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Contribuições Da Logística Reversa para A Sustentabilidade Organizacional: Estudo de Caso em Uma Marca de Café em Cápsulas. 1. Introdução

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Contribuições Da Logística Reversa para A Sustentabilidade Organizacional: Estudo de Caso em Uma Marca de Café em Cápsulas. 1. Introdução

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CONTRIBUIÇÕES DA LOGÍSTICA REVERSA PARA A SUSTENTABILIDADE

ORGANIZACIONAL: ESTUDO DE CASO EM UMA MARCA DE CAFÉ EM


CÁPSULAS.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o consumo de cafés em cápsulas (monodose) vem ganhado a preferência
do consumidor brasileiro graças a praticidade, conveniência e qualidade superior quando
comparado aos cafés tradicionais. Na visão de Santos, Silva e Castro (2012), um dos principais
motivos dessa preferência é que esse produto é elaborado com grãos selecionados que permitem
ao consumidor escolher a intensidade e a quantidade de café por xícara.
Embora o Brasil sendo há muito tempo um dos maiores produtores mundiais de café,
alcançando em 2017 cerca de 34,64% da produção mundial e tendo um dos maiores mercado
consumidor (consumo per capita anual de 6,4 kg/habitante de café torrado e moído) e a bebida
estando presente em mais de 80% dos lares, o café em cápsulas representa apenas 2,5% do
consumo total (GALLOTTI et al. 2017; ABIC, 2019). Mesmo com essa participação tímida, o
café em cápsulas representa consumo anual em torno de 2 mil toneladas e estima-se crescimento
de 9% ao ano contra 3,3% para café em pó e 4,3% torrado (ABIC, 2019).
Desde 2006, quando esse produto chegou ao país, introduzido pela multinacional suíça
Nestlé através da marca Nespresso, houve uma expansão significativa das máquinas de café em
cápsulas, alavancadas pelo interesse do consumidor brasileiro pelos cafés “premium”
(CARNEIRO; D’ERCOLE, 2013; VEGRO, 2015; ABIC, 2019). Este mercado ficou mais
aquecido com a quebra da patente da Nespresso ocorrida em 2013, e a partir daí diversas
empresas enxergaram um mercado a ser explorado.
Entretanto, mesmo com o expressivo crescimento no consumo do café em cápsulas, há de
se considerar que a preocupação ambiental com o descarte correto dos resíduos gerados por
esse produto não aumentou na mesma proporção. Autores como Oliveira e Montagna (2016);
Moreira, Marinho, Barbosa (2017); Guimarães (2018); Souza (2018), Domingues (2018) entre
outros, trouxeram contribuições importantes sobre o tema, dentre os quais a análise da
viabilidade técnica da reciclagem mecânica e a reinserção das cápsulas de café pós-consumo
no mercado em forma de outros produtos.
Para Jacobi e Besen (2011), é necessário a adoção de padrões de produção sustentáveis
para reduzir significativamente os impactos ambientais e que esse pensamento deve estar
presente no modelo de negócio das organizações. Nesse aspecto, é essencial que as empresas
adotem uma filosofia de gestão sustentável ao longo de sua cadeia produtiva e que essas ações
busquem o uso eficiente de recursos naturais (GOUVINHAS et al. 2011; INSTITUTO ETHOS,
2018).
Na busca do equilíbrio ecológico, ao longo das últimas décadas diversos mecanismos
foram sendo criados para que as indústrias reduzam os impactos ambientais causados pelos seus
processos produtivos. Sob esta perspectiva, diversos mecanismos trouxeram avanços
importantes neste sentido, destacando-se a logística reversa.
No entendimento de Lacerda (2002) e Guarnieri (2011) a logística reversa é um
complemento da logística tradicional, pois trata do retorno de produtos já utilizados nos
diversos pontos de consumo. Em consonância com este pensamento, Leite (2003) ressalta que
os diversos resíduos gerados pelo processo de produção devem retornar ao ciclo produtivo ou
a outros negócios, e que o gerenciamento desse caminho inverso deve ser feito pela logística
reversa.
Contudo, apesar da importância do tema os estudos que analisem questões de
sustentabilidade a partir da Logística Reversa voltados ao mercado de café em cápsulas ainda
são escassos. Assim, trazer dados abrangentes do tema para analisar a logística reversa como
1
ferramenta para a sustentabilidade de uma marca de café em cápsulas parece oportuno e com
grande relevância.
Frente a este cenário, a questão abordada por este trabalho é: como a logística reversa
contribui na sustentabilidade de uma marca de café em cápsulas? Com base nesse
questionamento o objetivo geral do presente trabalho é conhecer o ciclo reverso do café em
cápsulas, identificando fatores relevantes associados a esse processo. Nesta ótica, visando a
alcançar o objetivo geral, foram elaborados os seguintes objetivos específicos: a) Levantar
informações sobre o café em cápsulas no Brasil; b) Descobrir os processos de logística reversa
existentes na cadeia produtiva do café em cápsulas; c) Conhecer os benefícios auferidos pela
implementação da logística reversa dos resíduos gerados pelo café em cápsulas pós-consumo
e; d) Identificar, respaldado na literatura, as possíveis relações entre logística reversa e
sustentabilidade.
No intuito de ordenar e organizar o presente estudo, além da introdução que apresenta a
temática e relevância da pesquisa, o presente trabalho conta com mais quatro partes: a revisão
da literatura contendo estudos considerados válidos para um correto enquadramento e
sustentação teórica para o tema de pesquisa; os procedimentos metodológicos adotados para a
realização do estudo; na sequência é apresentada a conjuntura da realidade investigada e a
análise dos resultados; e, por fim, as considerações finais contendo pontos críticos para a
reflexão.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesta seção apresentam-se as bases teóricas que embasam a presente pesquisa, seguindo
duas vertentes que se entrelaçam: logística reversa e sustentabilidade. Por serem temas
abrangentes, serão tratados apenas alguns aspectos mais relevantes para este trabalho.

2.1 Desenvolvimento Sustentável


A sustentabilidade e a preocupação ambiental são temas em constante discussão seja no
âmbito acadêmico, empresarial, político ou social pois possibilita a melhoria da qualidade do
meio ambiente. Assim, faz-se necessário a criação de sistemas sustentáveis que englobem
questões ambientais, tecnológicas, econômicas, culturais e políticas que atendam as
necessidades das gerações atuais sem prejudicar as futuras (FRANCO, 2000; BAQUERO;
CREMONENSE, 2006; NASCIMENTO 2018).
Dessa forma, surge uma nova abordagem em relação aos conceitos de desenvolvimento
sustentável, que além dos tradicionais aspectos econômicos e financeiros almejados pelas
organizações incorpora também valores ecológicos e sociais (MASULLO, 2004; SARTORI;
LATRONICO; CAMPOS, 2014). Esse novo conceito busca assegurar uma melhoria contínua
e efetiva, englobando campos interdisciplinares como o social, político, econômico e ambiental.
O termo Desenvolvimento Sustentável surgiu oficialmente em 1987 na Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), recebendo a seguinte definição:
“[...] a capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46). Autores
como Rodriguez, Ricart e Sanchez (2002), Oliveira et al. (2012) argumentam que mesmo após
a definição de sustentabilidade a questão ambiental ainda era preocupação secundária por parte
das organizações. Essa realidade começou a mudar quando as organizações perceberam que
não podem dissociar sustentabilidade do meio produtivo, visto que a indústria de manufatura
extrai recursos naturais para seus processos produtivos e os transforma em produtos finais
(NETO et. al, 2015)
Posteriormente, uma segunda visão de sustentabilidade surge a partir dos estudos de
Elkington (1994), que considera três dimensões essenciais para garantir um crescimento
2
econômico dinâmico e ambientalmente sustentável. Esta concepção de desenvolvimento
sustentável foi batizada de Triple Bottom Line ou Tríplice Resultado e parte do princípio que a
sustentabilidade deve estar ancorada em três pilares fundamentais: ambiental, econômico e
social.
Araújo et al. (2006) defendem que a integração entre as questões sociais, ambientais e
econômicas ampliam a visão da sustentabilidade pois contribuem de forma progressiva com a
manutenção do ecossistema. Assim, as empresas devem encontrar maneiras de contribuir com
a sustentabilidade, possuindo para tal um modelo que una desempenho econômico, ambiental
e social.
Explorando e analisando separadamente os três pilares da sustentabilidade de forma
resumida pela visão de Elkington (1994), Araújo et al. (2006) têm-se:
1ª. Sustentabilidade Econômica: o principal foco é a criação de empreendimentos
viáveis e atrativos para investidores, porém tendo como princípio medidas ambientais e sociais
que possam manter a produção competitiva através da otimização do uso de recursos limitados
2ª. Sustentabilidade Ambiental: é focada na relação harmoniosa sociedade-natureza,
buscando promover o desenvolvimento econômico e social, utilizando tecnologias limpas como
reciclagem por exemplo para atender a legislação vigente e ao mesmo tempo desenvolver
produtos ecologicamente corretos que minimizem os impactos ambientais causados pelos
processos produtivos.
3ª. Sustentabilidade Social: neste pilar a organização assume uma responsabilidade
social que deve dar suporte ao crescimento da sociedade, promovendo a participação de todos
os envolvidos em projetos de cunho social. A organização preocupa-se também com o
estabelecimento de ações justas para trabalhadores, parceiros e sociedade.
Observa-se, portanto, que mesmo a literatura indicando o caminho, as relações do
desenvolvimento sustentável são complexas, pois permitem variadas visões a respeito do tema
devido a diversos subsistemas que influenciam o ambiente organizacional. Sob esse aspecto
diversas iniciativas vêm sendo tomadas no sentido de mitigar os impactos causados pelas
atividades industriais e, uma que apresenta grande potencial é a logística reversa, assunto que
será discutido na sequência deste trabalho.

2.2. Logística Reversa


A sustentabilidade é tema atual e vem sendo discutido no meio acadêmico,
organizacional, governamental e social em face das limitações ecológicas presentes no
ecossistema. Para Donaire (1999) este comportamento é o resultado de mudança nas ações da
sociedade que traz consigo a preocupação com o ambiente socioeconômico e ambiental.
Um aspecto essencial dessa mudança é forma como as empresas estão se preocupando
e se especializando na reciclagem de resíduos e na reutilização de insumos visando a
preservação do ecossistema (ERKMAN et al, 2005). No meio industrial é crescente a aplicação
de práticas para aumentar o gerenciamento ambiental e a ecoeficiência, fazendo-se necessário
o equilíbrio entre dimensões econômica, social e ambiental.
Nesse sentido, a logística reversa é uma das iniciativas que tem influenciando a
sustentabilidade do setor produtivo, contribuindo de forma relevante para a redução dos
resíduos gerados no ciclo industrial. Rogers e Tibben-Lembke (1999), Leite (2003), definem
logística reversa como a área da logística empresarial responsável por todas as atividades
relacionadas aos fluxos reversos de produtos e materiais com objetivo de assegurar uma
recuperação sustentável do ponto de vista ambiental.
Inserida na logística tradicional que é responsável por planejar, implementar e controlar
o fluxo de materiais e informações relativas a estes, desde o ponto de origem até o ponto de
consumo (CHRISTOPHER, 1997; NOVAES, 2007, BALLOU, 2007), está a logística reversa
3
que é dividida em pós-venda e pós-consumo. Para Leite (2009) enquanto a logística reversa de
pós-venda é responsável pelos processos de retorno relacionados à troca de produtos sem uso
ou com pouco uso, a logística reversa de pós-consumo trata do retorno e descarte de produtos
no final de sua vida útil ou com possibilidade de reuso.
Num contexto amplo, Leite (2009) pondera que a logística reversa de pós-venda objetiva
dar destino a produtos que motivos variados foram devolvidos pelos clientes, podendo esses
produtos serem duráveis, semiduráveis ou descartáveis. Esse mesmo autor ainda complementa
que a logística reversa de pós-vendas é responsável pelo planejamento, operação e controle do
fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de bens de pós-venda.
Assim, a logística reversa tem sido praticada e pesquisada segundo esses dois fluxos,
que seguem princípios distintos devido a fatores econômicos, sociais ambientais,
mercadológicos ou legais. Apesar dos dois fluxos serem de igual importância, nesta pesquisa
será dado maior ênfase a logística reversa de pós-consumo por se entender que é a mais
adequada aos propósitos deste estudo.

2.2.1. Logística Reversa de Pós-Consumo


A criação de um sistema produtivo sustentável que tenha como princípios básicos a
busca de integração das atividades econômicas e a redução da degradação ambiental vem sendo
almejado pela sociedade atual. Nessa perspectiva a destinação final dos resíduos sólidos
gerados pelas indústrias que outrora era exclusividade do poder público, recentemente passou
a ser também dos fabricantes, isso porque o descarte pode ser realizado por meio de coleta
seletiva de empresas do setor público ou privado (FARIA, 2012; FAGUNDES, 2015;
REBELATO, 2016).
Mesmo o processo da logística reversa de pós-consumo sendo iniciado no descarte pelo
consumidor final, existe a necessidade, por parte da indústria, de incorporar na sua cadeia
produtiva fluxos reversos de pós-consumo. Leite (2009), argumenta que no canal de
distribuição reverso de pós-consumo existem diferentes formas de processamento e de
comercialização de produtos e materiais provenientes do descarte dos produtos e divide o canal
reverso em três tipos: reuso, reciclagem e remanufatura.
Os canais de reuso (reuso aqui é definido como bem usado que ainda pode ser
reutilizado) são aqueles em que os bens de pós-consumo, caso ainda tenha condições de
reutilização, são inseridos novamente no mercado (segunda mão) até o fim da vida útil. Sob a
ótica da reciclagem, além de reduzir de maneira considerável a extração de recursos naturais
utilizados como matéria prima para as indústrias pois reaproveita os materiais descartados,
reintroduzindo-os no ciclo produtivo, é uma das alternativas de tratamento de resíduos sólidos
mais vantajosas, tanto do ponto de vista ambiental quanto do social (MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE, 2019). Já canal reverso de remanufatura é definido por Leite (2009), como aquele
pelo qual os produtos podem ser reaproveitados de acordo com sua finalidade inicial, sendo
necessário para isso a substituição de alguns componentes complementares.
Entretanto, um dos maiores desafios a serem superados para o correto retorno dos bens
de pós-consumo ao ciclo de negócios é a criação de um canal de distribuição reversos. Lima et
al. (2011), lembram que uma rede reversa deve envolver alguns elementos básicos contidos na
logística convencional, tais como nível de serviço, armazenagem, transporte, nível de estoques,
fluxo de materiais e sistema de informações.
Santos (2012, p.87), observa que “sistema eficiente de logística reversa pode vir a
transformar um processo de retorno altamente custoso e complexo em uma vantagem
competitiva para as organizações”. De certa forma, o processo da logística reversa de produtos
após o seu consumo pode ser uma importante ferramenta para auxiliar no equilíbrio entre os
resíduos gerados pelos bens de pós-consumo e impactos provocados no meio ambiente.
4
Nesse sentido, a logística reversa vem ao encontro da questão ambiental, que preconiza
a reutilização, o reaproveitamento e a reciclagens, visto que algumas empresas estão obrigadas
a estruturar e implementar o fluxo reverso pós-consumo entre os participantes da cadeia
produtiva. Sob esta concepção a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei n.º
12.305/10 enfatiza que a logística reversa caracteriza-se por “um conjunto de ações,
procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao
setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou
outra destinação final ambientalmente adequada” (art. 3, XII).
Assim, pode-se considerar a relevância da logística reversa como um importante
instrumento estratégico e operacional das empresas na busca do desenvolvimento sustentável
através da ampliação do ciclo de vida de um produto baseado no gerenciamento correto de
resíduos. Entretanto, mesmo com a crescente busca de conhecimentos sobre sustentabilidade e
logística reversa o tema ainda carece de estudos e ferramentas que viabilizem a coleta e a
reinserção dos resíduos gerados pelas cápsulas de café aos ciclos produtivos ou outra destinação
final ambientalmente adequada.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A seguir, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na elaboração
desta pesquisa, caracterizando quanto a método, estratégias e técnicas de coleta e de análise dos
dados. Pretende-se descrever o caminho seguido, tendo
como objetivo a correta coleta, classificação e análise de dados que obedeceram a
critérios preestabelecidos.

3.1 Características da Pesquisa


Este trabalho caracteriza-se por ser um estudo qualitativo com abordagem descritiva e
exploratória. Godoy (1995, p.62) relata que “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como
fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental”. Creswell (2014),
acrescenta que em uma pesquisa qualitativa pode-se trabalhar com inúmeros métodos e isso
possibilita ao investigador uma visão holística do fenômeno estudado.
A abordagem descritiva busca descrever a contribuição da logística reversa na
sustentabilidade do mercado de cápsulas de café na Região Metropolitana de São Paulo.
Triviños (1987) e Mattar (1996) descrevem que esta abordagem tem como propósito examinar
todos os dados da realidade estudada, através da observação, descrição e interpretação.
Malhorta (2006) complementa que a pesquisa descritiva objetiva descrever algo, ou, mais
especificamente, definir o grau de associação entre variáveis.
Esta pesquisa também se caracteriza como exploratória, visto que há poucos estudos
anteriores que exploraram o tema cápsulas de café sob a perspectiva sustentabilidade e logística
reversa. A pesquisa exploratória, da maneira proposta neste trabalho não busca testar ou
confirmar hipóteses e sim procurar padrões ou ideias que auxilia o pesquisador a familiarizar-
se com o objeto que está sendo investigado (COLLIS; HUSSEY, 2005; ROESCH, 2005 e
MARTINS, 1994). Nesse contexto, Cervo e Bervian (1996), afirmam que a abordagem
exploratória é o “passo inicial” que auxiliará as formulação e considerações para pesquisas
posteriores sobre determinado assunto.
Como estratégia de pesquisa, a abordagem de investigação utilizada nesta pesquisa é o
estudo de caso único, visto que esse tipo de estudo é limitado a poucas unidades que podem ser
analisadas em profundidade (VERGARA, 2000). Para Yin (2010), o estudo de caso responde a
questões ‘como’ ou ‘por que’ os fenômenos ocorrem, mesmo que o pesquisador não tenha
familiaridade ou controle sobre os eventos. Ademais, o estudo de caso único foi escolhido

5
porque a marca em questão tem características específicas que impossibilita estudos
comparativos e, proporciona maior riqueza de informações.
Para atingir o objetivo proposto, além de realizar busca documental em arquivos
disponíveis no site da marca estudada, o universo da pesquisa se constitui de doze locais
específicos. A definição destes locais ocorreu após pesquisa no site da marca, na aba
denominada “reciclar cápsulas”, onde foi inserido o CEP (Código de Endereçamento Postal)
01001-001 que pertence a Praça da Sé, marco “zero” da cidade de São Paulo. Essa busca
retornou 59 pontos de coleta sendo o mais próximo à 470 metros da Praça da Sé e o mais
distante a 47.530 metros.
A partir dos dados pesquisados e, buscando polarizar as localidades optou-se por coletar
os dados primários em quatro cooperativas de reciclagem e quatro boutiques oficiais da marca,
sendo uma em cada região (Norte, Sul, Leste e Oeste), três postos autorizados de coleta
(localizados nos bairros de Perdizes, Santo Amaro e Vila Olímpia) e o centro de reciclagem da
marca localizado na cidade de Osasco.
A escolha dos entrevistados nesta pesquisa se caracterizou por ser intencional e não
probabilística, visto que foi selecionado um subgrupo representativo de toda a população
estudada (GIL, 2011). Cooper e Schindler (2003) argumentam que esse tipo de seleção se
mostra apropriada para estudos exploratórios. Já a definição da quantidade dos atores
respondentes da pesquisa foi baseada em estudos como o de Thirty-Cherques (2009) por
exemplo, que estimam que são necessárias 12 entrevistas para a saturação teórica, ou seja, a
partir dessa quantidade as observações deixam de ser necessárias, visto que nenhuma das
entrevistas excedentes permite ampliar o número de propriedades do objeto investigado.
Em cada um dos locais pesquisados foram utilizadas três técnicas específicas:
entrevistas semiestruturadas, pesquisa de observação direta (ou acompanhamento) e pesquisa
documental. A entrevistas foram compostas por questões relacionadas às atividades de
sustentabilidade (quais ações sustentáveis são praticadas pela marca) e processos logísticos
reversos utilizados (relacionados às atividades de coleta, condicionamento, armazenagem
temporária, transporte e destinação final das cápsulas de café usadas).
Para Yin (2010) a análise de dados consiste em examinar, categorizar e classificar os
dados em tabelas, buscando estabelecer ligação entre as evidências coletadas e respondendo
duas questões essenciais: o quê foi observado e por que. Buscando encontrar respostas ao
problema de pesquisa, os dados coletados foram transcritos e categorizados utilizando a técnica
analítica combinação de padrões (YIN, 2010), que permite a comparação de um padrão
empírico presente na pesquisa com um padrão teórico previamente apresentado, dando sentido
assim aos dados coletados.

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


Essa seção inicialmente apresenta uma análise resumida das características do setor,
com informações relevantes sobre a marca estudada. Na sequência são identifica as principais
questões referentes ao desenvolvimento sustentável e a logística reversa.
Importante ressaltar que a pesquisa de campo foi aplicada em partes do processo, em
especial o de reciclagem, visto que as fábricas da marca estudada ficam localizadas na Suíça.

4.1 Descrição do objeto de estudo.


A atividade cafeeira é uma das mais importantes do agronegócio brasileiro, gerando
atualmente mais de 8 milhões de postos de trabalho e movimentando cerca de US$ 5,2 bilhões
em exportações no ano de 2017 (SANTOS, 2016; EMBAPA, 2017; MAPA, 2018). Imerso
nesta cadeia produtiva encontra-se o promissor segmento do café em cápsulas, que em 2018
movimentou um volume de aproximadamente 600 mil sacas (ABIC, 2019). Para se ter uma
6
ideia da importância do café em cápsulas na cultura cafeeira e também na economia brasileira,
atualmente 4,4% dos consumidores (cerca 2,3 milhões de consumidores) possuem cafeteiras
destinadas a esse tipo de produto (MENDES, 2018).
Conforme já informado na introdução desse trabalho, o café em cápsulas começou a ser
comercializado no Brasil em 2006 exclusivamente pela Nespresso que importava o produto de
três fábricas instaladas na Suíça. Em 2011 começou o processo de reciclagem por parte da
empresa e em 2016 foi criado o centro de reciclagem (atualmente localizado em Osasco), onde,
a partir de projeto desenvolvido pela própria empresa é realizada a separação mecânica dos
resíduos. Se em 2016 a taxa de reciclagem das cápsulas usadas foi de apenas 6%, nos primeiros
meses de 2018 o reaproveitamento subiu para 17,6%, e em escala global este volume chega
24%, conforme aponta o Relatório de Sustentabilidade da Nespresso – The Positive Cup
(NESPRESSO, 2019).
Nesse sentido, Sartori, Latrônico e Campos (2014) assinalam que está ocorrendo uma
mudança de atitude por parte das organizações com o propósito de alinhar seus processos ao
desenvolvimento sustentável. Esses mesmos autores complementam que nessa perspectiva a
reciclagem tem ganhado destaque não só individualmente, mas também em atividades
empresariais.
Porém, desde quando houve a quebra da patente da Nespresso em 2013 começaram a
surgir outras marcas de café em cápsula, o que popularizou e impulsionou o consumo do
produto (HERSZKOWICZ, 2015, ABIC, 2019). Essas novas empresas (cerca de 100 em 2017)
trouxeram com diferencial produtos mais baratos, cápsulas compatíveis com o sistema
Nespresso, além da possibilidade de compra em supermercados, visto que a Nespresso pratica
a venda direta dos seus produtos através do site da marca ou em butiques e quiosques próprios.
Contudo, mesmo com essas facilidades oferecidas pelos concorrentes, o maior problema
ambiental é que enquanto as cápsulas de café produzidas pela Nespresso são feitas em alumínio,
as outras variedades são confeccionas em sua maioria de plástico com a tampa de alumínio.
Diante do exposto, percebe-se que o consumo de café em cápsulas está gerando um volume
considerável de resíduos sólidos que necessitam ser descartados de maneira correta, visto que
além do plástico, alumínio e filtros de papel empregados em sua fabricação, este produto
também contém o próprio café em si (que não é reciclável).

4.2 Análise da Sustentabilidade Organizacional


O conceito de sustentabilidade busca combinar eficiência econômica com
desenvolvimento sustentável, levando em conta o contexto econômico, ambiental e social
(ELKINGTON, 1994, ARAÚJO et al.,2006). Assim, os resultados da pesquisa apontaram que
existem ações por parte da marca estudada que buscam alinhar esses três pilares.
Quanto aos resultados da pesquisa no que tange a sustentabilidade, verificou-se que a
marca estudada criou uma estrutura que abrange desde fornecedores de matéria prima até o
consumidor final. Para o fornecimento de matéria prima foi criada a norma “AAA Sustainable
Quality Program”, ou Triple A de Qualidade, Sustentabilidade e Produtividade” onde 100%
dos cafés em grãos adquiridos pela marca são certificados. Essa norma foi criada em 2003, ou
seja, três anos antes do café em cápsulas começar a ser comercializado no Brasil, sendo uma
parceria entre a Nespresso e a Rainforest Certified que teve como propósito definir práticas de
produção agrícola ambientalmente corretas. Para um entendimento maior, o Quadro 1
apresenta, de forma resumida os principais requisitos necessários para a certificação Triple A
da Nespresso.

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Quadro 1 – Requisitos para Certificação Triple A.
Descrição Requisitos Básicos
A – Qualidade Grãos maduros e perfeitos, remuneração superior e, rastreabilidade
AA – Sustentabilidade Proteger e recuperar a natureza, aumentar a resiliências das regiões produtoras
e, condições justas e éticas de trabalho.
AAA – Produtividade Planejamento e supervisão da colheita, manejo eficiente da lavoura, melhoria
constante e, lucratividade do produtor.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Para que esse processo seja implantado com êxito, os produtores contam com o apoio
constante de quinze agrônomos que prestam assistência técnica especializada, dando suporte
em todas as fases da cultura, desde o plantio a pós-colheita. Após seguirem à risca critérios
mandatórios e critérios de desenvolvimento, e cumprindo mais de 100 critérios sociais e
ambientais as propriedades produtoras recebem o selo Rainforest Alliance certificando que
naquele local foram aplicadas boas práticas em sua produção.
A certificação Rainforest Alliance tem como objetivo principal garantir a produção de
produtos agroecológicos através da relação harmoniosa meio ambiente – sociedade. Para
verificar os requisitos socioambientais estão sendo cumpridos existem dois tipos de auditoria:
as internas, realizadas semestralmente por um agrônomo e, as externas que são realizadas pelo
Rainforest Alliance através do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola -
IMAFLORA.
Figura 1 – Selo Rainforest Alliance

Fonte: rainforest-alliance.org (2019)

Segundo a Nespresso, 56% de todo o café comprado vem de fazendas certificadas


Rainforest Alliance. No Brasil são 1200 propriedades que possuem esse certificado, o que
confere a elas maior competitividade pela diferenciação de seus produtos e acesso facilitado a
mercados externos.
Paralelamente à essa prática de certificação ambiental e crescimento sustentável, foi
criado também o selo Triple A para produtores que, de forma continua e progressiva, aplicam
ações eficientes de qualidade, sustentabilidade e produtividade. A implementação desses
certificados pode ser considerada uma inovação na cafeicultura, haja visto que agregam valor
ao produto, tornando-o mais atrativo tanto no mercado interno quanto externo.

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Figura 2. Selo Triple A - Sustainable Quality Program”

Fonte: Nespresso (2019)

Ainda no campo da sustentabilidade, observou-se que também existe uma preocupação


ambiental para fornecedores de outras matérias-primas, como as embalagens por exemplo. Isso
fica evidente ao verificar que desde 2009, a Nespresso é membro fundador da Aluminium
Stewardship Initiative – ASI, criando os primeiros requisitos para aquisição sustentável de
alumínio. Dentro os principais requisitos que tem como lema sustentável do início ao fim, seis
itens merecem destaque: proteção dos direitos da população indígena, redução dos gases do
efeito estufa, redução do desperdício, respeito à biodiversidade, redução do impacto ambiental
e, gerenciamento da água.
Contudo, mesmo com esses programas voltados para sustentabilidade, Guimarães
(2018) relata que os resíduos gerados por esse setor ainda não são absorvidos em sua totalidade
pela indústria da reciclagem. A autora ainda complementa, apoiada na Política Nacional de
Resíduos Sólidos – PNRS (Lei nº 12.305/2010) que é necessário a disposição correta desses
resíduos para a preservação dos recursos naturais.
Ainda no tocante a sustentabilidade, também foram realizadas entrevistas em quatro
cooperativas de reciclagem para verificar os processos de reciclagem e a gestão dos resíduos
sólidos gerados pelas cápsulas de café. Segundo os entrevistados, as cápsulas de café usadas
chegam em volumes pequenos nesses locais, misturados com outros matérias recicláveis,
trazidos pelos caminhões de coleta seletiva da Prefeitura de São Paulo. Após a segregação,
como não há compradores ou viabilidade econômico de tratamento e destinação das mesmas
(cada cápsula de café contém apenas 1grama de alumínio, peso relativamente baixo se
comparado com uma latinha bebida com capacidade para 350ml que tem em média 14 gramas),
as cápsulas usadas são ensacadas para armazenamento em sacos de ráfia para posterior retirada
pela Nespresso que as envia para seu centro de reciclagem.

9
Figura 3. Armazenagem de Cápsulas de Café Usadas

Fonte: Elaborado pelo autor.

Devido a essa importância, dos 59 pontos de coleta indicados pela Nespresso na Região
Metropolitana de São Paulo 20 são cooperativas de reciclagem. Além do papel ambiental, as
cooperativas constituírem um dos principais elos da cadeia produtiva da reciclagem e também
prestam um serviço essencial para a sociedade ao criarem emprego e renda para pessoas que
vivem no seu entorno.
Porém, nos outros sete pontos de coleta visitados (quatro boutiques oficiais da marca e
três postos autorizados) evidenciou-se que a principal ação de sustentabilidade aplicada é a
logística reversa. Isso porque esses pontos são caracterizados como PEV – Ponto de Entrega
Voluntária, onde os consumidores armazenam as cápsulas usadas em suas residências e
posteriormente as entregam nesses locais, até que as mesmas sejam coletadas pela Nespresso.
Leite (2003) argumenta que esse modelo favorecem o fluxo reverso pós-consumo pois evita
que materiais com potencial de reciclagem sejam descartados no meio ambiente. O Quadro 2
sintetiza as ações de sustentabilidade verificados na pesquisa de campo.

Quadro 2 – Ações de Sustentabilidade.


Descrição Requisitos Básicos
Nos fornecedores de matéria prima – criação de medidas ambientais e sociais
Sustentabilidade Econômica que aumentem o lucro.
Nas cooperativas – geração de trabalho e renda para os cooperados.
Nos fornecedores de matéria prima – incentivo a relação harmoniosa sociedade-
Sustentabilidade Ambiental natureza.
Nas cooperativas – redução dos impactos ambientais causados pelas cápsulas
de café usadas através do incentivo a reciclagem.
Nos fornecedores de matéria prima – envolvimento da comunidade nos projetos
Sustentabilidade Social de crescimento social.
Nas cooperativas – estabelecimento de ações justas para trabalhadores,
parceiros e sociedade.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Oliveira et al. (2012) relatam que as empresas estão buscando a preservação dos recursos
naturais, a promoção de direitos fundamentais do trabalhador e a proteção ambiental. Trevisan
et al. (2008, p. 2), complementa essa ideia ao argumentar que “[...] responsabilidade
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socioambiental deixou de ser uma opção para as organizações, ela é uma questão de visão,
estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência”.
Outro ponto relevante verificado durante a pesquisa de campo é que existe uma
correspondência estreita entre sustentabilidade e a logística reversa que norteia grande parte das
ações da marca analisada. Se um dos focos da Logística Reversa é o de responder a
questionamentos de como um nível produtivo aproveite os resíduos de outro, pode-se dizer que
no campo estudado isto está acontecendo através da reciclagem e otimização de recursos.
Na prática corrente, verificou-se também na pesquisa de campo que o recolhimento das
cápsulas usadas nas cooperativas é realizado por veículos pagos pela Nespresso. No momento
da coleta os materiais são transferidos dos sacos de ráfia (Figura 3) para big bags (Figura 5 A)
e enviados para o centro de reciclagem da marca estudada.
Nas quatro boutiques oficiais da marca visitadas, as cápsulas usadas entregues pelos
consumidores são armazenadas temporariamente em bobonas com capacidade de 50 litros
fornecidas pela Nespresso e, no momento de reabastecimento da loja essas bobonas são
coletadas (o mesmo processo ocorre nos três postos de coleta autorizados, exceto o processo de
reabastecimento). Visando reduzir também a emissão de CO², nesse processo são utilizados
veículos 100% elétricos, conforme Figura 4.

Figura 4. Veículo elétrico usado na Logística de Cápsulas de Café

Fonte: Nespresso (2019)

Esse processo de entrega e coleta verde (que conta também bicicletas) atende a mais
300 clientes da linha profissional da empresa localizados nas cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro.
Os materiais coletados em lojas da marca, pontos de venda credenciados e cooperativas
são enviados, através da logística reversa, para o centro de reciclagem Nespresso localizada na
cidade de Osasco, onde é realizada a separação mecânica do pó de café e do alumínio
das cápsulas (Figura 5). Após a separação o alumínio é prensado e enviado para a Suíça em
cubos de aproximadamente 70kg, onde serão reinseridos na produção de novas cápsulas. Já o
pó de café é enviado para uma empresa especializada em compostagem, que o transforma em
fertilizante orgânico.

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Figura 5. Processo de Reciclagem de Cápsulas de Café Usadas

Fonte: Elaborado pelo autor.

Contudo, conforme informações da marca estudada, mesmo o centro de reciclagem


tendo capacidade para reciclar 100% das cápsulas comercializadas, atualmente apenas 60%
delas retornam ao ciclo produtivo. Embora esse volume esteja aquém do ideal, os ganhos
ecológicos e econômicos são consideráveis, visto que a produção de alumínio à partir da
reciclagem consome apenas 0,7 GWh/ton contra 15,2 GWh/ton para produção de alumínio
primário, conforme aponta o trabalho de Sigahi, Mendes, Silva (2016) apoiado em dados do
INTERNATIONAL ALUMINIUM INSTITUTE.
A partir dos resultados obtidos, constata-se que a marca estudada está promovendo
ações sustentáveis, evidenciado através da formação de parcerias firmadas com fornecedores,
cooperativas de recicláveis, postos autorizados de coleta além das boutiques própria da marca.
Com relação ao processo de reintegração na cadeia de abastecimento dos resíduos recuperados,
destaca-se também as atividades associadas à logística reversa.
Evidenciou-se durante a pesquisa que os objetivos empresariais incluem não somente
oferecer bens e serviços que gerem os menores impactos ecológicos, mas também praticar a
responsabilidade social e a preservação ambiental. Para finalizar, importante destacar a
contribuição da logística reversa para a diminuição de impactos ambientais causados pela
resíduos gerados pelas cápsulas de café usadas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo permitiu analisar, através de estudo de caso único e apoiado na
literatura como a logística reversa contribui na sustentabilidade de uma marca de cápsulas de
café. Balizado nos resultados da pesquisa, evidenciou-se que mesmo incipiente, a marca
estudada possui uma estrutura de logística reversa adequada que contribui para a promoção da
sustentabilidade da cadeia produtiva do café em cápsulas.

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Quanto aos objetivos inicialmente propostos nesse trabalho, que era conhecer o ciclo
reverso de cápsulas de café, este foi atingido visto que durante a pesquisa de campo foi possível
identificar fatores relevantes associados a esse processo, como as parcerias firmadas com
cooperativas de reciclagem e pontos de coleta autorizados. Outro ponto que indica o alcance
dos objetivos propostos no que diz respeito aos benefícios auferidos pela implementação da
logística reversa vão desde o retorno ao ciclo produtivo de grande parte das cápsulas produzidas
até os ganhos ecológicos e econômicos que esse processo proporciona.
Desse modo chegou-se a conclusão que a implantação do processo de logística reversa
representa uma ferramenta que auxilia o desenvolvimento sustentável em suas três dimensões.
De maneira geral, as operações de logística reversa assegura ganhos ambientais, econômicos e
sociais quando atenuam os impactos gerados pelos resíduos das cápsulas de café.

5.1 Limitações e propostas de novas pesquisas.


A primeira limitação do presente trabalho é a carência de informações disponíveis sobre
o descarte correto e a gestão reversa deste tipo de resíduo, tanto teórico quanto prática. A priori,
a intenção era avaliar no mínimo 5 marcas diferentes de café em cápsulas, porém apenas uma
marca se propôs a fornecer informações concretas sobre seu processo reverso. As outras 4
marcas contatadas não forneceram informações ou apresentaram informações incompletas ou
irrelevantes ao propósito desse trabalho.
Essa situação gerou um número limitado de atores pesquisados em relação ao número
de atores existentes no mercado de café em cápsulas, fato que ocasionou também uma limitação
metodológica. Assim, cabe reconhecer a restrição de um estudo de um único caso aplicado a
uma única marca e isso requer precauções em relação à generalização dos resultados, ainda que
para o mesmo contexto.
Uma terceira limitação é que essa pesquisa, além da logística reversa focou apenas no
tripé da sustentabilidade de forma geral, sem considerar os ganhos financeiros auferidos pela
gestão correta dos resíduos gerados pelas cápsulas de café.
Para pesquisas futuras, foi observado que mesmo relativamente recente o tema em
questão é amplo e não se esgota com os estudos aqui apresentados, gerando assim inúmeras
possibilidades de pesquisa futuras. A primeira limitação mencionada remete a estudos similares
mais aprofundados com outras marcas para identificar os desafios presentes nas cadeias reversa
e sustentabilidade. Outra possibilidade para pesquisas futuras poderia advir de estudos que
visem outros resultados específicos, além da aplicação de métodos quantitativos que possam
considerar os custos da implementação do sistema de logística reversa, além avaliar os ganhos
financeiros.

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