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Resumo
Objetivo. Avaliar a relação entre a dieta mediterrânea e a prevenção dos sintomas depressivos. Métodos. Foi realizada
uma revisão Integrativa de artigos publicados nos últimos 10 anos nas bases de dados PubMed, Scielo, BMC Nutrition
e MDPI, utilizando os descritores “mediterranean diet and depression”. Resultados. Foram selecionados nove artigos,
dos quais oito relacionaram a dieta mediterrânea com a prevenção de sintomas depressivos, enquanto um não apresentou
essa associação. Conclusão. A dieta mediterrânea proporciona ácidos graxo poliinsaturados (ômega 3), vitaminas do
complexo B, vitamina D, C e E, zinco, magnésio e aminoácidos essenciais, além de contribuir com a ação anti-
inflamatória no organismo, sendo esses componentes importantes a saúde mental. No entanto, são necessários outros
estudos observacionais para confirmar os achados desta revisão.
Palavras-chave: Dieta mediterrânea; Depressão; Anti-oxidantes; Nutrientes.
Abstract
Objective. To assess the relationship between the Mediterranean diet and the prevention of depressive symptoms.
Methods. A integrative review was conducted, assessing articles published in the last 10 years, using PubMed, Scielo,
BMC Nutrition and MDPI databases. The keywords used in this study were “mediterranean diet and depression”.
Results. Nine articles were selected, eight of them established a relation between the Mediterranean diet and the
prevention of depressive symptoms, while one did not demonstrate this association. Conclusion. The Mediterranean
diet provides polyunsaturated fatty acids (omega 3), B-complex vitamins, vitamin D, C and E, zinc, magnesium and
essential amino acids. Furthermore, it contributes to anti-inflammatory action within the body, with these components
playing a significant role in mental health. Nevertheless, further observational studies are required to corroborate the
findings of this review.
Keywords: Mediterranean diet; Depression; Antioxidants; Nutrients.
Resumen
Objetivo. Evaluar la relación entre la dieta mediterránea y la prevención de síntomas depresivos. Métodos. Revisión
integradora de artículos publicados en los últimos 10 años en las bases de datos PubMed, Scielo, BMC Nutrition y
MDPI, utilizando el descriptor “dieta mediterránea y depresión”. Resultados. Se seleccionaron nueve artículos, de los
cuales ocho relacionaban la dieta mediterránea con la prevención de síntomas depresivos, mientras que uno de ellos no
presentó esta asociación. Conclusión. La dieta mediterránea proporciona ácidos grasos poliinsaturados (omega 3),
vitaminas del complejo B, vitamina D, C y E, zinc, magnesio y aminoácidos esenciales, además de contribuir a la acción
antiinflamatoria en el organismo, siendo estos componentes importantes a la salud mental. Sin embargo, se necesitan
más estudios observacionales para confirmar los hallazgos de esta revisión.
Palabras clave: Dieta mediterránea; Depresión; Antioxidantes; Nutrientes.
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1. Introdução
A depressão, também conhecida como transtorno depressivo, é uma doença mental que afeta os aspectos psicológico,
físico e social do indivíduo (Sezini e Gil, 2014). Sua origem é multifatorial, podendo acometer pessoas de todas as idades e seus
principais sintomas incluem humor depressivo, sensação de tristeza, autodesvalorização, culpa, falta de energia, distúrbios do
sono, mal-estar, fadiga e indisposição, além disso, em certos casos, pode levar a alterações no apetite, resultando em perda ou
ganho de peso significativo (Guimarães e col., 2022).
Um relatório emitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2017, que tratou da depressão e outros transtornos
mentais comuns, revelou que as ocorrências de depressão aumentaram em 18% entre 2005 e 2015. No contexto do Brasil,
aproximadamente 11,55 milhões de pessoas foram afetadas por essa doença, apresentando um incremento de 15,5% nos últimos
anos (Gonçalves e col., 2018; World Health Organization, 2017). Durante o período da pandemia da Covid-19, um estudo
transversal constatou que 40,4% dos brasileiros se sentiram constantemente tristes ou deprimidos, sugerindo um aumento notável
na incidência do transtorno (Barros e col., 2020).
O distúrbio depressivo tem causa multifatorial, incluindo desequilíbrio bioquímico cerebral associado a
neurotransmissores, fatores genéticos - que contribuem com 40% da suscetibilidade ao desenvolvimento da depressão - e
influ6encia de eventos cotidianos, como o estresse e situações sociais, que podem desencadear a depressão em indivíduos
geneticamente predispostos (World Health Organization, 2017). Entre as explicações para o desenvolvimento da depressão,
surge a hipótese sobre a baixa concentração de neurotransmissores da classe das monoaminas, como serotonina, dopamina e
noradrenalina, uma vez que estas substâncias desempenham papéis cruciais na regulação do prazer, humor, sono, apetite e ritmo
cardíaco (Santos, 2021; Irons, 2018).
Uma alimentação inadequada pode ocasionar uma redução dos níveis desses neurotransmissores, contribuindo assim
para o desenvolvimento ou agravamento dos sintomas depressivos (Santos, 2021). Além disso, estudos indicam que a deficiência
de vitaminas do complexo B, vitamina D, magnésio, zinco, aminoácidos e ácidos graxos essenciais é constantemente observada
em indivíduos com depressão (Senra, 2017). Pesquisas observacionais mostraram que padrões dietéticos saudáveis estão
associados a um menor risco de depressão, destacando a dieta como um fator modificador para os distúrbios depressivos (Kris-
Etherton e col., 2020).
A dieta do Mediterrâneo, rica em alimentos de origem vegetal e nutrientes essenciais para a saúde mental como vitamina
D, vitaminas do complexo B, zinco, magnésio, aminoácidos essenciais e ácidos grados essenciais (ômega-3), parece estar
associada a menor incidência de depressão (Hernández-Galiot & Goñi, 2017; Leite, 2018). Estudos de coorte de base
populacional demonstram uma redução na ocorrência de depressão, incluindo casos mais graves entre aqueles que adotam a dieta
mediterrânea (Yin e col., 2021; Leite, 2018).
Com base no exposto, este trabalho avaliou a relação entre dieta mediterrânea e a prevenção dos sintomas depressivos.
2. Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cuja pergunta norteadora foi “Como a dieta mediterrânea contribui
para a prevenção da depressão?” (Souza, Silva & Carvalho, 2010). Para atingir os objetivos deste estudo, foi pesquisado entre
agosto de 2022 e setembro de 2022 nas bases de dados do PubMed, Scielo, BMC Nutrition e MDPI Open Access Journals,
utilizando os descritores “mediterranean diet and depression”. A seleção de trabalhos ficou restrita à língua inglesa e limitada
aos artigos publicados entre 2012 e 2022. Foram priorizados artigos que envolviam ensaios clínicos e testes controlados e
aleatórios em seres humanos. Além disso, estudos referenciados nos artigos encontrados também foram incluídos na análise.
Como critério de exclusão, foram utilizados dois parâmetros, onde um consistia na análise de títulos repetidos e outra uma
avaliação minuciosa em resumos e textos completos para verificar se atendiam aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos.
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Deste modo, os artigos passaram por duas avaliações, na qual dois avaliadores decidiram sobre a inclusão com base nos critérios
de elegibilidade, sendo identificado na base de dados 75 trabalhos e após a análise resultou em 24 artigos restante.
3. Resultados
Foram encontrados nas bases de dados, conforme relatado anteriormente, 75 artigos e foram incluídos 22 estudos
provenientes de referências de outros artigos, totalizando 97 trabalhos analisados. A seleção e exclusão foram determinadas com
base na pergunta norteadora, excluindo 73 artigos que não falavam sobre dieta mediterrânea e sua relação com a depressão ou
que relataram outras patologias. Além disso, foram recusados artigos duplicados (5 artigos) ou que se encontravam incompletos
(1 artigo). Após o processo de seleção e exclusão, foram selecionados 9 artigos para compor esta revisão, conforme descrito no
fluxograma da Figura 1.
O Quadro 1 apresenta os nove artigos selecionados, com seus respectivos delineamentos, amostra, objetivos e principais
achados.
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Skarupski e col. Estudo longitudinal n= 3502 Examinar a adesão de um padrão O grupo de maior adesão à dieta teve níveis O maior consumo de grupos de alimentos característicos de
(2013) (Idosos) alimentar de base mediterrânea e a sua significativamente menores de sintomas depressivos. uma dieta mediterrânea foi associado à menor probabilidade
preditiva de sintomas depressivos entre Além disso, a sua adesão foi encontrada mais elevada de sintomas depressivos, podendo proteger contra o
idosos. na população branca do que na negra. desenvolvimento de sintomas depressivos em idades mais
N2
avançadas.
Rienks, Dobson & Estudo de coorte prospectivo n= Investigar a associação entre padrões O maior consumo da dieta mediterrânea teve O consumo de um padrão alimentar “estilo mediterrâneo”
Mishra (2013) 6.060 alimentares, obtidos por análise fatorial associação transversal com menor prevalência de por mulheres de meia idade pode ter uma influência
(Adultos) de dados de um questionário de sintomas depressivos em 2001 e longitudinalmente protetora contra o aparecimento de sintomas depressivos.
frequência alimentar (QFA) e a incidência com menor incidência de sintomas depressivos em Esses achados sugerem que os padrões alimentares têm um
de sintomas depressivos autorreferidos 2004. Nenhuma das associações encontradas para papel potencial na prevenção e no manejo dos sintomas
N2
após 3 anos. outros padrões alimentares permaneceu depressivos.
estatisticamente significativa após o ajuste para fatores
de confusão.
Tehrani e col. Estudo transversal n= 263 Determinar a associação entre adesão ao Indivíduos no quintil mais alto tiveram uma A adesão ao MDP está associada à redução da presença de
(2018) Sexo feminino (Adolescentes) MDP (Padrão alimentar mediterrâneo) e prevalência de depressão 59% menor em comparação sintomas depressivos em adolescentes do sexo feminino.
depressão, ansiedade e estresse entre com aqueles no quintil mais baixo de MSDPS
adolescentes do sexo feminino com (Pontuação de padrão alimentar estilo Mediterrâneo).
N3
16,20±0,97 anos em Teerã, Irã. No entanto, o MSDPS não foi significativamente
associado à presença de ansiedade e estresse.
Parletta e col. Estudo controlado randomizado n= Investigamos se uma dieta de estilo O grupo MedDiet teve maior redução na depressão e O estudo mostrou que o escore médio de depressão do grupo
(2019) 95 completaram 3 meses e n= 85 mediterrâneo (MedDiet) suplementada melhorou os escores de qualidade de vida da saúde MedDiet caiu abaixo do limite de depressão extremamente
completaram avaliações de 6 meses com óleo de peixe pode melhorar a saúde mental em 3 meses. A depressão reduzida foi grave, enquanto no grupo social permaneceu na faixa
(Adultos) mental em adultos que sofrem de correlacionada com um aumento da pontuação extremamente grave, porém, mais estudos com amostra
depressão. MedDiet. maiores são necessários.
N1
Elmaliklis e col.. Estudo transversal n= 120 Investigar a possível associação entre Os resultados mostraram que não houve associação O estudo indicou associação estatisticamente significativa
(2020) (Adultos) níveis de ansiedade e depressão e estatisticamente significativa de uma dieta saudável entre o consumo de alguns alimentos funcionais e índices
frequência de consumo de alimentos baseada em padrões alimentares mediterrâneos com antropométricos e entre índice de massa corporal e
funcionais, adoção de dieta mediterrânea níveis de ansiedade e depressão. depressão em uma amostra de adultos gregos,
e índices antropométricos em uma principalmente em universitários, porém, em relação a dieta
N3 amostra de adultos gregos, principalmente mediterrânea e depressão, os resultados mostraram que não
jovens. houve associação estatisticamente significativa.
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Vall Castelló & Estudo longitudinal n= 126.729 Testar se existem correlações entre a A adesão da dieta mediterrânea foi associada a níveis Os principais achados do estudo confirmaram a associação
Tubianosa (2020) (Idosos) adesão à dieta mediterrânea e variações mais baixos de sintomas depressivos e de menor direta entre adesão à dieta mediterrânea e menor incidência
nos resultados de saúde, como a incidência de DCM. No entanto, ser do sexo feminino, de DCM e sintomas depressivos.
incidência de DCM (distúrbios morar sozinha e ter um nível de escolaridade mais
cardiometabólicos) crônicos, os níveis do alta, mostrou uma tendência a maior sintoma
índice de massa corporal (IMC) e os depressivo.
N2 níveis de sintomas depressivos; verificar
se também podem ser observadas
correlações entre um estilo de vida
fisicamente ativo e saudável com os
mesmos desfechos de saúde, com idosos
de 27 países da Europa.
Yin, e col. (2021) Estudo de coorte n = 42.515 Examinar a associação da adesão ao MDP Observaram um menor risco de depressão para média A maior adesão a uma dieta mediterrânea na meia-idade foi
Sexo Feminino com o risco de depressão em uma grande e alta adesão ao MDP, em comparação com baixa associada a um menor risco de depressão mais tarde na vida
(Adultos) coorte populacional na Suécia com adesão. Por unidade de aumento de adesão, o risco de entre as mulheres suecas.
informações detalhadas sobre fatores de depressão foi reduzido em 5%, sendo que a associação
confusão e diagnóstico de depressão tornou-se mais forte ao se restringir à forma grave de
N2 clinicamente determinado. depressão.
Oliván-Blázquez e Estudo descritivo transversal n= Analisar a relação entre a adesão à dieta A gravidade e o diagnóstico de depressão estão Avaliar o tipo de dieta de pacientes com sintomas
col. (2021) 3.062 mediterrânea e a ingestão de alimentos associados a uma ingestão alimentar não saudável e depressivos e promover a adesão a uma alimentação
(Adultos e idosos) específicos em pacientes da atenção pior qualidade da dieta, maior ingestão de doces e saudável é importante, principalmente em pacientes com
primária de 45 a 75 anos, com depressão lanches de fast-food/salgados e menor pontuação na doenças crônicas. No entanto, a depressão é uma questão
subclínica ou maior. dieta mediterrânea. muito complexa e a relação entre nutrição e depressão deve
N3
ser melhor examinada.
Oddo e col. (2022) Estudo descritivo Transversal n= Investigar a relação entre a adesão a dieta O surgimento de sintomas depressivos parece estar A maior adesão a uma dieta mediterrânea foi associada a
11.769 (2007–2012) mediterrânea e os sintomas depressivos associado, mais com o aumento da idade do que com o sintomas depressivos moderados a graves mais baixos em
(Adultos) em uma amostra nacionalmente sobrepeso e/ou obesidade, mostrando que adultos uma amostra representativa de adultos dos EUA. Assim, o
representativa de adultos dos EUA com maiores de 30 anos, ao aderir a dieta, tem uma estudo fornece evidências modestas sugerindo que uma dieta
20 anos ou mais. redução significativa no surgimento de sintomas mediterrânea pode apoiar a prevenção e o tratamento da
N3
depressivos. depressão em adultos. No entanto destaca que necessita de
mais estudos.
Nota: Foi utilizada a hierarquização dos níveis de evidência científica proposta pelo Centre for Evidence-Based Medicine (CEBM) da Universidade de Oxford (Duleaux, Pasleau & Howick, 2012). Fonte:
Autoria própria (2023).
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Dentre os artigos apresentados nesta revisão, 5 possuíam interesse em investigar a relação entre a adesão da dieta
mediterrânea e os sintomas depressivos. Um estudou os efeitos da dieta mediterrânea suplementada com óleo de peixe na
melhoraria da saúde mental de indivíduos com depressão, enquanto outro verificou a relação entre dieta mediterrânea, o consumo
de alimentos específicos e a depressão subclínica ou mais severa. Além disso, um estudo examinou os níveis de depressão em
relação à frequência de alimentos funcionais na dieta mediterrânea e outro observou como o estilo de vida e a adesão à dieta
mediterrânea contribuíram para a redução de sintomas depressivos e da síndrome cardiometabólica em idosos.
4. Discussão
O estudo conduzido por Parletta e col. (2019) mostrou que o grupo que aderiu à dieta estilo mediterrâneo (MedDiet)
apresentou melhorias na pontuação de depressão no questionário DASS (Escala de Autoavaliação de Depressão, Ansiedade e
Estresse) em comparação com o grupo social (sem dieta estilo mediterrâneo). A adesão à dieta mediterrânea também foi
relacionada à menor risco de depressão e ansiedade e à melhor qualidade de vida em geral. No mesmo estudo, o grupo que seguiu
a dieta mediterrânea (MedDiet) foi suplementado com óleo de peixe, uma fonte alimentar rica em ômega-3, embora os
pesquisadores não tenham estabelecido correlação entre esse nutriente e a melhora no transtorno depressivo. Entretanto,
observou-se que o aumento dos níveis de ômega-3 resultou em uma redução dos níveis de ômega-6, e essa proporção reduzida
foi significativamente associada à redução dos sintomas de estresse e ansiedade, bem como à melhora na saúde mental dos
participantes.
Uma possível interpretação para os resultados encontroados por Parletta e col.(2019) é a relação entre citocinas pró-
inflamatórias e a função endotelial. A elevação dessas citocinas pró-inflamatórias pode impactar negativamente a produção de
Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF), uma neurotrofina responsável pela sobrevivência das células neurais. Além
do mais, diversos autores destacam que a deficiência na ingestão de ômega-3, aliada ao aumento do ômega-6, frequentemente
observado em padrões de dietas ocidentais, pode contribuir com o estado pró-inflamatório. Essa dinâmica mostra a relevância
da proporção entre esses ácidos graxos, emergindo como um fator significativo para a saúde mental (Senra, 2017).
Outro achado relevante sobre a relação entre a aderência à dieta e a diminuição dos sintomas depressivos foi observado
no estudo de Oddo e col. (2020). Os pesquisadores identificaram uma associação entre a adesão à dieta mediterrânea e uma
redução substancial de 40% a 45% nos casos de depressão moderada a grave. Essa associação é explicada pelo teor elevado do
ômega-3 e vitaminas com características anti-inflamatório e antioxidante, como as vitaminas C e E. Além disso, o consumo de
fibras, amplamente presente na dieta mediterrânea por meio de vegetais, frutas e grãos integrais, foi associado à melhoria da
microbiota intestinal, favorecendo uma ação anti-inflamatória no organismo e, por conseguinte, impactando positivamente o
humor dos indivíduos.
Tais resultados são semelhantes aos achados de Rienks, Dobson & Mishra (2013) e Tehrani e col. (2018), nos quais
uma adesão elevada à dieta mediterrânea correlacionou-se com menor risco de depressão, tanto em adolescentes iraquianas
quanto em adultos estadunidenses. Acredita-se que, além da propriedade anti-inflamatória da dieta, a presença das vitaminas B9,
B6 e B12, fundamentais para a saúde mental, também contribua para a produção de serotonina.
No estudo de Oliván-Blázquez e col. (2021) foi observado que, além da adesão à dieta mediterrânea, o consumo regular
de nozes, vegetais e azeite, que são fontes alimentares ricas em ômega-3, selênio, magnésio, zinco e fibras, esteve associado a
uma menor prevalência de sintomas depressivos. Além disso, o consumo de vinho tinto, comum na dieta mediterrânea, também
demostrou associação com níveis mais baixos de depressão. Uma possível explicação para esse achado pode ser a alta
concentração de resveratrol encontrada no vinho tinto, que, segundo estudos, têm compostos com propriedades anti-
inflamatórias, neuroprotetoras e anti-oxidantes (Galiniak, Aebisher & Bartusik-Aebisher, 2019).
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Por outro lado, o estudo destaca dois pontos importantes. Primeiramente, há a observação relacionada ao consumo de
bebidas açucaradas, que se mostrou associado a uma maior prevalência de sintomas depressivos. A presença de açúcares pode
ter um impacto negativo sobre as proteínas cerebrais responsáveis por proteger o cérebro contra o estresse oxidativo. O segundo
ponto o consumo do vinho tinto. Embora haja menção dos benefícios, o estudo aponta que a literatura científica sobre o impacto
do vinho tinto na depressão ainda é limitada. Dessa forma, novas pesquisas são necessárias para determinar se o vinho pode e
fato ser considerado um antidepressivo natural (Oliván-Blázquez e col., 2021).
Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Yin e col. (2021), no qual a relação entre adesão à dieta
mediterrânea e o risco de depressão foi analisada. Foi observado que uma adesão mais elevada à dieta mediterrânea se associou
com uma diminuição do risco de depressão, especialmente em casos graves. Contudo, apesar da associação entre a dieta e a
redução da depressão, principalmente em sua forma grave, o estudo também revelou uma pequena associação entre a pontuação
da dieta mediterrânea e a depressão em mulheres mais jovens. Acredita-se que as influências genéticas possam desempenhar um
papel significativo na causa do transtorno.
Apesar de os estudos encontrados anteriormente relacionarem a adesão à dieta com a redução dos sintomas depressivos,
o estudo de Elmaliklis e col. (2020) não apresentou associação relevante com o nível de depressão. Entretanto, o estudo também
observou a ingestão de alimentos funcionais específicos, como goji berrie, cranberrie, berrie, chá de montanha, feijão e alimentos
enriquecidos em β-glucana, que podem contribuir com a diminuição dos níveis de depressão, pois esses alimentos são ricos
nestes nutrientes. Vale ressaltar que há escassez de estudos que explorem a relação entre alimentos funcionais e depressão,
tornando esse achado uma hipótese isolada que requer investigações adicionais (Elmaliklis e col., 2020).
Corroborando com os estudos anteriores, no estudo de Oddo e col. (2020), a adoção da dieta mediterrânea em conjunto
com um estilo de vida saudável revelou-se benéfica tanto na prevenção quanto no tratamento do transtorno depressivo, devido
aos efeitos anti-inflamatórios intrínsecos à este tipo de dieta. Esse resultado também foi encontrado por Vall Castelló &
Tubianosa (2020), cuja pesquisa envolvendo idosos europeus destacou não apenas a redução dos sintomas depressivos nessa
população, mas também a prevenção de doenças cardiometabólica. A combinação da dieta mediterrânea com um estilo de vida
saudável demostrou-se eficaz nesse contexto.
Seguindo a mesma linha com idosos, a pesquisa realizada por Skarupski e col. (2013) apontou que o aumento no
consumo de grãos integrais, vegetais, frutas, azeite, peixe e legumes, juntamente com uma redução na ingestão de carnes e
laticínios ricos em gordura, encontrado no padrão mediterrâneo, está associado à prevenção do transtorno depressivo. No entanto,
o estudo realizado com idosos estadunidenses destaco que fatores como raça, sexo e a escolaridade exercem influência na adesão
à este tipo de dieta. Grupos com maior risco e menor adesão à dieta mediterrânea incluem a população negra, mulheres e pessoas
com menor escolaridade.
Os achados desta revisão indicam que diversos nutrientes essenciais, como vitaminas do complexo B, C e E, além do
ômega-3, são necessários para a função cerebral saudável. Portanto, a modificação da alimentação oferece mais benefícios para
a saúde mental do que ênfase isolada em um determinado nutriente.
5. Conclusão
Nesta revisão, foi possível observar uma associação entre a dieta mediterrânea e uma menor prevalência de sintomas
depressivos. Este padrão alimentar oferece elementos neuroprotetores essenciais para a saúde mental, incluindo os ácidos graxo
poli-insaturados (ômega-3), vitaminas do complexo B, D, C e E; zinco, magnésio e aminoácidos essenciais. Além disso, a dieta
mediterrânea demonstrou estar relacionada à ação anti-inflamatória no organismo. No entanto, é importante reconhecer que a
depressão é uma doença multifatorial, requerendo a consideração de fatores como raça, nível de escolaridade, sexo e fator
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