Arquitetura Financeira Contemporânea (1)

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Arquitetura Financeira Contemporânea

Prof. Livio Ribeiro

Descrição

Apresentação da arquitetura monetária contemporânea e a importância


das principais moedas no sistema monetário internacional.

Propósito

O colapso do sistema de Bretton Woods significou a ascensão de um


sistema monetário internacional que impactou diversos países. Essa
nova dinâmica afetou diretamente a Europa, de forma a criar incentivos
para criação de uma moeda única — o Euro.

Esse novo sistema também impactou diretamente o dólar e,


principalmente, o renminbi – moeda chinesa cuja relevância tem
aumentado no cenário internacional. Dada a importância do sistema
monetário e financeiro para a economia mundial, compreender essa
nova dinâmica é essencial para a análise econômica contemporânea.

Objetivos
Módulo 1

Sistema monetário após o colapso de Bretton


Woods

Descrever a transição para um sistema monetário baseado no


câmbio flutuante.

Módulo 2

União monetária europeia

Analisar o processo de integração da União Monetária Europeia.

Módulo 3

Passo a passo da internacionalização do


renminbi

Examinar o processo de ascensão do renminbi no cenário


internacional.

Introdução
Com o colapso do sistema de Bretton Woods nos primeiros anos
da década de 1970, o sistema monetário internacional passou por
significativas mudanças no seu modo de funcionamento. Após a
suspensão da conversibilidade do dólar em ouro, as moedas
passaram a ser emitidas sem qualquer lastro físico.

A moeda passou a ser fiduciária, ou seja, não tem qualquer valor


intrínseco e não é lastreada em qualquer bem ou ativo de valor.
Nesse caso, o valor da moeda decorre apenas da credibilidade na
instituição emissora em garantir a estabilidade do seu poder de
compra.
Após o colapso do sistema de Bretton Woods, e diante de uma
crescente dificuldade de impor controles sobre fluxos de capitais
cada vez mais sofisticados, o novo sistema monetário
internacional, pós-Bretton Woods, passou a ser baseado em um
regime de câmbio flutuante, com livre fluxo de capital e autonomia
da política monetária.

Foi essa autonomia que permitiu aos bancos centrais conduzir


suas políticas monetárias com o objetivo de garantir a estabilidade
da moeda ao longo do tempo. No módulo 1, veremos a maneira
pela qual o mecanismo de taxas de câmbio flutuantes foi colocado
em prática, bem como as vantagens e desvantagens associadas a
ele.

O impacto de taxas de câmbio flutuantes na economia de cada país


não foi homogêneo. Países cujas transações comerciais
internacionais representavam uma parcela menor do Produto
Interno Bruto não sentiam tanto os efeitos negativos desse tipo de
regime.

Por outro lado, países com economias mais abertas, cuja produção
era fortemente voltada para as exportações, ou que eram mais
dependentes de importações, foram afetados pela incerteza quanto
à volatilidade cambial.

Esse era o caso dos países europeus, e um dos motivos pelos


quais os países da comunidade europeia iniciaram um processo de
integração monetária em direção à criação de uma moeda única, o
Euro. No módulo 2, abordaremos brevemente as principais
características de uma união monetária e o processo de integração
dos países europeus.

A mudança de sistema monetário internacional não diminuiu a


relevância do dólar norte-americano no cenário global, que manteve
sua posição de reserva de valor e meio de troca para transações
internacionais, mesmo após o abandono da conversibilidade em
ouro.

De certa forma, a posição hegemônica do dólar foi garantida diante


do cenário de evidente supremacia econômica dos EUA. A
ascensão econômica de outros países, no entanto, especialmente
da China, é vista por muitos como uma ameaça à posição do dólar
no cenário mundial. O módulo 3 abordará a ascensão do renminbi
chinês como moeda internacional.
1 - Sistema monetário após o colapso de Bretton Woods
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a transição para um sistema monetário
baseado no câmbio flutuante.

Início do câmbio flutuante


O sistema de Bretton Woods, que durou de 1944 até o início da década
de 1970, apresentava falhas em seus mecanismos de ajuste para
corrigir desequilíbrios nos balanços de pagamentos.

Por um lado Por outro lado

Os recursos disponíveis close O regime de câmbio


para financiamento de ajustável, no qual era
déficits externos não possível realizar
eram suficientes para desvalorizações
permitir um ajuste cambiais controladas,
gradual dos balanços praticamente não foi
de pagamentos dos usado pelo sistema de
países em dificuldade. Bretton Woods.
Os governos temiam que esse tipo de desvalorização provocasse
movimentos especulativos que desestabilizassem o sistema e
acabassem por gerar uma perda de credibilidade, uma vez que, após a
primeira desvalorização, não haveria motivos para acreditar que não
ocorreriam novas desvalorizações.

Pelo Trilema de Mundell-Fleming, um país não pode alcançar,


simultaneamente, o livre fluxo de capital, taxa de câmbio fixa e a
autonomia da política monetária. A solução encontrada para impedir
desequilíbrios descontrolados das contas externas foi impor controles
sobre os fluxos de capital, e mecanismos que criassem desincentivos à
sua saída.

Isso permitiu que os países fixassem suas moedas e mantivessem


algum grau de autonomia sobre suas políticas monetárias.

Robert Mundell.
Marcus Fleming

A sofisticação e a modernização dos mercados financeiros, no entanto,


se apresentavam como crescentes desafios aos governos. Se tornava
cada vez mais difícil impor controles sobre os fluxos internacionais de
capital.

Mundo financeiro em constante mudança.

Além disso, conforme destacado por Eichengreen (2000), “os países que
impunham controles onerosos corriam o risco de perder sua
participação no mercado mundial de negócios”. A situação era ainda
mais delicada para países em desenvolvimento: aqueles “que não
liberalizassem seus mercados financeiros corriam o risco de não atrair
investimentos estrangeiros”.

Estava cada vez mais difícil sustentar a configuração do Trilema que


havia sido acordada em Bretton Woods.
Eventualmente, diante de forte pressão sobre o sistema e a
impossibilidade de adotar mecanismos de ajuste que o reequilibrassem,
a conversibilidade do dólar em ouro foi abandonada unilateralmente
pelos EUA, e os demais governos foram, um a um, deixando suas taxas
de câmbio flutuarem em relação ao dólar.

A transição para um sistema monetário baseado em um


regime de câmbio flutuante não era inédita, mas também
não estava pautada em experiências passadas relevantes.

A flutuação cambial vivenciada após a Primeira Guerra Mundial, e


novamente após a Grande Depressão, foi considerada, à época, um
vetor de instabilidade e desorganização para o sistema.

Primeira Guerra Mundial.

Grande Depressão.

Por esse motivo, resquícios do sistema de Bretton Woods continuavam


presentes. Mesmo após a adesão do câmbio flexível na maior parte dos
países, em 1973, diretores do Fundo Monetário Internacional ainda
buscavam uma forma de retorno ao regime de câmbio ajustável e uma
reforma adequada das paridades cambiais que permitisse maior
equilíbrio externo.

Houve, ainda, uma série de tratativas diplomáticas para tentar restaurar


o sistema de Bretton Woods, com câmbio fixo, mas sem sucesso. Os
EUA eram a favor do favor do regime de câmbio flexível, ao contrário dos
países europeus e do Japão.

EUA Países europeus e Japão

Emissores da moeda de Demonstravam uma


reserva internacional, preferência pelo
não sofreriam as close restabelecimento dos
possíveis valores fixos de
consequências paridade cambial,
negativas da adoção do retornando a um
câmbio flutuante e sistema que se
entendiam essa assemelhasse ao que
flutuação como um foi acordado em Bretton
problema de outros Woods.
países.

No final da década de 1960, eram os EUA que estavam sendo


prejudicados pela rigidez dos acordos de Bretton Woods, apresentando
elevados déficits no balanço de pagamentos e uma trajetória
insustentável das contas externas. Os países europeus, por sua vez,
apresentavam superávits e acúmulo de reservas internacionais em dólar,
o que ameaçava as reservas de ouro norte-americanas.

Ao abandonar a conversibilidade em ouro e não ter que se preocupar


com a flutuação cambial, os EUA poderiam financiar seus déficits
externos por meio da emissão de moeda, o que, na prática, eliminava a
restrição externa norte-americana.

O Tesouro dos EUA se mostrou disposto a aceitar algum grau de


estabilização do dólar dentro de uma banda ampla o suficiente para
permitir que a condução da política econômica pudesse ser voltada para
outros aspectos além do câmbio.
Curiosidade

O governo norte-americano propôs ainda mecanismos que obrigariam


os países superavitários a valorizar suas moedas e compartilhar o ônus
do ajuste com os países deficitários, como era o caso dos EUA.

Eichengreen (2000) destaca que, em 1975, na Conferência de


Rambouillet, diante da posição hegemônica dos EUA e das dificuldades
para restaurar o sistema de Bretton Woods, os franceses e as demais
potências europeias concordaram com a implementação de um
“sistema estável” de taxas de câmbio, ao contrário do que defendiam
(um “sistema de taxas de câmbio estáveis”).

O Castelo de Rambouillet, onde ocorreram as negociações.

Pelo que foi acordado, as taxas de câmbio não precisariam ser estáveis,
mas o sistema, como um todo, sim. A estabilidade do sistema se daria
por meio da promoção de condições econômicas equilibradas e
“saudáveis”, que impediriam movimentos especulativos intensos e
desestabilizadores. Tais condições seriam constantemente
supervisionadas pelo Fundo Monetário Internacional.

Resumindo

Na prática, isso abria o caminho para a flutuação cambial sem que


houvesse protestos por parte dos países que defendiam o retorno a
taxas de câmbio fixas.

Havia bons argumentos econômicos para ambos os sistemas. Esses


argumentos, no entanto, estavam diretamente relacionados ao fato de
não existir consenso quanto à trajetória esperada para as taxas de
câmbio. Veja:

Aqueles que defendiam a adoção de um regime de câmbio


flutuante. expand_more
Acreditavam que a flexibilidade cambial eliminaria os
desalinhamentos frequentes da época do câmbio fixo e
promoveriam ajustes mais rápidos em desequilíbrios nas contas
externas.

Acreditavam, ainda, que a taxa de câmbio convergiria sempre


para o valor que equilibraria o balanço de pagamentos e, dessa
forma, sua volatilidade seria limitada.

Aqueles que eram contra a adoção de um regime de


câmbio flutuante. expand_more

Acreditavam que a volatilidade cambial provocaria instabilidades


tão grandes a ponto de se tornar um vetor adicional de
desequilíbrio, em vez de um mecanismo que facilitasse o retorno
ao equilíbrio.

Na prática, o que se viu foi um meio termo entre essas duas posições.
Por um lado, as taxas de câmbio apresentaram bastante volatilidade,
especialmente no período inicial, tendo em vista que os
desalinhamentos acumulados durante os anos de câmbio fixo estavam
sendo corrigidos. Por outro lado, a volatilidade como vetor de
instabilidade não foi uma regra.

As taxas de câmbio, apesar de flutuantes, eram administradas


ativamente pelos governos e bancos centrais. Os governos intervieram
no mercado monetário, muitas vezes ajustando suas políticas monetária
e fiscal, de forma a reduzir a volatilidade do mercado de câmbio.

Na maioria das vezes, as intervenções tinham o objetivo de


limitar movimentos exagerados nas taxas de câmbio, sem
alterar sua tendência.

Por vezes, algum grau de coordenação internacional foi necessário, com


o objetivo de sustentar moedas que rapidamente perdiam valor ou
impedir a valorização acentuada de outras. Essas intervenções
internacionais conjuntas e coordenadas eram, em geral, feitas por meio
de créditos especiais entre bancos centrais e linhas de swap.

Além disso, a condução da política econômica interna a cada país, fiscal


ou monetária, apesar de não ter como objetivo um determinado nível de
câmbio, era utilizada para sustentar o câmbio quando este alcançava
níveis críticos.

Durante a década de 1970, ainda foi possível impor alguns tipos de


controle sobre os fluxos financeiros, o que permitia “afrouxar”, mesmo
que temporariamente, o Trilema de Mundell-Fleming. Geralmente, esses
controles eram impostos quando havia conflito entre as necessidades
de condução da política econômica interna e uma trajetória de câmbio
bem-comportada.

Comentário
A primeira década de implementação do regime de câmbio flutuante
teve alguma instabilidade monetária. No entanto, a disposição dos
governos em promover uma flexibilidade cambial administrada foi
suficiente para garantir intervenções ordenadas que permitiram um
funcionamento estável do sistema.

A década de 1980, por sua vez, se mostrou um período de maior


instabilidade monetária e cambial.

Ao final da década de 1970 e início da de 1980, o Federal Reserve,


presidido por Paul Volcker, elevou consideravelmente a taxa de juros,
como forma de combater as altas taxas de inflação observadas na
economia norte-americana nesse período.

Essas altas taxas de inflação eram consequência de dois fenômenos:

I II

Segunda Crise do O segundo se refere à


Petróleo, em 1979, que política fiscal norte-
elevou o preço do barril, arrow_forward americana.
com impactos sobre
toda a cadeia produtiva
global.

O governo Reagan promoveu uma reforma tributária que reduziu


impostos, mas, ao mesmo tempo, aumentou significativamente os
gastos públicos, especialmente os militares. Isso expandiu o déficit
orçamentário e configurou um componente de elevação dos juros que
estava restrito aos EUA.

Com isso, o diferencial de juros entre os EUA e os países europeus e o


Japão elevou-se consideravelmente, o que atraiu para os EUA dólares
que estavam no mercado internacional. A redução da oferta de dólares
no mercado internacional valorizou a moeda e, consequentemente,
desvalorizou as demais.

Reagan em 1982.

Os países europeus e o Japão eram mais sensíveis em relação à


flutuação cambial e demonstravam uma preferência clara por taxas de
câmbio mais estáveis. Esses países, no entanto, se viram dependentes e
diretamente afetados pela condução de políticas econômicas
associadas a fatores puramente internos aos EUA.

Japão Países europeus

Utilizou o câmbio Viram nessa dinâmica


desvalorizado como um bom motivo para
uma oportunidade para dar sequência ao
aumentar a processo de integração,
competitividade de suas close por meio de uma união
exportações, o que foi monetária que
um vetor para o eliminaria a volatilidade
crescimento econômico cambial entre seus
do país. membros.

Apesar de ter sido causado por políticas econômicas voltadas ao


mercado interno, o dólar valorizado não favorecia os exportadores
norte-americanos. Diante da crescente pressão, o governo Reagan foi
obrigado a ceder e intervir no mercado de câmbio.

Afinal, entre intervir no mercado de câmbio e adotar uma legislação que


ia contra sua política de desregulamentação e liberalização econômica,
a primeira opção era vista como melhor.

Atenção!

Vale destacar que os demais países cooperaram com esse movimento


por conta do temor de perder o acesso ao mercado norte-americano,
caso as medidas protecionistas fossem, de fato, aprovadas.

Assim, foi feita, de forma ordenada, uma desvalorização do dólar


(valorizando as demais moedas). Esses acordos de realinhamento das
moedas, firmados em 1985, ficaram conhecidos como Acordos de
Plaza.

Posteriormente, ainda foram executadas novas desvalorizações do


dólar, que visavam compensar os anos de consecutivos déficits
externos dos EUA e sustentar a posição dos exportadores norte-
americanos no mercado global (que havia sido perdida na época do
câmbio supervalorizado).

Ao final da década de 1980, já no governo Bush, os EUA adotaram uma


política de não intervenção ao câmbio, liberalizando o mercado e
permitindo que a moeda flutuasse com maior grau de liberdade, de
acordo com as oscilações naturais do mercado.

Argumento do câmbio flutuante


Para muitos economistas e acadêmicos, a adoção do regime de câmbio
flutuante é considerada uma evolução positiva do sistema monetário
internacional, uma vez que ele seria capaz de promover soluções de
mercado mais eficientes e automáticas para desequilíbrios externos.

Após o colapso de Bretton Woods, quase todas as


principais economias do mundo permitiram que suas taxas
de câmbio flutuassem de acordo com os fluxos
internacionais de capital.

Krugman e Obstfeld (2010) apontam que o argumento teórico em


defesa de um sistema de taxas de câmbio flutuantes estava baseado
em quatro pilares principais:

autonomia da política monetária;

simetria monetária entre os países;

taxas de câmbio utilizadas como estabilizadores automáticos; e

equilíbrio externo.

Autonomia da política monetária

No sistema do padrão ouro – no qual havia livre circulação dos fluxos


internacionais de capital – e nos anos finais do sistema de Bretton
Woods – nos quais se tornava cada vez mais difícil controlar esses
fluxos – os países não desfrutavam de autonomia sobre suas
respectivas políticas monetárias.

Isso porque, caso optassem por alterar unilateralmente suas taxas de


juros, esse movimento alteraria o diferencial de juros entre os países e,
consequentemente, impactaria os fluxos internacionais de capital, que
fluíram em direção ao país de maior taxa de juros, desviando a taxa de
câmbio de mercado de sua paridade fixada pelo governo.

Em um regime de taxa de câmbio flutuante, não haveria necessidade de


manter a taxa de câmbio em um patamar determinado. Nesse caso, o
mecanismo de reequilíbrio do balanço de pagamentos seria a própria
flutuação cambial.

Portanto, a política monetária poderia ser utilizada para outros fins,


como definir o nível de estímulo à atividade econômica (impactando
diretamente a taxa de inflação). Veja exemplos:

Exemplo I Exemplo II

Em um cenário de crise, Em um cenário de


no qual a atividade atividade econômica
econômica se encontra superaquecida, no qual
em situação frágil, o a inflação se encontra
banco central teria elevada, o banco central
autonomia para reduzir close teria autonomia para
a taxa de juros, aumentar a taxa de
barateando o crédito e juros, encarecendo o
impulsionando a crédito e desacelerando
demanda agregada, via o consumo das famílias
consumo e e o investimento das
investimento. empresas.

A autonomia sobre suas respectivas políticas monetárias permitia aos


governos e bancos centrais perseguirem a taxa de inflação de longo
prazo que desejassem.

Nos regimes de câmbio fixo isso não era possível, pois, teoricamente, o
ajuste de desequilíbrios externos seria feito pelo nível de preços e a
única forma de reequilibrar o sistema seria por meio de aumentos na
inflação no resto do mundo.

Em um regime de câmbio flexível, diferenciais de inflação poderiam ser


corrigidos por meio de depreciações cambiais automáticas. Nesse
caso, o impacto que os diferenciais de inflação teriam sobre os preços
relativos seriam anulados por uma depreciação cambial de igual
magnitude, preservando o equilíbrio inicial.

Simetria monetária

Um segundo argumento utilizado pelos defensores do regime de câmbio


flexível é o de que não era necessário atrelar uma moeda nacional a
outra. Durante os anos de vigência do sistema de Bretton Woods, todas
as moedas estavam atreladas ao dólar e, nesse sentido, a oferta dessas
moedas estava diretamente ligada à oferta de dólares do Federal
Reserve.

Ao lastrear suas moedas ao dólar, a moeda norte-americana


desempenhava um papel central na economia mundial, não só como
meio de troca para as transações internacionais, mas também como
reserva de valor mundialmente aceita.

Assim, os demais países não tinham muito espaço de manobra para


controlarem a oferta monetária interna, uma vez que ela estava
condicionada às suas reservas em dólar.

Ao adotar um sistema de taxas de câmbio flutuantes, essas assimetrias


tenderiam a desaparecer. Considerando que não precisariam mais
lastrear suas emissões monetárias ao dólar, sob esse modelo, os
bancos centrais teriam mais autonomia para decidir sobre a oferta
monetária doméstica.

Taxas de câmbio como estabilizadores


automáticos

Em um regime de câmbio flutuante, as taxas de câmbio funcionam


como estabilizadores automáticos, no sentido de que possuem a
capacidade de se adaptar rapidamente a mudanças nos preços relativos
e nos termos de troca, de forma a manter as condições de equilíbrio no
balanço de pagamentos.

Ou seja, nos regimes de câmbio flexível, é o câmbio que


permite o reequilíbrio das contas externas, e não mais a
taxa de juros (como no caso dos regimes de câmbio fixo).

A taxa de câmbio como estabilizador automático funciona da seguinte


forma:

arrow_downward Considere um modelo de dois países, A e B. Este


modelo se encontra, inicialmente, em equilíbrio, ou

j ã há á i défi i d l í
seja, não há superávit ou déficit de qualquer país.

arrow_downward Considere que um choque exógeno assimétrico,


que não afeta igualmente os dois países,
desequilibra o balanço de pagamentos: o país A
passa a apresentar um balanço deficitário enquanto
o país B apresenta um balanço superavitário.

arrow_downward Sob um regime de câmbio fixo, o ajuste se daria por


meio do nível de preços.

arrow_downward O país A precisaria apresentar uma queda na


atividade econômica de tal magnitude que elevaria
o desemprego, reduziria os salários e,
consequentemente, a produção de A eventualmente
restauraria sua competitividade por meio da
redução dos custos de produção.

arrow_downward Esse processo, no entanto, seria socialmente


custoso, tendo em vista o seu impacto sobre o
desemprego e o nível de produção.

arrow_downward Sob um regime de câmbio flexível, uma depreciação


cambial resultante da própria dinâmica de mercado
substituiria o aumento do desemprego que
ocorreria em A, sem necessidade de uma
intervenção por parte do governo.
arrow_downward A restauração da competitividade seria feita de
forma nominal, uma vez que a depreciação cambial
baratearia as exportações.

arrow_downward Tendo em vista que o ajuste não seria real – por


meio de redução de custos –, não seria necessário
incorrer em elevadas taxas de desemprego e queda
da produção.

Taxa de câmbio e equilíbrio externo

Este ponto está diretamente ligado ao papel da taxa de câmbio como


estabilizador automático. Supondo o mesmo modelo descrito, tem-se
que, sob um regime de câmbio flexível, os movimentos cambiais
substituem o desemprego em A e a inflação em B.

Os próprios fluxos de capital – que, neste caso, fluem de A para B –


alteram a taxa de câmbio, provocando uma depreciação cambial da
moeda nacional do país A e, consequentemente, uma apreciação
cambial da moeda nacional do país B. Esse movimento cambial alteraria
os preços relativos entre os dois países. Veja:

monetization_on monetization_on
Depreciação da moeda Apreciação da moeda

Em A eleva a Em B reduz a
competitividade da close competitividade da
produção de A, ao produção de B,
baratear as exportações encarecendo as
de A para B. exportações de B para
A.

Esse movimento eliminaria o déficit externo do país A e o superávit


externo do país B, fazendo com que o balanço de pagamentos
retornasse ao equilíbrio inicial.

O mecanismo descrito criava a expectativa de que a volatilidade da taxa


de câmbio seria baixa. Existia a crença de que, aos primeiros sinais de
déficit, especuladores antecipariam os fluxos de saída e entrada
necessários para depreciar a moeda e restaurar a competitividade da
produção, eliminando o déficit.

Isso impediria que o desvio do balanço de pagamentos em relação ao


equilíbrio aumentasse exageradamente. Como corolário, o desvio da
taxa de câmbio em relação à taxa de câmbio que equilibra o balanço de
pagamentos também seria limitado.

video_library
Câmbio flutuante: teoria
O câmbio flutuante é defendido com base em quatro argumentos
principais, mas que se resumem à autonomia de política e eficiência do
ajuste. Veja mais no vídeo a seguir:
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A respeito do que foi apresentado acerca da adesão a um regime de


câmbio flutuante, é possível afirmar que seu caráter internacional
foi:

resultado de um acordo de cooperação para


A organizar um novo sistema monetário, no qual as
principais economias do mundo foram signatárias.
resultado de sanções comerciais e financeiras
B aplicadas sobre os países que se recusavam a
aderir ao sistema.

resultado de imposições feitas pelos EUA a outros


C
países, por meio de guerras e invasões militares.

resultado não planejado de um contexto histórico


D específico favorável à adoção da libra esterlina
como meio de pagamento de referência.

resultado de desequilíbrios insustentáveis do


sistema de Bretton Woods, que inviabilizaram a
E
manutenção das paridades fixas e obrigaram os
países a permitirem a flutuação cambial.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O sistema de Bretton Woods acumulou desequilíbrios que se


tornaram insustentáveis. Os consecutivos déficits externos dos EUA
fizeram com que o governo americano suspendesse
unilateralmente a conversibilidade do dólar em ouro. Esses
constantes déficits “inundavam” o mercado internacional com
dólares.

Para manter a paridade fixa, os demais bancos centrais


transformavam esses dólares em reserva, em troca de aumento na
oferta de moeda nacional. Diante da necessidade de controlar a
oferta de suas próprias moedas, os governos permitiram a
flutuação cambial para retomarem autonomias sobre suas políticas
monetárias.

Questão 2

Um dos argumentos utilizados para defender a adoção do regime


de câmbio flexível diz respeito aos mecanismos de ajustes
inerentes a esse tipo de sistema. Acerca desses ajustes, é possível
afirmar que se tratam de:
A ações coordenadas entre os países, para
sincronização da taxa de juros, de forma que
nenhum deles apresente fluxos de saída de ouro.

mudanças automáticas na taxa de câmbio que


B alteram os preços relativos e reequilibram os
balanços de pagamentos.

ajustes automáticos nos preços relativos (termos de


C troca), consequência de alterações na oferta de
moeda e nos níveis de preço.

mudanças controladas na taxa de câmbio e


D disponibilidade de recursos para financiar os países
deficitários.

suspensões temporárias e coordenadas da


E
conversibilidade em ouro.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Teoricamente, em um regime de câmbio flexível, os próprios fluxos


internacionais de capital provocam movimentos na taxa de câmbio,
de forma a alterar preços relativos e ajustar desequilíbrios no
balanço de pagamentos.
2 - União monetária europeia
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar o processo de integração da União
Monetária Europeia.

Argumento para uma união monetária


Uma união monetária é qualquer região territorial que utiliza a mesma
moeda. De maneira geral, a moeda é, muitas vezes, vista como um
símbolo de soberania e identidade nacional. Por esse motivo, é difícil
dissociar o domínio territorial de uma moeda do domínio territorial de
seu país emissor.

Nesse sentido, toda união monetária pode ser entendida simplesmente


como um conjunto de sub-regiões que decidiram adotar uma mesma
moeda, o que significa adotar taxas de câmbio fixas entre si – sob
paridade de um para um.

No entanto, o regime cambial em uniões monetárias é mais restrito do


que o regime de câmbio fixo, pois a união monetária não permite
qualquer tipo de desvalorização ou mudança de paridade.
A teoria das zonas monetárias ótimas, desenvolvida por Mundell (1961)
e complementada por diversos outros autores, buscou explicar quais
características econômicas permitem que os benefícios de duas ou
mais regiões adotarem uma mesma moeda sejam maiores do que seus
custos.

A teoria das zonas monetárias ótimas é frequentemente associada ao


processo de integração monetária da Zona do Euro, uma vez que esta se
trata de um projeto sem precedentes de formação de uma união
monetária entre diferentes países independentes.

Ao todo, 19 países da Europa formam uma união monetária, cuja moeda


é o euro. No entanto, o conceito de união monetária pode ser aplicado
até para as diferentes regiões em cada país. Por exemplo: os 26 estados
brasileiros, mais o Distrito Federal, formam uma união monetária, cuja
moeda é o real.
Quais condições econômicas fazem com que a utilização de uma
mesma moeda, por duas ou mais regiões, promova maior bem-estar
para seus residentes?

Para responder a essa pergunta, convém destacar, primeiramente, as


principais vantagens e desvantagens do regime de câmbio fixo e do
regime de câmbio flexível.

Conforme apresentado anteriormente, o regime de câmbio flexível tem


algumas vantagens importantes. Em particular, é possível destacar
duas:

money_off
O rápido ajuste de desequilíbrios nas contas
externas

account_balance
A autonomia de política monetária para os
bancos centrais
Esse tipo de regime, no entanto, também está associado a
desvantagens, que podem ter sérios impactos sobre a economia e
configurar vetores de desequilíbrio, em vez de mecanismos de ajuste. De
maneira geral, tais desvantagens se resumem à(ao):

Elevação das taxas de inflação


Movimentos de depreciação cambial exagerados podem resultar em
encarecimento das importações e aumentar os custos em toda cadeia
produtiva de um país, o que elevaria os níveis de preço.
Desequilíbrio de balanços contábeis

Movimentos rápidos de depreciação cambial podem afetar o balanço


contábil de empresas e governos cujos passivos estão denominados em
moeda estrangeira. Uma depreciação cambial elevaria esses passivos e
elevaria o risco de insolvência.

Toda economia com taxas de câmbio flutuantes está sujeita à


ocorrência de overshootings cambiais – que ocorrem quando a
volatilidade cambial é maior do que aquela necessária para efetuar o
ajuste de retorno ao equilíbrio.

Por outro lado, um regime de câmbio fixo também tem vantagens e


desvantagens. Suas desvantagens estão diretamente relacionadas às
vantagens do câmbio flexível. Sob um regime de câmbio fixo, os
governos e bancos centrais não desfrutam de autonomia sobre suas
políticas monetárias e não há um mecanismo rápido de ajuste de
desequilíbrios externos.

O regime de câmbio fixo, no entanto, apresenta vantagens inerentes ao


seu funcionamento:

Overshootings
Pode ser traduzido informalmente como um movimento exagerado. Por
exemplo, fatores econômicos indicando que o real deva se desvalorizar: a
taxa de câmbio deva passar de R$3 por dólar para R$4 por dólar. Porém, em
um movimento de overshooting, a taxa passa para R$5 reais por dólar.

looks_one Eliminação da volatilidade cambial

A volatilidade cambial pode gerar incertezas sobre


as transações comerciais. As transações
comerciais não são instantâneas, e a volatilidade
do câmbio pode dificultar a projeção da
lucratividade de tais transações.

looks_one Eliminação de depreciações competitivas

Em um regime de câmbio fixo, se torna impossível


ganhar competitividade em relação aos demais

í i d d l i õ bi i
países por meio de desvalorizações cambiais
manipuladas para alterar os termos de troca.

looks_one Redução de custos de transação

Em uma união monetária, não há incidência de


custos cambiais sobre transações comerciais e
financeiras. Esses custos, presentes quando se faz
operações entre duas moedas, são resultantes de
diversos fatores, como impostos sobre operações
de câmbio e o spread (diferença entre preço de
compra e venda) que gera lucro para as casas de
câmbio.

Qual é, então, o melhor regime a ser adotado por um país? expand_more

Como outras análises econômicas, trata-se de uma análise de


custo-benefício. O melhor regime a ser adotado é aquele que,
observadas as condições e características econômicas de um
país, proporcione maiores benefícios do que custos.

As condições econômicas que devem ser observadas se resumem ao


grau de assimetria dos choques e à presença de mecanismos de ajuste
que substituam o câmbio flexível.

No que tange ao grau de assimetria dos choques, o raciocínio é intuitivo.


Para simplificar, suponha um modelo no qual existem dois países, A e B.
O modelo se encontra inicialmente em equilíbrio. No caso de um choque
assimétrico, que atinja os países A e B de forma desigual e desloque
demanda de A para B, algum mecanismo de ajuste se mostra
necessário.

Exemplo

A China faz um embargo à carne brasileira (o Brasil é o país A) e passa a


comprá-la dos EUA (país B).

Os efeitos de choque em A seriam uma desaceleração da atividade


econômica e alta do desemprego. Os efeitos em B, por sua vez, seriam
um aquecimento da economia e aceleração da inflação.

A B

Os efeitos em A seriam Já os efeitos em B


uma desaceleração da close seriam um aquecimento
atividade econômica e da economia e
alta do desemprego. aceleração da inflação.

Essa dinâmica desequilibra as contas externas – provocando déficits


externos em A e superávits externos em B – e altera preços relativos.

Sob um regime de câmbio flexível, a taxa de câmbio seria um


mecanismo de ajuste rápido e automático – depreciações e apreciações
do câmbio restaurariam os preços relativos que permitiriam um retorno
ao equilíbrio. Sob um regime de câmbio fixo, outros mecanismos de
ajuste devem estar presentes para substituir o ajuste que seria
promovido pela flutuação cambial.

Esses mecanismos de ajuste alternativos serão abordados mais à


frente.

Pelo modelo descrito acima, é possível observar que o custo de uma


união monetária é menor quando há pouca ou nenhuma assimetria dos
choques que incidem sobre as sub-regiões integrantes da união. Ou
seja, os choques são semelhantes, não afetam diferentes países de
formas (muito) diferentes.

Uma vez estabelecida essa relação, é conveniente questionar: quais


características econômicas podem reduzir a assimetria dos choques?

Integração comercial

Quanto mais integradas comercialmente forem duas ou mais regiões,


menor a assimetria dos choques que incidem sobre elas. Isso porque as
relações comerciais fazem com o que o choque seja dissipado entre as
regiões.

Considerando novamente o modelo descrito, um choque negativo pode


afetar, inicialmente, apenas o país A. Contudo, se A e B são fortemente
integrados comercialmente, há grandes possibilidades de as
importações de A oriundas de B serem afetadas, impactando
negativamente a produção de B destinada à exportação para A.
Assim, o choque se dissipou por toda a união monetária
composta por A e B, reduzindo a necessidade de ajuste.

Integração bancária

Quanto mais integrado for o sistema bancário, menor a assimetria dos


choques. Isso se dá por dois motivos: em um sistema bancário
integrado, os bancos têm operações em todo o território da união
monetária.

No caso de um choque assimétrico que provocasse uma crise em


apenas uma sub-região, diminui a necessidade de o banco reduzir sua
concessão de crédito nessa sub-região específica para se proteger da
crise, pois suas operações estariam diversificadas por todas as demais
regiões. A manutenção do crédito tenderia a atenuar o impacto do
choque na região afetada.

Em um sistema não integrado, a atuação dos bancos está restrita a sub-


regiões específicas. Caso um choque assimétrico atinja uma dessas
regiões, os bancos que nela operam reduziriam a concessão de crédito,
em uma tentativa de se proteger da inadimplência gerada pela crise.
Isso acabaria tendo um efeito pró-cíclico, agravando ainda mais o
problema.

Convergência das taxas de inflação


A convergência das taxas de inflação das sub-regiões que compõem
uma união monetária é essencial para manter a estabilidade dos preços
relativos. Prolongados diferenciais de inflação alteram os preços
relativos e podem causar desequilíbrios nas contas externas. Quando
mantidos por muito tempo, esses diferenciais podem se tornar um vetor
de assimetria.
Por esse motivo, os diferenciais de inflação entre as sub-regiões de uma
união monetária devem se anular no longo prazo, de forma a manter os
termos de troca constantes.

Federalismo fiscal

Quando as sub-regiões que compõem uma união monetária também


formam uma união fiscal, existe um sistema federal de arrecadação
tributária.

Ao pagar benefícios sociais e seguro-desemprego para residentes de


uma região afetada por um choque assimétrico negativo, ocorre uma
transferência de recursos arrecadados em regiões que não foram
atingidas em direção a regiões atingidas. Essas transferências atenuam
o choque e, consequentemente, aumentam a simetria entre as sub-
regiões da união monetária.

Mesmo que uma união monetária apresente todas as características


descritas, sempre haverá alguma assimetria dos choques. Logo, sempre
haverá alguma necessidade de ajuste entre as sub-regiões de uma união
monetária.

Considerando que a flexibilidade cambial é um mecanismo de ajuste


que não está disponível, é preciso que estejam presentes mecanismos
de ajuste alternativos. São dois os principais mecanismos de ajuste
dentro uma união monetária:

money work
I II

close
A flexibilidade de preços A mobilidade dos
e salários. fatores de produção,
especialmente do fator
trabalho.

Flexibilidade de preços e salários

Se os preços e salários são flexíveis, os preços relativos se ajustam


rapidamente em resposta a desequilíbrios externos provocados por
choques assimétricos. No limite, a flexibilidade de preços e salários
substituiria integralmente a flexibilidade cambial, como mecanismo de
ajuste. Na prática, no entanto, os preços e salários costumam
apresentar algum grau de rigidez.

Em geral, os trabalhadores não estão dispostos a aceitar reduções de


salário e os produtores não estão dispostos a aceitar reduções em suas
margens de lucro. É justamente essa rigidez que faz com que o
sacrifício social de choques de ajuste deflacionários seja alto – é
preciso uma alta taxa de desemprego para reduzir salários e forte queda
na demanda para reduzir preços.

Mobilidade do fator trabalho

Quanto maior a mobilidade do fator trabalho, menor o custo do ajuste.


Mundell (1961) sugere que, em uma união monetária, a mobilidade do
fator trabalho pode substituir a flexibilidade cambial como mecanismo
de ajuste.

Considere novamente o modelo de dois países mencionado


anteriormente. Assuma que um choque assimétrico desloque demanda
do país A para o país B, tornando A um país deficitário e B um país
superavitário, do ponto de vista de contas externas.

trending_down trending_up
País A País B

O país A apresenta close O país B apresenta um


queda na atividade aquecimento de sua
econômica e elevação economia e aceleração
da taxa de desemprego. da inflação.

Na ausência de flexibilidade cambial para ajustar preços relativos,


Mundell (1961) sugere que o ajuste pode ser realizado por meio da
mobilidade do fator trabalho (que se encontra desempregado no país A),
em direção ao país B.

video_library
O argumento da união monetária:
resumo
A eficiência de uma união monetária está diretamente relacionada ao
grau de assimetria dos choques que a impactam e à presença de
mecanismos de ajuste alternativos. Veja mais no vídeo a seguir:

Processo de integração monetária da


Zona do Euro
O processo de integração monetária na Europa foi impulsionado por
dois motivos principais – diretamente associados à dinâmica interna e
externa dos países europeus.

No que tange à dinâmica interna, os países europeus buscavam formar


no continente um grande mercado único e integrado. Esse objetivo
remonta aos anos após a Segunda Guerra Mundial, quando os líderes
europeus viram na integração econômica, política e social uma forma de
evitar as tragédias ocorridas nas duas grandes guerras que destruíram o
continente.

A ideia era a de que, quanto mais integrados


economicamente fossem os países europeus, menos
incentivo haveria para a eclosão de conflitos e disputas
que culminassem em guerras.

Esse processo de integração se deu por meio da eliminação de barreiras


que impedissem o movimento de mercadorias e fatores – barreiras
comerciais, burocráticas e alfandegárias foram abolidas. A partir da
década de 1990, até mesmo as fronteiras internas foram suspensas,
permitindo a livre circulação de pessoas.

Os países europeus formaram uma zona de livre comércio e,


posteriormente, uma união aduaneira. Assim, uma união monetária era
vista como uma etapa essencial para consolidar a formação de um
mercado único eficiente.

O estopim para o início do desenvolvimento de uma moeda única na


Europa, no entanto, parece estar mais associado à dinâmica externa –
mais especificamente, aos desequilíbrios do sistema monetário
internacional durante a década de 1970.

Considerando as cadeias de comércio no continente e o grau de


abertura comercial dos países europeus, existia uma preferência por
parte desses países em relação ao regime de câmbio fixo, uma vez que
ele garantia estabilidade para as transações comerciais.
Países da Zona do Euro

Com o colapso no sistema de Bretton Woods em 1971, a


conversibilidade do dólar em ouro foi unilateralmente suspensa e os
países passaram a adotar taxas de câmbio flexíveis.

Existia um consenso entre os governos europeus de que a incerteza


inerente à flutuação cambial funcionava como uma barreira ao
comércio, o que prejudicaria a atividade econômica desses países, bem
como o próprio processo de integração.

Krugman e Obstfeld (2015) destacam, ainda, que os impactos negativos


da flutuação cambial incentivariam as forças políticas que se
manifestavam contra o processo de integração europeu, o que os
governos temiam que atrapalhasse a continuidade desse processo.

Além disso, os EUA e o dólar mantiveram a posição hegemônica no


sistema monetário internacional, de tal forma que as demais moedas
ficavam sujeitas a decisões de política monetária e fiscal dos EUA.

Algumas dessas decisões provocavam, direta ou indiretamente, grandes


movimentos nas taxas de câmbio e acabavam configurando
movimentos desestabilizadores que prejudicavam as economias
europeias. Na época, estes movimentos ficaram conhecidos como dollar
shocks.

A formação de uma união monetária era vista como a solução para


garantir estabilidade cambial e limitar a influência de políticas norte-
americanas sobre a economia e o comércio dos países europeus.

Somado a isso, uma moeda comum aos países do continente, incluindo


algumas das principais economias do mundo, seria relevante e sólida o
suficiente para reduzir a hegemonia do dólar no cenário econômico
internacional.

Hishow et al. (2018) resumem bem a dinâmica da ideia que era vista
como solução para o problema monetário na Europa:

“Ao invés de aderir à livre


circulação de capitais,
independência de política
monetária e taxas de câmbio
flutuantes, (...) os europeus
tiveram uma ideia
engenhosa. (...)
Internacionalmente, existiria
uma moeda única robusta o
suficiente para enfrentar
novos dollar shocks. Isso
permitiria livre circulação de
capitais, o Euro flutuante e o
Banco Central Europeu com
política monetária
independente. (...)
Internamente, os europeus
teriam taxas de câmbio fixas
e livre circulação de capitais,
o que necessariamente
implica perda de autonomia
monetária a nível nacional.”
(Hishow et al., 2018)

Em outras palavras, em troca de maior estabilidade econômica e menos


incerteza cambial, os países europeus aceitaram abandonar a
autonomia de política monetária que desfrutavam e a delegaram para
uma instituição supranacional criada para garantir a estabilidade do
poder de compra da nova moeda comum, o Banco Central Europeu.

Esta instituição teria autonomia para conduzir a política monetária que


afetaria toda a união, ou seja, uma mesma decisão de política para
todos os países integrantes da Zona do Euro.

Tendo em vista que a política monetária a ser implementada é única


para todos os membros da união monetária, o módulo 1 discutiu a
importância de reduzir a assimetria de choques entre esses membros e
promover a presença de mecanismos de ajuste alternativos à flutuação
cambial.

Banco Central Europeu

Não faria sentido conduzir uma política monetária única se o grau de


assimetria de choques entre os membros da união fosse elevado –
poderia ocorrer de um membro requerer uma política expansionista e
outro, uma política contracionista.

Considerando essa questão, os países europeus passaram por um


longo processo de integração e convergência de suas economias, de
forma a reduzir a heterogeneidade entre eles.

Os critérios de convergência para formação da União Monetária


Europeia se apoiaram em quatro pilares principais:
looks_one
Estabilidade de preços

looks_two
Equilíbrio fiscal

looks_3
Estabilidade das taxas de câmbio

looks_4
Durabilidade da convergência
Parte desses critérios foi estabelecida no Tratado de Maastricht, em
1992.

Alcançar a estabilidade da taxa de câmbio, no entanto, foi um processo


que começou poucos anos após o colapso de Bretton Woods, ainda na
década de 1970. Em 1979, foi criado o European Monetary System
(Sistema Monetário Europeu), que durou por 20 anos, até a introdução
do Euro, como unidade de conta, em 1999.

O Sistema Monetário Europeu foi muito importante para o


processo de integração monetário. Ele foi o canal por meio
do qual os países fixaram suas taxas de câmbio entre si.

Krugman e Obstfeld (2015) o definem como “uma rede formal


mutuamente indexada de taxas de câmbio”, pela qual uma série de
diretrizes foram estabelecidas para regular intervenções que atuaram
para restringir a flutuação das moedas participantes dentro de margens
específicas.

Para fixar as diferentes moedas, o Sistema Monetário Europeu criou


uma moeda que servia apenas como unidade de conta, que ficou
conhecida como Unidade de Moeda Europeia.

Curiosidade

O valor da Unidade de Moeda Europeia era representado pela média das


moedas nacionais dos países integrantes do sistema, ponderada pelo
tamanho da economia de cada país e de sua participação no comércio
regional – ou seja, era uma cesta das moedas europeias, à época.

A Unidade de Moeda Europeia veio a se tornar o Euro, em 1999, a uma


paridade de um para um. Durante o período de integração monetária,
por meio do Sistema Monetário Europeu, os países fixaram suas
moedas nacionais à Unidade de Moeda Europeia.

Inicialmente, ficou definido que seria permitida uma flutuação de 2,25%,


para mais ou para menos, em relação à paridade estabelecida. Foi
criado, também, o Fundo de Cooperação Monetária Europeu, cujo
objetivo era disponibilizar recursos para os países-membros, caso fosse
necessário estabilizar taxas de câmbio sob estresse de ataques
especulativos.

Os anos de 1980 foram marcados por forte divergência de preços, o que


ocasionava frequentes realinhamentos na paridade estabelecida. Ao
longo dessa década, o diferencial de inflação entre os países-membros
ainda era alto, o que alterava preços relativos e pressionava a paridade
que havia sido definida anteriormente.

Conforme já mencionado, para que um regime de câmbio fixo não


demande ajustes nos preços relativos, não podem ocorrer persistentes
diferenças nos seus níveis de inflação.

Por vezes, alguns controles de capital foram impostos para limitar o


impacto de ataques especulativos. A partir de 1987, esses controles
foram sendo reduzidos gradualmente e, por mais de cinco anos, o
Sistema Monetário Europeu se manteve estável, sem grandes choques
que demandassem novos realinhamentos.

Esse período de estabilidade, no entanto, acabou em 1992. Após a


reunificação da Alemanha, o país experimentou um forte período de
crescimento econômico, o que provocou uma aceleração da inflação. O
Bundesbank (banco central alemão) era extremamente avesso à alta
inflação e enfrentou a questão com uma alta significativa da taxa de
juros.

Tendo em vista o tamanho da economia alemã, o marco alemão era a


moeda de maior peso na Europa. Sendo assim, os demais países
precisavam harmonizar suas taxas de juros para manter suas taxas de
câmbio fixas à Unidade de Moeda Europeia.

Alguns dos demais países, no entanto, não estavam com suas


economias superaquecidas, e a alta de juros provocou recessão.

Marco alemão

A reunificação alemã se revelou como um choque assimétrico para o


qual o Sistema Monetário Europeu, sob taxas de câmbio fixas, ainda não
tinha mecanismos de ajuste. Uma série de ataques especulativos
pressionou o sistema. Esses episódios fizeram com que o Reino Unido
abandonasse o Sistema Monetário Europeu e desistisse de integrar a
União Monetária.

O Reino Unido, inclusive, nunca aderiu ao Euro. Os demais países, ainda


empenhados com o projeto, buscaram uma solução: foi decidido
ampliar as bandas de flutuação, de 2,25% para 15%, para mais ou para
menos, em relação à paridade estabelecida.

A nova banda de flutuação foi mantida até a introdução oficial do Euro,


em 1999. Durante esses anos, o sistema se mostrou estável e sem
necessidade de ajustes na paridade. O papel-moeda do Euro entrou em
circulação em 2002, em 12 países. Atualmente, 19 países compõem a
Zona do Euro.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Uma união monetária apresenta vantagens e desvantagens


inerentes ao seu funcionamento. A decisão de aderir a uma união
monetária deveria ser uma análise de custo-benefício. As condições
que permitem que os benefícios de uma união monetária superem
seus custos são:

Controles sobre os fluxos de capital e


A
independência da política monetária.

Desvalorizações cambiais controladas e


B
estabilidade das taxas de inflação.

Simetria de choques e mecanismos de ajuste


C
alternativos.

Integração comercial e rigidez do mercado de


D
trabalho.

E
Convergência das taxas de juros e independência da
política fiscal.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Os benefícios líquidos de uma união monetária são maximizados


quanto mais simétricos forem os choques que afetam as sub-
regiões que a compõem, bem como quando estão presentes
mecanismos de ajuste alternativos que possam substituir o ajuste
que seria proporcionado pela flutuação cambial.

Questão 2

O processo de integração monetária na Europa foi consequência da


dinâmica interna do continente, mas também da conjuntura
internacional e da forma como o sistema monetário internacional
se organizou após o colapso de Bretton Woods. A União Monetária
Europeia foi criada com o intuito de:

Restaurar o padrão ouro, tendo em vista que os EUA


A
não tinham interesse de liderar esse processo.

Promover uma moeda forte global, a fim de


B substituir o dólar como reserva de valor
internacional.

Devolver aos bancos centrais dos países europeus a


autonomia monetária que havia sido perdida
C
durante os anos de vigência do sistema de Bretton
Woods.

Estabelecer taxas de câmbio fixas entre os países


D europeus e, simultaneamente, taxas de câmbio
flutuantes em relação ao resto do mundo.

Facilitar a imposição coordenada, a nível regional, de


E
controles sobre os fluxos de capital.
Parabéns! A alternativa D está correta.

A moeda única foi a solução encontrada pelos países europeus


para contornar o Trilema de Mundell-Fleming, uma vez que,
regionalmente, existia uma preferência por taxas de câmbio fixas. A
moeda única gerava, em âmbito regional, taxas de câmbio fixas,
livre circulação de capital e perda de autonomia da política
monetária.

Já no âmbito internacional, a moeda teria taxas de câmbio


flutuantes, livre circulação de capital e autonomia da política
monetária nas mãos do Banco Central Europeu.

3 - A ascensão do renminbi
Ao final deste módulo, você será capaz de examinar o processo de ascensão do renminbi no
cenário internacional.

Passo a passo da internacionalização


do renminbi

Preâmbulo: Internacionalização vs.


conversibilidade de uma moeda
Entende-se por conversibilidade o acesso pleno a uma determinada
divisa, sem qualquer tipo de restrição por parte do governo emissor, de
forma que ela possa ser utilizada livremente para a aquisição de bens,
serviços e, eventualmente, até de outra moeda.

Há estreita ligação com o conceito de moeda central —


unidade de conta, meio de troca e reserva de valor em
escala global, que mantenha essas propriedades dentro e
fora das fronteiras do país emissor.

Por definição, a moeda de um país só é conversível se sua conta capital


é livre. Grandes moedas como o dólar norte-americano, o euro, a libra
esterlina e o iene são conversíveis.

Dólar norte-americano.

Euro.
Libra esterlina.

Iene.

Cohen (1988) elenca três grandes características que tornam desejável


a emissão de uma moeda central.

Primeira característica expand_more

Em primeiro lugar, é uma importante demonstração de força,


tanto econômica quanto política: a centralidade do dólar norte-
americano como moeda global reflete a posição hegemônica
dos EUA.

Segunda característica expand_more

Em segundo lugar, a emissão de uma moeda central confere


muitos graus de liberdade à condução da política econômica.
Um país emissor de moeda central não possui, virtualmente,
risco algum de incorrer em crise de balanço de pagamentos,
ganha enorme liberdade em sua política monetária, é capaz de
obter relevantes ganhos com senhoriagem e enfrenta menores
custos para a transação internacional de bens e serviços, posto
que suas cotações já estão denominadas na moeda local.

Terceira característica expand_more

Por fim, a emissão de uma moeda central tem forte componente


estratégico. Economias dolarizadas delegam sua política
monetária a um país estrangeiro, perdendo parte de sua
independência econômica e política.

Como ressaltado por Aziz (2013), usualmente, postula-se que a


conversibilidade (ou seja, conta de capital livre) é um pré-requisito à
internacionalização de uma moeda.

Não há, no entanto, necessária precedência temporal: uma moeda pode


tornar-se mais internacional, ampliando seu alcance como unidade de
conta e meio de troca, sem constituir-se, ao menos no curto prazo,
como reserva de valor.

Da mesma forma, não há restrição para que se tenha uma moeda


internacional – mesmo que seu alcance seja regional – que não seja
uma moeda central.

Com crescente poderio econômico e ampliação de seu


papel estratégico no cenário internacional, a ampliação de
uma “área renminbi” seria, para os chineses, uma
consequência natural.

Na estratégia chinesa, a internacionalização do renminbi criaria


condições para uma eventual abertura da conta capital no futuro,
invertendo a ordem usualmente imaginada pelos analistas ocidentais.

Há, nesse sentido, certa diferença em relação ao racional usual, onde


tornar uma moeda conversível (como dólar norte-americano ou euro)
representa um fim em si; a estratégia chinesa parece ser muito mais de
ampliação da área de uso de sua moeda, tornando-a internacional, do
que promovê-la como reserva de valor global.
video_library
Internacionalização vs.
conversibilidade: resumo
Os conceitos de internacionalização e conversibilidade são usualmente
confundidos, ainda que não sejam equivalentes. Não há relação teórica
ou empírica estabelecida para a precedência temporal da
conversibilidade frente à internacionalização de uma moeda. Veja mais
no vídeo a seguir:

Processo de internacionalização do
renminbi
A ascensão chinesa ocorrida nas últimas três décadas levou à criação,
em seu entorno, de uma densa e intrincada rede de relações
econômicas e comerciais. Por questões geográficas, produtivas e, em
muitos aspectos, culturais, tal rede constituiu-se principalmente no
Sudeste Asiático.

A pujança chinesa levou à emergência, nas palavras de Paulino (2018),


de uma “área renminbi”, na qual a moeda chinesa funciona como meio
de troca, unidade de conta e reserva de valor – ao menos regionalmente,
características necessárias a uma moeda global.

Com o adensamento das cadeias de valor lideradas pela China e o


progressivo fortalecimento relativo da economia chinesa, é de se
esperar que que a “área renminbi” se amplie. Isso é particularmente
claro em relação aos países “a montante” nas cadeias de valor chinesas,
ou seja, que participam destas como fornecedores de insumos
produtivos.
Renminbi.

O processo de internacionalização do renminbi se acelera a partir do


início deste século e ganha grande impulso após a Crise Financeira de
2008/2009. É possível dizer que esse impulso se divide em dois grandes
vetores:

flag
Referente a fluxos oficiais (governamentais)

privacy_zip
Referente aos fluxos privados
No caso chinês, tais fluxos se misturam e se complementam.

Sob a ótica dos fluxos governamentais, há duas iniciativas dignas de


nota. A mais antiga é a celebração de acordos de swap de moedas entre
o Banco Central Chinês (PBoC) e diversos bancos centrais,
especialmente após a eclosão da Crise Financeira Global.

Sob este mecanismo, o PBoC oferece liquidez em renminbi, por um


determinado período e a taxas relativamente baixas, recebendo como
colateral o acesso à moeda do país contraparte.

Curiosidade

Entre 2009 e 2020, aproximadamente 40 bancos centrais celebraram


acordos de swap cambial com o PBoC, implicando em um aumento da
liquidez em renminbi no mundo.

Para além das trocas de moedas entre bancos centrais, outras


iniciativas do Estado têm aumentado a oferta da divisa chinesa no
mundo.

Em específico, destacam-se os empréstimos diretamente denominados


em renminbi, sejam eles bilaterais ou por meio de estruturas
multilaterais não derivadas do Acordo de Bretton Woods, tal como o:
account_balance
Banco Mundial

account_balance
Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID)

account_balance
Fundo Monetário Internacional (FMI)
Os empréstimos são concedidos pelo Estado chinês, por empresas
paraestatais chinesas e/ou por bancos de fomento. Mesmo concedidos
por um ente privado chinês, possuem garantias estatais. Além disso,
são feitos a taxas relativamente elevadas e prazos curtos, não raro
sendo parcialmente colateralizados em commodities.

Há clara correlação entre essas operações e a promoção de


instituições financeiras multilaterais “ex-Bretton Woods”.

Como ressalta Gåsemyr (2018), o relacionamento chinês com


instituições de crédito multilaterais é tanto proativo quanto estratégico,
criando instituições e aumentando sua influência em bancos já
estabelecidos.

No primeiro caso, destacam-se o Banco Asiático de Investimento em


Infraestrutura (AIIB) – baseado em Beijing e criado em 2015 – e o Novo
Banco de Desenvolvimento (NDB) – uma associação entre os cinco
países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), baseado
em Shanghai e criado em 2014.
Para além dessas novas instituições, houve aumento da participação
em instituições multilaterais já estabelecidas:

1985

A China tornou-se membro do


Banco de Desenvolvimento
Africano (AfDB).

1986

A China tornou-se membro do


Banco de Desenvolvimento da
Ásia (ADB).

2009

A China tornou-se membro do


Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID).

Sob a ótica dos fluxos privados, é possível nortear o debate de


internacionalização em torno de três grandes vetores:

1. ampliar as possibilidades de saídas de renminbi da China;

2. ampliar a circulação de renminbi fora da China; e

3. flexibilizar as regras para a circulação de renminbi por meio da


fronteira, com entradas ou saídas de acordo com o interesse dos
agentes.

A internacionalização ganha importante impulso após a Crise Financeira


de 2008/2009, refletindo uma visão defensiva das autoridades chinesas
– menor exposição ao dólar norte-americano – e uma janela de
oportunidade para oferecer o renminbi no mundo. No entanto, as
condições iniciais necessárias ao florescimento de um mercado
internacional de renminbi são anteriores, remontando a mudanças
institucionais de meados dos anos 2000.
O uso recorrente do renminbi fora das fronteiras chinesas exige que
bancos estrangeiros sejam capazes de aceitá-lo e utilizá-lo em diversas
operações financeiras.

O primeiro passo ocorreu em 2004, quando bancos de Hong Kong


passaram a oferecer contas de depósito, câmbio, remessas e linhas de
crédito (inclusive cartões de crédito e débito) em renminbi.

Para além desse passo inicial, a imensa maioria dos autores define que
o processo de internacionalização começa em 2007, com a criação do
mercado de títulos dim sum – instrumentos denominados em renminbi e
emitidos em jurisdição estrangeira (Hong Kong).

Outro passo importante na internacionalização ocorreu em 2008,


quando o governo passou a autorizar a operação e o pagamento de
fluxos comerciais entre a China e diversos países asiáticos diretamente
em renminbi. De acordo com PBoC (2020), aproximadamente 38% dos
fluxos comerciais e financeiros de 2019 foram denominados em
renminbi.

Atenção!
Cabe ressaltar, também, crescentes esforços para ampliar a
denominação de preços de commodities em renminbi, especialmente
em insumos amplamente importados pela China. Percebe-se, portanto,
avanços relevantes na ampliação dos canais de saída de renminbi da
China continental e no fortalecimento do mercado offshore da moeda.

Sob a ótica das entradas de capital estrangeiro na China, a estratégia


oficial teve dois vetores.

O programa de Investidor Institucional Estrangeiro Qualificado (QFII),


lançado em 2002, foi o ponto inicial de acesso ao mercado doméstico,
autorizando um grupo seleto de investidores institucionais a acessar
ações emitidas nas bolsas de Shanghai e Shenzhen, com limitadas
cotas de investimento, obrigação de conversão à moeda local e elevado
grau de discricionariedade na concessão do acesso.
As cotas de investimento foram posteriormente ampliadas (2012), e, a
partir de 2016, iniciou-se a flexibilização do enquadramento, tanto de
investidores quanto de ativos elegíveis. Ao final de 2019, o programa
QFII foi abolido.

Em paralelo, o governo lançou, em 2011, o programa Investidor


Institucional Estrangeiro Qualificado em Renminbi (RQFII).

Tal como no QFII, estabelecia-se um valor limitado de cotas de


investimento no mercado chinês, mas, ao contrário dele, não havia a
obrigação de conversão prévia à moeda local, mais ativos eram
elegíveis, e os critérios de seleção dos investidores eram menos
restritos.

Já em meados de 2014, as cotas foram expandidas e agentes


financeiros de múltiplas jurisdições foram autorizados.

Ao final de 2019, o sistema de cotas foi abolido.

Atenção!
Ressalta-se que o QFII e o RQFII foram fundidos ao final de 2020, sendo
substituídos por um sistema de registro, sem necessidade de
autorização prévia para influxo de capital.

Discutida a entrada de capital, falta descrever o estado das autorizações


de sua saída. O canal de interação com os mercados externos foi criado
em 2006, com o esquema de Investidor Institucional Doméstico
Qualificado (QDII). Nele, investidores locais poderiam acessar os
mercados externos por meio de instituições selecionadas, aprovadas
pelos órgãos reguladores e submetidas a cotas e restrições nos ativos
elegíveis.

Em conclusão, nota-se que o processo de internacionalização do


renminbi é tanto incompleto quanto assimétrico. Ainda que se tenha
aumentado a oferta de renminbi offshore, ela continua relativamente
restrita, sendo dominada por fluxos oficiais da moeda (swaps cambiais
e empréstimos diretos) e com relação mais direta com fluxos
comerciais do que com fluxos de investimento.

Além disso, é claramente mais simples que estrangeiros tenham acesso


ao mercado interno do que locais tenham acesso a investimentos no
exterior. A moeda chinesa se torna cada vez mais internacional, mas
permanece não sendo conversível devido às restrições da conta capital
chinesa.

Novos passos da internacionalização


do renminbi
O debate realizado na seção anterior priorizou as estratégias de
aumento da oferta de renminbi no mundo, seja por canais
governamentais (oficiais), swaps cambiais entre bancos centrais e
empréstimos denominados na moeda chinesa; seja por canais privados,
especialmente aqueles que ampliaram o acesso, por investidores
estrangeiros, de ativos denominados em renminbi, tanto no mercado
global quanto no local.

Ampliar a possibilidade de oferta de uma moeda é condição necessária


para permitir sua internacionalização. Há, no entanto, que se preocupar
também com a demanda: uma moeda só se expande para além das
fronteiras do país emissor se os agentes estrangeiros passam a desejá-
la, em alguma medida, para pagar por operações, balizar o preço de
bens e serviços ou reservar valor.
Em uma moeda global perfeitamente conversível, a
existência de demanda é imediata — moedas globais são
unidades de conta em todo o mundo, têm seu valor
reconhecido e são demandadas por agentes tanto para a
liquidação de operações no curto prazo quanto para
poupança de longo prazo.

A situação é um pouco distinta no caso do renminbi – com conta capital


porosa (não totalmente fechada, mas não totalmente aberta) e
assimetria nos fluxos (muito mais simples cruzar a fronteira “para o
mercado” chinês que “do mercado” chinês), ainda se enfrenta
desconfiança quanto a sua disponibilidade no mercado internacional.

Há, no entanto, três caminhos promissores para promover a demanda


por renminbi no mundo, ligados diretamente a mudanças regulatórias e
objetivos (geo)políticos dos governantes chineses. Não parece existir,
no momento, pretensão para tornar o renminbi uma moeda conversível,
competindo com o dólar norte-americano como reserva de valor global.

Isso não significa, no entanto, que a moeda chinesa não


tenha seu uso promovido para além das fronteiras
chinesas.

Vamos ver os três caminhos:

Primeiro expand_more

Em primeiro lugar, há evidente aumento da liquidação de


operações comerciais em renminbi, o que, naturalmente, cria
demanda pela moeda fora das fronteiras chinesas e dá maior
profundidade ao seu mercado.

Em termos dos fluxos comerciais chineses, a denominação


direta em renminbi saiu de virtualmente zero, no início da década
de 2010, para aproximadamente 14% dos fluxos totais de bens
em 2019. Nos fluxos de serviços, a participação percentual é
ainda mais elevada (24% das operações em 2019), mesmo
sendo operações de nicho e bem menos relevantes nos fluxos
externos chineses.
Segundo expand_more

Em segundo lugar, há um consistente processo de criação de


centros internacionais de compensação em renminbi (RMB
clearing hubs). A função desses centros é promover e ampliar a
liquidez em moeda chinesa fora das fronteiras do país, servindo
especialmente a agentes que necessitem liquidar operações
com moeda física.

Como na China há a particularidade de uma moeda entregável


(que pode ser usada como instrumento de troca) fora da
jurisdição local – o renminbi offshore (CNH), em Hong Kong -, os
clearing hubs se organizam em CNH.

Em termos práticos, em cada centro de compensação, é eleita


uma instituição bancária correspondente (tipicamente, uma
subsidiária de um banco chinês), que tem como função
operacionalizar as operações em renminbi naquela jurisdição.

Caso ocorra um descasamento entre oferta e demanda, essa


instituição pode acessar liquidez em renminbi diretamente junto
ao Banco Central Chinês (PBoC). Qualquer agente (por exemplo,
uma corporação) pode requisitar ao seu banco usual que opere
em CNH, e esta instituição acessa o centro de compensação
para ter acesso à moeda chinesa.

As implicações práticas são tremendas, especialmente para


corporações que precisam de acesso recorrente à moeda
chinesa. O processo fica sensivelmente mais simples (sem
necessidade de múltiplos intermediários, especialmente em
Hong Kong), mais rápido e, acima de tudo, mais barato –
evoluções muito bem-vindas para o aumento do uso global da
moeda.

Terceiro expand_more

Por fim, há consistente aumento dos fluxos financeiros de


renminbi para o mundo, diretamente associados a investimentos
chineses no exterior, inovações financeiras e empréstimos
externos que promovam a demanda pela moeda fora das
fronteiras da China continental.
Outro canal que tem recebido atenção é o das inovações financeiras,
ampliando as possibilidades de acesso à moeda chinesa e,
eventualmente, levando a uma ampliação de sua demanda global.
Ativos chineses denominados em renminbi passaram a ser parte de
cestas globais de produtos financeiros.

Um motivo ainda mais relevante foi o importante avanço da


digitalização da moeda chinesa, o que muitos autores defendem ser um
possível vetor de expansão da demanda global por renminbi.

Em específico, o governo chinês lançou em meados de 2020 a sua


moeda virtual – o e-renminbi (E-RMB), com transações baseadas na
tecnologia de blockchain –, avançando em programas-piloto de
interconexão e conversão entre a moeda física e a moeda digital.

A criação de uma moeda digital apoiada por um Estado soberano, e que


seja minimamente regulada, tem grande potencial para acelerar a
percepção do renminbi como uma moeda internacional.

Por fim, tem ocorrido avanço das operações de empréstimos offshore


diretamente denominados em renminbi. Nesse aspecto, o
desenvolvimento de mecanismos de oferta da moeda no mundo,
criando bolsões de liquidez em renminbi fora da China continental, tem
sido essencial.

Swaps cambiais, constituição de instituições bancárias (multilaterais ou


instituições de policy chinesas) autorizadas a emprestar em renminbi e
florescimento dos centros de liquidação e compensação permitem que
a demanda externa por moeda chinesa tenha condições de encontrar, ao
menos, parte da oferta necessária.

Atenção!
O florescimento dos empréstimos denominados em renminbi tem
estreita ligação com o fortalecimento global das instituições bancárias
chinesas.
De um lado, as instituições multilaterais sob forte ascendência chinesa,
como AIIB e o NDB, têm em seus estatutos autorizações expressas para
a oferta de empréstimos denominados em renminbi, sob algumas regras
específicas.

De outro lado, e de forma mais estrutural, há declarado interesse das


autoridades chinesas em promover o que chamam de “financiamento do
desenvolvimento com características chinesas”, um método de
cooperação Sul-Sul que segue princípios de benefício mútuo e no qual
países em desenvolvimento diminuem suas restrições de acesso a
capital voltado a projetos estruturantes, ao passo em que a China
consegue exportar seu excesso de capacidade e expertise em
inversões.

Uma empresa chinesa.

Por excelência, o sucesso dessa estratégia ocorre em países periféricos


restritos ao capital, recebendo recursos chineses, não raro denominado
diretamente em renminbi, utilizando-os em projetos de infraestrutura,
geralmente construídos com grande participação de empresas (capital
e, em alguns casos, até mesmo trabalhadores) chinesas, e pagando
pelos empréstimos com os proventos gerados pelas inversões.

Nesta altura, já parece claro que há estreita ligação com a estratégia de


cooperação Sul-Sul representada pela Iniciativa Cinturão e Rota.

Isso é ainda mais patente ao lembrarmos que grande parte dos países
signatários da Iniciativa não possuem mercados financeiros domésticos
desenvolvidos e, portanto, enfrentam crônica dificuldade para dinamizar
investimentos privados em projetos de infraestrutura — cujo prazo de
maturação é longo e o risco, elevado.

O “financiamento do desenvolvimento com características chinesas”


utiliza pesadamente não só as instituições multilaterais, como também
os grandes bancos de fomento chinês – no que se destacam, em
absoluto, o China Development Bank (CDB) e o Export-Import Bank of
China (CHEXIM).

Não se pode deixar de lado, também, o Fundo da Rota da Seda (Silk


Road Fund, SRF), que tem recebido importantes aportes de capital do
governo chinês durante os últimos anos.

Em todos os casos, não necessariamente todas as inversões são feitas


pelas instituições financeiras chinesas, sendo relativamente comum que
sejam estabelecidas parcerias com grupos financeiros locais, modelos
híbridos (combinando empréstimos e participação no capital) e provisão
de garantias.

De toda forma, aumenta-se a importância da moeda chinesa como meio


de pagamento e liquidação de operações, iniciativas centrais para a
promoção de sua demanda e avanço da internacionalização do
renminbi.

Em conclusão, a internacionalização de uma moeda


passa pela ampliação de sua área de circulação para
além das fronteiras do país emissor.

No caso específico do renminbi, e em paralelo às inúmeras iniciativas de


promoção do uso na moeda, pela demanda e pela oferta, a
implementação da Iniciativa Cinturão e Rota parece ser o caminho
natural para um maior uso global da moeda chinesa.

Com o adensamento das operações de comércio, investimento e


construção ligados a empresas chinesas, é esperado que a Iniciativa
implique, de forma tautológica, em maior demanda pelo renminbi
offshore.
Ainda parece existir grande espaço para tanto, com a participação do
renminbi nas cestas internacionais de reservas cambiais atingindo
somente 2,0% em meados de 2020 (COFER/IMF) – uma proporção
pequena, ainda que o dobro da observada ao final de 2016, e já maior do
que a registrada para o dólar australiano ou o franco suíço.

Certamente, no entanto, o caminho é longo, sendo necessário evoluir,


principalmente, na percepção da moeda chinesa como reserva de valor.

Comentário
Permanece distante o momento em que o renminbi virá a rivalizar com o
dólar norte-americano como moeda de referência global e, sem uma
indicação clara de que o governo chinês busque uma efetiva
liberalização da conta capital, é contestável se este é, de fato, um
objetivo das autoridades chinesas.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O avanço da internacionalização do renminbi está baseado em:

Abertura total da conta capital chinesa e


A
conversibilidade da moeda.

Promoção de fluxos governamentais de divisas,


B através de swaps cambiais e empréstimos diretos,
sem participação do setor privado.
Promoção de fluxos privados de divisas, com
autorização a investimento estrangeiro na China e
C investimento chinês no exterior, sem passar por
novos arranjos governamentais para os fluxos
cambiais.

Integração comercial, sem participação de fluxos


D
financeiros.

Uma extensa combinação de integração comercial,


promoção de fluxos oficiais de divisas e aumento
E dos canais bilaterais de investimento privado, ainda
que de forma assimétrica e sem chegar à
flexibilização total da conta capital.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O processo de internacionalização do renminbi inverteu a lógica


tradicional, não tendo como condição necessária a abertura total da
conta capital e a conversibilidade da moeda.

Questão 2

Ainda que registrando grandes avanços nos últimos anos, o


processo de internacionalização do renminbi ainda se aprofunda
em diversas frentes, com:

Integração comercial pela Iniciativa Cinturão e Rota


A
e conversibilidade total da moeda.

Objetivos geopolíticos de promoção de moeda forte,


B com o renminbi ocupando o lugar do dólar norte-
americano como moeda de reserva global.

Aumento das operações comerciais em renminbi,


criação de centros internacionais de compensação
e consistente aumento dos fluxos financeiros para o
C mundo, diretamente associados a investimentos no
exterior, inovações financeiras e empréstimos
externos, com evidente relação com a expansão da
Iniciativa Cinturão e Rota.

Controle cambial e manutenção da moeda


depreciada frente ao dólar norte-americano,
D
aumentando a competitividade dos produtos
chineses no mundo.

Estrito controle de capitais, limitando as


E possibilidades de investimento chinês no exterior e
de investimentos estrangeiro na China continental

Parabéns! A alternativa C está correta.

A internacionalização de uma moeda passa pela ampliação de sua


área de circulação. No caso específico do renminbi, e em paralelo
às inúmeras iniciativas de promoção do uso na moeda, pela
demanda e pela oferta, a implementação da Iniciativa Cinturão e
Rota parece ser o caminho natural para um maior uso global da
moeda chinesa.

Com o adensamento das operações de comércio, investimento e


construção ligados a empresas chinesas, é esperado que a
Iniciativa implique em maior demanda pelo renminbi offshore.

Considerações finais
A posição hegemônica do dólar norte-americano no cenário global
permanece intacta, com a moeda mantendo sua posição de meio de
troca, unidade de conta e reserva de valor.

Em vários aspectos, isso reflete o poderio econômico americano e


constitui-se como um privilégio adicional dos EUA – com total
independência de sua política econômica, custos de transação
reduzidos e possibilidade de auferir ganhos de senhoriagem.
Há, no entanto, um longo e consolidado processo de criação de outras
moedas internacionais, ainda que sem desafiar a supremacia do dólar
norte-americano. Neste capítulo, discutimos a ascensão de duas
moedas, o Euro e o renminbi, cada qual respondendo a questões
institucionais específicas e atingindo distintos níveis de
internacionalização e conversibilidade.

Se por um lado, não desafia o dólar como reserva de valor (é discutível


se o Euro não o faz, em algum nível), constitui-se como unidade de
conta e meio de troca nas transações internacionais, ajudando a reduzir
os custos para seus respectivos países emissores e a diversificar o
panorama de moedas globalmente relevantes.

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Podcast

Câmbio flutuante x Câmbio fixo

Os regimes de câmbio fixo e flutuante apresentam vantagens e


desvantagens que são inerentes ao seu funcionamento. Estes regimes
são dois pontos opostos de um espectro e admitem regimes
“intermediários”. Ouça para saber mais.

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Leia o livro A globalização do capital, de Barry Eichengreen, para um
aprofundamento de 150 anos de história monetária internacional, bem
como de diversos assuntos abordados nesse conteúdo.
Referências
AZIZ, J. Latin America’s role in renminbi internationalization. Inter-
American Dialogue, China and Latin America Economics Brief, 2013.

COHEN, J. A. Recent Chinese legislation assisting foreign investors to


solve their hard currency problem: import substitution and other
options. Brigham Young University (BYU) Law Review, Vol.3, 1988.

EICHENGREEN, B. A globalização do capital. 1. ed. São Paulo: Editora


34, 2000.

GÅSEMYR, H. J. China and Multilateral development banks: positions,


motivations, ambitions. Norwegian Institute of International Affairs,
Report 8/18, 2018.

HISHOW, O. et al. The euro paradox: explaining the resilience of the


single currency. Stiftung Wissenschaft und Politik, German Institute for
International and Security Affairs, Working Paper RD EU/Europa, n. 1,
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KENEN, P. The optimum currency area: an ecletic view. In MUNDELL, R.;


SWOBODA, A. Monetary Problems of the International Economy,
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KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo:


Pearson Education. 2015.

MUNDELL, R. A theory of optimum currency areas. The American


Economic Review, American Economic Association, Vol. 51, nº 4, pp. 657
– 665, 1961.

PAULINO, L. A. The internationalization of renminbi and role of Latin


America. Macau Journal of Brazilian Studies, v. 1, p. 17-34, 2018.

PEOPLE’S BANK OF CHINA (PBoC). 2020 RMB Internationalization


Report, 2020.

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