Aberratioo Ictus
Aberratioo Ictus
Aberratioo Ictus
Abstract: This article aims to examine the aberratio ictus in the event in
which both the foreseen victim and the unintended victim are harmed.
Through bibliographic review and also with the aid of the Brazilian’s
Superior Court of Justice (STJ, acronym in Portuguese) case law, it is
sought to discuss how the actor’s criminal liability should be with regard
the consequence sustained by the unintended victim. It is argued that in
the case of aberratio ictus the unintended outcome must be assigned to
negligence or recklessness, and not to intent. Besides adding up to the
doctrinal review, the STJ’s case law demonstrates the current situation of
the subject in that Court, as it reveals divergent precedents on the matter,
without proper distinguishing.
Recebido em 24/5/23
Aprovado em 17/8/23 Keywords: transferred intent; aberratio ictus; negligence; mens rea.
1
Também conhecido como aberratio ictus com unidade simples ou em sentido estrito.
2
Também conhecido como aberratio ictus com unidade complexa em sentido amplo
ou plurilesiva.
3
A individualização da pena de todos os crimes em caso de concurso formal e crime
continuado é também necessária para verificar a prescrição, nos termos do art. 119 do CP
(Brasil, [2023a]).
4
Ver, em Torelly (1981, p. 309), o quadro comparativo entre o CP, em sua redação antes
da Lei no 7.209/1984, e o Anteprojeto de 1981.
32
Ainda segundo Galvão (1995, p. 236-237), se houver mais de uma vítima não desejada,
“[t]roca-se qualquer uma das vítimas efetivas em que ocorreu o resultado pretendido pela
vítima potencial e computam-se os demais resultados a título de culpa”.
33
Na mesma direção, ver Gomes e García-Pablos de Molina (2007, p. 401).
45
Em sentido semelhante, mas com exemplo de homicídios consumados, Gomes
e García-Pablos de Molina (2007, p. 399) argumentam que, caso haja erro na execução
no momento inicial (não atingindo a vítima visada, mas matando terceiro), se o agente
prosseguir em seu intento e vier a matar a pessoa visada, responderá por dois homicídios
dolosos consumados: o primeiro (vítima não visada) em erro na execução e o segundo
(vítima visada) sem erro na execução.
46
Na primeira fase, a sentença fixou a pena em 15 anos; na segunda, reduziu-a para 14
anos e 3 meses; na terceira fase, usou a fração de 1/3 para aumentar pelo concurso formal
Sobre o autor
Fernando Martinho de Barros Penteado é mestre em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, SP, Brasil; doutorando em Direito na PUC-SP, São
Paulo, SP, Brasil; juiz de Direito no Estado de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP, Brasil.
E-mail: fernandombpenteado@gmail.com
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