UNESP2024_2fase

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Analise a imagem, obtida no sítio arqueológico de


Jabberen, Argélia, e datada de 5500-2000 a.C.

(Apud: Regina Claro. Olhar a África: fontes visuais


para sala de aula, 2012.)

a) Identifique o tipo de representação pictórica que


aparece na imagem e cite uma de suas características
técnicas ou formais.
b) Indique qual é a cena retratada e o que ela nos permite
identificar sobre o grupo que a produziu.
Resolução
a) Tipo de representação pictórica: arte (pintura)
rupestre. Características técnicas ou formais:
estilização de bovinos e humanos, muitas vezes
com traços bastante elaborados, policromia (uso
de várias cores) com a utilização de pigmentos
naturais (algumas vezes por incisões diretamente
na rocha).
b) A cena retrata a atividade pastoril representada
pela domesticação de um rebanho com gado do
tipo bovino. Essa atividade normalmente era
associada ao desenvolvimento agrícola, à produ-
ção de objetos de cerâmica e à sedentarização.
Geralmente, estão classificados como viventes do
Período Neolítico.

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A Inglaterra de 1603 era uma potência de segunda
classe; a Grã-Bretanha de 1714 era a maior potência
mundial. [...] os hábitos alimentares dos ingleses
transformaram-se com a introdução de raízes comestíveis,
o que permitiu manter o gado vivo e ter carne fresca no
inverno. Foi introduzida a batata, além de muitos novos
cultivos, como o chá, o café, o chocolate, o açúcar e o
tabaco. [...] A peste foi frequente na primeira metade do
século, mas já estava extinta no final dele. A moderna
combinação de refeições — café da manhã, almoço e
jantar — data do século XVII; também nesse mesmo
século surgiu o padrão moderno dos trajes masculinos —
casaco, colete, bombachas. Saiu o couro; entraram o
morim, o linho e a seda na confecção de vestuário. No
final do século, a cerâmica e o vidro utilizados à mesa já
haviam substituído o estanho e a madeira; muitas famílias
usavam facas, garfos, espelhos e lenços de bolso; em
Chatsworth, o duque de Devonshire instalou uma sala de
banho com água corrente — quente e fria.
Em 1603, todos os cidadãos ingleses — homens e
mulheres — foram considerados membros da Igreja
Oficial, e dissidência era delito passível de punição.
Heréticos ainda eram queimados na fogueira; suspeitos
de traição eram torturados. Em 1714, a dissidência
protestante era oficialmente tolerada: a Igreja não mais
podia condenar ninguém à fogueira, o Estado não mais
podia submeter ninguém à tortura.
(Christopher S. Hill. O século das revoluções: 1603-1714, 2012.)

a) Indique dois motivos internos à Grã-Bretanha que


contribuíram para algumas das mudanças citadas no
excerto.
b) Indique dois motivos que contribuíram para que a
Inglaterra se transformasse de “potência de segunda
classe” na “maior potência mundial”
Resolução
a) O governo ditatorial de Oliver Cromwell, cujas
ações permitiram transformar a Inglaterra numa
poderosa nação mercantil, quando da criação dos
Atos de Navegação (1651-53) e da Commonwealth,
ampliando e diversificando a variedade de
produtos e as próprias técnicas utilizadas interna-
mente; e a Declaração de Direitos (Bill of Rights,
em 1689), que eliminou o absolutismo e assegurou
definitivamente a estabilidade política interna
para a ação política da burguesia.

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b) A conquista da hegemonia dos mares vencendo a
“Invencível Armada” espanhola, além da
derrocada dos Habsburgos na Guerra dos Trinta
Anos; e a vitória sobre os holandeses nas “Guerras
de Navegação” (motivadas pelos Atos de Navega-
ção e que envolviam o comércio de açúcar e de
escravizados).

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Após os fatos confusos do 15 de Novembro, o Brasil
mergulhou em uma década de enorme incerteza política
e social. Amanheceu em 16 de novembro sem Poder
Moderador, até então a chave da organização político-
institucional do país.
A experiência dessa falta marcou os primeiros anos da
infância do que ainda viria a ser um regime.
(Renato Lessa. “A primeira década: República, natureza,
desordem”. In: Edmar Bacha et al. (orgs.).
130 anos: em busca da República, 2019.)

a) O que foi o Poder Moderador e como foi sua atuação


política ao longo do Segundo Reinado?
b) Indique duas das incertezas políticas e sociais vigentes
nos primeiros dez anos da República.
Resolução
a) Poder criado por D. Pedro I, na Carta outorgada,
em 1824. Exercido como uma atribuição pessoal e
intransferível do imperador, que deveria zelar
pela autonomia e pela harmonia entre os demais
poderes, pois era entendido como a chave da
organização política do País. Entre suas compe-
tências estavam nomear e destituir ministros
(Poder Executivo); convocar e dissolver a
Assembleia Geral (Poder Legislativo); e intervir
em assuntos judiciais (Poder Judiciário). Durante
o Segundo Reinado, D. Pedro II fez uso dele para
impor sua autoridade sobre as discussões políticas
e o ordenamento político-partidário (criação do
Parlamentarismo às Avessas e nomeação do
Primeiro-Ministro); ademais, poderia decidir
sobre a política externa (intervenções na Bacia do
Prata).
b) Incertezas políticas: conflito entre os presidentes
militares (Deodoro e Floriano) e o Congresso
Nacional (Lei de Responsabilidade do Presidente
da República e Questão da Legalidade); renúncia
do Presidente Deodoro da Fonseca; tentativas de
golpe e de assassínio do Presidente Prudente de
Morais, envolvendo o vice-presidente e os
florianistas.
Incertezas sociais: exclusão de grande parte da
população na participação política (voto apenas
para alfabetizados); falta de políticas públicas que
envolvessem a população carente e os negros
emancipados; destruição de sertanejos que não se
adequassem aos princípios da República Oligár-
quica (Guerra de Canudos).
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Analise a imagem e leia o excerto.

Há 40 anos, as primeiras Mães da Praça de Maio —


como só ficariam conhecidas depois — saíram a reclamar
a reaparição, com vida, de seus filhos sequestrados.
Naquele já distante 30 de abril de 1977, elas compunham
um grupo de apenas 14.
Depois de perguntar inutilmente pelos jovens em
delegacias, repartições do Estado, igrejas, hospitais e de
pedir ajuda, inutilmente, aos grandes jornais e meios
televisivos, elas decidiram que marchariam todas as
quintas-feiras, às 15h30, com panos brancos envolvendo
a cabeça, diante da Casa Rosada — sede do governo
argentino.
O fato de serem logo identificadas como “as Loucas
da Praça de Maio” diz muito não apenas sobre o
machismo da sociedade argentina daquele tempo, mas
também sobre o alto teor de cumplicidade, medo ou
covardia de grande parte dos argentinos diante de um
problema que ia-se fazendo cada vez mais presente: dia
após dia corriam boca a boca novas histórias de pessoas
que iam sendo sequestradas pelos agentes da repressão
da ditadura militar (1976-1983).
Neste aniversário de 40 anos da luta das Mães, vale
lembrar esse detalhe que parece uma piada de mau gosto:
o fato de terem sido chamadas de “loucas” por um bom
tempo. Essa lúgubre anedota é sinal de que essas
mulheres não sofreram apenas a perda dos filhos, mas
também o preconceito e o menosprezo por parte de
muitos. Nos dias de hoje, em que voltaram a surgir vozes
que questionam o número de mortos e que tentam
minimizar os horrores do regime, parece que esse adjetivo
pejorativo de 40 anos atrás volta a ganhar vida.
(Sylvia Colombo. “No começo, eram as Loucas da Praça de Maio”,
30.04.2017. www.folha.uol.com.br.)

a) Identifique, no excerto, o objetivo do movimento das

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“Mães da Praça de Maio” e uma reação de parte da
sociedade aos protestos por elas realizados.
b) Contextualize a situação política dominante no Cone
Sul da América nos anos 1970 e indique um
acontecimento essencial para a mudança política na
Argentina no início dos anos 1980.
Resolução
a) De acordo com o excerto e a imagem, o objetivo
das Mães da Praça de Maio era obter informações
sobre o paradeiro de seus filhos, bem como de
outros desaparecidos, sequestrados pelo regime.
Como reação do governo ditatorial e de parcelas
da sociedade civil argentina, imbuídos de precon-
ceitos e de machismo, houve a desqualificação do
movimento dessas mulheres alegando que eram
loucas, na tentativa de diminuir a sua
legitimidade.
b) Os países do Cone Sul da América (Brasil,
Paraguai, Argentina, Uruguai, Chile), na década
de 1970 estavam submetidos a regimes
autoritários (ditaduras civil-militares) alinhadas
ideologicamente aos Estados Unidos no combate
à “ameaça comunista”. No início da década de
1980 a Argentina passou por uma gravíssima crise
econômica e setores da sociedade civil se engaja-
ram na oposição ao regime militar, na época sob
comando do general Galtieri. A participação do
país na guerra contra o Reino Unido pela disputa
do território das Ilhas Malvinas (ou Falklands),
em 1982, é considerada uma manobra do governo
para arregimentar apoio de toda a sociedade,
mobilizando sentimentos patrióticos visando
desviar a atenção da difícil situação interna. A
desastrosa derrota dos argentinos acabou no
entanto agravando as contestações à ditadura, e
em 1983 os civis retornaram ao poder com o
governo de Raul Alfonsín.

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A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou, por
eio de projeções, que a Índia ultrapassou a China em
tamanho de população no mês de abril de 2023. Com isso,
a Índia se tornou o país mais populoso do planeta e tirou
a preeminência chinesa que durava desde 1950, quando
começou a contagem pela ONU. A marca de se tornar o
país mais populoso do mundo também coloca questões
para o futuro indiano. A principal delas é se o país
conseguirá repetir o sucesso econômico chinês nas
últimas décadas, que, impulsionado por uma mão de obra
abundante e barata, hoje, segundo analistas, coloca
Pequim como uma superpotência em ascensão. Ainda
assim, a Índia deve se beneficiar do que é chamado de
“bônus demográfico”.
(www.estadao.com.br, 29.04.2023. Adaptado.)

a) Identifique os dois conceitos que tratam do


crescimento de uma população.
b) Considerando o perfil demográfico indiano, explique o
que é “bônus demográfico” e cite um desafio
socioeconômico a ser administrado pela Índia diante
dessa condição.
Resolução
a) Os conceitos que tratam do crescimento de uma
população são: o crescimento vegetativo, que
resulta da diferença entre as taxas de natalidade e
de mortalidade, e a taxa de migração, diferença
entre a taxa de emigração (saída de indivíduos) e
taxa de imigração (entrada de indivíduos).
b) “Bônus demográfico” é uma expressão que define
um momento na evolução da população de um país
no qual o percentual de indivíduos em idade ativa
é superior ao de não ativos. Esse momento decorre
do amadurecimento da população – redução da
taxa de natalidade e aumento da expectativa de
vida. Nessa situação, o aumento da força de
trabalho possibilita uma ampliação do mercado
consumidor – isso, somado ao maior número de
ativos, pode impactar positivamente na expansão
da atividade econômica do país. Para isso o país
terá de superar o desafio da ampliação da oferta de
empregos e da infraestrutura para atender a
crescente demanda de consumidores.

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As chuvas torrenciais, as mais intensas de que se tem
notícia no litoral norte de São Paulo, não são as
responsáveis pela morte de 65 pessoas, por mais de 4 mil
desabrigados e pela destruição de casas, que ocorreram
com os deslizamentos de encostas em fevereiro de 2023.
Não podemos lamentar que a mãe natureza nos castiga e
que só nos resta chorar nossos mortos e nossas perdas.
Temos, sim, de nos indignar com as políticas públicas que
levaram a essa situação e apontar seus responsáveis. E,
com toda urgência, tomar medidas concretas que reduzam
os impactos do desastre e permitam enfrentar a questão
central: a propriedade da terra.
Primeiro foram as casas de veraneio e, nos últimos anos,
os condomínios que se multiplicaram, adensaram a
ocupação desses territórios e expulsaram da orla da praia
os caiçaras. Os serviços demandados — jardineiro,
piscineiro, caseiro, faxineira, segurança, babá, cozinheira,
manutenção das casas — acabaram atraindo
trabalhadores de baixa renda para a região, que se
somaram aos caiçaras e ocuparam as encostas dos morros,
esses que desabaram. Não há opção. Os preços da terra e
dos aluguéis expulsam a população de baixa renda para as
encostas.
(Silvio C. Bava. “Com toda urgência”.
https://diplomatique.org.br, 02.03.2023. Adaptado.)

a) Sob o ponto de vista do poder público, apresente duas


medidas que podem evitar desastres como o
problematizado no excerto.
b) Descreva como ocorre a distribuição da propriedade
da terra no Brasil e como a especulação imobiliária
determina a localização das moradias das pessoas de
baixa renda.
Resolução
a) Para evitar que acidentes relacionados a
movimentos de massa se tornem recorrentes, as
autoridades podem adotar medidas preventivas
como, por exemplo, disciplinar a ocupação
desordenada de áreas de risco, retirando grupos
que ocupam irregularmente áreas sujeitas à
instabilidade do relevo. Podem, também, criar
programas de realocação da população para áreas
mais seguras onde se desenvolvessem projetos
urbanísticos que permitiriam a instalação desses
grupos populacionais. Obras de contenção de
encostas, bem como o combate ao desmatamento
e políticas de reflorestamento podem também
ajudar a conter a dinâmica da geomorfológica.

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b) Dentro da lógica capitalista da ocupação de terras,
as melhores áreas disponíveis acabam absorvidas
por grupos imobiliários mais abastados que
valorizam os terrenos, impedindo que as
populações carentes possam dispor deles,
reforçando a especulação imobiliária. Essas
populações acabam expulsas para áreas menos
valorizadas e de maior fragilidade ambiental,
expondo-se a constantes riscos.

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Analise o mapa.

a) Apresente duas características naturais que foram


utilizadas para definir as regiões observadas no mapa.
b) Descreva uma característica natural típica dos mares
de morros e cite uma das causas que explicam a
degradação desse domínio.
Resolução
a) A classificação dos domínios morfoclimáticos é um
sistema que define diferentes áreas geográficas do
País, caracterizadas pela interação dos elementos
geomorfológicos, climáticos e vegetação.
b) O domínio de Mares de Morros é caracterizado
pela presença de planaltos cristalinos, serras e
formas mamelonares, conhecidas como "meias-
laranjas". Essa região se destaca pela presença de
Mata Atlântica (floresta tropical) e clima tropical
quente e úmido, além de solos bastante profundos.
Entre os fatores que explicam o considerável
desmatamento na região de mares de morros,
destacam-se a expansão agrícola e pecuária, bem
como o crescimento e a expansão das áreas
urbanas.

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Examine os gráficos.

(www.epe.gov.br)

a) Defina matriz elétrica e matriz energética.


b) Considerando o gráfico referente à matriz elétrica
brasileira, apresente duas motivações, uma natural e
outra histórica, para a fonte de energia de maior
percentual.
Resolução
a) A matriz energética corresponde ao conjunto de
todas as fontes disponíveis no mundo ou em um
determinado território para suprir a demanda de
energia. Já a matriz elétrica é formada pelo
conjunto de fontes utilizadas num determinado
território apenas para a geração de energia
elétrica. Assim, podemos concluir que a matriz
elétrica é parte da matriz energética.
b) De acordo com o gráfico referente a matriz
energética brasileira, a fonte de energia com
maior percentual é a hidráulica. A motivação de
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ordem natural é a elevada capacidade de geração
no território brasileiro, o que se deve à extensa
rede hidrográfica, com o predomínio de rios de
planalto. Quanto ao fator histórico, os agentes
econômicos e autoridades nacionais perceberam, a
partir do século XIX, que as fontes fósseis de
energia, tão comumente usadas na Europa e nos
EUA, apresentavam no Brasil, baixa disponibili-
dade, levando assim ao aproveitamento de fontes
hídricas.

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Texto 1
A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao
contrário da ciência, ela não se apoia em experimentos ou
na observação, mas apenas na reflexão. E, ao contrário
da matemática, não dispõe de nenhum método formal de
verificação. Ela se faz pela simples indagação e arguição,
ensaiando ideias e imaginando possíveis argumentos
contra elas, perguntando-nos até que ponto nossos
conceitos de fato funcionam. A principal ocupação da
filosofia é questionar e entender ideias muito comuns que
todos nós usamos no dia a dia sem nem sequer refletir
sobre elas.
(Thomas Nagel. Uma breve introdução à filosofia, 2011.)

Texto 2
O agente moral consciente é alguém imparcialmente
preocupado com os interesses de cada um afetado pelo
que o agente moral faz; alguém que examina minuciosa-
mente os fatos e as suas implicações; alguém que aceita
princípios de conduta somente depois de examiná-los
para se assegurar de que eles são justificados; alguém que
está disposto a “ouvir a razão” mesmo quando signifique
rever convicções prévias; e alguém que, finalmente, está
disposto a agir com base nos resultados de sua
deliberação.
(James Rachels e Stuart Rachels. Os elementos da filosofia moral,
2013. Adaptado.)

a) Com base nos textos 1 e 2, qual a característica central


da atividade filosófica e como essa característica pode
ser confirmada?
b) Identifique a área da filosofia abordada no texto 2.
Explique como a expressão “ouvir a razão” situa-se
nessa área.
Resolução
a) A característica central mencionada nos textos é a
reflexão acompanhada da indagação/arguição,
sendo confirmada quando revela o senso crítico e
sua plena manifestação, em oposição ao senso
comum.
b) A área identificada no texto 2 é a ética ou a
deontologia. “Ouvir a Razão” pode significar
fazer uso do bom senso ou ainda fazer referência
ao conceito do “imperativo categórico” kantiano.

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Texto 1
Erigiu-se no Brasil o conceito da democracia racial;
[…] tal expressão supostamente refletiria determinada
relação concreta na dinâmica da sociedade brasileira: que
pretos e brancos convivem harmoniosamente,
desfrutando iguais oportunidades de existência, sem
nenhuma interferência, nesse jogo de paridade social, das
respectivas origens raciais ou étnicas.
(Abdias do Nascimento. O genocídio do negro brasileiro, 1978.)

Texto 2
É evidente que os brancos não promovem reuniões
secretas às cinco da manhã para definir como vão manter
seus privilégios e excluir os negros. Mas é como se assim
fosse: as formas de exclusão e de manutenção de
privilégios nos mais diferentes tipos de instituições são
similares e sistematicamente negadas ou silenciadas. Esse
pacto da branquitude possui um componente narcísico,
de autopreservação, como se o “diferente” ameaçasse o
“normal”, o “universal”. Esse sentimento de ameaça e
medo está na essência do preconceito […].
(Cida Bento. O pacto da branquitude, 2022.)

a) Explique em que consiste a expressão “democracia


racial”, apresentada no texto 1 por Abdias do
Nascimento, e em que consiste o conceito de “pacto da
branquitude”, cunhado por Cida Bento no texto 2.
b) Como a filosofia concebe tradicionalmente a noção de
mito? Com base nos textos 1 e 2, defina o conceito de
mito da democracia racial.
Resolução
a) “Democracia racial’ é uma ideia construída a
partir de leituras feitas sobre a obra Casa Grande
e Senzala, de Gilberto Freire, a qual pressupõe
uma convivência harmoniosa entre as diferentes
“raças” no Brasil.
Pacto da branquitude é um termo cunhado por
Cida Bento para denunciar a forma como as
pessoas brancas reproduzem as estruturas políti-
cas e sociais que as privilegiam.
b) O conceito tradicional de mito é revelado com
toda narrativa de origem, capaz de transmitir
mensagens simbólicas para determinado grupo
social. O texto de Abdias Nascimento identifica na
ideia de “democracia racial” um mito, de forma a
escamotear as violências estruturais com bases
“raciais” presentes na sociedade brasileira.
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Texto 1

(Quino. Toda Mafalda, 2010.)

Texto 2
O espírito de consumo conseguiu infiltrar-se até na
relação com a família e a religião, com a política, com a
cultura e o tempo disponível. Daí a condição
profundamente paradoxal do hiperconsumidor. De um
lado, este se afirma como um consumidor informado e
livre, que vê seu leque de escolhas ampliar-se, age
procurando otimizar a relação qualidade/preço.
Do outro, os modos de vida, os prazeres e os gostos
mostram-se cada vez mais sob a dependência do sistema
mercantil.
(Gilles Lipovetsky. A felicidade paradoxal: ensaio
sobre a sociedade de hiperconsumo, 2007. Adaptado.)

a) Apresente qual crítica os textos 1 e 2 trazem em


comum e cite a escola filosófica que tem por foco essa
mesma reflexão.
b) Em que consiste o paradoxo do hiperconsumidor e
como esse paradoxo está presente no texto 1?
Resolução
a) A crítica está centrada no consumismo, ou seja, o
consumo exacerbado, sem consciência. A escola
que promove a crítica ao consumo em massa é a
Escola de Frankfurt.
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b) O paradoxo do hiperconsumidor está pautado na
ideia de que ele seja capaz de gerar felicidade; a
frustação diante desse sentimento não ser alcan-
çado leva a mais consumo.

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Texto 1
Examinando as explicações, o cético se depararia com
teorias conflitantes, cada qual pretendendo ser a única
verdadeira. Dada a falta de um critério para decidir qual
dessas teorias assim opostas é a verdadeira — já que os
critérios dependeriam eles próprios das teorias e não seriam
imunes ao questionamento — considera que todas têm igual
peso. Incapaz de decidir entre elas, de fazer uma escolha, o
cético se encontra então forçado a não se pronunciar.
(Jaimir Conte. “O início: Sexto Empírico e o ceticismo pirrônico”.
https://revistacult.uol.com.br. Adaptado.)

Texto 2
“Empirismo” significa uma posição filosófica que
toma a experiência como guia e critério de validade de
suas afirmações […]. O termo é derivado do grego
empeiria, significando basicamente uma forma de saber
derivado da experiência sensível e de dados acumulados
com base nessa experiência […]. O lema do empirismo é
a frase de inspiração aristotélica: “Nada está no intelecto
que não tenha passado antes pelos sentidos”.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2004.)

a) Explique como o ceticismo e o empirismo abordam a


construção do conhecimento de formas distintas.
b) Cite a área da filosofia responsável pela temática
abordada nos textos 1 e 2. Diferencie a ideia de
Aristóteles, mencionada no texto 2, do entendimento
de Platão sobre a aquisição do conhecimento verda-
deiro.
Resolução
a) Para os empiristas, o conhecimento é construído
partindo da experiência sensível com a realidade
empírica, utilizando uma via metodológica com
base em observação, comparação e constatação.
Já os ceticistas entendem que o conhecimento não
se sustenta suficientemente nem pela experiência
empírica, nem pelo uso da racionalidade, pois os
sentidos e a razão podem enganar-nos.
b) A área da filosofia responsável pela temática dos
textos é a epistemologia, ou seja, o estudo dos
elementos confiáveis e seguros na construção do
conhecimento.
Enquanto Platão busca o conhecimento no mundo
das ideias, portanto numa realidade transcen-
dente, Aristóteles busca nas causas e nas formas,
portanto na imanência, a materialização das
ideias.
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O gênero Conus inclui mais de 900 espécies de
moluscos marinhos conhecidos como caramujos cone,
cujos venenos estão entre os mais poderosos descritos até
agora. Essa potência deve-se principalmente à ação
coordenada de centenas de pequenos peptídeos bioativos,
chamados conopeptídeos, que têm como alvo diferentes
canais iônicos e receptores de membrana que, assim,
interferem em processos fisiológicos cruciais. Cada
espécie de caramujo cone produz um veneno único. Essa
diversidade bioquímica, somada às inúmeras espécies de
conopeptídeos contidos em seus venenos, resulta em um
imenso potencial biotecnológico e terapêutico, ainda
pouco explorado.
(Helena B. Fiorotti et al. Journal of Venomous Animals and
Toxins including Tropical Diseases, 2023. Adaptado.)

a) Que tipo de simetria corporal os caramujos


apresentam? Cite uma função da concha calcária
nesses animais.
b) Suponha que conopeptídeos extraídos de caramujos
marinhos sejam injetados no nervo motor de um
camundongo.
Que tipo de tecido, ligado a esse nervo motor, deixará
de responder a estímulos do sistema nervoso central
do camundongo?
Por que após o bloqueio dos receptores de membrana
dos neurônios motores do camundongo a propagação
dos impulsos nervosos será impedida?

Resolução
a) Os gastrópodes marinhos, conhecidos popular-
mente como caramujos, possuem simetria
bilateral. Eles apresentam um exoesqueleto
calcário (concha) que auxilia na sustentação do
animal, além de servir na proteção mecânica
contra choques.
b) O bloqueio do nervo motor do camundongo
provocará a ausência de resposta pelo órgão efetor,
que pode ser um músculo (tecido muscular).
O bloqueio dos canais iônicos e dos receptores de
membrana impedirá a despolarização do
neurônio, não desenvolvendo um potencial de
ação e, portanto, não gerando um impulso
nervoso.

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Analise os gráficos, que ilustram a diurese em uma pessoa
saudável após a ingestão de 1,0 L de água de uma só vez.

(John E. Hall.
Tratado de fisiologia médica, 2017. Adaptado.)

a) Em que região do néfron o sangue é filtrado? Cite a


principal substância nitrogenada tóxica que é excretada
na urina humana.
b) De acordo com o gráfico, como varia a concentração
do hormônio antidiurético (ADH) no plasma
sanguíneo dessa pessoa durante os primeiros 30
minutos após a ingestão de água? Em relação à
fisiologia do néfron, explique por que o resultado na
taxa de fluxo urinário não provocou uma intensa
excreção de soluto na urina logo após a ingestão de 1,0
L de água.

Resolução
a) A cápsula néfrica (Bowman) é o local onde ocorre
a filtração. A ureia é a excreta nitrogenada
presente na urina humana.
b) O excesso de ingestão de água acarretou a redução
do nível de ADH, tendo como consequência um
maior volume urinário. Não houve elevação da
excreção de solutos em razão da reabsorção ativa
que ocorre no néfron.

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Conhecidas no Brasil pelo nome de Thompson
Seedless, as uvas brancas da variedade Sultanina são
resultado de uma mutação natural que as deixou sem
sementes. Pesquisadores brasileiros da Embrapa Uva e
Vinho, de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul,
investigaram o mecanismo molecular que leva essas uvas
a não terem sementes. Eles compararam o padrão de
ativação do gene VviAGL11 durante o desenvolvimento
de frutos de uma uva com sementes, a branca
Chardonnay, usada para fazer vinho, e da Sultanina, e
constataram que, na Chardonnay, o gene VviAGL11 é
expresso para a formação da casca que reveste as
sementes. Na Sultanina, o gene simplesmente não é
ativado nessa fase e isso resulta em sementes residuais —
na prática, em uvas sem semente. Tal conhecimento
poderá permitir que, antes mesmo de produzir o fruto,
saiba-se, por meio de testes de DNA, se a uva terá ou não
sementes.

(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado.)

a) Qual etapa inicial da expressão gênica não ocorre no


núcleo das células da Sultanina em decorrência da
inativação do gene VviAGL11? Que ácido nucleico
não é imediatamente produzido devido à inativação
desse gene?
b) Nas uvas Thompson Seedless, que estrutura do carpelo
da flor não se desenvolve completamente e resulta em
sementes residuais? A enxertia é uma das técnicas
empregadas na propagação vegetativa de plantas que
produzem frutos sem sementes. Explique em que
consiste essa técnica.
Resolução
a) A etapa inicial que não ocorrerá é a transcrição e,
assim, não será produzido o RNA mensageiro
(RNAm).

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b) O não desenvolvimento do óvulo resulta em frutos
sem sementes (partenocárpicos).
Enxertia é uma técnica em que há junção de
tecidos de duas plantas de espécies diferentes (o
enxerto e o porta-enxerto), resultando em um
único indivíduo. Tal técnica é uma forma de
propagação vegetativa.

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16
O principal uso do metal vanádio é na indústria dos aços
especiais, principalmente na forma da liga ferro-vanádio,
utilizada na fabricação de estruturas de aviões de grande
porte, na indústria aeroespacial, em gasodutos, oleodutos
e ferramentas de melhor qualidade por serem mais
resistentes.
A empresa Vanádio de Maracás S.A. iniciou, em setembro
de 2014, a produção comercial de pentóxido de vanádio,
V2O5, oriunda de uma mina situada no município de
Maracás, BA. Em 2017, a usina produziu cerca de 9 × 103 t
de pentóxido de vanádio em flocos.
(www.gov.br. Adaptado.)

a) Considerando a posição dos elementos V e O na


Classificação Periódica, qual deve ser o tipo de ligação
química que ocorre entre esses elementos? Determine
o número de oxidação do vanádio no pentóxido de
vanádio.
b) Um dos métodos para a obtenção do vanádio metálico
é o que se baseia na reação representada pela seguinte
equação não balanceada:
____V2O5 + ____Al → ____V + ____Al2O3
Faça o balanceamento dessa equação, presente no
campo de Resolução e Resposta, utilizando os menores
números inteiros possíveis para os coeficientes
estequiométricos. Considerando rendimento de 100%,
calcule a massa máxima de vanádio metálico, em t, que
pode ser obtida a partir da massa de pentóxido de
vanádio que foi produzida em 2017 proveniente da
mina de Maracás, BA.
Resolução
a) A ligação que ocorre entre vanádio e oxigênio é
ligação iônica (metal com ametal).

Cálculo do Nox do vanádio no V2O5:


x 2–
V2O5 Soma do Nox no V2O5 é zero, logo
2x – 10 = 0 → x = +5

b) A equação balanceada entre V2O5 e Al é:


3V2O5 + 10Al → 6V + 5Al2O3

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Cálculo da massa de vanádio metálico produzido:
M(V2O5) = (2(51) + 5(16))g/mol = 182g/mol
produzem
3 mol de V2O5 ––––––––– 6 mol de vanádio
3 . 182g ––––––––– 6 . 51g
3
9 . 10 t ––––––––– x
x  5,0 . 10 t
3

Nota:
a) De acordo com a classificação periódica, a liga-
ção química esperada entre o vanádio e o oxi-
gênio é iônica, pois ocorre entre um metal e um
ametal com grande diferença de eletrone-
gatividade entre eles.
No entanto deve-se considerar que a formação
do cátion V5+ é muito difícil.
Assim, há predominância de caráter covalente
entre vanádio e oxigênio no V2O5.

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17
Um indicador universal de pH é constituído por uma
mistura de indicadores ácido-base que apresentam faixas
de pH de viragem e cores diferentes. Um desses
indicadores universais é uma solução hidroalcoólica
formada pela mistura, em proporções adequadas, dos
indicadores alaranjado de metila, vermelho de metila,
azul de bromotimol e fenolftaleína. As cores apresentadas
por esse indicador em diferentes valores de pH, a 25 ºC,
estão ilustradas no quadro.

a) Sabendo que o hidróxido de potássio é uma base forte


e que o ácido nítrico é um ácido forte, quais serão as
cores apresentadas por esse indicador em uma solução
aquosa 0,01 mol/L de HNO 3 e em uma solução
0,01 mol/L de KNO3?
b) A 25 ºC, o indicador citado apresentou cor violeta ao
ser adicionado a uma solução aquosa 0,001 mol/L de
hidróxido de amônio. A partir dessa informação e
sabendo que o produto iônico da água, Kw, a 25 ºC, é
igual a 1 × 10–14, calcule o valor aproximado da
constante de ionização, Kb, do hidróxido de amônio.
Resolução
a) Solução de HNO3 (ácido forte), ácido 100% ioni-
zado.
HNO3(aq) → H+(aq) + NO–3 (aq)
0,01mol/L 0,01mol/L

Cálculo do pH:
pH = – log [H+] ⇒ pH = – log 1,0 . 10–2 ⇒ pH = 2,0
Cor do indicador: vermelha.

Solução de KNO3
O sal é derivado de base forte e ácido forte, logo os
íons não sofrem hidrólise. Portanto sua solução
aquosa apresenta pH = 7,0 (25°C).
Cor do indicador: amarelo-esverdeada.

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b) I) Cálculo da concentração de íons [OH–]:
pH = 10,0 → pH = – log [H+] ⇒ 10 = – log [H+]
[H+] = 1,0 . 10–10mol/L

II) Kw = [H+] . [OH–] ⇒


⇒ 10–14 = 1,0 . 10–10 . [OH–] ⇒
⇒ [OH–] = 1,0 . 10–4mol/L

III) Cálculo do Kb do NH4OH:


NH OH ← → NH + + OH–
4 4
equilíbrio: 1,0 . 10–3 1,0 . 10–4 1,0 . 10–4

+ –
[NH4 ] . [OH ] (1,0 . 10–4) . (1 . 10–4)
Kb = –––––––––––– = –––––––––––––––– =
[NH4OH] (1,0 . 10–3)

= 1,0. 10–5

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18
O 1-naftol, ou α-naftol é uma importante matéria-prima
para a produção de diversos compostos bioativos, como
fármacos anti-hipertensivos, anti-inflamatórios, antimi-
crobianos e antimaláricos. A obtenção desse composto
envolve as seguintes etapas:

a) Escreva a fórmula molecular do naftaleno e a função


orgânica à qual pertence o 1– naftol.
b) Identifique, dentre as substâncias envolvidas nessas
três etapas, qual é o produto orgânico resultante de uma
reação de redução e qual é o reagente orgânico de uma
reação classificada como substituição aromática.

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Resolução
a)

b) A etapa 2 é uma reação de redução:


redução
+3 -3
NO2 NH2

+ 3H2 + H2O

1-nitronaftaleno 1-naftilamina

O produto orgânico que vem da reação de redução


é o 1-naftilamina.

A etapa 1 é uma substituição aromática (o átomo


de hidrogênio é substituído pelo — NO2)

O reagente orgânico é o naftaleno.

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19
Uma bola de boliche de 7 kg é abandonada do repouso, de
uma altura h0, e cai verticalmente sobre uma cama
elástica, que se comporta como uma mola ideal, conforme
a figura 1. Essa bola toca a cama elástica com 8 m/s de
velocidade e, a partir desse instante, a bola sofre a ação de
uma força F vertical para cima, de intensidade variável,
aplicada pela cama elástica, além da força peso, P. Sob
ação apenas dessas duas forças, a bola para 0,5 s após ter
tocado a cama elástica, conforme a figura 2. A partir desse
ponto, a bola é impulsionada verticalmente para cima,
perdendo contato com a cama elástica no momento em
que sua velocidade é v, conforme a figura 3.

Desprezando todas as forças dissipativas e adotando


g = 10 m/s2, calcule:
a) o valor de h0, em metros, e a energia cinética da bola,
em J, no instante em que ela perde contato com a cama
elástica, em seu movimento de subida.
b) o valor médio da força F, em N, aplicada pela cama
elástica sobre a bola para pará-la em 0,5 s.
Resolução
a) 1) Conservação da energia mecânica antes da coli-
são:
EB = EA (referência em B)
2
mVB
––––– = m g h0
2
2
VB 64
h0 = –––– = ––– (m)
2g 20

h0 = 3,2m

2) De acordo com o texto a colisão é elástica e ao


perder contato com a mola a velocidade volta a
ter módulo V = 8m/s e a energia cinética é dada
por:
mV2 7 . 64
Ecin = –––– (J) = ––––– (J) ⇒ Ecin = 224J
2 2

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b) → →
TI: IR = Δ Q
(Fm – P) Δt = m |ΔV|
(Fm – 70) 0,5 = 7 . 8
Fm – 70 = 112 ⇒ Fm = 182N

Respostas: a) h0 = 3,2m e Ecin = 224J


b) Fm = 182N

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20
Ondas de gravidade são fenômenos periódicos que se
manifestam na superfície de separação de dois meios
fluidos como a água de um oceano e a atmosfera. Nesse
caso, as ondas de gravidade são classificadas como ondas
rasas se a profundidade da água do oceano (h) for menor
do que a metade do comprimento da onda (λ) e, para
ondas rasas, sua velocidade de propagação é dada por
V =  g. h , sendo g a aceleração da gravidade local.

® ®
v g

Fundo do oceano

Considere um local em que a profundidade da água seja


4 000 m e g = 10 m/s2.
a) Nesse local, uma onda de gravidade se propaga com
1
frequência f = ––– Hz e pode ser classificada como onda
400
rasa. Calcule seu comprimento de onda, em metros.
b) Uma outra onda se propaga nesse mesmo local com
velocidade de 30m/s e tem período de oscilação de
100s. Essa onda pode ser classificada como uma onda
rasa? Justifique sua resposta com base na classificação
de ondas rasas.
Resolução
a) I) Cálculo da velocidade escalar da onda na pro-
fundidade h = 4000m:
V = 
g
h
V = 
10 . 4000 (m/s)
V =   (m/s)
40 000
V = 200m/s

II) Cálculo do comprimento de onda λ para


1
V = 200m/s e f = –––– Hz:
400
V = λf
V
λ = –––
f
200
λ = ––––– (m)
1
––––
400

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400
λ = 200 . –––– (m)
1

λ = 80 000m

b) I) Cálculo do comprimento de onda para a onda


com V = 30m/s e T = 100s:
T = 100s
λ
V = –––
T
λ=V.T
λ = 30 . 100 (m)
λ = 3000 m

λ
II) Para ––– = 1500m com h = 4000m, temos que
2
λ
h > ––– e que, portanto, não se trata de uma
2
onda rasa.

Respostas: a) 80 000m
b) não é uma onda rasa

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21
Devido ao atrito com o ar, insetos voadores podem acu-
mular uma pequena quantidade de carga elétrica positiva
em seu corpo enquanto voam. Considere uma abelha que
tenha acumulado uma carga elétrica q = 3,2 × 10–11 C
voando nas proximidades de uma flor, no centro da qual
havia sido colocada uma carga elétrica, também positiva,
Q = 4 × 10–11 C, em um experimento que investigava a
eletrização dos corpos dos insetos. Nesse experimento
observou-se que a menor distância a que essa abelha
chegava do centro da flor era d = 20 cm = 2 × 10–1 m, a
partir da qual se afastava, voando para longe, sugerindo
que existia um campo elétrico mínimo (Emín) ao qual as
abelhas são sensíveis.

Adote para a carga elétrica elementar o valor


1,6 × 10–19 C e, para a constante eletrostática do ar, o
valor 9 × 109 N · m2/C2.
a) Calcule a diferença entre o número de prótons e o
número de elétrons que essa abelha tem em seu corpo,
por estar eletrizada com a carga q positiva. Essa
diferença deve-se ao fato de a abelha ter perdido elé-
trons ou ganhado prótons durante seu voo? Justifique
sua resposta com base na posição dessas partículas nos
átomos, segundo o modelo atômico clássico.
b) Calcule a intensidade da força de repulsão, em N, entre
a abelha e a flor, quando elas estão a 20 cm uma da
outra. Calcule, também, a intensidade de Emín, em N/C.
Resolução
a) Na eletrização por atrito, a abelha perde elétrons
que estão presentes na eletrosfera de seus átomos.
Os elétrons, principalmente os mais distantes do
núcleo atômico, têm grande liberdade de movi-
mentação. Observemos que os prótons presentes
no núcleo necessitariam de uma energia absurda
para abandoná-lo, devido às forças de natureza
nuclear entre prótons e nêutrons.
A abelha fica com seu corpo eletrizado positiva-
mente e o excesso de prótons no corpo da abelha
pode ser determinado por:
q = ne
3,2 . 10–11 = n 1,6 . 10–19

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n = 2,0 . 108 prótons

b1) A força de interação entre a quantidade de carga


da flor e da abelha pode ser determinada pela Lei
de Coulomb, assim:
K |Q| |q|
F = ––––––––
d2mín
9 . 109 . 4,0 . 10–11 . 3,2 . 10–11
F = ––––––––––––––––––––––––– (N)
(2 . 10–1)2

F = 28,8 . 10–11N

b2) O campo elétrico criado pela flor que irá sensi-


bilizar os dispositivos sensores da abelha será
dado por:
KQ
Emín = ––––––
d2min
9 . 109 . 4,0 . 10–11
Emín = ––––––––––––––– (N/C)
(2 . 10–1)2

Emín = 9,0N/C

Respostas: a) A abelha perde elétrons;


n = 2,0 . 108 prótons
b) F = 28,8 . 10–11N
Emín = 9,0N/C

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22
A figura indica uma roleta circular, dividida em cinco
setores. As posições finais do ponteiro giratório da roleta,
após um giro aleatório em torno do centro do círculo,
possuem mesmas probabilidades. Se, após o giro, o
ponteiro para sobre a linha compartilhada por setores
circulares contíguos, ele é girado novamente.

a) Girando-se ao acaso o ponteiro da roleta até que ele


pare em uma região do interior de algum dos cinco
setores, qual a probabilidade de que o ângulo central
do setor seja obtuso? E qual a probabilidade de que
esse ângulo seja agudo?
b) Girando-se ao acaso duas vezes o ponteiro da roleta e
anotando-se os dois ângulos obtidos, qual é a probabi-
lidade de que ao menos um deles seja ângulo interno de
um polígono regular?
Resolução
a) A probabilidade do ângulo central do setor ser
obtuso é dado por

120° 1
––––– = ––
360° 3

A probabilidade do ângulo central do setor ser


agudo é dado por

30° + 45° + 75° 150° 5


–––––––––––––– = ––––– = –––
360° 360° 12

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b) 1) Girando-se, ao acaso, o ponteiro da roleta, a
probabilidade de o ângulo central não ser
ângulo interno de um polígono regular é
30 + 45 + 75 150 5
––––––––––– = ––––– = –––
360 360 12

2) Girando-se, ao acaso, duas vezes o ponteiro da


roleta, a probabilidade de nenhum dos dois
ângulos centrais ser ângulo interno de um
polígono regular é:
5 5 25
––– . ––– = ––––
12 12 144

3) A probabilidade de ao menos um deles ser


ângulo interno de um polígono regular é:

25 119
1 – –––– = ––––
144 144

5
Respostas: a) –––
12

119
b) ––––
144

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23
Um prisma reto, de 10 cm de altura, tem base represen-
tada pela letra N, composta por dois retângulos con-
gruentes ABIJ e DEFG, e pelo paralelogramo CDHI, com
AJ = 12 cm, BC = x cm, AD = (x –1) cm e BD = 6 cm,
como mostra a figura.

a) Considerando que os triângulos CBD e JAD são


semelhantes, mostre que x = 9.
b) Considerando x = 9 cm, calcule o volume do prisma.
Resolução
a) A partir da figura do enunciado, os triângulos
JAD e CBD são semelhantes e assim, temos:

AJ AD 12 cm (x – 1) cm
–––– = –––– ⇒ –––––– = ––––––––– ⇔
BC BD x cm 6 cm
⇔ x2 – x – 72 = 0 ⇔ x = – 8 ou x = 9
(não serve)

b)

1) A área da base do prisma reto, em cm2, é a área


do retângulo AEFJ menos as áreas dos
triângulos BCD e GIH é

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9.6
10 . 12 – 2 . ––––– = 66
2
2) O volume, em cm3, do prisma reto é
66 . 10 = 660

Respostas: a) Demonstração
b) 660 cm3

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24
π

Seja f:  →  a função dada por f(x) = 2sen 3x – –– .
3 
No gráfico de f(x), estão marcados os pontos P, Q e R.
O ponto P localiza-se na interseção do gráfico de f(x) com
o eixo das ordenadas. Q é o ponto do gráfico de menor
abscissa positiva para o qual f(x) é máximo. O ponto R
localiza-se na segunda interseção positiva do gráfico de
f(x) com o eixo das abscissas.
A reta r passa pelos pontos Q e R, como se vê na imagem.

a) Determine as coordenadas do ponto P.


b) Determine o coeficiente angular da reta r.
Resolução

π

Seja f(x) = 2 . sen 3x – ––
3 
a) O ponto P localiza-se na interseção do gráfico com
o eixo y.

π π
  
f(0) = 2 . sen 3 . 0 – –– = 2 . sen – ––
3 3 =
 
3
–
= 2 . ––––– = –
3
2

Logo, P(0, –


3)

b) I) O ponto Q é o ponto do gráfico de menor


abscissa positiva para o qual f(x) é máximo e
π

f(x) é máximo para sen 3x – –– = 1 ⇔
3 
π π
 
⇔ 3x – –– = –– + n . 2π ⇔
3 2

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5π 2π
⇔ x = ––– + n . ––– , n ∈ 
18 3

 
5π 5π
Para n = 0 tem-se x = ––– e f ––– = 2 . 1 = 2
18 18

 

Logo, Q ––– ; 2
18

II) O ponto R localiza-se na segunda intersecção


positiva do gráfico com o eixo x

 
π
f(x) = 0 ⇔ 2 . sen 3x – –– = 0 ⇔
3

 
π π π
⇔ 3x – –– = nπ ⇔ x = –– + n . –– , n ∈ 
3 9 3

 
4π 4π
Para n = 1 tem-se x = ––– e f ––– = 2 . 0 = 0
9 9

 

Logo, R ––– ; 0
9

Portanto, o coeficiente angular da reta passa


pelos pontos Q e R é igual a
0–2 2 12
––––––––––– = – –––– = – –––
4π 5π π π
––– – ––– ––
9 18 6

Respostas: a) (0, –


3)

12
b) – –––
π

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25
Examine a charge de Millôr Fernandes, publicada origi-
nalmente em 12.03.1969.

a) Explicite a relação de sentido estabelecida entre a


expressão “engolir minhas próprias palavras” e a
imagem da charge.
b) Reescreva na voz passiva a fala que compõe a charge.
Resolução
a) Na charge, a expressão “engolir minhas próprias
palavras” pode ser entendida de duas maneiras.
Conotativamente, indica que um erro foi reconhe-
cido. Denotativamente, pode ser compreendida
como explicitado no texto visual: as palavras se
encontram no estômago da personagem porque
foram literalmente engolidas, o que justifica o
balão da fala não sair da boca, mas sim da
barriga.
b) Na voz passiva analítica, tem-se:
“E minhas próprias palavras tiveram que ser
engolidas por mim”.
O objeto direto “minhas próprias palavras” passa
a sujeito paciente; acrescenta-se o verbo “ser” à
locução verbal “tive que engolir”, o verbo “ter”
vai para o plural, concordando com o sujeito
paciente e o verbo principal da ativa “engolir” vai
para o particípio; o sujeito agente “eu” passa a
agente da passiva “por mim”.

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Para responder às questões de 26 a 28, leia o poema
“Círculo vicioso”, de Machado de Assis.

Círculo vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

— “Pudesse eu copiar o transparente lume1,


Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela


Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela2:

— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume3...


Enfara4-me esta azul e desmedida umbela5...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”
(José Lino Grünewald (org.). Grandes sonetos da nossa língua,
1987.)

1lume: luz, brilho, claridade.


2 rútila capela: cintilante grinalda.
3 nume: ser ou potência divina, divindade.
4 enfarar: entediar.
5 umbela: qualquer objeto ou estrutura em forma de guarda-chuva.

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26
a) Que sentimento permeia todo o poema? O que motiva
esse sentimento?
b) Além das vozes do vaga-lume, da estrela, da lua e do
sol, que outra voz há no poema? Transcreva um verso
em que essa outra voz se manifesta.
Resolução
a) O poema “Círculo vicioso” é permeado pela
insatisfação que se revela na inquietação que tem
o vaga-lume, a estrela, a lua e o sol. O motivo para
esse desassossego é a inveja que cada personagem
tem do outro, sentimento revelado em expressões
como “Quem me dera”, “Pudesse eu copiar”,
“tivesse eu”, “por que não nasci eu”.
b) Além das vozes do vaga-lume, da estrela, da lua e
do sol, “Círculo vicioso” relata também o discurso
do narrador, que apresenta as ações e as falas das
personagens. Essa voz ocorre em “Bailando no ar,
gemia inquieto vaga-lume” (verso 1), “Mas a
estrela, fitando a lua, com ciúme” (verso 4), “Mas
a lua, fitando o sol, com azedume”(verso 8) e “Mas
o sol, inclinando a rútila capela” (verso 11).

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27
a) Considerando o conteúdo do poema, justifique o seu
título (“Círculo vicioso”).
b) Cite uma palavra do poema formada por prefixação e
identifique o sentido de seu prefixo.
Resolução
a) O título “Círculo Vicioso” justifica-se porque o
vaga-lume aspira a ser “uma loura estrela”, que,
por sua vez, aspira a ser a lua, que aspira a ser o
sol, que aspira a ser um reles vaga-lume. Há,
portanto, no fecho desse soneto o desejo do sol de
ter a condição do vaga-lume, retomando-se, assim,
o ponto de partida. Em outras palavras, é um
percurso incessante do princípio ao fecho e do
fecho ao princípio desse soneto.
b) As palavras formadas por prefixação são inquieto,
imortal e desmedida. Os prefixos -in, -i e -des têm
o sentido de negação.

UNESP — DEZEMBRO/2023
28
a) Do ponto de vista formal, a que período literário o
poema se alinha? Justifique sua resposta.
b) Rima rica é aquela que ocorre entre palavras de classes
gramaticais diferentes. Identifique duas rimas ricas
empregadas no poema.
Resolução
a) Considerando-se o aspecto formal do poema de
Machado de Assis, é possível vinculá-lo ao
Parnasianismo. O emprego da forma fixa do
soneto (composição de quatro estrofes, sendo elas
dois quartetos e dois tercetos), o predomínio das
rimas ricas (entre classes gramaticais diferentes),
a métrica alexandrina (versos com doze sílabas) e
o vocabulário raro (“nume”, “enfara” e
“umbela”) são traços constitutivos do típico rigor
formal da poesia parnasiana.
b) São ocorrências de rimas ricas: janela (substan-
tivo) / bela (adjetivo), aquela (pronome) / capela
(substantivo), resume (verbo) / de nume (locução
adjetiva) / vaga-lume (substantivo).

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Para responder às questões 29 e 30, leia o conto cokwe*
“A lebre e o camaleão” e o trecho de uma crônica da
escritora angolana Ana Paula Tavares, escrita sobre esse
conto.
*cokwe: relativo ao povo cokwe, uma etnia banta que se concentra
sobretudo no nordeste de Angola.

“Dizem os antigos que a lebre e o camaleão resolveram


ir pelos caminhos das caravanas levando borracha para
permutar pelos belos tecidos vindos de oriente e ocidente.
Muitas vezes a acelerada lebre ultrapassou e cruzou o
lento camaleão nos longos caminhos do mato, levando
produtos e trazendo panos, gritando-lhe enquanto
desaparecia: — Cá vou eu!
Ao desafio respondia o camaleão: — Chegarei a meu
tempo.
Finalmente, a lebre, assim como adquiriu bonitos
panos, também os perdeu, nos percalços da desordenada
pressa, e anda para aí vestida dum cinzento escuro e sem
cor.
O lento e pautado camaleão juntou farta fazenda, e
tanta e tão diferente, que ainda hoje muda, a todo o
instante, panos de variado colorido.”
(“A lebre e o camaleão”. Apud Ana Paula Tavares.
Um rio preso nas mãos, 2019.)
*****
Este conto cokwe parece resolver com felicidade
questões da história do continente africano e lidar com
uma apreensão do real e do imaginário. A escolha das
personagens da história é, em si, uma das apostas destes
contadores e cultores da linguagem que, de uma vez por
todas, poupam a tartaruga desta disputa vulgar e da tensão
de uma corrida. À tartaruga estão reservados outros
papéis, noutras histórias que lidam com os sentidos
profundos da vida e da morte, do dia e da noite.
O jogo com a linguagem permite-nos perceber a
história profunda das viagens que, em momentos
diferentes, estiveram na origem da formação dos cokwe
como grupo autônomo: origens, terras ancestrais, relação
com outros grupos, adoção de novos costumes e ainda
assim fidelização a um núcleo duro das origens. Sob sua
superfície aparentemente simples, esta história esconde
todos os mitos de fundação, rituais de passagem e a
escrita da história. Tudo ali faz sentido: as personagens,
a língua que falam e as vestes que as tornam atores de um
complexo processo histórico. O resto é a lentidão e o
desenho na areia que se faz só para ser apagado.
(Ana Paula Tavares. Um rio preso nas mãos, 2019. Adaptado.)

UNESP — DEZEMBRO/2023
29
a) Cite um provérbio que poderia servir como “moral da
história” para o conto cokwe. Justifique sua resposta.
b) Reescreva em discurso indireto o seguinte trecho do
conto cokwe: “Ao desafio respondia o camaleão: —
Chegarei a meu tempo.”
Resolução
a) O provérbio que ilustra o conto é: “A pressa é
inimiga da perfeição”.
No conto, a pressa da lebre levou-a a vestir um
“cinzento escuro e sem cor” e o camaleão “lento e
pautado” tem “panos de variado colorido”.
b) Em discurso indireto tem-se: ao desafio respondia
o camaleão que chegaria a seu tempo.
A forma verbal “chegarei” (futuro do presente do
indicativo) passa a “chegaria” (futuro do pretérito
do indicativo). O pronome em 1.a pessoa “meu”
passa à 3.a pessoa “seu”.

30
a) Ao se referir à tartaruga no 1o parágrafo de sua crônica,
Ana Paula Tavares recorre à intertextualidade. Que
gênero literário está implícito no comentário da
cronista? Que recurso expressivo ligaria de modo
imediato esse gênero literário ao conto cokwe?
b) Reescreva em ordem direta os trechos “Dizem os
antigos que a lebre e o camaleão resolveram ir pelos
caminhos das caravanas” (conto cokwe) e “À tartaruga
estão reservados outros papéis” (crônica de Ana Paula
Tavares).
Resolução
a) A tartaruga, personagem de várias histórias, está
associada à paciência, à determinação, à
resiliência, à sabedoria. Em seu lugar, a escritora
optou pelo camaleão, que melhor representa “os
mitos de fundação, rituais de passagem e a escrita
da história” da etnia banta. No segundo texto, a
mesma autora do conto refere-se, implicitamente,
ao gênero narrativo fábula, em que as perso-
nagens são animais, porém agem como seres
humanos e cuja narrativa sempre apresenta um
preceito moral. O recurso expressivo que permite
a associação da fábula ao conto cokwe é a perso-
nificação.
b) Na ordem direta da oração, tem-se “Os antigos
dizem que a lebre e o camaleão resolveram ir pelos
caminhos das caravanas” e “Outros papéis estão
reservados à tartaruga”.

UNESP — DEZEMBRO/2023
Para responder às questões 31 e 32, leia o trecho do ensaio
“A corrida armamentista do consumo”, do economista e
filósofo Eduardo Giannetti.
Imagine uma corrida em que os contendores se afastam
cada vez mais do objetivo pelo qual competem. A corrida
armamentista stricto sensu tem dinâmica e propriedades
conhecidas: um país, por qualquer motivo, decide se
armar; os países vizinhos sentem-se vulneráveis e
decidem fazer o mesmo a fim de não ficarem defasados;
sua reação, porém, deflagra uma nova rodada de
investimento bélico no primeiro país, o que obriga os
demais a seguirem outra vez os seus passos. A escalada
armamentista leva os participantes a dedicarem uma
parcela crescente da sua renda e trabalho à garantia da
segurança externa, mas o resultado é o contrário do
pretendido. O objetivo da máxima segurança redunda, ao
generalizar-se, na insegurança geral — um tênue e
onipresente equilíbrio armado do terror.
A corrida armamentista do consumo tem uma lógica
semelhante. Nenhum consumidor é uma ilha: existe uma
forte e intrincada interdependência entre os anseios de
consumo das pessoas. Aquilo que cada uma delas sente
que “precisa” ou “não pode viver sem” depende não só
dos seus “reais desejos e necessidades” (como se quiser
defini-los), mas também — e, talvez, sobretudo, ao menos
nas sociedades mais afluentes — daquilo que os outros
ao seu redor possuem. Ocorre, contudo, que a cada vez
que um novo artigo de consumo é introduzido no
mercado e passa a ser usado, desfrutado ou ostentado por
aqueles que pertencem ao nosso grupo de referência —
restrito a amigos, parentes e vizinhança no passado, hoje
expandido pelo big bang das mídias, blogs e redes digitais
— o equilíbrio se rompe e o desconforto causado pela
percepção da falta atiça e impele, como ardência de
queimadura, à ação reativa da compra do bem. Porém,
quando todos se empenham em alcançar os que estão em
cima — ou ao menos não ficar demasiado atrás deles —
, eles passam a trabalhar mais (e/ou se endividar) a fim de
poder gastar mais, ao passo que o maior nível de gasto e
consumo se torna, por sua vez, “o novo normal”. A lógica
da situação obriga-os a correr cada vez mais depressa,
como hamsters confinados a esferas rotatórias, para não
sair do lugar. Todos pioraram em relação ao status quo
ante, pois agora precisam ganhar mais (e/ou estão mais
endividados), e nenhum dos envolvidos, a não ser que
adote a opção radical de se tornar um “excêntrico” e
“pular fora do carrossel”, consegue isoladamente escapar
da armadilha.
(Eduardo Giannetti. Trópicos utópicos, 2016. Adaptado.)

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31
a) O que o autor entende por “corrida armamentista do
consumo”? De que imagem (ou alegoria) o autor se
vale no segundo parágrafo para ilustrar a dinâmica
dessa corrida armamentista do consumo?
b) Transcreva um pequeno trecho do texto em que o
narrador se dirige diretamente a seu leitor. Justifique
sua escolha.
Resolução
a) A “corrida armamentista de consumo”, segundo
o autor, é o desejo de obter bens não por necessitar
deles, mas porque “outros a seu redor possuem”.
Quando um desejo de consumo é saciado, outro
surge para substituí-lo.
A imagem de que se vale o autor é a do hamster
correndo numa esfera rotatória, que representa o
consumidor aprisionado a um ciclo de compras
constante.
b) O narrador se dirigir ao leitor em “Imagine uma
corrida”. Ao utilizar a forma verbal “Imagine”,
imperativo afirmativo da terceira pessoa do
singular, o narrador estabelece um diálogo direto
com o público leitor. Esta é uma estratégia para
criar proximidade com o interlocutor.

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32
a) “Nenhum consumidor é uma ilha: existe uma forte e
intrincada interdependência entre os anseios de
consumo das pessoas.” (2.o parágrafo)
Cite um sinônimo para cada um dos termos
sublinhados na frase.
b) “nenhum dos envolvidos, a não ser que adote a opção
radical de se tornar um ‘excêntrico’ e ‘pular fora do
carrossel’, consegue isoladamente escapar da
armadilha.” (2.o parágrafo)
Reescreva apenas a oração subordinada do trecho
transcrito, substituindo a locução conjuntiva por outra
de valor semântico equivalente.
Resolução
a) O adjetivo “intrincada” pode ser substituído por
“complicada” ou “complexa”.
O substantivo “anseios” é equivalente a “desejos”
ou “vontades”.
b) O valor semântico da locução conjuntiva “a não
ser que” é de condição. Substituindo-se a locução
conjuntiva por outra, a oração subordinada
adverbial condicional poderia ser reescrita da
seguinte forma: a menos que (contanto que, desde
que) adote a opção radical de se tornar um
‘excêntrico’ e ‘pular fora do carrossel’”.

UNESP — DEZEMBRO/2023
Leia o texto sobre o chamado “vale da estranheza” para
responder, em português, às questões 33 e 34.

What is the uncanny valley?

Introduction
The uncanny valley is a term used to describe the
relationship between the human-like appearance of a
robotic object and the emotional response it evokes. In
this phenomenon, people feel a sense of discomfort or
even repulsion in response to humanoid robots that are
highly realistic.
Androids, avatars, and animations aim for extreme
realism but get caught in a disturbing gap named the
uncanny valley.
They are extremely realistic and lifelike — but when
we examine them, we see they are not quite human. When
a robotic or animated characterization lies in this “valley,”
people tend to feel a sense of discomfort, strangeness,
disgust, or creepiness.
You’ve probably experienced the feeling before —
perhaps while watching a computer-generated animated
movie or playing a video game. The animated human
might look almost real, but that slight difference between
looking “almost human” and “fully human” leaves you
feeling discomfort or even repulsion.

Implications of the uncanny valley

The uncanny valley has a number of implications in


various fields. These include:
• Robotics
As people rely more and more on robotic technology,
it is important to design devices that do not create
discomfort or distrust. This is particularly true in the
development of assistive technologies designed to help
people with disabilities perform tasks and interact with
their environments. People are more likely to be receptive
to designs that are both useful and appealing. Designs that
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fall into the uncanny valley are likely to be poorly
received and utilized less frequently.
• Film
As blockbuster films increasingly rely on computer-
generated imagery effects, filmmakers have continued to
work toward developing realistic computer-generated
animations that blend seamlessly and don’t provoke the
uncanny valley.
While many animated films are often criticized for
their unrealistic characterizations of the human form, such
designs featuring overly large eyes and other dramatically
exaggerated features may often be an intentional strategy
to avoid the uncanny valley.
• Game Design
The uncanny valley can also have an impact on how
players react to realistic characters in video games. In
some cases, designers may take advantage of the uncanny
valley to create a sense of antipathy or aversion for
villainous characters.
(Kendra Cherry. www.verywellmind.com,
14.11.2022. Adaptado.)

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33
a) De acordo com o item “Introduction”, explique o que
é “uncanny valley”. Cite duas sensações que podem
ser causadas quando as pessoas experimentam o efeito
do “vale da estranheza”.
b) De acordo com o item “Introduction”, cite duas
situações da vida real que podem fazer com que as
pessoas experimentem o efeito do “vale da
estranheza”. Por que esse efeito pode acontecer?

Resolução
a) O vale da estranheza é um termo usado para
descrever a relação entre a aparência humana de um
objeto robótico e a resposta emocional que ele evoca.
Nesse fenômeno, as pessoas sentem desconforto ou
até repulsa em resposta a robôs humanoides
altamente realistas.
b) Uma situação seria ao assistir a um filme de
animação computadorizada. Outra sensação
mencionada seria jogar um videogame. Este efeito
pode acontecer pelo fato de o humano animado
parecer quase real, mas aquele ligeiro abismo entre
parecer “quase humano” e “totalmente humano”
deixaria as pessoas com desconforto ou até repulsa.

UNESP — DEZEMBRO/2023
34
a) De acordo com o item “Robotics”, como as tecnologias
assistivas devem ser projetadas para que possam ser
aceitas? O que pode acontecer se o design da
tecnologia assistiva cair no “vale da estranheza”?
b) De acordo com o item “Film”, qual é a estratégia
utilizada em animações para evitar que elas caiam no
“vale da estranheza”? De acordo com o item “Game
Design”, como o efeito do “vale da estranheza” pode
ser útil para criar determinadas sensações nos
jogadores de videogames?

Resolução
a) À medida que as pessoas confiam cada vez mais
na tecnologia robótica, é importante conceber
dispositivos que não criem desconfiança.
É mais provável que as pessoas estejam abertas a
designs que sejam úteis e atraentes. Projetos que
caem no vale da estranheza provavelmente serão
mal recebidos e utilizados com menos frequência.
b) No item filme, os cineastas utilizam animações
realistas geradas por computador que se
misturam perfeitamente e não provocam o vale da
estranheza. Além disso, também se valem da
estratégia de utilizar designs com características
exageradas, tais como olhos muito grandes.
Com relação ao tópico “game design”, designers
podem aproveitar o vale da estranheza para criar
uma sensação de antipatia/aversão pelos vilões.

UNESP — DEZEMBRO/2023
Leia o texto para responder, em português, às questões 35
e 36.

Investigating the power of music therapy

Music’s benefits extend beyond entertainment. It can


help improve cognitive function, increase the brain’s
neuroplasticity, and slow cognitive decline. For people
with dementia, music can evoke memories and enhance
their sense of identity.
Interestingly, silence can also have a profound effect
on our health. In the anechoic chamber cited in the
Guinness World Records as the world’s quietest room,
Beatie Wolfe, a singer, songwriter, and ambassador for
Music for Dementia (a campaign calling for music to be
accessible to everyone living with dementia), experienced
a “sensory reset” where her nervous system calmed down,
and she could hear sound in a pure way. This highlights
the importance of balancing sound and silence in our
lives.
However, music therapy can have potential downsides,
such as triggering traumatic memories or negative
responses to specific types of music. That aside, music’s
power deserves further research, not least its potential
effect on the progress of dementia.
(Tim Snaith. https://link.medicalnewstoday.com,
30.04.2023. Adaptado.)

UNESP — DEZEMBRO/2023
35
a) De acordo com o primeiro parágrafo, por que os
benefícios da música vão além do entretenimento?
Para as pessoas com demência, quais podem ser os
benefícios da música?
b) Por qual motivo a câmara anecoica citada no segundo
parágrafo ganhou destaque internacional? O que
aconteceu com Beatie Wolfe nessa câmara anecoica?

Resolução
a) Artes, em geral, podem ser medicinalmente
poderosas, estendendo o seu poder para além de
uma forma de entretenimento. Além disso, ela
pode melhorar a função cognitiva, aumentar a
neuroplasticidade cerebral e retardar o declínio
cognitivo.
Para as pessoas com demência, a música pode
evocar memórias, ajudar a melhorar a cognição
do indivíduo e pode devolver às pessoas com
demência um sentido de identidade.
b) Porque a câmara anecoica foi registrada no livro
mundial de recordes como a sala mais silenciosa
do mundo.
Beatie Wolfe, ao entrar em contato com a câmara,
pôde vivenciar uma “reinicialização sensorial”, o
que a ajudou a acalmar seu sistema nervoso e
permitiu que ela pudesse ouvir o som de uma
maneira pura.

UNESP — DEZEMBRO/2023
36
a) De acordo com o segundo parágrafo, que tipo de
equilíbrio faz bem à nossa saúde? No início do terceiro
parágrafo, o termo “However” estabelece qual tipo de
relação com o parágrafo anterior?
b) De acordo com o terceiro parágrafo, quais aspectos
negativos podem ser desencadeados na terapia por
meio da música? Por que deve haver mais pesquisas
sobre o poder da música?

Resolução
a) O equilíbrio que faz bem a nossa saúde é a
exposição ao som e ao silêncio.
O termo “however” foi utilizado para estabelecer
uma relação de contraste entre o segundo e o
terceiro parágrafo, uma vez que foram
apresentados os benefícios da música e em seguida
seus malefícios.
b) De acordo com o terceiro parágrafo, existem
potenciais desvantagens da música para qualquer
pessoa, pois ocasionalmente a música pode, por
exemplo, desencadear memórias traumáticas ou
respostas negativas a tipos específicos de músicas.
Mais pesquisas devem existir sobre o poder da
música para confirmar ou, até mesmo, descobrir
novos benefícios que o uso da música poderia
trazer no tratamento das pessoas com demência.

UNESP — DEZEMBRO/2023
REDAÇÃO
Texto 1
Examine as tirinhas* do cartunista André Dahmer, pu-
blicadas em sua conta no Instagram, em 28.02.2023,
22.02.2023, 23.02.2023 e 13.05.2023.

* Vestido com uma roupa amarela e laranja de proteção contra


incidentes nucleares, o personagem das tirinhas personifica as
programações dos algoritmos.

Texto 2
Tornou-se impossível pensar no dia a dia sem a
internet. “O impacto das novas tecnologias digitais sobre
a vida das pessoas, das economias e de todas as
sociedades pelo mundo afora aumenta de forma muito
rápida”, constata Glauco Arbix, professor do Depar-
tamento de Sociologia da Universidade de São Paulo. E
essas transformações devem se aprofundar ainda mais em
um curto prazo de tempo, uma vez que as pesquisas sobre
a rede internacional de computadores preveem que, nos
próximos quatro anos, o mundo vai saltar de 3,4 bilhões
de usuários para 4,8 bilhões, o que representa 1,4 bilhão
de pessoas a mais utilizando a internet, ou 60% da
população global conectada à rede em 2022. Claro que
em algumas regiões — sobretudo América do Norte e
Europa — o percentual de usuários é bastante alto (cerca
de 90% da população). No entanto, para que tudo
UNESP — DEZEMBRO/2023
funcione a contento, a tecnologia precisa ser melhorada.
E isso já está acontecendo.
(“Não dá para pensar em um mundo sem internet”.
https://jornal.usp.br, 10.12.2018. Adaptado.)

Texto 3
Daria para erguer uma pequena montanha com todos
os livros que, na última década, criticaram ou nos
advertiram contra vários aspectos da internet e das mídias
sociais. Um atributo comum compartilhado por todos
esses livros, no entanto, é a suposição sem ressalvas da
permanência e inevitabilidade da internet como elemento
definidor da vida social, econômica e cultural. Em suma,
o discurso público sobre as tecnologias de rede se
restringe a propostas de aprimoramento e modificação de
um sistema existente e que é aceito como uma realidade
inescapável. Com Terra arrasada, eu estava determinado
a não acrescentar mais um livro a essa pilha de textos
inerentemente reformistas. Muito pelo contrário, busquei
dar voz à necessidade de rejeição e à urgência na
imaginação e no empenho rumo a formas de vida e de
estar uns com os outros fora das rotinas desalentadoras
que nos são impostas por corporações poderosas. Uma
das metas era contestar a suposição generalizada de que
as tecnologias de rede que dominam e deformam nossas
vidas “vieram para ficar”.
A onipresença da internet desfigura inexoravelmente
nossa percepção e as capacidades sensoriais necessárias
para que conheçamos e nos liguemos afetivamente a
outras pessoas. Se for possível um futuro habitável e
partilhado em nosso planeta, será um futuro off-line,
desvinculado dos sistemas destruidores de mundo e das
operações do capitalismo 24/71. Há, hoje, em meio à
intensificação dos processos de derrocada social e
ambiental, uma conscientização cada vez maior de que
uma vida diária obscurecida em todos os aspectos pelo
complexo internético cruzou um limiar de irremedia-
bilidade e toxicidade. Para a maioria da população da
Terra à qual foi imposto, o complexo internético é o motor
implacável do vício, da solidão, das falsas esperanças, da
crueldade, da psicose, do endividamento, da vida
desperdiçada, da corrosão da memória e da desintegração
social. Todos os seus alardeados benefícios tornam-se
irrelevantes ou secundários diante desses impactos
nocivos e sociocidas2.
(Jonathan Crary. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um
mundo pós-capitalista, 2023. Adaptado.)

124/7: abreviação para “24 horas por dia, 7 dias por semana”.
2sociocida: que dissolve a sociedade, que é contrário à sociedade.

UNESP — DEZEMBRO/2023
Com base nos textos apresentados e em seus próprios
conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumen-
tativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa,
sobre o tema:
É POSSÍVEL UM FUTURO OFF-LINE?

Comentário à proposta de Redação

A Unesp perguntou: É possível um futuro off-line?


Para responder a essa questão num texto dissertativo-
argumentativo, o candidato contou, como apoio, com
4 tirinhas do cartunista André Dahmer, além de
outros dois textos. Nas tirinhas, uma personagem
vestida com uma roupa à prova de incidentes
nucleares, personificando os algoritmos, interpela
várias pessoas oferecendo sugestões e informações de
qualidade duvidosa, provavelmente com base em
acessos a conteúdos que teriam possibilitado traçar
um suposto perfil dessas pessoas, conhecendo seus
interesses e preferências. No segundo texto, o
professor de sociologia Glauco Arbix aponta uma
tendência irreversível de expansão da rede
internacional de computadores, gerando um impacto
sem precedentes “sobre a vida das pessoas, das
economias e de todas as sociedades”. No último texto,
o escritor Jonathan Crary, autor de Terra Arrasada,
criticava a postura conformista dos livros e artigos
que decretaram “a permanência e a inevitabilidade”
da internet como norteadora da vida social, econômica
e cultural dos cidadãos. Discordando dessa visão,
Crary alerta para os efeitos nocivos da onipresença da
internet, que estaria desfigurando nossa percepção
acerca do que seria vital à nossa saúde física e mental:
a desintegração dos laços afetivos, que geraria seres
“sociocidas”.
Caso apostasse num mundo off-line, o candidato
deveria enfatizar a necessidade de uma conscien-
tização global, algo utópico, acerca dos malefícios —
superiores aos benefícios — trazidos pela conexão
diuturna com as plataformas digitais. Transtornos
mentais, além de doenças ligadas ao sedentarismo,
poderiam ser mencionados como forma de barrar os
avanços da tecnologia internética.
Caso, porém, duvidasse da possibilidade de um futuro
off-line, o candidato poderia observar o avanço ace-
lerado das tecnologias voltadas não apenas a facilitar
o acesso de mais e mais pessoas, mas também dos
mecanismos voltados a desenvolver o vício , a incapa-
cidade de os usuários distanciarem-se do mundo
virtual. O apego desmedido a aparelhos celulares seria
um exemplo da dependência da internet, assim como
a adesão incondicional e irracional aos conteúdos
impostos pelas grandes corporações. Um “caminho
sem volta” definiria esse fenômeno contra o qual é
impossível resistir — ou ao menos lutar.
UNESP — DEZEMBRO/2023

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