Aula 1 - Natureza Singular Dos Evangelhos

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Natureza Singular dos Evangelhos

Neemias Araújo1

1. O que são os evangelhos?


- Os quatro evangelhos formam um gênero literário2 inigualável, para o qual há
poucas analogias reais. A grosso modo, nosso material dos evangelhos pode ser
dividido em ditos e narrativas – ou seja, em ensinos de Jesus e em histórias acerca
de Jesus3;

 Exemplo de dito: Mt 5.1ss;

 Exemplo de narrativa: Mt 4.1ss.


- Jesus é, indubitavelmente, a peça central da história bíblica. Os evangelhos
deixam claro que sua importância não está simplesmente em sua morte, mas
também, e em especial, em sua pessoa, em sua vida, e em seu ensino4;

2. Por que “evangelhos sinóticos”?5


- Os três primeiros evangelhos foram pela primeira vez chamados “evangelhos
sinóticos” por J. J. Griesbach, um estudioso da Bíblia de nacionalidade alemã, no
final do século XVIII;6
- O “adjetivo” sinótico vem do grego transliterado “synopsis”, que significa “ver em
conjunto”. Griesbach escolheu a palavra devido ao alto grau de semelhanças entre
Mateus, Marcos e Lucas em suas apresentações do ministério de Jesus;
- Essas semelhanças, que envolvem estrutura, conteúdo e enfoque, são visíveis
mesmo ao leitor desatento;
- Elas servem não apenas para unir os três primeiros evangelhos, mas também para
separá-lo do evangelho de João.

1
Possui especialização em Teologia Bíblica do Novo Testamento, Possui especialização em Teologia Bíblica do
Antigo Testamento e é graduado em Teologia pela FAECAD;
2
O gênero literário é um elemento retórico que direciona o processo de comunicação entre o autor e os
leitores;
3
FEE, Gordon D; STUART, Douglas. Entendes o que lês? Um guia para entender a Bíblia com auxílio da
exegese e da hermenêutica. Tradução de Gordon Chown e Jonas Madureira. 3ª Ed. São Paulo, Vida Nova,
2011. p. 15;
4
FEE, Gordon D; STUART, Douglas. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia confiável para ler e entender as
escrituras sagradas. Tradução de Jorge Camargo. 1ª Ed. Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2019. p. 263;
5
Sinóptico - relativo ou referente a sinopse; que permite ver de uma só vez as diversas partes de um conjunto;
sintético, resumido; sinótico;
6
CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Tradução de Márcio
Loureiro Redondo. São Paulo, Vida Nova, 1997. p. 19.
3. Dois desafios de interpretação

1º O próprio Jesus não escreveu um evangelho

- Nossos evangelhos realmente contêm coletâneas de ditos, mas essas sempre


estão entretecidas, como parte integrante, numa narrativa histórica da vida e do
ministério de Jesus. Logo, não são livros de Jesus, mas livros acerca de Jesus, que
contêm uma coleção considerável dos seus ensinos;
- Para identificarmos melhor a natureza dessa dificuldade, podemos recorrer a uma
analogia de Paulo em Atos e em suas epístolas;
- Atos contêm mais elementos da vida de Paulo que de suas doutrinas. As epístolas
contêm mais elementos de suas doutrinas que de sua vida;
- Mas os evangelhos não são como Atos, porque nesse caso temos tanto uma
narrativa da vida de Jesus como grande blocos de seus ditos (ensinos), como uma
parte absolutamente básica de sua vida. Mas, os ditos não foram escritos por Ele, do
mesmo modo que as epístolas foram escritas por Paulo. O idioma nativo de Jesus
era o aramaico; seus ensinos chegaram a nós apenas em grego;
O fato de os evangelhos não terem sido escritos por Jesus, mas terem sido escritos
para falar sobre Jesus é algo que faz parte da genialidade deles, e não da sua
fraqueza.

2º Há quatro evangelhos

- Por que quatro? Segue-se pelo menos uma das razões que é simples e prática:
Diferentes comunidades cristãs tinham a necessidade de ter um livro que falasse
sobre Jesus;
- Por uma variedade de razões, o evangelho escrito para uma comunidade ou grupo
de cristãos não satisfazia necessariamente as necessidades de outra comunidade;
- Para a igreja posterior (logo, para a igreja de hoje também), nenhum evangelho
substitui o outro, mas cada um está lado a lado com os demais, e são igualmente
valiosos e igualmente dignos de autoridade;
- Quatro biografias (quaisquer) não poderiam ficar lado a lado tendo o mesmo valor:
esses livros ficam lado a lado, porque, ao mesmíssimo tempo, registram os fatos
acerca de Jesus, relembram o ensino de Jesus e dão testemunho de Jesus;
- Essa é a sua natureza, e essa é a sua genialidade, o que é importante para a
exegese bem como para a hermenêutica.
Referências Bibliográficas
CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo
Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo, Vida Nova, 1997.
FEE, Gordon D; STUART, Douglas. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia
confiável para ler e entender as Escrituras Sagradas. Tradução de Jorge
Camargo. 1ª Ed. Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2019.

______. Entendes o que lês? Um guia para entender a Bíblia com auxílio da
exegese e da hermenêutica. Tradução de Gordon Chown e Jonas Madureira. 3ª
Ed. São Paulo, Vida Nova, 2011.

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