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Introdução à Teoria da Ligação para Iniciados na Teoria Gerativa

Preprint · July 2023


DOI: 10.13140/RG.2.2.30895.51366

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R. Gandulfo
University of Brasília
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Introdução à Teoria da Ligação para Iniciados
na Teoria Gerativa

Roberto Gandulfo (UnB)


Texto em construção

Julho de 2023
Conteúdo

1 Panorama da Maquinaria Gerativa: da DS à SS 3


1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 LCA e C-comando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Estrutura Profunda e Estrutura Superficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.4 Papel Temático e Caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5 Marcação de Papel Temático e de Caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.6 Teoria do DP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.7 Teoria do IP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.8 Teoria do CP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.9 Fenômenos do Inglês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.10 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

2 Movimento sintático 52
2.1 Argumentos e Adjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.2 DP como Adjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.3 Posições Argumentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.4 Considerações sobre o Movimento Sintático . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.4.1 Movimento de Sintagma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.4.2 Movimento de Núcleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.5 Teoria das Cadeias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.5.1 Cadeias Próprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.5.2 Cadeias Impróprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

3 DPs Lexicais 88
3.1 Introdução à Teoria da Ligação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.2 Intuição do Domínio de Ligação: a Categoria de Regência . . . . . . . . . . 89
3.3 Exemplos de Categorias de Regência de Anáforas e Pronomes . . . . . . . . 97
3.4 Coindexação e Ligação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
3.5 Tipologia dos DPs Lexicais e os Princípios da Teoria da Ligação . . . . . . . 122
3.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

4 DPs Vazios 127


4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
4.2 Teoria do Vestígio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

1
4.3 Teoria da Variável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
4.4 Teoria do pro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
4.5 Teoria do PRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.6 Tipologia dos DPs Vazios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
4.7 Exemplos de Identificação de Categorias Vazias . . . . . . . . . . . . . . . . 141
4.8 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153

5 Ligação em LF 157
5.1 Cópia ativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.2 Controle do PRO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170

6 Apêndice 174
6.1 Princípios, filtros, restrições, condições, definições e critérios que estudamos . 174
6.2 Tipologia Verbal Resumida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
6.2.1 Verbos lexicais sem argumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
6.2.2 Verbos lexicais monoargumentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
6.2.3 Verbos lexicas biargmentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
6.2.4 Verbos lexicais triargumentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
6.2.5 Verbos funcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184

7 Gabarito dos exercícios 187


7.1 Capítulo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
7.2 Capítulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
7.3 Capítulo 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220
7.4 Capítulo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227

2
Capítulo 1

Panorama da Maquinaria Gerativa:


da DS à SS

1.1 Introdução
Neste momento, pretendo apresentar, de maneira breve, a arquitetura do Modelo de Prin-
cípios e Parâmetros (simplificado como P&P) da Gramática Gerativa. Usarei esse modelo
porque ele é o mais consolidado em relação aos estudos linguísticos na graduação; além disso,
acredito que o conhecimento da Teoria da Ligação nesse modelo interesse a qualquer modelo
gerativista. Além disso, não apresentarei aqui aspetos teóricos basilares da teoria gerativa
(como “o que é gramática?” e questões correlatas) porque este manual se presta a treinar
especificamente o conhecimento da maquinaria da teoria. Entenda-se “maquinaria”, neste
caso, como o conjunto de mecanismos que satisfazem estritamente as condições da teoria.
Para um conhecimento mais basilar da teoria gerativa, recomendo ao leitor (Mioto, 2018),
(Rodrigues, 2019), (Kenedy, 2021). Boa leitura!
Na teoria gerativa, entendemos que existem dois tipos de núcleo: os lexicais e os fun-
cionais. Os lexicais realizam seleção categorial e semântica; Os funcionais, somente seleção
categorial. A seleção categorial dos núcleo é uma de suas características intrínsecas, que já
vem elencada no próprio léxico. Por exemplo, o verbo amar exige dois argumentos nominais;
registramos esse fato apontando que a seleção categorial desse núcleo é [DP, DP], ou seja,
ele seleciona como argumentos dois DPs. O núcleo I seleciona somente um argumento: o
VP. A seleção categorial de I, portanto, é [___, VP]. Essa notação representa as posições
de especificador e complemento; um núcleo X tem seleção [Spec, Comp]. É possível, como
bem sabemos, que um núcleo selecione três argumentos1 ; nesse caso, a notação seguirá a
ordem linear. Por exemplo, o verbo entregar seleciona dois DPs e um PP; logo, sua seleção
categorial é assim: [DP, DP, PP].
A seleção semântica está diretamente relacionada à atribuição de função semântica, ou
Papel Temático2 , ou Papel θ. Tanto é que o Critério θ já indica que apenas núcleos lexicais
1
Não adotarei neste trabalho a hipótese de (Larson, 2014), porque acredito que ela não tenha impactos
relevantes para a Ligação, pelo menos não no português. Sei que existe uma discussão sobre a posição [Spec,
vP] ser Ā (Citko, 2014), e isso impactar na ligação, mas não discutirei essa questão aqui. O leitor pode
procurar os trabalhos que citei; ambos estão nas referências deste livro.
2
Em geral, nomes técnicos relativos à teoria são iniciados por letra maiúscula. Isso evita que se confundam,

3
têm a habilidade de atribuir Papel Temático, justamente porque ele é o único que tem essa
seleção. Um núcleo como amar, por exemplo, exige que seus argumentos, além de serem
DPs, contraiam funções semânticas específicas: o primeiro DP deve ser um experienciador,
enquanto o segundo deve ser objetivo. Representamos isso da maneira como fazíamos com
a seleção categorial. A seleção semântica do verbo amar é [experienciador, objetivo]3 .
Não vou me aprofundar nas questões relativas à Teoria Temática neste momento. Além disso,
vamos imaginar que a estrutura básica da oração seja formada por CP-IP-VP. Inclusive, isso
culminou no que antigamente se conhecia por Teoria dos Ciclos. O VP é chamado ciclo te-
mático, porque ali são atribuídos os Papéis Temáticos; o IP é chamado ciclo casual, porque,
quando a sentença atinge o IP, os DPs já receberam seus Casos; e o CP é o ciclo discursivo,
porque é nele que são atribuídas as funções relativas ao discurso (como a interrogação, a
exclamação, etc.).

(1) [CP Spec C [IP Spec I [VP Spec V Comp ] ] ]

CP

Spec C’

C IP

Spec I’

I VP

Spec V’

V Comp
Alguns autores mais ou menos rigorosos acabam criando mais projeções, tanto internas
ao IP quanto correlatas ao IP. Sabemos, de fato, que o IP é dividido de AgrP e TP4 . Alguns
autores propõem as categorias InfP, GerP e PartP para as formas nominais do verbo. Não
vou adotar essas hipótese, porque, depois do trabalho de (Rizzi, 1997), o dever de indicar
se o verbo será conjugado ou não é do núcleo C, e não do I. Para todos os casos, estando
o verbo no infinitivo impessoal ou não, eu continuarei a empregar a estrutura CP-IP-VP.
Inclusive, vou adotar a hipótese, apresentada em (Chomsky, 2021), de que a negação (NegP)
é uma das estruturas internas do núcleo I. Portanto, quando houver negação verbal, o núcleo
já ingressará na sentença associado ao elemento negativo (não, nunca, etc.). Além disso,
adianto ao leitor que adoto aqui a hipótese proposta por (Abney, 2987): todo NP é domi-
nado por um DP, mesmo que não haja um determinante explícito. Dizemos, de maneira
bastante simplista, mas direta, que o DP é a projeção estendida do NP, assim como o IP
é a projeção estendida do VP. Ainda, para não incorrer em explicações muito profundas
por exemplo, o Caso (função sintática) e os diversos sentidos possíveis para a palavra caso.
3
Papel Temático é um tipo de traço. Traços são representados sempre com letras maiúsculas.
4
Ver (Mioto, 2018)

4
sobre a estrutura interna do DP, vou aceitar, para fins didáticos5 , a ideia de que os DPs são
recursivos, no sentido de que um DP pode tomar outro por complemento, naqueles casos em
que há “vários determinantes” no DP.

(2) Eu vi [DP todos [DP os [DP outros [DP dois [NP meninos ] ] ] ]

DP

D’

D DP

todos D’

D DP

os D’

D DP

outros D’

D NP

dois N’

meninos
Para todos os fins e efeitos, adianto ao leitor que, a menos que a estrutura interna do DP
seja imprescindível à interpretação de determinado trecho do texto, vou sempre simplificar
sua representação na estrutura sintática. Já assumimos que a estrutura básica da sentença
da oração é CP-IP-VP. Quando há um período composto por subordinação, o CP mais alto
da árvore (que equivale à chamada “oração principal” da gramática tradicional) é chamado
CP matriz. O CP da oração subordinada é chamado CP encaixado.
5
Digo que vou fazê-lo “para fins didáticos” porque, seguindo um determinado rigor teórico, isso não é
possível: o único determinante em [todos os outros dois meninos] é os: os demais elementos pertencem a
outras categorias que não vou apresentar aqui, porque não interessam ao escopo teórico de que vou me valer.

5
(3) João disse que Pedro comprou flores.

CP

C’

C IP

DPl I’

João I VP

disse tl V’

tk CP

C’

C IP

que
DPj I’

Pedro I VP

comprou tj V’

ti DP

flores
Ainda existem outras duas possibilidades de posição para o CP encaixado. Apresentei
agora aquela na qual o CP encaixado funciona como oração subordinada, ou seja, como ar-
gumento ou de um verbo, ou de um nome. O CP pode, ainda, figurar em posição de adjunto
ou de verbo, ou de nome. Primeiro, vou falar sobre o CP adjunto a verbo. Nesse caso, o CP
pode estar adjunto a VP, a IP ou a CP, e isso vai depender de seu valor circunstancial, como
propõe Ernst (2004). Como não pretendo aprofundar-me em questões teóricas muito densas,
vou assumir apenas os casos em que o CP é adjunto ao VP, que são mais simples de visualizar.

6
(4) Eu fechei a porta quando saí
CP

C’

C IP

DPj,l I’

eu
I VP

fechei
VP CP

tl V’ C’
tk DP
C IP
a porta
quando proj I’

I VP

saí tj V’

ti
O último caso que quero apresentar é o do CP adjunto de nome. Esse é o caso das
orações relativas. Adoto as propostas de (Tarallo, 1983) para afirmar que existem duas
possibilidades de análise. Na visão tradicional, as orações relativas são encabeçadas por um
pronome relativo, que nasce como um elemento interno à oração; em seguida, esse elemento
se eleva a [Spec, CP]6 .
(5) Análise tradicional:
a. [NP menino [CP C [IP eu conheci [VP t t [DP que]]]]]
b. [NP menino [CP C [IP eu conheci [VP t t [DP que]]]]]
Todavia, no português brasileiro contemporâneo, a fala espontânea apresenta registros
ínfimos desse uso. Em geral, o relativo que já nasce como núcleo C, e o elemento que é
apagado do CP encaixado é substituído por um pro.
(6) Análise contemporânea:
[NP meninoi [CP que [IP eu conheci [VP t t proi ]]]]
6
Neste trabalho, empregarei [Spec, XP] como “especificador de XP”, [Comp, XP] como “complemento de
XP” e [Adj, XP] como “adjunto de XP”.

7
Eu adotarei, em todas as análises, essa última proposta, por ser mais condizente com os
dados da fala espontânea. Portanto, a derivação do NP [menino que eu conheci] deve ser
feita desta forma:

NP

NP CP

N’ C’

Nk
C IP
menino
que
DPj I’

eu I VP

conheci tj V’

ti prok
Agora falarei brevemente sobre a coordenação. Imaginamos que a coordenação seja uma
operação sintática que gere estruturas “no mesmo nível”, estruturas parentéticas. Portanto,
uma ideia possível para a coordenação seria a seguinte (vamos supor que o “sintagma coor-
denativo” seja &P7 ):

(7) [João e Maria]

&P

DP & DP

João e Maria
Contudo, isso violaria o chamado Axioma da Correspondência Linear (LCA), proposto
por (Kayne, 1994). Não vou me aprofundar nesse tema agora, porque o entenderemos melhor
mais adiante. A questão é que, segundo o LCA, todas as representações sintáticas devem
ser obrigatoriamente binárias, o que forçaria haver as duas projeções sintagmáticas em &P,
estabelecendo-se uma certa hierarquia entre [João] e [Maria]. Alguns autores abrem mão
da binaridade nesse caso; outros não. Eu prefiro manter a binaridade, porque acredto que
o LCA seja um princípio sintático fundamental a várias questões principalmente de ordem
fonológica. Dessa forma, um caso como [João e Maria] deveria ser derivado da seguinte forma:

7
Existem várias formas de representar o sintagma coordenativos: CoordP, &P, CoP, etc. Vou empregar,
neste livro, &P.

8
&P

DP &’

João & DP

e Maria
Por fim, gostaria de falar sobre a predicação nominal e secundária. Existem várias pro-
postas para esse tipo de predicação. Alguns autores, como (Mioto, 2018), propõem haver
uma estrutura sintática especial para isso: a small clause (SC). Outros autores propõem que
existe um sintagma específico para isso, o PrP (ver (Citko, 2014)). Eu vou supor que essas
predicações são mediadas por um simples AP. Acredito que, didaticamente, é a análise mais
simples. Quando o AP enseja um predicativo, ele passa a ser um predicador e, consequen-
temente, seleciona um especificador, que funcionará, de certa forma, como um “sujeito” do
adjetivo. Existem três ocasiões especiais em que o AP funciona como predicativo. A primeira
(e mais óbvia) é quando ele funciona como complemento de verbo copulativo8 .

(8) Meu amigo é [AP t inteligente].

CP

C’

C IP

DPj I’

meu amigo I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

inteligente
O segundo caso no qual o AP pode aparecer é como complemento de um verbo tradicio-
nalmente chamado de transobjetivo. Trata-se daqueles verbos conhecidos por pedirem “objeto
direto e predicativo do objeto”: achar, julgar, ver, encontrar, etc. Nesse caso, o especificador
do AP fica in situ9 .
8
É possível representar o verbo copulativo de várias formas: Cop, VCOP, etc. Eu prefiro representá-lo
como um simples V; afinal, espero que o leitor já saiba quais são os verbos copulativos da língua.
9
Geralmente, na teoria sintática, “ficar in situ” significa “ficar na posição em que nasceu, sem se mover

9
(9) João achou a aula chata.

CP

C’

C IP

DPtj I’

João I VP

achou tj V’

ti AP

DP A’

a aula A

chata
Por fim, o último caso, talvez menos interessante a este trabalho, seja o caso em que o
AP gera um predicativo sem que haja um verbo transobjetivo ou copulativo. Nesse caso,
o AP funcionará como adjunto do VP, assim como os adjuntos adverbiais. Nesse caso, o
especificador será um pro com referente anterior na sentença.
para outra”. Veremos casos mais adiante em que um elemento pode ficar in situ ou mover-se, e isso é
interessante ao escopo teórico.

10
(10) As alunas contaram a história felizes.

CP

C’

C IP

DPj,k I’

as alunas
I VP

contaram
VP AP

tj V’ prok A’

ti DP A

a história felizes
Acredito que eu tenha apresentado um panorama geral da Teoria X-Barra, pelo menos
no que é necessário para o entendimento deste trabalho. Para explicações mais detalhadas,
recomendo ao leitor ver (Mioto, 2018).

1.2 LCA e C-comando


Agora vou retornar a alguns pontos anteriores. Vamos discutir mais profundamente o Axi-
oma da Correspondência Linear (LCA), proposto por (Kayne, 1994). De acordo com
esse axioma, todas as estruturas sintáticas devem ser binárias, e uma relação entre as cate-
gorias sintáticas vai determinar a ordem linear. Isso é uma questão fundamental na teoria
porque, quando a sintaxe deriva uma estrutura qualquer, não existe nenhum mecanismo in-
terno à maquinaria que aponte como deve ser a ordem dos elementos. Então, Kayne tenta
condicionar a ordem dos elementos às relações sintáticas que eles estabelecem. Primeiro,
devemos fazer distinção entre nós terminais e nós não terminais, ou entre categorias pro-
jetáveis e categorias não projetáveis. Nós terminais (ou categorias não projetáveis) são os
núcleos: dentro de um sintagma XP, X é um nó terminal, porque nada pode ser dominado
por ele. Os nós não terminais (ou categorias projetáveis) são aqueles que podem dominar
outros elementos, como o XP e o X’. Imaginemos que α, β e γ são nós terminais, e K, L e M
são nós não terminais.

11
(11) [K αβγ]

α β γ

(12) [K α[L β[M γ]]]

α L

β M

γ
Kayne defende que todas as estruturas sintáticas devem ser hierarquizadas como figura
em (12), e não como em (11). Existe uma questão empírica para isso. Não haveria nenhuma
maneira sintática ou fonológica de garantir que (11) fosse pronunciado como /αβγ/; poderia
ser pronunciado numa ordem não desejada, como /βαγ/. O leitor poderia se perguntar algo.
Mas, se a estrutura (11) fosse enviada à forma fonológica, não bastaria que o sistema lesse os
núcleos da esquerda para a direita? Na verdade, o sistema fonológico tenta fazer isso, mas
não há nada que garanta que a sintaxe vá projetar esses elementos na ordem certa. Como
que eu sei disso?
Espero que o leitor já tenha ouvido falar do chamado Parâmetro do Núcleo (caso não,
ver (Kenedy, 2021)). Esse parâmetro mostra que, em algumas línguas naturais, o núcleo é
projetado antes do complemento. É o caso da nossa língua: por exemplo, no português, é
normal que o verbo venha antes de seu complemento. Porém, em outras línguas (em geral,
com ordenamento padrão SOV), é esperado sintaticamente que o complemento seja projetado
antes do núcleo. Se isso é um parâmetro, então não é um princípio, isto é, não faz parte da
arquitetura gramatical, não faz parte da Gramática Universal (UG). Isso mostra que a sintaxe
não está preparada para lidar com ordem fonológica: isso é um papel da fonologia. Dessa
forma, Kayne tentou postular alguma mneira de garantir que a sintaxe enviasse à fonologia
uma informação que fosse lida da mesma forma, sem que houvesse o risco de, equivocamente,
um núcleo ser trocado de posição com outro.
Ele propôs, então, o LCA: uma tendência natural da interação entre sintaxe e fonologia.
Segundo esse axioma, a hierarquia define a ordem em que os elementos serão pronunciados.
Essa hierarquia é delimitada por uma relação chamada c-comando assimétrico. Imagine-
mos uma estrutura abstrata. Em seguida, apresento o conceito de c-comando.

12
(13) [XP [YP] X [ZP] ]

XP

YP X’

Y’ X ZP

Y Z’

(14) C-COMANDO: α c-comanda β se (i) α e β são irmãos ou (ii) o irmão de α domina


β

Esperamos que, em (13), a ordem em que os núcleos serão pronunciados seja /YXZ/.
Mas o que garante isso? Perceba que a definição de c-comando tem duas cláusulas: quando
α e β são irmãos, eles se c-comandam, portanto trata-se de c-comando simétrico; quando
α e β não são irmãos, mas α c-comanda β, há um c-comando assimétrico. Veja que, em
(13), YP é irmão de X’, e X’ domina X e Z; logo Y c-comanda X e Z. Como Y é o único
nó terminal de Y, fica claro que Y é pronunciado antes de X e de Z. X é irmão de ZP, ZP
domina Z, logo X c-comanda Z; por isso, X é pronunciado antes de Z. A partir dessas relações,
sabemos que Y é pronunciado antes de X, e X é pronunciado antes de Z; a ordem linear já
está definida, sem necessitar de nenhum recurso adicional nem da sintaxe, nem da fonologia.
É o que queríamos! Logo, podemos formalizar o LCA desta forma:

(15) LCA: Se α c-comanda β assimetricamente, então α será pronunciado antes de β.10

1.3 Estrutura Profunda e Estrutura Superficial


Na arquitetura gramatical que estamos propondo, a derivação sintática parte de um estágio
inicial, chamado Estrutura Profunda (DS). Depois que a derivação sintática começou, ela
alcança um estágio intermediário, chamado Estutura Superficial (SS). Depois, essa estrutura
é enviada às interfaces: a Forma Fonológica (PF) e a Forma Lógica (LF). O expediente
sintático começa na DS e termina na LF. SS é apenas o estágio sintático em que tudo que
foi construído é enviado à PF para ser pronunciado. Cada um desses níveis de representação
(DS, SS, LF, PF) apresenta um conjunto de critérios a serem satisfeitos. Vou apresentar os
critérios da DS e da SS. Os critérios da LF eu vou apresentar em outro momento (a Ligação é
justamente um dos critérios da LF). Os critérios da PF fazem jus à fonologia e não caberiam
neste manual.
A DS tem basicamente dois critérios a serem respeitados: as seleções categoriais e a atri-
buição de Papel Temático. Isso garante que as relações sintáticas na DS sejam locais, os
10
Essa não é exatamente a forma como Kayne formaliza o LCA, mas acredito que a forma como apresentei
seja a melhor adaptação didática possível neste caso.

13
argumentos de um núcleo X devem pertencer ao seu domínio (ou melhor, ao domínio do
XP). Na DS, se duas coisas têm algum tipo de ligação, elas devem aparecer “juntinhas”,
próximas. Além disso, como a DS é o primeiro estágio de derivação, não existe movimento
na DS, porque os movimentos só acontecem depois, em outros estágios.

(16) João é inteligente. (DS)

IP

I’

I VP

[pres.ind.], [3sg] V’

V AP

ser DP A’

João A

inteligente
Representei, em (16), a DS de uma sentença bem parecida com o que tínhamos visto
em (8). Perceba que todos os elementos que mantêm algum tipo de vínculo temático ou
selecional estão juntos. O adjetivo inteligente seleciona o DP [João]. Então, os dois ficam
bem próximos na estrutura. O AP funciona como complemento do verbo copulativo, então
os dois também ficam bastante próximos na estrutura. Perceba que, neste momento, não há
preocupação direta com a ordem linear em que os elementos sintáticos serão pronunciados:
o LCA só será satisfeito quando a estrutura for enviada à PF, isto é, quando chegar à SS.
Agora, vamos falar sobre a SS. Existe uma preocupação crucial na SS: como ela será
enviada à PF, seu ordenamento linear deve estar adequado, ou seja, a SS tem que respeitar
fielmente o LCA, porque aquela será a estrutura que será efetivamente pronunciada na PF.
Outra preocupação da SS é o Caso: nesse momento, todos os DPs já precisam ter recebido
seus devidos Casos sintáticos, mas isso nós discutiremos em outro momento. Como a SS está
preocupada com ordem linear — e, para ajustá-la, pode ser necessário mover elementos —,
já é natural que tenha havido movimentos.

14
Tabela 1.1: Resumo das estruturas
Estrutura Profunda (DS) Estrutura Superficial (SS)
- Seleção categorial e Papel Temático (Critério θ) - Caso (Filtro do Caso)
- Não respeita a ordem linear obrigatoriamente - Respeita a ordem linear
- Não há movimento - Pode haver movimento

(17) João é inteligente. (SS)

IP

DPj I’

João I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

inteligente
Agora representei a SS da mesma estrutura que estávamos analisando anteriormente. O
ordenamento linear está perfeito: [João] é pronunciado antes de [é], que é pronunciado antes
de [inteligente], exatamente como deve ser enviado à PF.O DP [João] recebeu Caso em [Spec,
IP]; para isso, foi necessário mover-se ciclicamente de [Spec, AP] para [Spec, IP]. Além disso,
V se moveu para adjungir-se a I. Os movimentos entre a DS e a SS são necessários e, portanto,
lícitos.

1.4 Papel Temático e Caso


Esse é, basicamente, o “ciclo reprodutivo” dos DPs: eles nascem, recebem Papel Temático,
recebem Caso e param. Como comentamos anteriormente, os Papéis Temáticos têm que ser
atribuídos na DS, ou seja, no primeiro estágio da derivação sintática. O Caso deve ser atri-
buído ao longo da derivação entre a DS e a SS. Existem elementos que, coincidentemente,
recebem Papel Temático e Caso na mesma posição, portanto não precisam mover-se para
receber Caso. Outros elementos não têm a mesma sorte: precisam mover-se para receber
Caso.

15
(18) João comprou flores.

IP

DPj I’

João I VP

comprou tj V’

ti DP

flores
O DP [flores] recebe Caso na mesma posição em que é projetado: o núcleo V lhe atribui
Papel Temático [TEMA], e o mesmo núcleo lhe atribui Caso Acusativo (ACC). Por outro
lado, o DP [João] foi obrigado a mover-se. Ele recebeu Papel Temático em [Spec, VP], e
depois elevou-se a [Spec, IP] para receber Caso Nominativo (NOM) do núcleo I. O esquema
de funcionamento é bastante simples. Na DS, atua o chamado Critério θ, que obriga que
todos os argumentos de núcleos lexicais recebam seus devidos Papéis Temáticos.

(19) CRITÉRIO θ: Todos os núcleos lexicais devem atribuir Papéis Temáticos diferentes
a cada um dos seus argumentos.

Isso significa que todo DP deve receber Papel Temático? Bem, pela definição diante da
qual estamos, a resposta parece ser não: qualquer XP que funcione como argumento de um
núcleo lexical deverá receber Papel Temático. Se um DP for argumento de um núcleo funci-
onal, ele não receberá Papel Temático. Existe alguma ocasião em que um DP funciona como
argumento de um núcleo lexical? Sim. É o fato que ocorre com o chamado sujeito expletivo.

(20) It rained (inglês)


EXPL chover.prét.perf.ind.3sg
’Choveu’

IP

DP I’

it ti VP

V’

rained

16
O elemento it é meramente expletivo, porque ele não tem nenhum valor semântico. Per-
ceba que “não ter valor semântico” equivale a não receber Papel Temático. Por que [it]
não recebeu Papel Temático? Porque ele entrou na oração diretamente como argumento do
núcleo I, que é funcional.
Por outro lado, a situação do Caso é um pouco diferente. O filtro que regula a atribuição
de Caso é o Filtro do Caso. Esse filtro é aplicável em SS.

(21) FILTRO DO CASO: Todo DP pronunciado deve receber Caso na SS.

Nesse caso, é garantido que o Filtro do Caso se aplica aos DPs, especificamente: se um
DP é pronunciado (ou seja, ele não é um pro, por exemplo), ele deve receber Caso até chegar
à SS. Para isso, pode ser necessário mover-se de uma posição à outra. Quando um DP recebe
Caso efetivamente, ocorre um fenômeno chamado congelamento (freeze). A movimentação
do DP fica bastante restrita: ele pode mover-se somente ao primeiro [Spec, CP] que o c-
comanda, se houver alguma motivação para isso. Entenderemos melhor essas questões – que,
aliás, têm relação bastante íntima com a Ligação – mais adiante.

1.5 Marcação de Papel Temático e de Caso


Agora vou falar sobre os mecanismos que possibilitam que um DP receba Papel Temático e
Caso. Alguns núcleos específicos têm a habilidade de atribuir Papel Temático; outros podem
atribuir Caso. Porém, existe uma questão importante que às vezes eu vejo confundir alguns
alunos. Existe, de fato, uma sistematização dos tipos de Papel Temático (agente, tema,
experienciador, objetivo, etc.) e dos tipos de Caso (nominativo, acusativo e oblíquo). A
sistematização dos Papéis Temáticos está relacionada com um estudo sobre as características
das funções semânticas que são atribuídas aos argumentos. A sistematização dos Casos tem
a ver com as formas fonológicas possíveis dentro da língua que são manifestadas pelo caso,
por exemplo: eu para o NOM, me para o ACC e mim para o OBL. Mas, no fim das contas,
a teoria sintática não está preocupada com os tipos de Papéis Temáticos e de Casos que são
atribuídos aos DPs: podemos chamar de papel 1, papel 2, papel 3... papel m e caso 1, caso
2, caso 3... caso n. O importante é que o DP receba Papel Temático (ressalvada a situação
de sujeito expletivo) e Caso, não impota quais são.
O Papel Temático é o mais simples de explicar: o núcleo lexical atribui Papel Temático a
seus argumentos, então é o núcleo que atribui os papéis diretamente a seus argumentos: se o
núcleo tiver um argumento, ele atribuirá um Papel; se tiver dois argumentos, atribuirá dois
Papéis, e assim sucessivamente.

17
(22) João comprou o bolo. (DS)

IP

I’

I VP

[prét.perf.ind.], [3sg]
DP V’

João V DP

comprar o bolo
O núcleo comprar é lexical e exige dois argumentos; por isso, atribui dois Papéis Te-
máticos: [AGENTE] ao seu especificador e [TEMA] ao seu complemento. Esses dois DPs
receberam seus respectivos Papéis Temáticos na DS, que é o esperado. Novamente, não é im-
portante para a sintaxe se os papéis são [AGENTE] e [TEMA]; podiam ser quaisquer outros.
O relevante mesmo é que os Papéis tenham sido atribuídos.
Em relação ao Caso, a atribuição é realizada por núcleos específicos. Existem dois tipos
de relação que permitem a atribuição de Caso: a relação Spec-Núcleo e a relação Núcleo-
Comp. O Caso Nominativo é atribuído pelo núcleo I ao especificador, ou seja, é licenciado
pelo primeiro tipo de relação (Spec-Núcleo).

(23) João comprou o bolo. (SS)

IP

DPj I’

João I VP

comprou tj V’

tI DP

o bolo
O fato de núcleos I não finitos não atribuírem Caso impede construções como esta:

18
(24) * João quer a Maria sair.

CP

C’

C IP

DPl I’

João I VP

quer tl V’

tk CP

C’

C IP

*DPj I’

Maria I VP

sair tj V’

ti
[João] recebe NOM normalmente do I finito quer, mas Maria fica sem Caso sintático,
porque funciona como especificador de um núcleo I infinitivo: sair.
O Caso Acusativo (ACC) é atribuído pelo núcleo V a seu complemento, em uma relação
Núcleo-Comp (como mostrei também no exemplo acima). Há uma única exceção: os verbos
inacusativos, que são incapazes de atribuir Caso. Além disso, o Caso Oblíquo (OBL) é atri-
buído pelo núcleo P a seu complemento, também em uma relação Núcleo-Comp.

19
(25) Minha mãe precisa de mim. (SS)

IP

DPj I’

minha mãe I VP

precisa tj V’

ti PP

P’

P DP

de mim
No exemplo acima, a preposição de atribui Caso OBL para o seu complemento [mim].
Os núcleos I (finito), V (com exceção dos inacusativos) e P são, pois, os atribuidores
canônicos de Caso. Existem alguns casos excepcionais de marcação de Caso. Vamos começar
pelos núcleos ECM (do inglês Exceptional Case Marker). Alguns núcleos V e P podem ser
ECM a depender do contexto. Os núcleos V e P canônicos atribuem Caso aos seus respectivos
complementos, a partir de uma relação Núcleo-Comp.

(26) [XP Spec X Comp ]

XP

Spec X’

X Comp
No exemplo acima, se X é um atribuidor V ou P canônico, X atribui um Caso K ao seu
complemento.
Porém, existe um subconjunto de núcleos especiais – nomeadamente os núcleos ECM –
que são capazes de atribuir Caso não ao complemento, mas ao especificador do complemento,
por assim dizer.

20
(27) [XP Spec XECM [YP ZP Y Comp ]]

XP

Spec X’

XECM YP

ZP Y’

Y Comp
Mas quais são esses núcleos ECM? Bem, existem verbos ECM e preposições ECM. Exis-
tem dois tipos de verbos ECM: de um lado, os tradicionalmente chamados de causativos e
sensitivos; de outro, os transobjetivos. Tradicionalmente, os verbos conhecidos como cau-
sativos são mandar, deixar e fazer; os verbos tradicionalmente conhecidos como sensitivos
são ver, ouvir e sentir; todavia, (Henriques, 2015) aponta que outros verbos também podem
gerar estruturas análogas, como esperar, aguardar, permitir, pressentir.

(28) Minha mãe me viu jogar bola.

IP

DP I’

minha mãe I VP

viu tj V’

tj VP

DP V’

me V DP

jogar bola
Como se pôde perceber, o núcleo V ver deveria ter atribuído ACC ao VP [me jogar
bola], porém, por tratar-se de um núcleo ECM, ele atribuiu ACC a [Spec, VP]. É por isso
que, naquela posição, ainda que [me] esteja em [Spec, VP], ele não assume a forma eu (com
Caso NOM); por ter recebido Caso ACC, o pronome assume a forma me. Outro caso de
verbo ECM são os verbos transobjetivos que vimos anteriormente. Eles selecionam um AP
como complemento, e o [Spec, AP] não se move para receber Caso, o que indica que o DP
que ocupa essa posição recebe Caso ACC diretamente do verbo. Vou apresentar um exemplo.

21
(29) Minha amiga me acha chato.
IP

DPj I’

minha amiga I VP

acha tj V’

ti AP

DP A’

me A

chato
Aqui valem os mesmos comentários do exemplo anterior. O núcleo V, em vez de atribuir
ACC a AP, atribuiu-o a [Spec, AP]. É por isso que o pronome me assume essa forma, e não
eu.
Antes de passar ao próximo tópico, quero fazer ressalva quanto às estruturas que eu acabei
de representar. Elas estão na DS ou na SS? Na verdade, elas estão no meio do caminho etre
a DS e a SS. Por quê? Porque o [me] é um clítico, então ele deve mover-se a V. A seguir, vou
representar a última estrutura (Minha amiga me acha chato) passo a passo. Vamos primeiro
construir o domínio da estrutura profunda.

IP

I’

I VP

[pres.ind.], [3sg]
DP V’

minha amiga V AP

achar DP A’

me A

chato

22
Agora, vamos derivar essa sentença, passo a passo, até chegarmos à SS. Primeiro, o clítico
[me] deve se juntar ao núcleo V.

IP

I’

I VP

[pres.ind.], [3sg]
DP V’

minha amiga V AP

me achar ti A’

chato
Em seguida, o núcleo V deve ser elevado a I.

IP

I’

I VP

me acha
DP V’

minha amiga tj AP

ti A’

chato
Por fim, o DP [minha amiga] deve ser movido a [Spec, IP], para que receba Caso Nomi-
nativo e se torne o sujeito da sentença, satisfazendo EPP.

23
IP

DPk I’

minha amiga I VP

me acha tk V’

tj AP

ti A’

chato
Pronto. Essa é a verdadeira SS da sentença que acabamos de analisar. Como o meu
objetivo naquele momento era estudar o Caso, achei mais interessante deixar o clítico in situ.
Mas aí está a explicação sobre como eles funcionam.
Em relação às preposições ECM, elas estão mais ligadas a uma variação regional. No
geral, as preposições podem ser ECM para algumas pessoas, mas não para outras; para mim,
por exemplo, elas não o são. Vou apresentar um exemplo de preposição ECM.

24
(30) Meu amigo me ajudou [para mim sair do sufoco].

IP

DPk I’

meu amigo
I VP

me ajudou
VP PP

tk V’ P’
tj DP
PECM VP
DP
DP V’
ti
mim V PP

sair P’

P DP

de o sufoco
Muitos falantes podem julgar degradada essa sentença, entendendo-se que o mais ade-
quado seria “Meu amigo me ajudou para eu sair do sufoco”. Porém, o dado com mim é
corrente em português brasileiro e é analisado, na teoria gerativa, da maneira como apre-
sentei. A sentença com eu (que acabei de apresentar) é o caso em que a preposição não é
ECM.
Um último caso que ainda resta explicar é o dos verbos inacusativos. Se os verbos inacu-
sativos não atribuem ACC, como que seu argumento recebe Caso? Imaginemos a derivação
abaixo.

(31) Derivação com inacusativo:


a. [IP chegou [DP uma carta]]

25
b. [IP [DP uma carta]i chegou ti ]

IP

DPj I’

uma carta I VP

chegou V’

ti tj
Acredito que esse mecanismo seja bastante simples. Por ser inacusativo, o DP [uma carta]
surge inicialmente em [Comp, VP]. Ele recebe Papel Temático, mas não Caso nessa posição,
porque o núcleo V é inacusativo. Então, o DP simplesmente se movimenta de [Comp, VP] a
[Spec, IP], a fim de receber o Caso Nominativo do núcleo I. Um leitor pode acabar se per-
guntando o seguinte. Quando um elemento se move, ele deve sempre executar movimentos o
mais curtos possível. Então, não seria necessário que o DP que está em [Comp, VP] primeiro
se movesse a [Spec, VP] para, em seguida, elevar-se a [Spec, IP]. Não. O Princípio da An-
tilocalidade (Boskovic, 1994) proíbe que um complemento de um sintagma se movimente
para a posição de especificador do mesmo sintagma.

(32) [XP YPi X ti ]

*XP

YPi X’

X ti
Além disso, existe um outro problema que precisa ser explicado. Existe a possibilidade
de o complemento do verbo inacusativo ficar in situ. Como que o Caso é atribuído nessa
situação?

(33) [IP proi chegou [DP uma carta]i ]

IP

proj I’

I VP

chegou V’

ti DPj

uma carta

26
Sabemos que a posição [Spec, IP] não pode ficar vazia devido ao Princípio da Projeção
Estendida (EPP). Então, insere-se um pro nessa posição, à semelhança do que ocorre com
os verbos impessoais. Porém, neste caso, esse pro vai estabelecer uma relação expletivo-
associado com o DP complemento do verbo. Dessa forma, o pro, que está em [Spec, IP],
recebe Caso Nominativo do núcleo I e o transmite ao DP [uma carta]. O Cas é transmitido
do expletivo ao seu associado. A isso se convencionou chamar Hipótese da Transmissão
de Caso (cf. (Mioto, 2018). Vale ressatar que isso não é nada inovador ou exclusivo do
português: no inglês, o expletivo there também pode estabelecer relação expletivo-associado
com algum DP interno e transmitir-lhe Caso Nominativo.
(34) [IP therei is [DP a man]i in the room]
Nesse exemplo, [a man] está em [Spec, VP], uma posição sem Caso. Porém, esse DP
recebe Caso pelo pro que lho transfere.

1.6 Teoria do DP
Nos próximos tópicos, tenho a intenção de explicar um pouco melhor a estrutura interna de
três categorias sintagmáticas: o DP, o IP e o CP. Alguns fatos que exporei aqui, já expliquei
antes, mas certamente valerá a releitura. Um grande trabalho sobre a organização e a sintaxe
do DP foi o de (Abney, 1987). Nos primeiros de Chomsky com determinantes, entendia-se
que o nome selecionavao determinante, e não o contrário.

(35) [o menino bonito]


NP

D N A

o menino bonito
A partir do trabalho de Abney (e das propostas de Kayne sobre a hierarquia binária da
árvore sintática), houve uma atualização nessa ideia. Vejamos alguns exemplos:
(36) Semântica do determinante:
a. [o menino]
b. [um menino]
c. [ø menino]
Devemos perceber um fato. Na gramática tradicional, ”o”é chamado artigo definido,
enquanto ”um”é artigo indefinido. Ambos estão relacionados a uma noção que chamamos
de definitude. Quando utilizamos [o menino] em algum contexto de fala, fazemo-lo porque
a entidade à qual essa expressão se refere está mais saliente no contexto (ou seja, é algum
menino que o ouvinte vai conseguir recuperar no contexto). Quando, porém, a intenção é
acrescentar uma nova personagem à história ou ao discurso, usa-se o artigo indefinido, uma
vez que ele é menos definido, isto é, exige menos saliência no discurso.

27
O que acontece, então, quando nós simplesmente removemos o artigo (como no terceiro
exemplo anterior)? Imaginamos que, se uma determinada palavra P está associada ao traço
[T], então, quando removemos P, o traço [t] também desaparece. O artigo está ligado ao
traço [definitude]. Quando removemos o artigo, a noção de definitude desaparece? Não.
Sabemos nitidamente que [ø menino] é mais indefinido que [um menino]. Logo, Abney propôs
que, como a noção de definitude não desparece quando o artigo é removido, então sempre
haverá um artigo dominando um nome, mesmo que esse artigo seja nulo. Então, há três tipos
de ”artigo”, por assim dizer: o artigo definido, o indefinido e o nulo. Quando há um núcleo
nulo em um sintagma, representamo-lo por e (do inglês empty)11 .
Porém, apenas os artigos podem indicar definitude? Os gramáticos se deram conta de
que os artigos não podem coocorrer com alguns outros elementos sintáticos específicos, como
(i) os pronomes demonstrativos adjetivos e (ii) os pronomes interrogativos adjetivos12 .

(37) Pronome demonstrativo adjetivo:


a. Você viu [aquele menino]?
b. *Você viu [aquele o menino]?
(38) Pronome interrogativo adjetivo:
a. [Que menino] você viu?
b. *[Que o menino] você viu?

Portanto, propôs-se a categoria dos determinantes, que não é nada nova na literatura
e já foi proposta anteriormente por autores estruturalistas. Os determinantes são, pois,
os artigos e quaisquer outras palavras que ocupam a mesma posição do artigo. Para fins
de comparação com a gramatica tradicional, os determinantes são as categorias conhecidas
como artigos, pronomes demonstrativos adjetivos e pronomes interrogativos adjetivos.
Eu havia afirmado, anteriormente, que vou considerar determinantes neste trabalho todo
tipo de artigo, pronome ou numeral adjetivo. Apresentei, inclusive, o exemplo [todos os
outros dois [meninos]]. Mas, na verdade, os determinantes são apenas as palavras que eu
apresentei anteriormente. Imagino que o leitor interessado seja curioso por conhecer as de-
mais categorias. Existem, além dos determinantes D e dos nomes N, os quantificadores Q e
os numerais Num. Uma estrutura preliminar para o DP em português é esta:
11
Eu o representei como ø porque acredito que essa notação é mais universal na linguística para ”elemento
vazio”. A partir de agora, quando eu representar um núcleo nulo, usarei a notação e: [e menino]
12
Ainda incluo neste grupo o pronome relativo cujo, mas faço ressalva quanto a ele porque não é mais
corrente seu uso no português falado espontaneamente.

28
(39) [todos os dois meninos]

QP

Q’

Q DP

todos D’

D NumP

os Num’

Num NP

dois N’

meninos
Existem algumas questões relativas a cada uma dessas categorias. Por exemplo, existe
um fenômeno chamado quantificador flutuante. Às vezes, o DP pode desprender-se do QP e
deixá-lo sozinho. Vou mostrar um exemplo.

29
(40) Quantificador flutuante:
a. Estavam [todos [os alunos]] interessados na aula.
b. [Os alunos]i estavam [todos ti ] interessados na aula.

IP

DPk I’

os alunos I VP

estavam tk V’

ti AP

QP A’

Q’
A PP
tk
interessados P’

P DP

em a aula
Novamente, não vou me aprofundar nessas questões, porque elas não importam muito
à teoria que pretendo expor aqui. Para todo os fins e efeitos, representarei os núcleos não
nominais (numerais, quantificadores, etc.) como determinantes também. Isso pode acabar
provocando alguns problema para a teoria (relativos ao Filtro do Caso), mas acho que essa
perda teórica será útil à didática do texto.
Nós devemos perceber também que o determinante é uma categoria funcional, porque
apenas seleciona elementos de acordo com a sua categoria (o que chamamos de c-seleção;
ver (Mioto, 2018)). Vou tecer algum comentário sobre esse tipo de categoria na arquitetura
gramatical. Quando uma categoria funcional sempre seleciona uma mesma categoria lexical
(como é o caso do DP), dizemos que ela é uma projeção estendida. Então, o DP é
uma projeção estendida do NP. Se o leitor já tem conhecimento de Teoria X-Barra, ele
deve perceber que categorias funcionais no geral selecionam apenas complemento, mas não
especificador13 .
13
Até onde eu saiba, há uma única exceção: o sintagma coordenativo, &P

30
DP

D’

D NP

N’

N
Por que é interessante, para a teoria gerativa, que haja categorias funcionais dentro da
estrutura sintática? Como as categorias funcionais no geral selecionam apenas complemento,
elas vão deixar sempre as posições de especificador em aberto, ou seja, vazias. As posições
vazias são importantes, porque elas licenciam o movimento. Quando um sintagma se move,
ele deve mover-se para uma posição vazia; geralmente, as posições vazias são criadas por
categorias funcionais. Inclusive, é por isso que categorias funcionais no geral ficam mais altas
na árvore, enquanto as lexicais ficam mais baixas.
Imaginemos que, na estrutura profunda, as palavras A e B aparecem nesta ordem: /AB/;
porém, na pronúncia da sentença, a ordem que aparece é /BA/. Como garantir que B seja
pronunciado antes de A? De alguma forma, é necessário que B se mova para antes de A
na cadeia sintática (ou seja, na estrutura superficial, B deve estar antes de A). Uma das
maneiras de garantir que isso aconteça é por meio de uma categoria funcional F, para a qual
B possa se mover14 .

(41) [FP F [AP A [BP B ]]] (DS)

FP

F’

F AP

A’

A BP

B’

(42) [FP [BP B ]i F [AP A ti ]]15 (SS)


14
Faço a ressalva de que, na teoria sintática, os movimentos de sintagma são sempre efetuados da direita
para a esquerda, então não seria possível, no exemplo que eu indiquei, que A se movesse ”para a frente”de B.
15
Vale lembrar que não é permitido, nesse caso, o movimento de BP a [Spec, AP], por causa do Princípio
de Antilocalidade (Boskovic, 1994). Aliás, (Citko, 2014) faz interessante comentário sobre a antilocalidade
aplicada ao DP: como existe um certo mistério quanto à estrutura interna do DP (que parece ser bastante
complexa), não há por que imaginar que a antilocalidade proibiria um movimento de dentro do DP para
fora dele. Se nós simplesmente supusermos que existe uma categoria funcional XP entre o DP e o NP, a

31
FP

BPi F’

B’ F AP

B A’

A ti
No DP, essa questão do movimento não fica tão clara, porque, no potuguês, não existe
movimento para [Spec, DP]. Existem algumas línguas nas quais existe elemento em [Spec,
DP], e ele pode mover-se para fora do DP, por exemplo o Húngaro. Apresento, a seguir, um
exemplo de (Gavruseva, 2000), citando (Szabolcsi, 1994).

(43) Csak Mari látta [DP Péternek a kalapjá]


’Peter’.dat only Mari saw the ’hat’.poss.3sg.acc
(44) Péterneki , csak Mari látta [DP ti a kalapjá]

Existe também uma outra hipótese, que vamos explorar melhor em outro momento: o
PRO no [Spec, DP]. Essa é a proposta de (Quicoli, 2008):

(45) The childreni heard [DP PROi stories about each otheri ]

1.7 Teoria do IP
Os primeiros trabalhos a tratarem do IP e das suas respectivas subdivisões foram (Chomsky,
1981) e (Pollock, 1989). Na verdade, o IP é uma estrutura mnemônica que guarda várias
outras estruturas internas. Vamos entender agora qual é a motivação de cada uma dessas
estruturas. A primeira divisão do IP parece bastante óbvia. O verbo tem dois tipos de flexões:
a de tempo e modo e a de número e pessoa. Alguns alunos podem pensar que isso tem a
ver com a estrutura padrão dos verbos conjugados (que possuem duas desinências: a número
pessoal, DNP, e a modo-temporal, DMT). Na verdade, essas duas flexões têm características
bastante diferentes.
A flexão de tempo e modo está relacionada a uma característica própria da autonomia
da oração: uma sentença só pode ser produzida se ela estiver situada no tempo.

(46) * Nós sairmos cedo.


(47) Nós saímos cedo.

O primeiro exemplo acima é agramatical porque ”sairmos”é uma forma infinitiva, e o


infinitivo não é marcado com tempo (tanto é que sua estrutura morfológica é formada por
radical, vogal temática, uma desinência verbonominal de infinitivo e a DNP; não há DMT).
antilocalidade já não seria violada. Isso mostra que essa questão da antilocalidade e a das categorias funcionais
são complementares: a definição de antilocalidade pode ser útil a depender das categorias funcionais que você
considera em sua pesquisa.

32
Além disso, a noção temporal, pelo menos em português, não pode ser codificada por ne-
nhuma outra categoria além do verbo.
O leitor pode imaginar que essa condição não se aplique a línguas sem flexão (como a
própria libras). Na verdade, nós imaginamos que o IP seja a projeção estendida do VP,
portanto, mesmo que em uma língua essa informação não tenha manifestação morfológica,
o núcleo I existe. É a mesma ideia do Caso abstrato: os DPs visíveis recebem Caso, mesmo
que ele não seja manifestado morfologicamente.
O que quero dizer é que a flexão de tempo e modo é uma condição semântica necessária
para que uma sentença possa ser superficializada. Essa flexão é codificada por uma categoria
que domina imediatamente o VP: o TP (do inglês Tense Phrase).
Esse estatuto da flexão do TP é completamente diferente da flexão de número e pessoa.
Devemos perceber que a flexão de número e pessoa não é uma condição necessária à superfi-
cialização da sentença. Na verdade, a flexão de número e pessoa do verbo não tem nenhum
valor semântico propriamente dito, porque ele simplesmente copia os traços de número e pes-
soa do elemento que se torna sujeito em [Spec, IP]. A flexão de número e pessoa é codificada
pelo AgrP (do inglês Agree Phrase).
A última categoria importante do IP é a negação. Pollock, 1989 se dedicou bastante à
negação na gramática gerativa. Não vou me aprofundar muito em suas conclusões, porque
não são interessantes à teoria que estamos construindo neste momento. Em Chomsky, 2021,
Chomsky retoma suas ideias para mostrar que a negação gera uma categoria independente:
o NegP. Mas o grande problema para a teoria é que não se sabe exatamente onde esse NegP
deveria ser inserido na sentença: ele deve ficar abaixo do TP, entre o TP e o AgrP ou acima do
AgrP? Sem adentrar em questões teóricas muito profundas, o NegP não poderia ficar abaixo
do TP, porque romperia esse vínculo imediato e necessário entre o TP e o VP. O NegP não
poderia ficar acima do AgrP, porque isso seria problemático para o Caso sintático: seria
exigido que o DP sujeito se movesse a [Spec, NegP] mesmo depois de já ter sido congelado
(uma vez que recebeu Caso em AgrP). Então, propôs-se que o NegP fica entre o TP e o AgrP.
Apresento a seguir a estrutura do IP cindido, com base no que acabei de expor.

AgrP

Agr’

Agr NegP

Neg’

Neg TP

T’

T VP
Antes de encerrarmos este tópico, quero tecer comentário sobre o TP. Imaginamos que
todas as orações apresentam a estrutura CP-IP-VP (e, consequentemente, o TP aparece aí no
meio). Portanto, existem os TPs finitos (ou seja, aqueles nos quais o verbo está efetivamente
conjugado em um tempo e em um modo), e existem os TPs não finitos (nos quais o verbo está

33
em forma nominal). Cada forma nominal tem o seu conjunto de propriedades idiossincráticas
(que creio poderem ser inferidas pelo leitor em grande parte), mas vou comentar o infinitivo.
Quando T é [inf.], ele não satisfaz a condição de que sentenças sejam situadas no tempo,
justamente porque o infinitivo não é um tempo. Então, orações com TP infinitivo só podem
pertencer a um CPencaixado.
Acredito que isso não seja novidade para nenhum leitor. A questão aqui é que existe uma
diferença estrutural entre o infinitivo flexionado e o infinitivo não flexionado. Vejamos dois
exemplos:

(48) Os alunos saíram para pro estudar/ estudarem mais.


(49) Os alunos são capazes de PRO tirar/* tirarem boa nota.

Na primeira sentença, é perfeitamente possível empregar estudar ou estudarem, indife-


rentemente. Entendemos, então, que o infinitivo é flexionado, porque aceita concordar com
o antecedente do pro. Por outro lado, não é possível empregar tirarem na segunda frase,
simplesmente porque esse tipo de construção não aceita a flexão do infinitivo, ainda que
seja óbvio que o PRO se refira a [os alunos]. Nós entenderemos melhor essas questões em
outro momento. O fato é que, quando o infinitivo é não flexionado, ele não tem AgrP. Sua
estrutura, portanto, contém apenas o TP (o TP e o NegP, se houver partícula negativa).

1.8 Teoria do CP
Um dos primeiros trabalhos a estudar o CP foi Chomsky, 1986. Contudo, a partir da pro-
posta de Rizzi, 1997, já se sabe que o CP é, na verdade, uma estrutura mnemônica, que
engloba muitas outras estruturas internas (ForceP, TopP, FocP, FinP), que podem ser ati-
vados a depender da estrutura. Todavia, como essas posições não interessam à construção
da profundidade teórica que pretendo apresentar aqui, vou tratar o CP como uma unidade,
sem cindi-lo de nenhuma forma.
O CP é uma posição especial, comumente chamada de periferia da sentença. Nessa
posição, podem ocorrer diversos fenômenos especiais. Você deve perceber – talvez em uma
visão mais comparativa – que a gramática tradicional mostra vários tipos de operações que só
acontecem na periferia da sentença, mesmo que não faça alusão a essa posição diretamente.
Por exemplo, sabemos que elementos interrogativos no geral podem se mover para a esquerda,
independentemente da posição na qual deveriam estar: ”Você viu quem?”, ”Quem você viu
t?”. Porém, esse elemento interrogativo pode mover-se a outras posições? Não. ”Você quem
viu? (?)”. Em inglês, auxiliares interrogativos se movem à esquerda: ”Did you see the
movie”. Isso mostra que essa posição, em várias línguas naturais, é bastante especial. Neste
tópico, vou apresentar alguns dos casos possíveis em que pode aparecer algum elemento em
[Spec, CP].
Vou mencionar quatro casos mais elementares. O primeiro dele é para estruturas in-
terrogativas. Existem quatro tipos de interrogativas nas línguas naturais. As sentenças
interrogativas podem ser polares ou WH. Interrogativas polares são aquelas que aceitam so-
mente sim ou não como resposta; em português, elas geralmente resultam da mudança de
padrão prosódico a partir de uma sentença declarativa standart. As interrogativas WH, por
outro lado, aceitam múltiplas respostas (aliás, não aceitam sim ou não como resposta). As

34
interrogativas WH, diferentemente das polares, apresentam um elemento WH sobre o qual
recai o foco da pergunta.
(50) Você vai sair hoje?
(51) Quem você viu na festa?
A primeira interrogativa é polar, porque não existe nenhum elemento WH nela, e as
únicas respostas lógicas possíveis são sim ou não. A segunda já é uma interrogativa WH,
porque há um elemento WH (quem), que permite múltiplas respostas (Rafael, Pedro, o aluno
que estuda comigo, etc.). Porém, as interrogativas também podem ser diretas ou indiretas.
Os dois exemplos que eu apresentei acima são de interrogativas polar e WH diretas, ou
seja, interrogativas cujo núcleo interrogativo pertence ao CP matriz. Nos exemplos que eu
apresentei, não há dúvida de que a interrogação recai sobre o CP matriz, porque, em ambos,
há apenas um CP (que é, pois, o matriz). Quando, contudo, o traço interrogativo recai
sobre o núcleo C de um CP encaixado, há o que se chama interrogativa indireta. As
interrogativas polares indiretas são introduzidas pelo complementador se. As interrogativas
WH indiretas apresentam elemento WH normalmente.
(52) Não sei se você vai sair hoje.
(53) Não sei quem você viu na festa.
O nosso foco, neste momento, são as interrogativas WH (diretas e iniretas), porque é
nelas que ocorre o chamado Movimento WH, que permite que um elemento WH saia de sua
posição de origem e se eleve a [Spec, CP]. Vamos retornar aos exemplos com interrogativa
WH direta. Em português, é possível que o elemento WH fique na posição em que ele rece-
beu Caso (é o chamado WH in situ), ou pode mover-se a [Spec, CP]. Ainda, é possível que
um elemento WH espeja dentro do CP encaixado, mesmo que a sentença seja interrogativa
direta. Nesse caso, caso ele execute Movimento WH, ele deverá elevar-se até o CP matriz.16

(54) Você viu quem?


CP

C’

C IP

[q] DPj I’

você I VP

viu tj V’

ti DP

quem
16
Para representar o traço interrogativo, (Chomsky, 2021) usa a notação [Q]. Vou continuar a usá-la neste
trabalho.

35
(55) Quem você viu?

CP

DPk C’

quem C IP

[q] DPj I’

você I VP

viu tj V’

ti vblk

(56) João disse que Pedro viu o quê?

CP

C’

C IP

[q] DPl I’

João I VP

disse tl V’

tk CP

C’

C IP

que DPj I’

Pedro I VP

viu tj V’

ti DP

o quê

36
(57) O que você disse que Pedro viu?

CP

DPk C’

o que
C IP

[q]
DPm I’

João I VP

disse tm V’

tl CP

vblk C’

C IP

que DPj I’

Pedro I VP

viu tj V’

ti vblk
Você deve ter percebido que, quando o elemento WH está dentro de um CP encaixado, ele
não pode elevar-se diretamente ao [Spec, CPmatriz]: ele deve primeiro elevar-se ao [Spec,
CPencaixado], para depois chegar ao [Spec, CPmatriz]. Isso se deve ao que se consagrou
chamar Condição de Subjacência (Mioto, 2018).

(58) CONDIÇÃO DE SUBJACÊNCIA: Um elemento sintático não pode atravessar


mais de uma barreira por ciclo, sendo barreiras o DP e o CP.

O conceito de Barreira é amplamente discutido até hoje na teoria; hoje o seu conceito
está muito mais aprimorado, calcado na Teoria das Fases (Citko, 2014). Vamos assumir que
as barreiras sejam o CP e o DP. Se o DP [o que], que pertence ao CPencaixado, ele deverá
passar por ambos os [Spec, CP] se deseja chegar ao CPmatriz. A Condição de Subjacência
é importante porque relaciona vários fatos da gramática que podem parecer “dispersos” num
primeiro momento. Vou tentar mostrar alguns princípios norteadores à ideia que constitui
essa Condição. Primeiro, por que o DP não pode elevar-se diretamente da posição em que
recebeu Caso até o [Spec, CPmatriz]? Imaginemos uma interrogativa WH formada por dois

37
elementos WH.

(59) João disse que quem viu o quê?

CP

C’

C IP

[q] DPl I’

João I VP

disse tl V’

tk CP

C’

C IP

que DPj I’

quem I VP

viu tj V’

ti DP

o quê
Essa sentença é perfeitamente gramatical. Porém, se tentarmos executar o Movimento
WH de qualquer forma, haverá problemas.

(60) * Quemi João disse que ti viu o quê?


(61) * O quei João disse que quem viu ti ?

Acontece que, como o traço [q] está ativo e há dois elementos WH, eles ”competem”pela
mesma posição. Então, em interrogativas com dois ou mais elementos WH, eles ficam in situ,
obrigatoriamente.
Por fim, existe um fenômeno chamado Restrição de Ilha WH, ou Condição sobre Do-
mínios de Extração (CDE) (Huang, 1982). Na verdade, a Restrição sobre Ilhas WH é um
pouco mais leve do que a CDE: a primeira cria uma restrição válida apenas para os adjuntos;
a segunda, generaliza as suas consequências aos especificadores também, com base na teoria
de (Kayne, 1994). Vou apresentar uma versão didática da CDE abaixo:

38
(62) Sejam duas categorias XP e YP, tal que YP é especificador ou adjunto de XP. Seja
ZP uma categoria dominada por YP. Não é possível que ZP se movimente para fora
do domínio de YP.

Vejamos algum exemplo:

(63) Movimento de elemento interno a especificador:


a. [WP W [XP [YP Y ZP] X]]
b. *[WP ZPi W [XP [YP Y ti ] X]]

*WP

ZPi W’

W XP

YP X’

Y’ X

Y ti

(64) Movimento de elemento interno a adjunto:


a. [ZP Z [XP [XP [YP Y WP] ] X]]
b. *[ZP WPi Z [XP [XP [YP Y ti ] ] X]]

*WP

ZPi W’

W XP

YP XP

Y’ X’

Y ti X
Com base nisso, existe outro caso em que o elemento WH in situ é obrigatório: quando
ele pertence ao domínio de um especificador ou de um adjunto. Os casos com adjunto são
mais comuns na literatura. Analise o seguinte exemplo:

39
(65) Movimento de elemento WH em adjunto:
a. Você saiu porque quem chegou?
b. * Quemi você saiu porque ti chegou?

*CP

DPj C’

quem
C IP

[q]
DPl I’

você
I VP

saiu
VP PP

tl V’ P’

tk P CP

por vblj C’

C IP

que vbl I’
j

I VP

chegou V’

ti tj
Na sentença acima, o último movimento de [quem] não é licenciado, porque ele sai do
[Spec, CPadjunto] até o [Spec, CPmatriz]. Mas, se o CP encaixado é adjunto, então nada
pode escapar a seu domínio. A sentença é agramatical porque [quem] saiu do domínio do CP
encaixado na posição de adjunto.
Antes de passarmos ao próximo tópico, saliento outras duas funções do CP, além de in-
dicar perguntas: a topicalização e a focalização. A topicalização permite que um elemento
esteja em [Spec, CP], como tópico dessa sentença, ligado a um elemento interno ao IP.

40
(66) A Mariai , eu não gosto delai .

CP

DPk C’

a Maria
C IP

[top]
DPj I’

eu I VP

não gosto tj V’

ti PP

P’

P DPk

de ela
No caso da focalização, um elemento interno à sentença se eleva a [Spec, CP] para funci-
onar como foco da sentença.

(67) O boloi , a Maria comeu vbli .

CP

DPk C’

o bolo
C IP

[foc]
DPj I’

a Maria I VP

comeu tj V’

ti vblk

41
1.9 Fenômenos do Inglês
Antes de encerrarmos este capítulo, eu gostaria de apresentar alguns fenômenos morfossintá-
ticos do inglês que são interessantes e são registrados na Gramática Gerativa. Obviamente,
apresentarei esses fatos em visão contrastiva com o inglês. Os três fenômenos que vou apre-
sentar aqui podem ser encontrados dispersos em (Chomsky, 2021).
O primeiro fenômeno é a satisfação do Princípio da Projeção Estendido (EPP). É
importante, antes de apresentar o fenômeno, frisar esse conceito. O que é o EPP?

(68) PRINCÍPIO DA PROJEÇÃO ESTENDIDO: A posição [Spec, IP] deve estar


sempre preenchida.

Esse princípio garnte que toda sentença possua sujeito, sem ressalvas. Se a posição de
[Spec, IP] é a posição do sujeito, então, de acordo com o EPP, todas as sentenças têm sujeito.
Todavia, há uma questão a ser considerada. Imagino que o leitor que conhece gramática
tradicional deva estar um pouco confuso. Ora, existem, em português, sentenças sem sujeito!
Na verdade, essas sentenças ”sem sujeito”têm um sujeito oculto: o pro.

(69) pro Choveu muito hoje.

Entretanto, diferentemente do português, o inglês não consegue inserir um pro em [Spec,


IP] para satisfazer EPP. Ele dispõe de um outro mecanismo: o expletivo. O inglês possui um
sustema com dois expletivos: o there e o it.

(70) It is raining.
EXPL está chovendo.
(71) There is a man in the room.
EXPL está um homem na sala.

Então, o inglês possui dois mecanismos standart de satisfação do EPP: o primeiro é o que
acabamos de ver, a inserção de um sujeito expletivo. O segundo é a conhecida elevação, que
também existe no português: é possível elevar um DP interno à oração para [Spec, IP] a fim
de satisfazer EPP.

(72) Dois mecanismos de satisfação de EPP no inglês:


a. There is a man in the room. (inserção de expletivo)
b. [John]i is ti happy. (elevação de DP)

O segundo fato sobre o inglês é a flexão verbal. Sabemos que, em português, o núcleo
V sempre se eleva a I para receber suas flexões. Mas, no inglês, é a flexão I que desce para
anexar-se ao verbo em alguns casos. Por quê? Existe um exemplo que mostra isso:

42
(73) João perdeu completamente a noção. (português)

IP

DPj I’

João
I VP

perdeu
AdvP VP

Adv’ tj V’

Adv ti DP

completamente a noção

(74) John completely lost his sense. (inglês)

IP

DPj I’

John
I VP

ti
AdvP VP

Adv’ tj V’
Adv lost DP
completely his sense
Acontece que, em inglês, advérbios como ”completely”são pré-verbais. Mas, se refletirmos
sobre a posição do advérbio em relação ao verbo, perceberemos que, se a flexão não descer,
não haverá outra forma de explicar como esse advérbio fica antes do verbo (e não depois).
Para justificar esse fato, (Chomsky, 2021) propõe que o IP possui uma outra projeção AgrP
entre o TP e o VP: o Agro P (inclusive, o AgrP superior é o Agrs P17 ).

17
Isso tem relação com o sujeito (s) e o objeto (o). Acontece que, em algumas línguas, o verbo concorda
com o objeto, e não com o sujeito. Para explicar isso, Chomky se vale do Agrs P (para concordância com
sujeito) e do Agro P para concordância com objeto.

43
Agrs P

Agrs ’

Agrs NegP

Neg’

Neg TP

T’

T Agro P

Agro ’

Agro VP
A partir dessa hipótese, Chomsky propõe que o Agro P em inglês possui uma restrição
temática inexistente em línguas como o português: em inglês, o Agro P não exige que seja
elevado um verbo lexical. Como há esse impedimento, o sistema gramatical força a descida
do núcleo I para que o afixo seja anexado ao verbo. No português, não existe essa restrição
temática com o Agro P, logo o verbo V pode elevar-se normalmente em qualquer contexto.
O último fenômeno que quero ressaltar são as interrogativas polares diretas. No português,
essas interrogativas são formadas apenas por uma alteração no padrão prosódico da sentença,
sem alterar-lhe a constituição fonêmica.

(75) Interrogativas polares diretas em português:


a. João chegou cedo.
b. João chegou cedo?

Por outro lado, em inglês, ocorre um fenômeno largamente reconhecido na literatura como
do-support. Um auxiliar do aparece para reforçar a interrogativa.

(76) Interrogativas polares diretas em inglês:


a. John came early.
b. Did John come early?

Mas, sintaticamente, o que aconteceu aí? Em inglês, o traço interrogativo [q] é um afixo
que força a elevação do núcleo I quando não há elemento WH que o satisfaça. Então, esse
do, na verdade, foi elevado de V a I e, depois, de I a V.
Preciso fazer duas ressalvasnesse caso. Por que esse verbo pode elevar-se de V a I?
Como eu havia dito anteriormente, verbos lexicais não são elevados a I em inglês. Porém,
quando o verbo é funcional (como é o caso dos auxiliares e dos copulativos), eles são elevados
normalmente de V a I, sem problema nenhum. Inclusive, no exemplo que eu havia mostrado
anteriormente (John completely lost his sense), se o verbo fosse have lost em vez de lost, a
derivação seria feita de outra forma:

44
(77) John have completely lost his sense.

Perceba que, nesse caso, fica claro que o have foi elevado, mas o lost não. Porém, outra
pergunta é a seguinte: onde entra esse outro verbo. Quando há verbo auxiliar, geralmente
representamo-lo como um VP selecionando outro VP. Alguns autores representam auxiliares
como AuxP; outros, como VAUX P. Vou empregar aqui a notação VAUX P.

(78) Did John come early?

CP

C’

C IP

did DPj I’

John tk VAUX P

tj VAUX ’

ti VP

VP AdvP

tj V’ Adv’

V Adv

come early
Faço uma última ressalva aqui. O leitor já deve ter percebido que, quando eu represento
um movimento de núcleo, apenas indico o vestígio na posição de origem, mas nunca no des-
tino. Na verdade, o movimento de núcleo é um pouco complexo, porque um núcleo não se
movimenta a uma posição vazia: ele se junta a outro núcleo. Então, a representação mais
adeequada para o movimento de núcleo (chamado de Head Movement) seria esta. Imagine-
mos uma representação genérica como esta:

45
XP

X’

X YP

Y’

Y ZP

Z’

Z
Agora, imaginemos que houve movimento de Z para Y. Nesse caso, ocorre uma adjunção
(sim, à semelhança do que acontece com os XPs). Isso significa que o Y será duplicado, para
que haja uma posição na qual o Z possa ser inserido. O vestígio que será deixado na posição
de origem estará ligado a esse Z adjungido.

XP

X’

X YP

Y’

Y ZP

Zi Y Z’

ti
Por fim, imaginemos que seja necessário elevar Y a X. Ocorrerá basicamente o mesmo
processo: Y será movido a uma posição de adjunto de X, e o vestígio se referirá a ele.

XP

X’

X YP

Yj X Y’

Zi Y tj ZP

Z’

ti
Então, de fato, se quiséssemos representar mais formalmente a sentença que estávamos
construindo anteriormente (Did John come early?), deveríamos derivar a sentença desta

46
forma:

CP

C’

C IP

DPj I’
Ik C
John tk VAUX P
[q]
VAUXi I tj VAUX ’
do [prét.perf.], [3sg]
ti VP

VP AdvP

tj V’ Adv’

V Adv

come early
Apenas mais um exemplo curioso sobre o que acabamos de estudar: como seria represen-
tado o núcleo I [me deixa]?18

V I

Prn V [pres.ind.], [3sg]

me deixar
Existem várias questões que fazem o movimento de núcleo ser complicado. Por questões
didáticas, vou continuar a adotar o modelo de representação que eu estava usando até este
momento.

1.10 Exercícios
1. Represente as seguintes sentenças na estrutura profunda (DS). Não simplifique os DPs.
Indique todas as categorias vazias necessárias e seus respectivos índices.
18
A representação dos pronomes na teoria gerativa não é pacífica entre os autores. Estou usando a repre-
sentação de (Radford, 2004), que eu julgo ser a mais simples.

47
(a) João não sabe a verdade.
(b) Meu amigo gosta de sintaxe.
(c) Viajaremos de carro.
(d) O menino que eu conheci vai pensar em mim. (Neste caso, é permitido simplificar
os DPs [eu] e [mim] apenas.)
(e) Os dois alunos disseram que não entenderam o conteúdo.
(f) Quem você acha que é bonito? (Neste caso, é permitido simplificar os DPs [você]
e [quem] apenas.)

2. Retorne ao exercício anterior e indique os elementos que atribuíram Papel Temático e


os que receberam esses Papéis Temáticos.

3. Represente as seguintes sentenças na estrutura superficial (SS). Não simplifique os DPs.


Indique todas as categorias vazias necessárias e seus respectivos índices.

(a) Joana sabe qual aluno reprovou?


(b) João passou na prova porque é muito interessado na matéria.
(c) O Vinícius, eu vi dar aula de física na semana passada.
(d) Qual aluno que Pedro disse que achou inteligente?
(e) Uma encomenda chegou mais cedo.
(f) Choveu muito no fim de semana na cidade dos meus pais.

4. Retorne ao exercício anterior e indique os elementos que marcaram Caso e os que


receberam Caso.

5. Aponte o fato que torna agramatical cada uma das sentenças abaixo. Imagine que essas
sentenças são descontextualizadas. Não suponha nenhuma categoria vazia.

(a) * João pôs o livro.


(b) * Pedro sabe o conteúdo ser difícil.
(c) * Qual menino João disse que Pedro viu Maria?
(d) * João completamente perdeu a noção.
(e) * Quem Maria disse que comprou o quê?
(f) * Nadou o João na piscina.

6. Identifique o problema nas estruturas abstratas a seguir.

(a) Primeira estrutura:

48
XP

WPi X’

X YP

ZP Y’

ti Z’ Y

Z
(b) Segunda estrutura:
*XP

ZPi X’

X YP

ti Y’

Y ti
7. Explique, passo a passo, a passagem das seguintes sentenças da DS à SS.

(a) João pediu dinheiro.


(b) Mateus dormiu sobre a mesa.
(c) Maria é esforçada.

8. Explique, com suas palavras, o funcionamento das três categorias vazias que estudamos
até agora: o vestígio t, a variável vbl e o pronome vazio pro.

9. Imagine que tenha sido pedido a um aluno um conjunto de representações arbóreas.


Comparando a instrução passada ao aluno e a estrutura efetivamente representada,
aponte o defeito que torna a representação incorreta.

(a) Represente a estrutura profunda de ”João é inteligente.”. Ignore o CP. É permitido


simplificar os DPs, se houver.

49
IP

I’

I VP

[pres.ind], [3sg] DP V’

João V AP

ser A’

inteligente
(b) Represente a estrutura superficial de ”Maria me viu.”. Ignore o CP. É permitido
simplificar os DPs, se houver.
IP

DP I’

Maria I VP

DP V’

me V

viu
(c) Represente a estrutura superficial de ”Chegou uma encomenda.”. Ignore o CP. É
permitido simplificar os DPs, se houver.
IP

I’

I VP

chegou V’

V DP

ti uma encomenda

10. Apresente estruturalmente características que diferem as interrogativas polares e as


interrogativas WH.

50
11. Explique sintaticamente por que as preposições assumem estatutos temáticos diferentes
(ou seja, ora são lexicais, ora são funcionais) a depender da posição em que aparecem.
Indique quais são as posições nas quais a preposição é lexical e em quais ela é funcional.

12. Por que não existe um isomorfismo completo entre o movimento de núcleo e o movi-
mento de sintagma?

13. Explique sintaticamente por que o seguinte movimento não é possível na teoria gerativa:
[Joãoi disse ti [que ti está ti doente]]. Represente a estrutura superficial dessa sentença
para embasar sua justificativa.

14. Para cada uma das afirmativas abaixo, indique se ela é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) ( ) Em português, se houver algum DP em [Spec, VP] na estrutura profunda, ele


sempre será elevado a [Spec, IP] na estrutura superficial.
(b) ( ) Em português, o elemento que aparece em [Spec, VP] na estrutura profunda
sempre se tornará o sujeito da oração na estrutura superficial, enquanto o elemento
que aparece em [Comp, VP] na estrutura profunda sempre se tornará o objeto
(direto ou indireto) da oração na estrutura superficial.
(c) ( ) Em português, se um DP é complemento de um PP, o DP não pode mover-se
para fora do domínio do PP.
(d) ( ) A marcação excepcional de Caso só pode ser efetuada por alguns núcleos V e
P específicos. Nenhum núcleo I pode fazer marcação excepcional de Caso.
(e) ( ) Para receber Caso, todo DP visível (ou seja, pronunciado) deve se mover a
uma posição em que ele possa ser recebido.
(f) ( ) Todo DP, visível ou não, deve receber Papel Temático.

15. Faça uma lista com todos os princípios, filtros, restrições, condições e critérios que você
aprendeu neste capítulo, seguidos de suas respectivas definições.

Os gabaritos de todas as questões estão no fim deste livro.

51
Capítulo 2

Movimento sintático

2.1 Argumentos e Adjuntos


Antes de falarmos sobre posições argumentais, é necessário revermos algumas questões teóri-
cas sobre os adjuntos. Já vimos que todo núcleo projeta, no sentido de que ele cria projeções
que recebem os seus argumentos. Os núcleos lexicais selecionam argumentos em relação à
categoria e aos Papéis Temáticos. Os núcleos funcionais selecionam argumentos apenas de
acordo com as suas instruções de seleção categorial. Todavia, é possível que um determinado
sintagma precise receber um adjunto; então é criada uma projeção adicional dentro de seu
domínio, por meio da duplicação da projeção máxima. Já vimos algumas estruturas represen-
tadas com essa notação; ela não é novidade para nós. Da mesma forma que emprego [Spec,
XP] para o “especificador de XP” e [Comp, XP] para o “complemento de XP”, utilizarei
[Adj, XP] para o “adjunto de XP”.

(1) [XP Adj [XP Spec X Comp]]


XP

Adj XP

Spec X’

X Comp
Neste momento, não estou preocupado exatamente com a semântica dos adjuntos, ou
algo nesse sentido; estou preocupado com as suas propriedades sintáticas. Primeiro, há uma
restrição de movimento em relação aos adjuntos; chama-se Restrição de Movimento de
Ilha.
(2) RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DE ILHA: Os adjuntos não podem
mover-se, senão a [Spec, CP].
Isso significa, simplificadamente, que os adjuntos não podem se mover a nenhuma outra
posição. Existem casos especias em que um adjunto pode mover-se a [Spec, CP], em geral
quando ele é representado por um elemento WH.

52
(3) João não disse [CP ondek Pedro viu Maria vblk ].1

IP

DPm I’

João
I VP

não disse tm V’

tl CP

AdvPk C’

Adv’
C IP
Adv
[q]
DPtj I’
onde
Pedro
I VP

viu
VP vblk

tj V’

ti DP

Maria
Com exceção desse único caso, não é possível que um adjunto seja movido. As gramáticas
tradicionais fazem entender que adjuntos adverbiais têm a habilidade de “serem deslocados
livremente” dentro da sentença. Apresento abaixo um exemplo desse tipo de “movimento”.

(4) Movimento de adjunto adverbial na gramática tradicional:


a. Meu amigo saiu da sala [rapidamente].
b. Meu amigo saiu [rapidamente] da sala.
c. Meu amigo [rapidamente] saiu da sala.
d. [Rapidamente], meu amigo saiu da sala.

Na sintaxe gerativa, não é possível o movimento de adjuntos. Então, somos obrigados


a acreditar que, em cada um dos exemplos acima, o advérbio [rapidamente] foi projetado
1
Faço aqui a ressalva de que a negação, para nós, faz parte de uma das contrapartes do núcleo I. O IP,
como vimos, é uma estrutura mnemônica, formada internamente por pelo menos outros três sintagmas: TP,
NegP e AgrP.

53
em posições diferentes, de formas diferentes. Não há uma posição original, da qual todos os
outros foram movidos. A posição na qual um adjunto é inserido é a posição na qual ele deve
permanecer.
Além disso, existe outra propriedade na posição de adjunção. Os adjuntos não são argu-
mentos, justamente porque os argumentos devem ser selecionados pelo núcleo do sintagma.
Adjuntos são posições “criadas” em um sintagma para que possa ser inserido um novo ele-
mento semanticamente motivado. Sabemos que um núcleo lexical atribui Papel Temático a
seus argumentos. Se o adjunto nunca é argumento de um núcleo, então nenhum adjunto
recebe Papel Temático. Vimos, também, que existem dois tipos de relação que licenciam a
atribuição de Caso: a relação Spec-Núcleo e a relação Núcleo-Comp. Se o adjunto é uma
posição que não é nem Spec, nem Comp, então não há a possibilidade de que o adjunto
receba Caso. Reunindo essas informações, podemos concluir que a posição de adjunção não
recebe Papel Temático nem Caso.

2.2 DP como Adjunto


Vejamos o exemplo abaixo.

(5) * João abriu o pote a mão.

IP

DPj I’

João
I VP

abriu
VP DP

tj V’ a mão
ti DP

o pote
Por que essa estrutura é agramatical? O problema é patente. Como a posição de adjun-
ção não recebe Papel Temático, o DP [a mão] fica sem Papel Temático. Vimos que os únicos
DPs que podem ficar sem Papel Temático são os expletivos, portanto isso é uma violação
ao Critério Θ. Além disso, como a posição de adjunção não recebe Caso, o DP [a mão] fica
sem Caso, o que viola o Filtro do Caso. É por isso que não há, em português, adjuntos
adverbiais formados apenas por DP. É necessário inserir um elemento que satisfaça essas
condições; é a preposição.

54
(6) João abriu o pote com a mão.

IP

DPj I’

João
I VP

abriu
VP PP

tj V’ P’

ti DP P DP

o pote com a mão


Agora, a sentença é perfeitamente gramatical, porque a preposição P é lexical, portanto
atribui Papel Temático do DP [a mão] e também consegue atribuir o Caso Oblíquo para ele.
Existe um único caso no qual vamos considerar que o DP funcione como adjunto (e,
mesmo assim, com algumas ressalvas): quando o DP funciona como aposto. Vejamos a se-
guinte sentença:

(7) Paulo, o linguista, é inteligente.2

IP

DP1j I’

I VP
DP1 DP2
é tj V’
Paulo o linguista
ti AP

tj A’

inteligente
Nesse caso, assumiremos que o DP funciona como aposto. Então, como ocorre sua atri-
buição de Caso. Baseando-me no trabalho de (Alqarni, 2022), eu, em (Gandulfo, 2023),
2
Eu inseri DP1 e DP2 para mostrar, nesse caso, que [o linguista] é adjunto de [Paulo], e não o contrário.

55
propus que o DP apositivo recebe Caso por concordância. Certamente existe concordância
entre o aposto e o elemento que ele modifica; isso fica claro em casos neste tipo de sentença:

(8) Rozana, professora de sintaxe, dá aula na pós-graduação.

É evidente que o nome professora concorda em gênero e número com Rozana. Se fosse
Paulo, o aposto seria professor de sintaxe. Na sintaxe, a operação Agree (concordância)
licencia vários tipos de transmissão, numa visão mais densa da teoria. Eu propus que o
Caso (Nominativo) é recebido por concordância. Não vou me aprofundar nesse caso; vamos
assumir que essa seja uma estrutura genérica para o aposto. Faço aqui o comentário de que
a posição de aposição não recebe Papel Temático. É mais um dos casos em que a ausência
de Papel Temático ao DP é possível.

2.3 Posições Argumentais


A partir de agora, adentraremos em questões mais profundas relativas à Teoria da Ligação.
Primeiro, preciso que o leitor se recorde do esqueleto básico da oração: CP-IP-VP. Um DP
que apareça dentro de uma oração pode estar em várias posições: [Spec, CP], [Spec, IP],
[Spec, VP], [Comp, VP], [Comp, PP], etc. Abaixo, vou apresentar um diagrama abstrato,
que não representa nenhuma sentença da língua: ele apenas mostra várias posições possíveis
nas quais um DP pode aparecer.

CP

DP C’

C IP

DP I’

I VP

VP PP1

DP V’ P’

P DP
V’ PP2

V DP P’

P DP
Imaginemos que cada uma dessas posições sintáticas possa receber dois traços: o traço
temático [θ] e o traço casual [K]. Se uma posição sintática recebe Papel Temático (qualquer

56
que seja), ela é [+ θ]; senão, ela será [– θ]. Se uma posição sintática recebe Caso (qualquer
que seja), ela é [+ K]; senão, ela é [– K]. Vamos, então, sistematizar os traços dessas posições,
partindo-se do pressuposto de que essa é uma sentença canônica (com V lexical e I finito).

• [Comp1 , VP] (DP): Essa posição é [+ θ], porque recebe Papel Temático do núcleo
V. Essa posição também é [+ K], porque ela recebe Caso (ACC) do mesmo núcleo (V).

• [Comp, PP1 ]: Essa posição é [+ θ], porque recebe Papel Temático do núcleo V. Essa
posição também é [+ K], porque recebe Caso (OBL) do núcleo P.

• [Spec, VP]: Essa posição é [+ θ], porque recebe Papel Temático do núcleo V. Porém,
essa posição é [– K], porque não há núcleo que atribua Caso canonicamente àquela
posição.

• [Comp, PP2 ]: Essa posição é [+ θ], porque recebe Papel Temático do núcleo P. Essa
posição também é [+ K], porque recebe Caso (OBL) do mesmo núcleo (P).

• [Spec, IP]: Essa posição é [– θ], porque pertence ao domínio do núcleo I, que é funci-
onal. Porém, essa posição é [+ K], porque recebe Caso (NOM) do núcleo I.

• [Spec, CP]: Essa posição é [– θ], porque pertence ao domínio do núcleo C, que é
funcional. Essa posição também é [– K], porque não há núcleo que atribua Caso
canonicamente àquela posição.

Com base nessas propriedades temáticas e casuais das posições sintáticas, Chomsky
propôs o conceito de Posição Argumental. A partir de agora, dividiremos todas as posi-
ções sintáticas em Posições-A (que são as posições argumentais) e Posições-Ā3 (que são as
posições não argumentais). Antes de explicar melhor quais são essas posições, vou apresentar
o conceito cunhado em Chomsky, 2021:

(9) POSIÇÃO-A: Uma Posição-A é qualquer posição temática real ou potencial.

A partir da definição, já conseguimos inferir, facilmente, que toda posição temática é


argumental obrigatoriamente. De fato. Portanto, todas as posições que nós dissemos serem
[+ θ] são, também, [+ A] (ou seja, são Posições-A, Posições Argumentais). Na verdade, eu
peço atenção à terminologia neste caso: não é à toa que a Posição Argumental se chama
assim. Fizemos oposição, anteriormente, entre argumentos e adjuntos. Posições Argumentais
são aquelas onde entram elementos que foram pedidos por um núcleo, do ponto de vista
semântico. Pelo menos é a ideia inicial. Então, todas as posições temáticas (que são as
posições de argumentos de núcleos lexicais) são, nesse sentido, argumentais. Porém, existem
posições que não são temáticas, mas posições temáticas em potencial. O que isso significa,
exatamente?
Sabemos que a posição de [Spec, IP] não é temática, porque o núcleo I é puramente
funcional, logo ele é incapaz de atribuir Papel Temático. Contudo, essa posição é temática
em potencial, porque é muito comum (praticamente obrigatório) que um elemento temático
se mova para lá. Vamos lembrar que o DP que está em [Spec, VP], que é uma posição
3
Leia-se ”Posição A-barra”.

57
temática, geralmente se move para [Spec, IP]. Então, podemos entender, de certa forma,
que o [Spec, IP], é uma extensão de [Spec, VP]: ele está ”pronto”para receber um elemento
temático. Por outro lado, [Spec, CP] não é uma posição na qual esperamos que haja algum
DP. Um DP pode mover-se para lá, mas apenas se houver algum tipo de motivação (nos
casos que vimos anteriormente, como interrogativa, focalização, etc.). Portanto, o [Spec, IP],
mesmo não sendo uma posição temática, é uma Posição-A, porque é uma posição temática em
potencial; por outro lado, [Spec, CP] não é uma posição temática nem sequer em potencial,
logo é uma Posição-Ā.
Há um outro fato a ser mencionado sobre essas posições. Nos tópicos anteriores, eu
desenvolvi a ideia de argumento e adjunto. Chegamos à conclusão de que a posição de
adjunção não possui Papel Temático nem Caso4 . Além disso, a posição de adjunção também
não pode ser ”temática em potencial”, porque ela nem sequer é esperada na sentença; ela só
surge quando há alguma necessidade motivada semanticamente. Portanto, na representação
arbórea que estávamos estudando há pouco, o [PP2 ] (ou [Adj, VP]) também é uma Posição-
Ā. Não estudamos essa posição, porque estávamos analisando apenas os DPs, mas esse fato
será importante posteriormente.
Agora, vamos retornar às posições que estudamos anteriormente, e vamos dizer quais são
A e quais são Ā.

• [Comp1 , VP] (DP): Essa posição é [+ θ], logo é [+A ].

• [Comp, PP1 ]: Essa posição é [+ θ], logo é [+ A].

• [Spec, VP]: Essa posição é [+ θ], logo é [+ A].

• [Comp, PP2 ]: Essa posição é [+ θ], logo é [+ A].

• [Spec, IP]: Essa posição é [– θ], mas é temática em potencial, logo é [+ A].

• [Spec, CP]: Essa posição é [– θ] e não é temática em potencial, logo é [- A].

• [Adj, VP] = PP: Essa posição é [– θ] e não é temática em potencial, logo é [- A].

Creio que o leitor pode acabar se perguntando sobre estruturas com outros sintagmas
além desses. Vou apresentar, pois, um exemplo mais prático com outras estruturas. O leitor
não deve ”decorar”quais são as Posições-A e Ā, mas sim entender como podemos encontrá-las.
4
Ressalto aqui que a posição de adjunção não tem um Caso canônico. Existem mecanismos que permitem
que os elementos internos à posição de adjunto recebam Caso, como a inserção de uma preposição ou a
concordância, como vimos também nos tópicos anteriores.

58
(10) Roberto vai ser chato. (SS)
CP

C’

C IP

DPi I’

Roberto I VAUX P

vai ti VAUX ’

tj VP

ti V’

V AP

ser ti A’

chato
Agora vou comentar algumas posições específicas:
• [Spec, AP]: Essa posição é [+ θ], inclusive porque o DP [Roberto] recebeu Papel
Temático nessa posição. Portanto, se essa posição é [+ θ], ela certamente é [+ A].
• [Spec, VP]: Essa posição é [– θ], porque esse verbo é copulativo. Os verbos copulativos
são funcionais, logo não atribuem Papel Temático. Porém, essa posição é temática em
potencial, porque ela sempre está apta a receber o DP do [Spec, AP], que passará por
[Spec, VP] para chegar ao [Spec, IP], onde receberá Caso. Portanto, essa posição é [+
A].
• [Spec, VAUX P]: Essa posição é [– θ], porque esse verbo é auxiliar. Os verbos auxiliares
são funcionais, logo não atribuem Papel Temático. Porém, essa posição é temática em
potencial, porque ela sempre está apta a receber o DP do [Spec, VP], que passará por
[Spec, VAUX P] para chegar ao [Spec, IP], onde receberá Caso. Portanto, essa posição é
[+ A].
Perceba que todas as posições ”novas”para nós (ou seja, que nós não havíamos classificado
ainda) são Posições-A. Essa será, no mais das vezes, a consequência a que o leitor chegará
sempre, porque a maioria das posições vazias são criadas para permitir o movimento de um
DP ao [Spec, IP]. Então, nós adotaremos que existem somente duas Posições-Ā: o
[Spec, CP] e qualquer posição de adjunção. Todas as outras posições são Posições-A.

59
2.4 Considerações sobre o Movimento Sintático
2.4.1 Movimento de Sintagma
Agora, vou tecer alguns comentários sobre o movimento sintático no geral. Existem dois
tipos de movimento (como nós já havíamos visto no capítulo anterior): o movimento de
núcleo (chamado Head Movement) e o movimento de sintagma. Vamos primeiro entender
um pouco mais sobre o movimento de sintagma. No tópico anterior, quando eu mencionei
os primeiros passos do movimento, afirmei que qualquer movimento, na sintaxe, deve ser o
mais curto possível. Isso impede certos tipos de derivações sintáticas, como esta:

(11) João é bonito.

IP

DPj I’

João I VP

é V’

ti AP

tj A’

bonito
Na derivação que eu acabei de representar, dá-se a entender que o DP [João] moveu-se
diretamente de [Spec, AP] a [Spec, IP], ”pulando”[Spec, VP]. De fato, na teoria gerativa,
esse tipo de movimento não é licenciado, porque os movimentos sintáticos são sempre curtos.
Essa é a premissa. Mas, quando eu descrevi o Movimento WH, mostrei que é permitido este
tipo de movimento:

60
(12) Quem você viu?

CP

DPk C’

quem C IP

[q] DPj I’

você I VP

viu tj V’

ti vblk
Isso parece confrontar o que eu havia dito anteriormente, porque, a partir dessa represen-
tação, parece que o DP [quem] se moveu de [Comp, VP] diretamente a [Spec, CP], executando
um movimento muito maior que os outros. De fato, é isso que acontece. Mas, se a premissa é
que todos os movimentos sintáticos são curtos, por que esse tipo de movimento é permitido?
Agora nós vamos usar o conceito de Posição-A e Ā a nosso favor.
Basicamente, a sintaxe enxerga as Posições-A e Ā como se elas pertencessem a ”univer-
sos”diferentes. Ou a sintaxe enxerga somente Posições-A, ou ela enxerga somente Posições-Ā.
Quando um elemento sintático pretende mover-se a uma Posição-A, ele deve escolher, para
o movimento, a primeira Posição-A que o c-comande, satisfazendo a premissa de que os
movimentos sintáticos são curtos. Quando um elemento sintático pretende mover-se a uma
Posição-Ā, ele também deve escolher a primeira Posição-Ā que o c-comande, satisfazendo a
premissa de que os movimentos sintáticos são curtos.
Então, o leitor deve perceber, a partir dessa análise que eu apresento, que todos os
movimentos sintáticos são curtos, mas a sintaxe enxerga diferentemente as Posições-A e
as Posições-Ā. Quando um elemento se eleva a uma Posição-A, ele está executando um
movimento curto dentro do universo das Posições-A; quando um elemento se eleva a uma
Posição-Ā, ele executa um movimento curto dentro do universo das Posições-Ā.
Vou apresentar, a seguir, três derivações didáticas. Na primeira, mostro todas as posições
que nós, em nossos estudos, conseguimos enxergar.

61
(13) Todas as Posições-A e Ā:

CP

ā C’

IP

a I’

VP

a V’

CP

ā C’

IP

a I’

VP

a V’

CP

ā C’

IP

a I’

VP

a V’

(...)

62
(14) Quando a sintaxe enxerga apenas as Posições-A:

IP

a I’

VP

a V’

IP

a I’

VP

a V’

IP

a I’

VP

a V’

(...)

63
(15) Quando a sintaxe enxerga apenas as Posições-Ā:

CP

ā C’

CP

ā C’

CP

ā C’

(...)
Quando um elemento vai executar movimento para Posição-A, a sintaxe enxerga apenas
as Posições-A. Quando ele vai executar movimento para uma Posição-Ā, ela só enxerga as
Posições-Ā. Na sentença que eu apresentei como exemplo anteriormente (Quem você viu?),
ocorrem dois movimentos de sintagma: o primeiro é o do DP [você] para [Spec, IP], uma
Posição-A; o segundo, do DP [quem] para [Spec, CP], uma Posição-Ā. Vou tentar mostrar
como esses movimentos acontecem. Primeiro, vamos voltar alguns estágios: o DP [você]
se movimenta logo depois de o verbo V ter se elevado a I. Vou representar esse estágio da
derivação.

CP

C’

C IP

[q] I’

I VP

viu DP V’

você ti DP

quem

64
Nesse momento, o próximo passo é [você] elevar-se a [Spec, IP]. Esse elemento vai execu-
tar, pois, um movimento para uma Posição-A. Portanto, a sintaxe só vai conseguir enxergar
as Posições-A. Basicamente, como a sintaxe está voltando todas as suas atenções às Posições-
A, é isto que ela consegue enxergar:

IP

a I’

VP

DP V’

você DP

quem
Obviamente, a única Posição-A disponível é [Spec, IP]. Então, como a sintaxe só vê essa
posição, para ela, o movimento mais curto é esse.

IP

DPj I’

você VP

tj V’

DP

quem
Agora, sabemos que o DP [quem] pretende executar um movimento para uma Posição-Ā.
Quando ele vai executar um movimento para uma Posição-Ā, a sintaxe passa a enxergar
apenas as Posições-Ā. Portanto, a partir desse momento, é isto que ela enxerga:

CP

ā C’

DP

quem

65
Se a sintaxe só consegue enxergar o DP [quem] e a única Posição-Ā da sentença, é para
lá que o DP se move.
CP

DPk C’

quem

vblk
É por isso que a estrutura superficial da sentença é esta:

CP

DPk C’

quem C IP

[q] DPj I’

você I VP

viu tj V’

ti vblk
Agora, como que a sintaxe sabe se um DP vai realizar movimento para Posição-A ou para
Posição-Ā? Você, leitor, lembra que eu havia feito a metáfora do ciclo reprodutivo do DP?
Ele nasce, recebe Papel Temático, recebe Caso e fica congelado. O Congelamento só se
aplica ao movimento para Posições-A: o movimento para Posições-A serve unicamente para
garantir que um DP se desloque de uma posição temática a uma posição casual. Depois
que o DP recebe Caso, ele não pode mais executar movimento para Posições-A. Contudo,
quando o DP recebe Caso, passa a ser permitido o movimento para Posições-Ā, desde que
haja algum tipo de motivação adicional (o DP é WH, ou deve estar focalizado, etc.).
Então, retornemos à pergunta: como que a sintaxe sabe se um DP vai realizar movimento
para Posição-A ou para Posição-Ā? Simples: se o DP estiver numa posição casual, significa
que ele já recebeu Caso; se ele já recebeu Caso, ele só pode executar movimento para Posições-
Ā. Dessarte, existe uma espécie de algoritmo para determinar que tipo de movimento um
DP vai efetuar: se o DP ainda não recebeu Caso, ele deve fazer movimento para Posição-A;
se ele já recebeu Caso, ele pode executar movimento para Posição-Ā. Vale ressaltar que,
independentemente do movimento que for executado, ele sempre deve ser o menor possível:
se o DP for executar movimento para Posição-A, ele deve elevar-se à primeira Posição-A que
o c-comanda; se o DP for executar movimento para Posição-Ā, ele deve elevar-se à primeira
Posição-Ā que o c-comanda. Se a primeira Posição-A ou Ā que c-comanda o DP não estiver
vazia, o movimento fica impedido.
Agora, podemos compreender a tipologia dos movimentos. Existem dois tipos de Movi-
mento: o Movimento-A e o Movimento-Ā. O Movimento-A é o movimento executado

66
por um sintagma de uma Posição-A para outra Posição-A. O Movimento-Ā é o movimento
executado por um sintagma de uma Posição-A ou Ā para uma Posição-Ā. Não existe Mo-
vimento de Posição-Ā para Posição-A, porque, como vimos, o Movimento para Posição-A
só serve para recebimento de Caso; se um elemento está em Posição-Ā, significa que ele já
recebeu Caso. Um último detalhe importante. O Movimento-A sempre deixa, na posição de
origem, um vestígio (t); o Movimento-Ā deixa, na posição de origem, uma variável (vbl).
Antes de passar ao próximo tópico, quero comentar um fenômeno correlato ao Movimento
denominado Pied-Piping. Sabemos que o DP precisa receber Papel Temático e Caso e, para
isso, pode ser necessário realizar Movimento. Agora, peço que você relembre a ideia que eu
apresentei na Teoria do DP: os quantificadores do tipo todo geram uma categoria sintagmá-
tica especial: o QP.

(16) [QP todos os alunos]


QP

Q’

Q DP

todos D’

D NP

os N’

alunos
Agora, vamos avaliar dois casos especiais de Pied-Piping. Veja a derivação da seguinte
sentença.

(17) Todos os alunos saíram.


IP

QPj I’

Q’ I VP

Q DP saíram tj V’

todos os alunos ti
É evidente que o QP [todos os alunos] se moveu de [Spec, VP] a [Spec, IP], porque
o DP precisa receber Caso. Tudo bem, mas por que o QP foi movimentado junto com

67
o DP? Por que o DP não se moveu sozinho (nesse caso, a frase seria ”Os alunos saíam
todos”; o leitor pode tentar representar essa estrutura sozinho). Na verdade, isso é possível.
Quando o quantificador fica sozinho, e o DP se move sem ele, ocorre um fenômeno chamado
quantificador flutuante. Mas por que é permitido que o QP se eleve junto com o DP? Na
verdade, isso varia de língua para língua. No português, o quantificador e o determinante
apresentam um vínculo bastante íntimo, de modo que o movimento de um force o arraste
de outro. Isso é o Pied-Piping: quando uma estrutura é movida simplesmente por dominar
outra que precisa ser movida.
Agora, vou apresentar outro caso de Pied-Piping:

(18) Do que você precisa?

CP

PPk C’

P’
C IP
P DP
[q]
DPj I’
de o que
você I VP

precisa tj V’

ti vblk
Agora, o DP [o que] é WH e, portanto, executa Movimento WH para [Spec, CP] (um
Movimento-Ā) Mas ele também leva o PP junto. Isso também é uma propriedade do portu-
guês: é normal que a preposição seja ”arrastada”com o DP. No inglês, esse arraste é menos
comum: o natural é que a P fique sozinha: esse fenômeno é chamado Preposition Stran-
ding.

(19) What are you thinking about?

68
’Em que você está pensando?’

CP

DP C’

what C IP

are DPj I’

you tl VAUX P

tj VAUX ’

ti VP

tj V’

V PPk

thinking P’

P vblk

about
Em português, até é possível que o DP se mova sem o PP, mas, nesse caso, a preposição
é omitida, porque o português impede, no geral, construções do tipo ”O que você precisa de?”.

69
Tabela 2.1: Resumo do movimentos
Movimento-A Movimento-Ā
- De Posição-A a Posição-A - De Posição-A a Posição-Ā ou de Posição-Ā a Posição-Ā
- Deixa vestígio (t) - Deixa variável (vbl)

(20) O que você precisa?

CP

DPk C’

o que
C IP

[q]
DPj I’

você I VP

precisa tj V’

ti PP

P’

P vblk

2.4.2 Movimento de Núcleo


Confesso que não existem muitas questões interessantes no Movimento de Núcleo no tocante
à Ligação. Então, vou explorar bem brevemente este ponto. Na verdade, ressalto que todos
os Movimentos Sintáticos são curtos; isso também vale para o movimento de núcleo. Uma
restrição obriga que todo núcleo faça movimentos curtos.

(21) RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DE NÚCLEO (HMC5 ): Um núcleo só


pode mover-se à primeira posição de núcleo que o c-comande.

Essa restrição garante que este tipo de sentença seja proibida:


5
Do inglês Head Movement Constraint.

70
(22) * Eu saía dever.

IP

DPj I’

eu I VAUX P

saía tj VAUX ’

VAUX VP

dever tj V’

ti
Por essa estrutura, dá-se a entender que o V sair se elevou para se juntar à flexão I, mas
isso não é possível, porque, para fazê-lo, foi necessário pular uma posição de núcleo: a do V
auxiliar.
Além disso, existe um questionamento quanto ao estatuto sintático do movimento de nú-
cleo, porque, como sabemos, os núcleos se movimentam a outras posições de núcleo que não
estão vazias: isso é, inclusive, a grande diferença entre o movimento de sintagma e o movi-
mento de núcleo. Quando X se move a Y, os dois se amalgamam numa só estrutura: [XY].
Hoje, acredita-se que o resultado do movimento de núcleo seja fonológico: a sintaxe apenas
põe os núcleos X e Y lado a lado, e a fonologia se encarrega de fundi-los adequadamente. O
que a sintaxe envia à fonologia, na verdade, é isto:

X Y
Para representar o Movimento de Núcleo, geralmente representamos a posição de origem
com um vestígio, porém essa representação não é teoricamente precisa, porque o vestígio
serve para apontar Movimento-A (de sintagma). Como o Movimento de Núcleo é baseado
na amálgama, ele acaba gerando um problema grande para a teoria quando há três núcleos
envolvidos. Imaginemos a seguinte representação abstrata.

71
XP

X’

X YP

Y’

Y ZP

Z’

Z
Se Z se elevar a Y, a derivação ficará assim:

XP

X’

X YP

Y’

Y ZP

Zi Y Z’

ti
Agora, se Y se elevar a X, a derivação ficará assim:

XP

X’

X YP

Yj X Y’

Zi Y tj ZP

Z’

ti
Existe uma questão importante no emprego do vestígio para a representação desse mo-
vimento. Quando Y se elevou a X, o vestígio ti foi arrastado conjuntamente. A rigor, isso
não é permitido. É, sim, possível que um vestígio seja arrastado junto com outra estrutura
sintática, mas o elemento ao qual o vestígio se refere também é arrastado junto, ou seja, o
vestígio e o seu referente sempre ficam na mesma posição um relativamente ao outro. No

72
caso do movimento de núcleo, o vestígio fica mais distante de seu referente: no primeiro
movimento, Z é dominado por Y, que é o primeiro núcleo que c-comanda ti . No segundo
movimento, Z é dominado por X, que é o segundo núcleo que c-comanda ti . A distância entre
ti e Z (seu referente) aumentou.
Essa é a problemática do movimento de núcleo. Não pretendo resolvê-la aqui, inclusive
porque a teoria sintática ainda não é consensual quanto a esse ponto. Vou continuar repre-
sentando o movimento de núcleo pelo vestígio, mas fiz as devidas ressalvas a essa questão
neste tópico.

2.5 Teoria das Cadeias


2.5.1 Cadeias Próprias
Agora vamos compreender como funcionam as Cadeias. Primeiro, todo sintagma gera uma
cadeia própria. Um sintagma pode aumentar a sua cadeia se houver Movimento. Quando
um sintagma não se move em nenhum momento, ele forma uma cadeia de um único elemento
(que é o próprio sintagma). Uma Cadeia com um único elemento é chamada Cadeia trivial.
Um exemplo é o objeto direto: no geral, o [Comp, VP] recebe Papel Temático e Caso no
mesmo lugar, então ele fica parado até o fim da derivação.

(23) João comprou flores.


IP

DPj I’

João I VP

comprou tj V’

ti DP

flores
O DP [flores] fica parado, porque recebe Papel Temático e Caso no mesmo lugar, e não
precisa realizar Movimento-Ā. Ele forma uma cadeia trivial sozinho. Geralmente represen-
tamos as cadeias com CH (do inglês chain).
(24) CH = ([flores])
Por outro lado, o DP [João] executa um Movimento, ampliando a sua Cadeia: a sua
Cadeia, agora, além de conter o próprio [João], contém o vestígio tj .
(25) CH = (tj , [João])
Quando uma Cadeia é ampliada por meio de Movimento-A. Quando uma Cadeia é am-
pliada por meio de Movimento-A, ela é uma Cadeia-A.

73
(26) CADEIA-A: Uma Cadeia-A é formada por um DP6 e por todos os vestígios
deixados nas posições pelas quais ele passou.

Agora, como o leitor deve imaginar, existe a Cadeia-Ā. A Cadeia-Ā surge quando um
sintagma amplia sua Cadeia por meio de Movimento-Ā.
CP

DPk C’

o que
C IP

[q]
DPm I’

João I VP

disse tm V’

tl CP

vblk,2 C’

C IP

que DPj I’

Pedro I VP

viu tj V’

ti vblk,1
O DP [o que] se elevou seguidamente ao [Spec, CP] encaixado e, depois, ao [Spec, CP]
matriz, por meio de Movimentos-Ā. Essa é, pois, uma Cadeia-Ā.

(27) CH = (vblk,1 , vblk,2 , [o que])

Portanto, essa é a definição de Cadeia-Ā:

(28) CADEIA-Ā: Uma Cadeia-Ā é formada por um DP e todas as variáveis deixadas


nas posições pelas quais ele passou.

Agora, vamos analisar um exemplo um pouco mais complexo:


6
Faço aqui a ressalva de que o t, a vbl e o pro também são DPs, mas DPs vazios.

74
(29) Quem o Pedro disse que é inteligente?

CP

DPj C’

quem
C IP

[q]
DPl I’

Pedro I VP

disse tl V’

tk CP

vblj,2 C’

C IP

que vblj,1 I’

I VP

é tj,2 V’

ti AP

tj,1 A’

inteligente
Vamos avaliar os passos dessa derivação em relação ao DP [quem]. O DP [quem] nasceu
em [Spec, AP], uma posição temática, mas não casual. Portanto, ele deverá executar quan-
tos Movimentos-A forem necessários para que ele alcance uma posição casual. Ele executa
Movimento-A para a primeira Posição-A que o c-comanda, ou seja, [Spec, VP]; deixa, no
lugar, o vestígio tj,1 . A posição [Spec, VP] também não é casual, então o DP deve executar
outro Movimento-A. Ele seleciona a primeira Posição-A que o c-comanda, ou seja, [Spec,
IP]; deixa, no lugar de origem, outro vestígio, tj,2 . [Spec, IP] é uma posição casual, então o
DP recebe Caso e fica Congelado (isto é, impossibilitado de executar outros Movimentos-A).
Porém, esse elemento é WH, e pretende elevar-se ao [Spec, CP] matriz, onde está o traço
[Q] Para isso, ele deve executar Movimento-Ā. Ele seleciona a primeira Posição-Ā que o
c-comanda, a saber, o [Spec, CP] encaixado, deixando, no lugar de origem, a variável vblj,1
Quando chega lá, o traço [Q] não foi satisfeito, porque ele está no CP matriz. Então, esse
DP precisa executar outro Movimento-Ā. Par isso, ele escolha a primeira Posição-Ā que o
c-comanda, ou seja, o [Spec, CP] matriz, deixando, no lugar de origem, a variável vblj,2 .
Em relação à formação das Cadeias, devemos lembrar que Movimentos-A geram Cadeias-

75
A, e Movimentos-Ā geram Cadeias-Ā. Portanto, se o DP [quem] executou Movimentos-A
e Movimentos-Ā, ele gerou Cadeias-A e Cadeias-Ā. Ele executou dois Movimentos-A: de
[Spec, AP] a [Spec, VP] e de [Spec, VP] a [Spec, IP]. Então, tj,1 , tj,2 e o antigo [quem]
(que, agora, é a vblj,1 ) formam uma Cadeia-A. Por outro lado, o DP [quem] executou dois
Movimentos-Ā: de [Spec, IP] ao [Spec, CP] encaixado, e do [Spec, CP] encaixado ao [Spec,
CP] matriz. Portanto, a vblj,1 , a vblj,2 e o DP [quem] formam, juntos, uma Cadeia-Ā. É
importante ressaltar que todos os elementos não podem pertencer à mesma cadeia, porque as
Cadeias-A e Ā têm estatutos sintáticos diferentes. Os movimentos sintáticos do DP [quem]
formaram duas Cadeias distintas:
(30) CH(A) = (tj,1 , tj,2 , vblj,1 )
(31) CH(Ā) = (vblj,1 , vblj,2 , [quem])
Agora, sabemos o estatuto sintático das Cadeias-A e Ā, podemos descrever um conjunto
de regras que permitem que uma Cadeia seja bem formada. Por exemplo, descobrimos que o
Movimento-A é o mecanismo por meio do qual um DP consegue se deslocar de uma posição
temática a uma posição casual. Dessa forma, a primeira posição de uma Cadeia-A deve ser
temática, e a última deve ser casual, porque, depois que um DP chega à posição casual, ele
fica congelado.
(32) CH(A) = (t1 , t2 , ..., tn , DP)
A primeira posição de uma Cadeia (que, neste caso, é t1 ) é chamada causa da cadeia; a
última posição de uma Cadeia (que, neste caso, é DP) é chamada cabeça da cadeia. Para
que uma Cadeia-A seja bem formada, ela deve seguir um conjunto de requisitos. Quando
uma Cadeia é bem formada, dizemos que ela é uma Cadeia Própria. Os requisitos que uma
Cadeia deve seguir para ser considerada Própria são chamados Condições sobre Cadeias.
Quais são as Condições sobre as Cadeias-A?
(33) CONDIÇÕES SOBRE CADEIAS-A:
a. A causa da Cadeia-A deve ser uma posição temática;
b. A cabeça da Cadeia-A deve ser uma posição casual;
c. Não pode haver nenhuma Posição-A X, tal que ti c-comande X, X c-comande ti+1
e X não pertença à Cadeia-A.
Se o leitor entendeu bem o mecanismo de funcionamento do Movimento-A, deve ter com-
preendido rapidamente as duas primeiras cláusulas das Condições sobre Cadeias-A. A última
cláusula, caso não tenha ficado clara, proíbe que o DP ”pule”uma Posição-A. Devemos lem-
brar que todos os movimentos devem ser mínimos em seus respectivos domínios (A ou Ā).
Se houver uma Posição-A que c-comande um dos vestígios da Cadeia-A, mas não pertença
à Cadeia-A, então o DP pulou essa posição, o que é proibido. É isso que a última cláusula
explica, de maneira mais formal. Eu faço ressalva quanto à última cláusula também, por-
que existe uma exceção: a situação na qual X e ti+1 são, respectivamente, especificador e
complemento do mesmo sintagma. Vamos lembrar que a Antilocalidade proíbe esse tipo de
situação.
Agora, usando o raciocínio do Movimento-Ā, sabemos que ele é executado, inicialmente,
com um DP que está em posição casual. Esse DP se move ao primeiro [Spec, CP] que o

76
c-comanda. Daí em diante, ele só pode se mover a outras Posições-Ā, ou seja, aos próximos
[Spec, CP] que o c-comandem. Então, quais são as Condições sobre Cadeias-Ā?

(34) CH(Ā) = (vbl1 , vbl2 , ..., vbln , DP)


(35) CONDIÇÕES SOBRE CADEIAS-Ā:
a. A causa da Cadeia-Ā deve ser uma posição casual;
b. Todas as outras posições da Cadeia-Ā além da cauda devem ser Ā;
c. Não pode haver nenhuma Posição-Ā X, tal que vbli c-comande X, X c-comande
vbli+1 e X não pertença à Cadeia-A.

Faço apenas certa ressalva quanto à primeira cláusula dessas Condições sobre Cadeias-Ā.
Existe a possibilidade de que uma outra categoria sintática (que não um DP) execute um
Movimento-Ā. Nesse caso, obviamente não há a necessidade de que ele esteja em uma posição
casual.

(36) Saber a matéria, ela sabe.

Nesse caso, vamos imaginar que o verbo foi duplicado: um se fundiu ao núcleo I; o outro
ficou parado em V. Então, o VP elevou-se a [Spec, CP], porque está focalizado. Trata-se de
um Movimento-Ā a partir de [Spec, IP], uma posição não casual.

CP

VPj C’

ti V’ C IP

V DP DPi I’

saber a matéria ela I vblj

sabe
A partir das nossas noções sobre Cadeias, devemos atualizar alguns conceitos sobre o
Filtro do Caso. Vamos retornar à estrutura superficial de uma sentença que vimos anterior-
mente.

77
CP

DPj C’

quem
C IP

[q]
DPl I’

Pedro I VP

disse tl V’

tk CP

vblj,2 C’

C IP

que vblj,1 I’

I VP

é tj,2 V’

ti AP

tj,1 A’

inteligente

Quem atribui Caso ao DP [quem]? Aparentemente, nenhum elemento atribui Caso a


[quem], porque ele já recebeu Caso quando estava em [Spec, IP]. Podemos afirmar que esse
DP, então, ”subiu”com Caso, ou seja, o Caso ficou ”grudado”no DP? Na verdade, se o Caso
é atribuído em [Spec, IP], então o Caso está em [Spec, IP], apenas. Mas, se for assim, o que
garante que o DP [quem] receba Caso? Bem, essa é a questão: não assumiremos mais que o
DP deve receber Caso e Papel Temático, mas sim a Cadeia em que ele está. Então, agora,
veremos versão atualizada do Filtro do Caso.

(37) FILTRO DO CASO: Se um DP visível formou uma Cadeia-A, essa Cadeia-A deve
receber Caso obrigatoriamente.

A partir de agora, conceberemos a ideia de que são as Cadeias-A que recebem Caso (bem
como são as Cadeias-A que recebem Papel Temático).

2.5.2 Cadeias Impróprias


Cadeias Impróprias Gramaticais
No tópico anterior, eu apresentei as Condições sobre Cadeias, que são restrições de boa
formação dessas Cadeias. Quando uma Cadeia segue essas condições, ela gera uma Cadeia
Própria. Quando alguma dessas condições é violada, é gerada uma Cadeia Imprópria. A

78
nossa pergunta aqui é a seguinte. Qual é a consequência de uma Condição sobre Cadeia ser
violada? Vamos estudar isso em vários aspetos.
Primeira pergunta, que está calcada na anterior. Ao violar uma Condição sobre Cadeia,
a sentença se torna agramatical? Na verdade, nem sempre. Nós vamos assumir que algumas
Cadeias ficam propositalmente Impróprias, para satisfazer alguns aspetos da teoria que, aliás,
nós já estudamos anteriormente e vamos relembrar aqui. Por enquanto, vou apresentar os
casos nos quais a violação das Condições sobre Cadeias são propositais, isto é, são meras
adequações teóricas. O leitor deverá absorver estes Casos como excepcionais em relação às
Condições sobre Cadeias.
O primeiro caso de Cadeia Imprópria Gramatical é o dos verbos inacusativos com com-
plemento in situ. Essa Cadeia Imprópria resulta do que chamamos de Hipótese da Trans-
missão de Caso. Vamos relembrar uma sentença em que isso acontece.

(38) [IP proi chegou [DP uma carta]i ]

IP

proj I’

I VP

chegou V’

ti DPj

uma carta
Aprendemos que, quando o complemento do inacusativo fica in situ, é inserido um pro
em [Spec, IP]. O pro e o DP formam uma relação expletivo-associado, de modo que o pro
transmite para o DP o Caso Nominativo que recebeu do núcleo I. Mas que relação expletivo-
associado é essa? É uma Cadeia. Porém, essa Cadeia é imprópria porque, como vimos, as
Cadeias só podem ser ampliadas por meio de Movimento. Nesse caso, não houve nenhum
tipo de Movimento, mas nós entendemos que o pro e o DP formam uma Cadeia-A.
A partir do momento que os dois formam uma Cadeia, não existe mais a necessidade de
o DP receber o Caso independentemente. Nós reavaliamos, no tópico anterior, o conceito de
Filtro do Caso: quem recebe o Caso é a Cadeia-A, e não mais o DP em si. Se o pro e o
DP formam uma Cadeia-A, basta que um deles receba o Caso, e o Filtro do Caso já estará
satisfeito. Como o pro recebe o Caso, ele satisfaz essa condição naturalmente.

(39) CH = ([uma carta], pro)

Vale ressaltar que esse mesmo procedimento ocorre no inglês; a diferença é que, no inglês,
o sujeito expletivo é visível (ou there, ou it).

(40) [IP [DP There]i arrived [DP a man]i ]

79
EXPL chegou um homem.
IP

DPj I’

There ti VP

V’

arrived DPj

a man
Aqui, a ideia é basicamente a mesma: there e a man formam uma Cadeia Imprópria, para
que o Caso Nominativo seja transmitido do there para o a man. Vale ressaltar que, como
tanto there quanto a man são DPs visíveis, ambos precisam de Caso. Mas, como eles forma
uma Cadeia conjuntamente, basta um receber para que todos também recebam.
O último caso de Cadeia Imprópria é o caso do Movimento I-para-V do inglês, que nós
havíamos discutido anteriormente. Sabemos que uma das condições de boa formação do
Movimento Sintático é que todos os Movimentos são executados da direita para a esquerda.
Porém, quando o verbo do inglês é lexical, ele não pode elevar-se a I, e o contrario ocorre: I
desce para V.
IP

DPj I’

John
I VP

ti
AdvP VP

Adv’ tj V’
Adv lost DP
completely his sense
Isso é, a rigor, uma violação da boa formação dos Movimentos Sintáticos. Portanto, a
Cadeia formada entre o I e a posição para a qual ele foi (CH = (ti , lost)) é imprópria.
Esses são dois casos nos quais, embora tenham sido formadas Cadeias Impróprias, as sen-
tenças continuam perfeitamente gramaticais. Por que que, nesses casos, as Cadeias, mesmo
Impróprias, são agramaticais? Porque a impropriedade da Cadeia decorre do fato de que
não há outra solução para o problema. Como não há nenhuma outra forma de satisfazer as
Condições sobre Cadeias, ela é formada de maneira imprópria. O nome disso é Last Re-
sort (Último Recurso). Para que a derivação sintática não fracasse completamente (crash),
o sistema sintático encontra uma maneira de formar uma Cadeia que, mesmo com impro-
priedade, solucione a derivação (isto é, garanta que o Filtro do Caso seja satisfeito). Agora

80
veremos os casos nos quais o sistema tinha outra opção, mas não a aproveitou, gerando uma
impropriedade.

Cadeias Impróprias Degradadas


Agora vamos falar das Cadeias de fato Impróprias, no sentido de terem um defeito de for-
mação. Sabemos que os inacusativos podem permitir que seus complementos fiquem in situ,
formando uma Cadeia Imprópria com o pro expletivo. Agora, imaginemos que o mesmo
acontece com um sujeito de um verbo inergativo.

(41) Nadou João na piscina. (?)

IP

proj I’

I VP

nadou
VP PP

DPj V’ P’

o João ti P DP

em a piscina
Nos exercícios do capítulo 1, eu apresentei justamente essa sentença como agramatical,
e pedi que a incoerência fosse encontrada: o DP [João] fica sem Caso. De fato. Mas existe
uma inconsistência nessa explicação: se a sentença fosse totalmente agramatical, ela não
seria semanticamente interpretável. Não é isso que acontece: você consegue interpretar essa
sentença, mesmo que com certa degradação, ou seja, a sentença é compreensível, mas parece
estranha (é uma frase que seria dita, talvez, por um falante nativo de uma língua estrangeira
na qual a ordem canônica dos constituintes sintáticos fosse VSO). Se essa sentença é inter-
pretável, a arquitetura gramatical soluciona as suas inconsistências de alguma forma, mesmo
que seja por Último Recurso.
Nesse caso, vamos imaginar que o sistema resolveu esse problema da mesma maneira
como ele resolve os inacusativos com complemento in situ. em [Spec, IP], é inserido um pro,
que forma com o DP [João] uma Cadeia-A Imprópria, de modo que o Filtro do Caso seja
satisfeito (mas a Condição sobre Cadeias seja violada). É isso que acontece quando uma
Condição sobre Cadeia-A é violada: a sentença fica levemente degradada. E o que acontece
quando há violação a uma Condição sobre Cadeia-Ā? Vejamos o exemplo a seguir:

81
(42) Você disse que quem viu o quê?

CP

C’

C IP

[q]
DPl I’

você I VP

disse tl V’

tk CP

C’

C IP

que DPj I’

quem I VP

viu tj V’

ti DP

o quê
Imaginemos que, na derivação acima, tanto o DP [quem] quanto [o que] queiram reali-
zar o Movimento-Ā. Primeiro, imaginamos que o DP [o que] se eleva ao [Spec, CP] encaixado.

82
(43) Você disse o que que quem viu vbl?

CP

C’

C IP

[q]
DPl I’

você I VP

disse tl V’

tk CP

DPm C’

o que
C IP

que DPj I’

quem I VP

viu tj V’

ti vblm
Agora, imaginemos que o DP [quem] realize Movimento-Ā. Ele deve mover-se à primeira
Posição-Ā que o c-comande, que é o [Spec, CP] encaixado. Todavia, essa posição já está
preenchida pelo DP [o que], então o Movimento é feito para a próxima Posição-Ā disponível:
o [Spec, CP] matriz. Nesse caso, há a violação da Condição sobre Cadeias-Ā, porque uma
Posição-Ā foi ”pulada”(por já estar preenchida).

83
(44) Quem você disse o que que vbl viu vbl?
CP

DPj C’

quem
C IP

[q]
DPl I’

você I VP

disse tl V’

tk CP

DPm C’

o que C IP

que vblj I’

I VP

viu tj V’

ti vblm
Não há muita dúvida de que essa última sentença (bem como a anterior) são completa-
mente ininteligíveis; para entendê-la, seria exigido do interlocutor um esforço mental muito
grande. Eu acredito que, se eu ouvisse essa sentença no cotidiano, eu não a interpretaria.
Portanto, podemos chegar a uma conclusão. Violação a Condições sobre Cadeias-A geram
degradações leves na sentença; violação a Condições sobre Cadeias-Ā geram impropriedades
muito grandes na sentença, deixando-a praticamente ininteligível.

2.6 Exercícios
1. Nas sentenças abaixo, identifique os sintagmas que funcionam como argumento de
núcleo lexical e os que funcionam como adjunto.

(a) João entregou flores a Maria ontem na festa.


(b) Comi o bolo que minha mãe cozinhou.
(c) O aluno é parecido com o professor da matéria.
(d) O professor realizou a entrega da prova aos alunos.
(e) Roberto fez a tarefa rapidamente.

84
(f) Meu amigo saiu cedo.
2. Retorne ao exercício anterior e represente as sentenças na estrutura profunda (SS).
É permitido simplificar os DPs. Indique todas as categorias vazias necessárias e seus
respectivos índices.
3. Represente as seguintes sentenças na estrutura superficial (SS) e identifique os XPs que
estão em Posição-A e os que estão em Posição-Ā. É permitido simplificar os DPs.
(a) O João, eu vi na festa.
(b) Meu amigo não sabe quando a aula acaba.
(c) Qual pessoa falou com você?
(d) A construção do prédio demorou muito.
(e) Eu viajei com o João em junho.
(f) Nós vamos passear se vocês arrumarem seus quartos.
4. Analise a seguinte sentença:
O João, eu vi ele na festa.
É possível afirmar que os DPs [o João] e [ele] formam uma cadeia? Justifique a resposta.
5. Analise a derivação do seguinte movimento de sintagma:
[CP DPi C [IP I [VP V [CP vbl i,2 C [IP vbl i,1 I [VP t i V DP ] ] ] ] ] ]
É correto afirmar que (t i , vbl i,1 , vbl i,2 , DPi ) é uma cadeia? Justifique a resposta.
6. Identifique o problema nas estruturas abstratas a seguir.
(a) Primeira estrutura:
IP

I’

I VP

DPi V’

V CP

ti C’

C IP

ti I’

I VP

ti V’

85
(b) Segunda estrutura:
IP

I’

I VP

DPi V’

V CP

C’

C IP

ti I’

I VP

ti V’

V
7. Aprendemos várias categorias de verbos: os verbos transitivos, os verbos inacusativos,
os verbos auxiliares, os verbos ECM, os verbos transobjetivos e os verbos copulativos.
Identifique quais são os Movimentos-A mais comuns quando cada um desses verbos
está presente na estrutura.

8. Apenas DPs estão sujeitos ao Movimento de Sintagma? Justifique a resposta com


exemplos.

9. Imagine que a seguinte estrutura pertença a uma língua natural qualquer.


XP

X’

X YP

Y’

Y ZP

Z’

Agora, suponha que [Spec, ZP] seja uma posição [+ θ, - K] e que [Spec, XP] seja uma
posição [- θ, + K]. A partir dessas informações, indique o valor dos traços [θ], [K] e [A]
da posição [Spec, YP]. Justifique a resposta.

86
10. Indique quais são as categorias sintagmáticas que podem funcionar como adjunto e
indique a quais outras categorias essas podem se adjungir. Justifique a sua resposta
por meio de exemplos.

11. A partir da teoria sintática que está sendo desenvolvida neste livre, problematize as
noções de ”posição”, ”função semântica”e ”função sintática”da gramática tradicional.

12. Na sentença ”João é o professor”, há dois DPs: [João] e [o professor]. Elabore uma
hipótese que justifique a atribuição de Caso de ambos os DPs.

13. Faça um resumo para identificar quais posições sintáticas são Posições-A e quais são
Posições-Ā.

14. Para cada uma das afirmativas abaixo, indique se ela é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) ( ) Se um DP está em Posição [+ K], ele não pode mais realizar Movimento-A.
(b) ( ) Todo Movimento-A realizado por um DP tem por objetivo garantir que ele
receba Caso.
(c) ( ) Qualquer Movimento-Ā é dirigido a algum [Spec, CP].
(d) ( ) Não existe movimento de Posição-A para Posição-Ā.
(e) ( ) Do ponto de vista da sintaxe, todos os movimentos são curtos.
(f) ( ) Toda cadeia imprópria provoca degradações na sentença.

15. Faça uma lista com todos os princípios, filtros, restrições, condições e critérios que você
aprendeu neste capítulo, seguidos de suas respectivas definições.

Os gabaritos de todas as questões estão no fim deste livro.

87
Capítulo 3

DPs Lexicais

3.1 Introdução à Teoria da Ligação


Agora, nós vamos nos aprofundar na Teoria da Ligação propriamente dita. Vou apresentar
dois exemplos.

(1) João se ama.


(2) João disse que Pedro se ama.

O foco aqui está na referência da palavra se. Na primeira frase, o se se refere a [João],
obrigatoriamente. Não existe a possibilidade de esse se se referir a um outro elemento fora
da frase. Na segunda frase, se se refere necessariamente a [Pedro]. Ele não pode referir-se
nem a [João], nem a outro elemento fora da frase. Agora, vou trocar o se por ele.

(3) João ama ele.


(4) João disse que Pedro ama ele.

Agora, parece que todas as conclusões se inverteram. Na primeira frase, ele deve referir-
se necessariamente a um outro elemento que não seja [João]. Na segunda frase, ele pode
referir-se a qualquer elemento que não seja [Pedro]; inclusive, ele pode referir-se a [João].
Vamos imaginar, neste primeiro momento, que o se deve realizar referências a curta distância,
obrigatoriamente, enquanto o ele deve fazer referências a longa distância.
Quando dois elementos se referem à mesma entidade no mundo (por exemplo, o se e o
[João] no primeiro exemplo), dizemos que esses elementos estão ligados. A Ligação é, pois,
um fenômeno semântico, ou seja, só acontece no nosso cérebro (nós não ”pronunciamos”nada
relativo à ligação). Porém, a sintaxe estabelece alguns critérios que vão licenciar ou proibir a
ligação de alguns elementos. A ligação em si (ou seja, os conceitos que estão sendo repetidos
na sentença) só podem ser identificados semanticamente, no mais das vezes dentro de um
contexto de fala bem delimitado.
É como se, semanticamente, um pronome pudesse, no contexto, pudesse referir-se a um
conjunto de elementos possíveis (que estão dentro ou fora da sentença). A sintaxe apenas
delimita restrições a esse conjunto, dependendo da organização dos elementos sintáticos.

88
3.2 Intuição do Domínio de Ligação: a Categoria de
Regência
Com base no que que vimos há pouco, pode ser que surja uma dúvida. O se executa Ligação
a curta distância, e o ele executa Ligação a longa distância. Mas a partir de que momento a
distância entre dois elementos sintáticos é longa do ponto de vista da Ligação? Neste tópico,
minha intenção é responder a essa pergunta.
Primeiro, vamos categorizar os DPs da língua. Na gramática tradicional, tanto o se quanto
o ele são classificados como pronomes pessoais: o primeiro é um pronome oblíquo reflexivo;
o segundo, um pronome pessoal do caso reto1 . Para nós, os elementos que fazem referências
a curta distância, como o se, são chamados anáforas, enquanto os elementos que fazem
referências a longa distância, como o ele, são chamados pronomes. Os outros DPs que não
são nem anáforas nem pronomes são chamados Expressões Referenciais, ou Expressões-R.
Por exemplo, no último dado que vimos, os DPs [João] e [Pedro] são Expressões-R.
Vamos imaginar, inicialmente, que o domínio onde a ligação próxima ocorre seja a oração,
portanto o CP. Então, retornemos aos dois exemplos que comparam anáforas e pronomes.

(5) [CP João disse [CP que Pedro se ama]]


(6) [CP João disse [CP que Pedro ama ele]]

Se supusermos que o CP é o domínio em que a ligação acontece, então, de fato, a anáfora


se deve referir-se a um elemento que esteja dentro do seu CP; por outro lado, o pronome ele
deve referir-se a um elemento que está fora do seu CP: pode ser um DP que esteja em outro
CP, ou pode ser um elemento que não pertence à sentença, mas que pode ser recuperado
contextualmente. Nos exemplos que apresentei, esse domínio funciona perfeitamente. Nosso
objetivo, a partir de agora, é encontrar um domínio específico XP, de modo que tudo que
esteja dentro desse XP esteja perto, mas tudo que esteja fora desse domínio esteja longe.

(7) [CP A mãe de Pedro se ama]


(8) [CP A mãe de Pedro ama ele]

Nas duas sentenças, há um único CP. Se partirmos do pressuposto de que as anáforas


devem referir-se a um elemento interno ao seu CP, e o pronome, a um elemento externo ao
seu CP, a anáfora se poderia referir-se tanto a [a mãe de Pedro] quanto a [Pedro], enquanto
o pronome ele só poderia referir-se a um elemento externo à oração, recuperado contextual-
mente. Mas, na verdade, não é isso que acontece. Perceba que, nitidamente, a anáfora se só
pode referir-se a [a mãe de Pedro], mas não a [Pedro], enquanto o pronome ele pode referir-se
a [Pedro] ou a outro elemento recuperado contextualmente, mas, ainda que se trocasse ele
por ela, não seria possível referência a [a mãe de Pedro] pelo pronome.
O PP [de Pedro] está em posição de adjunção ao NP [mãe]. Do ponto de vista da Ligação,
as posições de adjunção são enxergadas como se pertencessem a planos diferentes. Então, a
sintaxe enxerga, como se fossem duas coisas diferentes, a sentença [A mãe <de Pedro> se
1
De um ponto de vista comparativo entre a gramática tradicional e a gerativa, o Caso Reto e o Caso
Nominativo são o mesmo, porém o Caso Oblíquo da gramática tradicional abarca tanto o Caso Acusativo
quanto o Caso Oblíquo da gramática gerativa.

89
ama]2 e o adjunto [de Pedro]. Você deve estar pensando que já viu essa mesma explicação em
algum outro momento... Sim, essa foi exatamente a mesma analogia que eu usei para falar
sobre Posições-A e Posições-Ā, e não à toa, mas não vamos chegar a uma conclusão em breve.
Por enquanto, vamos supor que o domínio no qual a Ligação ocorre é o CP, ignorando-se as
posições de adjunção.
Vejamos mais dois exemplos.

(9) * [CP O Pedro, o João se ama.]


(10) [CP O Pedro, o João ama ele.]

Esse é o caso de preenchimento do [Spec, CP] que chamamos de topicalização. A primeira


sentença é agramatical, porque não existe nenhuma razão aparente para [o Pedro] estar
naquela posição (afinal, nenhum elemento se refere a ele). No segundo caso, ele se refere a
[o Pedro]. Se supusermos que o domínio de ligação a curta distância é o CP, a referência do
pronome ele para ao DP [o Pedro] não deveria ser possível, uma vez que pronomes fazem
referência a longa distância. Então, o domínio que definimos está incorreto Ainda, se fosse o
CP o domínio da ligação, a anáfora se deveria ser capaz de referir-se a [O Pedro], mas não é.
A posição [Spec, CP] também deve ser excluída desse domínio.
Agora, se o leitor reparar bem, definimos que o Domínio de Ligação é a oração, ou seja,
o CP, excetuados (i) o [Spec, CP] e (ii) as posições de adjunção. Se nos lembrarmos bem,
essas são exatamente os dois casos de Posição-Ā. Então, a partir de agora, vamos assumir
que o domínio da ligação sejam as Posições-A do IP (ou seja, a oração toda, com exceção do
CP e das Posições-Ā). Agora, estamos excluindo da oração todas as Posições-Ā.
Essa definição já é bastante precisa para os termos deste trabalho. Mas ainda existem
alguns poucos casos que não serão contemplados por ela.

(11) Pedro acha Joãoi orgulhoso de sii .3


(12) * Pedroi acha João orgulhoso de sii .
2
Geralmente, representa-se entre aspas angulares simples, ’<>’, elementos que são ignorados pela sintaxe,
ou seja, é como se a sintaxe não conseguisse enxergar esses elementos em um determinado momento.
3
Até este momento, só usamos os subíndices para indicar movimento. Neste tópico, e em vários outros,
usarei o índice para indicar que dois elementos se referem ao mesmo elemento no mundo. Quando isso
acontece, dizemos que eles estão coindexados (co- = mesmo, index = índice). No exemplo em questão, os
índices indicam que [João] e [si] se referem ao mesmo elemento no mundo. Se os índices fossem diferentes,
então deveríamos interpretar que se referem a entidades diferentes.

90
IP

DPj I’

Pedro I VP

acha t V’

t AP

DPi A’

João A PP

orgulhoso P’

P DPi

de si
Essa é uma estrutura com verbo transobjetivo. A rigor, há apenas um IP, e tanto o DP
[Pedro] quanto [João] estão em Posições-A, contudo a anáfora se só pode referir-se a [João];
jamais a [Pedro]. Poderíamos imaginar, então, que o AP é, excepcionalmente, um domínio de
ligação separado dos demais. Mas isso ainda não solucionaria o problema, devido a situações
como esta:

(13) Joãoi acha [AP sei inteligente].4

IP

DPj I’

João I VP

acha t V’

t AP

DPi A’

se A

inteligente
4
Ressalto, novamente, que essa representação é de um estágio intermediário entre a DS e a SS. Na SS,
depois de o clítico mover-se, a sentença será ”João se acha inteligente”.

91
Se o AP fosse um domínio de ligação separado, seria impossível que a anáfora se ligasse
um elemento fora desse domínio, porque, como vimos, a anáfora sempre vai procurar um
elemento interno ao seu domínio para estar ligada. Mas, nesse caso, ocorre um fato curioso:
ela procurou um elemento dentro do IP (fora do AP) para se ligar. Quando a anáfora faz
parte do complemento do AP, ela procura um elemento interno ao AP ao qual possa se referir;
quando funciona como especificador do AP (ou seja, está no ponto mais alto do AP), procura
outro elemento fora do AP. Perceba que isso é completamente diferente do que estávamos
vendo antes, porque é simplesmente impossível que uma anáfora ocupe o [Spec, IP], uma vez
que ela não consegue selecionar ninguém fora do IP.

(14) * [Os alunos]i disseram que [IP [um no outro]i sei bateram].

Essa sentença é agramatical porque [um no outro] é uma anáfora, mas ela não pode estar
ligada ao DP [os alunos], porque ele está fora do [Spec, IP]. Por que a anáfora consegue
”olhar fora”do AP quando esta no seu especificador, mas ela nem sequer pode aparecer no
especificador de um IP? Bem, sabemos que uma anáfora não pode ser especificador de um
IP; quando ela está interna a um IP ou a um VP, ela deve encontrar um referente dentro
do IP (porque esse é o seu domínio de ligação). Quando uma anáfora é interna a um AP,
ela procura referente dentro do AP; se ela está no especificador (isto é, na borda) do AP, ela
pode procurar um referente fora do AP, mas dentro do IP.
Basicamente, o IP é um domínio ”máximo”, é o maior domínio de ligação de um pronome
ou de uma anáfora. Quando o pronome ou a anáfora está dentro de um AP, ela vai tentar
procurar algum elemento dentro desse AP. Quando ela está na bora do AP, ela vai ”estender”o
seu domínio de ligação ao máximo (ou seja, ao IP), senão ela não vai conseguir encontrar
nada. Eu ressalto que os pronomes e as anáforas só podem se ligar com elementos que estão
à sua esquerda, e não à direita. Então, quando o pronome ou a anáfora estão no especificador
do AP, eles só podem procurar referência acima (isto é, à esquerda) do AP, e nunca abaixo,
ou seja, no complemento do AP. É por isso que, se uma anáfora está na borda de um AP,
ela precisa ampliar seu domínio de ligação ao máximo: assim, ela consegue encontrar mais
elementos para referir-se. É isso que podemos concluir por enquanto. Agora, vamos analisar
outro exemplo.

(15) Os rapazes contaram [DP histórias sobre si].


(16) * Os rapazes contaram [DP minhas histórias sobre si].
(17) Os rapazes contaram [DP suas histórias sobre si].

A primeira sentença me parece ligeiramente degradada, e eu vou tentar explicar por quê
em outro momento. A segunda sentença é impossível, porque parece que o si tenta referir-se
a minhas, o que não é permitido devido à incompatibilidade entre as pessoas do discurso.
Por outro lado, a terceira sentença é perfeita, porque o si consegue referir-se ao suas.
Vamos tentar estabelecer algum tipo de paralelo entre o que acontece nos DPs que ana-
lisamos agora e o que acontece nos APs que analisamos anteriormente. Quando havia uma
anáfora interna ao complemento do AP, ela procurava ligação em [Spec, AP]. Então, como
a anáfora si acima é interna ao complemento do DP (note que [histórias sobre si] é o NP
complemento do DP, e [sobre si] é o PP complemento do NP), ela está tentando encontrar
referência em um elemento que está em [Spec, DP]. Se o elemento que ela encontra é o suas,

92
isso é sinal de que esse elemento está em [Spec, DP] (ou seja, na borda do DP). Isso é, de
fato, o que acontece, porém, para trazer isso para a nossa proposta teórica, precisaremos
fazer alguns ajustes: da maneira como entendemos a Teoria X-Barra neste manual, se o
pronome possessivo estiver em [Spec, DP], a ordem da sentença é ”suas as histórias”, o que
é impossível em português.
Então, vamos assumir que o pronome possessivo gera um sintagma próprio (o PossP), que
funciona como [Spec, DP], mas, para fins de adequação teórica, vamos imaginar que existe
uma categoria dP que domina DP, de modo que D se eleva a d5 .

(18) Os rapazes contaram [DP as suas histórias sobre si].


IP

DPi I’

os rapazes I VP

contaram t V’

t dP

d’

d DP

as
PossPi D’

Poss’
t NP
Poss
N’
suas
N PP

histórias P’

P DPi

sobre si
Não vou usar o dP no restante deste trabalho, a menos que seja extremamente necessário.
Só quero que o leitor entenda que a ordem linear, para os fatos que pretendo expor, é
ligeiramente secundária. O importante é a posição sintática em que o elemento está. Neste
caso, deve estar claro que o possessivo suas está em [Spec, DP].
5
Alguns autores propõem que essa categoria de fato existe, com base na teoria de (Larson, 2014). Eu
imagino que essa categoria seja, nesse caso, um AgrdP, mas não vou adentrar nessas questões teóricas.

93
Podemos tentar estabelecer um paralelo entre o AP e o DP, mas isso não será plenamente
possível. Existe um fato em jogo aqui: ambos são domínios de ligação. Todavia, quando
uma anáfora está interna a um DP ou a um AP, ela deve encontrar a sua ligação dentro desse
domínio (geralmente, ela estará ligada ao especificador desse domínio). Essa descrição vale
para o DP e para o AP. Por outro lado, no AP, quando uma anáfora está no seu especificador,
o domínio de ligação é ampliado, de modo que ela possa procurar referente em posições mais
superiores. No caso do DP, nem sequer é possível que uma anáfora ocupe o seu especificador.
Aliás, o leitor já deve ter reparado que a anáfora e o pronome têm atuações complemen-
tares: se a anáfora pode referir-se a um elemento, o pronome na mesma posição não o pode,
e assim sucessivamente. Vamos avaliar a possibilidade de um pronome ocupar o especificador
de um AP ou de um DP.

(19) [IP Mariai acha [AP elaj bonita]].6


(20) [IP Mariai acha [AP sei bonita]].
(21) [[Os rapazes]i contaram [DP suasi histórias sobre sii ]].

Quando um pronome ocupa o especificador do AP, como na primeira frase, o seu domínio
de ligação é ampliado: deveria ser o AP, mas, como o pronome está na borda do AP, seu
domínio é ampliado para o IP. Se o pronome deve encontrar sua referência fora do seu
domínio de ligação, então ela não pode ser [Maria]; deve ser um outro elemento recuperado
contextualmente. Isso é exatamente o oposto do que ocorre com a anáfora se. Como ela está
na borda do AP, seu domínio de ligação também é ampliado para o IP, da mesma forma como
ocorreu com o pronome. Como seu domínio de ligação agora é o IP, a anáfora deve encontrar
sua referência dentro desse novo domínio. Ela encontra, pois, [Maria], que é o elemento ao
qual ela se liga.
Agora avaliemos o pronome suas na última frase. Se acontecesse o mesmo fenômeno do
AP, o domínio de ligação do pronome deveria ser ampliado ao IP. Se isso acontecesse, suas não
poderia estar ligado ao DP [os rapazes], porque ele está dentro do novo domínio de ligação
do pronome, e o pronome deve encontrar sua referência fora do seu domínio de ligação. A
única conclusão que podemos tomar, neste momento, é que o IP e o DP são domínios que
não podem ser expandidos, mas o AP pode ser expandido.
Partindo desses conceitos, como explicar a ampliação do domínio dos APs quando há um
pronome ou uma anáfora na posição de especificador? Bem, podemos imaginar que uma
anáfora sempre vai procurar, no seu domínio de ligação, um sujeito. Vamos usar a noção de
6
Vou fazer aqui uma ressalva que julgo importante. Espero que o leitor deste trabalho já tenha maturidade
linguística para compreender que a linguística moderna (isso inclui a teoria gerativa e qualquer outra teoria
linguística contemporânea) está preocupada com a fala espontânea, e não com a gramática tradicional. Na
gramática tradicional, essa sentença deveria ser ”Maria a acha bonita.”ou ”Maria acha-a bonita.”, mas não
trabalhamos com esses dados, porque eles são relativamente artificiais, isto é, não ocorrem naturalmente na
fala espontânea, uma vez que falantes do português brasileiro não costumam empregar mais os pronomes o,
a, os, as na fala espontânea; usam, em seu lugar, os pronomes ele, ela, eles, elas. O leitor pode reparar
que, ao longo do livro, eu emprego a linguagem da norma-padrão (ou pelo menos tento), porque essa é a
norma socialmente estabelecida para trabalhos acadêmicos (e outros gêneros), mas os dados que apresento
são da fala espontânea, porque esse é o registro que estou estudando neste trabalho. Mas também vale a
pena salientar que tanto ”o, a, os, as”quanto ”ele, ela, eles, elas”fazem referência da mesma maneira, o que
muda é apenas a forma do pronome.

94
sujeito aqui em sentido lato, como qualquer especificador de um determinado sintagma (e
não como o elemento que recebe NOM em [Spec, IP]). Portanto, na frase ”Maria acha João
bonito”, [João] é, de certa forma, sujeito do AP, porque é seu especificador. Na frase ”Maria
contou suas histórias sobre si”, ”suas”é especificador do DP, logo o ”si”procura um sujeito
dentro desse domínio.
Já temos uma noção um pouco mais precisa sobre o que seja o nosso domínio de ligação.
Existem dois domínios de ligação propriamente ditos: o IP e o DP. Se um elemento for
especificador ou complemento de um desses dois sintagmas, ele será o seu domínio de ligação.
Agora, se um elemento estiver dentro de um outro XP, esse XP pode ser domínio para a
ligação ou não. Se o pronome ou a anáfora estiver no complemento do XP e o especificador
do XP estiver vazio, o XP não será um domínio para a ligação. Se o pronome ou a anáfora
estiver no complemento do XP e o especificador do XP estiver preenchido, o XP será um
domínio para a ligação. Se o pronome ou a anáfora estiver no especificador do XP, o XP
não será um domínio para a ligação. O nome desse domínio de ligação que definimos é a
Categoria de Regência.
(22) CATEGORIA DE REGÊNCIA (CR): A Categoria de Regência de α
(nomeadamente, CR(α)) é o menor XP que contém α e
a. um sujeito7 distinto de α que não contenha α; ou
b. um núcleo I ou D.
Se você reparar bem, essa definição só não se aplica a um dos dados que nós analisamos
anteriormente.
(23) [Os rapazes]i contaram [DP as histórias sobre [si]i ].
Se o DP é uma CR de fato, a anáfora não poderia estar ligada a [os rapazes], porque
esse elemento está fora da CR. Esse dado fica ainda mais complicado quando analisamos
estruturas correlatas em que o pronome está no lugar da anáfora.
(24) [Os rapazes]i contaram [DP as histórias sobre [eles]i ].
Esse exemplo, aliás, me parece muito mais natural que o outro. Ele é adequado à nossa
proposta porque, se o DP é uma CR, o pronome encontra referência fora do seu domínio, o
que é o esperado. Agora, é necessário perceber um fato:
(25) [Os rapazes]i contaram [DP as suas histórias sobre [si]i ].
(26) * [Os rapazes]i contaram [DP as suas histórias sobre [eles]i ].
Quando o [Spec, DP] está preenchido por um possessivo, parece que a necessidade de
empregar anáfora, e não pronome, é acentuada. Então, deveremos criar algum mecanismo
que garanta que tanto o pronome quanto a anáfora são cabíveis naquela posição (quando o
[Spec, DP] está vazio). Bem, você deve se lembrar do Princípio da Projeção Estendido
(EPP). Adotando a proposta de Quicoli, 2008, vamos assumir que o DP e o IP são estruturas
análogas, portanto o EPP também é aplicável ao [Spec, DP]: ele nunca pode estar vazio. Ele
7
Lembrando que vamos adotar aqui uma noção mais ampla de sujeito, como sendo qualquer especificador
preenchido.

95
pode ser preenchido por um PossP, como já vimos, ou, quando não há um possessivo, ele
é preenchido por uma categoria vazia especial: o PRO. O PRO é uma espécie de pronome
defeituoso, como veremos mais adiante. Primeiro, vou reanalisar a definição de EPP:

(27) PRINCÍPIO DA PROJEÇÃO ESTENDIDO: As posições [Spec, DP] e [Spec,


IP] devem estar sempre preenchidas.

Nessa proposição que estamos adotando, o PRO que ocupa [Spec, DP] pode encontrar re-
ferência em um elemento anterior, ou pode ser meramente arbitrário, sem referência. Agora,
vejamos como funciona a ligação das anáforas e dos pronomes nesses casos.

(28) [Os rapazes]i contaram [DP PROi histórias sobre [si]i ].

IP

DPi I’

os rapazes I VP

contaram t V’

t DP

PROi D’

e NP

N’

N PP

histórias P’

P DPi

sobre si
Nesse caso, o PRO (que, para nós, funciona mais ou menos como um pronome) encontra
referência fora da sua CR, que é o esperado: é o DP [o rapazes]. A anáfora si encontra
referência no PRO, que está dentro da sua CR, que também é o esperado.

96
(29) [Os rapazes]i contaram [DP PROj histórias sobre [eles]i ].
IP

DPi I’

os rapazes I VP

contaram t V’

t DP

PROj D’

e NP

N’

N PP

histórias P’

P DPi

sobre eles
Nesse caso, entendemos que o PRO não tem ligação dentro da sentença (é isso que indica
o subíndice j, que só esse PRO tem: ele não está ligado a ninguém, porque nenhum outro
elemento tem o índice j). Nesse caso, o pronome eles encontra referência em um elemento
que está fora da sua CR, a saber, o DP [os rapazes]. Neste caso, a condição dos pronomes
também foi satisfeita.
Acredito que essa conceituação é bastante densa. No próximo tópico, vou trabalhar
exemplos de categorias de regência aplicada a diversas sentenças.

3.3 Exemplos de Categorias de Regência de Anáforas


e Pronomes
Para todos os dados que vou apresentar a seguir, usarei a definição de Categoria de Regência
a que nós chegamos no tópico anterior.
(30) CATEGORIA DE REGÊNCIA (CR): A Categoria de Regência de α é o menor
XP que contém α e
a. um sujeito distinto de α que não contenha α; ou

97
b. um núcleo I ou D.

(31) Joãoi sei/∗j viu.

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

se viu t V’

t DPi/∗j

t
Nessa sentença, a CR da anáfora se é o IP, porque é o menor XP que contém [João], um
sujeito distinto de se que não contém se. Se essa é a CR e se é uma anáfora, ela deve estar
ligada dentro dessa CR. Isso acontece: ela está ligada a [João], que pertence à sua CR.
Faço apenas um comentário sobre esse assunto. A anáfora não é movida ao núcleo I,
porque sabemos que a anáfora é um DP, e um sintagma não pode mover-se a uma posição de
núcleo, nem vice-versa. O que acontece é que o núcleo do DP anafórico é um clítico, que se
move ao núcleo V. Então, para nós, a anáfora continua sendo aquele DP que está em [Comp,
VP]. O núcleo se que foi movido é apenas o núcleo da anáfora, mas a anáfora em si ainda
está na posição onde nasceu.
O leitor atento poderá perguntar outra coisa. Ora, o [Spec, VP] está preenchido pelo
vestígio t, que remete ao Movimento-A do DP [João] a [Spec, IP]. Podemos imaginar que a
CR é o VP, e a anáfora está ligada ao vestígio? Não podemos fazer isso. Se essa hipótese
for verdadeira, quando trocarmos se por ele (veja o próximo exemplo), a CR será a mesma:
o VP. Então, o pronome poderá estar ligado ao DP [João], porque ele está fora de sua CR.
Sabemos que isso não é possível. Porém, veremos, em outro momento, que não é possível
excluir do cálculo todas as categorias vazias. Para a definição de CR, vamos ignorar, pois,
os vestígios.

98
(32) Joãoi viu ele∗i/j .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

viu t V’

t DP∗i/j

ele
Nessa sentença, a CR do pronome ele é o IP, porque é o menor XP que contém [João],
um sujeito distinto de ele que não contém ele. Se essa é a CR e ele é um pronome, ele deve
estar ligado fora dessa CR ou pode referir-se contextualmente a outra entidade. Isso pode
acontecer. Como não há nada fora da CR, o pronome deve referir-se contextualmente a outra
entidade que não seja [João].
Peço que o leitor repare, também, que a CR de um DP não depende do tipo de DP, mas
sim da posição que ele ocupa. Como o pronome e a anáfora (do exemplo anterior) ocuparam
a mesma posição, ambos têm a mesma CR. Nos próximos exemplos, o leitor perceberá que
pronomes e anáforas que assumem a mesma posição têm a mesma CR.

(33) Ele∗i/j viu Joãoi .

CP

C’

C IP

DP∗i/j I’

Ele I VP

viu t V’

t DPi

João

99
Nessa sentença, a CR do pronome ele é o IP, porque é o menor XP que contém um núcleo
I. Se essa é a CR e ele é um pronome, ele deve estar ligado fora dessa CR ou pode referir-se
contextualmente a outra entidade. Isso pode acontecer. Como não há nada fora da CR, o
pronome deve referir-se contextualmente a outra entidade que não seja [João].
Na verdade, eu já havia mostrado anteriormente que nem sequer cogitamos que o pro-
nome possa referir-se a [João], porque, em princípio, a ligação só pode ser feita de baixo para
cima, da direita para a esquerda, ou seja, o pronome só poderia ligar-se a um elemento que
estivesse acima dele, se fosse o caso.

(34) Joãoi disse que Rafaelj se∗i/j/∗k viu.

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

disse t V’

t CP

C’

C IP

que
DPj I’

Rafael I VP

se viu t V’

t DP∗i/j/∗k

t
Nessa sentença, a CR da anáfora se é o IP encaixado, porque é o menor XP que contém
um núcleo I. Se a anáfora deve estar ligada dentro de sua CR. Isso acontece: ela se liga ao
DP [Rafael]. Ela não pode estar ligada a [João].

100
(35) Joãoi disse que Rafaelj viu elei/∗j/k .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

disse t V’

t CP

C’

C IP

que DPj I’

Rafael I VP

viu t V’

t DPi/∗j/k

ele
Nessa sentença, a CR do pronome ele é igual à da anáfora: é o IP encaixado. Como
o pronome não pode estar ligado dentro de sua CR, há duas opções: ou ele se liga ao DP
[João], ou ele se refere a um outro elemento recuperado contextualmente.

101
(36) Joãoi disse que elei/∗j/k viu Rafaelj .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

disse t V’

t CP

C’

C IP

que DP I’
i/∗j/k

ele I VP

viu t V’

t DPj

Rafael
Nessa sentença, a CR do pronome ele é o IP encaixado, porque é o menor XP que contém
um núcleo I. Esse pronome vai procurar um referente fora desse domínio: ele pode encontrar
o DP [João], ou pode referir-se a um elemento contextualmente recuperável. Vale lembrar
que nem se cogita que ele possa se referir a [Rafael], porque este vem depois daquele, e a
referência (pelo menos até este momento) só é feita a elementos que antecedem o pronome
ou a anáfora.
Talvez haja um certo questionamento quanto à definição de CR. O leitor pode perceber
que a definição de CR (que apresentei no começo deste tópico) tem duas cláusulas. Mas
quando elas se aplicam? Funciona da seguinte forma: da anáfora/pronome para cima, todos
os especificadores passam pelas duas cláusulas, na ordem da definição (primeiro a cláusula
(a), depois a (b)). Então, primeiro olhamos a própria posição do [Spec, IP] (onde o pronome
está). Aplicamos a cláusula (a): nessa posição, existe um sujeito distinto de α que não con-
tém α? Não. O sujeito é o próprio α (que, neste caso, é o pronome). Agora, passamos à
cláusula (b): na projeção máxima desse especificador (ou seja, o IP), há um núcleo I? Sim.
Então, como a cláusula (b) foi aplicável, essa é a CR. Daqui em diante, vou aplicar essas

102
cláusulas mais fortemente.

(37) Joãoi disse que sei/j viu.

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

disse t V’

t CP

C’

C IP

que pro I’
i/j

I VP

se viu t V’

t DPi/j

t
Esse exemplo serve para mostrar duas coisas. A primeira é que se deve ter cuidado com
categorias vazias. Se não imaginássemos que há um pro em [Spec, IP], a CR da anáfora se
vai ser o IP, e não seria possível sua ligação com [João]. Na verdade, essa ligação de fato não
é permitida: se está ligado ao pro, e o pro está ligado a [João]. Do ponto de vista da ligação,
o pro funciona da mesma maneira que um pronome comum.
Vamos tratar o pro como um pronome. Qual é a sua CR? Vamos avaliar as cláusulas da
definição da CR a partir do [Spec, IP]. Primeira cláusula: em [Spec, IP], existe algum sujeito
distinto de α que não contenha α? Não. O sujeito é o próprio α (que, neste caso, o pronome).
Segunda cláusula: a menor projeção máxima contém um núcleo I? Sim. A menor projeção
máxima é o IP, que contém um núcleo I. Logo, como a segunda cláusula foi aplicável, a CR
do pronome é o IP encaixado. Ele pode procurar um referente fora desse domínio (que, neste
caso, seria o DP [João]), ou pode referir-se a um elemento recuperado contextualmente.
Agora vamos avaliar a CR da anáfora se. A menor projeção máxima que contém a
anáfora é o IP encaixado. Vamos avaliar as cláusulas da definição. Primeira cláusula: existe

103
algum sujeito distinto de α que não contém α? Sim, o pro. Logo, como a primeira cláusula
funcionou, o CR é o IP encaixado. A anáfora deve estar ligada a um elemento dentro desse
domínio: é o próprio pro. Eu faço uma ressalva: na árvore, eu indiquei que tanto o pro
quanto o se podem ter o índice i ou j, mas há uma condição: o índice do pro deve ser igual
ao da anáfora se, porque os dois estão ligados.
Podemos imaginar que o pro, a anáfora se e o DP [João] estão todos ligados: nesse caso,
a anáfroa está ligada ao pro (dentro da sua CR), e o pro está ligado ao DP [João] (fora da
sua CR).

(38) Joãoi é orgulhoso de sii/∗j .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

é t V’

t AP

t A’

A PP

orgulhoso P’

P DPi/∗j

de si
Talvez agora a questão das cláusulas da definição de CR fique mais clara. A anáfora si
está dentro do PP. Vamos olhar para [Spec, PP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito
distinto de α que não contém α? Não. Essa posição está vazia. Segunda cláusula: dentro
da projeção máxima, há um núcleo I ou D? Não. O núcleo é P. O leitor percebe que as duas
cláusulas falharam? Isso mostra que o PP não é CR da anáfora. Agora, passamos à próxima
posição de especificador: o [Spec, AP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α
que não contém α? Não. Essa posição está vazia (relembro o fato de que estamos ignorando
os vestígios). Segunda cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo I ou D? Não. Como
as duas cláusulas falharam, o AP não é a CR da anáfora si. Vamos passar ao próximo espe-
cificador: o [Spec, VP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não contém
α? Não. Essa posição está vazia. Segunda cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo
I ou D? Não. Como as duas cláusulas falharam, o VP não é a CR da anáfora si. Vamos

104
passar ao próximo especificador: o [Spec, IP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto
de α que não contém α? Sim, o DP [João] é um sujeito distinto da anáfora. Logo, o IP é a
CR da anáfora. A anáfora deve estar ligada dentro da sua CR; ela encontra, pois, o DP [João].

(39) Joãoi é orgulhoso dele∗i/j .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

é t V’

t AP

t A’

A PP

orgulhoso P’

P DP∗i/j

de ele
O leitor já deve perceber, imediatamente, que, se o pronome está no mesmo lugar que
a anáfora ocupava no exemplo anterior, então a CR é a mesma: o IP. O leitor pode tentar
fazer os mesmos testes que eu executei no exemplo anterior: chegará à mesma conclusão. Se
a CR é o IP, o pronome deve estar ligado a um elemento fora da CR, ou deve retomar algum
outro elemento contextualmente. Como, nessa sentença, não há nada fora do IP, ele só pode
se referir contextualmente a outro elemento.

105
(40) Joãoi acha Rafaelj bom para si∗i/j/∗k .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

acha t V’

t AP

DPj A’

Rafael A PP

bom P’

P DP∗i/j/∗k

para si
Vamos avaliar a CR da anáfora. Primeiro, avaliemos [Spec, PP]. Primeira cláusula: existe
algum sujeito distinto de α que não contém α? Não. Essa posição está vazia. Segunda cláu-
sula: dentro da projeção máxima, há um núcleo I ou D? Não. Isso mostra que o PP não é
CR da anáfora. Agora, passamos à próxima posição de especificador: o [Spec, AP]. Primeira
cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Sim. É o DP [Rafael]. Então,
o AP é a CR de si. A anáfora deve estar ligada dentro de sua CR. A anáfora se liga, então,
a [Rafael]. Ela não pode estar ligada a [João], porque esse DP está fora de sua CR.

106
(41) Joãoi acha Rafaelj bom para elei/∗j/k .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

acha t V’

t AP

DPj A’

Rafael A PP

bom P’

P DPi/∗j/k

para ele
Como já vimos anteriormente, se o pronome ocupa a mesma posição da anáfora, a CR
é a mesma: o AP. Então, o pronome pode encontrar referente fora de sua CR (neste caso,
seria o DP [João]) ou pode referir-se a um elemento contextualmente recuperável.

107
(42) Joãoi sei/∗j/∗k acha bom para Rafaelj .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

se acha t V’

t AP

DPi/∗j/∗k A’

t A PP

bom P’

P DPj

para Rafael
A anáfora agora está em [Spec, AP]. Vamos avaliar essa mesma posição. Primeira cláu-
sula: existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Não. O sujeito é o próprio α
(neste caso, a anáfora). Segunda cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo I ou
D? Não. Como as duas cláusulas falharam, o AP não é a CR da anáfora. Vamos passar ao
próximo especificador: o [Spec, VP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que
não contém α? Não. Essa posição está vazia. Segunda cláusula: a projeção máxima contém
algum núcleo I ou D? Não. Como as duas cláusulas falharam, o VP não é a CR da anáfora.
Vamos passar ao próximo especificador: o [Spec, IP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito
distinto de α que não contém α? Sim, o DP [João] é um sujeito distinto da anáfora. Logo,
o IP é a CR da anáfora. A anáfora deve estar ligada dentro da sua CR; ela encontra, pois,
o DP [João]. Ressalto que não há a possibilidade de ligação entre a anáfora e o DP [Rafael],
porque o referente da anáfora ou do pronome devem aparecer antes (à esquerda) da anáfora
ou do pronome.

108
(43) Joãoi acha ele∗i/∗j/k bom para Rafaelj .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

acha t V’

t AP

DP∗i/∗j/k A’

ele A PP

bom P’

P DPj

para Rafael
Como já vimos anteriormente, se o pronome ocupa a mesma posição da anáfora, a CR é
a mesma: o IP. Então, o pronome pode encontrar referente fora de sua CR (neste caso, não
há nada fora do IP) ou pode referir-se a um elemento contextualmente recuperável.

109
(44) * Joãoi ficou triste por si∗i/∗j .

CP

C’

C IP

DPi I

João
I VP

ficou
VP PP

t V’ P’
t AP P DP∗i/∗j
t A’ por si
A

triste
Esse exemplo pode ter impressionado o leitor, porque a frase é agramatical. Por quê?
Vejamos a CR. A primeira posição de especificador é o [Spec, PP]. Primeira cláusula: existe
algum sujeito distinto de α que não contém α? Não. O [Spec, PP] está vazio. Segunda
cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo I ou D? Não. Então, o PP não é CR da
anáfora. Agora passamos ao próximo especificador, que deveria ser [Spec, IP]. Mas nós não
podemos fazer isso, porque eu aleguei anteriormente que, para fins de ligação, as Posições-Ā
são ignoradas. Então, para todos os fins, a anáfora não possui CR nessa posição. Como a
anáfora precisa de CR para determinar o seu domínio de ligação, a sentença é agramatical.

110
(45) Joãoi ficou triste por elei/j .

CP

C’

C IP

DPi I

João
I VP

ficou
VP PP

t V’ P’
t AP P DPi/j
t A’ por ele
A

triste
Por analogia com o exemplo anterior, o leitor deve imaginar que o pronome também ficará
sem CR. De fato, é isso que acontece. Porém, o pronome sempre dispõe de duas possibilidades
de referência: ele pode referir-se a um elemento externo à sua CR, ou pode referir-se a um
elemento contextualmente recuperado, ou seja, a um elemento que não é apresentado na
sentença em si. Se o pronome não tem CR, ele obviamente não pode fazer o primeiro tipo de
ligação, porque o sistema gramatical não consegue definir qual referência é longa ou curta.
Mas o pronome pode referir-se a um elemento contextualmente recuperado.
O leitor pode se perguntar ”ora, por que, então, o pronome pode, nesse caso, estar li-
gado ao DP [João], se ele está expresso na sentença?”. Na verdade, o ele e o DP [João] não
estão ligados; o pronome está se referindo a [João] da mesma forma que ele se referiria caso
estivesse referindo-se a um elemento contextualmente recuperado. Vamos entender isso em
outro momento. Por enquanto, vamos assumir que o pronome pode referir-se a [João] ou
a um elemento contextualmente recuperado, porque o pronome e a anáfora têm atuações
complementares: o que um faz, o outro não faz.

111
(46) Joãoi sei/∗j viu fazer besteira.

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

se viu t V’

t VP

DPi/∗j V’

t V DP

fazer besteira
A anáfora está no [Spec, VP] mais encaixado. Vamos avaliar a CR. Primeira cláusula:
existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Não. O sujeito é o próprio α (neste
caso, a anáfora). Segunda cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo I ou D? Não.
Vamos passar ao próximo especificador: o [Spec, VP] menos encaixado. Primeira cláusula:
existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Não. Essa posição está vazia. Segunda
cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo I ou D? Não. Vamos passar ao próximo
especificador: o [Spec, IP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não
contém α? Sim. É o DP [João]. Então, a CR da anáfora é o IP. Ela deve estar ligada dentro
desse domínio: ela se liga ao DP [João].

112
(47) Joãoi viu ele∗i/j fazer besteira.

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

viu t V’

t VP

DP∗i/j V’

ele V DP

fazer besteira
Como o pronome está na mesma posição que a anáfora ocupava, sua CR é a mesma: o
IP. O pronome pode referir-se a um elemento fora de sua CR (o que não é possível nesse
caso, porque não há nada além da CR) ou a um elemento recuperado contextualmente.

113
(48) Joãoi viu Rafaelj se∗i/j/∗k beijar.

CP

C’

C IP

DPi I’

João I IP

viu VP

t V’

t VP

DPj V’

Rafael V DP∗i/j/∗k

se beijar t
Agora, a anáfora está no [Comp, VP] mais encaixado. Vamos avaliar a primeira posição
de especificador possível: o [Spec, VP] mais encaixado. Primeira cláusula: existe algum
sujeito distinto de α que não contém α? Sim. É o DP [Rafael]. Portanto, o VP encaixado é
a CR da anáfora. Como a anáfora deve estar ligada dentro da CR, ela se liga justamente ao
DP [Rafael].

114
(49) Joãoi viu Rafaelj beijar elei/∗j/k .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I IP

viu VP

t V’

t VP

DPj V’

Rafael V DPi/∗j/k

beijar ele
Como o pronome está ocupando a mesma posição da anáfora do exemplo anterior, a CR
é a mesma: o VP encaixado. Assim, o pronome pode referir-se a um elemento externo à
sua CR (que, neste caso, seria o DP [João]) ou a um elemento que possa ser recuperado
contextualmente.

115
(50) [Qual pessoa]i Joãoj disse que sei/∗j/∗k viu.
CP

DPi C’

qual pessoa C IP

[q] DPj I’

João I VP

disse t V’

t CP

vbl C’

C IP

que vbl I’

I VP

se viu t V’

t DPi/∗j/∗k

t
Agora, por último, nós vamos discutir um caso um pouco mais complexo. Bem, vamos
avaliar a CR da anáfora. O primeiro especificador acima da anáfora é o [Spec, VP] encaixado.
Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Não. Essa posição
está vazia. Segunda cláusula: a projeção máxima contém algum núcleo I ou D? Não. Vamos
passar ao próximo especificador: o [Spec, IP] encaixado. Primeira cláusula: existe algum
sujeito distinto de α que não contém α? Não. Essa posição está vazia. Segunda cláusula: a
projeção máxima contém algum núcleo I ou D? Sim. Então, o IP é a CR da anáfora. Porém,
se o IP for a CR da anáfora, haverá um problema: essa anáfora se refere ao DP [qual pessoa],
que está fora de sua CR. Como resolver esse problema?
A questão toda é que o DP [qual pessoa] sofreu Movimento-Ā, para [Spec, CP]. Essa é
uma Posição-Ā, que não é acessível em termos de ligação. Então, se a ligação não levasse em
consideração as variáveis, a anáfora nunca poderia estar ligada ao DP que faz Movimento-Ā.
Então, nós precisaremos fazer uma ressalva. Nós ignoramos os vestígios até agora: quando
uma posição tem vestígio, dizemos que ela está vazia. Porém, quando há uma variável, não
podemos dizer que aquela posição está vazia, porque a variável é resultado de Movimento-Ā.

116
Então, vamos voltar à identificação da CR do [Spec, IP]. Primeira cláusula: existe algum
sujeito distinto de α que não contém α? Sim. A variável vbl é esse sujeito. Assim, a anáfora
se se refere à variável em [Spec, IP], e a variável em [Spec, IP] se refere à outra variável, que
está em [Spec, CP], e essa última variável, por fim, se refere ao DP [qual pessoa].

3.4 Coindexação e Ligação


Agora, nós vamos fazer distinção entre dois conceitos: a coindexação e a ligação. A coinde-
xação foi o que vimos até agora, de maneira mais direta. Primeiro, o leitor deve reparar que,
em todas as Expressões-R, eu inseri um índice, que começava por i (i, j, k...). O pronome
ou a anáfora poderiam ter o mesmo índice dessas expressões. Isso é a coindexação (co-
= mesmo, index = índice). Quando dois DPs estão coindexados, eles se referem à mesma
entidade no mundo.
Então, nós devemos perceber que a coindexação é um fenômeno eminentemente semântico,
e não sintático. No cérebro, nós delimitamos quais são os DPs que queremos coindexar.
Existem alguns DPs que já têm referência própria (as Expressões-R). Outros DPs ”foram
feitos”para estarem coindexados com outros DPs: é o caso dos pronomes e das anáforas.

(51) COINDEXAÇÃO: Dois DPs estão coindexados quando, semanticamente, têm a


mesma interpretação.

Devemos perceber alguns fatos sobre a coindexação. Ela é um fenômeno mental que está
relacionado à interpretação dos elementos no mundo. Então, é possível que a coindexação
aconteça entre frases distintas. Nós chegamos a essa conclusão quando vimos que os pronomes
podem ”retomar contextualmente”elementos externos à sentença que está sendo pronunciada
vejamos um exemplo. Imaginemos que alguém lhe diga o seguinte: ”Como João está?”. Você
responde à pessoa que lhe perguntou: ”Ele está bem.”. É nítido que o pronome ele e o DP
João, mesmo que pertençam a sentenças distintas, estão coindexados, porque se referem ao
mesmo elemento, ou seja, são interpretados da mesma forma.

(52) Como Joãoi está?


(53) Elei está bem.

Se pensarmos numa frase descontextualizada como ”Ele está bem.”, nada impede que o
pronome ele assuma absolutamente qualquer índice. Pragmaticamente, basta haver suficiente
contexto, para que seja possível identificar o índice do pronome.
O conceito de ligação é uma consequência da coindexação. A Ligação é um fenômeno
sintático que, de certa forma, restringe as possibilidades de coindexação. Por exemplo, a
anáfora é um elemento que deve estar ligado ao primeiro sujeito disponível em sua CR. Isso
mostra que a ligação diminui as possibilidades de coindexação da anáfora a somente uma: o
sujeito de sua CR. Então, a ligação é uma condição sintática que delimita o conjunto de pos-
sibilidades de coindexação entre elementos pertencentes à mesma sentença. Nós percebemos
alguns fatos sobre a ligação: (i) um pronome ou anáfora só pode estar ligado a um elemento
que está à sua esquerda, e (ii) a ligação só consegue enxergar Posições-A.

117
Na verdade, quanto à primeira cláusula, não é suficiente apenas aparecer à esquerda.
Vejamos um exemplo:

(54) Joãoi disse que [seui amigo]j se∗i/j/k ama.

IP

DPi I’

João I VP

disse t V’

t CP

C’

C IP

que
DPj I’

PossPi D’ I VP

Poss’ D NP se ama t V’

Poss e amigo t DP∗i/j/k

seu t
Vou tentar explicar a representação. O DP [João] tem índice i, e o DP [seu amigo] tem
índice j. Estou pressupondo que o pronome seu recebe o índice i, ou seja, ele se refere a
[João]8 . Vamos avaliar a CR da anáfora se. Não pode ser o VP, porque [Spec, VP] está vazio
e o núcleo não é nem I, nem D. A CR da anáfora é o IP, que contém um sujeito distinto da
anáfora que não a contém: o DP [seu amigo]. Se bastasse estar à esquerda para que a ligação
fosse possível, a anáfora se poderia estar ligada ao pronome seu, porém sabemos que isso não
é possível.
Na verdade, a ligação também é regulada por uma relação de c-comando, que nós já
vimos anteriormente. Vamos, então, formalizar o conceito de ligação.
8
Sabemos que é perfeitamente possível que esse pronome se refira a um elemento recuperado contextu-
almente. Mas, neste exemplo, peço que o autor analise a sentença como se o pronome seu e o DP João
estivessem coindexados.

118
(55) LIGAÇÃO: α se liga a β sempre que:
a. β c-comandar α;
b. α e β estiverem em Posições-A; e
c. α e β estiverem coindexados.

Agora, vamos rever algumas análises que construímos anteriormente.

(56) Joãoi sei/∗j acha bom para ele∗i/j .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

se acha t V’

t AP

DPi/∗j A’

t A PP

bom P’

P DP∗i/j

para ele
O leitor poderá fazer os testes que fizemos anteriormente. Chegará à conclusão de que a
CR da anáfora se é o IP, e a CR do pronome ele é o AP. Sabemos que a anáfora deve estar
ligada (agora, em sentido mais técnico) a um elemento que pertence à sua CR: é o DP [João].
O pronome, por outro lado, deve estar ligado fora de sua CR. Porém, veja que curioso: o
pronome ele não pode estar ligado ao DP [João], mesmo que ele esteja fora de sua CR. Por
quê?
Suponhamos que essa ligação seja possível. Se for, então o DP [João] e o pronome ele estão
coindexados com o índice j (essa é uma das condições para a ligação). Porém, já é sabido
que a anáfora também está ligada a [João], portanto ambos estão coindexados também. Se
o índice de [João], da anáfora e do pronome forem o mesmo, então o pronome ele e a anáfora

119
se também estarão colateralmente coindexados. Agora, vejamos: a anáfora se c-comanda o
pronome ele, a anáfora e o pronome estão em Posições-A e ambos estão coindexados. Essas
são todas as condições da ligação, portanto o pronome está ligado à anáfora. Isso não é
permitido, porque, nesse caso, o pronome está ligado a um elemento que está dentro de sua
CR, e vimos que, se o pronome estiver ligado, deve ser ligado a um elemento fora de sua CR.
É por isso que o pronome e a anáfora, nessa frase, não podem estar coindexados.
Agora eu quero que o leitor relembre aquela ideia dos Movimentos-A, nos quais a sin-
taxe só consegue enxergar Posições-A. Na Ligação, a sintaxe também só consegue enxergar
Posições-A.

(57) Quando a sintaxe enxerga apenas as Posições-A:

IP

a I’

VP

a V’

IP

a I’

VP

a V’

IP

a I’

VP

a V’

(...)
Agora, quero que o leitor relembre a situação hipotética que eu apresentei para mostrar
como pronomes conseguem fazer referência a elementos externos à sentença.

(58) Como Joãoi está?


(59) Elei está bem.

É claro que os DPs João e ele não estão ligados, mas sim coindexados, porque, obvia-
mente, não existe entre eles nenhum tipo de relação de c-comando (afinal, eles não pertencem

120
à mesma sentença). Agora, vejamos o que acontece num caso como este:

(60) A Mariai , eu falei com elai ontem.

CP

DPi C’

A Maria
C IP

DP I’

eu
I VP

falei
VP AdvP

t V’ Adv’

t PP Adv

P’ ontem
P DPi

com ela
Sabemos que o pronome ela e o DP [Maria] estão coindexados, porque eles se referem à
mesma entidade no mundo, ou seja, têm a mesma interpretação semântica. Porém, eles estão
ligados? Não, de forma alguma, porque a ligação só pode ocorrer entre elementos que estão
em Posição-A. O que isso significa, na prática?
Isso significa que as coindexações que foram apresentadas nesse exemplo (”A Maria, eu
falei com ela ontem”) e no exemplo anterior (”Como João está?”, ”Ele está bem”) são exa-
tamente as mesmas. A Ligação não enxerga as Posições-Ā. Portanto, do ponto de vista
da Ligação, o DP [a Maria] nem está na sentença: é como se o pronome estivesse fazendo
referência a um elemento que está fora da sentença. Então, o pronome ele não está ligado
diretamente ao DP [Maria]; eles apenas têm a mesma referência.

(61) Você viu a Mariai nestes dias?


Eu falei com elai ontem.
(62) A Mariai , eu falei com elai ontem.

Nesses dois exemplos, a coindexação entre o pronome e o DP [a Maria] é feita da mesma


forma: sem ligação. Portanto, quando um DP está em Posição-Ā, é como se ele nem existisse
dentro daquela sentença para a Ligação.

121
Antes de passar ao próximo tópico, também quero explorar a possibilidade de Expressões-
R estarem coindexadas também. Isso é tratado em manuais de redação como coesão lexical:
quando um hiperônimo retoma contextualmente um hipônimo.
(63) Achei um gatoi na rua. Acabei levando o bichinhoi para casa.
Uma Expressão-R jamais pode estar ligada a outra. Então, nas posições de pronome ou
de anáfora, seria impossível uma ligação entre um hipônimo e um hiperônimo.
(64) * O gatoi viu o bichinhoi .
(65) * O gatoi disse que o bichinhoi estava na rua.
Mas, se o hiperônimo estiver em Posição-A, e o hipônimo, em Posição-Ā, a coindexação
é possível, porque, nessas posições, é impossível que a ligação aconteça. Vamos lembrar que
a ligação só acontece entre elementos que estão em Posição-A.
(66) A dona d[o gato]i levou [o bichinho]i para casa.
Isso é possível, porque [do gato] é adjunto do nome [dona]. Logo, o DP [o gato] está em
Posição-Ā.
Outra questão interessante em relação a essa questão de Posição-A e Ā é a seguinte:
(67) Mesmo que elei vá embora, quero o Joãoi na minha vida.
Mesmo que [João] apareça depois de [João], é possível a coindexação? Sim. Vamos
recordar que a oração mesmo que ele vá embora é adverbial, logo funciona como adjunto.
Como se trata de um adjunto, está em Posição-Ā. Então, para a ligação, é como se houvesse
duas sentenças:
(68) Mesmo que elei vá embora
(69) Quero o Joãoi na minha vida
Esse é o caso em que o pronome pode referir-se a um elemento recuperado contextual-
mente. O elemento recuperado é, pois, [João]. Realmente existe a necessidade de que um
elemento se ligue a outro que o c-comande (o que consequentemente implica que esteja à sua
esquerda). Mas, no caso da coindexação sem ligação, quando ela é possível, não necessita
tão fortemente de que o elemento coindexado esteja à esquerda. Nesse caso, o pronome está
coindexado a um elemento que aparece à sua direita na ordem linear, e não há problema
nisso.

3.5 Tipologia dos DPs Lexicais e os Princípios da Teo-


ria da Ligação
Neste tópico, eu vou apenas resumir tudo o que vimos até agora e apresentar os Princípios
da Teoria da Ligação.
Primeiro, existem as anáforas. Elas precisam estar ligadas dentro de sua Categoria de
Regência, obrigatoriamente. As anáforas do português são se, si, ele(a)(s) mesmo(a)(s), um
ao outro, um no outro, etc.

122
Tabela 3.1: Traços [a] e [p] dos DPs Lexicais
[a] [p]
Anáfora + -
Pronome - +
Expressão-R - -
+ +

Também existem os pronomes. Eles podem estar ligados ou não. Quando eles estão
ligados, a ligação deve ser feita com um elemento que está fora da sua Categoria de Re-
gência, obrigatoriamente. Quando o pronome não está ligado, ele deve estar coindexado a
outro elemento recuperado contextualmente. Existem vários pronomes na língua: ele(a)(s),
esse(a)(s), seu(s), sua(s), etc.
Por fim, existem as Expressões-R. Elas nunca podem estar ligadas. Se uma Expressão-R
X funciona como hiperônimo da Expressão-R Y, é possível que X e Y estejam coindexados,
mas nunca ligados. As Expressões-R são todos os DPs com exceção dos pronomes e das
anáforas.
A partir dessas proposições, são modelados, na Teoria da Ligação, o Princípio A (das
Anáforas), o Princípio B (dos Pronomes) e o Princípio C (das Expressões-R).

(70) PRINCÍPIO A (DAS ANÁFORAS): A Anáfora deve estar ligada dentro de sua
Categoria de Regência.
(71) PRINCÍPIO B (DOS PRONOMES): O Pronome deve estar livre dentro de sua
Categoria de Regência.
(72) PRINCÍPIO C (DAS EXPRESSÕES-R): A Expressão-R deve estar sempre
livre9 . Ela pode estar coindexada a outro elemento recuperado contextualmente.

Imaginamos que existem dois traços referentes à Teoria da Ligação: [a] (anafórico) e [p]
(pronominal). O traço [a] está relacionado à unicidade de referência, porque as anáforas só
podem referir-se a um único elemento: o sujeito de sua Categoria de Regência. O traço
pronominal remete à dupla possibilidade de estar ligado ou livre. Um pronome pode estar
ora livre, ora ligado. Assim, chegamos à seguinte tipologia dos DPs:
É importante notar que não existe nenhuma categoria [+a, +p], porque nenhuma cate-
goria compartilha características anafóricas e pronominais simultaneamente.

3.6 Exercícios
1. Represente cada uma das sentenças abaixo na estrutura superficial. É permitido sim-
plificar os DPs.

(a) Rodrigo levantou na madrugada.


(b) Com qual aluno Pedro vai conversar?
9
Para a Teoria da Ligação, ”estar livre”é o oposto de ”estar ligado”. Se um elemento não estiver ligado a
outro, ele está livre, mesmo que esteja coindexado a outro elemento.

123
(c) A Maria, o João disse que é bonita.
(d) Meu aluno acha a matéria desinteressante.
(e) João deixou o aluno sair cedo.
(f) Os alunos entraram na sala de manhã.

2. Retorne ao exercício anterior e, para cada DP, indique se ele esta em Posição-A ou em
Posição-Ā.

3. Indique a cadeia de cada um dos DPs destacados nas sentenças abaixo e classifique-a.

(a) Maria vai ser estudiosa.


(b) Quem você falou que está chateado?
(c) João comeu bolo.
(d) Roberto nadou na piscina.
(e) Chegou uma encomenda.
(f) A Maria, eu falei com ela.

4. Analise a seguinte sentença:


Ele falou que está doente.

Nessa frase, o pronome está livre e não está coindexado com nenhum outro elemento
interno à sentença. Qual é a diferença entre esse emprego do Pronome e uma Expressão-
R?

5. Analise a seguinte derivação:


[IP DPi I [VP t V [AP DPi A [PP P DPi ] ] ] ]

Por que o DP que está em [Comp, PP] não pode ser um Pronome?

6. Identifique, nas seguintes estruturas abstratas, a CR de todos os DPs.

(a) Primeira estrutura:


IP

DPi I’

I VP

V’

V PP

P’

P DPj

124
(b) Segunda estrutura:
IP

pro I’

I VP1

V’

V VP2

DPi V’

V DPj
7. Existe algum caso no qual um pronome deva obrigatoriamente estar coindexado a
um elemento interno à sentença, sem possibilidade de fazer referência a um elemento
recuperado contextualmente? Se houver, explique por que isso acontece.

8. Ao longo da teoria construída, vimos que a anáfora não pode ocupar algumas posições
sintáticas. Indique quais são essas posições e explique por que a anáfora não pode
ocupá-las.

9. Explique a agramaticalidade de cada uma das sentenças abaixo. Leve em consideração


as ligações indicadas. Aponte qual Princípio está sendo violado.

(a) * [A Maria]i ama [sua dona]i .


(b) * O amigo de [João]i [se]i ama.
(c) * [O gato]i disse que viu [o bichinho]i na rua.
(d) * [Ele]i sabe que [Roberto]i é doido.
(e) * [Rafaela]i sabe que [ela]j [se]i ama.
(f) * Maria viu [Caio]i depois de [si]i .

10. Indique quais são os casos nos quais um VP ou um AP podem funcionar como CR.

11. Vimos anteriormente que existe a possibilidade de um DP não possuir CR. Quando
isso pode acontecer?

12. Vimos, em alguns momentos deste livro, um fenômeno chamado relação expletivo-
associado. Explique qual é a semelhança e qual é a diferença entre a ligação e a relação
expletivo-associado.

13. Mostre algum caso em que um pronome esteja ligado diretamente a uma anáfora.

14. Para cada uma das afirmativas abaixo, indique se ela é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) ( ) Se X está ligado a Y, então a Categoria de Regência de X é a mesma de Y.


(b) ( ) Se X é dominado pelo adjunto de Y, então X não possui Categoria de Regência.

125
(c) ( ) A delimitação da Categoria de Regência de um DP independe da sua tipologia
em relação à Ligação.
(d) ( ) X e Y estarem coindexados não garante que eles estejam ligados.
(e) ( ) Se Y está em Posição-Ā e X é dominado por Y, então X não pode estar
coindexado a um elemento fora do domínio de Y.
(f) ( ) Os vestígios e as variáveis são ignorados para a delimitação da Categoria de
Regência.

15. Faça uma lista com todos os princípios, filtros, restrições, condições e critérios que você
aprendeu neste capítulo, seguidos de suas respectivas definições.

Os gabaritos de todas as questões estão no fim deste livro.

126
Capítulo 4

DPs Vazios

4.1 Introdução
Neste momento, quero discutir os objetivos deste capítulo. Vamos discutir o estatuto sintático
das quatro categorias vazias que conhecemos: o vestígio t, a variável vbl, o pro e o PRO.
Até este momento, nós discutimos bastante o vestígio e a variável, que foram tratados
como meros indicadores de movimento sintático. Na verdade, nós veremos que todas essas
categorias são DPs tais e quais os DPs Lexicais. A única diferença é que os DPs que vamos
estudar a partir de agora não são pronunciados. Já sabemos que isso traz consequências para
a Teoria do Caso e também para a Ligação.

4.2 Teoria do Vestígio


Vamos relembrar alguns fatos sobre o vestígio. O mais importante deles é que o vestígio
resulta sempre da execução de um Movimento-A. Além disso, o Movimento-A é executado
para permitir que um DP saia de uma posição temática e chegue a uma posição casual.
A partir dos exemplos de Categoria de Regência, percebemos que existem três CRs pos-
síveis: o IP (na maioria das situações), o VP (quando α é complemento do VP que funciona
como complemento de um verbo ECM) ou o AP (quando α é interno ao complemento do AP
que funciona como complemento de um verbo transobjetivo).
Para continuar a leitura, vou exigir do leitor um certo conhecimento sobre estruturas
gramaticais abstratas. Vou representar genericamente algumas sentenças, sem apresentar
exemplos reais. Primeiro, vamos elaborar um contexto típico no qual o IP é CR.

(1) [IP I [VP DPi V α ] ]


(2) [IP DPi I [VP ti t α ] ]

No modelo acima, eu representei um movimento. Em geral, quando o IP for a CR, haverá


um DP que se deslocará a [Spec, IP] a fim de tornar-se o sujeito da sentença. No exemplo
acima, o DP que estava em [Spec, VP] se moveu a [Spec, IP] justamente para receber Caso.
Essa é uma situação clássica, que aparece em sentenças como ”João comeu bolo”. Agora,
vamos imaginar o caso no qual o VP é CR.

127
(3) [IP I [VP DPi V [VP DPj V α ] ] ]
(4) [IP DPi I [VP ti t [VP DPj V α ] ] ]

Perceba que, se o VP encaixado for uma CR, o DP que está em [Spec, VP] não executa
nenhum Movimento-A, porque ele já recebe Caso nessa posição. Agora, vejamos o caso em
que o AP é a CR.

(5) [IP I [VP DPi V [AP DPj A [PP P α ] ] ] ]


(6) [IP DPi I [VP ti t [AP DPj A [PP P α ] ] ] ]

Acontece a mesma coisa. O [Spec, AP] não faz Movimento-A, porque ele também recebe
Caso nessa posição.
O que eu quero mostrar com essas proposições? Vamos supor que α seja uma anáfora
que esteja ligada a um DP (obviamente, dentro da CR(α)). Eu acabei de mostrar que esse
DP ao qual α está ligado jamais poderá sair da CR(α) por meio de Movimento-A. Ele pode
até executar Movimento-A, mas sempre dentro da CR de α. Isso implica um outro fato:
o vestígio sempre acabará ligado com um elemento que está dentro de sua CR também.
Vejamos um exemplo com mais vestígios:

(7) [IP I [VP V [AP DPi A ] ] ]


(8) [IP DPi I [VP ti V [AP ti A ] ] ]

Esse é um caso com verbo copulativo. Vamos avaliar a CR dos vestígios. Vou começar
pelo vestígio que está em [Spec, AP]. Vamos avaliar diretamente a posição em que ele está:
o [Spec, AP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Não.
A posição está vazia (lembro que os vestígios são ignorados). Segunda cláusula: dentro da
projeção máxima, há um núcleo I ou D? Não. O núcleo é A. Então, vamos passar à próxima
posição de especificador: [Spec, VP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que
não contém α? Não. A posição está vazia. Segunda cláusula: dentro da projeção máxima, há
um núcleo I ou D? Não. Vamos passar, por fim, à próxima posição de especificador: [Spec,
IP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Sim. É o DPi .
Então, o IP é a CR do vestígio que está em [Spec, AP].
Agora, vamos avaliar a CR do vestígio que está em [Spec, VP]. Vamos começar pela
própria posição de [Spec, VP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não
contém α? Não. A posição está vazia. Segunda cláusula: dentro da projeção máxima, há
um núcleo I ou D? Não. Vamos passar, por fim, à próxima posição de especificador: [Spec,
IP]. Primeira cláusula: existe algum sujeito distinto de α que não contém α? Sim. É o DPi .
Então, o IP também é a CR do vestígio que está em [Spec, VP].
Agora, há uma questão: o vestígio sempre estará ligado a esse elemento que pertence à
sua CR? Vejamos: é óbvio que o vestígio e o DP movido estarão coindexados, porque eles têm
a mesma referência. Obviamente, ambos estarão em Posição-A, porque o vestígio é resultado
de Movimento-A, e o Movimento-A sempre ocorre entre uma Posição-A e outra Posição-A.
Por fim, o DP movido sempre c-comandará o vestígio? Certamente. Vimos, no capítulo sobre
movimento, que, quando um DP vai executar Movimento-A, ele deve mover-se à primeira
Posição-A que o c-comanda, então obviamente o DP sempre c-comandará o seu vestígio.

128
Isso demonstra que o vestígio sempre estará ligado ao DP que o gerou. Além disso,
o vestígio sempre estará ligado dentro de sua CR. Portanto, os vestígios parecem muito
anáforas. A nossa conclusão, aqui, é que os vestígios têm o mesmo comportamento de
uma anáfora para a Teoria da Ligação.

4.3 Teoria da Variável


Já sabemos que as variáveis são resultado de Movimento-Ā, e todo Movimento-Ā é dirigido
a [Spec, CP]. Vejamos o seguinte exemplo.

(9) Movimentos diversos:


a. [CP C [IP I [VP V [CP C [IP I [VP V [AP DPi A ] ] ] ] ] ] ]
b. [CP C [IP I [VP V [CP C [IP I [VP DPi V [AP ti A ] ] ] ] ] ] ]
c. [CP C [IP I [VP V [CP C [IP DPi I [VP ti V [AP ti A ] ] ] ] ] ] ]
d. [CP C [IP I [VP V [CP DPi C [IP vbli I [VP ti V [AP ti A ] ] ] ] ] ] ]
e. [CP DPi C [IP I [VP V [CP vbli C [IP vbli I [VP ti V [AP ti A ] ] ] ] ] ] ]

Agora, vamos tentar estabelecer a mesma analogia que nós fizemos anteriormente. A
variável sempre estará coindexada a um sintagma que está em [Spec, CP], uma Posição-Ā.
Como a variável vbl que está em [Spec, IP] está em uma Posição-A e o DP com o qual ela
está coindexada está em Posição-Ā, não pode haver ligação entre os dois. Se uma variável
estiver em [Spec, CP] e o DP com o qual ela está coindexada estiver em outro [Spec, CP],
também não poderá haver ligação, porque a ligação só acontece entre elementos que estão
em Posição-A.
Como toda variável estará coindexada a um elemento que está em algum [Spec, CP], ou
seja, em alguma Posição-Ā, nunca poderá haver ligação. A variável, portanto, nunca está
ligada: ela sempre está livre. Qual é o DP Lexical que sempre está livre? A Expressão-R.
Então, chegamos a uma conclusão. Do ponto de vista da Teoria da Ligação, a variável
e a Expressão-R têm o mesmo comportamento.
Antes de passar ao próximo tópico, preciso fazer algumas considerações sobre o vestígio
e sobre a variável. Ambos resultam de Movimento. Se um DP se mover e deixar um ves-
tígio/variável na posição de origem, é óbvio que esse vestígio/variável estará coindexado ao
DP movido. Portanto, tanto os vestígios quanto as variáveis têm de estar obrigatoriamente
coindexadas com algum DP. Além disso, vimos anteriormente que os objetos sintáticos que
recebem Papel Temático e Caso são as Cadeias (e não mais os DPs propriamente ditos).
Então, o Papel Temático do vestígio/variável sempre será o mesmo do DP movido, porque
ambos pertencem à mesma cadeia. Vamos dizer, portanto, que todo vestígio/variável pos-
sui antecedente (que é o DP movido). Em relação ao antecedente, o vestígio e a variável
só diferem em um aspeto: o antecedente do vestígio deve estar em Posição-A, enquanto o
antecedente da variável deve estar em Posição-Ā.

129
4.4 Teoria do pro
Acredito que não haja muita dúvida em relação ao pro: ele funciona exatamente como um
pronome visível; inclusive, ele pode ser substituído por um pronome.
magine a seguinte situação hipotética. Maria pergunta a João se ele sabe alguma coisa
em relação a Marcelo. Então, João diz o seguinte:
(10) Joanai disse que proj está doente.
O leitor deve perceber que o pro se refere a Marcelo, e não a Joana. Além disso, esse pro
pode ser substituído por um pronome lexical.
(11) Joanai disse que elej está doente.
Por outro lado, o pro também pode estar ligado, desde que o seja fora de sua CR.

(12) Joanai disse que ele/proj está doente.


CP

C’

C IP

DPi I’

Joana I VP

disse t V’

t CP

C’

C IP

que DPj I’

ele/pro I VP

está t V’

t AP

t A’

doente

130
A CR do pronome ou do pro é o próprio IP encaixado. Ele pode estar ligado ao DP
[Joana], porque há entre eles relação de c-comando, ambos estão em Posição-A e o DP está
fora da CR do pronome ou do pro.
O Pronome, então, pode ora estar ligado, ora estar livre, a depender da sentença. Por-
tanto, do ponto de vista da Ligação, o pro e o pronome têm o mesmo comporta-
mento.

4.5 Teoria do PRO


O leitor PRO é uma categoria complicada do ponto de vista da teoria sintática. O leitor pode
perceber que já fizemos todos os paralelismos possíveis entre DPs Lexicais e DPs vazios: a
Anáfora equivale ao vestígio, o Pronome ao pro e a Expressão-R à variável. O que falta?
Bem, com base nisso, o leitor já deve imaginar que não existe nenhum tipo de paralelismo
entre o PRO e outro DP Lexical. De fato, o PRO é bastante idiossincrático.
Primeiro fato importante é que ele foi cunhado originalmente para funcionar como sujeito
de infinitivo não flexionado. Em outras propostas, o PRO pode ocupar outras posições. Nós
mesmos adotamos a ideia de que o [Spec, DP] pode estar preenchido por um PRO.
O PRO pode figurar em duas situações possíveis. Na primeira, ele não está ligado a
nenhum elemento da sentença; ele tem interpretação indeterminada (grosso modo, como se
fosse ”alguém”).

131
(13) Os meninosi não sabem como PROj fazer bolo.

IP

DPi I’

os meninos I VP

não sabem t V’

t CP

AdvP C’

Adv’
C IP
Adv
PROj I’
como
I VP

fazer
VP vbl

t V’

t DP

bolo
Por outro lado, existe uma outra situação na qual o PRO pode aparecer. Ele pode estar
coindexado com um outro DP dentro da sentença. Nesse caso, ele continuará funcionando
como sujeito de um infinitivo.

132
(14) Os meninosi são capazes de PROi crescer.

IP

DPi I’

os meninos I VP

são t V’

t AP

t A’

A PP

capazes P’

P CP

de C’

C IP

PROi I’

I VP

crescer t V’

t
Nesse caso, o PRO obviamente está coindexado com o DP [os meninos], porque eles se
referem às mesmas entidades no mundo.
Antes de chegarmos a qualquer conclusão sobre a Ligação com PRO, precisamos discutir
outra questão. Por que, nesse último exemplo, não seria possível ”*Os meninos são capazes de
crescerem”, uma vez que o PRO está coindexado com um elemento plural? Por alguma razão,
o PRO não consegue forçar a concordância do verbo. Para compreender esse fato, vou reto-
mar a ideia do IP cindido, que vimos em outro momento. Vou excluir, para estes fins, o NegP.

133
AgrP

Agr’

Agr TP

T’

T VP
Já vimos que o AgrP carrega informações sobre número e pessoa, enquanto o TP carrega
informações sobre tempo e modo. Para mostrar que o PRO nunca força a concordância do
verbo, devemos supor dois fatos, que são, na verdade, faces da mesma moeda. Primeiro, o
PRO simplesmente não carrega informações sobre gênero e número. Ele é, de certa forma,
um ”pronome defeituoso”. Além disso, quando o PRO é sujeito de uma oração, o IP não
ativa o AgrP (justamente porque ele não faz concordância em número e pessoa). Portanto,
o IP, nesse caso, contém apenas o TP (e o NegP, em caso de negação).
Quando o sujeito de uma oração é um DP visível ou um pro, a estrutura básica da sen-
tença, com IP cindido, é esta:

CP

C’

C AgrP

DP Agr’

Agr TP

t T’

T VP

t V’

V
Quando, porém, o sujeito é um PRO, a estrutura é esta:

134
CP

C’

C TP

PRO T’

T VP

t V’

V
Agora, podemos relacionar esse fato a um outro dentro da língua. Analise o seguinte
exemplo:

(15) *Os meninosi são capazes de elesj crescer/crescerem.

Qual é o problema dessa sentença? Por que ela é agramatical (mesmo que se use ”cres-
cer”ou ”crescerem”)? Podemos supor que o problema está relacionado ao Caso. Como o
verbo, naquele contexto, não faz concordância de número e pessoa, o pronome fica sem Caso,
o que viola o Filtro do Caso. Porém, supomos, anteriormente, que o núcleo I é atribuidor de
Caso Nominativo. Essa definição não cabe aqui, porque, a rigor, os núcleos T e Agr fazem
parte de I. Precisaremos imaginar que somente o núcleo Agr atribui Caso Nominativo, para
satisfazer essa condição. Inclusive, isso justificativa um DP precisar passar por [Spec, TP]
para chegar a [Spec, AgrP]: ele faz isso para receber o Caso que só está disponível em AgrP.
Então, a partir de agora, suporemos que o verdadeiro atribuidor de Caso Nominativo é o
Agr: ele atribui NOM ao seu especificador.
A partir desse fato, poderemos chegar a outra conclusão. Quando o PRO é sujeito de
uma oração, não há nenhum AgrP. Se não há AgrP, não há Caso Nominativo a ser atribuído.
Então, o PRO fica necessariamente numa posição sem Caso. Isso não gera nenhum problema
para a teoria, porque já vimos que o Filtro do Caso só se aplica a DPs visíveis (ou DPs
Lexicais). Como o PRO é um DP vazio, ele não precisa receber Caso1 .
Agora, vamos retornar aos exemplos para discutir questões relativas à Ligação.

(16) Os meninosi não sabem como PROj fazer bolo.


(17) Os meninosi são capazes de PROi crescer.

Na primeira frase, percebemos que o PRO tem uma referência indeterminada. Ele não
se refere a nenhum elemento. Parece um pronome indefinido, como alguém. Chamamos esse
caso de PRO Arbitrário, porque a sua referência é arbitrária. No segundo exemplo, o PRO
está coindexado com o DP [os meninos]. Aliás, existe uma questão ainda mais importante
nesse caso: o PRO deve, obrigatoriamente, estar coindexado com esse elemento; não há
outra opção. Esse caso chamamos de PRO de Controle.
1
Algum leitor pode fazer o seguinte questionamento. Se [Spec, TP] não tem Caso, por que o PRO se eleva
a [Spec, TP]. Ele faz isso apenas para satisfazer ao EPP

135
Agora, deveremos fazer uma analogia não com os DPs Lexicais, mas sim com os traços
[a] e [p], que definimos no capítulo anterior. O traço [+ a] indica que uma categoria, dentro
da sentença, só pode estar ligada a um elemento, sem outras opções. O traço [+ p] está
relacionada ao fato de poder estar livre ou ligado a depender da frase e da coindexação. Por
exemplo, a anáfora é [+ a], por isso, quando ela aparece, ela só pode se ligar a um elemento,
e não a nenhum outro além daquele. Por outro lado, o pronome é [+ p]. Isso significa que,
em algumas frases, ele pode estar ligado; em outras, ele pode estar livre. Isso nós vimos no
capítulo anterior.
Retornemos aos exemplos que estávamos analisando. Vamos comparar o PRO com o
pronome. No primeiro exemplo, ele está livre; no segundo, ele está ”ligado”. Isso é uma
característica tipicamente pronominal. Por outro lado, o PRO, como vimos, não pode ser
substituído por um pronome. Isso distancia o PRO do pronome. O pro sempre pode ser
substituído por um pronome visível, e ele é a categoria que mais se aproxima do pronome
visível. Além disso, no segundo exemplo, o PRO deve estar ligado obrigatoriamente ao DP
[os meninos]. Em outras frases que analisamos, quando o pronome aparecia em posição
semelhante a essa, ele podia estar ligado ou livre. Porém, no primeiro exemplo, há somente
uma possibilidade de Ligação para o PRO, o que também o distancia dos pronomes. Por
fim, se supusermos que a CR do PRO é o IP [PRO fazer bolo], ele está ligado a um elemento
externo à sua CR. Isso o aproxima do pronome.
Agora, vamos comparar o PRO com uma anáfora. No primeiro exemplo, o PRO não
está ligado a nenhum elemento interno à sentença. Isso distancia o PRO da anáfora, porque
toda anáfora deve estar obrigatoriamente ligada. No segundo exemplo, o PRO só pode estar
ligado a um elemento. Isso aproxima o PRO da anáfora, porque, quando há uma anáfora
na sentença, ele deve obrigatoriamente estar ligada a um elemento, e não há mais que uma
possibilidade de ligação. Por outro lado, se supusermos que a CR do PRO é o IP, então o
PRO estará ligado a um elemento externo à sua CR. Isso distancia o PRO das anáforas.
Agora, vamos avaliar especificamente os traços [a] e [p]. Em qualquer frase na qual o PRO
apareça, há apenas uma possibilidade de ligação: ou ele é arbitrário, ou ele é controlado por
um elemento (e não há a possibilidade de ser controlado por nenhum outro). Portanto, o
PRO é [+ a], porque essa uniciade de maneiras de fazer ligação é típica das anáforas. Por
outro lado, o PRO pode estar ora livre, ora ligado, por isso ele também é [+ p].
Se bem pararmos para pensar, quando uma categoria é [+ a], ela deve estar ligada dentro
de sua CR; quando ela é [+ p], ela deve estar ligada dentro de sua CR ou deve estar livre.
Portanto, uma categoria [+a, +p] é contraditoria, a menos que suponhamos que o PRO
simplesmente não tem CR. Isso se chama Teorema do PRO.
(18) TEOREMA DO PRO: O PRO não tem Categoria de Regência.
Para garantir que esse teorema seja verdadeiro, precisaremos readequar o nosso conceito
de Categoria de Regência, mais especificamente a segunda cláusula, que fala sobre a necessi-
dade do núcleo I ou D. Não basta ser qualquer núcleo I: deve ser o núcleo I que atribui Caso
Nominativo. Se o I for apenas T (sem o Agr), ele não atribui Caso e, consequentemente,
aparece um PRO, que não deve possuir CR.
Porém, como vamos lidar com o núcleo D? Vamos imaginar que também haja, para o
DP, uma estrutura cindida:

136
AgrP

Agr’

Agr dP

d’

d DP

D’

D NP
Em (Chomsky, 2021), há a proposta de que o AgrP é uma estrutura genérica para con-
cordância de gênero, número e pessoa. Então, deve haver um AgrP acima do DP, porque o
determinante também faz concordância, obviamente.

(19) [DP o meu amigo ]


(20) [DP os meus amigos ]

Além disso, nós propusemos em outro momento que o EPP também se aplica ao DP.
Vamos imaginar, a partir de agora, que uma versão mais fraca do EPP é válida:

(21) EPP Fraco: O núcleo d obriga que [Spec, DP] se eleve a [Spec, dP].

Vamos, também, supor que existe uma concordância entre [Spec, dP] e o determinante
movido a Agr. Então, a partir de agora, haverá uma diferença nas seguintes derivações:

(22) [AgrP as suas histórias sobre si]

AgrP

Agr’

Agr dP

as PossP d’

Poss’ t DP

Poss t D’

suas t NP
Nesse caso, o núcleo d carrega um EPP Fraco, de modo que o PossP em [Spec, DP] fosse
movido a [Spec, dP], para efetuar a concordância com o núcleo Agr.

137
(23) [AgrP as histórias sobre si]

AgrP

Agr’

Agr DP

as PRO D’

t NP
Como o PRO não carrega traços de gênero ou número, não é projetado nenhum dP, logo
não é aplicado o EPP Fraco. Além disso, sem o dP, não há concordância entre PRO e Agr.
Agora, poderemos rever o conceito de Categoria de Regência, alegando que a segunda
cláusula depende de um núcleo I finito ou de um núcleo d. Vamos rever esse conceito.

(24) CATEGORIA DE REGÊNCIA (CR): A Categoria de Regência de α é o menor


XP que contém α e
a. um sujeito distinto de α que não contenha α; ou
b. um núcleo I que atribui Caso Nominativo a α ou um núcleo d.

Ainda resta mais um problema a ser resolvido pela Teorema do PRO. Vejamos o seguinte
exemplo novamente:

138
(25) Os meninosi são capazes de PROi crescer.

IP

DPi I’

os meninos I VP

são t V’

t AP

t A’

A PP

capazes P’

P CP

de C’

C IP

PROi I’

I VP

crescer t V’

t
O PRO está em [Spec, IP], uma Posição-A. O DP [os meninos] está em outro [Spec,
IP], ou seja, em outra Posição-A. Além disso, o DP [os meninos] c-comanda o PRO. Nessas
condições, se o PRO e o DP estiverem coindexados, então eles estão necessariamente ligados,
porque isso cumpre todos os requisitos necessários para a Ligação. Porém, não poemos aceitar
que ambos estejam ligados, porque a ideia lógica é que, para que um DP possa estar ligado
a outro, ele deve possuir Categoria de Regência. Precisaremos, pois, atualizar o conceito de
Ligação para incluir esse fato.

139
Tabela 4.1: Traços [a] e [p] dos DPs Lexicais e dos DPs Vazios
DPs Lexicais DPs Vazios [a] [p]
Anáfora Vestígio + -
Pronome pro - +
Expressão-R Variável - -
PRO + +

(26) LIGAÇÃO: α se liga a β sempre que:


a. β c-comandar α;
b. α e β estiverem em Posições-A;
c. α e β estiverem coindexados; e
d. α possuir Categoria de Regência.

Agora conseguimos adequar a maquinaria teórica à Teorema do PRO.

4.6 Tipologia dos DPs Vazios


Neste momento, vou apenas fazer uma analogia entre os DPs Lexicais e os DPs Vazios, porque
já estudamos todos eles até este momento.
Agora, existe um problema que eu acho ainda mais importante em relação aos DPs Va-
zios. Como identificá-los? Abaixo, eu apresento um resumo de como é possível classificar um
DP Vazio, com base no diagrama de (Lobato, 1986). Eu representei ”DP Vazio”por EC (do
inglês Empty Categorie). Geralmente, quando não conhecemos o estatuto de um sintagma
vazio, representamo-lo por EC2 .

2
Quando não sabemos o estatuto de um núcleo vazio, representamo-lo apenas por e, do inglês empty.

140
A EC tem antecedente?

SIM NÃO

O antecedente e a EC têm
pro PRO
mesmo Papel Temático?
sujeito oculto arbitrário
ou expletivo
NÃO SIM

A EC está em Posição-A
pro PRO
ou em Posição-Ā?
sujeito oculto de controle
Posição-A Posição-Ā

t vbl
No próximo tópico, vamos aplicar esses testes para descobrir como classificar algumas
ECs.

4.7 Exemplos de Identificação de Categorias Vazias


(27) João vai EC sair.

CP

C’

C IP

DP I’

João I VAUX P

vai t VAUX ’

t VP

EC V’

sair

141
O leitor já deve estar acostumado com essa EC, porque nós já a vimos muitas vezes. O
DP [João] se moveu de [Spec, VP] a [Spec, VAUX P] e, em seguida, a [Spec, IP], por meio de
Movimento-A. Então, a EC é um vestígio. Mas vamos atentar aos critérios que eu apresentei
acima.

1. A EC tem antecedente? Sim, o antecedente deve ser o DP [João], porque não se pode
pressupor nenhum outro elemento na posição da EC.

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Sim. O Papel Temático veio do


verbo ”sair”. Não pode ter vindo do verbo ”vai”, porque esse verbo é funcional, e
núcleos funcionais não podem atribuir Papel Temático.

3. O antecedente está em Posição-A ou em Posição-Ā? [Spec, IP] é uma Posição-A.

Portanto, a EC é um vestígio.

(28) EC Compramos roupas ontem.

CP

C’

C IP

EC I’

I VP

compramos
VP AdvP

t V’ Adv’
t DP Adv
roupas ontem

1. A EC tem antecedente? Não.

Nesse caso, ela só pode ser um pro ou um PRO. Como o PRO só pode ser sujeito de
infinitivo, trata-se de um pro. É o caso do sujeito oculto, já que remete ao pronome ”nós”.

142
(29) Maria sabe que EC passou na disciplina.

CP

C’

C IP

DP I’

Maria I VP

sabe t V’

t CP

C’

C IP

que EC I’

I VP

passou t V’

t PP

P’

P DP

em a disciplina

1. A EC tem antecedente? Sim ou não. A EC pode não ter antecedente (e se referir a um


elemento recuperado contextualmente) ou pode ter como antecedente o DP [Maria].

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Não. O DP [Maria] recebe Papel


Temático do verbo ”saber”, enquanto a EC recebe Papel Temático do verbo ”passar”.

Nesse caso, ela só pode ser um pro ou um PRO. Como o PRO só pode ser sujeito de
infinitivo, trata-se de um pro. É o caso do sujeito oculto, já que pode ser substituída por um
pronome visível, como ”ele”ou ”ela”.

143
(30) Quem você viu EC?

CP

DP C’

quem C IP

[q] DP I’

você I VP

viu t V’

t EC

1. A EC tem antecedente? Sim, o antecedente deve ser o DP [Quem], porque não se pode
pressupor nenhum outro elemento na posição da EC.

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Sim. O Papel Temático veio do


verbo ”ver”.

3. O antecedente está em Posição-A ou em Posição-Ā? [Spec, CP] é uma Posição-Ā.

Portanto, trata-se de uma variável.

144
(31) EC Estudar sintaxe é divertido.

CP

C’

C IP

CP I’

C’ I VP

C IP é t V’

t AP
EC I’
t A’
I VP
A
estudar t V’
divertido
t DP

sintaxe

1. A EC tem antecedente? Não.

Nesse caso, ela só pode ser um pro ou um PRO. Como a EC é sujeito de um infinitivo
não flexionado, trata-se de um PRO, inclusive porque ele não pode ser substituído por um
pronome visível. Vale ressaltar que esse é um PRO arbitrário, com interpretação indetermi-
nada.

145
(32) Um encomenda chegou EC.

CP

C’

C IP

DP I’

I VP
uma encomenda
chegou V’

t EC

1. A EC tem antecedente? Sim, o antecedente deve ser o DP [uma encomenda], porque


não se pode pressupor nenhum outro elemento na posição da EC.

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Sim. O Papel Temático veio do


verbo ”chegar”. Ressalto que esse verbo é inacusativo, então ele exige apenas argumento
interno.

3. O antecedente está em Posição-A ou em Posição-Ā? [Spec, IP] é uma Posição-A.

Portanto, a EC é um vestígio.

146
(33) João sabe EC ser lindo.

CP

C’

C IP

DP I’

João I VP

sabe t V’

t CP

C’

C IP

EC I’

I VP

ser t V’

t AP

t A’

lindo

1. A EC tem antecedente? Não.

Nesse caso, ela só pode ser um pro ou um PRO. Como a EC é sujeito de um infinitivo
não flexionado, trata-se de um PRO, inclusive porque ele não pode ser substituído por um
pronome visível. Vale ressaltar que esse é um PRO arbitrário, com interpretação indetermi-
nada.

147
(34) EC Choveu forte.
CP

C’

C IP

EC I’

I VP

choveu VP AdvP

t V’ Adv’
t Adv

forte

1. A EC tem antecedente? Não.

Nesse caso, ela só pode ser um pro ou um PRO. Como o PRO só pode ser sujeito de infi-
nitivo, trata-se de um pro. É o caso do sujeito expletivo, já que não possui Papel Temático.

(35) O João, eu vi EC na sala.


CP

DP C’

o João C IP

DP I’

eu
I VP

vi
VP PP

t V’ P’
t EC P DP

em a sala

148
1. A EC tem antecedente? Sim, o antecedente deve ser o DP [o João], porque não se pode
pressupor nenhum outro elemento na posição da EC.

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Sim. O Papel Temático veio do


verbo ”ver”.

3. O antecedente está em Posição-A ou em Posição-Ā? [Spec, CP] é uma Posição-Ā.

Portanto, trata-se de uma variável.

(36) O João faltou porque EC viajou.

CP

C’

C IP

DP I’

o João
I VP

faltou VP PP

t V’ P’
t P CP

por C’

C IP

que EC I’

I VP

viajou t V’

1. A EC tem antecedente? Sim ou não. A EC pode não ter antecedente (e se referir a um


elemento recuperado contextualmente) ou pode ter como antecedente o DP [João].

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Não. O DP [João] recebe Papel


Temático do verbo ”faltar”, enquanto a EC recebe Papel Temático do verbo ”viajar”.

149
Nesse caso, ela só pode ser um pro ou um PRO. Como o PRO só pode ser sujeito de
infinitivo, trata-se de um pro. É o caso do sujeito oculto, já que pode ser substituída por um
pronome visível, como ”ele”ou ”ela”.

(37) Quem Roberto disse que João viu EC?

CP

DP C’

quem
C IP

DP I’

o Roberto I VP

disse t V’

t CP

vbl C’

C IP

que DP I’

o João I VP

viu t V’

t EC

1. A EC tem antecedente? Sim, o antecedente deve ser o DP [quam], porque não se pode
pressupor nenhum outro elemento na posição da EC.

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Sim. O Papel Temático veio do


verbo ”ver”.

3. O antecedente está em Posição-A ou em Posição-Ā? [Spec, CP] é uma Posição-Ā.

Portanto, trata-se de uma variável.

150
(38) O Roberto parece EC amar o João.

CP

C’

C IP

DP I’

o Roberto I VP

parece t V’

t CP

C’

C IP

EC I’

I VP

amar t V’

t DP

o João

1. A EC tem antecedente? Sim, o antecedente deve ser o DP [o Roberto], porque não se


pode pressupor nenhum outro elemento na posição da EC.

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Sim. O Papel Temático veio do


verbo ”amar”. Não pode ter vindo do verbo ”parecer”, porque esse verbo é inacusativo,
e ele já atribuiu seu Papel Temático ao CP.

3. O antecedente está em Posição-A ou em Posição-Ā? [Spec, IP] é uma Posição-A.

Portanto, a EC é um vestígio.

151
(39) Joãoi contou histórias EC sobre sii .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

contou t V’

t AgrP

Agr’

Agr DP

e EC D’

t NP

N’

N PP

histórias P’

P DPi

sobre si

1. A EC tem antecedente? Sim. É o DP [João].

2. O antecedente e a EC têm mesmo Papel Temático? Não. Essa EC nem sequer possui
Papel Temático; ela foi inserida por uma exigência do EPP.

Esse é o caso especial de PRO inserido em [Spec, DP]. Nesse caso, o PRO é de Controle,
para permitir que a anáfora se ligue a ele.

152
(40) Joãoi contou histórias EC sobre elei .

CP

C’

C IP

DPi I’

João I VP

contou t V’

t AgrP

Agr’

Agr DP

e EC D’

t NP

N’

N PP

histórias P’

P DPi

sobre ele

1. A EC tem antecedente? Não.

Esse é o caso especial de PRO inserido em [Spec, DP]. Nesse caso, o PRO é de Arbitrário,
para garantir que o pronome se ligue diretamente ao DP [João].

4.8 Exercícios
1. Represente cada uma das sentenças abaixo na estrutura superficial. É permitido sim-
plificar os DPs. Indique todas as ECs e as suas respectivas ligações corretamente.

153
(a) João não é capaz de se machucar.
(b) A Maria, Rafael disse que se ama.
(c) Joana estudou o conteúdo para que passasse na matéria.
(d) Quem Rafael fez estudar o conteúdo?
(e) Paulo quer saber sobre si.
(f) Marcus acha a sintaxe boa para ele.

2. Há algum contexto em que um PRO possa funcionar como sujeito expletivo? Exem-
plifique.

3. Levando-se em consideração as ECs indicadas e suas respectivas ligações, justifique a


agramaticalidade das sentenças.

(a) * [CP DPi C [IP t i I [VP t i V ] ] ]


(b) * [CP C [IP t i I [VP V DPi ] ] ]
(c) * [CP C [IP DPi I [VP t i V [AP proi A [PP P DPj ] ] ] ] ]
(d) * [CP C [IP DPi I [VP t i V [CP C [TP PROj T [VP t j V vbl i ] ] ] ] ] ]
(e) * [CP DPi C [IP DPj I [VP t j V [CP vbl i C [IP t i I [VP vbl i V DPk ] ] ] ] ] ]
(f) * [CP C [IP DPi I [VP t i V [AP DPj A [PP P [CP C [TP PROi T [VP t i V DPj ] ] ] ] ]
]]]

4. Explique por que a seguinte estrutura é impossível.


[IP DPi I [VP t i V t i ] ]

5. Identifique as ECs em cada uma das estruturas abstratas abaixo.

(a) Primeira estrutura:


CP

DPi C’

C IP

ECi I’

I VP

ti V’

V
(b) Segunda estrutura:

154
CP

C’

C IP

DPi I’

I VP

ti V’

V VP

DPJ V’

V ECi
6. Faça uma tabela indicando se cada uma das ECs pode aparecer em Posição Temática,
Casual e Argumental.

7. Identifique e descreva os casos nos quais um pro não pode ser substituído por um
pronome visível.

8. Embora tenhamos relacionado o vestígio à anáfora e a variável à expressão referencial,


sabemos que existem diferenças entre eles. Aponte essas diferenças no contexto da
maquinaria teórica que está sendo desenvolvida neste livro.

9. Pesquise o conceito de oração reduzida fixa na gramática tradicional e relacione-o às


ECs que estudamos neste capítulo.

10. Apresente outros exemplos de PRO Arbitrário e de PRO de Controle.

11. Apresente uma sentença na qual um vestígio e uma variável apresentam a mesma
Categoria de Regência.

12. Nos exercícios do capítulo anterior, vimos que as anáforas não podem ocupar algumas
posições sintáticas. Agora, faça o mesmo teste para o vestígio. Existem posições
sintáticas que o vestígio não pode ocupar? Quais são elas? São as mesmas da anáfora?
Justifique a resposta.

13. É possível que uma variável esteja ligada a um PRO? Justifique a resposta.

14. Para cada uma das afirmativas abaixo, indique se ela é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) ( ) O vestígio e a variável são gerados por movimento, enquanto o pro e o PRO
não são gerados por movimento.
(b) ( ) Apenas DPs visíveis podem gerar cadeias próprias.
(c) ( ) O PRO nunca pode ser substituído por um pronome visível.

155
(d) ( ) Todos os DPs de uma Cadeia-A Própria têm a mesma Categoria de Regência.
(e) ( ) Se A está ligado a B, e B está ligado a C, então A está ligado a C.
(f) ( ) Suponha-se três DPs visíveis (A, B e C) em Posição-A, de modo que A c-
comande B, e B c-comande C. Se C está ligado a A, mas B não está ligado a A,
então C não pode ser uma anáfora.

15. Faça uma lista com todos os princípios, filtros, restrições, condições e critérios que
você aprendeu neste capítulo (inclusive aqueles que foram atualizados), seguidos de
suas respectivas definições.

Os gabaritos de todas as questões estão no fim deste livro.

156
Capítulo 5

Ligação em LF

5.1 Cópia ativa


Neste capítulo, pretendo aprofundar a teoria que vimos construindo até este momento. Talvez
eu até me desprenda um pouco do rigor teórico das definições que adotamos até este momento,
em prol de uma proximidade com teorias linguísticas mais recentes. Primeiro, vamos retomar
alguns conceitos. O Critério Θ precisa ser satisfeito na DS; o Filtro do Caso, na SS. A Ligação
precisa ser satisfeita apenas na LF. Por isso, pode ser que haja uma certa discrepância entre
o que é pronunciado e a ligação que é feita na LF. Analisemos a seguinte sentença.

(1) Orgulhosa de sii , Mariai é.

Bem, acredito que não haja a nenhum leitor dúvida de que a anáfora si esteja ligada ao
DP [Maria]. Porém, se avaliarmos a Teoria da Ligação que desenvolvemos até este momento,
deverá haver algum problema, a começar pelo fato de que a anáfora sempre deve estar
ligada dentro da sua CR, mas não há nenhum antecedente para a anáfora naquela sentença,
inclusive porque o antecedente de um DP, logicamente, deve aparecer à sua esquerda, mas
não há nenhum DP à esquerda da anáfora.
É fácil notar que houve, nessa sentença, algum tipo de focalização. O AP [orgulhosa de
si], em algum momento, funcionou como complemento do VP. Em seguida, o AP inteiro foi
jogado a uma posição anterior ao sujeito: provavelmente [Spec, CP]. Então, para tentar evi-
denciar esse fato, vou mostrar todo o procedimento de derivação da sentença que eu trouxe
como exemplo, da estrutura profunda à superficial. Vamos começar, pois, com a estrutura
profunda.

157
CP

C’

C IP

[foc]
I’

I VP

[pres.ind.], [3sg]
DP V’

Maria
V AP

ser A’

A PP

orgulhosa P’

P DP

de si
O primeiro passo é o verbo elevar-se à flexão I.

158
CP

C’

C IP

[foc] I’

I VP

é V’

ti AP

DP A’

Maria A PP

orgulhosa P’

P DP

de si
Em seguida, o DP [Maria] precisa receber Caso. Ele executa Movimento-A até chegar a
uma posição casual. Primeiro, o DP se movimenta à primeira Posição-A disponível que o
c-comanda. Trata-se do [Spec, VP].

159
CP

C’

C IP

[foc] I’

I VP

é DPj V’

Maria ti AP

tj A’

A PP

orgulhosa P’

P DP

de si
O DP ainda não concluiu seu objetivo, porque [Spec, VP] não é uma posição casual.
Então, o DP executa movimento para a próxima Posição-A disponível que o c-comanda.
Trata-se do [Spec, IP].

160
CP

C’

C IP

[foc] DPj I’

Maria I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

A PP

orgulhosa P’

P DP

de si
Agora, o DP recebeu o Caso de que precisava: o núcleo I lhe atribuiu Caso Nominativo.
Neste momento, deve ocorrer a ligação da anáfora si. A CR da anáfora é o IP, porque é o
menor XP que contém um sujeito distinto da anáfora (o próprio DP [Maria]). Portanto, a
anáfora deve estar ligada dentro dessa CR: ela se liga ao próprio DP [Maria].

161
CP

C’

C IP

[foc] DPj I’

Maria I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

A PP

orgulhosa P’

P DPj

de si
Agora que a Ligação está pronta, o AP vai ser focalizado. Ele realmente deve mover-se a
[Spec, CP], com todos os itens que estão dentro dele1 .

CP

APk C’

tj A’ C IP

A PP [foc] DPj I’
orgulhosa P’ Maria I VP
P DPj é tj V’
de si ti vbl k
Essa é a estrutura superficial da sentença. Perceba que toda essa ”história”justifica a
1
O leitor poderia perguntar se não seria possível mover apenas o A’. Isso não é possível porque, do ponto
de vista sintático, apenas XPs e Xs podem realizar movimento. As projeções intermediárias não têm estatuto
sintático suficiente para justificar o movimento. Ressalto que nós vimos, no capítulo 1, que essa projeção é
criada basicamente para satisfazer o LCA; ela não é um objeto sintático pleno.

162
ligação da anáfora: a ligação aconteceu antes do movimento de focalização.
Sabemos que a Ligação é um fenômeno que deve ser ”resolvido”em LF, ou seja, após o
envio da sentença à interface fonológica. Quando essa sentença chegar à LF, como ela será
interpretada? Se essa última estrutura que foi apresentada chegar à LF, haverá o mesmo
problema que apresentamos anteriormente: a anáfora não pode estar ligada dentro daquele
domínio na posição em que aparece.
Vamos rever alguns conceitos que construímos ao longo do livro. Sabemos que, quando
um elemento executa Movimento, ele deixa, na posição de origem, uma categoria vazia: ou
vestígio, ou variável. Na verdade, o que chamamos de ”Movimento”é uma operação executada
em várias etapas. Vamos analisar uma sentença mais simples.

(2) João comeu bolo.

IP

I’

I VP

[prét.perf.ind.], [3sg]
DP V’

João V DP

comer bolo
Primeiro, vamos imaginar que o verbo simplesmente se eleva a I, como já fazíamos ante-
riormente.

IP

I’

I VP

comeu DP V’

João ti DP

bolo
Agora, o DP [João] se ”move”. Vamos interpretar que, inicialmente, esse DP é copiado
para o [Spec, IP]. Essa operação se chama Copiar.

163
IP

DP I’

João
I VP

comeu DP V’

João ti DP

bolo
Em seguida, o DP em [Spec, IP] e o DP em [Spec, VP] (que são cópias um do outro)
devem formar uma Cadeia. Então, existe uma operação chamada Formar Cadeia que exe-
cuta esse processo.

IP

DPj I’

João
I VP

comeu DPj V’

João ti DP

bolo
Por fim, uma dessas cópias deverá ser apagada. Em geral, na teoria sintática, a cópia
apagada é a mais inferior. O nome dessa operação é Rasurar. Quando essa operação é
executada, resta, na posição original, uma categoria vazia (o vestígio ou a variável). Neste
caso, como o antecedente está em Posição-A, deverá ser um vestígio.

IP

DPj I’

João I VP

comeu t j V’

ti DP

bolo
Agora, um questionamento importante. Por que, quando a operação Rasurar é acionada,
nós não podemos simplesmente eliminar tudo que existe naquela posição? Por que não po-

164
demos, por exemplo, representar a estrutura superficial de ”João comeu o bolo”desta forma?

IP

DPj I’

João I VP

comeu V’

ti DP

bolo
Na verdade, a Rasura é um fenômeno puramente fonológico. Do ponto de vista fonológico,
não existe mais nada naquela posição; afinal, o vestígio e a variável não são pronunciados.
Porém, essa rasura só acontece na interface fonológica; na interface semântica, o elemento
ainda está ativo e é visível. Então, a estrutura superficial que nós representamos anterior-
mente vai ser vista de maneiras distintas pela interface fonológica e pela interface semântica.

(3) Interpretação na interface fonológica:

João
comeu
bolo
Ressalto que, na fonologia, só aparecem os elementos que podem ser interpretados lá, ou
seja, os núcleos. Aliás, isso é uma propriedade geral da sintaxe: em cada nível de represen-
tação (DS, SS, PF, LF) só podem aparecer elementos que sejam interpretados nela. Como
a fonologia não consegue interpretar categorias (XP, X’...) nem categorias vazias (t, vbl...),
então elas não aparecem na PF. O nome do Princípio que regula esse fenômeno é o Princípio
da Interpretação Plena (FIP)2 (Chomsky, 2021).

(4) PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO PLENA: Não podem existir símbolos


supérfluos nas representações.
2
Do inglês Full Interpretation Principle.

165
(5) Interpretação na interface semântica:

IP

DPj I’

João
I VP

comeu DPj V’

João ti DP

bolo
Na verdade, eu faço aqui uma ressalva. A interface semântica consegue ver todos os
elementos que estão representados, menos a estrutura fonológica das palavras. Por exemplo,
os fonemas que compõem as palavras ”João”, ”comeu”e ”bolo”só são visíveis na interface
fonológica, mas não na semântica, porque essa informação não tem nenhum tipo de valor
para a semântica.
Agora, percebemos que o vestígio e a variável são, de certa forma, maneiras de representar
uma espécie de ambiguidade: quando um DP perde a sua representação fonológica, mas
mantém a sua interpretação semântica, representamo-lo por uma categoria vazia (vestígio ou
variável).
Existe uma necessidade de que isso aconteça. Na interpretação semântica, existem duas
cópias do DP. Semanticamente, o DP [João] aparece em [Spec, IP], mas ele é interpretado em
[Spec, VP]. Por quê? Vamos recordar dois fatos: o DP foi ”movido”de [Spec, VP] a [Spec, IP]
por duas razões: para satisfazer EPP e para receber Caso. O Caso não tem nenhum tipo de
interpretação semântica, ou seja, o fato de um DP ter recebido Nominativo, ou Acusativo, ou
Oblíquo não faz a menor diferença do ponto de vista semântico, porque o Caso serve apenas
para garantir a ordem linear dos elementos (ou seja, é um fato mais relacionado à fonologia
que à semântica). Da mesma forma, EPP é um princípio que também está mais a serviço
da fonologia que da semântica, porque ele apenas garante que haja algum elemento em uma
determinada posição, mas isso não causa nenhum tipo de impacto semântico.
Por outro lado, o DP [João] recebeu Papel Temático em [Spec, VP]. Essa posição é,
portanto, semanticamente saliente, porque foi lá que as funções semânticas foram recebidas.
Então, a semântica precisa enxergar todas as cópias, para entender onde a função semântica
foi recebida, e também para perceber que as duas cópias do DP devem ser interpretadas da
mesma forma3 .
Então, a partir de agora, o leitor deve perceber que Mover é uma operação composta,
formada por uma sequência de três operações: Copiar, Formar Cadeia e Rasurar. Agora,
vamos retornar ao exemplo que estávamos comentando anteriormente.

(6) Orgulhosa de sii , Mariai é.


3
O que garante que as duas cópias sejam interpretadas da mesma forma é a Cadeia, ou seja, os índices
iguais.

166
Vou apresentar a visão da LF para essa estrutura:

CP

APk C’

tj A’ C IP
A PP [foc] DPj I’
orgulhosa P’
Maria I VP
P DPj
é tj V’
de si
ti APk

tj A’

A PP

orgulhosa P’

P DPj

de si
Quando a LF enxerga essa estrutura, ela sabe que o DP [si] precisa ser interpretado
exatamente como outro elemento interno à sentença, porque a Ligação tem que ser satisfeita
nesse momento. A LF enxerga duas anáforas (no AP original e no AP copiado). Porém,
quando há várias cópias em LF, a LF precisa determinar qual dessas cópias é a Cópia
Ativa. Em relação à Ligação da anáfora, a cópia ativa deve ser a que está em [Comp, VP],
porque é ali que o Princípio A é satisfeito.
Com isso, pretendo mostrar que a cópia ativa na fonologia (ou seja, a cópia que foi
efetivamente pronunciada) não corresponde necessariamente à cópia que estará ativa na LF.
Até agora, nós só vimos casos em que a anáfora, em uma sentença, só poderia estar ligada
a um único elemento. Mas existem casos nos quais as possibilidades de ligação são variadas.

(7) Quão bom para si João disse que Pedro é?

Imaginamos que a estrutura superficial dessa sentença seja esta:

167
CP

APk C’

AdvP AP C IP

Adv’ A’
DPm I’
Adv A PP João I VP
quão bom P’
disse t m V’
P DP
tl CP
para si
vbl k C’

C IP

que DPj I’

Pedro I VP

é tj V’

ti vbl k
Para facilitar a representação, vou simplificá-la desta forma:

168
CP

APk C’

quão bom para si C IP

DPm I’

João I VP

disse tm V’

tl CP

vbl k C’

C IP

que DPj I’

Pedro I VP

é vbl k
Então, a LF consegue enxergar as seguintes cópias:

169
CP

APk C’

quão bom para si C IP

DPm I’

João
I VP

disse
DPm V’

João
tl CP

APk C’

quão bom para si C IP

que
DPj I’

Pedro
I VP

é
DPj V’

Pedro ti APk

quão bom para si

Conseguimos perceber que existem três cópias do AP. Qual dessas cópias é a cópia ativa?
Bem, existem duas possibilidades: a que está em [Comp, VP], ou a que está no [Spec, CP]
mais baixo. Se a cópia mais baixa for a ativa, então a anáfora estará ligada ao DP [Pedro].
Se a cópia intermediária for a ativa, então a anáfora estará ligada ao DP [João].
Eu sei que isso pode soar um pouco controverso do ponto de vista da teoria que estamos
construindo até este momento. Se bem pararmos para pensar, se o AP intermediário for
a cópia ativa em LF, haverá um problema: a anáfora não pode estar ligada ao DP [João],
porque o AP está em Posição-Ā. Porém, como eu disse, muitos conceitos de Ligação mudaram
com o passar do tempo. Então, vamos assumir, neste momento, que essa ligação da anáfora
intermediária com o DP [João] seja possível. Minha intenção aqui é apenas mostrar que
algumas ligações são executadas antes de alguns movimentos sintáticos.

5.2 Controle do PRO


A fim de resolver possíveis imbróglios, apresento algumas propriedades do Controle do PRO.
Espero que tenham ficado claros alguns pontos, como a propriedade anafórica do PRO, que
está relacionada à unicidade de possibilidade de ligação dentro de uma sentença. Vamos
avaliar alguns casos.
(8) Pedro não sabe como PRO fazer o dever.

170
(9) João quer PRO sair.
(10) Rafael orientou Maria a PRO estudar mais.

Na primeira sentença, sabemos que o PRO é arbitrário, ou seja, não está coindexado
a nenhum elemento e tem interpretação indeterminada. Na segunda sentença, o PRO é
controlado pelo DP [João], e não há nenhuma outra possibiliade além dessa. Por fim, na
terceira sentença, o PRO está coindexado ao DP [Maria], e também não há nenhuma outra
opção além dessa. Nossa pergunta neste momento é a seguinte. Quando o DP é arbitrário e
quando o DP é de controle? Se ele for de controle, com qual DP ele estará coindexado4 ?
Existem informações de ordem sintática e de ordem lexical que regulam o controle do
PRO. Existem casos em que a sintaxe já indicará automaticamente tratar-se de casos de
PRO arbitrários. Por exemplo, casos nos quais o infinitivo gera uma oração subjetiva5 ou
nos quais o infinitivo gera uma oração do tipo como + infinitivo geram comumente um PRO
arbitrário.

(11) [PRO Estudar sintaxe] é divertido.


(12) Não sei [como PRO chegar à Universidade].

Em relação às orações complemento, existem informações lexicais envolvidas também:


alguns grupos de verbos específicos vão gerar o PRO de Controle: são as chamados verbos
de controle. Sabemos que o PRO não serve com qualquer verbo em orações complemento.
Veja este exemplo:

(13) * Maria viu PRO fazer o dever.

Sabemos que a EC que aparece naquela posição não pode ser um PRO, por diversas
razões. Aponto duas: o PRO não pode aparecer em posição casual (o [Spec, VP], nesse caso,
recebe ACC do verbo ver) e, de certa forma, o verbo ver não é compatível com o PRO.
Entre os verbos de controle, existem dois tipos principais: aqueles que vão gerar controle
com o sujeito, e aqueles que vão gerar controle com o objeto. Os que geram controle com
sujeito geralmente tem semântica optativa; indicam desejo: desejar, querer, adorar, etc.

(14) Eui quero PROi sair com você.


(15) Joãoi deseja PROi sair comigo?

Os verbos que geram controle com o objeto geralmente indicam algum tipo de influência
entre o sujeito e o objeto: orientar, influenciar, obrigar, etc.

(16) Mariai influenciou Pedro a PROi estudar mais.


(17) A mãei obrigou os filhos a PROi fazer os deveres.

Além do controle de sujeito e de objeto, também pode haver controle nas orações adjunto.
Vejamos o seguinte exemplos:
4
Faço especial agradecimento ao prof. Marcus Lunguinho, que, em comunicação pessoal, prestou esclare-
cimentos elucidativos sobre esse assunto.
5
Não se sabe ao certo, na teoria sintática, se existem de fato orações subjetivas. Apresento ressalva quanto
a isso no apêndice desta obra.

171
(18) Os alunosi estudaram o conteúdo para PROi passar na prova.

Esse é um caso em que o controle é influenciado mais pela natureza sintática da sentença
(e pouco por informações lexicais). Algumas orações reduzidas estão mais propensas a gerar
PRO de Controle: a oração final é uma delas. Apresento, a seguir, a estrutura superficial
dessa última sentença.

CP

C’

C IP

DPj I’

os alunos
I VP

estudaram
VP PP

tj V’ P’

tk DP P CP

o conteúdo para C’

C IP

PROj I’

I VP

passar t j V’

ti PP

P’

P DP

em a prova

Vamos retomar o conhecimento que adquirimos no tópico anterior. É possível que a


oração adverbial se desloque para o começo da sentença, mantendo-se o controle. Isso indica
que o controle do PRO é definido antes do Movimento-Ā.

(19) Para PROi passar na prova, os alunosi estudaram o conteúdo.

172
CP

PPl C’

P’
C IP
P CP

para C’
DPj I’

C IP os alunos
I VP
PROj I’
estudaram
I VP VP vbl l

passar t j V’ tj V’

ti PP tk DP

P’ o conteúdo

P DP

em a prova

Vou me restringir a esta breve explanação sobre o controle. Não pretendi fazer uma
descrição muito precisa. Minha intenção aqui é apenas que o leitor entenda que o PRO
não faz uma coindexação puramente semântica, mental. A estrutura sintática e algumas
informações lexicais delimitam como funciona a ligação do PRO.

173
Capítulo 6

Apêndice

6.1 Princípios, filtros, restrições, condições, definições


e critérios que estudamos
(1) PRINCÍPIO DA PROJEÇÃO ESTENDIDO (EPP): A posição [Spec, IP]
deve estar sempre preenchida.
(2) CRITÉRIO Θ: Todos os núcleos lexicais atribuem Papéis Temáticos aos seus
argumentos. Todo argumento de um núcleo lexical deve receber um, e somente um
Papel Temático. Esse critério deve ser satisfeito em DS.
(3) FILTRO DO CASO: Se um DP visível formou uma Cadeia-A, essa Cadeia-A deve
receber Caso obrigatoriamente.
(4) MARCAÇÃO EXCEPCIONAL DE CASO (ECM): Verbos ECM e
preposições ECM atribuem Caso ao especificador do complemento, e não ao
complemento.
(5) HIPÓTESE DA TRANSMISSÃO DE CASO: Quando o complemento de um
verbo inacusativo fica in situ, o pro que ocupa [Spec, IP] estabelece com ele uma
relação expletivo-associado, transmitindo-lhe o Caso NOM que recebe do núcleo I.
(6) PRINCÍPIO DE ANTILOCALIDADE: Se YP está em [Comp, XP], então YP
não pode mover-se a [Spec, XP].
(7) CONDIÇÃO SOBRE DOMÍNIOS DE EXTRAÇÃO (CDE): Sejam duas
categorias XP e YP, tal que YP é especificador ou adjunto de XP. Seja ZP uma
categoria dominada por YP. Não é possível que ZP se movimente para fora do
domínio de YP.
(8) CONDIÇÃO DE SUBJACÊNCIA: Um elemento sintático não pode atravessar
mais de uma barreira por ciclo, sendo barreiras o DP e o CP.
(9) RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DE ILHA: Os adjuntos não podem
mover-se, senão a [Spec, CP].
(10) POSIÇÃO-A: Uma Posição-A é qualquer posição temática real ou potencial.
(11) RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DE NÚCLEO (HMC): Um núcleo só pode
mover-se à primeira posição de núcleo que o c-comande.

174
(12) CADEIA-A: Uma Cadeia-A é formada por um DP e por todos os vestígios deixados
nas posições pelas quais ele passou.
(13) CADEIA-Ā: Uma Cadeia-Ā é formada por um DP e todas as variáveis deixadas
nas posições pelas quais ele passou.
(14) CONDIÇÕES SOBRE CADEIAS-A:
a. A causa da Cadeia-A deve ser uma posição temática;
b. A cabeça da Cadeia-A deve ser uma posição casual;
c. Não pode haver nenhuma Posição-A X, tal que ti c-comande X, X c-comande ti+1
e X não pertença à Cadeia-A.
(15) CONDIÇÕES SOBRE CADEIAS-Ā:
a. A causa da Cadeia-Ā deve ser uma posição casual;
b. Todas as outras posições da Cadeia-Ā além da cauda devem ser Ā;
c. Não pode haver nenhuma Posição-Ā X, tal que vbli c-comande X, X c-comande
vbli+1 e X não pertença à Cadeia-A.
(16) CATEGORIA DE REGÊNCIA (CR): A Categoria de Regência de α é o menor
XP que contém α e
a. um sujeito distinto de α que não contenha α; ou
b. um núcleo I que atribui Caso Nominativo a α ou um núcleo d.
(17) COINDEXAÇÃO: Dois DPs estão coindexados quando, semanticamente, têm a
mesma interpretação.
(18) LIGAÇÃO: α se liga a β sempre que:
a. β c-comandar α;
b. α e β estiverem em Posições-A;
c. α e β estiverem coindexados; e
d. α possuir Categoria de Regência.
(19) PRINCÍPIO A (DAS ANÁFORAS): A Anáfora deve estar ligada dentro de sua
Categoria de Regência.
(20) PRINCÍPIO B (DOS PRONOMES): O Pronome deve estar livre dentro de sua
Categoria de Regência.
(21) PRINCÍPIO C (DAS EXPRESSÕES-R): A Expressão-R deve estar sempre
livre. Ela pode estar coindexada a outro elemento recuperado contextualmente.
(22) TEOREMA DO PRO: O PRO não tem Categoria de Regência.
(23) PRINCÍPIO DA PROJEÇÃO ESTENDIDO (VERSÃO FRACA): O núcleo
d obriga que [Spec, DP] se eleve a [Spec, dP].
(24) PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO PLENA: Não podem existir símbolos
supérfluos nas representações.

175
6.2 Tipologia Verbal Resumida
6.2.1 Verbos lexicais sem argumentos
Os verbos sem argumentos são os chamados verbos impessoais pela gramática tradicional. Os
modelos de verbos sem argumentos são aqueles que indicam fenômeno meteorológico: cho-
ver, nevar, ventar, etc. Como esses verbos não pedem argumentos, nenhum elemento estará
disponível para ser elevado a [Spec, IP]. Então, o EPP força haver um pro naquela posição.

(25) Modelo de estrutura profunda:

CP

C’

C IP

I’

I VP

V’

(26) Modelo de estrutura superficial:

CP

C’

C IP

pro I’

I VP

V’

6.2.2 Verbos lexicais monoargumentais


Os verbos monoargumentais são aqueles que exigem um único argumento. Existem dois
verbos monoargumentais: os inergativos e os inacusativos. Os verbos inergativos são aqueles
cujo argumento aparece no especificador. Quando a oração é formada por esses verbos, (i)
o sujeito deve estar obrigatoriamente antes do verbo, e (ii) não pode ser gerada uma oração
reduzida de particípio. Um exemplo de verbo inergativo é nadar.

176
(27) João nadou na piscina.
(28) Nadou João na piscina. (?)
(29) *Nadado o João na piscina, iremos embora.

A partir disso, vamos modelar estruturas para esses verbos:

(30) Modelo de estrutura profunda:

CP

C’

C IP

I’

I VP

DP V’

(31) Modelo de estrutura profunda:

CP

C’

C IP

DP I’

I VP

t V’

V
Além disso, existem os verbos inacusativos. Nesse caso, o argumento do verbo surge em
[Spec, VP]. Com os verbos inacusativos, (i) o sujeito pode ficar após o verbo, e (ii) é possível
construir orações reduzidas de particípio.

(32) Uma encomenda chegou.


(33) Chegou uma encomenda.
(34) Chegada a encomenda, iremos embora.

177
A partir disso, vamos modelar estruturas para esses verbos:

(35) Modelo de estrutura profunda:

CP

C’

C IP

I’

I VP

V’

V DP
A partir dessa representação, há duas possibilidades. Na primeira, o DP em [Comp, VP]
pode mover-se a [Spec, IP].

(36) Modelo de estrutura superficial com sujeito movido:

CP

C’

C IP

DP I’

I VP

V’

V t
Na segunda, o complemento pode ficar in situ, ou seja, sem se mover. Nesse caso, é
necessário um pro em [Spec, IP], para satisfazer EPP.

178
(37) Modelo de estrutura superficial com sujeito in situ:

CP

C’

C IP

pro I’

I VP

V’

V DP

6.2.3 Verbos lexicas biargmentais


Quando pensamos em verbos biargumentais, ou seja, verbos com dois argumentos, automati-
camente os associamos aos verbos transitivos da gramática tradicional. Assim, existem duas
construções canônicas com verbos transitivos: os transitivos diretos e os transitivo indiretos.
Nesses casos: o complemento em geral fica in situ, enquanto o elemento que aparece em
[Spec, VP] se eleva a [Spec, IP].

(38) Modelo de estrutura profunda de verbo transitivo direto:

CP

C’

C IP

I’

I VP

DP V’

V DP
Nesse caso, o DP em [Spec, VP] é elevado a [Spec, IP].

179
(39) Modelo de estrutura superficial de verbo transitivo direto:

CP

C’

C IP

DP I’

I VP

t V’

V DP
Agora, passamos à representação com verbos intransitivos, que regem preposição obriga-
toriamente.

(40) Modelo de estrutura profunda de verbo transitivo indireto:

CP

C’

C IP

I’

I VP

DP V’

V PP

P’

P DP
Nesse caso, o DP em [Spec, VP] é elevado a [Spec, IP].

180
(41) Modelo de estrutura superficial de verbo transitivo indireto:

CP

C’

C IP

DP I’

I VP

t V’

V PP

P’

P DP
Existem outros dois casos de verbos biargumentais: os verbos ECM. Existem dois ti-
pos de verbos ECM. Os primeiros são os verbos tradicionalmente chamados de causativos
e sensitivos. São, em suma, os verbos ver, ouvir, sentir, mandar, dexar, fazer, aguardar,
esperar, etc. Esses verbos selecionam dois argumentos: o [Spec, VP] é um DP, como normal-
mente se espera, mas o [Comp, VP] é um VP. Ressalto que esses verbos não são funcionais, e
sim lexicais. Se eles fossem funcionais, não seria possível que houvesse um DP em [Spec, VP].

(42) Modelo de estrutura profunda de verbo ECM que seleciona VP:

CP

C’

C IP

I’

I VECM P

DP VECM ’

VECM VP

DP V’

V DP

181
Nesse caso, o DP em [Spec, VECM P] é elevado a [Spec, IP]. O DP que está em [Spec, VP]
não é movido, porque ele recebe Caso do VECM .

(43) Modelo de estrutura superficial de verbo ECM que seleciona VP:

CP

C’

C IP

DP I’

I VECM P

t VECM ’

VECM VP

DP V’

V DP
Os demais verbos ECM são chamados tradicionalmente de transobjetivos. Esses verbos
selecionam AP como complemento. É o caso dos verbos achar, julgar, considerar, etc. Ge-
ralmente, esses verbos estão relacionados a uma opinião do sujeito.

(44) Modelo de estrutura profunda de verbo ECM que seleciona AP:

CP

C’

C IP

I’

I VECM P

DP VECM ’

VECM AP

DP A’

A DP

182
Nesse caso, o DP em [Spec, VECM P] é elevado a [Spec, IP]. O DP que está em [Spec, AP]
não é movido, porque ele recebe Caso do VECM .

(45) Modelo de estrutura superficial de verbo ECM que seleciona AP:


CP

C’

C IP

DP I’

I VECM P

t VECM ’

VECM AP

DP A’

A DP

6.2.4 Verbos lexicais triargumentais


Por fim, existem os verbos lexicais triargumntais, de que fazem parte entregar, dar, obrigar,
orientar, etc. Esses verbos geram a seguinte estrutura.

(46) Modelo de estrutura profunda de verbo triargumental:


CP

C’

C IP

I’

I VP

DP V’

V’ PP

V DP P’

P DP

183
Nesse caso, o DP em [Spec, VP] é elevado a [Spec, IP].

(47) Modelo de estrutura superficial de verbo triargumental:


CP

C’

C IP

DP I’

I VP

t V’

V’ PP

V DP P’

P DP

6.2.5 Verbos funcionais


Existem dois tipos de verbos funcionais: os auxiliares e os copulativos. Os verbos auxiliares
selecionam outros VPs. A posição de [Spec, VP] de um verbo funcional só serve de ”tram-
polim”para que um elemento mais encaixado se eleve a [Spec, IP]. Os auxiliares geram a
seguinte estrutura:

(48) Modelo de estrutura profunda de verbo auxiliar:


CP

C’

C IP

I’

I VAUX P

VAUX ’

VAUX VP

DP V’

V DP

184
Nesse caso, o DP em [Spec, VP] é elevado sucessivamente a [Spec, IP].

(49) Modelo de estrutura superficial de verbo auxiliar:

CP

C’

C IP

DP I’

I VAUX P

t VAUX ’

VAUX VP

DP V’

V DP
Os verbos copulativos geralmente selecionam APs. Eles derivam a seguinte estrutura:

(50) Modelo de estrutura profunda de verbo copulativo:

CP

C’

C IP

I’

I VCOP P

VCOP ’

VCOP AP

DP A’

A
Nesse caso, o DP em [Spec, AP] é elevado sucessivamente a [Spec, IP].

185
(51) Modelo de estrutura superficial de verbo copulativo:

CP

C’

C IP

DP I’

I VCOP P

t VCOP ’

VCOP AP

DP A’

186
Capítulo 7

Gabarito dos exercícios

7.1 Capítulo 1
1. (a) João não sabe a verdade.
CP

C’

C IP

I’

I VP

não, [pres.ind.], [3sg]


DP V’

D’ V DP
D NP saber D’
e N’ D NP

N a N’

João N

verdade
(b) Meu amigo gosta de sintaxe.

187
CP

C’

C IP

I’

I VP

[pres.ind.], [3sg]
DP V’

D’ V PP
D NP gostar P’
meu N’ P DP
N de D’
amigo D NP

e N’

sintaxe
(c) Viajaremos de carro.

188
CP

C’

C IP

I’

I VP

[fut.pres.ind.], [1pl]
VP PP

pro V’ P’

V P DP

viajar de D’

D NP

e N’

carro
(d) O menino que eu conheci vai pensar em mim. (Neste caso, é permitido simplificar
os DPs [eu] e [mim] apenas.)

189
CP

C’

C IP

I’

I VAUX P

[pres.ind.], [3sg] VAUX ’

VAUX VP

ir

DP V’

D’ V PP

pensar P’
D NP
P DP
o
NPj CP em mim

N’ C’

menino C IP

que I’

I VP

[prét.perf.ind.], [3sg]
DP V’

eu V proi

conhecer

(e) Os dois alunos disseram que não entenderam o conteúdo.

190
CP

C’

C IP

I’

I VP

[prét.perf.ind.], [3pl]
DP V’

D’
V CP
D DPi
dizer C’
os D’
C IP
D NP
que
dois N’
I’
N

alunos I VP

não, [pres.ind.], [3sg]


proi V’

V DP

entender D’

D NP

o N’

conteúdo

(f) Quem você acha que é bonito? (Neste caso, é permitido simplificar os DPs [você]
e [quem] apenas.)

191
CP

C’

C IP

[q]
I’

I VP

[pres.ind.], [3sg]
DP V’

você
V CP

achar C’

C IP

que
I’

I VP

[pres.ind.], [3sg] V’

V AP

ser DP A’

quem A

bonito

2. (a) O núcleo saber atribui Papel Temático a [e João] e a [a verdade].


(b) O núcleo gostar atribui Papel Temático a [meu amigo] e a [e sintaxe].
(c) O núcleo viajar atribui Papel Temático a pro. O núcleo de atribui Papel Temático
a [e carro].
(d) O núcleo pensar atribui Papel Temático a [o menino que eu conheci] e a [mim].
O núcleo conhecer atribui Papel Temático a [eu] e a [pro].
(e) O núcleo dizer atribui Papel Temático a [os dois alunos] e [que não entenderam o
conteúdo]. O núcleo entender atribui Papel Temático a [pro] e a [o conteúdo.]
(f) O núcleo acha atribui Papel Temático a [você] e a [que quem é bonito]. O núcleo
bonito atribui Papel Temático a [quem].

3. (a) Joana sabe qual aluno reprovou?

192
CP

C’

C IP

[q]
DPtl I’

D’ I VP
D NP sabe tl V’
e N’

N tk CP

Joana
DPj C’

D’ C IP
D NP
[q]
vblj I’
qual N’
I VP
N
reprovou tj V’
aluno
ti
(b) João passou na prova porque é muito interessado na matéria. (Neste caso, é
permitido simplificar o DP [eu] apenas.)

193
CP

C’

C IP

DPj I’

D’

D NP I VP

e N’ passou

N VP PP

João tj V’ P’

tk PP P CP
P’ por C’
P DP
C IP
em D’
que proj I’
D NP
I VP
a N’
é tj V’
N

prova ti AP

AdvP AP

Adv’
tj A’
Adv
A PP
muito
interessado P

P DP

em D’

D NP

a N’

matéria

(c) O Vinícius, eu vi dar aula de física na semana passada.

194
CP

DPtk C’

D’
C IP
D NP
[foc.]
o N’
DPj I’
N
eu
Vinícius
I VECM P

vi

VECM P PP

tj VECM ’ P’

ti VP DP
P em
vblk V’ D’

V DP D NP

dar D’ a NP AP

D NP N’ A’

e NP PP N A

N’ P’ semana passada

N P DP

aula de D’

D NP

e N’

física

(d) Qual aluno que Pedro disse que achou inteligente?

195
CP

DPk C’

D’
C IP
D NP
que
qual N’ DPj I’

N D’ I VP

aluno D NP disse tj V’
e N’
tl CP
N
vblk C’
Pedro
C IP

que pro I’
j

I VP

achou tj V’

ti AP

vblk A’

inteligente

(e) Uma encomenda chegou mais cedo.

196
CP

C’

C IP

DPj I’

D’
I VP
D NP chegou VP AdvP
uma N’
V’ AdvP AdvP
N
ti tj Adv’ Adv’
encomenda
Adv Adv

mais cedo
(f) Choveu muito no fim de semana na cidade dos meus pais.

197
CP

C’

C IP

pro I’

I VP

choveu

VP PP

P
VP PP

VP AdvP P DP
P

V’ Adv’ em D’
P DP
ti Adv em D’ D NP

muito a NP PP
D NP

o NP PP N’ P

N’ P N P DP

N P DP casa de D’

fim de D’ D DP

D NP os D’

e N’ D NP

N meus N’

semana N

pais

4. (a) O núcleo I sabe atribui NOM a [Joana]. O núcleo I reprovou atribui NOM a [qual
aluno].
(b) O núcleo I passou atribui NOM a [João]. O núcleo P em (de [na prova]) atribui
OBL a [a prova]. O núcleo I é atribui NOM a pro (mesmo que ele não precise).
(c) O núcleo I vi atribui NOM a [eu]. O núcleo V ti atribui ACC a [o Vinícius] (porque
ele é ECM). O núcleo V dar atribui ACC a [aula]. O núcleo P de atribui OBL a
[física]. O núcleo P em atribui OBL a [a semana passada].
(d) O núcleo I disse atribui NOM a [Pedro]. O núcleo V tl atribui ACC ao CP [que
achou inteligente], mesmo que não precise. O núcleo I achou atribui NOM a pro,
mesmo que ele não precise. O núcleo V ti atribui ACC a [qual aluno].
(e) O núcleo I chegou atribui NOM a [uma encomenda].

198
(f) O núcleo P em atribui OBL a [o fim de semana]. O núcleo P de atribui OBL a
[semana].

5. (a) O verbo pôr seleciona três argumentos: [DP, DP, PP]. O problema, então, é que
há menos argumentos do que aqueles que são exigidos pelo núcleo.
(b) O problema é que núcleos I infinitivos não atribuem Caso. Então, o DP [o con-
teúdo] fica sem Caso, o que viola o Filtro do Caso.
(c) O problema é que o DP [qual menino] fica sobrando na estrutura. O verbo dizer
pede dois argumentos, que, na frase, são [João] e [que Pedro viu Maria]. O verbo
ver também pede dois argumentos, que, na frase, são [Pedro] e [Maria]. Não
falta mais nenhuma posição para ser preenchida. Então, há vários problemas: o
DP [qual menino] fica sem Papel Temático (violando o Critério Θ) e sem Caso
(violando o Filtro do Caso).
(d) Em português, essa construção não é possível. Recomendo ao leitor que ele retorne
ao tópico 1.9 para ver o que acontece nesse tipo de Caso. Se derivarmos a estrutura
superficial dessa sentença, veremos que o verbo perder não foi elevado a I, e sim o
contrário. Isso é lícito em inglês, mas não em português. Isso viola as condições
do Movimento V-para-I em português.
IP

DPi I’

João
tj VP

AdvP VP

Adv’ ti V’
Adv
V DP
completamente
perdeu a noção
(e) Vimos, na Teoria do CP, que, quando há dois elementos WH numa sentença
interrogativa, ambos ficam in situ, ou seja, não se movimentam a [Spec, CP],
porque ambos competem por essa posição. O defeito dessa sentença, então, é que
[quem] fez Movimento WH, mesmo que houvesse outro DP WH na sentença: [o
quê].
(f) Se você representar essa sentença na estrutura superficial, perceberá que [o João]
está em [Spec, VP]. Então, esse elemento não se elevou a [Spec, IP]. Isso significa
que ele está sem Caso, violando o Filtro do Caso.

199
IP

I’

I VP

nadou
VP PP

DP V’ P’

o João ti P DP

em a piscina
6. (a) ZP é [Spec, YP]. WP era dominado por ZP. Nada pode escapar ao domínio de um
especificador. Há uma violação à Condição sobre Domínios de Extração.
(b) Os vestígios indicam que ZP era [Comp, YP], depois se moveu para [Spec, YP], e
depois para [Spec, XP]. Um sintagma não pode mover-se da posição de comple-
mento à posição de especificador do mesmo sintagma (ou seja, ZP não poderia ter
executado o primeiro movimento). Há uma violação ao Princípio da Antiloca-
lidade.

7. (a) Mateus dormiu sobre a mesa.


Primeira etapa: a DS
CP

C’

C IP

I’

I VP

[prét.perf.ind.], [3sg]
VP PP

DP V’ P’

Mateus V P DP

dormir sobre a cama

200
Segunda etapa: o verbo dormir se move a I

CP

C’

C IP

I’

I VP

dormiu
VP PP

DP V’ P’

Mateus ti P DP

sobre a cama
Terceira etapa: o DP [Mateus] se eleva a [Spec, IP]. Essa é a SS da sentença.

CP

C’

C IP

DPj I’

Mateus
I VP

dormiu
VP PP

tj V’ P’

ti P DP

sobre a cama

(b) Maria é esforçada.


Primeira etapa: a DS

201
CP

C’

C IP

I’

I VP

[pres.ind.], [3sg] V’

V AP

ser DP A’

Maria A

esforçada
Segunda etapa: o verbo ser se move a I

CP

C’

C IP

I’

I VP

é V’

ti AP

DP A’

Maria A

esforçada
Terceira etapa: o DP [Maria] se eleva a [Spec, VP].

202
CP

C’

C IP

I’

I VP

é DP V’

Maria ti AP

tj A’

esforçada
Quarta etapa: o DP [Maria] se eleva a [Spec, IP]. Essa é a SS da sentença.

CP

C’

C IP

DP I’

Maria I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

esforçada

8. O vestígio e a variável só surgem a partir do movimento (ou seja, pode haver pro na
DS, mas não pode haver t ou vbl na SS). Quando um XP se move a [Spec, CP], ele
deixa, no lugar de origem, uma variável. Quando o XP se move a qualquer outra
posição que não seja [Spec, CP], ele deixa um vestígio na posição de origem. O pro
tem duas aplicações: ele pode representar um sujeito expletivo (no caso dos verbos
impessoais ou dos inacusativos com complemento in situ) ou um sujeito ou complemento
oculto. Quando ele representa um argumento oculto, ele é inserido na DS. Quando ele

203
representa um sujeito expletivo, ele é inserido diretamente na SS, em [Spec, IP].

9. (a) Nessa representação, dá-se a entender que é o verbo copulativo ser que seleciona
[João]. Porém, os verbos copulativos são funcionais, isto é, são incapazes de
atribuir Papel Temático. Se [João] for inserido como argumento de ser, ele ficará
sem Papel Temático. Na verdade, [João] é selecionado pelo adjetivo bonito. A
representação mais adequada seria esta:
IP

I’

I VP

[pres.ind], [3sg] V’

V AP

ser
DP A’

João A

inteligente
(b) Existem vários problemas. O primeiro é que me, por ser um clítico, deveria juntar-
se com o verbo no mesmo núcleo. O segundo defeito é que o verbo viu deveria
elevar-se a I, e não ficar em V. O último problema é que não foi representado um
vestígio. A representação mais adequada seria esta:
IP

DPk I’

Maria I VP

me viu tk V’

tj DP

ti
(c) Existem dois problemas nessa representação. O primeiro é que ela está sem sujeito,
o que viola o Princípio da Projeção Estendido. É preciso inserir um pro em
[Spec, IP]. Além disso, o DP [uma encomenda] está sem Caso. O leitor poderia
imaginar que o núcleo V atribui ACC para [uma encomenda]. Mas vamos nos
lembrar de que o verbo chegar é inacusativo e, como o próprio nome sugere, esse
verbo é incapaz de atribuir ACC. Então, o pro expletivo que é inserido em [Spec,
IP] estabelece uma relação expletivo-associado com [uma encomenda] e transfere

204
o Caso NOM que recebe do núcleo I para esse DP. Isso se chama Hipótese da
Transmissão de Caso. A representação mais adequada seria esta:
IP

proj I’

I VP

chegou V’

ti DPj

uma encomenda
10. As interrogativas WH apresentam obrigatoriamente um sintagma WH, que pode ser
movido ao [Spec, CP] da oração na qual haja o traço [q] em C. As interrogativas polares
apresentam, em português, uma modificação mais prosódica, porque os constituintes
ficam exatamente nas mesmas posições de uma sentença declarativa. Em inglês, ocorre
o Movimento I-para-C. Quando uma interrogativa polar é encaixada, ela apresenta o C
se. Resumidamente, a interrogativa WH envolve operações com sintagmas, enquanto
a interrogativa polar envolve operações com núcleos.

11. A resposta está na Teoria Temática. Veja as seguintes representações.


VP

V’

Vlexical PP

P’

Pfuncional DP
VP

VP PP

V’ P’

V Plexical DP

Na primeira representação, como o verbo é lexical, ele atribui Papel Temático. Ele
atribui o Papel Temático ao PP, mas, como a P é funcional, ele não tem nenhum tipo
de valor semântico. Então, quem recebe ”de fato”o Papel Temático é o DP do [Comp,
PP]. Se a P fosse lexical, o DP receberia dois Papéis Temáticos (um do V e um da P).

205
Isso não é permitido pelo Critério Θ. No segundo caso, quando o PP é adjunto, a P
deve ser lexical. Se a P for funcional, o DP ficará sem Papel Temático, o que também
não é permitido pelo Critério Θ.
12. Não se pode estabelecer um isomorfismo entre o movimento de sintagma e o movimento
de núcleo porque os sintagmas sempre se movem a posições vazias. Os núcleos se movem
a posições em que há outros núcleos, de modo que esses núcleos, de certa forma, se
amalgamam.
13. João disse está doente.
CP

C’

C IP1

DPj I’

João I VP1

disse tj V’

tk CP

C’

C IP2

que proj I’

I VP2

está tj V’

ti AP

tj A’

doente

Da maneira como está representado, parece que [João] nasceu em [Spec, VP2] e subiu
para [Spec, IP2], depois para [Spec, VP1], depois para [Spec, IP1]. O movimento de
[Spec, IP2] para [Spec, VP1] não é possível, por causa do fenômeno do Congelamento.
O DP [João] já teria recebido Caso NOM em [Spec, IP2] e, quando um DP recebe Caso,
ele fica congelado, parado: a partir desse momento, ele só pode se mover a [Spec, CP],

206
se for necessário. Então, para resolver isso, o DP [João], na verdade, nasce em [Spec,
VP1], enquanto, em [Spec, VP2], nasce um pro. O pro se move a [Spec, IP2] (para
satisfazer EPP), e DP [João] se move para [Spec, IP1], tanto para satisfazer EPP,
quanto para receber Caso NOM.

14. Para cada uma das afirmativas abaixo, indique se ela é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) (V) O DP vazio em [Spec, VP] deve mover-se a [Spec, IP] para satisfazer EPP (e
para receber Caso NOM, se o DP for visível).
(b) (F) Nem sempre o [Comp, VP] se tornará o objeto da oração. No caso dos verbos
inacusativos, o [Comp, VP] se eleva a [Spec, IP] para tornar-se p sujeito da oração.
(c) (F) É possível, sim, que o DP execute Movimento WH sem que a preposição se
mova junto. Quando a preposição fica ”sozinha”na sentença, ela não é manifes-
tada. É por isso que são possíveis sentenças do tipo ”Que ajuda você precisa?”.
(d) (V) Exatamente. Núcleos ECM devem ser aqueles que, canonicamente, estabe-
lecem relações Núcleo-Comp, ou seja, apenas V e P. O núcleo I não tem essa
propriedade. Não existe núcleo I ECM.
(e) (F) Nem sempre o DP precisa mover-se para receber Caso. Os complementos
de preposição, por exemplo, nascem em [Comp, PP] e recebem Caso na mesma
posição. Não precisam mover-se para receber OBL.
(f) (F) Isso é quase sempre verdade. Mas excetuam-se os pro que funcionam como su-
jeito expletivo. Esses não recebem Papel Temático, porque eles não têm nenhuma
função semântica.

15. (a) PRINCÍPIO DA PROJEÇÃO ESTENDIDO (EPP): A posição [Spec, IP]


deve estar sempre preenchida.
(b) CRITÉRIO Θ: Todos os núcleos lexicais atribuem Papéis Temáticos aos seus
argumentos. Todo argumento de um núcleo lexical deve receber um, e somente
um Papel Temático. Esse critério deve ser satisfeito em DS.
(c) FILTRO DO CASO: Todo DP visível (ou seja, pronunciado) deve receber Caso.
Esse filtro é aplicado em SS.
(d) MARCAÇÃO EXCEPCIONAL DE CASO (ECM): Verbos ECM e prepo-
sições ECM atribuem Caso ao especificador do complemento, e não ao comple-
mento.
(e) HIPÓTESE DA TRANSMISSÃO DE CASO: Quando o complemento de
um verbo inacusativo fica in situ, o pro que ocupa [Spec, IP] estabelece com ele
uma relação expletivo-associado, transmitindo-lhe o Caso NOM que recebe do
núcleo I.
(f) PRINCÍPIO DE ANTILOCALIDADE: Se YP está em [Comp, XP], então
YP não pode mover-se a [Spec, XP].
(g) CONDIÇÃO SOBRE DOMÍNIOS DE EXTRAÇÃO (CDE): Sejam duas
categorias XP e YP, tal que YP é especificador ou adjunto de XP. Seja ZP uma

207
categoria dominada por YP. Não é possível que ZP se movimente para fora do
domínio de YP.
(h) CONDIÇÃO DE SUBJACÊNCIA: Um elemento sintático não pode atraves-
sar mais de uma barreira por ciclo, sendo barreiras o DP e o CP.

7.2 Capítulo 2
1. (a) [João] e [flores] são argumentos do verbo entregar; [ontem] e [na festa] são adjuntos.
[a festa] é argumento da preposição em.
(b) Existe um pro (que remete à primeira pessoa) que funciona como argumento do
verbo comer. Além disso, [o bolo] também é argumento de comer. [que minha
mãe cozinhou] é adjunto. [minha mãe] é argumento de cozinhar. Por fim, um pro
(que retoma o NP [o bolo]) também funciona como argumento de cozinhar.
(c) [o aluno] e [com o professor da matéria] são argumentos do adjetivo parecido. [da
matéria] é adjunto.
(d) [o professor] e [a entrega da prova aos alunos] é argumento do verbo realizar. [da
prova] e [aos alunos] são argumentos do nome entrega.
(e) [Roberto] e [a tarefa] são argumentos do verbo fazer. [rapidamente] é adjunto.
(f) [meu amigo] é argumento do verbo sair. [cedo] é adjunto.

2. (a) João entregou flores a Maria ontem na festa.

208
CP

C’

C IP

DPj I’

João

I VP

entregou
VP PP

P’

VP AdvP P DP

tj V’ Adv’ em a festa

Adv
V’ PP
ontem
ti DP P’

flores P DP

a Maria
(b) Comi o bolo que minha mãe cozinhou.

209
CP

C’

C IP

prom I’

I VP

comi t m V’

tl DP

D’

D NP

o
NPk CP

N’ C’

N
C IP
bolo
que
DPj I’

minha mãe I VP

cozinhou t j V’

ti prok
(c) O aluno é parecido com o professor da matéria.

210
CP

C’

C IP

DPj I’

o aluno I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

A PP

parecido P’

P DP

com
o professor da matéria
(d) O professor realizou a entrega da prova aos alunos.
CP

C’

C IP

DPj I’

o professor
I VP

realizou
tj V’

ti DP

a entrega das provas aos alunos

211
(e) Roberto fez a tarefa rapidamente.
CP

C’

C IP

DPj I’

o Roberto
I VP

fez
VP AdvP

tj V’ Adv’
ti DP Adv
a tarefa rapidamente
(f) Meu amigo saiu cedo.
CP

C’

C IP

DPj I’

meu amigo I VP

saiu VP AdvP

tj V’ Adv’
ti Adv

cedo

3. (a) O João, eu vi na festa.

212
CP

DPk C’

o João C IP

DPj I’

eu
I VP

vi VP PP

tj V’ P’

ti vbl k P DP

em a festa
(b) Meu amigo não sabe quando a aula acaba.

213
CP

C’

C IP

DPm I’

meu amigo
I VP

não sabe t m V’

tl CP

AdvPk C’

Adv’
C IP
Adv
DPj I’
quando
a aula I VP

acaba VP vbl k

V’

ti tj
(c) Qual pessoa falou com você?

214
CP

DPj C’

qual pessoa C IP

vbl j I’

I VP

falou t j V’

ti PP

P’

P DP

com você
(d) A construção do prédio demorou muito.
CP

C’

C IP

DPj I’

a construção do prédio I VP

demorou VP AdvP

tj V’ Adv’

ti Adv

muito
(e) Eu viajei com o João em junho.

215
CP

C’

C IP

DPj I’

eu
I VP

viajei
VP PP

VP PP P’

j V’ P’ P DP

i P DP em junho

com o João
(f) Nós vamos passear se vocês arrumarem seus quartos.

216
CP

C’

C IP

DPl I’

nós I VAUX P

vamos t VAUX ’
l

tk VP

VP CP

tl V’ C’

V
C IP
passear
se
DPj I’

vocês
I VP

arrumarem t j V’

ti DP

seus quartos

4. Sim. Isso é necessário para satisfazer o Filtro do Caso. Como [o João] é um DP visível,
ele precisa de Caso sintático. Porém, ele foi inserido em uma posição não casual. Para
solucionar esse problema, conjecturamos que é formada uma Cadeia-A Imprópria CH
= ([João], ele). Como ele recebe Caso Acusativo em [Comp, [VP], o Filtro do Caso
(que, como vimos, agora é aplicado a Cadeias, e não a DPs) é satisfeito.

5. Não, isso é incorreto. O Movimento-A gera Cadeias-A, enquanto o Movimento-Ā gera


Cadeias-Ā. Então, existem duas Cadeias distintas: CH1 = (t i , vbl i,1 ) é uma Cadeia-A,
e CH2 = (vbl i,1 , vbl i,2 , DPi ) é uma Cadeia-Ā.

6. (a) Existem no mínimo dois problemas nessa representação. O primeiro é que foi
indicado um movimento de [Spec, IP] a [Spec, CP] por vestígio. Esse movimento
é um Movimento-Ā, porque [Spec, CP] não é uma Posição-Ā, portanto deveria
haver sido empregada a variável, e não o vestígio. Além disso, foi representado
outro movimento de [Spec, CP] a [Spec, VP]. Esse movimento é ilícito na teoria
gerativa, porque não pode haver movimento de Posição-Ā a Posição-A.

217
(b) O problema dessa estrutura é que, quando o DP se moveu de [Spec, VP] a [Spec,
IP], ele ficou congelado, porque recebeu Caso Nominativo nessa posição. Quando
o DP é congelado, ele não pode mais executar Movimento-A. Porém, logo em
seguida, o DP é movido ao [Spec, VP] mais acima. Esse é o problema da repre-
sentação. Veremos mais adiante que esse tipo de movimento é lícito nos poucos
casos em que o [Spec, IP] não é uma posição casual.

7. Em geral, com a maioria dos verbos, o DP que aparece em [Spec, VP] é elevado a [Spec,
IP]. Há três exceções. A primeira são os verbos inacusativos, que podem satisfazer EPP
de duas formas: ou é inserido um pro expletivo em [Spec, IP], ou o DP que está em
[Comp, VP] é movido a [Spec, IP]. A segunda são os verbos impessoais, que forçam
a inserção de um pro expletivo em [Spec, IP]. A última exceção é aquela na qual um
VP funciona como complemento de um verbo ECM. Nesse contexto, o [Spec, VP] fica
congelado, porque ele recebe caso do verbo ECM. Com verbos copulativos e auxiliares,
a posição de [Spec, VP] servirá apenas como ”trampolim”para que um DP saia de uma
posição temática mais baixa (um outro VP, no caso dos auxiliares, ou um AP, no caso
dos copulativo) ao [Spec, IP] mais acima.

8. Se o Movimento-A é o mecanismo que permite um XP chegar a uma posição casual,


então imaginamos que apenas DPs façam Movimento-A, porque apenas eles precisam
de Caso. Mas o Movimento-Ā pode ser executado por vários XPs, principalmente
quado a intenção é focalizá-los. Apresento dois exemplos:

(a) Focalização de VP: [Fazer o dever], eu fiz.


(b) Focalização de AP: [Bonita] ela é.

9. [Spec, YP] deve ser uma posição [- θ, - K, + A]. A ideia é que, se [Spec, ZP] é uma
posição temática e [Spec, XP] é uma posição casual, então um possível DP que surja
em [Spec, ZP] deverá elevar-se a [Spec, YP] (por causa da condição de localidade do
Movimento-A) e, em seguida, a [Spec, ZP]. Portanto, [Spec, YP] não pode ser uma
posição temática, porque o DP já receberá Papel Temático em [Spec, ZP]; não pode
ser uma posição casual, porque o DP já receberá Caso em [Spec, XP]; precisa ser uma
posição argumental, porque ela deve ser acessível ao Movimento-A (que só pode ser
feito entre Posições-A). Logo, [Spec, YP] não é posição nem temática, nem casual, mas
é argumental: [- θ, - K, + A].

10. Os possíveis adjuntos de NP são o AP, o PP e o CP. O único adjunto possível para o
DP é outro DP. Os possíveis adjuntos de VP são o AdvP, o PP e o CP. Apresento os
exemplos a seguir:

(a) AP adjunto de NP: O menino [bonito] chegou.


(b) PP adjunto de NP: O professor [da disciplina] é legal.
(c) CP adjunto de NP: A pessoa [que eu conheço] é divertida.
(d) DP adjunto de DP: Paulo, [meu professor], dá aula de sintaxe.
(e) AdvP adjunto de VP: João chegou [cedo].

218
(f) PP adjunto de VP: Eu vi você [na festa].
(g) CP adjunto de VP: [Quando sair], feche a porta.

11. Na gramática tradicional, esses conceitos estão intimamente relacionados, como se fos-
sem a mesma coisa. Por exemplo, o sujeito (função sintática) é dado prototipicamente
como o agente da ação verbal (função semântica) e como elemento preposto ao verbo
(posição). Isso acaba gerando os casos periféricos nos quais o que não deveria ser sujeito
o é, ou o que não deveria ser o sujeito é. Por exemplo, na sentença Chegaram dois alu-
nos, o DP [dois alunos] não é agente e está posposto ao verbo, mas é dado como sujeito
pela gramática tradicional. Além disso, na sentença A maioria das pessoas apareceram,
o sujeito, para a gramática tradicional, é [a maioria das pessoas], mas, se o verbo con-
corda com [as pessoas], então esse deveria ser o sujeito. Na gramática gerativa, há uma
separação desses conceitos: a função semântica é atribuída em uma posição; a função
sintática, em outro. Aliás, aproveito o momento para tecer um comentário sobre a
gramática tradicional em relação à função sintática. Função sintática é um conceito
amplo, que está relacionado realmente às relações que estão sendo estbelecidas entre os
constituintes na oração. A gramática tradicional precisa desse conceito para justificar
algumas questões de hierarquia (por exemplo, é por meio da diferença entre o adjunto
adnominal e o predicativo do objeto que a gramática tradicional explica a ambiguidade
estrutural). A gramática gerativa, a rigor, não precisa desse conceito, porque ela con-
segue justificar essas diferenças estruturais simplesmente pela hierarquia no diagrama
arbóreo. Muitos livros usam a nomenclatura ”adjunto adnominal”, ”predicativo do
objeto”(e outros) porque essas são as nomenclaturas institucionalizadas na literatura,
mas elas são completamente desnecessárias no programa gerativista (bastaria dizer ”AP
complemento do VP, AP adjunto do NP, etc.). Fiz esse comentário para explicar que
Caso e função sintática não são a mesma coisa, porque o Caso (conceito linguístico)
está relacionado a um traço sintático atribuído apenas aos DPs visíveis, enquanto a
função sintática (conceito tradicional) é aplicável a basicamente todos os sintagmas de
uma sentença.

12. O DP [o professor] é o predicativo do sujeito. Em Latim, essa posição sintática recebia


Caso Nominativo, tal e qual o sujeito. Então, podemos assumir que, na estrutura
arbórea, o DP [João] e o DP [o professor] formam uma espécie de Cadeia-A Imprópria,
que permite a transmissão do Caso Nominativo do DP [João] para o DP [o professor].
Ressalto que verbos auxiliares não são atribuidores de Caso, então [o professor] não
pode receber ACC, inclusive porque, se trocássemos esse DP por um pronome pessoal
de primeira pessoa do singular, o resultado seria O professor sou eu, e não *O professor
me é.

13. As Posições-Ā são todos os [Spec, CP] e todas as posições resultantes de adjunção. As
demais posições são Posições-A.

14. Para cada uma das afirmativas abaixo, indique se ela é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) (V) De fato, é isso que acontece. O nome do fenômeno que impede o Movimento-A
a partir e Posição Casual é o Congelamento.

219
(b) (F) Nem todo. Quando um pro executa Movimento-A para elevar-se de [Spec, VP]
a [Spec, IP], ele o faz apenas para satisfazer EPP, porque DPs vazios prescindem
de Caso.
(c) (V) Como não é permitido movimento para uma posição de adjunção, então as
únicas posições que restam para funcionar como alvo de Movimento-Ā são os
[Spec, CP].
(d) (F) O Movimento-Ā pode ser executado de qualquer posição (Posição-A ou Posição-
Ā) a uma Posição-Ā. Então, existe, sim, movimento de Posição-A a Posição-Ā.
(e) (V) Todos os tipos de movimento (Movimento de Núcleo, Movimento-A e Movimento-
Ā) são curtos em relação ao alvo que eles selecionam.
(f) (F) Algumas Cadeias Impróprias servem para satisfazer alguma condição espe-
cífica da teoria para explicar um determinado dado. Por exemplo, a Cadeia-A
Imprópria formada pelo pro em [Spec, IP] quando o complemento de inacusativo
fica in situ não gera nenhum tipo de impropriedade na sentença.

15. (a) RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DE ILHA: Os adjuntos não podem mover-


se, senão a [Spec, CP].
(b) POSIÇÃO-A: Uma Posição-A é qualquer posição temática real ou potencial.
(c) RESTRIÇÃO DE MOVIMENTO DE NÚCLEO (HMC): Um núcleo só
pode mover-se à primeira posição de núcleo que o c-comande.
(d) CADEIA-A: Uma Cadeia-A é formada por um DP e por todos os vestígios
deixados nas posições pelas quais ele passou.
(e) CADEIA-Ā: Uma Cadeia-Ā é formada por um DP e todas as variáveis deixadas
nas posições pelas quais ele passou.
(f) CONDIÇÕES SOBRE CADEIAS-A:
i. A causa da Cadeia-A deve ser uma posição temática;
ii. A cabeça da Cadeia-A deve ser uma posição casual;
iii. Não pode haver nenhuma Posição-A X, tal que ti c-comande X, X c-comande
ti+1 e X não pertença à Cadeia-A.
(g) CONDIÇÕES SOBRE CADEIAS-Ā:
i. A causa da Cadeia-Ā deve ser uma posição casual;
ii. Todas as outras posições da Cadeia-Ā além da cauda devem ser Ā;
iii. Não pode haver nenhuma Posição-Ā X, tal que vbli c-comande X, X c-
comande vbli+1 e X não pertença à Cadeia-A.

7.3 Capítulo 3
1. Represente cada uma das sentenças abaixo na estrutura superficial. É permitido sim-
plificar os DPs.

220
(a) Rodrigo levantou na madrugada.
CP

C’

C IP

DPj I’

Rodrigo
I VP

levantou VP PP

tj V’ P’

ti P DP

em a madrugada
(b) Com qual aluno Pedro vai conversar?
CP

PPk C’

P’ C IP
P DP
DPj I’
com qual aluno
Pedro I VP

vai t j V’

ti VP

tj V’

V vbl k

conversar
(c) A Maria, o João disse que é bonita.

221
CP

DPj C’

a Maria
C IP

DPl I’

o João I VP

tl V’

tk CP

vbl j C’

C IP

que vbl j I’

I VP

é tj V’

ti AP

tj A’

bonita
(d) Meu aluno acha a matéria desinteressante.

222
CP

C’

C IP

DPj I’

meu aluno I VP

acha t V’
j

ti AP

DP A’

a matéria A

desinteressante
(e) João deixou o aluno sair cedo.
CP

C’

C IP

DPj I’

João I VP

deixou t V’
j

ti VP

VP AdvP

DP V’ Adv’

o aluno V Adv

sair cedo
(f) Os alunos entraram na sala de manhã.

223
CP

C’

C IP

DPj I’

os alunos
I VP

entraram
VP PP

tj V’ P’

ti PP P DP

P’ de manhã

P DP

em a sala
2. Retorne ao exercício anterior e, para cada DP, indique se ele esta em Posição-A ou em
Posição-Ā.

(a) o DP [Rodrigo] está em Posição-A. O DP [a madrugada] está em Posição-A, mas


é dominado por um PP que está em Posição-Ā.
(b) O DP [qual aluno] está em Posição-A, mas é dominado por um PP que está em
Posição-Ā. O DP [Pedro] está em Posição-A.
(c) O DP [a Maria] está em Posição-Ā. O DP [o João] está em Posição-A.
(d) O DP [meu aluno] está em Posição-A. O DP [a matéria] está em Posição-A.
(e) O DP [João] está em Posição-A. O DP [o aluno] está em Posição-A.
(f) O DP [os alunos] está em Posição-A. O DP [a sala] está em Posição-A. O DP
[manhã] está em Posição-A, mas é dominado por um PP que está em Posição-Ā.

3. Indique a cadeia de cada um dos DPs destacados nas sentenças abaixo e classifique-a.

(a) [IP Maria4 vai [VP t 3 [VP t 2 ser [AP t 1 estudiosa ] ] ] ]


CH = (t 1 , t 2 , t 3 , DP4 ) é uma Cadeia-A Própria.
(b) [CP Quem5 você falou [CP vbl 4 que [IP vbl 3 está [VP t 2 [AP t 1 chateado ] ] ] ] ]
Esse DP gera duas cadeias. CH = (t 1 , t 2 , vbl 3 ) é uma Cadeia-A Própria. CH
= (vbl 3 , vbl 4 , DP5 ) é uma Cadeia-Ā Própria.

224
(c) João comeu bolo
Esse DP não se moveu ao longo da derivação. CH = (DP) é uma Cadeia
Trivial.
(d) [IP Robertot 2 nadou [VP t 1 na piscina ] ]
CH = (t 1 , DP2 ) é uma Cadeia-A Própria.
(e) [IP pro2 Chegou [VP uma encomenda1 ] ]
CH = (DP1 , pro2 ) é uma Cadeia-A Imprópria.
(f) [CP A Maria2 , [IP eu falei [VP com ela1 ] ] ]
CH = (DP1 , DP2 ) é uma Cadeia-Ā Imprópria.
4. A diferença reside na coindexação, porque, do ponto de vista da ligação, de fato,
nesse contexto, o Pronome e a Expressão-R são idênticos. Mas a coindexação de uma
Expressão-R é absoluta, autossuficiente. Por outro lado, um Pronome deve estar obri-
gatoriamente coindexado a outro elemento seja dentro da sentença, seja fora dela (no
caso de haver algum item saliente no contexto).

5. A CR desse DP é o AP. O DP que está em [Spec, AP] (Posição-A) c-comanda o DP


que está em [Comp, PP] (outra Posição-A). Como ambos estão coindexados, o DP em
[Comp, PP] está ligado ao que está em [Spec, AP], portanto ele está ligado dentro de
sua CR. É por isso que ele não pode ser um pronome: um pronome deve estar livre
dentro de sua CR.

6. Identifique, nas seguintes estruturas abstratas, a CR de todos os DPs.

(a) A CR do DPi é o IP. A CR do DPj também é o IP.


(b) A CR do pro é o IP. A CR do DPi também é o IP. A CR do DPj é o VP2 .

7. Isso acontece quando ele forma Cadeia-Ā Imprópria com um elemento que está em
[Spec, CP]. Por exemplo: A Maria, eu vi ela ontem. O pronome ela deve estar coinde-
xado com [Maria]. Por que não existe outra opção? Se esses elementos não estiverem
coindexados, não podem formar Cadeia; se não puderem formar Cadeia, o DP [Maria]
ficará sem Caso, violando o Filtro do Caso.

8. A anáfora não pode ocupar posição de [Spec, IP], porque, nessa posição, sua CR será o
próprio IP do qual ela é especificador, logo não vai haver DP passível de ligação dentro
desse domínio, já que a anáfora já vai estar no ponto mais alto da CR. Além disso,
a anáfora não pode não ter CR, ou seja, ela não pode ser complemento de um PP
adjunto, por exemplo.

9. Explique a agramaticalidade de cada uma das sentenças abaixo. Leve em consideração


as ligações indicadas. Aponte qual Princípio está sendo violado.

(a) Uma Expressão-R está ligada à outra. Há violação ao Princípio C.


(b) A anáfora não está ligada, porque [de João] é Posição-Ā. Há violação ao Princípio
A.
(c) Uma Expressão-R está ligada à outra. Há violação ao Princípio C.

225
(d) Uma Expressão-R está ligada à outra. Há violação ao Princípio C.
(e) A anáfora não está ligada dentro de sua CR. Há violação ao Princípio A.
(f) A anáfora não está ligada, porque está em Posição-Ā. Há violação ao Princípio
A.

10. Se um verbo ECM selecionar um AP ou um VP e o núcleo A ou V desses sintagmas


c-comandar um DP, então a CR desse DP será o AP ou o VP.

11. Quando esse DP está em Posição-Ā ou quando está dominado por uma categoria que
está em Posição-Ā.

12. A relação expletivo-associado ocorre quando um sujeito expletivo forma Cadeia Impró-
pria com um DP interno à sentença, a fim de garantir a satisfação do Filtro do Caso.
A Ligação, por outro lado, não grante nenhum tipo de transmissão de Caso: se um DP
visível está ligado a outro, ambos precisam receber Casos em posições distintas.

13. Isso pode acontecer no seguinte exemplo: João se mandou achar Roberto bom para ele.
IP

DPi I’

João
I VP

se mandou t V’

t VP

DPi V’

t
V AP

achar
DPj A’

Roberto A PP

bom P’

P DPi

para ele

14. (a) (F) Isso é falso quando há verbo ECM. Numa estrutura trnasobjetiva, com verbo
ECM, do tipo [VP V [AP DP1 A [PP P DP2 ] ] ], mesmo que DP2 esteja ligado a
DP1, a CR de DP2 é o AP, enquanto a de DP1 é o IP.

226
(b) (F) Isso não é sempre verdade. O adjunto de Y é uma Posição-Ā, logo não pode
haver nenhuma ligação de dentro dessa posição com algo fora dela, mas pode ser
que o adjunto de Y domine dois elementos Z e X, e X esteja ligado a Z (logo, X
pode ter CR).
(c) (V) É por isso que, na definição, falamos em α. Não importa se um DP é uma
Anáfora, um Pronome ou uma Expressão-R: o que delimita a sua CR é a posição
que ela ocupa na estrutura.
(d) (V) A Ligação depende de coindexação, de c-comando e de Posição-A, então a
coindexação não garante a ligaão, mas a ligação garante a coindexação.
(e) (V) A Posição-Ā cria um ”universo paralelo”dentro da sentença. Pode haver
ligação entre elementos internos àquela posição, mas não fora dela.
(f) (F) Apenas os vestígios são ignorados.

15. (a) PRINCÍPIO A (DAS ANÁFORAS): A Anáfora deve estar ligada dentro de
sua Categoria de Regência.
(b) PRINCÍPIO B (DOS PRONOMES): O Pronome deve estar livre dentro de
sua Categoria de Regência.
(c) PRINCÍPIO C (DAS EXPRESSÕES-R): A Expressão-R deve estar sempre
livre. Ela pode estar coindexada a outro elemento recuperado contextualmente.

7.4 Capítulo 4
1. Represente cada uma das sentenças abaixo na estrutura superficial. É permitido sim-
plificar os DPs. Indique todas as ECs e as suas respectivas ligações corretamente.

(a) João não é capaz de se machucar.

227
CP

C’

C IP

DPj I’

João I VP

não é tj V’

tk AP

tj A’

A PP

capaz P’

P CP

de C’

C IP

PROj I’

I VP

se machucar t j V’

ti DPj

t
(b) A Maria, Rafael disse que se ama.

(c) Joana estudou o conteúdo para que passasse na matéria.

228
CP

C’

C IP

DPj I’

Joana
I VP

estudou
VP PP

tj V’ P’

tk DP P CP
o conteúdo para C’

C IP

que
proj I’

I VP

passasse t j V’

ti PP

P’

P DP

em a matéria

(d) Quem Rafael fez estudar o conteúdo?

229
CP

DPk C’

quem
C IP

DPj I’

Rafael I VP

fez tj V’

ti VP

vbl k V’

V DP

estudar o conteúdo
(e) Paulo quer saber sobre si.

230
CP

C’

C IP

DPj I’

Paulo I VP

quer t j V’

tk CP

C’

C IP

PROj I’

I VP

saber tj V’

ti PP

P’

P DPj

sobre si
(f) Marcus acha a sintaxe boa para ele.

231
CP

C’

C IP

DPj I’

Marcus I VP

acha t j V’

ti AP

DP A’

a sintaxe A PP

boa P’

P DPj/k

para ele

2. Se o PRO for sujeito de um verbo impessoal, ele será expletivo. É o que acontece em
PRO Chover atrapalha meu dia.

3. Levando-se em consideração as ECs indicadas e suas respectivas ligações, justifique a


agramaticalidade das sentenças.

(a) Não pode haver um vestígio em [Spec, IP], porque dali foi executado um Movimento-
Ā, e o Movimento-Ā é indicado pela variável.
(b) Se o vestígio é análogo às anáforas, então há violação ao Princípio A, porque o
vestígio não está ligado.
(c) Se o pro é análogo aos pronomes, então há violação ao Princípio B, porque o pro
está ligado dentro da sua CR (que é o IP).
(d) A variável está indicando um movimento para [Spec, VP], quue é uma Posição-A.
Isso não é possível, porque a variável só indica Movimento-Ā, que se dirige a [Spec,
CP].
(e) O principal problema é que a variável mais baixa está indicando movimento de
[Spec, VP] a [Spec, IP], o que não é permitido, porque esse é um Movimento-A. No
mesmo sentido, esse mesmo vestígio está indicando movimento para [Spec, CP], o
que também não é lícito, porque [Spec, CP] é uma Posição-A. Simplificadamente,
o problema é que o vestígio e a variável estão trocados.

232
Tabela 7.1: Posições sintáticas das ECs
ECs Posição θ Posição K Posição A
t +/- - +
vbl +/- +/- +/-
pro +/- + +
PRO - - +

Tabela 7.2: Exemplos de PRO


PRO Arbitrário PRO de Controle
PRO Navegar é preciso. Quero PRO aprender mais.
Voltei cedo por PRO estar chovendo muito. Maria decidiu PRO se dedicar mais.

(f) O PRO deve estar coindexado com o primeiro DP disponível, portanto ele deveria
estar coindexado com DPj , e não com DPi .
4. Ela é impossível porque viola o Princípio de Antilocalidade.
5. Identifique as ECs em cada uma das estruturas abstratas abaixo.
(a) Essa EC deve ser uma variável, porque ela está indicando um Movimento-Ā.
(b) Essa EC deve ser um pro, porque está ligada fora de sua CR. Vale ressaltar que
não poderia ser um vestígio, porque esse verbo não é inacusativo (veja que ele é
biargumental), logo esse movimento não ocorre.
6. Esta é a tabela:
7. O pro não pode ser substituído por um pronome visível quando ele é um sujeito expletivo
de um verbo impessoal ou de um verbo inacusatvo com complemento in situ.
8. O vestígio e a variável prescindem de Caso, porque são DPs vazios. O Filtro do Caso
só se aplica a DPs visíveis. Portanto, quando uma variável ou vestígio está ligado a um
DP visível, deve ser atribuído apenas um Caso (ao DP). Quando um DP visível está
ligado a outro, ambos devem receber Caso de fontes distintas.
9. Uma oração reduzida fixa é aquela que não pode ser desenvolvida. Ela geralmente está
relacionada à presença de um PRO. É o que acontece, por exemplo, na frase João gosta
de PRO comer bolo.
10. Aqui estão alguns exemplos:
11. Eis o exemplo: Quem falou com você?: [CP quem [IP vbl falou [VP t com você ] ] ]. O
vestígio e a variável têm a mesma CR: o IP.
12. Sim, são as mesmas da anáfora: o vestígio não pode ocupar [Spec, IP] (a menos que o
I seja infinitivo) nem pode ocupar posições de adjunção (como o complemento de um
PP adjunto). Inclusive, esse último caso está relacionado a algo que já vimos antes: as
Condições sobre Domínios de Extração.

233
13. Não é possível, porque as variáveis devem ser sempre livres. Se a variável estiver ligada
a algum outro elemento, haverá violação ao Princípio C.

14. (a) (V) É exatamente isso. O vestígio e a variável só aparecem quando o XP executa
algum tipo de movimento, ou seja, não existe nenhum vestígio ou variável na DS.
Por outro lado, o pro e o PRO já surgem na DS.
(b) (F) DPs Vazios também geram Cadeias Próprias. Quando um pro em [Spec, VP]
se move a [Spec, IP] para satisfazer EPP, ele gera uma Cadeia Própria.
(c) (V) É verdade, porque a sua posição não é casual. Se um pronome visível ocupasse
sua posição, haveria violação ao Filtro do Caso.
(d) (V) Isso é necessário para satisfazer o Princípio A.
(e) (V) A Ligação é uma relação transitiva. Se A está ligado a B, A e B estão em
Posição-A e B c-comanda A. Se B está ligado a C, C também está em Posição-A
e C c-comanda B. Se C c-comanda B e B c-comanda A, então C c-comanda A. Se
C c-comanda A, ambos estão em Posição-A e estão coindexados, então eles estão
obrigatoriamente ligados.
(f) (F) Não há nenhuma garantia de que isso seja verdade. Pode ser que haja uma
outra categoria D (B c-comanda D, D c-comanda C), de modo que C possa ser
uma anáfora ligada a D, e D, um pronome ligado a A.

15. (a) TEOREMA DO PRO: O PRO não tem Categoria de Regência.


(b) PRINCÍPIO DA PROJEÇÃO ESTENDIDO (VERSÃO FRACA): O
núcleo d obriga que [Spec, DP] se eleve a [Spec, dP].
(c) PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO PLENA: Não podem existir símbolos
supérfluos nas representações.

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