josicleda,+250774-205674-1-LE
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Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage:https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe
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Garcia., F., R., Júnior., M., J., A.
Revista Brasileira de Geografia Física v.15, n.02 (2022) 783-803.
Introdução
Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do Rio do Cobre em Salvador. Fonte: Autores (2020).
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A bacia hidrográfica do Rio do Cobre apresenta uma topografia muito acidentada, com
compõe um dos maiores territórios de pobreza de variações de altitudes entre 0 e 120 m, e com
Salvador e que frequentemente sofre com grandes linhas de talvegue formando córregos e
problemas de alagamentos e inundações. Assim, cursos d’água que deságuam na região do Parque
caracterizando-se como uma área de grande São Bartolomeu. A Figura 3 apresenta a
vulnerabilidade social. distribuição do relevo na bacia e suas sub-bacias
As inundações ocorrem principalmente do rio do Cobre.
quando se têm eventos de precipitação de
intensidades superiores à capacidade dos sistemas
de drenagem urbana. De acordo com a
classificação climática realizada por Köppen
(1930), em que são levadas em consideração as
variações sazonais e os valores médios mensais e
anuais de temperatura e precipitação, a cidade de
Salvador -BA está inserida numa zona Af’, clima
tropical chuvoso de floresta, sem estação seca;
pluviosidade média mensal superior a 60,0 mm e
anual inferior a 1500,0 mm; temperatura do mês
mais frio acima de 18,0 ºC; verões longos e
quentes com temperatura média do mês mais
quente superior a 22,0 ºC. Algumas dessas
características são corroboradas pelo climograma
(Figura 2).
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𝜕𝐴 𝜕(𝑢𝐴)
𝜕𝑡
+ 𝜕𝑥
=0 Equação (1)
Onde:
A − área molhada;
u − velocidade média.
𝜕𝑄 𝜕𝑄𝑉 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴 ( + 𝐼𝑓 ) = 0 Equação (2)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥
Onde:
Q − vazão normal a seção transversal;
Figura 5. Layout do modelo HEC-HMS. A − área molhada da seção transversal;
x − uma distância;
A transformação da chuva em vazão foi g − a aceleração da gravidade;
feita pelo método do Hidrograma Unitário do SCS I0 − -dz/dx (z=cota do fundo);
(Soil Conservation Service). O método das perdas If − declividade da linha de energia, dado pela
adotado foi o Curva Número (CN) do SCS, com equação 3.
tempo de concentração das sub-bacias sebdo
𝑢|𝑢|
obtido pela fórmula de Kirpich. 𝐼𝑓 = 𝑛2 𝑅ℎ3/4 Equação (3)
Resultados e discussão
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anos da série histórica, foi aplicada a distribuição precipitação prevista com o avanço dos períodos
de Gumbel para encontrar as probabilidades de de retorno.
ocorrência da precipitação máxima para distintos Após a desagregação das precipitações
períodos de retorno (anos). Na tabela 5 estão para os tempos de duração e tempo de retorno, foi
apresentados os valores das variáveis reduzidas, as aplicado os ajustamentos e análises de tendências
probabilidades de ocorrência e a precipitação dos dados, e então estabelecida a equação (4) IDF.
corrigida em 14 %, que corresponderá a
magnitudes próximas às reais, como recomendado 447,4432.𝑇𝑅0,1960
𝐼= 𝑡 0,61926
Equação (4)
pela Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental - CETESB (1986).
Posteriormente ao desenvolvimento da
Tabela 5 – Correção de precipitação máxima pela equação de intensidade – duração – frequência,
variável reduzida para cada período de retorno. apresentada anteriormente na equação 4, foram
construídos os hietogramas de projeto, com base
Período de Intensidade Probabilidade Intensidade
no método dos blocos alternados, sendo gerados
retorno (anos) (mm) de ocorrência corrigida (mm)
para o intervalo de tempo de 5 minutos, para uma
2 111,15 0,50 125,60
chuva de duração total de 60 minutos, e períodos
5 145,65 0,80 164,58
de retornos de 10, 25 e 50 anos.
10 168,51 0,90 190,42
Pode-se observar que há uma variação
25 197,38 0,96 223,04
pequena entre os picos de precipitação, sendo
50 218,79 0,98 247,23
observado um pico de 17,18 mm para o tempo de
100 240,05 0,99 271,26 recorrência de 10 anos, 20,12 mm para o tempo de
Fonte: Autor (2020). recorrência de 25, e 22,66 mm para o tempo de
recorrência de 50 anos.
Utilizando os coeficientes da Considerando o período de recorrência
desagregação de chuvas propostos por Campos- de 50 anos e comparando com os as situações de
Aranda (1978), é estimada a precipitação máxima TR 10 anos e 25 anos, pode-se notar um acréscimo
(mm) para os distintos períodos de retorno (anos) mais significativo, o que pode indicar que se pode
em função da duração (h). É notória a relação esperar, analogamente, valores de vazões maiores
proporcional entre o aumento dos máximos de para tal cenário.
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Dos resultados dos hidrogramas é pesquisa, sendo este de identificar as áreas com
possível notar o crescimento das vazões para o potencial de ocorrência de inundações, através da
aumento do tempo de recorrência para todas as modelagem hidrodinâmica áreas para
sub-bacias, o que de fato já era esperado, visto que precipitações com períodos de retorno de 10, 25
este tem relação direta com as vazões, sendo 50 anos. A partir dos dados dos hidrogramas,
maiores vazões para maiores tempos de constantes nas figuras 9 a 15 da seção anterior,
recorrências. pôde-se modelar o comportamento das vazões
sobre a área de estudo. A modelagem foi resultado
Modelo HEC-RAS dos períodos de retorno de 10, 25 e 50 anos, para
Esta seção apresenta os resultados do um fluxo não permanente, e uma configuração de
primeiro dos objetivos específicos propostos na propagação em duas dimensões. Os resultados
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mostraram que a área de estudo está sujeita a modelos digitais de terreno para o período de
sofrer alagamentos em alguns pontos, bem como retorno de 10 anos, porém foi observado um
inundações, uma vez que a área afetada se estende mesmo padrão de distribuição das áreas de
para além dos leitos de escoamento. inundações quando a modelagem foi realizada
Na figura 15 são apresentados os para os tempos de recorrência de 25 e 50 anos.
resultados das áreas atingidas para os dois
Figura 15- (a) Modelo digital de terreno SRTM (b) Modelo digital de terreno LiDAR.
Os resultados das manchas resultantes derivado dos dados do SRTM como observado por
dos tempos de concentração de 25 anos e 50 anos outros autores (Molinari, et al., 2020; Garrote,
comportaram-se de forma bem aproximada quanto 2022).
à questão de espacialização, diferindo um pouco Objetivando a comparação entre as áreas
da mancha de tempo de recorrência de 10 anos resultantes dos dois MDTs, foram construídos
pela área mais a norte, onde é possível notar o mapas para observar as variações para os
início da abrangência de áreas de urbanização. diferentes valores de área em função do tempo de
recorrência, como apresentado nas tabelas 7 a 9.
Comparação entre os resultados dos modelos Devido à maior resolução para essa análise foi
Como segundo objetivo específico- definido o MDT LiDAR com padrão de
sendo este comparar as áreas resultantes das comparação.
respostas dos modelos digitais de terreno obtidos Observando-se a sequência de tabelas
por interferometria SAR (InSAR) e light detection abaixo é possível notar uma significativa variação
and ranging (LiDAR)- os resultados da nas extensões das áreas variando o tipo de MDT
modelagem utilizando o MDT derivado do utilizado, sendo que a modelagem utilizando o
LiDAR apresentaram melhor resultando que o LiDAR resultou em áreas maiores e com menores
MDT derivado da imagem SRTM no que tange ao alturas máximas do perfil d’água. De forma
ajuste aos contornos originais do terreno. O que inversa, os resultados oriundos do MDT SRTM
pode ser explicado pela maior resolução apresentaram maiores alturas, porém menores
horizontal e a precisão vertical associadas aos áreas.
dados LiDAR em comparação com os MDT
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Da tabela 7 observa-se variações de área com diferenças compreendias entre 21,25% entre as áreas
da sub-bacia 6, e 86,43% entre as áreas da sub-bacias 4.
Da tabela 8 observa-se variações de área com diferenças compreendias entre 5,72% entre as áreas
da sub-bacia 6, e 87,03% entre as áreas da sub-bacias 4.
Da tabela 9 observa-se variações de área com diferenças compreendias entre 12,04% entre as áreas
da sub-bacia 6, e 83,93% entre as áreas da sub-bacias 7.
Cabe ressaltar os resultados obtidos para LiDAR, que pôde ser observado em alguns pontos
a sub-bacia 6, onde através das análises das tabelas na figura 17.
7 a 9 passam uma ideia de proximidade entre os Outra observação importante é que a
resultados comparados entre os MDTs, já que se área de inundação se apresenta com maiores
observou as menores variações de áreas para esta irregularidades para o MDT-SRTM em
sub-bacia. Porém, apesar disso, as áreas comparação com um MDT-LiDAR de maior
resultantes se comportam de forma bem distintas, resolução para o mesmo tempo de recorrência.
onde para o resultado oriundo do MDT SRTM Pode-se entender que a maior resolução causa uma
nota-se uma extensa área longitudinal ao longo do suavização da topografia do terreno e das
eixo de escoamento. Já para o resultado obtido do elevações (Figura 16), permitindo assim um
MDT LiDAR nota-se uma concentração regional melhor espraiamento da propagação do
e não há continuidade na propagação longitudinal escoamento simulado, assim aumentando a área
de escoamento, o que pode ser resultante da superficial, o que por sua vez leva a redução das
operação de filtragem no modelo de superfície elevações da superfície da água e extensões.
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Tabela 10 – Áreas (km²) resultantes em função para o tempo de recorrência para o MDT LiDAR
Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia
Sub-Bacia
1 2 3 4 5 6 7
Área SRTM (km²) 0,1688 0,0980 0,1998 0,1386 0,2091 0,1619 0,2627
Área LIDAR (km²) 0,1787 0,1035 0,2098 0,1455 0,2196 0,1700 0,2759
Variação 10-25 (%) 0,1995 0,1066 0,2169 0,1498 0,2261 0,1751 0,2841
Variação 25-50 (%) 5,82 5,57 4,99 4,32 7,51 5,78 5,01
Fonte: Autor (2020).
Tabela 11: Áreas (km²) resultantes em função para o tempo de recorrência para o MDT SRTM.
Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia Sub-Bacia
Sub-Bacia
1 2 3 4 5 6 7
Área SRTM (km²) 0,092 0,036 0,068 0,019 0,040 0,128 0,037
Área LIDAR (km²) 0,169 0,099 0,200 0,139 0,209 0,162 0,263
Variação 10-25 (%) 26,539 25,405 8,335 0,406 2,766 25,709 8,740
Variação 25-50 (%) 15,553 15,116 4,459 25,991 10,876 22,396 12,727
Fonte: Autor (2020).
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de análise estatística composta pelo testes de geométricos das áreas modeladas como média do
hipóteses “t” de Student. De acordo com Barbetta populacional e os registros de ocorrências como
(2002) o teste t é apropriado para comparar dois dados populacionais.
conjuntos de dados quantitativos, em termos de
seus valores médios. Sendo a sua formulação Desta forma, as serem testadas foram:
apresenta a seguir na equação: H0: a média das ocorrências não difere
da média da área;
𝑀𝑑 − 𝜇0 H1: a média das ocorrências é diferente
𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 = Equação (5)
𝑆 da média da área.
√𝑛
Onde: Assim, adotando um intervalo de
Md-média da amostra; confiança de 95%- consequentemente um nível de
μ_o- média populacional; significância de 5%- foi calculado o parâmetro da
S- desvio padrão amostral; estatística tcalc e então entra-se na tabela de
n- número de elementos da amostra. probabilidade da distribuição t-Student. As
coordenadas foram analisadas separadamente,
As avaliações deram-se a partir de uma tanto longitudinalmente como latitudinalmente, e
formulação de hipótese bicaudal, assim admitindo os resultados da aplicação do teste podem ser
as coordenadas planimétricas dos centros observados na tabela 12 abaixo.
Com base nos resultados obtidos, é mais robusto, assim permitindo que seja possível
possível avaliar a utilização de dados oriundos do identificar melhores padrões de distribuição, com
modelo digital de terreno SRTM de resolução isso possibilitando uma melhor localização de
espacial de 30 m como sendo aceitável como uma áreas vulneráveis, podendo assim agir de uma
avaliação preliminar, pois os resultados não forma preventiva mais precisa (Dash, Vijay,
demonstraram um ajuste tão bom tanto no quesito Gupta, 2022).
planimétrico do perímetro das áreas, quanto no O trabalho não apontou fortes evidências
ajuste de altimetria, quando se observar as cotas da validade do uso da modelagem hidrodinâmica
do perfil dos escoamentos, podendo assim inferir como ferramenta para previsão de áreas
que há uma minoração das áreas e uma majoração susceptíveis a alagamentos e inundações seja uma
das alturas do escoamento. Já para os resultados metodologia adequada para tal fim. Entretanto, a
oriundos do modelo digital de terreno LiDAR de partir da análise visual das distribuições das
resolução 0,5 m, observou-se um bom ajuste ocorrências e as áreas modeladas, acredita-se que
quanto ao perímetro a qual as áreas resultantes a metodologia possa servir como uma primeira
estavam inseridas, bem como resultou em alturas avaliação, assim analisando de forma macro o
mais condizentes com a realidade da região. De ambiente e sugerindo áreas
modo semelhante Stoleriu e Mihu-Pintilie (2019) Para que se tenha um resultado mais
os resultados indicam que os dados LiDAR robusto, sugere-se que se faça uma análise da
melhoram o processo de avaliação de risco de abordagem utilizando um modelo digital de
inundação. superfície, de forma a ter uma maior aproximação
Os resultados quanto à variação das da realidade. Ainda no sentido de pesquisas
dimensões planimétricas das áreas em função da futuras, recomenda-se a utilização do acoplamento
variação dos tempos de recorrências de chuvas dos resultados deste trabalho a um modelo
apresentaram comportamentos bem semelhantes, representativo do inventário do sistema de
quando os resultados são analisados drenagem urbana.
individualmente para cada modelo digital de
terreno, já quando comparados, os resultados Agradecimentos
apresentam comportamentos bem distintos Os autores agradecem à Coordenação
Quanto às limitações gerais encontradas de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
no desenvolvimento do trabalho destaca-se a Superior - Brasil (CAPES) pelas bolsa de
impossibilidade de se fazer a calibração dos mestrado do primeiro autor.
modelos, visto que período planejado para
acompanhamento de eventos de campo foi Referências
inviabilizado em decorrência das necessidades de Amrei, David; Schmalz, Britta. 2021. A
isolamento social, desta forma as análises Systematic Analysis of the Interaction
basearam-se na utilização dos resultados de MDT between Rain-on-Grid-Simulations and
LiDAR como padrão de comportamento, por se Spatial Resolution in 2D Hydrodynamic
tratar do modelo digital de terreno de melhor Modeling. Water 13, no. 17: 2346.
resolução. https://doi.org/10.3390/w13172346
A presença de erros é inerente ao longo Barbetta, P. A. Estatística Aplicada às Ciências
do processo de estimativas do mapeamento em Sociais. 5ª Ed. Florianópolis :UFSC, 2002.
função das incertezas dos dados de entrada, da Campos-Aranda, D. F., 1978. Cálculo de las
estrutura e dos parâmetros dos modelos. Há uma Curvas Intensidad-Duración-Período de
série de variáveis que podem ser destacadas, as Retorno, a partir de Registros de Lluvia
quais podem resultar nas limitações da qualidade Máxima en 24 horas y Relaciones Duración-
dos resultados como dados de chuvas, tipos de Lluvia Promédio. Subdirección Regional
solo, caracterização física da bacia, registros de Noreste de Obras Hidráulicas e Inginiería
ocorrências, bem como todo o equacionamento Agrícola para el Desarrollo Rural., San Luis
envolvido no processo. Potosí, p. 25.
Dos dados utilizados para a validação da Carlos H. Aparicio Uribe, Ricardo Bonilla
metodologia, cabe ressaltar a importância que se Brenes, Jochen Hack, Potential of retrofitted
tenha a prática do georreferenciamento de forma urban green infrastructure to reduce runoff -
mais fiel ao local que de fato seja observada as A model implementation with site-specific
ocorrências. A constante geração desse tipo de constraints at neighborhood scale, Urban
dado é importante para se gerar um banco de dados Forestry & Urban Greening, Volume 69,
800
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