Vinicius de Abreu Requejo Alonso trafico sentenca

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PODER JUDICIÁRIO

São Paulo

4ª Vara Criminal da Comarca de Santos

Autos: 338/10

562.01.2010.019061-1

Vistos.

JAYME GONÇALVES NETO, VINÍCIUS DE ABREU


REQUEIJO ALONSO, RODRIGO WERNECK BADARO, DAVID CERQUEIRA
FREITAS, CAROLINA GONÇALVES VARZEA e VINÍCIUS MACHADO PINHEIRO
foram denunciados e estão sendo processados como incursos nas penas dos art. 33,
caput, e art. 35, caput, da Lei 11.343/06, porque, em 19 de maio de 2010, por volta
das 16h00min, na Praça Guadalajara, no Morro da Nova Cintra, nesta cidade de
Santos, foram surpreendidos por agentes da autoridade policial guardando com eles,
para a venda e entrega a terceiro, em desacordo e sem autorização legal, 150 (cento e
cinquenta) tabletes de maconha, droga que causa dependência física e/ou psíquica,
totalizando o peso líquido de 127.440g (cento e vinte e sete mil e quatrocentos e
quarenta gramas).

Consta, ainda, que os réus se associaram, com funções


definidas e preestabelecidas, para o cometimento do crime de tráfico ilícito de drogas.

Consta, por fim, que VINÍCIUS DE ABREU REQUEIJO


ALONSO guardava, em sua residência, munição de uso permitido, consistente em
uma cartela contendo 10 (dez) projéteis para arma de fogo calibre 38, de efetivo
potencial lesivo, tipificando o crime do art. 12, caput, da Lei 10.826/03.

Segundo a denúncia, através de interceptação telefônica


que investigou o aparelho de telefonia celular de nº 13 9149.5409, Jayme Gonçalves
Neto, vulgo Marapé, comandava verdadeira associação para o tráfico de drogas, de
dentro do presídio de Taubaté/SP, contando com a ajuda dos demais réus.

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Vinícius de Abreu, vulgo Magrelo, exercia, a mando de


Jayme, a função de gerente da associação, negociando transações que envolviam o
tráfico de drogas, adquirindo-as, encomendando-as, pagando por elas, transportando-
as, vendendo-as, recebendo pagamentos e se comunicando com outros integrantes
do bando. Ainda a mando de réu Jayme, Vinícius de Abreu adquiriu o veículo Corsa,
placa DKV 0355, somente para proceder ao transporte das drogas comercializadas.

Rodrigo Werneck Badaro, através do comando de


Vinícius de Abreu, exercia a função de buscar as drogas negociadas e prepará-las
para a venda, contando e embalando.

David Cerqueira de Freitas foi designado para conseguir


um imóvel para a guarda de drogas adquiridas que seriam vendidas. Para tanto,
alugou uma casa existente no local dos fatos, bem como procedia à pesagem e à
entrega das drogas, além de, por vezes, receber pagamentos.

Carolina Gonçalves Varzea, prima de Jayme, também era


incumbida de realizar intermediação em transação de tráfico de drogas, chegando a,
pelo menos em uma ocasião, recolher dinheiro para pagamento de referida aquisição
que não se concretizou. Servia também para agilizar as informações e determinações
de Jayme, de modo a chegar aos demais integrantes da quadrilha. Encarregava-se de
entabular negociações para a compra de drogas, pedindo, inclusive, prazo para
pagamento. Ainda a mando de Jayme se encarregava de amparar sua família, levando
mensalmente dinheiro para sua companheira.

Vinícius Machado Pinheiro foi contatado por Vinícius de


Abreu e tinha a função de viajar com este para Foz do Iguaçu/PR para ajudar a
adquirir droga, incumbindo-se de pagar o hotel utilizado por ambos.

Na data dos fatos, policiais civis tomaram conhecimento


de que Vinícius de Abreu, Rodrigo e David estariam no local com estoques de
maconha.

Chegando ao local, os policiais puderam visualizar David


deixando o imóvel e, posteriormente, Vinícius de Abreu, momento em que o
abordaram e encontraram em seu poder o aparelho de telefonia celular da marca LG
linha 9182.0478 e a chave do veículo Corsa, placa DKV 0355, o qual, após ser
revistado, em mochilas guardadas em sacos no porta-malas, foram localizadas 121

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(cento e vinte e um) tijolos de maconha, uma balança, um celular e o recibo de


pagamento do hotel.

No interior do imóvel, os investigadores detiveram


Rodrigo na posse de um aparelho de telefonia celular e, em um quarto, apreenderam
29 (vinte e nove) tijolos de maconha, guardados dentro de uma mochila verde, 01
(uma) faca, 02 (duas) balanças, 03 (três) incensos, 01 (um) rolo de fita adesiva, 01
(uma) fita crepe e 03 (três) rolos de papel filme.

Ainda em diligência, os policiais se dirigiram à residência


de Vinícius de Abreu e lá encontraram 01 (uma) balança, a quantia de R$ 2.100,00
(dois mil e cem reais) e cartela contendo 10 (dez) projéteis de arma de fogo calibre 38.

Nesse meio tempo, David foi detido pelos policiais.

Notificados (fls. 270 verso, 289 e 292), os réus


apresentaram defesa preliminar, nos termos do art. 55 da Lei 11.343/06 (fls. 254/256,
297/300, 301/304, 305/308 e 337).

Recebida a denúncia em 07 de janeiro de 2011 (fl. 422),


os acusados foram citados (fls. 451, 453 e 469).

Em audiências de instrução, os réus foram interrogados.


Foram ouvidas 05 (cinco) testemunhas arroladas pela acusação, 04 (quatro) arroladas
pelas Defesas e 01 (uma) do juízo (fls. 572/591, 603/604, 635/637 e 645/646).

As Defesas dos réus desistiram da oitiva de testemunhas


arroladas, o que foi homologado (fls. 484 e 573/574).

Convertidos os debates em memoriais, o Ministério


Público requestou a condenação dos acusados nos termos da denúncia (fls. 648/660).

A Defesa do réu David requereu a absolvição por falta de


provas e, subsidiariamente, a desclassificação do crime de tráfico para o de porte de
drogas e o afastamento do cumprimento da pena em regime integral fechado (fls.
662/667).

A Defesa da ré Carolina arguiu, em preliminar, exceção


de incompetência deste Juízo para a apreciação do pedido de interceptação telefônica
e nulidade da interceptação telefônica por ausência de motivação. No mérito, requereu
a absolvição por falta de provas e, subsidiariamente, a aplicação da causa de

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diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06 e o reconhecimento do


direito de apelar em liberdade (fls. 698/733).

A Defesa da réu Rodrigo requestou a absolvição por falta


de provas e, subsidiariamente, a desclassificação do crime em virtude da
inimputabilidade (fls. 742/746).

A Defesa do réu Jayme arguiu, em preliminar, exceção


de incompetência deste Juízo para a apreciação do pedido de interceptação telefônica
e nulidade da interceptação telefônica por ausência de motivação. No mérito, requereu
a absolvição por falta de provas e, subsidiariamente, o reconhecimento do direito de
apelar em liberdade (fls. 753/796).

A Defesa do réu Vinícius de Abreu arguiu, em preliminar,


a inconstitucionalidade do art. 33 da Lei 11.343/06 e a nulidade da prova produzida
pela autoridade policial. No mérito, postulou a absolvição por falta de provas (fls.
814/801).

A Defesa do réu Vinícius Machado pleiteou a absolvição


do acusado por falta de provas e, subsidiariamente, a aplicação da causa de
diminuição de pena prevista na Lei 11.343/06 em seu patamar máximo, a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direito e o reconhecimento do direito de
apelar em liberdade (fls. 826/843).

É o relatório do essencial.

Fundamento e decido.

Inicialmente, rejeito as preliminares arguidas pelas


Defesas dos réus Jayme e Carolina.

A exceção de incompetência oposta por Carolina já foi


devidamente rechaçada por decisão preclusa, como se pode observar dos autos em
apenso.

Não obstante, o argumento de incompetência novamente


não merece acolhimento.

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André Felipe dos Santos, preso em 05 de março de 2010


por envolvimento com o tráfico de drogas, foi processado perante a 6ª Vara Criminal
desta Comarca.

Em virtude de a alcunha de Marapé estar registrada na


agenda telefônica do aparelho de telefonia celular de André, a polícia civil requereu a
interceptação do telefone de referido indivíduo.

Distribuído livremente, este Juízo remeteu o pedido para


a 6ª Vara Criminal por entender pela existência da prevenção. No entanto, aquele
Juízo devolveu os autos, sob o argumento de que os crimes eram diversos. Diante
disso, este Juízo aceitou a distribuição originalmente realizada e determinou o
processamento do pedido.

Logo, a medida cautelar de interceptação telefônica foi


deferida e processada no Juízo para o qual foi distribuída. Por conseguinte, a
denúncia foi oferecida e os réus, processados.

Ao contrário do afirmado pelos réus Jayme e Carolina,


não há ofensa ao juiz natural.

Poderia ter havido se a interceptação telefônica tivesse


sido apreciada pelo Juízo da 6ª Vara Criminal desta Comarca, pois o pedido não foi
distribuído para ele e inexiste conexão entre os crimes apurados em ambos os
processos.

Embora os processos apurem crimes de tráfico de drogas


e associação para o tráfico, os fatos imputados aos réus de ambos são totalmente
diversos, de maneira que não havia qualquer justificativa para que a competência
fosse da 6ª Vara Criminal.

O art. 76, inciso III, do Código de Processo Penal


estabelece a existência de conexão quando a prova de uma infração ou de qualquer
de sua circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

Assim, o escopo é facilitar a produção da prova uma


única vez, auxiliando o juiz na apreciação do conjunto probatório relativo às infrações
penais reunidas.

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Ocorre que os crimes imputados a André e os outros


atribuídos a Jayme e Carolina são completamente independentes, pois as provas dos
primeiros não influem nas dos segundos, além de as elementares serem diversas.

Isto se depreende pelos próprios autos, haja vista que


todas as provas pertinentes aos fatos neles apurados foram produzidas somente
perante este Juízo.

Ademais, vale ressaltar que, ainda que os delitos fossem


conexos, a prorrogação pelo art. 76, inciso III, do Código de Processo Penal constitui
regra de competência relativa, tanto que o juiz pode de ofício determinar a separação
dos processos, nos termos do art. 80 do Código de Processo Penal, de maneira que a
inobservância não geraria a nulidade dos atos processuais.

Por outro lado, a decisão que determinou a interceptação


não contém vício.

Após a autoridade policial explicar detalhadamente a


necessidade de quebra do sigilo telefônico de indivíduo conhecido por Marapé,
mencionado na agenda do telefone celular de André Felipe dos Santos, peça
importante dentro da organização criminosa PCC, este Juízo acolheu a justificativa e,
com o parecer favorável do Ministério Público, deferiu o pedido.

Não havia outro meio de investigação, já que André foi


preso na operação policial e não era conhecida a identidade de Marapé, o que impedia
a realização de campana.

Logo, não há que se falar em nulidade da decisão.

Não se olvida que os direitos e garantias individuais


devem ser respeitados. No entanto, não podem ser manejados por criminosos com o
fim de se eximir da responsabilidade penal por graves crimes cometidos.

Rejeito, ainda, as preliminares arguidas pelo réu Vinícius


de Abreu.

A prova produzida por interceptação telefônica não é


ilícita por derivação.

Policiais civis, ao efetuarem a prisão de André Felipe dos


Santos, apreenderam documentos e anotações referentes ao tráfico de drogas na

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região, além de aparelhos de telefonia celular que eram utilizados para o


desenvolvimento da ação criminosa.

Obviamente que os objetos apreendidos podem ser


amplamente inspecionados para a apuração de delitos e não há qualquer ilegalidade
no exame da agenda telefônica contida no celular.

Não se trata de quebra de sigilo telefônico ou do histórico


de ligações, já que o requerimento da autoridade policial para a interceptação
telefônica e os depoimentos dos policiais civis ouvidos como testemunhas indicam que
o exame foi feito na agenda do telefone de André.

Todavia, ainda que a alcunha Marapé constasse do


histórico de ligações, evidente que a apreensão do aparelho pode ensejar a análise de
todas as informações nele contidas.

Seria um claro exagero e excesso de zelo exigir


autorização judicial para analisar informações que constam de um telefone
legitimamente apreendido.

Mais uma vez há de se salientar que direitos e garantias


fundamentais não podem ser usados como subterfúgio para escapar da aplicação da
lei penal.

Por fim, o art. 33 da Lei 11.343/06 não é viciado pela


inconstitucionalidade arguida.

Trata-se de norma penal em branco que é completada


por uma portaria editada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, a
qual, embora não tenha competência penal, é órgão federal que tem a função de
promover a proteção da saúde da população por intermédio do controle sanitário da
produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância
sanitária.

A própria Lei 11.343/06, em seu art. 1º, parágrafo único,


estabelece que, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes
de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União e que, até que seja
atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas

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substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial,


da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.

Assim, não se pode alegar desconhecimento do conteúdo


da Portaria, a qual tem inexorável natureza pública, além de ser expressamente
referida em lei.

No que tange ao mérito, restou provado que a


investigação realizada nos autos teve início com a prisão de indivíduo chamado André
Felipe dos Santos, que seria uma peça importante dentro da facção criminosa PCC.

Em diligência em sua casa, policiais civis encontraram


farta documentação que indicava a fiscalização dos pontos de tráfico desta cidade,
denominados de bocas, com a discriminação de drogas vendidas, dinheiro e
armamento em cada um deles.

Na agenda telefônica do aparelho de telefonia celular


apreendido pertencente a André, constava o nome de indivíduo cuja alcunha é
Marapé, que, segundo informações obtidas pelo setor de inteligência da polícia e
relatadas pelo policial civil Marcos Pina quando de seu depoimento como testemunha,
era quem mais distribuía drogas na região do Canal 1 nesta cidade de Santos.

Com a interceptação do aparelho de telefonia celular de


Marapé, os policiais identificaram Jayme, que mesmo preso na cidade de Taubaté/SP
por ter sido surpreendido em flagrante por tráfico de drogas, continuava a comandar a
comercialização da substância entorpecente de dentro da prisão.

Com o monitoramento de suas conversas, os policiais


chegaram até Carolina, prima de Jayme, que obedecia às suas ordens para o
desenvolvimento do tráfico de drogas.

Dentre as transações efetuadas, Carolina, instruída por


Jayme, pegou R$ 14.000,00 (quatorze mil reais) em dinheiro com a companheira de
seu primo, Marielle Souza de Oliveira, e entregou a uma pessoa a quem chamava de
Tia.

Em outra oportunidade, Carolina, a mando de Jayme, foi


à cidade de Taubaté, onde ele estava preso, e voltou com R$ 35.000,00 (trinta e cinco
mil reais) em dinheiro, quantia também entregue à tia.

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Como, no início da interceptação telefônica, havia apenas


conversas acerca de dinheiro, a polícia entende que seriam transações decorrentes da
venda de drogas ocorrida recentemente. Isto porque as drogas são dadas em
consignação e, após a venda, o dinheiro é recebido.

Certa feita, ainda, Jayme disse para Carolina pedir à


pessoa que chamavam apenas de Amigo, que tinha influência, que realizasse a
cobrança de dívida de tráfico para ele. Chegou a citar à Carolina apelidos de
indivíduos conhecidos pelo envolvimento com o tráfico.

Além de Carolina, Jayme se valia da colaboração de


Vinícius de Abreu, que fazia a arrecadação do dinheiro e distribuía as drogas da
quadrilha.

No início da investigação, restou apurado que Carolina


intermediou uma negociação de drogas, oferecendo para Jayme uma parte da
quantidade pertencente ao fornecedor que chamavam de Amigo.

Jayme disse para Carolina que Vinícius de Abreu seria a


pessoa que conferiria a quantidade e a qualidade da droga, além de estipular o valor
que seria pago, de acordo com a qualidade da substância ilícita.

Esse fato originou o pedido de interceptação telefônica de


Carolina e Vinícius de Abreu. No entanto, por motivo não esclarecido, talvez por
interceptação pela polícia, a droga não foi entregue e, por conseguinte, a negociação
foi frustrada.

Por esta razão, Vinícius de Abreu, a mando de Jayme,


passou a contatar outros possíveis fornecedores, até chegar a Vinícius Machado, o
qual indicou um fornecedor no Paraguai.

Vinícius de Abreu, então, comunicou Jayme que faria


uma viagem longa, de aproximadamente 15 (quinze) horas, mas que não traria a
droga, a qual seria entregue diretamente na Baixada Santista. Então, juntamente com
Vinícius Pinheiro, foi para Foz do Iguaçu/PR.

Durante a ausência de Vinícius de Abreu, a polícia teve


notícia do envolvimento de David na associação, o qual substituiu o primeiro na
arrecadação dos pagamentos que eram feitos a Jayme.

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Neste momento, David passou a ter contato diretamente


com Jayme, que o orientava na aludida arrecadação e na distribuição de drogas.

Além disso, foi apurado que David era responsável pela


guarda da droga que era comercializada, tendo sugerido a Jayme a locação de uma
casa para o depósito da droga. Com a concordância de Jayme, David começou a
procurar uma casa para alugar e acabou celebrando contrato com a testemunha
Ezido, administrador do imóvel onde parte da droga foi posteriormente apreendida.

Ainda durante a viagem de Vinícius de Abreu, Rodrigo, a


mando de Jayme, foi a São Paulo buscar 03 (três) quilos de crack. Embora a polícia o
tenha aguardado na rodoviária durante toda a noite, não logrou êxito em surpreendê-
lo, já que sua feição não era ainda conhecida.

Rodrigo auxiliava Vinícius de Abreu nas atividades


relativas à traficância e tinha a função de aferir a qualidade de drogas adquiridas.

Assim que Vinícius de Abreu retornou do Paraguai,


Jayme o mandou buscar um carregamento de 24 (vinte e quatro) quilos de maconha
na cidade de São Paulo, que foi vendido em 01 (uma) semana.

Pouco tempo depois, houve tentativa frustrada de


aquisição de droga na cidade de São Paulo, com o pagamento antecipado de R$
24.000,00 (vinte e quatro mil reais), na qual pessoa identificada apenas por Surfista, a
mando de Vinícius de Abreu, traria a substância ilícita no veículo Corsa preto que já
estava sendo monitorado pela polícia. Todavia, houve um problema e o veículo
retornou vazio.

Finalmente, Vinícius de Abreu avisou Jayme que a droga


adquirida no Paraguai havia chegado. Jayme havia adquirido 50 (cinquenta) quilos de
maconha, por R$ 800,00 (oitocentos reais) cada quilo. No entanto, Vinícius de Abreu,
juntamente com Vinícius Machado, acabou comprando mais de 100 (cem) quilos, que
seriam vendidos por eles paralelamente.

Em ligações telefônicas, Vinícius Machado demonstrava


preocupação para que Vinícius de Abreu trouxesse o dinheiro para pagar o fornecedor
do Paraguai, já que o contato era dele.

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Além disso, em outra oportunidade, Vinícius Machado


pediu que Vinícius de Abreu trouxesse uma amostra da droga trazida por eles, para
que pudesse ser mostrada a terceiros interessados na aquisição.

No dia da prisão, Rodrigo e David contataram Vinícius de


Abreu e combinaram de levar parte da droga para a casa que David havia alugado,
que se situava no Morro da Nova Cintra.

Policiais foram até o local para aguardar a chegada dos


criminosos. Primeiro chegou David, com a chave da casa, seguido de Rodrigo, que
portava uma mochila, onde estava parte da droga.

No entanto, os policiais não efetuaram a prisão de


imediato, porque não sabiam onde estava o restante da maconha, e resolveram
esperar a chegada de Vinícius de Abreu, como havia sido combinado.

Antes de Vinícius de Abreu chegar, David deixou a casa


e se dirigiu para farmácia, onde trabalhava, permanecendo no interior do imóvel
apenas Rodrigo.

Com a chegada de Vinícius de Abreu, a polícia fez a


abordagem e encontrou na casa 29 (vinte e nove) tijolos de maconha e apetrechos
destinados à embalagem.

Com Vinícius de Abreu, estava a chave do veículo Corsa,


cuja localização ele não quis informar. No entanto, como ele estava de motocicleta
registrada em seu nome, os policiais descobriram seu endereço e encontraram o
automóvel a cerca de duas quadras de sua residência.

Aberto o veículo, encontraram o resto da maconha


importada do Paraguai, que era cerca de 100 (cem) quilos, além de balança e o
aparelho de telefonia celular interceptado, que havia sido perdido por ele no dia
anterior. Encontraram, ainda, recibo de hospedagem da cidade de Foz do Iguaçu/PR
em nome de Vinícius Machado.

Na casa de Vinícius de Abreu, foram encontrados


cartuchos de arma de fogo, calibre 38.

Policiais se dirigiram até a farmácia onde David


trabalhava e efetuaram sua prisão. Com ele, nada de irregular foi encontrado.

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As provas produzidas na primeira e segunda fase da


persecução penal formaram o convencimento deste Juízo acerca dos fatos que
acabaram de ser relatados.

Com efeito, o auto de constatação preliminar de


substância entorpecente (fl. 27) e o exame químico toxicológico (fl. 102), ambos com
resultado positivo para Cannabis sativa L, conhecida como maconha, provam a
apreensão de 127.440g (cento e vinte mil e sete mil e quatrocentos e quarenta
gramas) de drogas pela polícia civil e, por conseguinte, a materialidade do crime de
tráfico de drogas.

Evidente que a enorme quantidade afasta qualquer


pretensão da Defesa no que tange à desclassificação para o crime de porte de drogas
previsto no art. 28 da Lei 1.343/06.

Já a materialidade do crime de associação para o tráfico


restou demonstrada pela interceptação telefônica legitimamente deferida e pelas
provas orais produzidas.

Indivíduos se associaram permanente e estavelmente


para a prática de tráfico de drogas, com distribuição de funções necessárias ao
desenvolvimento do comércio ilícito.

Já as respectivas autorias foram parcialmente


demonstradas, como se verá adiante.

De qualquer maneira, todos os fatos apurados na


interceptação telefônica foram detalhadamente relatados, em depoimento judicial, pelo
policial civil Marcos Antonio Pina, que foi o responsável pelas escutas.

O depoimento do policial civil Paulo Álvaro Ribeiro


corrobora, além do depoimento de seu colega de farda, as provas obtidas na
interceptação telefônica.

Independentemente de aludida testemunha ter ou não


relatado os trabalhos de campo, o fato é que a investigação da polícia civil foi muito
bem sucedida com a apreensão de mais de 100 (cem) quilos de maconha e prisão em
flagrante de três criminosos.

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Diante do farto conjunto probatório, que concatena toda a


ação criminosa, o único adjetivo que não se pode atribuir à investigação é
inconsistência.

A interceptação telefônica apurou que o aparelho de


telefônica celular interceptado, que seria de Marapé, estava sendo usado do interior do
presídio da cidade de Taubaté/SP, onde Jayme estava preso (fl. 38 dos autos em
apenso).

Por meio telefônico, Marapé, que ainda não havia sido


identificado, mantinha conversas acerca do comércio de drogas com pessoas que
tinham outros dois aparelhos situados na cidade de Santos, um usado por Karol, da
operadora Nextel, e outro por Magrelo, da operadora Claro.

Em ligação realizada no dia 15 de abril de 2010, Karol


chama o indivíduo que usa o telefone interceptado de Jayme. Falam de dívidas de
drogas e da chegada de um carregamento de drogas de propriedade de uma pessoa a
quem chamam de Amigo, o qual separaria uma parte para Jayme.

Jayme pede que Karol o avise quando as drogas


chegarem, pois ele mandará Magrelo fazer o contato pessoal para avaliar a respectiva
qualidade (fls. 40/41 dos autos em apenso).

Posteriormente, Marapé foi identificado como Jayme


Gonçalves Neto e Karol, como Carolina Gonçalves Várzea (fls. 92/93), os quais são
primos.

Já em 16 de abril, Jayme conversa com sua mulher


Marielle, chamada apenas de Mari, e pergunta se Carolina já passou para pegar o
dinheiro, recomendando que dê à sua prima R$ 14.500,00 (quatorze mil e quinhentos
reais).

Mari pergunta por que Carolina tem que pegar o dinheiro,


se depois deixará novamente outra quantia com ela. Jayme responde que Carolina
tem que entregar um dinheiro até às duas horas e, mais tarde, pegará outra quantia de
lugar diverso (fl. 279 dos autos em apenso).

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Neste momento, cai por terra a alegação de que Carolina


apenas fazia pagamentos mensais à família de Jayme, como ajuda financeira. Se esse
fosse seu objetivo, não pegaria qualquer dinheiro com Marielle.

Logo, evidente a conduta de Carolina de se sujeitar às


ordens de Jayme na condução dos pagamentos decorrentes do tráfico de drogas.

Ainda no dia 16, Jayme conversa com pessoa de alcunha


Tia, que avisa ter vindo R$ 30,00 (trinta reais) a mais, totalizando R$ 15.030,00
(quinze mil e trinta reais) (fl. 280 dos autos em apenso).

Em 17 de abril, Carolina conversa com voz masculina


não identificada e pergunta se ele tem um aparelho que não esteja usando, porque
quer um telefone para falar apenas com seu primo (fl. 102 dos autos em apenso).

A razão para ter um telefone apenas para falar com


Jayme objetiva escapar de possível interceptação telefônica que apure o crime de
associação para o tráfico por eles praticado.

No mesmo dia, Carolina conversa com uma voz feminina


não identificada, chamada de Tia, dizendo que está faltando R$ 800,00 (oitocentos
reais) e que naquele dia ela trouxe R$ 15.000,00 (quinze mil reais). A voz feminina diz
que eram pacotinhos de R$ 10,00 (dez reais), ao que Carolina diz que eram da mulher
dele (de Jayme) (fls. 101 dos autos em apenso).

No dia seguinte, ambas voltam a conversar e Tia diz que


realmente está faltando R$ 800,00 (oitocentos reais) e que ele (Jayme) havia pedido
desconto que não seria possível (fls. 102 dos autos em apenso).

Mais uma vez está demonstrado que Carolina fazia


pagamentos decorrentes de tráfico de drogas a mando de Jayme.

Em 19 de abril, Carolina diz a Jayme que o negócio rodou


na estrada, que molhou, inclusive sendo notícia em jornal, mas que está para vir mais
(fls. 70 e 102 dos autos em apenso).

Assim, a aquisição de drogas intermediada por Carolina


para Jayme, cujo fornecedor era o Amigo, foi frustrada. A expressão rodou na estrada,
segundo a polícia, pode se referir à apreensão policial antes da chegada ao destino,

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até pelo fato de haver notícia jornalística a respeito. Não obstante, havia a promessa
de que novo carregamento estava por vir.

Na mesma ligação, Carolina diz que conversará com o


Amigo naquele dia para saber se ainda demora, se referindo às drogas, e Jayme a
manda perguntar ao Amigo sobre os outros negócios (fl. 103 dos autos do apenso).

Também no dia 19 de abril, Magrelo fala com voz


masculina não identificada e informa que não chegou nada ainda, mas que vai entrar
em contato (fl. 104 dos autos em apenso).

Em conversa no dia 21 de abril, Jayme pergunta para


Carolina se ainda não mudou o telefone, ao que ela responde que falta comprar o
aparelho.

Carolina diz, ainda, que o advogado vai na segunda-feira


e que já deu o dinheiro da viagem a ele. Após, novamente se refere ao Amigo, dizendo
que não está por aqui e que devem esperar ele voltar (fl. 103 dos autos em apenso).

Em mensagem de texto, Jayme, pelo telefone


inicialmente interceptado, pergunta para Carolina se ele tem um óleo bom e se dá para
soltar uma 5 e a quanto. Segundo a polícia, óleo bom é cocaína e o objetivo é a
aquisição de 05 (cinco) quilos (fl. 95 dos autos em apenso).

Já em 26 de abril, Jayme e Carolina novamente


conversam sobre o Amigo e sobre alguns indivíduos, como Cachorrão e Cabeça, que
devem ser colocados no prazo.

Prazo, segundo a polícia, é o termo utilizado quando um


indivíduo não paga dívidas referentes a drogas e a facção criminosa conhecida como
PCC dá um ultimato para que seja quitada, sob pena de tomada de medidas extremas
contra o devedor (fls. 282/283 dos autos em apenso).

Em 29 de abril, Vinícius de Abreu conversa com Vinícius


Machado a respeito de droga, preço e quantidade a ser adquirida e se encontram para
que Vinícius de Abreu apresente uma amostra (fls. 292/293 dos autos em apenso).

Em 01 de maio, em conversa telefônica, Magrelo diz a


Jayme que o Maluco apareceu com uma parecida com a última que ele pegou e que
sobrarão 23 (vinte e três) quilos ao preço de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais).

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São Paulo

Jayme, no entanto, diz que o preço precisa ser de R$ 1.000,00 (um mil reais), para
poder repassar a R$ 1.400,00 (um mil e quatrocentos reais).

Passados alguns minutos, Magrelo retorna a ligação e diz


que o traficante insistiu no preço de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) e Jayme diz
que, por este preço, ele não quer (fl. 153 dos autos em apenso).

Com isso, verifica-se que, após a compra intermediada


por Carolina ter sido frustrada, Jayme e Vinícius de Abreu procuram pequenos
fornecedores para abastecer seu ponto de tráfico de drogas.

Em 04 de maio, Vinícius de Abreu avisa Jayme que vai


viajar para o lugar onde o Bahia pegava aquele bagulho, porque tem um corre.
Indagado por Jayme se compensa ir até lá, Vinícius de Abreu diz que sim, porque não
chega nada. Vinícius de Abreu diz que vai de carro e que volta suave, ou seja, sem
drogas no veículo.

Nas horas seguintes, Vinícius de Abreu e Vinícius


Machado conversam várias vezes acerca do caminho a ser percorrido, inclusive com
referência à pesquisa no Google.

Às 23h36min, Vinícius de Abreu passa na casa de


Vinícius Machado para que ambos iniciem a viagem rumo a Foz do Iguaçu/PR (fls.
293/294 dos autos em apenso).

No período da viagem de Vinícius de Abreu, a


testemunha Paulo Álvaro Ribeiro diz que fez diligência na rodoviária para surpreender
Rodrigo que havia ido buscar droga em São Paulo a mando de Jayme. No entanto,
como ainda não conheciam sua fisionomia, não lograram êxito.

Em 08 de maio, Vinícius de Abreu avisa Jayme que está


de volta e que a droga chegará um dia depois do seu aniversário (fl. 294 dos autos em
apenso).

Eles mostram receio para falar a data específica por


telefone, temendo justamente interceptação telefônica.

No mesmo dia, Jayme recebe mensagem de Vinícius de


Abreu, que avisa que pegou 24 (vinte e quatro) quilos de maconha em São Paulo (fl.
285 dos autos em apenso).

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PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

No dia 13 de maio, Jayme fala com um indivíduo de


alcunha Surfista, que, levando dinheiro, tinha ido para São Paulo buscar droga e que
tinha arrumado um bonde para ficar na contenção.

Segundo a testemunha Marcos Pina, bonde é uma


espécie de segurança armada que acompanha o transporte da droga e que Surfista
estava utilizando o veículo Corsa, que havia sido emprestado por Vinícius de Abreu.

Uma hora depois, Surfista diz para Jayme que está


parado e, até aquele momento, nada do fornecedor, ao que Jayme responde que
mandará uma mensagem para que a entrega seja agilizada (fls. 285/286 dos autos em
apenso).

Surfista levou a quantia de R$ 24.000,00 (vinte e quatro


mil reais) para o respectivo pagamento. Entretanto, fez o pagamento, mas não
conseguiu trazer a droga.

A respeito da droga que chegaria do Paraguai, também


em 13 de maio, David conversa com Jayme e diz que já arrumou a responsa do
barraco e que vai pagar R$ 300,00 (trezentos reais) de aluguel. Jayme concorda e
recomenda que não seja frequentada por muitas pessoas.

Na mesma ligação, Jayme dá instruções a respeito de


David distribuir duas que sobraram e, ainda, sobre um indivíduo que vai querer da
claro, que, segundo a polícia, é cocaína. Jayme também recomenda que David
coloque a droga na balança para ver quanto tem (fl. 306 dos autos em apenso).

Duas horas depois, David conversa com Ezido,


administrador da casa no Morro da Nova Cintra, que pergunta sobre seu interesse na
locação e se trabalha na farmácia. David confirma as indagações (fl. 306 dos autos em
apenso).

Durante a fase inquisitorial, Ezido prestou depoimento e


apresentou os documentos que David havia lhe fornecido para a celebração do
contrato de locação (fls. 71/74).

Em juízo, corroborando as informações dadas à


autoridade policial, disse que administra o imóvel localizado na Praça Guadalajara no

17
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São Paulo

Morro da Nova Cintra, que pertence a sua genitora, e que, por ser deficiente visual, os
documentos do interessado na locação são conferidos por seu irmão.

Confirmou que foi procurado por David, o qual estava


interessado na locação do imóvel, já que queria sair da casa dos pais.

Declarou que David exigiu urgência na ocupação da


casa, porque já havia avisado sua mãe que iria morar sozinho. Por essa razão, relatou
que entregou as chaves sem a assinatura do contrato, até porque faltava o
comprovante de renda de David, o qual disse que trabalhava em uma farmácia. Não
obstante, relatou que recebeu R$ 500,00 (quinhentos reais) de sinal.

Relatou que teve conhecimento da ação policial ao


chegar ao imóvel por volta das 14h30min, momento em que soube que duas pessoas
haviam sido presas e que grande quantidade de drogas havia sido apreendida em seu
interior.

Em 15 de maio, Jayme e Vinícius de Abreu conversam


sobre a droga de Presuntinho que Surfista tinha ido buscar. Vinícius de Abreu diz que
conversou com ele e que só deu uma arrastada na garagem. Jayme, então, orienta
que eles devem se programar para ir novamente buscá-la (fl. 286 dos autos em
apenso).

A testemunha Marcos Pina, policial civil responsável pela


interceptação telefônica, confirma em juízo que Surfista não trouxe as drogas que
haviam sido adquiridas em São Paulo.

No dia seguinte, em 16 de maio, David avisa Jayme que


as drogas vindas do Paraguai, mais de 100 (cem) quilos de maconha, chegaram, mas
que ainda não haviam sido levadas para o local (fl. 307 dos autos em apenso).

Em outra ligação, em 17 de maio, indivíduo utiliza o


telefone de Vinícius de Abreu para falar com outro também não identificado e diz que
chegou a caminhada do verde. Terceiro de alcunha Baiano pergunta o valor e se é do
Jayme, ao que pessoa que utiliza o telefone de Vinícius de Abreu responde que não
(fl. 296 dos autos em apenso).

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PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Neste momento, resta provado que Vinícius de Abreu e


Vinícius Machado trouxeram maconha do Paraguai para ser vendida paralelamente
àquela adquirida por Jayme.

Já em 18 de maio, Vinícius de Abreu diz para Vinícius


Machado que está vendo aquela responsa. Vinícius Machado, então, pergunta quando
irão ao banco, ao que Vinícius de Abreu responde mais tarde.

Por este diálogo, percebe-se que Vinícius Machado


estava preocupado com o pagamento do fornecedor de drogas do Paraguai, em
virtude de o contato ser seu. O investigador Marcos Antonio Pina, em seu depoimento,
relata ter notado, durante a interceptação, preocupação por parte de Vinícius
Machado.

No mesmo dia, Vinícius de Abreu explica para Jayme a


dificuldade de levar a droga, que está suja de graxa, para a casa alugada. Diz, ainda,
que o veículo está com problema mecânico. Em seguida, conversam sobre os valores
que devem ser pagos pela droga (fls. 297/298 dos autos em apenso).

No dia seguinte, David conversa com Jayme, o qual


pergunta se as drogas já foram guardadas, ao que David responde que não. Jayme
diz que é para cortar, separar e contar para saber o total.

Passado o telefone para Rodrigo, Jayme pergunta sobre


a qualidade da maconha. Rodrigo responde que está maneira, mais ou menos igual às
que foram adquiridas de Presuntinho.

Jayme ordena que a maconha suba na hora do almoço e


que, com a balança, seja tudo conferido, embalando umas de 05 (cinco), de 10 (dez) e
de 01 (um).

Às 11h36min, David avisa Vinícius de Abreu que meio dia


e meio estará ligando para ele, pois Rodrigo estará pegando táxi para subir, referindo-
se à maconha que seria levada para a casa do morro da Nova Cintra.

Às 13h07min, Vinícius de Abreu diz a David que vai para


a casa daqui a pouco e pede que Rodrigo fique lá aguardando.

Já às 16h18min, David conversa com Vinícius Machado,


que pergunta sobre Vinícius de Abreu. David responde que ele está lá em cima,

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PODER JUDICIÁRIO
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referindo-se à casa do morro, e que saiu de lá por volta das 14h00min, deixando
Vinícius de Abreu e Rodrigo lá (fl. 308 dos autos em apenso).

Vinícius Machado diz que o telefone celular de Vinícius


de Abreu não atende.

Vinícius de Abreu não atendia o telefonema de Vinícius


Machado, porque já havia sido preso em flagrante pela polícia, que encontrou parte
das drogas na casa alugada e outra parte no veículo utilizado pelo primeiro.

Policiais civis fizeram campana na casa alugada para


aguardar a chegada dos traficantes.

A testemunha Paulo Álvaro Ribeiro disse que viu a


chegada de David que estava motocicleta. Em seguida, Rodrigo chegou de taxi,
portando uma mochila. No entanto, disse que, a pedido do investigador Marcos Pina,
aguardou junto com outros policiais a chegada de Vinícius de Abreu.

David deixou a casa, nela permanecendo apenas


Rodrigo. Em seguida, afirmou que Vinícius de Abreu chegou e ingressou no imóvel.

Neste momento, relatou que cercaram a casa e


esperaram a saída de algum dos indivíduos. Quando Rodrigo saiu, foi abordado. Com
isto, invadiram o imóvel e surpreenderam Vinícius de Abreu limpando a droga.

Além dos tijolos de maconha, havia balança. Disse que,


em poder de Vinícius de Abreu, foi encontrada a chave do veículo Corsa que estava
estacionado a duas quadras da casa dele.

No veículo, foi encontrado o restante da droga, que


totalizava 127.440g (cento e vinte e sete mil e quatrocentos e quarenta e quatro
gramas) de maconha, o aparelho de telefonia celular interceptado pertencente a
Vinicius de Abreu, e o recibo de hotel em Foz do Iguaçu/PR em nome de Vinícius
Machado (fl. 35).

A testemunha Paulo Álvaro Ribeiro relatou, ainda que a


autoridade policial contatou o hotel, o qual confirmou a presença de Vinícius de Abreu
e Vinícius Machado e pagamento das diárias por este último.

20
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Na residência de Vinícius de Abreu, foi encontrada


munição. A testemunha Paulo Álvaro, em seu depoimento, confirma a diligência e a
apreensão da munição.

O laudo elaborado pelo Instituto de Criminalística prova a


materialidade do crime previsto no art. 12, caput, da Lei 10.826/03 (fl. 84).

Assim, pelo que restou provado, os réus Jayme


Gonçalves Neto, Vinícius de Abreu Requeijo Alonso, Rodrigo Werneck Badaro, David
Cerqueira Freitas e Carolina Gonçalves Varzea se associaram, de forma permanente
e estável, com o fim de praticar o tráfico de drogas.

Jayme era o chefe da associação e, de dentro da prisão,


continuou a comandar o tráfico de drogas por meio de ordens dadas aos demais
integrantes.

Vinícius de Abreu era o coordenador das ações de


Jayme, uma espécie de gerente do tráfico.

Embora sua identificação tenha ocorrido apenas com sua


prisão, já que antes era chamado apenas de Magrelo, evidente se tratar da mesma
pessoa, uma vez que a própria Carolina disse conhecer Vinícius Magrelo.

Ademais, o telefone interceptado de Magrelo foi


encontrado no interior do veículo Corsa, cuja chave estava em poder de Vinícius de
Abreu.

Não se pode olvidar, ainda, que Vinícius de Abreu foi


preso em flagrante na casa onde estavam as drogas, após Magrelo, por telefone,
combinar encontro com David na mesma casa, na hora do almoço.

Carolina, prima de Jayme, também seguia instruções,


principalmente no que tange ao recebimento e entrega de dinheiro.

Não obstante, também intermediou uma aquisição de


drogas de indivíduo a quem chamava apenas de Amigo, a qual, embora frustrada,
indica nitidamente a associação criminosa.

David era responsável pela guarda da droga e locou o


imóvel onde parte da quantidade importada do Paraguai foi apreendida.

21
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Além disso, na ausência de Vinícius de Abreu enquanto


em viagem ao Paraguai, passou a exercer sua função deste por meio de contato direto
com Jayme.

Rodrigo, por sua vez, também na ausência de Vinícius de


Abreu, teve contato direto com Jayme e, inclusive, por ordem deste, foi para São
Paulo buscar crack.

Outrossim, tinha a função de experimentar drogas para


saber a respectiva qualidade, conforme se observa do diálogo mantido com Jayme.

No entanto, no que tange a Vinícius Machado, não há


prova de seu envolvimento na associação para o tráfico liderada por Jayme.

Com efeito, sua participação surgiu apenas quando


Jayme, por intermédio de Vinícius de Abreu, passou a procurar outros fornecedores de
drogas.

Como Vinícius Machado tinha contato no Paraguai,


rumou para lá juntamente com Vinícius de Abreu para adquirir quantidade bastante de
maconha.

Assim, a despeito de seu inequívoco envolvimento no


tráfico das drogas importadas do Paraguai e apreendidas pela polícia, não foi
demonstrado que fazia parte da associação criminosa.

Ao que parece, participou apenas desta compra, da qual,


inclusive, tirou grande proveito, com a aquisição de quantidade maior da que querida
por Jayme, para que ele e Vinícius de Abreu vendessem o excedente paralelamente.

Logo, Vinícius Machado deve ser absolvido da imputação


de associação para o tráfico.

Não obstante, no tocante à imputação de tráfico de


drogas, está provado que Jayme Gonçalves Neto, Vinícius de Abreu Requeijo Alonso,
Rodrigo Werneck Badaro, David Cerqueira Freitas e Vinícius Machado Pinheiro
praticaram o crime de tráfico de drogas importadas do Paraguai.

A mando de Jayme, Vinícius de Abreu procurou


fornecedores até chegar a Vinícius Machado, que tinha contato no Paraguai. Acertada

22
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

a compra, a droga chegou à Baixada Santista, sendo, parte dela, guardada no imóvel
locado por David.

Malgrado a ausência física de Jayme quando da


apreensão, as drogas foram encomendadas por ele, de maneira que agiu em concurso
com os demais agentes, que guardavam o entorpecente na casa alugada.

No momento da apreensão, Rodrigo estava no imóvel e


Vinícius de Abreu havia acabado de chegar.

Considerado o encontro de balança e de materiais


usados para fazer a embalagem de drogas, tudo indica que começariam a ser
preparadas para venda.

O restante da substância ilícita foi encontrado no veículo


Corsa que estava sendo monitorado pela polícia e cuja chave estava na posse de
Vinícius de Abreu.

Ressalto, uma vez mais, que, ainda que o celular


interceptado não tenha sido encontrado em poder de Vinícius de Abreu, a chave do
veículo Corsa estava em seu poder e o veículo estava estacionado próximo à sua
casa, de maneira que está irremediavelmente ligado às drogas importadas.

Ademais, lembre-se que o aparelho de telefonia celular


interceptado foi encontrado no interior do veículo, cuja chave, repita-se, estava com
Vinícius de Abreu.

No entanto, no tráfico das drogas advindas do Paraguai,


não restou demonstrada a participação da ré Carolina.

Embora provado seu envolvimento na associação, em


nenhum momento foi indicado que teve contato com as drogas apreendidas.

Não se olvida que Carolina desligou o aparelho Nextel


que estava interceptado. Talvez por isso, sua participação no tráfico de drogas não
tenha restado provada.

De qualquer maneira, não havendo vinculação às drogas


importadas, deve ser absolvida do crime de tráfico.

23
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Logo, provados parcialmente os crimes imputados,


passo doravante à dosimetria das penas, que será dividida por cada réu.

No que tange a Jayme Gonçalves Neto e ao crime


previsto no art. 35, caput, da Lei 11.343/06, na primeira fase do critério trifásico,
considerando a circunstância de que era o líder da associação criminosa e que, de
dentro da prisão, continuou a comandar o tráfico de drogas, fixo a pena acima do
mínimo legal em 03 (três) anos e 06 (seis) meses de reclusão e pagamento de 810
(oitocentos e dez) dias multa.

Na segunda fase, por força de sua reincidência (fl. 269),


aumento a pena de 1/6 (um sexto) resultando em 04 (quatro) anos e 01 (um) mês de
reclusão e pagamento de 940 (novecentos e quarenta) dias multa.

Não havendo causas de aumento e de diminuição de


pena a serem consideradas, torno a pena definitiva em 04 (quatro) anos e 01 (um)
mês de reclusão e pagamento de 940 (novecentos e quarenta) dias multa.

Já na primeira fase do critério trifásico do crime de tráfico


de drogas, tendo em vista a grande quantidade de droga apreendida, fixo a pena
acima do mínimo legal em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e
pagamento de 580 (quinhentos e oitenta) dias multa.

Na segunda fase da dosimetria da pena, considerada a


reincidência (fl. 269), aumento a pena de 1/6 (um sexto) resultando em 06 (seis) anos,
09 (nove) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e pagamento de 670 (seiscentos e
setenta) dias multa.

Não havendo causas de aumento e de diminuição de


pena a serem consideradas, torno a pena definitiva em 06 (seis) anos, 09 (nove)
meses e 20 (vinte) dias de reclusão e pagamento de 670 (seiscentos e setenta)
dias multa.

Em relação ao réu VINÍCIUS DE ABREU REQUEIJO


ALONSO e ao crime de associação para o tráfico, não havendo circunstâncias
judiciais desfavoráveis, fixo a pena no mínimo legal em 03 (três) anos de reclusão e
pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

24
PODER JUDICIÁRIO
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Não havendo agravantes e atenuantes nem causas de


aumento e diminuição de pena, torno a pena definitiva em 03 (três) anos de reclusão
e pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Já no que diz respeito do crime de tráfico de drogas,


tendo em vista a grande quantidade de droga apreendida, fixo a pena acima do
mínimo legal em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de
580 (quinhentos e oitenta) dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes, mantenho a pena


em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de 580
(quinhentos e oitenta) dias multa.

Na terceira fase do critério trifásico, embora o réu seja


tecnicamente primário, não se pode aplicar a causa de diminuição de pena prevista no
art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06, haja vista que restou reconhecida a associação
criminosa formada com os demais réus.

O escopo do legislador ao prever aludida causa de


diminuição foi não penalizar de maneira exagerada o pequeno traficante, entendido
como aquele que está iniciando na traficância, o qual, portanto, tem maiores chances
de ressocialização.

Isto porque a Lei 11.343/06 enrijeceu o tratamento dado


ao traficante, de maneira que a pena do tráfico poderia se tornar injusta se aplicada ao
traficante iniciante.

No caso dos autos, não faz o menor sentido diminuir a


pena daquele que é condenado por tráfico de drogas, em enorme quantidade, e
associação para o tráfico.

Assim, diante do não cumprimento do requisito de não


integrar organização criminosa, mantenho a pena em 05 (cinco) anos e 10 (dez)
meses de reclusão e pagamento de 580 (quinhentos e oitenta) dias multa.

No que diz respeito ao crime do art. 12, caput, da Lei


10.826/03, não havendo circunstâncias judiciais desfavoráveis, fixo a pena no mínimo
legal: 01 (um) ano de detenção e pagamento de 10 (dez) dias multa.

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PODER JUDICIÁRIO
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Não havendo agravantes e atenuantes nem causas de


aumento e diminuição de pena, torno a pena definitiva 01 (um) ano de detenção e
pagamento de 10 (dez) dias multa.

Quanto ao réu RODRIGO WERNECK BADARO e ao


crime de associação para o tráfico, não havendo circunstâncias judiciais
desfavoráveis, fixo a pena no mínimo legal em 03 (três) anos de reclusão e
pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes mantenho a pena


em 03 (três) anos de reclusão e pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Na terceira fase, de acordo com o laudo produzido no


incidente de dependência químico-toxicológica, foi constatada a semi-imputabilidade
do réu, o qual, ao mesmo tempo em que tinha a capacidade de determinação
diminuída, era plenamente capaz de entender o caráter ilícito do comportamento.

A diminuição no máximo apenas seria pertinente se a


capacidade de entendimento a respeito da ilicitude do comportamento estivesse
comprometida. Como não estava, diminuo a pena de 1/3 (um terço), resultando em 02
(dois) anos de reclusão e pagamento de 460 (quatrocentos e sessenta dias
multa).

Já no que diz respeito do crime de tráfico de drogas,


tendo em vista a grande quantidade de droga apreendida, fixo a pena acima do
mínimo legal em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de
580 (quinhentos e oitenta) dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes, mantenho a pena


em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de 580
(quinhentos e oitenta) dias multa.

Na terceira fase do critério trifásico, mais uma vez


considerada a semi-imputabilidade, diminuo a pena de 1/3 (um terço) resultando em
03 (três) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e pagamento de 380
(trezentos e oitenta) dias multa.

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PODER JUDICIÁRIO
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No entanto, da mesma forma do réu Vinícius de Abreu,


embora o réu Rodrigo seja tecnicamente primário, não se pode aplicar a causa de
diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06, haja vista que restou
reconhecida a associação criminosa formada com os demais réus.

Assim, diante do não cumprimento do requisito de não


integrar organização criminosa, mantenho a pena em 03 (três) anos, 10 (dez) meses
e 20 (vinte) dias de reclusão e pagamento de 380 (trezentos e oitenta) dias multa.

No tocante ao réu DAVID CERQUEIRA FREITAS e ao


crime de associação para o tráfico, não havendo circunstâncias judiciais
desfavoráveis, fixo a pena no mínimo legal em 03 (três) anos de reclusão e
pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes nem causas de


aumento e diminuição de pena, torno a pena definitiva em 03 (três) anos de reclusão
e pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Já pelo crime de tráfico de drogas, por força da grande


quantidade de droga apreendida, fixo a pena acima do mínimo legal em 05 (cinco)
anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de 580 (quinhentos e oitenta)
dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes, mantenho a pena


em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de 580
(quinhentos e oitenta) dias multa.

Na terceira fase do critério trifásico, da mesma forma dos


demais réus, malgrado o réu David seja tecnicamente primário, não se pode aplicar a
causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06, haja vista que
restou reconhecida a associação criminosa formada com os demais réus.

Destarte, em razão do descumprimento do requisito de


não integrar organização criminosa, mantenho a pena em 05 (cinco) anos e 10 (dez)
meses de reclusão e pagamento de 580 (quinhentos e oitenta) dias multa.

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PODER JUDICIÁRIO
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Ainda na dosimetria, na primeira fase para o crime de


associação para o tráfico praticado pela ré CAROLINA GONÇALVES VARZEA, não
havendo circunstâncias judiciais desfavoráveis, fixo a pena no mínimo legal em 03
(três) anos de reclusão e pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes nem causas de


aumento e diminuição de pena, torno a pena definitiva em 03 (três) anos de reclusão
e pagamento de 700 (setecentos) dias multa.

Por fim, em relação ao réu VINÍCIUS MACHADO


PINHEIRO, na primeira fase da dosimetria da pena, por força da grande quantidade de
droga apreendida, fixo a pena acima do mínimo legal em 05 (cinco) anos e 10 (dez)
meses de reclusão e pagamento de 580 (quinhentos e oitenta) dias multa.

Não havendo agravantes e atenuantes, mantenho a pena


em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão e pagamento de 580
(quinhentos e oitenta) dias multa.

Na terceira fase, de rigor a incidência da causa de


diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/06.

O réu Vinícius Machado é primário, tem bons


antecedentes e não há elemento claro de que integre organização criminosa.

Já o requisito de não se dedicar às atividades criminosas


é despiciendo, pois redundante aos dois primeiros. Neste sentido, a lição do
magistrado bandeirante Guilherme de Souza Nucci:

Estranha é a previsão a respeito de ‘não se dedicar a atividades


criminosas’, pois não diz nada. Na forma do § 4º, para que se possa
aplicar a diminuição de pena, afastou-se a possibilidade de ser
reincidente ou ter maus antecedentes. Portanto, não se compreende
o que significa a previsão de ‘não se dedicar a atividades criminosas’.
Se o sujeito é reincidente ou tem maus antecedentes pode-se supor
que se dedique a atividade criminosa. No mais, sendo primário, com

28
PODER JUDICIÁRIO
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bons antecedentes, não há cabimento em se imaginar a dedicação a


1
tal tipo de atividade ilícita.

Desta feita, presentes os requisitos legais, a pena deve


ser reduzida.

Contudo, a redução deve ser no mínimo. O réu Vinícius


Machado tinha contato com fornecedor de drogas no Paraguai, país vizinho, e para lá
rumou junto com Vinícius de Abreu. Da negociação, foram adquiridos mais de 100
(cem) quilos de maconha.

Destarte, a maior gravidade do crime de tráfico de drogas


praticado implica a redução da pena em 1/3 (um terço), resultando em 03 (três) anos
e 04 (quatro) meses de reclusão e pagamento de 333 (trezentos e trinta e três)
dias multa.

Em relação à possibilidade de substituição da pena


privativa de liberdade por restritiva de direito no crime de tráfico de drogas, destaco a
decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, no HC 97259, que declarou a
inconstitucionalidade incidental da expressão vedada a conversão em penas restritivas
de direitos contida no mesmo art. 33, § 4º.

Meu entendimento é no sentido de a vedação ser


constitucional, à medida que o art. 44 do Código Penal é destinado aos envolvidos na
prática de infrações penais de reduzida gravidade, o que obviamente não é o caso do
tráfico de drogas.

Considerando o tratamento mais rígido querido pela


Constituição Federal, nos termos do seu art. 5º, inciso XLIII, entendo que a lei poderia
perfeitamente vedar a conversão.

Todavia, em virtude da referida decisão ter sido proferida


pelo Plenário da Suprema Corte, não obstante não ser vinculante, em nome da
segurança jurídica, curvo-me ao por ela decidido e passo a apreciar a possibilidade de
aplicação do citado dispositivo.

1
Leis Processuais Penais e Processuais Penais Comentadas. 5ª ed. São Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2010, pág. 372.

29
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

No caso dos autos, dada a gravidade em concreto do


crime, afasto a incidência do art. 44 do Código Penal, pelo descumprimento do inciso
III.

Para todos os réus, incidente a Lei 8.072/90, o regime


inicial de cumprimento da pena será o fechado, nos termos de seu art. 2º, § 1º.

O valor de cada dia multa será no mínimo legal de 1/30


do salário mínimo vigente ao tempo dos fatos, em razão de suas condições
econômicas informadas quando do interrogatório judicial (art. 43 da Lei 11.343/06).

Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE


a pretensão punitiva movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo para:

(1) condenar:

(a) JAYME GONÇALVES NETO, qualificado nos


autos, à pena de 06 (seis) anos, 09 (nove) meses e 20 (vinte) dias de reclusão,
para início de cumprimento no regime fechado, e pagamento de 670 (seiscentos
e setenta) dias multa, calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art.
33, caput, da Lei 11.343/06, e à pena de 04 (quatro) anos e 01 (um) mês de
reclusão, para início de cumprimento no regime fechado, e pagamento de 940
(novecentos e quarenta) dias multa, calculados no mínimo legal, como incurso
nas penas do art. 35, caput, da Lei 11.343/06;

(b) VINÍCIUS DE ABREU REQUEIJO ALONSO,


qualificado nos autos, à pena de 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão,
para início de cumprimento no regime fechado, e pagamento de 580 (quinhentos
e oitenta) dias multa, calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art.
33, caput, da Lei 11.343/06, à pena de 03 (três) anos de reclusão, para início de
cumprimento no regime fechado, e pagamento de 700 (setecentos) dias multa,
calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art. 35, caput, da Lei
11.343/06, e à pena de 01 (um) ano de detenção, para início de cumprimento no
regime aberto, e pagamento de 10 (dez) dias multa, calculados no mínimo legal,
como incurso nas penas do art. 12, caput, da Lei 10.826/03;

30
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

(c) RODRIGO WERNECK BADARO, qualificado nos


autos, à pena de 03 (três) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, para
início de cumprimento no regime fechado, e pagamento de 380 (trezentos e
oitenta) dias multa, calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art. 33,
caput, da Lei 11.343/06, e à pena de 02 (dois) anos de reclusão, para início de
cumprimento no regime fechado, e pagamento de 460 (quatrocentos e sessenta
dias multa), calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art. 35, caput,
da Lei 11.343/06;

(d) DAVID CERQUEIRA FREITAS, qualificado nos


autos, à pena de 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão, para início de
cumprimento no regime fechado, e pagamento de 580 (quinhentos e oitenta) dias
multa, calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art. 33, caput, da Lei
11.343/06, e à pena de 03 (três) anos de reclusão, para início de cumprimento no
regime fechado, e pagamento de 700 (setecentos) dias multa, calculados no
mínimo legal, como incurso nas penas do art. 35, caput, da Lei 11.343/06;

(e) CAROLINA GONÇALVES VARZEA, qualificada


nos autos, à pena de 03 (três) anos de reclusão, para início de cumprimento no
regime fechado, e pagamento de 700 (setecentos) dias multa, calculados no
mínimo legal, como incursa nas penas do art. 35, caput, da Lei 11.343/06;

(f) VINÍCIUS MACHADO PINHEIRO, qualificado nos


autos, à pena de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, para início de
cumprimento no regime fechado, e pagamento de 333 (trezentos e trinta e três)
dias multa, calculados no mínimo legal, como incurso nas penas do art. 33, § 4º, da
Lei 11.343/06.

(2) absolver:

(a) CAROLINA GONÇALVES VARZEA, qualificada


nos autos, da prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei 11.343/06, nos termos
do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.

(b) VINÍCIUS MACHADO PINHEIRO, qualificado nos


autos, da prática do crime previsto no art. 35, caput, da Lei 11.343/06, nos termos do
art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.

31
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Os acusados presos em flagrante não poderão interpor


recurso de apelação em liberdade, porque permaneceram presos durante toda a
persecução penal, em prol da garantia da ordem pública, e em razão da condenação e
do regime prisional agora definido.

Os demais poderão ofertar recurso em liberdade.

Com o trânsito em julgado, destruam-se as drogas


apreendidas e lancem-se o nome dos réus no rol dos culpados.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Santos, 05 de novembro de 2011.

Lívia Maria de Oliveira Costa

Juíza Substituta

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