Cartazes 25 avril

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 4

Cultura e História de Portugal Ficha Informativa

Revoluções com nome de flor

EPEMP © Porto Editora


Uma revolução representa uma grande mudança, por vezes, violenta na estrutura política, económica
ou social de um país. O nome deste tipo de acontecimento histórico está frequentemente ligado à região
ou país onde teve lugar como, por exemplo, no caso da Revolução Fran-
cesa. Ultimamente, várias revoluções aconteceram pacificamente e, por
isso, apresentam nomes de cores ou flores.
Em 2010, na Tunísia, o levantamento popular que começou em janeiro
ficou conhecido como a Revolução Jasmim, talvez porque o jasmim é o
símbolo nacional daquele país. No Egito, a revolução que levou à queda do
presidente Hosni Mubarak, em fevereiro
de 2011, também foi batizada com o nome
da flor nacional do país: o lótus. Em 2005,
no Quirguistão, a Revolução Túlipa depôs
o presidente da república. Na Geórgia, no
final de 2003, vários apoiantes do líder da
Oposição interromperam uma sessão do
Parlamento transportando consigo as
[1] Jasmim rosas que deram o nome a mais uma
revolução pacífica.
A primeira revolução a receber o nome
de uma flor foi, no entanto, a revolução portuguesa do dia 25 de abril de
1974, que acabou com o regime de António de Oliveira Salazar. Esta [2] Lótus
revolução ficou conhecida como Revolução dos Cravos.

Aprende mais sobre a Revolução dos Cravos: consulta o manual


Cultura e História de Portugal, vol. 1, p. 10.

Revolução dos Cravos


Segundo um artigo de Isabel Araújo Branco, publicado no jornal Avante
no dia 27 de abril de 2000, existem pelo menos três versões para explicar
por que razão a revolução portuguesa ficou para sempre ligada aos cra-
vos vermelhos. A primeira diz que as flores que foram distribuídas pelos
militares se destinavam a enfeitar uma festa de casamento marcada para
aquele dia e que não chegou a realizar-se devido à agitação política; a
segunda versão fala de uma empresa de produção de flores que tinha
uma remessa de cravos vermelhos para exportação que não pôde sair do
país porque o aeroporto estava fechado; e a terceira versão apresenta-se,
nas palavras de Isabel Araújo Branco, “com um rosto que conta a história
na primeira pessoa”. Nesta versão dos acontecimentos, um soldado pede
[3] Cravo um cigarro a uma jovem que passava na rua, mas como ela não fumava,
decidiu dar a este soldado e a muitos outros que foi encontrando no seu
caminho a única coisa que transpor-
tava consigo naquele momento: um grande ramo de cravos. No dia Glossário
25 de abril de 2013, o Jornal de Notícias publicou na sua edição
pacificamente: sem violência
online uma entrevista que realizou com a protagonista desta versão,
símbolo: que representa algo, marca
Celeste Martins Caeiro, e que intitulou: “A mulher que fez do cravo o
remessa: algo que se envia
símbolo da revolução.”
Cultura e História de Portugal Ficha Informativa

Outra explicação avançada para o nome da revolução portuguesa tem a ver com as muitas floristas

EPEMP © Porto Editora


que naqueles tempos costumavam vender flores nas principais praças lisboetas. Quando chegaram a
Lisboa, os militares ocuparam durante muitas horas vários espaços públicos da cidade, incluindo muitas
praças onde habitualmente as floristas tinham pequenas bancas de venda. Como a revolução portu-
guesa foi pacífica e a população saiu em massa para a rua para apoiar os militares, naturalmente que a
população civil e os militares devem ter interagido. Como naquela altura do ano havia muitos cravos à
venda, é bem possível que as floristas os tenham oferecido
aos militares que ali estavam estacionados.
É frequente existir no mínimo duas versões de uma
mesma história, pois basta haver duas testemunhas dife-
rentes para que os relatos dos acontecimentos sejam
observados de forma ou ângulos diferentes. Independente-
mente da história que está por detrás dos cravos revolucio-
nários portugueses, o que ficou registado para a História de
Portugal e do mundo foi uma revolução militar completa-
mente pacífica que pôs fim a um regime ditatorial que opri-
miu o povo português durante quase meio século.
[4] Militares, Revolução de 25 de Abril

Curiosidades
Para além da fotografia em que se veem os soldados portugueses com um cravo ao
peito ou inserido no cano da sua espingarda, há um cartaz produzido pelo fotógrafo
português Sérgio Guimarães que também correu mundo. Lê aqui a história que está
por detrás da fotografia tirada por Sérgio Guimarães.

A Revolução dos Cravos teve um impacto muito grande na comunidade


de artistas e escritores da época e serviu de inspiração para muitas obras.
Em 1975, a pedido da sua amiga, a poetisa e escritora de contos infantis
Sofia de Mello Breyner Andresen, a pintora Maria Helena Vieira da Silva ilus-
trou dois cartazes alusivos ao 25 de Abril editados pela Fundação Calouste
Gulbenkian.
Vieira da Silva nasceu em Portugal em [5] Cartaz do 25 de Abril, fotografia
1908 e começou a frequentar a Escola de de Sérgio Guimarães
Belas-Artes de Lisboa em 1919. Em 1928,
ela e a mãe mudam-se para Paris para ela dar continuidade à sua
formação artística em pintura, escultura e gravura. Em 1930, casa-se
com o pintor húngaro Arpad Szenes e perde a nacionalidade portu-
guesa.

Glossário
em massa: na totalidade
interagido: comunicado entre si
basta: é suficiente
testemunhas: pessoas que ouviram ou presenciaram algo
relatos: narrações, atos de contar
impacto: influência
gravura: arte de fixar e reproduzir imagens
[6] Cartaz do 25 de Abril pintado por Vieira da Silva
Cultura e História de Portugal Ficha Informativa

O casal muda-se para Lisboa em 1935, mas permanece em Portu-

EPEMP © Porto Editora


gal apenas três anos. Durante a Segunda Grande Guerra, entre os
anos de 1940 e 1947, o casal refugia-se no Brasil. Mais tarde, fixam
residência em França e ambos adquirem a nacionalidade francesa em
1957. Vieira da Silva torna-se na primeira mulher a receber do governo
francês o Grand Prix National des Arts em 1966. A pintora, hoje em dia
considerada como uma das melhores artistas do abstracionismo do
pós-guerra, morre em Paris no ano de 1992.
Desde novembro de 2013 que uma placa com o nome de Vieira da
Silva assinala na capital francesa a casa onde ela e o marido viveram e
trabalharam grande parte das suas vidas: o número 34 da rue de
l’Abbé Carton.

[7] Cartaz do 25 de Abril pintado


por Vieira da Silva

Revolução com nome de flor e senha musical


Outra curiosidade interessante da Revolução do dia 25 de abril de 1974 foi a senha usada pelos milita-
res para comunicarem entre os diferentes quartéis.
Esta revolução foi planeada pelos oficiais intermédios da hierarquia militar, que ficaram conhecidos
como “Capitães de Abril”, sem o conhecimento dos seus superiores e, por isso, não puderam usar os
meios normais de comunicação. Ficou então decidido que o sinal ou senha para os militares saírem dos
quartéis e avançar para Lisboa onde estava situada a sede do governo português seria a transmissão de
duas canções numa determinada sequência e de acordo com instruções precisas, através do órgão de
comunicação social de maior difusão a nível nacional: a rádio.
Cinco minutos antes das 23 horas do dia 24 de abril a Rádio Alfabeta dos Emissores Associados de
Lisboa põe no ar a música vencedora desse ano do Festival da Canção “E depois do adeus” de Paulo de
Carvalho e às 24h20m, a emissora de rádio de difusão nacional, Rádio Renascença, passa a canção
“Grândola, vila morena” da autoria de José Afonso, antecedida pela leitura da sua primeira quadra.
Estava confirmado o início da revolução e dada a luz verde para os militares que aderiram ao Movimento
das Forças Armadas (MFA), e esperavam em diferentes quartéis do país, avançarem para Lisboa, onde se
localizava a sede do governo português.
Conscientes da importância de manter o país informado sobre o que se estava a passar, os militares
ocuparam as instalações do Rádio Clube Português e às 4h26m do dia 25 o locutor de serviço, Joaquim
Furtado, lê o primeiro comunicado do MFA.

Glossário
quartéis: edifícios onde se alojam os soldados
Cultura e História de Portugal Ficha Informativa

EPEMP © Porto Editora


Curiosidades
No dia 29 de março de 1974, o Coliseu dos
Recreios, a maior sala de espetáculos da
cidade de Lisboa, com lotação para mais de
4000 espetadores, enche-se para assistir a
um concerto em que participam vários canto-
res-autores entre os quais José Afonso,
Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria,
Manuel Freire, José Barata Moura e Fernando
Tordo.

O concerto termina com todos os artistas a


cantarem a música “Grândola, vila morena”
de José Afonso. Curiosamente, a censura
tinha proibido que naquele concerto se tocas-
sem as canções de José Afonso “Venham
mais cinco,” “Menina dos olhos tristes,” “A
morte saiu à rua” e “Gastão era perfeito” mas [8] Coliseu dos Recreios, Lisboa
não “Grândola, vila morena,” provavelmente
porque os censores tinham uma formação
académica muito heterogénea e havia muitos que não conseguiam identificar os conteúdos que deveriam ser
censurados e deixavam passar muitas informações subversivas.

Saber mais
A censura no regime de Salazar
Em 1936, o governo de António Oliveira Salazar publica uma lei que regulamenta
a publicação de jornais em Portugal e proíbe a entrada de edições estrangeiras
não autorizadas pelo regime, colocando vários entraves à criação de novos jor-
nais que não respeitassem a ideologia do governo. São igualmente criados os
Serviços de Censura que têm como tarefa verificar absolutamente tudo o que é
publicado em Portugal, incluindo jornais, revistas, livros, álbuns e concertos de
música, filmes, peças de teatro e radiofónicas, etc. Muitas das pessoas que tra-
balhavam neste serviço do Estado usavam um lápis de cor azul para assinalar
tudo o que não poderia ser publicado e ficaram por isso conhecidos como os
“homens do lápis azul”.
[9] Ação dos Serviços de Censura
do Porto

Glossário
lotação: número máximo de lugares de uma sala de espetáculo
heterogénea: diferente
subversivas: revolucionárias
entraves: impedimentos

Você também pode gostar