIPLINA: DIREITO CONTRATUAL II........................................................................4

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................4

CONCEITO E CARACTERISTICAS...................................................................................4

ESPÉCIES E REQUISITOS....................................................................................................5

EFEITOS DA FIANÇA............................................................................................................6

EXTINÇÃO DA FIANÇA........................................................................................................8

DA TRANSAÇÃO – CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA...........................................9

ESPÉCIES DE TRANSAÇÃO..............................................................................................11

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA TRANSAÇÃO..................................................12

Pena Convencional....................................................................................................................14
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INTRODUÇÃO

No âmbito do direito contratual, a fiança e a transação são institutos essenciais para a


configuração e a execução dos contratos, com características e finalidades distintas, mas
complementares.
A fiança, como um instrumento de garantia, visa assegurar o cumprimento de uma
obrigação por meio da responsabilidade de um terceiro, conferindo maior segurança às
relações contratuais. Já a transação, ao atuar como uma solução consensual para conflitos,
possibilita que as partes ajustem seus direitos e deveres, evitando litígios e promovendo a
resolução pacífica de disputas. Este trabalho tem como objetivo analisar esses dois conceitos
sob a ótica do direito contratual, investigando suas implicações legais, suas aplicações
práticas e o papel que desempenham na dinâmica das relações contratuais, buscando
compreender como ambos contribuem para a estabilidade e a eficiência no cumprimento das
obrigações.

CONCEITO E CARACTERISTICAS
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A definição de Fiança está prevista no Código Civil de 2002 em seu art.818, onde vai
definir que, “pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação
assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. A fiança é um contrato acessório e unilateral,
por meio do qual uma pessoa, denominada fiador, compromete-se a garantir o cumprimento
de uma obrigação assumida por outra, chamada devedor principal, perante o credor. Trata-se
de uma garantia pessoal, em que o fiador responde com seu patrimônio pelas obrigações do
devedor, caso este não as cumpra. A doutrinadora Maria Helena Diniz conceitua essa
modalidade contratual através das seguintes palavras:

“É a promessa feita por uma ou mais pessoas, de garantir ou satisfazer


a obrigação de um devedor, se este não cumprir, assegurando ao
credor o seu efetivo cumprimento.” (DINIZ, P. 607)

Dessa forma, o contrato de fiança é uma modalidade contratual que depende da


existência de uma relação jurídica negocial principal, onde o fiador assume a obrigação de
garantir a entrega da prestação devida por parte do devedor, em relação ao credor principal ou
beneficiário do negócio jurídico.
Entre suas principais características, destaca-se sua natureza acessória, ou seja, a
fiança está vinculada à existência de uma obrigação principal. Se a dívida garantida for
extinta, a fiança automaticamente deixa de produzir efeitos. Além disso, a fiança é um
contrato unilateral, pois, em regra, apenas o fiador assume obrigações, não havendo
contrapartida direta do credor.
Outro aspecto relevante é que a fiança exige formalização por escrito, seja por meio de
instrumento particular ou público, não sendo admitida de forma verbal, estando expostos no
art.818 do CC que diz, “a fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva”.
Ademais, é um contrato condicional, uma vez que a obrigação do fiador depende do
inadimplemento do devedor principal.
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Dessa forma, é um contrato solene, porque depende de forma escrita, imposta pela lei.
Em regra, é gratuito, porque o fiador ajuda o afiançado, nada recebendo em troca. Porém,
pode assumir caráter oneroso, quando o afiançado remunera o fiador pela fiança prestada.
Além disso, o fiador pode estipular limites à sua responsabilidade, como valores máximos ou
prazos determinados, mas, na ausência de tais restrições, presume-se que ele responde pela
totalidade da dívida. Ademais, o Código Civil permite que a fiança seja prestada por mais de
um fiador, configurando a fiança solidária quando todos respondem integralmente pela
obrigação, ou fiança subsidiária, quando sua responsabilidade é limitada ao inadimplemento
do devedor.
Portanto, a fiança é um instituto que reflete a confiança entre as partes e, por isso,
possui implicações jurídicas rigorosas, especialmente em relação ao fiador, que assume
significativa responsabilidade ao garantir a obrigação de outrem, é denominado um contrato
personalíssimo ou intuitu personae. Suas características e limitações visam equilibrar os
direitos do credor, a segurança jurídica e a proteção do patrimônio do fiador.

ESPÉCIES E REQUISITOS
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A fiança apresenta três espécies principais: convencional, legal e judicial. Na fiança


convencional, as partes envolvidas, ou seja, fiador e credor pactuam livremente as condições
para sua formalização, resulta de um acordo de vontades. Essa modalidade é amplamente
utilizada em contratos de locação, financiamentos e outras relações contratuais, sendo
indispensável a formalização por escrito, como exige o artigo 819 do Código Civil. Já a fiança
legal decorre diretamente da lei, sendo aplicada em situações em que a legislação determina
sua existência como garantia obrigatória. Um exemplo é a exigência de fiança para tutores ou
administradores de bens alheios, visando proteger os interesses do titular da obrigação
principal. Por sua vez, a fiança judicial ocorre no contexto de processos judiciais, sendo
imposta ou aceita por decisão judicial como garantia em ações específicas, como nas
execuções ou em substituição a penhoras.
Vale apena salientar que, independentemente da modalidade, a validade da fiança
depende de requisitos fundamentais. E um dos primeiros é a formalização por escrito, seja em
instrumento particular ou público, pois a ausência de registro escrito invalida o contrato.
Outro requisito importante é a capacidade do fiador, que deve ser uma pessoa plenamente
capaz de assumir obrigações jurídicas. No caso de fiadores casados sob regimes de comunhão
de bens, a validade da fiança exige o consentimento do cônjuge, salvo exceções, como no
regime de separação de bens.
A fiança é também caracterizada por ela está vinculada à existência de uma obrigação
principal válida. Assim, se a dívida principal for extinta, nula ou inexistente, a fiança também
será automaticamente extinta. Além disso, a responsabilidade do fiador pode ser delimitada
pelas partes, podendo abranger apenas parte da dívida ou incluir juros, multas e encargos,
caso não haja expressado limitação contratual.
Sendo assim, essas especificidades tornam a fiança um instituto jurídico versátil e
amplamente utilizado, mas exigem atenção às normas legais para garantir sua validade e
eficácia, protegendo tanto o credor quanto o fiador e evitando abusos ou prejuízos decorrentes
da má utilização desse instrumento de garantia.

EFEITOS DA FIANÇA
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A fiança é uma garantia acessória e subsidiária, conferida pelo fiador, que assume a
obrigação de pagar a dívida caso o devedor principal não o faça. Dentro dessa relação,
diversos direitos e limitações regulam as obrigações do fiador, destacando-se os benefícios de
ordem e divisão, além da possibilidade de exoneração.
O benefício de ordem, previsto no artigo 827 do Código Civil, permite que o fiador, ao
ser cobrado, indique bens do devedor principal que sejam suficientes para quitar a dívida
antes que seus próprios bens sejam executados. Esse direito, no entanto, só pode ser exercido
até a fase de contestação e não se aplica em três situações: quando o fiador renunciou
expressamente a esse benefício; quando se obrigou como principal pagador ou devedor
solidário; ou quando o devedor principal é insolvente ou falido, conforme o artigo 828. Trata-
se de uma proteção que reflete a natureza subsidiária da obrigação do fiador, já que ele é
chamado apenas na ausência de outros meios para satisfazer o crédito.
O benefício de divisão, por sua vez, está regulado no artigo 829. Quando mais de um
fiador garante a mesma obrigação, este benefício possibilita que a dívida seja dividida
proporcionalmente entre os fiadores, caso não tenha sido estipulada solidariedade entre eles.
Na ausência dessa reserva, aplica-se a regra da solidariedade, ou seja, qualquer fiador pode ser
cobrado pela totalidade da dívida, devendo buscar o ressarcimento proporcional dos outros
garantidores. Caso o fiador efetue o pagamento integral da dívida, ele se sub-roga nos direitos
do credor, podendo cobrar do devedor principal ou dos demais fiadores (se houver) as
quantias devidas, acrescidas de juros e eventuais perdas e danos, conforme os artigos 346 e
349. Esse direito assegura que o fiador não suporte sozinho o ônus da obrigação que,
originalmente, não era sua.
A exoneração do fiador é possível nos contratos de fiança sem prazo determinado, nos
termos do artigo 835. Nessa hipótese, o fiador pode solicitar judicialmente sua liberação,
permanecendo responsável pelos efeitos da fiança durante 60 dias após a notificação ao
credor. No entanto, em algumas circunstâncias, como fianças vinculadas à entrega de chaves,
a renúncia a esse direito pode ser válida.
Nas locações, a Súmula 214 do Superior Tribunal de Justiça determina que o fiador
não responde por obrigações decorrentes de aditamentos contratuais aos quais não tenha
expressamente anuído. Ademais, os juros de mora passam a incidir desde o vencimento das
prestações inadimplidas, dispensando interpelação judicial, conforme disposto no artigo 397
do Código Civil.
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Portanto, as relações envolvendo o fiador equilibram direitos e deveres, reconhecendo


sua posição subsidiária, mas conferindo-lhe meios para limitar sua responsabilidade e
proteger seu patrimônio. A análise cuidadosa das cláusulas contratuais e o exercício dos
benefícios legais são essenciais para garantir que o fiador não seja indevidamente onerado.

EXTINÇÃO DA FIANÇA

A extinção da fiança pode ocorrer em diversas situações previstas pelo Código Civil
Brasileiro, que têm o objetivo de proteger tanto o credor quanto o fiador. A morte do fiador,
por exemplo, pode extinguir a fiança, mas a responsabilidade pela dívida é transferida aos
herdeiros, limitada ao valor da herança deixada pelo fiador. Ou seja, os herdeiros só
respondem até o montante dos bens deixados. Por outro lado, a morte do afiançado, ou seja,
do devedor principal, não extingue a fiança. O fiador continua responsável pela obrigação
enquanto houver dívida pendente, independentemente da morte do devedor, o que demonstra
que a fiança ultrapassa questões individuais, como a herança ou a continuidade da obrigação.

Além disso, o Código Civil prevê outras causas específicas que podem extinguir a
fiança, como estabelecido no artigo 838. A concessão de moratória ao devedor, que consiste
na dilação do prazo para o cumprimento da obrigação sem o consentimento do fiador, é uma
dessas causas. A frustração da sub-rogação legal do fiador, que ocorre quando o credor
renuncia ou perde garantias adicionais que protegiam a fiança, como uma hipoteca, também
pode levar à extinção da fiança. Da mesma forma, se o credor aceitar a dação em pagamento,
ou seja, um bem em lugar do pagamento da dívida, a fiança será extinta, mesmo que o bem
aceito seja posteriormente perdido por evicção.

No entanto, nem todas as mudanças no contexto contratual levam à extinção da fiança.


Por exemplo, a falência do devedor não extingue a fiança, e o fiador continua sendo
responsável pela dívida. A redução do valor do aluguel, por exemplo, não resulta na extinção
da fiança, que permanece válida e garante o cumprimento da obrigação original. Esses
exemplos demonstram a robustez da fiança como garantia, que permanece em vigor mesmo
em cenários adversos.
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O fiador tem ainda o direito de se defender contra o credor por meio de algumas
exceções, que podem ser pessoais ou relacionadas ao devedor principal. As exceções pessoais
referem-se a questões específicas do contrato de fiança, como a expiração do prazo de
validade ou o não cumprimento de determinadas condições acordadas. Já as exceções do
devedor principal incluem a prescrição da dívida, a quitação ou a nulidade da obrigação.
Porém, a incapacidade do devedor, como no caso de um menor, não exime o fiador de sua
responsabilidade.

Além disso, o fiador pode ser exonerado da responsabilidade pela obrigação em


algumas situações específicas. Uma dessas hipóteses é o benefício de excussão, que exige que
o credor execute primeiramente os bens do devedor antes de recorrer ao fiador. A negligência
do credor, ao demorar na execução e permitir que o devedor se torne insolvente, também pode
levar à exoneração do fiador. Alterações no contrato sem o consentimento do fiador, como a
concessão de moratória ou a modificação das condições da dívida, podem igualmente resultar
na exoneração do fiador. Outra causa de exoneração é a expiração do prazo de validade da
fiança, caso o contrato tenha uma vigência determinada e não seja renovado. Por fim, a
extinção da obrigação principal, seja por pagamento, quitação ou prescrição da dívida,
também leva à extinção da responsabilidade do fiador.

Em resumo, a fiança é uma garantia essencial para a segurança das transações


financeiras, mas sua extinção ou exoneração pode ocorrer por várias razões previstas pela
legislação. É importante que tanto o credor quanto o fiador estejam cientes das condições que
podem levar à extinção da fiança, para que seus direitos e responsabilidades sejam respeitados
conforme o acordado e a lei.

DA TRANSAÇÃO – CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

A transação, enquanto instituto jurídico, possui uma aplicação ampla no Direito Civil,
especialmente no campo dos litígios, sendo um mecanismo que permite às partes resolverem
suas disputas de forma consensual, sem a necessidade de decisão judicial. Ela se configura
como um acordo formal, em que as partes envolvidas chegam a uma solução mútua para um
conflito, após concessões de ambas as partes. O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 840,
permite que as partes evitem ou resolvam litígios mediante essas concessões, o que destaca a
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transação como uma solução alternativa para a judicialização de questões. Ao invés de esperar
que o conflito seja resolvido por meio de uma sentença, as partes se comprometem a alcançar
um entendimento que, em última análise, evita o prolongamento da disputa.

Essa concessão recíproca é fundamental para que o acordo se caracterize como uma
transação e não uma mera doação, renúncia ou desistência de um direito, pois, nessas
situações, apenas uma parte cede, e isso não configura transação jurídica. Importante frisar
que, na transação, a dúvida sobre o direito das partes deve ser legítima. Ou seja, as partes não
podem transigir sobre algo que já tenha sido resolvido, como quando um litígio já foi
finalizado por uma sentença transitada em julgado. Caso a transação envolva uma questão que
não mais seja controvertida, ela será considerada nula. Além disso, se uma das partes celebrar
a transação sem ter ciência de uma decisão que já tenha resolvido a controvérsia, isso pode
afetar a validade do acordo.

A transação pode ser realizada tanto de forma extrajudicial, ou seja, fora do processo
judicial, quanto no âmbito judicial, sendo homologada pelo juiz. Quando realizada
judicialmente, a transação ocorre dentro de um processo, e o juiz pode validá-la, conferindo-
lhe a eficácia de uma sentença. Nesse sentido, a transação possui força obrigatória para as
partes, já que sua validade se baseia no acordo de vontades, nos termos do artigo 849 do
Código Civil, que estipula que a transação só poderá ser rescindida em casos excepcionais,
como dolo, coação ou erro essencial quanto à pessoa ou à coisa controversa.

Do ponto de vista da natureza jurídica, a transação possui características tanto de


contrato quanto de pagamento indireto. Ela se assemelha a um contrato porque resulta de um
acordo de vontades entre as partes, com a finalidade de resolver ou evitar litígios. No entanto,
seus efeitos também podem ser interpretados como uma forma de pagamento indireto, pois a
transação frequentemente resulta no cumprimento de obrigações ou no fim de disputas, sem o
cumprimento direto da obrigação originalmente existente. A transação, assim, acaba se
tornando uma alternativa mais flexível e eficaz para as partes, que buscam evitar o litígio ou
resolver uma questão de forma mais ágil, sem o desgaste do processo judicial.

No que tange à validade da transação, ela só será considerada legítima se não houver
vícios de consentimento, como dolo, coação ou erro essencial. A transação também não pode
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envolver direitos que as partes não possam dispor, ou seja, direitos indisponíveis, como
aqueles relacionados a questões de ordem pública ou direitos de terceiros, a menos que haja
autorização. Caso esses requisitos não sejam cumpridos, a transação pode ser declarada nula.

Ademais, é importante destacar as particularidades fundamentais da transação para


compreendê-la em sua totalidade. A transação pode ter uma finalidade preventiva ou
resolutiva. Se for preventiva, a intenção é evitar que um litígio se inicie. Já se for resolutiva, o
objetivo é encerrar um conflito existente, trazendo paz e resolutividade entre as partes. A
transação também tem uma natureza bilateral, ou seja, é um acordo entre as partes, e para que
se realize, é necessário que ambas façam concessões mútuas. Isso significa que não se trata de
uma renúncia unilateral de direitos ou de uma doação, mas de um equilíbrio entre as
concessões feitas por ambas as partes. Portanto, a transação exige que cada uma das partes
ceda algo para que se chegue a uma solução consensual.

Além disso, a transação pode ser realizada tanto de forma extrajudicial, ou seja, fora
de um processo judicial, quanto de forma judicial, quando é homologada pelo juiz, o que
confere à transação a mesma eficácia de uma sentença. Para que a transação tenha validade,
alguns elementos constitutivos são essenciais. Primeiramente, deve haver relações jurídicas
controvertidas, ou seja, as partes devem estar em litígio ou em uma situação de dúvida
legítima sobre o direito que cada uma detém, devendo existir a intenção de extinguir as
dúvidas e resolver o litígio.

Em relação à natureza obrigatória da transação, o artigo 849 do Código Civil afirma


que, uma vez realizada, ela só pode ser rescindida em situações excepcionais, como dolo,
coação ou erro essencial. Isso evidencia a seriedade e a estabilidade do instituto, uma vez que
as partes envolvidas estão comprometidas com o acordo que firmaram. Portanto, a transação
não é algo volúvel ou facilmente desfeito, garantindo a segurança jurídica das relações e
assegurando que as partes cumpram com o que foi acordado, exceto nos casos previstos pela
lei.

ESPÉCIES DE TRANSAÇÃO
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A transação é um importante meio jurídico que permite às partes resolver ou evitar


conflitos por meio de concessões mútuas. De acordo com o Código Civil, ela pode ser
dividida em duas categorias principais: extrajudicial e judicial, dependendo da existência ou
não de um litígio instaurado.

a) Transação Extrajudicial:

A transação extrajudicial é realizada antes de qualquer processo judicial ser iniciado.


Para que tenha validade, sua formalização dependerá do objeto em questão. Quando envolve
bens imóveis, exige-se a escritura pública, conforme determina o artigo 108 do Código Civil:
"não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais
sobre imóveis com valor superior a trinta salários-mínimos." Para bens móveis, admite-se o
instrumento particular. A grande vantagem desse tipo de transação é que ela produz efeitos
entre as partes sem a necessidade de homologação judicial. Um exemplo prático seria um
acordo firmado entre vizinhos para definir os limites de seus terrenos, evitando assim levar a
questão ao Judiciário.

b) Transação Judicial:

Diferentemente da extrajudicial, a transação judicial ocorre após o início de um


processo judicial. Nesses casos, as partes podem formalizar o acordo por meio de termo nos
autos ou por escritura pública. Quando feita por termo nos autos, o acordo deve ser
homologado pelo juiz para que o processo seja extinto com resolução do mérito, conforme
estabelece o artigo 487, III, "b", do Código de Processo Civil: "haverá resolução de mérito
quando o juiz homologar a transação." Mesmo quando a transação é realizada por escritura
pública, ela precisa ser levada ao processo para produzir efeitos judiciais, sendo essencial sua
juntada aos autos para conhecimento do magistrado.
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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA TRANSAÇÃO

a) Indivisibilidade:

Uma das características mais marcantes da transação é a sua indivisibilidade. Isso


significa que, se uma das cláusulas for considerada nula, todo o acordo será invalidado, como
determina o artigo 848 do Código Civil: "sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula
será esta." Essa regra decorre da própria natureza da transação, que é construída com base em
concessões recíprocas. Por exemplo, em um acordo de separação, se o marido renuncia a um
imóvel em troca da mulher abrir mão de pensão alimentícia, a nulidade de uma dessas
cláusulas inviabilizaria o equilíbrio do acordo. Contudo, o parágrafo único do artigo 848
prevê uma exceção: se a cláusula nula for autônoma e independente, o restante do acordo
pode permanecer válido.

b) Interpretação Restritiva:

Outra característica importante é que a transação deve ser interpretada de forma


restritiva. Isso quer dizer que somente aquilo que foi expressamente mencionado pelas partes
terá validade, conforme o artigo 843 do Código Civil: "a transação interpreta-se
restritivamente." Esse entendimento impede que se amplie o alcance do acordo por meio de
analogias ou interpretações extensivas, pois a transação envolve renúncia de direitos, e
presume-se que as partes tenham sido cautelosas ao abrir mão de seus interesses. Por
exemplo, na dúvida sobre a inclusão de um bem ou o pagamento de juros, prevalece a
interpretação que exclua esses itens, salvo disposição expressa.

c) Natureza Declaratória:
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A transação, em regra, possui natureza declaratória. Isso significa que ela não cria
novos direitos, mas apenas reconhece ou declara direitos já existentes. O artigo 843 reforça
essa ideia ao afirmar que "por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem
direitos." No entanto, há exceções. O artigo 845 admite que, em alguns casos, a transação
possa envolver a transferência de bens, como imóveis, desde que sejam observados os
requisitos legais, como a necessidade de escritura pública e registro no cartório competente.

PENA CONVENCIONAL

Por fim, a transação também admite a inclusão de cláusula penal para garantir o
cumprimento do acordo, como previsto no artigo 847 do Código Civil. Essa cláusula
estabelece uma penalidade para a parte que descumprir o pactuado, sendo bastante comum em
acordos trabalhistas. A previsão de multa ou outra penalidade ajuda a assegurar que ambas as
partes cumpram suas obrigações, proporcionando maior segurança jurídica ao acordo.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Civil. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 28 nov. 2024.
BRAGA, Marcella Cardoso. Contrato de Fiança: Conceito, Características e Requisitos
desta Modalidade. Jusbrasil, 2020. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/artigos/contrato-de-fianca-conceito-caracteristicas-e-
requisitos-desta-modalidade/1135570223>. Acesso em: 28 nov. 2024.

BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em:
28 nov. 2024.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Responsabilidade Civil.


São Paulo: Saraiva, 2020.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas: Direito das Obrigações - Parte Especial:
Contratos. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

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