ANÁLISE DE TEXTOS LITERÁRIOS 2
ANÁLISE DE TEXTOS LITERÁRIOS 2
ANÁLISE DE TEXTOS LITERÁRIOS 2
– PROSA
AULA 2
1 – Contextualizando;
2 – A personagem;
3 –Tipologias;
4 – O tempo e o espaço;
5 – Cronotopo;
Na Prática;
Finalizando;
Referências.
2
TEMA 1 - CONTEXTUALIZANDO
TEMA 2 – A PERSONAGEM
3
ser imaginária ou idealizada, a personagem precisa ser coerente em seu ser e
fazer narrativo, ter verossimilhança interna.
As personagens não são pessoas, mas o leitor é apresentado a elas como
se fossem, portanto ele pode manter diferentes tipos de relação com elas – de
amor, de ódio, de identificação, de antipatia, de simpatia, entre outros. A única
relação que não tem valor para a ficção é a indiferença, afinal esta afastaria o
leitor da obra.
Em Seis passeios pelos bosques da ficção, Umberto Eco diz que quando
levamos a sério as personagens de ficção, criamos um novo tipo de
intertextualidade que, a propósito, é bastante incomum. É quando
TEMA 3 – TIPOLOGIAS
4
comportamento na sociedade, de suas relações, e da maneira com a qual vemos
o outro.
Atualmente, E. M. Forster apresenta personagens planas e redondas. As
personagens planas são construídas com apenas uma qualidade ou uma só
ideia, leva-se em conta o caráter e a ideologia para qualificá-las. São
personagens facilmente reconhecíveis e facilmente lembradas pelo leitor e – um
detalhe importante – elas nunca surpreendem. Tais personagens podem ser
divididas entre tipo e caricatura. No tipo teremos uma característica que se
manifestará da mesma forma em outros romances, trata-se do cínico, do cômico,
do sádico, da beata, sem aprofundamento ou sem individualização. A caricatura
está baseada em um defeito único e apresenta distorção e exagero.
No romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de
Almeida, há muitas personagens planas, ou seja, elas não mudam seu
comportamento no desenrolar da história, não surpreendem em nada. Por
exemplo: a personagem principal, o memorando Leonardo Pataca, desde
criança era travesso, e até o final do romance não muda esse jeito pícaro de
viver.
As personagens redondas são complexas e capazes de surpreender de
maneira convincente. Apresentam várias qualidades ou tendências, muitas
vezes conflitantes. Em um romance, a personagem principal é redonda, e se
destaca em um cenário repleto de personagens plenas. Em um conto é possível
que só haja personagens redondas, pela brevidade do texto; já no romance, por
sua extensão, é possível que o autor não consiga aprofundar muitas
características em todas as suas personagens. Podemos nomear as
personagens planas, de forma analítica, como figurantes.
Contemporaneamente, novas classificações surgiram, substituindo as
outras por qualidades e assumindo uma posição que observa mais a construção
da narrativa e suas características. Philippe Hamon propõe três classificações:
personagens referenciais, personagens embrayeur e personagens anáforas. No
primeiro caso temos personagens que remetem a um sentido pleno e fixo,
comumente chamadas de personagens históricas. No segundo caso são as que
funcionam como elemento de conexão e que só ganham sentido na relação com
os outros elementos da narrativa, do discurso, pois não remetem a nenhum signo
exterior. E, por último, são aquelas que só podem ser apreendidas
completamente na rede de relações formada pelo tecido da obra.
5
Encontramos a definição de cada uma delas na obra A personagem, de
Beth Brait:
6
atribuições que cabem ao estereótipo de herói. Essa era a figura central de
qualquer narrativa, posição própria do antropocentrismo, muito comum no
período do Renascimento e do Romantismo. No entanto, com a evolução do
romance, o herói foi perdendo os traços épicos, ou seja, o caráter positivo, e
passa a assumir os defeitos e falhas humanas. O que não mudou foi o fato de o
herói continuar sendo a figura principal da obra, porém recebeu,
contemporaneamente, o adjetivo de problemático, o que elimina de vez a ideia
de perfeição, de valores positivos e da capacidade de sacrifícios pelo outro.
Outra figura que aparece mais comumente no romance pós-romântico é
a do anti-herói. Não podemos confundir essa personagem com o opositor do
herói, que pode ser um indivíduo ou uma coletividade. O anti-herói ocupa o
mesmo lugar que o herói em uma narrativa, porém recebe o prefixo anti- por sua
condição de oprimido pelas forças sociais ou ambientais. Ele polariza em torno
de suas ações as outras personagens, o espaço e o tempo.
O anti-herói é a personagem que praticou ou pratica atos moralmente
reprováveis esporadicamente e que não busca necessariamente um objetivo
nobre, mas que, devido ao carisma, acaba tendo seus atos aprovados pelos
leitores. Essa identificação com personagens falhos, que às vezes acertam e às
vezes erram, se dá justamente por serem versões mais realistas da natureza
humana, também muito sujeita a falhas e equívocos, como já apontamos
anteriormente. Afinal, é mais fácil se identificar com um sujeito ganancioso e
egoísta que depois se arrepende e volta para salvar seus amigos, do que com
um todo-poderoso e perfeito.
Na literatura, temos grandes exemplos, como Pedro Bala, protagonista de
Capitães da Areia, de Jorge Amado. Ele é uma criança e lidera o grupo
conhecido como Capitães da Areia. Menino abandonado, vive em um trapiche
em Salvador, Bahia, com várias outras crianças de rua: Gato, Boa-vida,
Sem-pernas, João Grande, Querido de Deus e Professor. Cada uma das
crianças tem suas características particulares e uma em comum: o abandono.
Para sobreviver, praticam furtos, mas Pedro Bala impõe um rígido código moral
às crianças, que precisam respeitar sua autoridade e cumprir algumas normas
de convivência que incluem a proibição de roubar os colegas. Seu papel de
liderança é reforçado por sua força (afinal, era o maior capoeirista da cidade) e
por seu carisma (trata a todos como irmãos mais novos). Outro exemplo
7
mundialmente conhecido é Robin Wood, o ladrão que roubava dos ricos para
doar aos pobres.
O antagonista é o vilão da narrativa, o que se opõe ao protagonista (herói
ou anti-herói) seja por suas ações que atrapalham ou por suas características
opostas. Ele é o principal componente da história, depois do protagonista,
justamente por se opor a ele, gerando, dessa forma, o conflito que impulsiona o
enredo em direção à sua conclusão.
O estudioso Northrop Fryre propõe uma nova nomenclatura ao anti-herói
quando sua condição de opressão lhe permite ser qualificado como vítima típica.
Estamos nos referindo a pharmakós, ou bode expiatório (responsável por expiar
os males de determinada sociedade, apaziguando e reestabelecendo a ordem
original), que, por definição, é ao mesmo tempo inocente e culpado. Fryre explica
que essa personagem é culpada “no sentido de que é membro de uma sociedade
culpada, ou vive num mundo de onde tais injustiças são parte inevitáveis da
existência” (Fryre, 1973, p. 47-48) e inocente porque lhe acontece algo que
jamais ele poderia ter feito. Em Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, a
mulher do médico é quem faz o papel de bode expiatório.
8
É o caso de Baleia, a cadela do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos,
que apresenta mais características humanas que os próprios humanos da trama
– alguns deles sequer tinham nome. Outro exemplo está no conto de João
Guimarães Rosa, no livro Sagarana, intitulado Conversa de bois. Guimarães
apresenta alternadamente os diálogos dos homens e os “diálogos” dos bois,
revelando-se aqui uma espécie de “filosofia bovina”, uma síntese do que
“pensam” sobre a vida e sobre os homens. Neste conto, os bois são verdadeiras
personagens, possuidoras de capacidades intelectuais quase iguais às dos
homens. Os bois não possuem humanidade, não agem, “pensam” e “falam”
como os homens, à maneira das fábulas e histórias da carochinha, mas sim
como nós podemos imaginar, com o recurso da intuição, o que eles fariam se
realmente pudessem.
Como já citado anteriormente, coletividades podem desempenhar papel
de personagem e, ainda mais, podem influenciar ou determinar ações. É
possível, inclusive, identificarmos personagens ainda mais inusitadas em
algumas obras narrativas – a chuva, a morte, um vilarejo decadente ou uma folha
caindo de uma árvore podem ser personificados (fenômeno conhecido como
animismo), desde que estejam inseridas em uma narração e praticando uma
ação, ainda que, por vezes, involuntária. Um ótimo exemplo é a personagem
Flicts, da obra homônima de Ziraldo, que narra a história de uma cor que não
encontrava lugar no mundo.
Seres mitológicos, divinos, demoníacos e até mesmo extraterrestres
podem exercer a função de personagem em narrativas ficcionais. Encontramos
exemplos em obras de Machado de Assis (A igreja do diabo), João Ubaldo
Ribeiro (Viva o povo brasileiro), João Guimarães Rosa (Um moço muito branco),
entre outros.
A personagem da atualidade é marcada pela diversidade, pela
multiplicidade. Antonio Candido apresenta um olhar sobre a criação desse
elemento no romance moderno; ele afirma que a nova personagem procura se
afastar das formas fixas. Vejamos em suas palavras:
10
Encontramos personagens ficcionais que mantêm relação próxima ou íntima
com o autor.
12
TEMA 5 - CRONOTOPO
13
exclusão, afinal se encontram privados de exercer vários de seus direitos. Para
a geração futura, o estrangeiro é a aventura, a vivência de novas experiências,
a busca de si. No romance, Azul-corvo, de Adriana Lisboa, há a busca de si
juntamente com as lembranças de quem viveu os horrores da ditadura militar.
Após a morte da mãe, Evangelina, com apenas treze anos, parte para o
Colorado, nos Estados Unidos, para viver com seu padrasto Fernando. Dessa
convivência nasce uma amizade e surge a revelação de detalhes obscuros do
passado recente do Brasil, afinal, Fernando viveu a violência da ditadura. Sua
ida para os Estados Unidos tem outro objetivo além de Fernando, a busca por
seu pai biológico, cuja única informação que Vanja tem é de se tratar de um
norte-americano.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
14
concepções de herói e relacionamos esta figura com a personagem principal de
uma obra ficcional, ou seja, o protagonista. Falamos não apenas do papel do
herói, mas do anti-herói. Terminamos discorrendo sobre a personagem do novo
romance histórico, que não tem nenhum compromisso com a verdade histórica,
porém pode-se identificar facilmente o modelo que inspirou sua criação. A
principal característica da personagem contemporânea é a diversidade. Além da
personagem, falamos acerca do tempo e do espaço, para isso recorremos a
diferentes teóricos. Há muito mais sobre o tempo do que sobre o espaço literário.
Para finalizar, conhecemos o conceito cronotopo, de Bakthin.
15
REFERÊNCIAS
CALVINO, I. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Moulin. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.
ECO, U. Seis passeios pelos bosques da ficção. Trad. Hildegard Feist. São
Paulo: Companhia das Letras, 1994.
16