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O que são líquidos cavitários?

São pequenas quantidades de fluido, o qual é essencialmente um ultrafiltrado do


sangue, que possuem a função de lubrificar as vísceras abdominais, torácicas e o
coração. A quantidade de fluido lubrificante na cavidade é determinada pela quantidade
de fluido que entra na cavidade, subtraída da quantidade de fluido que sai da cavidade.
Desse modo, sua quantia resulta de um equilíbrio entre as pressões hidrostática e
oncótica do interstício e do capilar e, caso ocorra um desequilíbrio entre estas pressões
pode ocorrer um acúmulo excessivo de fluido seroso, denominado derrame cavitário

Quais os principais tipos de derrames cavitários?


Os acúmulos de fluidos abdominais, torácicos, pericárdicos e pleurais são
classificados como transudatos, transudatos modificados e exsudatos, com base na
contagem total de células nucleadas, concentração de proteínas e análise citológica da
celularidade presente no fluido. Além destes, existe também efusões secundárias a
distúrbios específicos como aquelas que se formam secundariamente à PIF, ruptura de
vesícula biliar ou ducto biliar como a Peritonite biliar, ruptura de bexiga, uretra e ureteres
como o Uroperitôneo e outros como quilotórax ou quiloabdômen (raro), efusões
hemorrágicas e secundárias a neoplasias.
Realizar a análise e classificação da efusão é importante para auxiliar na
determinação do mecanismo geral que levou a formação de acúmulo de
líquido em uma cavidade e fornece informações valiosas para
complemento do diagnóstico do paciente
Transudatos
Os transudatos podem ser efusões incolores, transparentes, com baixa
concentração proteica (< 2,5mg/dL) e com baixa contagem total de células
nucleadas(<1,0g/dL), porém, se a pressão hidrostática estiver concomitantemente
aumentada, o transudato pode ocorrer com concentração sérica de albumina de até
(1,5g/dL.) Raramente, o extravasamento de linfa de baixa proteína das vias linfáticas
intestinais, como em casos de linfangiectasia, pode levar a ascite transudativa
Transudato modificado
Esta categoria de derrame cavitário ocorre como resultado do aumento da pressão
hidrostática ou alteração da permeabilidade dos capilares que acarreta no extravasamento
de fluido dos vasos linfáticos, carreando linfa com alta proteína ou de vasos sanguíneos.
Eles possuem moderada celularidade (1000 a 5000 células/uL) e concentração de proteína
variável (2,5 a 7,5g/dL).
Sua coloração é variável e são frequentemente com aspecto levemente turvo à
turvo. Neutrófilos não degenerados, células mesoteliais/macrofágicas, linfócitos pequenos
ou células neoplásicas podem predominar no fluido dependendo de sua causa. Estes fluidos
são os de menor especificidade diagnóstica, podendo ser decorrentes de doenças
cardíacas, doenças hepáticas, lesões ocupantes de espaço (granulomas), neoplasia, torção
de lobo pulmonar, hérnia diafragmática, hipertireoidismo e glomerulonefrite. A etiologia de
diversas dessas efusões é multifatorial e a natureza da efusão é variável, dependendo das
circunstâncias presentes em cada um desses casos individualmente
Exsudato
Os exsudatos normalmente ocorrem devido à presença de quimiotáticos na cavidade
secundariamente à processos inflamatórios. Estes variam de âmbar a branco ou vermelho
e são fluidos turvos à opacos. Possuem alta concentração proteica (>3,0g/dL) e alta
contagem total de células nucleadas (> 5000 células/uL).
O tipo celular predominante é o neutrófilo íntegro e degenerado. Ocasionalmente, um
exsudato pode se formar devido à abundante esfoliação de células de um tumor ou
secundariamente a uma efusão quilosa, nos quais as células predominante são células
neoplásicas ou pequenos linfócitos,respectivamente. Ele pode ser de origem séptica,
quando há presença de bactérias, fungos e protozoários ou asséptico, quando denota à
ausência de agentes infecciosos.
Sempre que houver a suspeita de um exsudato séptico, deve-se
sempre lembrar que a não visualização de agentes infecciosos na
análise citológica do fluido não descarta completamente a
possibilidade de infecção. Devendo sempre encaminhar o material
para a realização de exames microbiológicos complementares.
Efusões quilosas
A efusão quilosa é composta por um fluido da linfa rico em quilomícrons (lipoproteína
com alto teor de triglicerídeos), que está presente em linfáticos que drenam o trato intestinal
e passam pelo ducto torácico. Esse fluido contém um aspecto branco leitoso à róseo,
quantidade variável de células, proteínas e o predomínio celular é de pequenos linfócitos.
Se formam quando há uma obstrução (física ou funcional) do fluxo linfático que resulta em
aumento de pressão dentro dos linfáticos e dilatação do ducto torácico. Pode ser
decorrente de neoplasias, granulomas, reações inflamatórias, doença cardiovascular,
tosse, vômito, hérnias diafragmáticas, defeitos congênitos, trauma e trombose do ducto
torácico.
Uma concentração de triglicerídeos no líquido cavitário acima de >
100mg/dL assim como uma relação Colesterol/Triglicerídos do
fluido < 1 é compatível com um quadro de efusão quilosa.
Efusões hemorrágicas
Efusões hemorrágicas ocorrem em diferentes distúrbios, como defeitos da hemostasia,
trauma, dirofilariose e neoplasia. Frequentemente as efusões pericárdicas são
hemorrágicas a serossanguinolentas. Em casos de hemorragia hiperagudas e iatrogênicas,
pode-se encontrar a presença de plaquetas e ausência de eritrofagocitose. Visto que,
quando o sangue entra em contato com uma cavidade corpórea as plaquetas rapidamente
se agregam, degranulam e desaparecem.
Em casos de hemorragias crônicas com duração maior que um dia ou uma hemorragia
crônica persistente podem ser diferenciadas de hemorragias agudas e contaminação
sanguínea devido à presença de eritrofagocitose e/ou presença de produtos decorrentes
da fagocitose das hemácias como pigmentos de hemossiderina e hematoidina e ausência
de plaquetas . A presença de eritrofagocitose e plaquetas sugerem hemorragia crônica
persistente ou hemorragia prévia e contaminação sanguínea. Enquanto que, a presença de
eritrofagocitose e ausência de plaquetas sugerem hemorragia crônica ou prévia.
Em caso de suspeita de hemorragia intracavitária, deve-se sempre
correlacionar o hematócrito do paciente com o hematócrito do
fluido cavitário, pois, hematócritos de fluidos hemorrágicos
normalmente correspondem emtorno de 25 a 50% do hematócrito
do paciente.
Efusões neoplásicas
Acúmulos de líquidos cavitários decorrente de neoplasias são comuns e quando há
esfoliação de células neoplásicas para o fluido, um diagnóstico citológico presuntivo pode
ser feito. Em um estudo, a sensibilidade do exame citológico de efusões para detecção de
neoplasias malignas foi de 64% em cães e 61% em gatos. Linfomas, mastocitomas,
mesoteliomas, qui miodectomas e vários carcinomas, adenocar cinomas têm sido
diagnosticados pela avaliaç ão citológica da efusão.
Porém, como vários tumores não esfoliam células neoplásicas, a ausência de
células malignas nas efusões não descartam a neoplasia.
Atenção! Quando submetidas a processos efusivos crônicos e inflamatórios, as células
mesoteliais podem se tornar grandes e reativas, mimetizando critérios de malignidade,
onde não é possível de fazer a distinção citológica de células malignas decorrente de
neoplasias. Nestes casos, é necessário exames complementares como radiografia,
ultrassonografia e tomografia para pesquisa de tumoração em cavidade e, caso houver,
deve-se realizar punção citológica direta ou histopatologia da massa para confirmar a
etiologia tumoral.
Efusões cavitárias secundária à PIF
A peritonite infecciosa felina pode ocorrer em gatos de todas as idades, tendo maior
prevalência entre 6 meses a 2 anos de idade. Na PIF efusiva, o fluido pode se acumular no
abdômen, tórax e/ou pericárdio. A efusão varia de cor de palha à ouro, inodoro, que pode
conter feixes ou grumos de fibrina. Normalmente apresenta uma alta concentração de
proteínas (>4g/dL) e globulinas e uma contagem celular variável. A população celular
predominante são neutrófilos íntegros e discretamente degenerados, macrófagos ativados,
linfócitos pequenos e ocasionais plasmócitos. Devido à alta concentração proteica da
efusão, pode ser visualizado, ao fundo de lâmina, um precipitado granular eosinofílico.
Uma relação Albumina/Globulina (A/G) na efusão < 0,4g/dL é altamente sugestivo de
Peritonite infecciosa felina. Embora esses achados não sejam diagnósticos de PIF, quando
associados com a sintomatologia clínica do paciente, um diagnóstico presuntivo de PIF
pode ser feito.
O diagnóstico de PIF pode ser realizado através da técnica de reação
em cadeia da polimerase (PCR) para detecção do Coronavírus felino
(CoVF) no derrame cavitário ou através de histopatologia de amostras
teciduais

Peritonite Biliar
A liberação de bile dentro da cavidade abdominal pode ocorrer secundariamente à
ruptura da vesícula biliar ou ducto biliar levando a peritonite exsudativa. Este quadro pode
ser consequência de uma obstrução do ducto biliar, como consequência da inflamação do
trato biliar, trauma, mucocele e biópsia percutânea do fígado. A coloração do fluido varia
de castanho à esverdeado à amarelo-alaranjada. Sua concentração de proteínas e
celularidade é variável. Pode ser visualizado pigmento biliar com coloração
azulesverdeada à amarelo-esverdeado sendo fagocitado por macrófagos. Em casos de
ruptura da mucocele biliar (hiperplasia cística mucinosa) pode ser visualizado uma
quantidade variável de material mucinoso amorfo basofílico disperso ao fundo de lâmina
chamado de "bile branca".
Em casos de suspeita de Peritonite Biliar, a concentração de bilirrubina deve ser
mensurada no fluido abdominal e no soro. Pois este tipo de peritonite tipicamente apresenta
níveis de bilirrubina no fluido abdominal pelo menos duas vezes maior que os níveis
simultâneos de bilirrubina sérica.
• LEMBRANDO QUE A BILIRRUBINA É UMA ENZIMA FOTOSSENSÍVEL, SENDO
DEGRADADA CONSTANTEMENTE QUANDO EXPOSTA A LUMINOSIDADE, POR
ISSO, OS TUBOS DEVEM SER SEMPRE ENCAMINHADOS AO LABORATÓRIO
PROTEGIDOS DA LUZ.
Uroperitôneo
O uroperitôneo pode resultar de vazamento de urina do rim, ureter, bexiga urinária
ou uretra. Esse tipo de efusão pode ter números variáveis de células inflamatórias e de
concentração de proteína dependendo da duração e do efeito de diluição da urina.
Em casos de suspeita Uroperitôneo, devese sempre expor ao laboratório a suspeita clínica
e encaminhar a dosagem de creatinina sérica e do fluido abdominal, pois, a concentração
de creatinina da efusão é em torno de 3x maior que a concentração de creatinina sérica

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