EBOOK_Educacao-Geografica
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Educação Geográfica:
possibilidades e desafios contemporâneos
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Copyright © Autoras e autores
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos
autores.
Daniel Rodrigues Silva Luz Neto; Juanice Pereira Santos Silva; Maria Solange
Melo de Sousa [Orgs.]
CDD – 900/370
4
AGRADECIMENTO
5
6
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 9
7
CAPÍTULO 6: O USO DE ÁREA VERDE DA 103
CIDADE PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Juanice Pereira Santos Silva
Maria Solange Melo de Sousa
Daniel Rodrigues Silva Luz Neto
8
APRESENTAÇÃO
9
responder à questão problematizadora, objetiva-se refletir sobre a
importância dos fundamentos da didática com os estudantes da
licenciatura em Geografia da Universidade de Brasília (UnB), no
semestre de 2022. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e se
efetuou a mediação didático-pedagógica com os estudantes. Os
resultados evidenciaram que os conhecimentos didático-
pedagógicos têm grande relevância na formação dos estudantes,
pois eles orientam os estudantes (futuros professores) para um
conjunto de operações por meio dos conhecimentos para a prática
docente.
O capítulo 4, com o título Atores da geografia escolar: a
BNCC, os professores e os estudantes de educação básica, de
Fabiana Pegoraro Soares, é redigido para propor reflexões frente às
alegações de uma necessidade de superação da fragmentação das
políticas educacionais, de fortalecimento do regime de colaboração
entre as três esferas do governo e de um documento balizador da
qualidade da educação (Brasil, 2018a). Recentemente, o currículo
escolar brasileiro sofreu uma grande revisão, resultando na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC). Considerando que o ensino
da Geografia deve contribuir para a formação de cidadãos que, por
meio do olhar e do raciocínio geográfico, reflitam sobre sua
situação, a sociedade e o espaço ao seu redor e atuem como agentes
transformadores, este trabalho tem como objetivo discutir as
tendências presentes na BNCC de Geografia do Ensino
Fundamental e o papel de professores e estudantes diante delas.
Como metodologia, foi realizada uma análise documental da
BNCC, além de um levantamento bibliográfico e leitura de textos
críticos, bem como de textos sobre a importância da Geografia
escolar e o ensino de Geografia. Os resultados da análise e a
fundamentação teórica que lhe serviram de base permitiram
reflexões acerca das características da BNCC de Geografia, da
formação dos professores de Geografia no Brasil e sobre a
importância da Geografia escolar na formação dos estudantes.
O capítulo 5, cujo título é Análise dos espaços geográficos
culturais da UnB sob o olhar das obras de Athos Bulcão e Jayme
10
Golubov, dos autores Fábio da Silva e Ana Paula de Rezende
Navarro, nasceu do interesse de promover uma reflexão da
Geografia sobre a temática do patrimônio, visto como referência
cultural associada a conhecimentos transdisciplinares. Esses
conhecimentos que se articulam, interagem e dialogam na
dimensão geográfica da cultura com experiências participativas em
Educação e Patrimônio Cultural, principalmente, sobre a Arte (com
maiúscula mesmo, porque estamos tratando de uma área do
conhecimento!) e a memória a partir das obras dos artistas Athos
Bulcão e Jaime Kerbel Golubov que se encontram nos espaços do
campus da Universidade de Brasília (UnB) acessíveis aos seus
usuários e espectadores. Tais aspectos contribuem para que os
professores possam utilizar esses conhecimentos em sua prática
pedagógica, para a promoção da educação geográfica em uma
perspectiva disciplinar e transdisciplinar junto aos discentes.
O capítulo 6, intitulado de Ensino de geografia em área verde
urbana da cidade, de Juanice Pereira Santos Silva, Maria Solange
Melo de Sousa e Daniel Rodrigues Silva Luz Neto, busca analisar a
prática de campo de participação ativa dos estudantes no ensino de
Geografia. O trabalho teve o objetivo de aplicar conceitos
geográficos e de conscientização ambiental ao implantar um jardim
de frutos do cerrado em área verde da cidade de Gama-DF. Para
isso, utilizou-se a metodologia qualitativa. Os resultados
apontaram que é possível incluir essa prática no ensino de
Geografia e mobilizar a comunidade, em especial, as escolas, para
a manutenção do cerrado nas áreas verdes urbanas.
O capítulo 7, intitulado de Controvérsias e adversidades do
Ensino Médio como etapa final da educação básica, de Maria
Solange Melo de Sousa e Daniel Rodrigues Silva Luz Neto, aborda
os estudos relacionados ao Ensino Médio mostram características
de crise contínua e estrutural desde a sua implantação no Brasil. Ela
se manifesta em forma de controvérsias e de adversidades na
escola. É a partir dessa análise que o artigo se estrutura e faz uma
reconstrução histórica dessa última etapa da educação básica. O
recorte temporal vai da década de 1930 do século passado às duas
11
primeiras décadas do século XXI. O objetivo das discussões é
analisar o impacto do Novo Ensino Médio para o projeto de vida
da geração que está cursando essa etapa da educação básica. A
metodologia é constituída por uma abordagem qualitativa e tem
como instrumentos de investigação a pesquisa bibliográfica e a
análise documental e traz autores como Dantas (2015), Frigoto
(2005), Libâneo (2012), Santos (1994, 2014), Saviani (2004), Sousa
(2019, 2021, 2023) para fundamentar as discussões apresentadas. A
partir das análises realizadas na pesquisa, conclui-se que desde a
sua origem, a estrutura do Ensino Médio brasileiro se caracteriza
pelo modelo dualista de escola propedêutica para rico e utilitária
para pobre e que essa opção corrobora os problemas que o Ensino
Médio enfrenta no decorrer de sua história.
12
CAPÍTULO 1: HORIZONTE DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL:
REFLEXÕES E PERSPECTIVAS
Anderson Muzzolon
Introdução
13
sustentável e equitativo. Assim como uma gota d’água que cria
ondulações por toda a superfície, cada ação que realizamos tem um
alcance muito maior do que imaginamos (Crespo, 1998).
O objetivo aqui é refletir sobre as diferentes abordagens e o
surgimento da Educação Ambiental como um meio de promover
uma consciência ambiental mais ampla e ativa, enfatizar a
diversidade da Educação Ambiental e sua conexão com ações
políticas para lidar com desigualdades sociais, visando à
construção de uma sociedade comprometida com a consservação
da vida em sua totalidade.
A Educação Ambiental desempenha um papel crucial na
resolução dos desafios inerentes à modernidade. As práticas
pedagógicas podem ser direcionadas para despertar uma
consciência global e local, promovendo relações humanas mais
harmoniosas com a natureza. Contudo, essa contribuição poderia
ser mais efetiva, pois os conteúdos ainda são abordados de maneira
fragmentada e ocasional, muitas vezes relegados a disciplinas
específicas, como Geografia e Ciências Naturais. Isso faz com que
dependa mais da iniciativa individual do professor do que de um
programa estruturado. Para que a Educação Ambiental ganhe
maior impacto, é necessário institucionalizar seus conteúdos como
parte integrante do currículo, prevendo-os como elementos
essenciais (Andrade, 2000).
É importante ressaltar que as atividades ligadas à Educação
Ambiental, como pesquisa acadêmica, ensino e ações de extensão,
frequentemente carecem de uma base teórica sólida, resultando em
uma abordagem dispersa e, por vezes, fundamentada no senso
comum. Assim, estruturamos este trabalho em três seções distintas:
a primeira aborda a metodologia empregada; a segunda oferece
uma retrospectiva sobre a origem e discussões iniciais do termo
Educação Ambiental em âmbito global; e a terceira seção explora
as principais abordagens de autores brasileiros relacionadas ao
ensino de Educação Ambiental.
14
A metodologia hermenêutica na Educação Ambiental: uma
perspectiva analítica
15
circular, o diálogo e mediação. O horizonte refere-se ao conjunto de
pressupostos, experiências e conhecimentos prévios que cada
indivíduo possui, moldando sua compreensão do mundo. A
compreensão não é linear, mas sim, circular, envolvendo um
diálogo constante entre o texto ou objeto a ser interpretado e o
horizonte do intérprete. Esse diálogo não busca um ponto final ou
uma verdade absoluta, mas sim, uma fusão de horizontes, em que
o entendimento é construído por meio do processo dialógico entre
passado e presente, experiência e compreensão. A mediação
desempenha um papel crucial nesse processo, permitindo a
interconexão entre diferentes horizontes e a busca por uma
compreensão mais ampla e enriquecedora.
Ao seguirmos a perspectiva gadameriana, mergulhamos na
análise de diversos textos produzidos por acadêmicos renomados
no campo da Educação Ambiental. Durante essa investigação, nos
deparamos com uma riqueza de interpretações e entendimentos
desses autores sobre questões intrincadas ligadas ao ambiente, à
educação e à interseção entre ambos os campos.
Observamos como os horizontes desses autores influenciam
profundamente suas abordagens e visões sobre os desafios
ambientais contemporâneos, bem como sobre as metodologias e
práticas educativas para lidar com tais questões. A circularidade do
diálogo entre esses textos e nossos próprios horizontes
interpretativos revela a dinâmica e a complexidade envolvidas na
compreensão dessas problemáticas e, ao mesmo tempo, ressalta a
importância da mediação entre diferentes perspectivas para um
entendimento mais amplo e enriquecedor no campo da Educação
Ambiental.
16
na busca por equidade social e preservação ambiental sustentável.
Ela surge na segunda metade do século XX como uma proposta
necessária para enfrentar o problema da crise que se passa no meio
ambiente (Flores; Reyes, 2010). No entanto, suas raízes podem ser
encontradas em movimentos sociais e filosofias antigas, que
reconheciam a interdependência entre os seres humanos e a
natureza.
A busca pela valorização dos recursos da natureza vem de
longa data, mas o termo Educação Ambiental foi utilizado pela
primeira vez no ano de 1965, durante a Conferência de Educação
da Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, passando a ser
recomendada na formação educacional de todos os cidadãos. A
expressão surgiu após a percepção de que o ambiente global estava
sendo severamente afetado, por isso era preciso um plano de ação
para conter os efeitos de catástrofes que vinham ocorrendo com
maior frequência (Flores; Reyes, 2010).
A partir desse momento, a Educação Ambiental começou a se
desenvolver como um campo de estudo e prática que visa a
sensibilizar as pessoas sobre a importância da conservação
ambiental, promovendo uma compreensão mais ampla das
interações entre os seres humanos e o meio ambiente. Desde então,
ela evoluiu para incluir não apenas questões de conservação, mas
também aborda aspectos sociais, econômicos e políticos
relacionados ao meio ambiente, visando a promover a
sustentabilidade e a uma mudança de comportamento em direção
a práticas mais responsáveis em relação ao ambiente.
No ano de 1968 ocorreu uma reunião entre cientistas, a qual
ficou conhecida como o Clube de Roma. Oliveira e Santos (2009, p.
35) afirmam que esse encontro teve por objetivo discutir “o
consumo, o crescimento da população mundial e as reservas de
recursos naturais não renováveis”. Nesse evento foi produzido um
relatório intitulado: “Os limites do crescimento”, mostrando que
moramos em um planeta com recursos finitos que não poderia
suportar um crescimento infinito da população e da economia.
17
Estimativas mostravam que no ano de 2068 o planeta atingirá esses
limites, ou seja, 100 anos após o encontro.
A Conferência de Estocolmo, realizada na Suécia, em 1972,
representou um marco significativo na busca por soluções para a
crise ambiental em âmbito global, reunindo 133 países. No entanto,
o evento destacou as diferentes perspectivas e interesses dos
participantes, como foi o caso do Brasil, que defendeu
veementemente a industrialização de seu território, mesmo que
isso implicasse na preservação ambiental. A emblemática frase
“Venham as indústrias, poluem, mas venham” ilustra essa postura
nacional (Oliveira; Santos, 2009, p. 37).
A atitude brasileira na conferência influenciou
significativamente as direções das discussões e das políticas
ambientais futuras, introduzindo o conceito de desenvolvimento
social. Ficou evidente que a preservação por si só não era suficiente;
era imprescindível considerar o bem-estar das populações. Como
resultado desse encontro, foram estabelecidos 26 princípios
orientadores que deveriam nortear as ações dos países
participantes.
Na conferência de Tbilisi, realizada na União Soviética, em
1977, foram produzidos documentos que servem de parâmetro até
hoje. Segundo Teixeira, Silva e Alves ( 2014, p. 2), “o evento
apontou para a Educação Ambiental como meio educativo pelo
qual se pode compreender de modo articulado as dimensões
ambientais e sociais, problematizar a realidade e buscar as raízes
da crise civilizatória”, de modo a considerar a participação de
todos, contextualizando com as comunidades, gerando
transformações reais que contribuam para os objetivos globais de
se ter um planeta viável para a continuidade da existência da
espécie humana.
Em 1987, foi publicado o Relatório de Brundtland, com o lema
“Nosso Futuro Comum”, trazendo discussões referentes ao
conceito de desenvolvimento sustentável. De acordo com o
relatório, esse conceito busca “satisfazer às necessidades presentes,
sem comprometer as necessidades das gerações futuras” (Oliveira;
18
Santos, 2009, p. 42). Tal conceito recebeu duras críticas por não ter
como principal foco a redução das desigualdades sociais que
imperam no mundo, dando a ideia errônea de que a pobreza gera
a degradação ambiental. Trata-se de um tema bastante atrelado às
questões econômicas, sendo subordinado à racionalidade
capitalista atual, que tem como retórica a exploração dos recursos
naturais sobre a premissa da produtividade com vistas ao
crescimento econômico infinito.
No ano de 1992, ocorreu, no Brasil, a II Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano,
conhecida como RIO 92. “Entre os acordos estabelecidos destacam-
se: a Convenção sobre Mudança do Clima, que entrou em vigor em
1994 e a Agenda 21, considerado o documento mais importante do
evento” (Oliveira; Santos, 2009, p. 46).
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO), no ano de 2005, instituiu a década da
educação para o desenvolvimento sustentável (2005-2014.).
Entretanto, não foram notados avanços significativos na questão da
Educação Ambiental. Apesar de haver um grande movimento
global pela implementação da Educação Ambiental, de modo geral,
ela se apresenta de modo tímido, com algumas iniciativas
regionais. Muitos países encontram ainda grandes dificuldades em
questões sociais básicas, o que dificulta a implementação.
A implementação da Agenda 2030, concebida em Nova
Iorque, em 2015, pela Organização das Nações Unidas (ONU),
desempenha um papel fundamental na configuração de grande
parte dos currículos escolares no Brasil. Ao incorporar os princípios
e metas dessa agenda nas diretrizes educacionais, é possível
proporcionar aos estudantes uma compreensão mais abrangente e
integrada dos desafios globais contemporâneos, fomentando uma
consciência crítica e responsabilidade social desde as fases iniciais
da educação. Os temas abordados pelos 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), como a erradicação da
pobreza, a promoção da saúde e do bem-estar, a garantia de uma
educação de qualidade e a igualdade de gênero, podem ser
19
integrados de maneira transversal nos currículos, contribuindo
para uma educação mais alinhada com os ideais de
sustentabilidade e preparando os estudantes para um papel ativo
na construção de um futuro equitativo e sustentável.
No Brasil, nossa Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988),
estabelece a Educação Ambiental como um compromisso
fundamental, conforme descrito no artigo 225, 1º inciso VI. Essa
medida visa promover a conscientização pública e oferecer
instrução sobre temáticas ambientais em todos os níveis de ensino.
Essa diretriz constitucional enfatiza a importância de uma
abordagem abrangente da conservação ambiental, inserindo-a nos
currículos educacionais. Isso assegura que a sociedade seja não
apenas consciente, mas também ativa na proteção e conservação do
meio ambiente, abrangendo todos os domínios da educação, dando
novos passos a fim de melhor utilizar os recursos e sua
conservação.
A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 (Brasil, 1999), também
conhecida como a “Lei da Educação Ambiental”, é um marco na
legislação brasileira. Ela estabelece princípios, objetivos, diretrizes
e instrumentos para promover a Educação Ambiental em todos os
níveis de ensino e em diferentes instâncias da sociedade. Essa lei
define a Educação Ambiental como um componente essencial do
processo educativo, visando à conscientização e à sensibilização da
população sobre a importância da preservação ambiental. Ela
propõe a integração da Educação Ambiental nos currículos
escolares de todos os níveis de programas educacionais. Segundo a
redação dessa lei federal, “a educação ambiental não deve ser
implantada como disciplina específica no currículo de ensino”
(Brasil, 1999), orientação esta que vem sendo questionada com
alguns projetos para implementação de um disciplina específica
para a área. Além disso, a lei estimula parcerias entre entidades
governamentais, organizações não governamentais e empresas
para o desenvolvimento de projetos e ações voltados à
conscientização ambiental e à sustentabilidade.
20
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Ambiental (Brasil, 2012), estabelece orientações cruciais para a
Educação Ambiental ao sublinhar a necessidade de incorporar essa
temática de maneira transversal em todas as disciplinas. Nesse
contexto, a Educação Ambiental se propõe a promover a
conscientização e a estimular ações sustentáveis, englobando não
apenas questões ambientais, mas também aspectos sociais,
econômicos e culturais. Essa abordagem visa a moldar indivíduos
mais conscientes e comprometidos com a preservação e a
conservação ambiental, capacitando-os para se tornarem cidadãos
ativos e responsáveis pela construção de um futuro sustentável.
Apesar de um histórico longo e de uma legislação sólida sobre
os assunto, sabemos que abordagens voltadas para a Educação
Ambiental ainda dependem da postura e da trajetória dos
professores em sala de aula. Algumas disciplinas, como Ciências,
Geografia e Biologia, frequentemente abordam temas ambientais
de forma mais direta. No entanto, outras disciplinas, como
História, Matemática e Literatura, podem também integrar
aspectos da Educação Ambiental, seja explorando questões
históricas relacionadas ao ambiente, analisando dados ambientais
em contextos matemáticos, seja refletindo sobre questões
ambientais por meio de textos literários. A interdisciplinaridade é
uma abordagem que permite a integração de conteúdos e reflexões
sobre questões ambientais em várias áreas do conhecimento,
contribuindo para uma compreensão mais ampla e holística da
relação entre sociedade e meio ambiente.
21
tornando a Educação Ambiental presente em todos os lugares,
passando para uma abordagem transdisciplinar.
O ambiente escolar, ao se reproduzir, exerce um impacto
significativo (Andrade, 2000), demandando uma abordagem mais
ampla e integrada nas práticas pedagógicas. Transformar a escola
por meio de estudos na dimensão ambiental vai além da simples
implementação de estruturas físicas, como a separação de resíduos
ou a criação de espaços verdes. É crucial promover uma abordagem
horizontal entre os indivíduos, fomentando a participação ativa em
tomadas de decisão, proporcionando espaços de diálogo em todos
os ambientes escolares e incentivando a comunidade escolar a se
envolver em discussões, planejamentos e ações voltadas ao meio
ambiente.
Segundo Sato (2004), existem duas principais perspectivas da
Educação Ambiental nas escolas que merecem atenção: a
perspectiva natural, que se concentra predominantemente no meio
físico e na análise ecológica do ambiente; e a perspectiva cultural,
que focaliza os aspectos humanos, investigando as interações e
relações dos indivíduos com seu entorno. O destaque dado a uma
ou outra perspectiva é moldado pela formação e pela jornada de
vida de cada professor envolvido. As experiências pessoais e
profissionais influenciam na ênfase dada a essas abordagens,
determinando a maneira como a Educação Ambiental será
abordada e desenvolvida com os alunos.
A prática escolar deve se entrelaçar com iniciativas políticas
destinadas a enfrentar desigualdades sociais, visando a construir
uma sociedade que valorize a vida em toda a sua plenitude. Tendo
por objetivo formar indivíduos emancipados, capazes de enxergar
as diversas formas de coexistência e de transformar o mundo de
maneira construtiva e colaborativa, as abordagens práticas da
Educação Ambiental nas redes pública e privada de ensino do
Brasil “chama a atenção a enorme diferença entre percepções,
leituras, análises, projetos e práticas tratando do meio ambiente.
Não há absolutamente unanimidade ou consenso entre conceitos,
técnicas, meios e fins” (Casciano, 2017, p. 79).
22
Essa grande diversidade de abordagens acaba sendo positiva
por ter maior amplitude e mostrar diferentes pontos de vista sobre
o tema, pois estamos envoltos pela natureza, a modificamos a todo
instante. Nesse sentido, os estudos do ambiente devem levar em
consideração diferentes enfoques dados tanto para as ações
antrópicas como para estudos dos meios bióticos como abióticos,
essas discussões e análises ambientais pressupõem considerar o
homem como parte envolta pelo processo (Sato, 2002).
Para Reigota (1998, p. 34)
23
complementaridade entre as disciplinas, mas considerando as
diferenças inerentes de cada uma, de modo que se somem. As
diferenças e as incertezas devem estar presentes, os caminhos
sempre devem ser corrigidos em um processo dialógico (Casciano,
2017).
Nesse sentido, Oliveira e Santos (2009, p. 66) destacam que
24
Sementes da consciência verde: marcas de pensadores na
Educação Ambiental do Brasil
25
interdisciplinaridade ao reconhecer a importância da integração
entre diferentes áreas do conhecimento para enfrentar os desafios
ambientais. Destaca-se em sua obra a prática como elemento
central no processo educativo, conectando teoria e a prática,
incentivando a participação dos estudantes na resolução de
problemas ambientais, destacando a necessidade de uma Educação
Ambiental engajada na transformação social, impulsionando a
adoção de práticas mais sustentáveis e justas em benefício do meio
ambiente e da sociedade.
Em sua obra “Alfabetização Ecológica: a educação ambiental
em questão”, Crespo (1998) propôs uma abordagem educativa que
vai além da transmissão de informações ambientais, enfatizando o
desenvolvimento de habilidades, valores e atitudes críticas diante
dos problemas ambientais. Sua contribuição destaca a importância
de capacitar os indivíduos a compreenderem e a lidarem com
questões ambientais de forma consciente e responsável,
promovendo uma leitura crítica da realidade ambiental e
engajamento ativo na busca por soluções sustentáveis.
As reflexões teóricas elaboradas por Sato (2002) trazem uma
abordagem crítica e interdisciplinar, colocando a práxis e a ação
coletiva como pilares essenciais. Sua visão estimula uma educação
ambiental crítica e libertadora, formando as pessoas para uma
participação consciente e ativa na solução de questões ambientais.
Além disso, ela ressalta a relevância da dimensão cultural e
contextual na abordagem dos desafios ambientais e enfatiza a
busca pela sustentabilidade e justiça ambiental. Seu foco não se
limita à preservação do meio ambiente, mas se estende para
garantir equidade e inclusão nas políticas e ações direcionadas ao
meio ambiente. A interdisciplinaridade é fundamental na prática
escolar, pois vai além das disciplinas, ocorrendo
fundamentalmente na natureza da realidade (ontológico), no
conhecimento (epistemológico) e em como os atores (ideológico)
que estão envolvidos atuam (metodológico) no processo.
Nos trabalhos desenvolvidos por Layrargues (2004), é possível
identificar três macrotendências na Educação Ambiental. Essas são
26
perspectivas teóricas e práticas que direcionam a Educação
Ambiental para uma abordagem mais ampla e engajada,
promovendo a conscientização, a participação e a transformação
social em relação às questões ambientais. O autor classificou a
Educação Ambiental em três macrotendências (Quadro 1).
27
Esse reconhecimento possibilita uma abordagem mais dinâmica,
abrindo espaço para a inclusão de novas perspectivas que, por
vezes, escapam dos modelos tradicionais, enriquecendo, assim, a
compreensão do campo da Educação Ambiental. É importante
ressaltar a complementaridade entre essas diferentes tendências,
evitando vê-las como exclusivas entre si. Em vez disso, evidencia-
se que abordagens diversas podem se entrelaçar, formando um
mosaico que promove uma Educação Ambiental mais abrangente
e integrada. Apesar das limitações inerentes a essa classificação, ela
oferece uma estrutura valiosa para compreender e debater a
diversidade de perspectivas presentes nessa área.
Segundo Iared (2015), alguns enfoques educacionais que se
autodenominam críticos estão sendo questionados devido à sua
perspectiva centrada no ser humano e à adesão à divisão
cartesiana, que separa mente-corpo e sociedade-meio ambiente. A
verdadeira educação crítica estimula a reflexão e uma postura
crítica no dia a dia. A importância de as práticas educacionais terem
o potencial de transformação e libertação na sociedade ainda é
reconhecida, embora haja mais flexibilidade na escolha de
referências teóricas e métodos para atingir esses objetivos. Enfatiza-
se que a sensibilidade desempenha um papel fundamental não
apenas na revisão dos fundamentos do conhecimento, mas também
no desenvolvimento de uma abordagem educacional pós-crítica
em relação ao meio ambiente e na mudança emocional, corporal e
ontológica.
A educação ambiental de hoje é composta de uma grande
pluralidade de perspectivas. Existem várias formas de
compreender o tema. Nesse sentido, Sato (2002, p. 12) salienta que
“não existe o ‘certo’ ou ‘errado’, temos diferentes abordagens da
EA e essa riqueza precisa ser valorizada e ampliada”. Assim, ela
deve estar vinculada às ações políticas que visem ao enfrentamento
das desigualdades sociais, de modo a construir uma sociedade
comprometida com a vida em toda a sua amplitude. Precisamos
formar sujeitos emancipados, que compreendam as diversas
28
possibilidades de conviver, transformando o mundo de forma
propositiva e colaborativa.
De modo geral, as abordagens teóricas acima citadas
ressaltaram a necessidade de uma valorização da Educação
Ambiental Crítica, destacando-se as dimensões políticas e sociais
envolvidas na relação entre ser humano e meio ambiente. Esses
pensadores não apenas ofereceram contribuições teóricas, mas
também influenciaram diretamente políticas educacionais e
práticas pedagógicas, moldando significativamente o curso e a
consolidação desse campo no Brasil.
Considerações finais
29
e a Educação Ambiental, transcendendo a mera análise dos
comportamentos individuais.
Na busca por um futuro mais sustentável, é essencial
reconhecermos o papel fundamental da Educação Ambiental como
um caminho para a transformação. Ao nos educarmos em
comunhão (Freire, 1996) com os princípios da preservação
ambiental, não apenas adquirimos conhecimento, mas também
cultivamos uma consciência coletiva sobre a importância da
interdependência entre nós e o ambiente. A frase “nos educamos
em comunhão” ressoa como a ideia de que nossas ações individuais
e coletivas estão intrinsecamente ligadas à saúde e ao equilíbrio do
planeta. Assim, ao abraçarmos a Educação Ambiental como um
pilar essencial na formação de cidadãos conscientes, fortalecemos a
conexão entre educação, sociedade e natureza, construindo um
caminho mais sustentável para as gerações futuras.
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30
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32
CAPÍTULO 2: A UTILIZAÇÃO DAS TDICS NAS
AULAS DE GEOGRAFIA E A FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES
Introdução
33
(2018, p. 61) enfatiza que “o uso de aplicativos em contextos
educacionais é capaz de proporcionar diferentes possibilidades de
trabalho pedagógico de modo significativo”, levando o estudante a
se envolver com as aulas. Assim, percebendo a importância das
TDICs nas aulas de Geografia, questiona-se sobre a formação
continuada dos professores em relação à utilização de recursos
tecnológicos.
Com isso, o objetivo deste artigo é analisar a quantidade de
trabalhos publicados na plataforma de Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que tratam
sobre o uso das TDICs nas aulas de Geografia e a formação
continuada de professores. Como objetivos específicos, busca-se
enfatizar a importância da utilização das TDICs nas aulas de
Geografia e entender como se dá o processo de formação
continuada de professores no que se refere à utilização das
tecnologias nas aulas de Geografia. Esta pesquisa se fez necessária,
visto que a publicação de pesquisas científicas se torna
indispensável a fim de contribuir para a melhoria no ensino da
Geografia. Além disso, as publicações se tornam base para novas
experiências no campo educacional.
Para tanto, este artigo está dividido em três seções. A primeira
seção apresenta uma revisão de literatura, com a qual se busca
trazer as contribuições das TDICs para o ensino da Geografia e a
evolução da integração dos recursos digitais no processo de ensino.
A segunda seção descreve o percurso metodológico utilizado na
pesquisa, detalhando a maneira como os dados foram coletados e
os resultados obtidos, permitindo encontrar aportes para as
reflexões trazidas pelo estudo. Na terceira seção, são apresentadas
reflexões sobre a formação continuada dos professores e a
utilização das TDICs nas aulas de Geografia. Além disso, nessa
seção são trazidos os principais desafios enfrentados pelos
professores para a integração das TDICs na sala de aula.
As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDICs ) no ensino da Geografia
34
A evolução das redes de tecnologia e das redes de
comunicação impulsionou o surgimento de novos modos de
paradigmas na área educacional. Com essa evolução, cria-se a
cultura digital, que de acordo com Levy (1999, p. 15), “se constrói e
se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por
meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais
em criação que lhes dão sentidos variados em uma renovação
permanente”. Atualmente, a sociedade utiliza recursos e meios
digitais em praticamente todas as atividades diárias, e isso inclui
atividades na área da educação. O uso de tecnologias em sala de
aula possibilita a construção de novas possibilidades no processo
de ensino e aprendizagem
35
para os professores por oferecer sugestões de atividades
diferenciadas. Na Geografia, contribui para a organização do
conteúdo geográfico de forma estrutural e sequencial, traz recursos
de imagens, mapase paisagens que ajudam os estudantes a
compreender os conceitos geográficos abstratos e trazê-los para a
realidade.
Para a construção do conhecimento na área da Geografia, a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz, em uma de suas
competências específicas de Geografia para o Ensino Fundamental,
o que o estudante deve
36
educar para a inovação e a mudança significa planejar e implantar propostas
dinâmicas de aprendizagens, em que se possam exercer e desenvolver
concepções sócio-históricas da educação- nos aspectos cognitivo, ético,
político, científico, cultural, lúdico e estético- em toda a sua plenitude e,
assim, garantir a formação de pessoas para o exercício da cidadania e do
trabalho de liberdade e criatividade (Kenski, 2015, p. 67).
37
As possibilidades de utilização das TDICs nas aulas de Geografia
são infinitas, porém, o professor deve ter condições e conhecimento
de como utilizar os recursos de maneira benéfica para o ensino.
Com isso, “o uso de aplicativos em contextos educacionais é capaz
de proporcionar diferentes possibilidades de trabalho pedagógico
de modo significativo” (Camargo, 2018, p. 61), levando o estudante
a se envolver com as aulas. Além disso, existem ainda sites
interativos, quiz, vídeos, filmes e muitos outros recursos
tecnológicos que favorecem o ensino da Geografia.
O mundo mudou, passou por grandes alterações nos últimos
anos, e o ensino da Geografia tende a acompanhar essas mudanças,
pois o papel da Geografia no sistema escolar nada mais é do que
tentar deixar claro sobre o mundo em que se vive, ajudando o
discente a compreender a realidade espacial na qual ele vive e da
qual é parte integrante (Vesentini, 1996). A tecnologia é parte
integrante dessa mudança. Além disso, é a realidade de muitos
estudantes que estão conectados, que se utilizam da internet e de
outros recursos digitais em seucotidiano. Assim, “com as novas
tecnologias de informação, com os avanços nas pesquisas
científicas e com as transformações no território, o ensino de
Geografia torna-se fundamental para a percepção do mundo atual”
(Brasil, 2006, p. 43).
Metodologia
38
RS é uma investigação científica menos dispendiosa, é um artigo de
investigação com métodos sistemáticos pré-definidos para identificar
sistematicamente todos os documentos relevantes publicados e não
publicados para uma questão de investigação (Donato; Donato, 2019, p. 227).
Resultados e discussões
39
aproveitem dos recursos que colaboram para o aprendizado dos
estudantes. Em suma, no Quadro 1 a seguir, os resultados
40
Professores” resultou em um total de 19 trabalhos publicados,
destes somente três estavam relacionados ao tema específico.
41
(Brasil, 2006, p. 43). Isso exige que o professor tenha uma formação
continuada em todas as etapas da educação básica.
A formação continuada dos professores é de suma relevância,
pois ele desenvolve competências em todos os componentes
curriculares. Nesse sentido,
42
de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Assim, o ensino
da Geografia, principalmente nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, deve ser repensado, pois os professores, em sua
maioria, são pedagogos e não têm licenciatura em Geografia, o que
pode se tornar um grande desafio para o ensino desse componente
curricular.
O ensino da Geografia nos anos iniciais do Ensino
Fundamental é voltado para o pensamento espacial e o raciocínio
geográfico, com a intenção de que o estudante perceba a sua relação
com o meio em que vive. Desse modo, “por meio da Geografia, nas
aulas dos anos iniciais [...] podemos encontrar uma maneira
interessante de conhecer o mundo, de nos reconhecermos como
cidadãos e de sermos agentes atuantes na construção do espaço em
que vivemos” (Callai, 2005, p. 245). Nas outras etapas da educação
básica, o ensino da Geografia desempenha o papel de aprofundar
os conceitos desenvolvidos nos anos iniciais, visando a alcançar o
conhecimento do estudante em diversos eixos, integrando a
realidade dos alunos às aulas, ainda mais em um espaço onde as
informações chegam com tanta facilidade.
43
para aprendizagens significativas, com maior participação e
interação dos alunos.
Ao se questionar a utilização das TDICs na sala de aula e no
ensino de Geografia, vale ressaltar que os professores enfrentam
uma série de desafios, pois além de requerer formação inicial e
continuada, necessita-se também de que a escola tenha
infraestrutura adequada, como internet, computadores, datashow,
ou seja, um ambiente que favoreça a aprendizagem significativa
com a utilização de tais recursos como mencionam (Nicacio;
Almeida; Silveira, 2021, p. 4), que “é importante que exista uma
infraestrutura tecnológica apropriada, para que essa integração
atenda às especificidades do processo de aprendizagem requerido
pelos diferentes componentes que fazem parte do currículo
escolar”. Assim, o maior desafio dos sistemas educacionais reside
em desenvolver estratégias que integrem as necessidades
educacionais e os novos papéis que se revelam no cenário escolar,
para estudantes e professores” (Souza; Schneider, 2016, p. 422).
Esse desafio é maior ainda para os docentes, visto que eles precisam
buscar meios e estratégias para alcançar os objetivos propostos.
Além disso, propor reflexões sobre o uso dessas tecnologias nas
aulas e com a segurança dos próprios estudantes.
Apesar dos benefícios trazidos pelo uso das TDICs nas aulas
de Geografia, outros desafios relevantes devem ser observados,
como a resistência por parte dos professores, até mesmo por
questões culturais. Há ainda a questão de alinhar os objetivos das
aulas de Geografia com a integração das tecnologias ao currículo e,
por fim, às desigualdades socioeconômicas entre os estudantes.
Considerações finais
44
aproveitando assim toda a potencialidade das diversas ferramentas
para a formação significativa dos alunos. Com isso, a formação
continuada de professores é um momento importante para a
educação, visto que é o momento de reflexão do docente sobre sua
prática. A baixa quantidade de trabalhos encontrados nos
periódicos da CAPES referentes à formação continuada de
professores e o uso das TDICs nas aulas de Geografia revelam que
ainda existem muitas lacunas nesse campo.
Foi possível constatar ainda que existem vários desafios para
a implementação das TDICs nas aulas de Geografia, porque além
da falta de formação dos professores, ainda há a falta de
infraestrutura nas escolas e questões socioeconômicas dos
estudantes. A Geografia é um componente muito importante no
universo da criança, pois é a realidade vivida e experienciada, é o
cotidiano, e o seu ensino não deve ser alheio ao que se vive. O
estudante deve ter o direito de aprender e ver sentido no que está
aprendendo. O uso das TDICs favorece a implementação de uma
aula significativa, mas não quer dizer que seja a solução de todas
as questões do ensino de Geografia. Ao buscar artigos nas bases de
dados da CAPES, o intuito foi analisar a quantidade de trabalhos
publicados, refletindo também na ajuda que os professores têm
sobre o tema, pois ao pesquisar, eles buscam saber se as
experiências deram certo, que tipo de aplicativo utilizar.
Referências
45
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46
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24782021260013.
48
CAPÍTULO 3: ENSINO DE GEOGRAFIA E
SABERES DIDÁTICOS
Introdução
49
metodologias de ensino para o desenvolvimento do pensamento
geográfico dos estudantes.
Metodologia
50
poderoso, que é o conhecimento científico sistematizado e operado
didático-pedagogicamente junto a escolares com o intuito de
desenvolver as capacidades mentais superiores que os levam a
pensar teórico-conceitualmente sua realidade.
Na mesma linha de tendência pedagógica progressista de
Young (2007), Freire (1987) defende que a educação deve ser
libertadora e libertar o aluno para se emancipar. Mas, para isso, os
alunos devem ser sujeitos e não vasilhas vazias, como é a concepção
de uma educação tradicional bancária. Nesta, o aluno é visto como
recipiente vazio, e o professor vai despejando todo o conteúdo para
a cognição dos sujeitos. Segundo Freire (1987), a educação bancária
usa o processo de transmissão de informações mecânicas, o qual ele
caracteriza como educação bancária, porque os alunos se tornam
depósitos de informações.
51
recursos digitais, como mostra a Figura 1 a seguir, para elaborar o
game, e material impresso a fim de que os recursos didáticos
pudessem ser operados pela turma.
52
Figura 2 – Estudante produzindo sua cartela
53
Delgado Junior (2022), o planejamento é o momento central para
melhor aproveitar os conteúdos na atuação docente, seja na educação
básica ou na superior. De acordo com o autor, muitos dos professores
com os quais ele estudou tiveram dificuldades de fazer o plano de aula
para traçar as ações, escolher os materiais e avaliá-los.
Nesse sentido, ao perceber que o planejamento poderia ser
uma adversidade no desenvolvimento do trabalho, destinou-se um
momento para que os próprios estudantes elaborassem uma aula e
a aplicassem na própria turma, a fim de entender os elementos de
uma aula: descrição do objetivo, conteúdo, métodos e técnicas,
recursos didáticos, avaliação e referência bibliográfica (Figura 3).
54
utilizando slides (ver Figura 3) que continham os elementos do
plano de ensino que eles produziram nas aulas. Ancorados nesses
elementos, os alunos conseguiram elaborar e apresentar na aula
seguinte seus temas de forma muito segura e embasados
teoricamente.
Assim como afirma Delgado Junior (2022), o ato de planejar foi
central e relevante para que se verificasse o bom rendimento e a
potencialidade da ação didático-pedagógica realizada, desde que
ela esteja conectada à realidade dos estudantes. Desse modo, o
plano pedagógico entra como uma ferramenta metodológica
essencial no processo de elaboração e condução das aulas no curso
superior. Diante do exposto, entende-se que mesmo que o plano de
aula seja previsível, flexível às mudanças, ele, sem dúvida, é um
instrumento poderoso para que as aulas sejam exitosas no processo
de construção dos conhecimentos científicos e na autonomia do
modo de pensar dos estudantes.
Além disso, ao planejar, o professor entende o que é
significativo e relevante para o processo de ensino e aprendizagem.
Considera-se ainda que, em um plano de ensino bem elaborado, o
docente deve superar os métodos tradicionais de aula, como, por
exemplo, a leitura de textos exclusivamente para a resolução de
exercícios, sem a mediação do professor.
Em contraponto aos métodos tradicionais, Delgado Júnior
(2022) ressalta que hoje o ensino está sendo orientado para outra
direção, principalmente com os avanços tecnológicos, e que os
dispositivos não podem ser negociados para o ensino.
A partir do contexto apresentado, Oliveira, Kuenzer e Teixeira
(2019) trazem discussões sobre as metodologias ativas para o ensino
de Geografia no Ensino Médio, como ações inovadoras. O objetivo dos
autores é utilizar as metodologias para estimular a aprendizagem com
foco no protagonismo juvenil, por meio de intervenções didático-
pedagógicas, pois eles consideram que as aulas, muitas vezes,
aparentam estar descontextualizadas com a realidade dos estudantes,
além de estarem muito presas às metodologias tradicionais de ensino,
55
em que o professor não se apropria das novas ferramentas, como
satélites, GPS, mapas e globos.
Assim, a proposta das metodologias ativas é uma
possibilidade com potencial para o ensino (Oliveira; Kuenzer;
Teixeira, 2019). Elas são uma forma de combinar desafios e
informações contextualizadas. Desse modo, as aulas são planejadas
para que os alunos sejam mais protagonistas e ativos no processo
de ensino e aprendizagem, como é o caso, por exemplo, da
metodologia de sala de aula invertida.
A sala de aula invertida é uma proposta que não é recente, mas
muitos autores, como Freire (1987), por exemplo, já a utilizavam,
não com o nome de metodologia ativa, mas como pedagogia da
libertação, que se opunha à educação bancária, em que os
estudantes eram sujeitos passivos. Segundo Freire (1987), a
educação bancária preza pela manutenção do status quo e tem
algumas características na sua realização, como, por exemplo, o
aluno é visto como vasilhas vazias, em que o professor vai fazer
depósitos de informações em vez de educá-los. Nesse método
tradicional, o professor faz um comunicado, ele sempre será aquele
que sabe, e os educandos, os que não sabem, entre outras. Logo, na
educação bancária, os sujeitos são direcionados para a adaptação,
o ajustamento.
A partir do exposto, Freire (1987) defende a educação
libertadora, que emancipe os sujeitos. Essa perspectiva faz com que
o aluno seja ativo, pois ele tem como elemento norteador a
educação como prática da liberdade, o diálogo como caminho para
que os homens ganhem significação sobre a realidade discutida, a
relação professor aluno é horizontal, entre outras. Nessa orientação
didático-pedagógica ativa, a educação dialógica promove a
transformação de forma sistematizada. Além disso, são
acrescentados aos sujeitos elementos mais sofisticados de
elaboração para que promovam a transformação da realidade.
Desse modo, durante as aulas, foi estimulado o diálogo e a
construção coletiva de possibilidades didático-pedagógicas, como
a ideia de unidade entre os povos da educação formal, escola e a
56
universidade, como foi o caso do uso de uma dinâmica de grupo
para desenvolver essa capacidade de diálogo e de trabalho na
dimensão da coletividade (Ver Figura 4).
Considerações finais
57
Geografia para atuar nas escolas de forma mais autônoma e com
planejamento. Diante do exposto, a didática consiste em auxiliar os
docentes a criar estratégias pedagógicas que corroboram para
facilitar o processo de ensino e aprendizagem, pois um profissional
com boa formação na licenciatura entende que não há aula com
qualidade sem planejamento.
Logo, o artigo apresentou um projeto realizado com alunos do
curso de licenciatura em Geografia, mostrando as possibilidades de
se desenvolver ações pedagógicas que estimulem os discentes a
desenvolver práticas inovadoras diferentes das metodologias
tradicionais. Assim, o trabalho propôs o uso de novas tecnologias e
metodologias ativas que visam a criar ações pedagógicas por meio
de situações de simulação de aula que poderão ser aplicadas no
ensino de Geografia. As ações mostraram suas potencialidades
para atuação crítico-reflexiva e propositiva dos futuros professores
de Geografia em sala de aula.
Referências
58
OLIVEIRA PEREIRA, Ana Maria; KUENZER, Acacia Zeneida;
TEIXEIRA, Adriano Canabarro. Metodologias ativas nas aulas de
Geografia no Ensino Médio como estímulo ao protagonismo
juvenil. Educação. Santa Maria-RS, n. 44, 2019.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. Cidade:
Cortez Editora, 2022.
YOUNG, Michael. Para que servem as escolas? Educação &
sociedade, v. 28, p. 1287-1302, 2007.
59
60
CAPÍTULO 4: ATORES DA GEOGRAFIA ESCOLAR:
A BNCC, OS PROFESSORES E OS ESTUDANTES
DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Introdução
61
etapas da Educação Infantil (EI) e do Ensino Fundamental (EF)
aprovado e homologado em dezembro de 2017, e o trecho referente
ao Ensino Médio (EM) homologado em dezembro de 2018. Antes
dela, o documento norteador do currículo brasileiro eram os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil, 1997), que
serviam como um referencial para as diferentes disciplinas e temas
transversais e não tinham caráter normativo.
O principal objetivo apresentado pela BNCC é servir de
“referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas
e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares”
(Brasil, 2018a, p. 8), permitindo um alinhamento de políticas e
ações “referentes à formação de professores, à avaliação, à
elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta
de infraestrutura adequada” (Brasil, 2018a, p. 8). Para tanto, o
documento adota como foco o trabalho para o desenvolvimento de
competências e afirma seguir a abordagem e as orientações das
avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Alunos da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(PISA/OCDE) e do Laboratório Latino-americano de Avaliação da
Qualidade da Educação para a América Latina, ligado à
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) (Brasil, 2018a).
Pensando essa discussão sob o ponto de vista da Geografia,
surgem as questões: como a BNCC de Geografia incorpora e
apresenta as ideias de um currículo padronizado voltado para o
desenvolvimento de competências? Qual o papel dos professores
diante desse contexto? Qual o papel da Geografia escolar? Partindo
do princípio de que o ensino da Geografia deve contribuir para a
formação de cidadãos que, por meio do olhar e raciocínio
geográficos, reflitam sobre sua situação, a sociedade e o espaço ao
seu redor e atuem como agentes transformadores, este trabalho tem
como objetivo discutir as tendências presentes na BNCC de
Geografia do EF e o papel de professores e estudantes diante delas.
62
Como metodologia, foi realizada uma análise documental da
BNCC, além de um levantamento bibliográfico e leitura de textos
críticos a ela, bem como de textos sobre a importância da Geografia
escolar e o ensino de Geografia. Também foram assistidas palestras
ministradas por uma das integrantes técnicas da comissão de
elaboração da Base. Por se tratar de uma pesquisa no campo da
Geografia, apesar de não se ter aqui a pretensão de discutir a
Geografia como ciência, foi dispensada uma atenção especial à
parte do documento relacionada a essa ciência no EF, incluindo
uma entrevista com uma de suas autoras. Além disso, ressalta-se
aqui que este trabalho foi parcialmente extraído e adaptado da tese
de doutoramento da autora (Soares, 20223), defendida em outubro
de 2022.
Os resultados da análise e a fundamentação teórica que lhe
serviram de base são apresentados neste texto, organizado em três
partes, sendo que a primeira, denominada A Geografia da BNCC,
apresenta brevemente as principais características da BNCC de
Geografia (etapa do EF); a segunda, intitulada A Geografia dos
professores de Geografia, traz um panorama sobre a formação dos
professores de Geografia no Brasil e características destes
profissionais; e a terceira, nomeada A Geografia para os estudantes,
apresenta a importância da Geografia escolar na formação dos
alunos como agentes transformadores da realidade. Nas
considerações finais, são apresentadas as correlações entre as três
seções, além de algumas reflexões sobre elas.
A Geografia da BNCC
63
Paganelli; Cacete, 2009). Assim, entende-se aqui que o ensino da
Geografia na educação básica contribui para a formação de
cidadãos que, por meio do olhar e raciocínio geográficos,
desenvolvam um pensamento espacial que permita enxergar e
refletir sobre a sua situação, a sociedade e o espaço ao seu redor e
atuem como agentes transformadores.
O texto introdutório da BNCC de Geografia afirma que
“estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o
mundo em que se vive” (Brasil, 2018a, p. 359), tendo como eixo
central o conceito de raciocínio geográfico, explicado no trecho a
seguir:
64
Ao longo do texto, a BNCC determina que os principais
conceitos da Geografia contemporânea, que devem servir de base
para a Geografia escolar, são: espaço, território, lugar, região,
natureza e paisagem (não há a apresentação de definição ou
discussão teórica sobre esses conceitos). Os conteúdos da Geografia
(denominados na BNCC como objetos de conhecimento) foram
organizados em cinco unidades temáticas para o Ensino
Fundamental, a saber: (1) O sujeito e seu lugar no mundo; (2)
Conexões e escalas; (3) Mundo do trabalho; (4) Formas de
representação e pensamento espacial; e (5) Natureza, ambientes e
qualidade de vida.
Apesar de não apresentar uma problematização, o documento
traz uma caracterização de cada uma dessas cinco unidades, sendo
que em O sujeito e seu lugar no mundo, descreve que é esperado
que “as crianças percebam e compreendam a dinâmica de suas
relações sociais e étnico-raciais, identificando-se com a sua
comunidade e respeitando os diferentes contextos socioculturais”
e que “ao tratar do conceito de espaço, estimula-se o
desenvolvimento das relações espaciais topológicas, projetivas e
euclidianas” (Brasil, 2018a, p. 362) (o texto não define para o
professor os conceitos de topológico, projetivo ou euclidiano).
A unidade Conexões e escalas enfoca as relações e interações
multiescalares entre pessoas e espaços (cita os níveis local e global),
além da conexão entre os componentes da sociedade, do meio físico
natural e “entre quaisquer elementos que constituem um conjunto
na superfície terrestre e que explicam um lugar na sua totalidade”
(Brasil, 2018a, p. 362).
Na unidade Mundo do trabalho, observa-se a ênfase nas novas
tecnologias como um fator transformador da realidade,
considerando-as “fator desencadeador de mudanças substanciais
nas relações de trabalho, na geração de emprego e distribuição de
renda em diferentes escalas” (Brasil, 2018a, p. 361). As reflexões
sobre a desigualdade na distribuição de renda e sobre o fato de
essas mudanças não serem resultado de uma suposta
65
transformação natural e espontânea da sociedade (Dardot; Laval,
2016; Hayek, 1990) ficam a cargo do professor.
A unidade Formas de representação e pensamento espacial
destaca a leitura e interpretação de mapas, gráficos, esquemas e
imagens utilizados pela Geografia e as habilidades que devem ser
desenvolvidas: localizar, correlacionar, diferenciar e até elaborar
mapas temáticos e outras representações espaciais. A noção de
extensão também é mencionada.
Por fim, a unidade Natureza, ambientes e qualidade de vida
destaca a importância da articulação entre a Geografia Física e
Humana, com ênfase nos processos físico-naturais do planeta,
considerando a extração de recursos, os impactos socioambientais
e as suas dimensões socioeconômicas e políticas. Apesar de
mencionar os fundamentos naturais do planeta, nota-se no trecho
explicativo uma certa tendência à visão de natureza como recurso:
“destacam-se as noções relativas à percepção do meio físico
natural e de seus recursos"; "inúmeras possibilidades de uso ao
transformá-la em recursos"; “conhecer os fundamentos naturais
do planeta e as transformações impostas pelas atividades
humanas na dinâmica físico-natural, inclusive no contexto urbano
e rural” (Brasil, 2018a, p. 364).
É possível perceber a preocupação, em diversos trechos da
Base de Geografia, de inserir o aluno em uma posição de cidadão
ativo na transformação individual, sobretudo de sua própria
realidade. O texto também sugere ideias como alteridade,
solidariedade e criticidade, como pode ser visto no excerto:
66
atuem em regras de convivência e proponham ações de
intervenção na realidade “visando à melhoria da coletividade e
do bem comum” (Brasil, 2018a, p. 364). Além disso, propõe que os
alunos dos anos finais do EF “compreendam os processos que
resultaram na desigualdade social, assumindo a responsabilidade
de transformação da atual realidade, fundamentando suas ações
em princípios democráticos, solidários e de justiça” (Brasil, 2018a,
p. 364).
O texto se encerra evidenciando a importância do exercício da
cidadania e da ação individual como ferramenta social concreta:
“ao observar e analisar essas ações, visando a interesses individuais
(práticas espaciais), espera-se que os alunos estabeleçam relações
de alteridade e de modo de vida em diferentes tempos” (Brasil,
2018a, p. 365), ou seja, parte-se da ideia de transformação
individual para se atingir uma transformação coletiva.
Ao final dos textos explicativos, a BNCC traz quadros nos
quais relaciona as unidades temáticas, os objetos de conhecimento
e as habilidades a serem desenvolvidas em cada ano do EF, como
pode ser visto no exemplo a seguir (Figura 1).
67
Figura 1 – Unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades para o 6º
ano na BNCC
68
Fonte: Brasil (2018a, p. 384-385)
69
Assim, é importante que, junto à lista de habilidades e objetos
de conhecimento que a BNCC apresenta, os professores de
Geografia considerem a realidade dos seus estudantes, o espaço
ocupado pela escola e pela comunidade escolar e que, a partir de
identificações e análises do espaço vivido e conhecido, sejam
desenvolvidos processos de aprendizagem que envolvam os
conceitos da Geografia, suas definições e aplicações, evitando um
possível esvaziamento de conteúdos.
70
A Geografia propagava que o bom cidadão era aquele que não se opunha à
afirmação do Estado vigente (Girotto; Mormul, 2019, p. 422).
71
Brasil (EF – anos finais e EM), estando a maioria concentrada nos
Estados do Sudeste e Nordeste do país. O mesmo estudo revelou
que a maioria dos professores de Geografia não participa de
programas de formação continuada, especialização, mestrado ou
doutorado, conforme mostra a Figura 2.
72
A atribuição de aulas de Geografia a profissionais não
formados na área traz perdas conceituais e metodológicas para o
processo de aprendizagem e para a formação dos estudantes.
Como Girotto e Mormul (2019, p. 424) apontam, o cenário em que
professores de Geografia formados em outras áreas, “que não
dominam os conteúdos, os processos de ensino e aprendizagem,
elementos inerentes à formação do profissional professor de
Geografia, é uma situação indesejável”, pois cada área do
conhecimento “possui especificidades que precisam ser
respeitadas”.
Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009) ressaltam que, entre as
especificidades que são esperadas nos professores de Geografia,
estão uma sólida formação acadêmica, pedagógica e humanista que
garantam um domínio do conhecimento científico, a atuação
individual e em grupo (cooperação), a preocupação contínua de
articulação teórico-prática e o princípio da interação entre ensino e
pesquisa perante as demandas da Geografia. As autoras ainda
pontuam que:
73
enxergam as ideias freirianas como ultrapassadas e esquerdistas, e
que as novas políticas para formação de professores apresentadas
na Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores
da Educação Básica (BNC-Formação4), têm foco nos pressupostos
de competência que envolvem a BNCC.
Deixar de lado ou secundarizar a formação humanista do
professor para enfatizar uma formação voltada para o
desenvolvimento do trabalho com competências deve ser visto com
muito cuidado, em especial com relação à Geografia, considerando-
se que metade dos professores atuantes não é formada na área.
Valorizar a formação docente, inicial e continuada, bem como sua
práxis, é fundamental. A formação do professor em sua área de
atuação promove o reconhecimento do conhecimento acadêmico-
científico, do saber sistematizado, do saber escolar, e uma formação
humanista para a autonomia e para a liberdade é imprescindível
para o estabelecimento definitivo de uma educação para a
transformação social.
74
espaço vivido (Callai, 2005; Castellar, 2017). Como apontado pelo
pesquisador Hugo de Carvalho Sobrinho (2017, p. 2),
75
Dessa maneira, segundo Cavalcanti, a Geografia abre caminho
para a atividade intelectual “no sentido de construir conhecimentos,
que extrapolam a experiência, o imediato e o visível, e que é capaz
de estabelecer relações e conexões entre diferentes aspectos e
manifestações do real” (Cavalcanti, 2013, p. 57).
Para que isso seja possível no âmbito escolar, é preciso que haja
uma formação docente contínua e de excelência, atrelada aos
programas de pesquisa e extensão das universidades, que resulte
em profissionais atualizados e questionadores e materiais didáticos
adequados a essa visão de educação. Como aponta Cavalcanti
(2013, p. 59), a importância do ensino de Geografia, para o
estudante e seu desenvolvimento, “não é algo dado, é necessário
que o professor tenha clareza de que ele deve fazer um esforço
intelectual no sentido de demonstrar ao aluno as possibilidades do
pensamento teórico-científico para a vida cotidiana”.
A categoria “lugar” também é de extrema importância para a
aprendizagem significativa no que se refere à Geografia escolar.
Nesse sentido, a professora Helena Callai (2005, p. 234) aponta:
“Como ler o mundo da vida? Sem dúvida, partindo do lugar,
considerando a realidade concreta do espaço vivido”. A autora
ainda destaca que ler a paisagem exige critérios, como a escala de
análise, a leitura e o estudo do lugar, a construção e apropriação de
conceitos, o desenvolvimento de habilidades de análise geográfica,
o reconhecimento da cultura e identidade e a
alfabetização/letramento cartográficos, por exemplo. Carvalho
Sobrinho (2017, p. 5), complementa:
76
olhar/raciocínio geográfico e para que os estudantes desenvolvam
a capacidade de reflexão sobre a sua situação, sobre as relações
espaciais ao seu redor e sobre seu papel social. Além disso, colabora
para que essa reflexão possa resultar em cidadãos transformadores
da própria condição e da sociedade, que saibam lutar pela defesa
da democracia, da solidariedade e da justiça social e ambiental.
Considerações finais
77
Referências
78
66, p. 227-247, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cced
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80
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81
82
CAPÍTULO 5: ANÁLISE DOS ESPAÇOS
GEOGRÁFICOS CULTURAIS DA UNB
SOB O OLHAR DAS OBRAS DE ATHOS BULCÃO E
JAIME GOLUBOV
Fábio da Silva
Ana Paula de Rezende Navarro
Introdução
83
O objetivo geral deste artigo é reconhecer as obras e os artistas
Athos Bulcão e Golubov e os espaços integrados à arquitetura e
paisagem no campus Darcy Ribeiro a fim de promover a
aprendizagem em Geografia. Esta pesquisa busca promover
facilitadores para divulgação dos artistas e possibilita a
oportunidade de um conhecimento mais aprofundado das obras
que se encontram no campus da UnB. De forma específica, projeta-
se criar possibilidades de ação para preservação e conservação do
patrimônio que lá se encontra; dar visibilidade e reconhecimento
às memórias dos artistas; sensibilizar o público e proporcionar o
desenvolvimento de um olhar diferenciado para o lugar. Desse
modo, os autores mergulharam sob este artigo com o propósito de
responder se a comunidade da UnB e os brasilienses em geral
reconhecem os autores dos murais que estão no campus Darcy
Ribeiro e, como isso, poder contribuir para a educação geográfica
84
Geografia são ciências, sendo que ambas lidam com a imagem e o
espaço, acreditamos que um trabalho multi e interdisciplinar entre
ambas as áreas de conhecimento pode colaborar para a leitura do
mundo dos estudantes.
Para Gil Filho (2003, p. 5), “a espacialidade seria construída a
partir do imbricamento do movimento tríade do espaço percebido,
concebido e vivido”. Esse tema na Geografia pode ser encontrado
na Nova Geografia Cultural proposta por Cosgrove (1998), em sua
obra "A geografia está em toda parte” .
As obras de arte analisadas neste artigo são patrimônios
culturais de Brasília e da UnB, que cumprem a função de
representar simbolicamente nossa identidade e memória, de
acordo com Oliveira (2008). Acreditamos que elas podem ser
usadas para a educação geográfica porque podem colaborar para o
ensino de Geografia.
Para o desenvolvimento deste artigo, foram utilizadas
pesquisas bibliográficas realizada por Silva (2009) e Navarro (2020),
que focaram na categoria memória; abordaremos o pensamento de
Halbwachs (1990), para quem os espaços físicos são fundamentais
para a reconstrução da memória, seja ela individual ou coletiva,
uma vez que a memória coletiva é o resultado do reconhecimento
e da reconstrução das lembranças comuns.
A Universidade de Brasília é o recorte espacial da pesquisa
porque possui como pilar uma educação humanista e
independente. Está localizada na Asa Norte de Brasília, centro da
capital do Brasil, e seu campus leva o nome do seu criador, Darcy
Ribeiro. O lugar possui um valioso patrimônio arquitetônico e
artístico que cativa e conecta toda a comunidade. Na instituição,
localizamos as obras de Athos e Golubov, que estão integradas à
arquitetura e à paisagem cultural no campus Darcy Ribeiro.
No edifício da Fundação Fiocruz e no Instituto de Artes (IDA)
existem murais de Athos Bulcão. Já os murais de Golubov se
localizam no posto Petrobrás e no Centro de Vivência do Campus
Darcy Ribeiro, como pode ser visto no Mapa 1 a seguir.
85
Mapa 1 – Localização de obras
86
Instituto de Artes (IdA)
Posto Ecológico
Centro de Vivência
87
serviços, como livraria, café, atendimento bancário e é rodeado por
jardins e uma área verde ampla e agradável (Navarro, 2021).
Arte e memória
88
indivíduo. Desse modo, muitas vezes, ao fazer arte o homem
propõe mudar a vida e não a interpretar.
O belo é o que agrada universalmente o seu conceito de
educação ao juízo do gosto. Para isso acontecer, requer o
conhecimento da História, consciência histórica, a politização do
sujeito inserido na sociedade. Nesse ínterim, a Geografia, ao se unir
à arte, ganha elementos novos para sua forma de analisar a
realidade.
Em favor da Educação Patrimonial a arte promove vínculos
vitais de pertencimento e cuidado. Durante o Congresso
Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) (1931), na
Conferência de Atenas, já se concluía que a melhor garantia de
conservação de monumentos e obras de arte vem do respeito e
interesse do próprio povo.
Halbwachs (1990) enfatiza a força dos diferentes pontos de
referência que estruturam a nossa memória e que se inserem na
memória da coletividade a que pertencemos. Dessa forma,
acreditamos que a memória coletiva pode desenvolver e aflorar a
partir de ações desenvolvidas pela educação como ponte entre o
passado, o presente e o futuro, estimulando o conhecimento, a
apreciação, a apropriação e a valorização da herança cultural com
instrumentos para fortalecer sentimentos de identidade, laços
sociais e responsabilidade para a sustentabilidade dos bens
patrimoniais. O patrimônio da UnB está relacionado à nossa
herança cultural da comunidade, individual e coletiva. O fato é que
a memória não conserva o passado, mas o reencontra, o reconstrói,
sempre a partir do presente.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) externou a importância da realização de ações educativas
como estratégia de proteção e de preservação patrimonial. Um dos
objetivos de se propor a Educação Patrimonial no ensino de
Geografia é (re) construir o sentido de pertencimento do
patrimônio local. Apesar dos debates sobre o patrimônio, ter o
ensino da Geografia com a Educação Patrimonial e pesquisar o
lugar é muito importante como possibilidade de construção de
89
identidade e de pertencimento, e o papel dessa área do
conhecimento é apresentar possibilidades efetivas de promover a
Educação Patrimonial na universidade. Como exemplo, podemos
ouvir o que os universitários pensam sobre o seu entorno, pois isso
dá suporte para o conhecimento e a valorização da cultura que se
encontra no espaço geográfico.
Quanto às experiências participativas em educação e
patrimônio cultural a partir dos trabalhos de Athos Bulcão e
Golubov, no Campus Darcy Ribeiro, ambos os artistas são
referência e constituem um marco de identidade da Universidade
de Brasília.
Os painéis de azulejo criado por Athos Bulcão e os painéis de
Jaime Golubov são obras que possuem um papel simbólico e
consistem em tornar perceptível uma imagem para que os cidadãos
se apropriem dela e desenvolvam um sentido de pertencimento ao
lugar, à coletividade social. Além disso, são condições inerentes à
memória da UnB. Os murais aqui apresentados, além do caráter
simbólico, melhoram a qualidade do espaço público e,
consequentemente, a qualidade de vida dos seus utilizadores,
porque são democráticos e oferecem reflexões estéticas, apreciação
a um público amplo, que pode ou não ter costumes ou acessos a
museus e galerias.
Em ambos os painéis não encontramos nenhuma identificação
dos autores das obras, e acreditamos que se faz necessária a
identificação, pois quando nos deparamos com algumas obras de
arte que não conhecemos, ao lermos sua placa de identificação,
podemos aprender um pouco sobre a arte, a confecção e o autor. A
identificação adequada das obras permitirá ao público diferentes
leituras a fim de propiciar um estímulo para se pensar a realidade
atual, sendo esse o papel da arte, ou seja, como um dos caminhos
de oportunidade de aprendizagem ao longo da vida e reflexão
sobre a preservação do patrimônio.
90
Vida e obra de Athos Bulcão e Jaime Golubov
a) Athos Bulcão
Fonte: https://www.fundathos.org.br/athos-bulcao
91
Athos Bulcão tem como marca a utilização de azulejos nas suas
criações, com formas geométricas, e em alguns momentos uma
filosofia artística que deixava os operários trabalharem livremente
para que a montagem e o resultado dos trabalhos tivessem um
aspecto lúdico, capaz de interferir na interpretação e compreensão
da realidade, sem perder de vista a inovação e a suavidade, o novo
e em outro preparava um espelho, orientações que os operários
deveriam seguir (Silva, 2009).
Suas criações se contextualizam entre a arte e a arquitetura e
se inserem na década de 1950, momento em que surge a
arquitetura moderna no Brasil. Em 1958, chegou a Brasília com
Oscar Niemeyer e sua equipe e criou os azulejos da Igrejinha
Nossa Senhora de Fátima e do Brasília Palace Hotel. Em 1965,
leciona no Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília.
Na sua aproximação com o campo da educação, pôde realizar os
murais para duas Escolas Classes em Brasília, na 407/408 Norte e
315/316 Sul (Silva, 2009).
92
Figura 2 – Mural da Fiocruz
Fonte: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/938370/fiocruz-ceplan-plus-coga-
arquitetura
93
Os azulejos têm as formas das colunas do Palácio da Alvorada
porque Athos Bulcão quis homenagear o centenário do arquiteto
Oscar Niemeyer. O responsável por assentar os azulejos é o
pedreiro João Alves dos Santos. Quando chegou a Brasília, João
Santos foi ao Congresso Nacional ver um dos painéis de Athos. O
pedreiro estudou a obra e recebeu orientações para a montagem do
painel da diretora-executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria
Cabral. O mestre azulejeiro tem uma oficina no Rio de Janeiro e
trabalhou com o artista plástico por mais de 30 anos (Silva, 2009).
O mural da Fiocruz de Athos Bulcão atinge uma parede de
25m de largura por 5m de altura, sendo composto por azulejos
bicromáticos e brancos de 64 módulos de 56 azulejos cada. O prédio
conta com jardins, árvores e bancos, sendo um lugar muito
agradável.
Fonte: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br
94
Bulcão) no primeiro padrão estão em verde (nº 64 na escala
cromática de Athos Bulcão) no segundo e vice-versa.
O padrão consiste nas figuras geométricas de triângulos, arcos
e semicírculos, nas cores verde e azul, estampadas sobre fundo
branco. O semicírculo está situado no centro de um dos lados da
peça e apresenta seu contorno destacado. Os outros dois elementos
– um arco formado por quatro linhas e um triângulo – estão
localizados na outra metade do azulejo. Um dos vértices do
triângulo toca a extremidade do arco.
Fonte: http://maiscultura.unb.br/oficina1
95
Figura 6 – Fachada do IDA (UnB)
Fonte: http://maiscultura.unb.br/oficina1
96
Nasceu no Rio de Janeiro, em Ipanema, em 1940. Filho de Isaac
Golubov e Rosa Golubov. Pai de Thaiz Aquino Golubov, Arthur
Aquino Golubov e Letícia Tootington.
Como artista, era desafiador. Escreveu, esculpiu, viveu e lutou
a favor da arte, e nesse processo, encantou-se pelo conhecimento
da geometria, cujo domínio lhe propiciou uma grande
compreensão do universo (Navarro, 2021). Estava em constante
busca pela relação entre universalidade, homem, matemática,
geometria e funcionalidade. Escreveu, esculpiu, desenhou, se
tornou arquiteto geômetra.
Formou-se em 1966, na FAU/UnB, na 1ª turma. Foi aluno de
Athos Bulcão, Elvin Donald Mackay Dubugras, Luis Humberto
Martins Pereira.
97
frente ao surgimento da própria fundação da cidade de Brasília. O
mural é composto de azulejaria integrada à arquitetura, vinculada
ao contexto social e cultural da universidade e, consequentemente,
da cidade de Brasília e à força desses lugares (Assman, 2011).
O mural é composto por cerâmica 7cm X 7cm em branco e
amarelo, com uma área total 25m². Esse mural faz parte de um
intenso estudo de Golubov relacionado à geometria descritiva e
matemática, voltado para a integração da arquitetura, um conjunto
arquitetônico marcado por rigor estético. O posto serve como uma
escola de treinamento, com normas de garantia da qualidade do
combustível.
Mural a Maré
98
alguns momentos nos remete a um “labirinto tridimensional”, e
possui equilíbrio simétrico, pois na obra existe a mesma
quantidade de vazios e cheios.
O azulejo que compõe o mural é peça única, bidimensional,
abstrato geométrico e que através da monocromia, linhas e formas
torna-se um movimento perceptivo vibratório. É um mural objetivo
e inteligente, onde o criativo e o receptivo, o I Ching, o Tao, o Mao
Tsé, o louco do tarô, o Tai-Chi, o tabuleiro de xadrez, estão
presentes. “A lógica, a matemática, a definição do universo regido
pelas leis da teoria combinatória, o mega byte e a computação
possibilitaram o afloramento deste trabalho” (Golubov,1996). Essa
relação entre universalidade, homem, matemática, geometria e
funcionalidade se torna uma equação fundamental para o design e
a arquitetura. Na história da luta que o homem vem travando com
a natureza, a técnica e a arte caminham juntas, quando não se
confundem (Navarro, 2021).
Platão, ao igualar arte e intenção, levanta o véu sobre o que mais
tarde virá a acontecer com a nossa linguagem. Ela será desenho,
mas também desígnio, intenção. Pois a arte é obra do homem e não
da natureza, um significado e uma semântica, dinâmicos, que
agitam a palavra pelo conflito que ela carrega consigo ao ser a
expressão de uma linguagem para a técnica e de uma linguagem
para a arte.
Nos painéis de Athos Bulcão, muitas vezes, quem assentava os
azulejos acabava participando da obra. Nesse caso, não posso
afirmar que houve o mesmo procedimento. Parto da hipótese de
que não, pois o produto é elaborado com profundidade e nos
remete à sensação de tridimensão, portanto acredito que quem
assentou os azulejos recebeu um esquema, espelho da forma e
posicionamento de como qual deveria ser colocado.
Após apreciarmos os quatro murais, podemos observar que os
princípios geradores dos trabalhos de Golubov e Athos Bulcão
eram os mesmos. Os trabalhos de ambos os artistas são referência
e constituem um marco de identidade da UnB no campus Darcy
Ribeiro, pois o patrimônio cultural está relacionado à herança
99
cultural de um povo, de uma comunidade, seja ela individual ou
coletiva.
Reconhecemos os murais como pontos de referência, como
lugares de memória sugeridos por Nora (1981), que afirma que “a
memória se estende a lugares, como a história em acontecimentos”.
A arte é e sempre será necessária, pois o homem busca conhecer e
mudar o mundo. O homem anseia unir na arte o seu “EU”, com
uma existência humana coletiva e por tornar social a sua
individualidade (Fischer, 1976, p. 13). Sendo essa a definição da
arte como meio de tornar-se um com o todo da realidade.
Considerações finais
100
Com a publicação deste artigo, desejamos estimular a
memória coletiva, que nos parece adormecida, esquecida, abrindo
novas possibilidades e interesses para futuras pesquisas voltadas
para o tema. Pretende-se, também, desenvolver nas pessoas o
respeito à preservação das obras dos artistas e que o acervo seja
disponibilizado ao público.
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102
CAPÍTULO 6: O USO DE ÁREA VERDE DA CIDADE
PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA8
Introdução
103
processo de urbanização, devido à corrida rumo à modernização,
que rompe a relação homem-natureza.
O presente trabalho trata da utilização de uma área verde
urbana da Região Administrativa (RA) do Gama Distrito Federal
para o ensino de Geografia, e tem como objetivo analisar o
resultado da atividade prática de campo desenvolvida em aulas de
Geografia, com ação ativa dos estudantes na implantação de um
jardim de frutos do cerrado, no espaço da área verde urbana da RA
Gama-DF e o seu impacto na comunidade local. A ação perpassa
pela tentativa de manter vivo na memória do estudante o
conhecimento das espécies nativas do bioma cerrado da região e
dos conceitos geográficos dialogados em aulas teóricas com ênfase
na ação.
Ressalta-se que dar importância às áreas verdes dos espaços
urbanos da cidade está diretamente ligada à intenção educativa do
ensino de Geografia nos espaços não formais de aprendizagem.
Dessa maneira, o que justifica este trabalho é a premissa de
desenvolver a percepção ambiental dos sujeitos, por meio da
valorização e conservação da vegetação urbana.
A atividade foi realizada com estudantes do 6º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública e com pessoas da comunidade
local. Utilizou-se a metodologia qualitativa de caráter exploratório
com a participação ativa da pesquisadora. Como instrumentos de
pesquisa, foram aplicados questionários e realizadas entrevistas
semiestruturadas com os sujeitos participantes da pesquisa. Nesse
contexto, percebe-se a necessidade de a escola se apropriar das
áreas verdes urbanas enquanto espaços públicos para desenvolver
diferentes aprendizagens com os estudantes, as quais
potencializam a compreensão da dinâmica da cidade e suas
significâncias, no sentido cartográfico, do biogeográfico e de
relações sociais em lugares informais de ensino.
A existência desses espaços na malha urbana em contraste com
as edificações pode ser considerada uma vantagem de se viver em
cidades, explorar e aprender no cotidiano dela. Conforme
Cavalcanti (2008), a cidade pode ser pensada como lugar de
104
formação, decorrente da complexidade e dos fenômenos
geográficos intrínsecos nos espaços da cidade. Esses locais podem
ser vistos como locais de encontro com pessoas e de estudantes em
experiências escolares, que podem estudar a biota do bioma
regional e apreciar a vegetação exótica em locais públicos que estão
integrados no seu lugar de vivência. Segundo Souza e Chiapetti
(2012, p. 7),
Metodologia
105
tendências de comportamento etc. [...] com o objetivo de fazer os indivíduos
compreenderem a importância da investigação sem ocultar o seu objetivo.
Resultados e discussão
106
se deu em três momentos, a saber: planejamento da ação,
fundamentação e discussão mediada, aplicação dos conhecimentos
no campo e avaliação dos obstáculos, com vistas a alcançar a
consolidação dos objetivos do estudo. Para a efetivação do estudo,
foram aplicadas aulas teóricas de Geografia no espaço escolar e uma
aula prática de campo no centro da cidade local, no total de 10 aulas.
O primeiro momento se desenvolveu com o planejamento da
ação e com a compreensão dos fundamentos teóricos junto aos
estudantes, com pesquisa preliminar e discussão em sala de aula;
no segundo momento desenvolveu-se a atividade prática e a
avaliação; na sequência, mobilizou-se os estudantes para entender
a problemática, os fenômenos geográficos e ambientais no contexto
da cidade, de forma crítico-reflexiva. De acordo com Straforini
(2018, p. 175), o ensino crítico e reflexivo tem como intenção
“possibilitar aos escolares a compreensão da espacialidade dos
fenômenos, de modo que possam operar os conhecimentos
geográficos em sua vida cotidiana e produzir práticas espaciais
insurgentes” de forma que, a partir da análise de suas realidades
sociais, históricas e culturais, eles sejam capazes de criar
possibilidades reais para transformá-las.
Desse modo, se elencou a vegetação do cerrado no contexto da
cidade do Gama e a valorização da vegetação existente nos espaços
das áreas verdes urbanas pela comunidade e pelos sujeitos
envolvidos no processo de pesquisa. Nesse contexto, os
participantes envolvidos na condução da pesquisa contribuíram
tanto para a coleta de dados quanto para a análise dos resultados.
Este estudo se desdobra com as demais técnicas de ensino,
como aulas dialogadas e expositivas, uso de recursos tecnológicos,
como maquete 3D da RA Gama-DF, Tecnologias Digitais da
Informação e comunicação (TDICs), como o Google Earth, para
explorar e mapear a área de estudo, a área verde urbana localizada
na parte leste da cidade, fazendo uso da técnica de plantio de
mudas nativas do cerrado.
Para isso, fundamentou-se os conteúdos estudados conforme
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de Geografia do 6º ano
107
do Ensino Fundamental para o estudo do cerrado. As unidades
temáticas: Conexões e escalas; Natureza, ambientes e qualidade de
vida, suas respectivas habilidades; (EF06GE04B) identificar os
componentes da morfologia das bacias e das redes hidrográficas,
analisar as relações com a cobertura vegetal, a topografia e a
ocupação do solo urbano e rural; (EF06GE05) relacionar padrões
climáticos, tipos de solo, relevo e formações vegetais; (EF06GE11)
analisar como as sociedades interagem com a natureza, incluindo a
transformação da biodiversidade local.
108
investigando um dos seguintes temas: solo, hidrografia, relevo,
cartografia, vegetação e interação da sociedade local com o cerrado.
Dessa forma, os estudantes, orientados pela professora e a
pesquisadora, prepararam o plano de execução da atividade
prática de campo, com a elaboração de mapa da área para
mapeamento das mudas frutíferas do cerrado, selecionadas com
critério de importância para alimentação das aves silvestres da
região; elaboração de questionário para coletar informações da
comunidade local a respeito dos conhecimentos sobre o bioma
cerrado e suas subjetividades em relação à percepção ambiental;
produção de gotejadores; solicitação de adubo junto a
administração da cidade e aquisição por parte da pesquisadora de
mudas frutíferas do cerrado.
No decorrer do primeiro momento, percebeu-se que o uso de
imagens projetadas por meio do datashow motivou os sujeitos a se
atentarem às aulas expositivas referentes à biodiversidade do
cerrado, composição do solo, do relevo e hidrografia constituintes
do DF. Também se percebeu o pouco de familiaridade dos
estudantes no uso de geotecnologias, como o Google Earth, para
percorrer virtualmente lugares e saber verificar a localização
geográfica, a escala da área a ser desenvolvida na atividade prática.
Nesse viés, compreende-se que a utilização das (TDICs) são
importantes ferramentas para o ensino de Geografia,
possibilitando um ensino mais atraente, de maior interação virtual
com o tema estudado. Observa-se que [...] a BNCC (Brasil, 2018)
ressalta a utilização de tecnologias na educação básica para
desenvolver as habilidades no tratamento tecnológico para a
formação cidadã dos sujeitos:
109
Com isso, também se observou o engajamento e o
envolvimento dos sujeitos durante os questionamentos levantados
em relação às áreas verdes urbanas. Eles concordaram que a
arborização urbana, em específico, com a manutenção da vegetação
do cerrado, é pertinente por melhorar o clima na área local e por
proporcionar à comunidade conhecer algumas espécies do cerrado
que se adaptam bem ao ambiente urbano. Logo, a constatação,
segundo Moran (2018 p. 16), corrobora
110
verde urbana por meio da atividade prática de campo e instruções
de realização da técnica de plantio de mudas. A técnica de plantio
de mudas é bastante utilizada para a recuperação de áreas urbanas
degradadas. De acordo com Neto et al. (2004, p. 72),
111
Os materiais utilizados pelos grupos de estudantes para a
execução da atividade podem ser vistos na Figura 3 a seguir. O
material nº 1, Mapa da área de estudo contendo o mapeamento com
a indicação por pontos enumerados para os plantios das mudas de
frutíferas do cerrado para ser usado pelo grupo cartografia; o nº 2,
Adubo orgânico para ser usado pelos grupos solo e relevo; o nº 3,
21 garrafas pet contendo água (gotejadores de plantas) para serem
instalados nas mudas frutíferas do cerrado após os plantios, usadas
pelo grupo hidrografia; o nº 4, Mudas de frutíferas do cerrado
(selecionadas) para ser usadas pelo grupo vegetação.
112
que houvesse reconstrução dos saberes na prática sob a supervisão
da professora.
113
incerteza, seja proveniente dos limites de nosso entendimento, seja
inscrita nos fenômenos”. Incertezas e posicionamentos
contraditórios à prática docente podem impedir a operacionalização
de projetos no ambiente escolar. Nesse contexto, algumas
interferências foram superadas para o estudo não se interromper e,
de fato, acontecer no corrente ano letivo.
Em decorrência, a atividade prática de campo no contexto
escolar, se planejada com antecedência, é integrada às demais
práticas pedagógicas, desenvolvida com outras disciplinas.
Segundo Souza e Chiapetti (2012), a aula de campo proporciona aos
alunos a oportunidade de se envolverem como pesquisadores,
sujeitos ativos e participantes na construção do conhecimento,
descrevendo, analisando, refletindo e questionando o espaço
geográfico em que vivem junto à comunidade.
Além do contexto mencionando, verificou-se desafios
relacionados à aquisição e utilização de materiais tecnológicos e o
uso de metodologias ativas por parte do corpo docente da escola;
adversidades quanto à efetivação da aprendizagem dos conceitos
teóricos quando aplicados na prática com alguns sujeitos, os quais
explicitam as fragilidades conceituais contidos no currículo do 5º
ano, observando assim a necessidade de maior interesse e
compromisso com os estudos por parte dos estudantes.
Desse modo, o professor precisa estar aberto para superar os
desafios da prática de campo, como preconiza Moran (2015 p. 18):
“Os desafios bem planejados contribuem para mobilizar as
competências desejadas, intelectuais, emocionais, pessoais e
comunicacionais”. Logo, faz-se necessário entender os aspectos
relacionados à motivação dos estudantes, se aprofundar no uso de
metodologias que ativam a aprendizagem e focar no
desenvolvimento da autonomia da construção do conhecimento
dos alunos no contexto de suas vivências. Conforme pondera Freire
(1967, p. 93), “[...] que implica numa inserção na realidade, num
contato analítico com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e
vivê-lo plenamente, praticamente” e ativamente.
114
O processo da atividade prática de campo incentiva os
estudantes a pensar criticamente sobre o mundo e a desenvolver
suas próprias ideias e perspectivas sobre os fenômenos geográficos
e ambientais. Em suma, o trabalho de campo é essencial na
educação geográfica, pois oferece oportunidade de explorar e
entender o lugar de maneira significativa e refletir o mundo.
O terceiro momento se desdobra com a avaliação dos
obstáculos e a pontuação das chances de alcançar a consolidação
do objetivo do estudo, realizado em duas aulas seguintes, em que
os estudantes organizados em grupos, expuseram relatos, que
comprovam a mobilização do pensamento reflexivo-crítico, a
apreensão dos conceitos geográficos e o interesse por se
comprometer e se responsabilizar pela causa ambiental.
Como resultado da ação, apresenta-se relatos de sujeitos de
cada grupo de trabalho. Por questões éticas, eles serão identificados
com a inicial do grupo de trabalho, preservando a identidade dos
participantes da ação pedagógica. Assim, os dados coletados pelos
sujeitos em entrevista se registram pela inicial do tema pesquisado
pelo sujeito, da seguinte maneira: sujeito “R”, relevo; Sujeito “H”,
hidrografia; Sujeito “S”, solo; Sujeito “V”, vegetação e, por fim,
Sujeito “C”, cartografia. Os dados coletados em entrevistas
realizadas pelos sujeitos junto à comunidade local com a temática
cerrado serão apresentados em um outro artigo.
O Sujeito “R” expressou a seguinte consideração: “entendi que
o lugar que fomos para a aula com a turma, tem uma inclinação do relevo,
dava para ver que algumas mudas foram plantadas em lugares mais altos
e outras em lugares mais planos. Pareceu um mini mapa do Gama, me
lembrei da "Maquete” (Modelo Topográfico) “que a professora usou na
aula para explicar o relevo do Gama”. Logo, essa afirmação comprova
a teoria na prática, de acordo com CODEPLAN (2020, p. 22):
115
Dessa forma, entende-se que a utilização de materiais
tecnológicos proporciona a mobilização da memória, facilita os
sujeitos recordarem a teoria apresentada no material concreto da
maquete 3D, a singularidade da paisagem e a altimetria da cidade
do Gama-DF, assim como a consciência espacial e a compreensão
de escala. A partir da análise de imagens do Google Earth, foi
possível produzir um mapa constando o mapeamento de toda a
área plantada e identificar a localização das mudas. Ressalta-se que
a tecnologia permite integrar todos os espaços e tempos. Nessa
linha de raciocínio, Moran (2015 p. 16) retrata
116
do meio em que vivem ao se preocuparem em mudar a atitude
comportamental a fim de contribuir para evitar a escassez hídrica
e garantir o equilíbrio da vida no planeta.
O sujeito “S” demonstrou preocupação ao temer que as áreas
verdes da cidade sejam cogitadas para a implantação de espaços
públicos de uso comum, como quadras poliesportivas e quiosques.
Ele relatou que se preocupa com a relação homem-natureza diante
do avanço do processo de urbanização da cidade: “A implantação do
jardim frutíferas do cerrado pode trazer uma boa relação homem com a
natureza, porque depois que adubamos o solo, ele vai melhorar a
composição”. Acrescentou ainda que “o plantio das espécies nativas do
Cerrado nas áreas íngremes podem trazer diversos benefícios ao relevo do
gama-DF, como a melhoria da qualidade do solo, contribuindo para a
fixação de nutrientes”.
A ação foi muito importante para o sujeito “V”, identificada na
afirmação “ajudamos a transformar o espaço e criamos um ambiente de
convivência climaticamente agradável, limpo e bonito. Isto é saudável para
a convivência das pessoas. Além disso, o plantio de espécies nativas ajuda
a preservar a biodiversidade do Cerrado, as raízes das plantas ajudam a
fixar o solo, prevenindo a erosão, que é um problema comum em áreas
íngremes”. Haja vista que a valorização da paisagem urbana
promove na comunidade a sensação de bem-estar e eleva a
qualidade de vida. Neto et al. (2004, p. 66) salienta que
117
afirmação do Sujeito “V”, que se sentiu pessoa importante da cidade
pelo fato de plantar mudas nativas: “Futuramente veremos árvores com
frutas no lugar onde poderia ocorrer erosão”. Ele poderá acompanhar o
desenvolvimento das mudas e, com isso, perceber que a paisagem
desse espaço urbano foi modificada.
O uso de mapas para localizar a área de plantio e a marcação da
localização em que cada muda deveria ser plantada auxiliou a
aplicação prática dos conceitos cartográficos, como topografia,
orientação e escala, direção e sistema de coordenadas. Dessa forma,
a estratégia de elaborar os mapas com os sujeitos em sala a partir de
imagens de satélite contribuiu para que eles analisassem a área antes
e depois do plantio, ajudando a entender as mudanças na paisagem.
A argumentação mencionada no parágrafo anterior pode ser
comprovada com a afirmativa do Sujeito “C”: “A professora usou uma
imagem de 2016 do Google Earth e não tinha nenhuma vegetação, além de
brita no lugar que plantamos. Marcamos os lugares com piquete, e para
calcular a distância de uma muda para outra ela explicou que precisava ler
a escala”. O fato de os sujeitos fazerem essa observação evidencia que
os conceitos geográficos foram mobilizados com maior eficácia, em
contato direto com os problemas da realidade dos sujeitos, além de
proporcionar momentos de descontração entre eles.
Os sujeitos do grupo Tema interação da sociedade local com
o Cerrado que aplicaram o questionário às pessoas da comunidade
que transitavam no local no ato da atividade prática de campo,
relataram os resultados parciais da análise do questionário. Nos
seus relatos se percebeu que os investigados da comunidade
carecem de conhecimento a respeito do bioma cerrado e do manejo
das mudas frutíferas nativas. Na análise, foi possível perceber que
alguns investigados demonstraram interesse em contribuir com o
cuidado do jardim implantado na área verde urbana da cidade e a
disponibilidade de compreender os elementos naturais, o solo, a
vegetação e o clima do cerrado.
Nesse terceiro momento foi possível estender diálogos com
reflexões críticas com cada grupo de trabalho, alinhando-se às suas
experiências, as quais colaboraram para mobilizar a aprendizagem
118
dos conteúdos estudados. A partir do exposto, e analisando-se as
afirmação de Straforini (2018 p. 179), na qual ele destaca a
importância de mobilizar os conhecimentos geográficos ensinados
na escola “de modo que possam ser úteis em suas práticas espaciais
cotidianas, considerando as demandas sociais e individuais
produzidas no contexto da globalização”, são necessárias ações
cotidianas de sensibilização ambiental na comunidade local.
A partir do contexto apresentado, evidenciou-se que as ações
pedagógicas desenvolvidas por meio de metodologias ativas, em
atividades práticas de campo que investigam os problemas da
realidade dos estudantes, contribui para desenvolver melhor a
aprendizagem na dimensão intelectual, social e afetiva, além de
aguçar as diferentes habilidades humanas. Logo, é possível realizar
ação pedagógica ativa e significativa na prática docente cotidiana.
Com isso, o estudo atingiu o objetivo de promover nos sujeitos
uma tomada de consciência relacionada às questões geográficas e
ambientais e se apropriar do espaço urbano no desenvolvimento
da ação educativa de Geografia, constatados nos desdobramentos
dos momentos da ação, na interação ativa dos sujeitos e da
pesquisadora.
Por fim, é importante destacar que uma prática pedagógica
diferente do convencional com ações propositivas de ensino ativo
e criativo beneficia o trabalho docente, segundo Cavalcanti (2005,
p. 87), “procedimentos de restauração da prática geográfica na
escola”. Nesse sentido, recontextualizar as metodologias de ensino
diante das práticas sociais dos sujeitos aprofunda a reflexão. Moran
(2015, p. 18) pondera que “as metodologias ativas são pontos de
partida para avançar em processos mais avançados de reflexão, de
integração cognitiva, de generalização, de reelaboração de novas
práticas” e reforça que a escola precisa repensar os objetivos e
métodos educacionais aplicados no ensino.
119
Considerações finais
120
Referências
121
SOUZA, J. F. Sistematização um instrumento pedagógico nos
projetos de desenvolvimento sustentável. Revista Tópicos
Educacionais. v. 15, n. 1-3. 1997. Disponível em: https://periodicos.
ufpe.br/revistas/topicoseducacionais/article/vie w/22475 Acesso
em: 9 ago. 2023
SOUZA, S. Oliveira; CHIAPETTI, Rita J. Nogueira. O trabalho de
campo como estratégia no ensino em geografia. Revista de Ensino
de Geografia, Uberlândia, v. 3, n. 4, p. 3-22, jan./jun. 2012.ISSN
2179-4510 - www.revista ensino geografia.ig.ufu.br. Acesso em: 28
jan. 2024.
STRAFORINI, R. O ensino de Geografia como prática espacial de
significação. Estudos Avançados, 32 (93), 2018. p. 175-195.
https://doi.org/10.5935/0103-4014.20180037. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ea/a/kRrXfwBFZLLDtKqNRmgRHpH/#.
Acesso em: 28 jan. 2024.
122
CAPÍTULO 7: AS CONTROVÉRSIAS E
ADVERSIDADES DO ENSINO MÉDIO COMO
ETAPA FINAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA9
123
No primeiro caso, pode-se ter, como exemplo, a escola
propedêutica, em que se prioriza a formação por meio do
conhecimento científico, pela aprendizagem significativa e tem por
finalidade conduzir o estudante ao Ensino Superior. Essa escola é
voltada, prioritariamente para as elites. O segundo caso pode ser
definido como a escola utilitarista, destinada às camadas menos
favorecidas socialmente, cujo conhecimento prioriza a formação
para o trabalho, isto é, o ensino profissionalizante, ou valoriza a
função social.
A partir do exposto, o objetivo do texto é analisar o impacto
do Novo Ensino Médio para o projeto de vida da geração que está
cursando essa etapa da educação básica. Assim, o artigo tem a
intenção de mostrar que, desde a sua origem, a estrutura do Ensino
Médio implantando no Brasil foi baseada no modelo dualista, e que
essa opção adotada para a última etapa da educação básica
colabora para os problemas que ela enfrenta atualmente.
O recorte temporal a ser apresentado abrange o período entre
a década de 1930 até ao modelo em vigor a partir da implantação
do Novo Ensino Médio (NEM), por meio da Lei nº 13.415, de 16 de
fevereiro de 2017 (Brasil, 2017). Esse intervalo de aproximadamente
80 anos possibilita o entendimento de como as mudanças ocorridas
na sociedade brasileira refletiram na organização e estruturação da
educação pública, e, em particular, no Ensino Médio.
Entende-se que a nova Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017
(Brasil, 2017), foi implantada com desconfianças e críticas pelos
sujeitos envolvidos no processo educacional, como especialistas em
educação, professores, pesquisadores e estudantes. Eles
consideram que o Novo Ensino Médio foi imposto pelos
governantes sem discussões aprofundadas e para atender a
organizações econômicas internacionais e empresários que
consideram a educação mercadoria.
Dessa forma, faz-se necessário discutir e analisar se a Lei nº
13.415, de 16 de fevereiro de 2017 (Brasil, 2017), tem apresentado
benefícios para o processo educacional, tem melhorado o
desempenho dos estudantes e diminuído a evasão escolar,
124
cumprindo assim a sua proposta inicial, quando da sua
implantação ou se, ao contrário, acentuou mais ainda as
desigualdades vivenciadas pela educação dualista à qual Libâneo
(2012) se refere.
O artigo está organizado em três partes em que a primeira faz
uma reconstrução histórica do Ensino Médio ao longo do século XX;
a segunda parte analisa as mudanças trazidas pelo NEM; e, por fim,
no terceiro momento, as discussões envolvem o NEM no contexto
educacional, tendo como recorte espacial o Distrito Federal.
125
Em 1932, foi lançado o “Manifesto dos Pioneiros da Nova
Educação”. O documento faz uma análise da situação da educação
no Brasil e representou um grande legado para a história do ensino
no país. Saviani (2004, p. 4) escreve sobre o manifesto:
126
de 2º ciclo, os chamados cursos colegiais (Científico e Clássico).
Corso e Soares (2014) esclarecem que esses cursos tinham duração
de três anos e a finalidade de preparar os estudantes para o Ensino
Superior. Os cursos de formação profissional (normal, agrotécnico,
comercial técnico e industrial técnico), também com duração de três
anos, não asseguravam o acesso ao Ensino Superior.
[...] As críticas em relação a primeira LDB era a que ela apresentava dois
projetos pedagógicos distintos para atender as necessidades definidas pela
divisão técnica e social do trabalho: instrumental e intelectual; o que nos
127
permite aferir a equivalência da Lei 4.024/61 não supera a dualidade
estrutural, embora possa ter sido considerada um grande avanço para o
processo de democratização do ensino (Corso; Soares, 2014, p. 4).
128
técnico (Corso; Soares, 2014). No Ensino Médio, instituiu-se um
curso de segundo grau de três anos, unificado, de caráter
profissionalizante por meio do modelo tecnicista (Saviani, 2004).
Segundo Dantas (2015), a Lei nº 5.692 de 1971 (Brasil, 1971),
modificou a estrutura do curso Normal, que passou a ser oferecido
apenas no 2º grau e, também, adquiriu o caráter, exclusivamente,
profissionalizante. As mudanças relacionadas à docência
provocaram deficiência na formação do professor das séries
iniciais, o que foi reforçado com a hierarquização dentro das
escolas a partir do aparecimento da figura do especialista (Dantas,
2015). Dessa forma, “[...] os especialistas usufruíam de melhores
salários [...] do que os professores normalistas, desqualificando
assim o trabalho docente e proletarizando o professor.
129
mais coerente com o período de redemocratização pelo qual
passava o país.
Com a promulgação da Constituição de 1988 (Brasil, 1988),
houve grande mobilização da comunidade educacional e dos
movimentos sociais para a formulação de uma nova LDB, que
defendia a libertação da educação da política. Entretanto, esse
projeto tão ousado não seguiu adiante. Em seu lugar foi aprovado
o projeto de Darcy Ribeiro, a Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional, a Lei 9.394/1996 (Brasil, 1986).
A partir da década de 1990 ocorreu no país um amplo
programa de reformas educacionais. Em relação ao Ensino Médio,
o Banco Mundial recomendou a separação entre Ensino Médio e
educação profissional, reforçando assim a dualidade estrutural
(Corso; Soares, 2014). O discurso vigente na época que valorizava
o modelo econômico neoliberal colocou o setor privado de ensino
como protagonista para a oferta da educação profissional.
Apesar de não ser tão revolucionária quanto pretendiam a
comunidade escolar e os movimentos sociais, a LDB de 1996 trouxe
grandes avanços para a educação brasileira. A lei representou um
grande legado do século XX e foram instituídas mudanças
significativas. Segundo Saviani (2004, p. 8):
130
estudante no ambiente escolar. A escola ainda não atendia às
múltiplas necessidades dos estudantes do Ensino Médio, pois
muitos jovens não se identificavam com a escola na qual estavam
matriculados e os conteúdos ofertados não alcançavam a dimensão
intelectual do trabalho produtivo e dos anseios socioculturais.
No que dizia respeito às finalidades para o Ensino Médio, a
LDB (Art. 35) pretendeu consolidar e aprofundar os conhecimentos
adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos, a preparação básica para o trabalho, a
formação ética, o desenvolvimento da autonomia intelectual, o
pensamento crítico dos educandos e a compreensão dos
fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos
(Brasil, 1996), pois a LDB (Brasil, 1996), em seu título segundo, que
trata “Dos Princípios e Fins da Educação Nacional”, em seu artigo
2º, estabelece que “a educação tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Brasil, 1996, p. 8).
Como é possível observar, a organização do Ensino Médio
brasileiro no período entre a década de 1930 e a LDB de 1996 foi sendo
moldado para atender às políticas de governo que eram implantadas
no país, sem maiores preocupações com a qualidade pedagógica.
A aprovação da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 não significou
uma revolução na educação brasileira. Algumas de suas diretrizes
ainda não foram contempladas, e os recursos destinados à educação
ainda são insuficientes para promover mudanças significativas. Para
especialistas, os investimentos não atendem a todos por causa dos
anos em que a educação não foi prioridade no país.
131
Quando se compara os investimentos brasileiros em educação
com o de países desenvolvidos, levando-se em consideração o PIB,
é preciso cuidado. Os países desenvolvidos têm, geralmente, um
PIB muito superior ao do Brasil. Além disso, as desigualdades
sociais existentes no Brasil requerem maior investimento em
educação para superá-las. Assim, é necessário que o Brasil invista
mais em educação e gaste com eficiência.
eles têm uma compreensão de ensino acadêmico (Brasil, 2017, p. 467). Na Lei nº
13.415, eles devem ser voltados ao empreendedorismo, à investigação científica e
à mediação e intervenção sociocultural.
132
profissional) fez com que os críticos à reforma considerassem que
ela contraria a abrangência de finalidades estabelecidas na LDB nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Brasil, 1996).
Na nova reforma do Ensino Médio, o currículo estruturado em
itinerários formativos é normatizado no Art. 4 da nova lei. Nele, há
a determinação de mudança do texto original do Art. 36 da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Brasil, 1996) (LDB), passando a
vigorar a seguinte redação:
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos que deverão ser organizados
por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I – Linguagens e suas tecnologias;
II – Matemática e suas tecnologias;
III – Ciências da natureza e suas tecnologias;
IV – Ciências humanas e sociais aplicadas;
V – Formação técnica e profissional (Brasil, 2017).
133
isso, maior estímulo para determinadas áreas. A nova reforma
valoriza os itinerários formativos e, com isso, os conhecimentos da
área de ciências humanas perdem espaço, comprometendo assim o
desenvolvimento dos conteúdos de Geografia e de História.
Quanto à Filosofia e Sociologia, que se tornaram obrigatórias pela
Lei nº 11.684 de 2008 (Brasil, 2008), não aparecem na nova lei, pois
a reforma priorizou disciplinas como Português e Matemática.
A dualidade propedêutica e profissionalizante representa o
modelo seletivo tão criticado no passado. Nesse modelo, há riscos
de que o Ensino Médio permaneça com a concepção de fase
transitória e preparatória para o Ensino Superior ou de formação
para o mercado de trabalho, não atendendo, assim, aos princípios
e finalidades estabelecidas na LDB. A escola que enfrenta
dificuldades para a permanência do estudante por ser
conservadora e não conseguir se conectar com a cultura juvenil
corre o risco de ser um ambiente mais hostil ainda.
Partindo da compreensão de que a educação utilitarista tem
por finalidade a formação técnica, ela é compreendida como uma
possibilidade de o estudante ter mais acesso ao mercado de
trabalho, por isso ela é voltada para certos segmentos da sociedade,
no caso, as classes sociais menos favorecidas. No entanto, há que se
analisar o fato de que essa possibilidade também pode
comprometer o avanço desses estudantes ao Ensino Superior, uma
vez que, o jovem que concluiu o Ensino Médio e se inseriu no
mercado de trabalho dificilmente dará seguimento aos estudos.
O modelo propedêutico, que valoriza o conhecimento
científico e o objetivo é, também, preparar o jovem para o Ensino
Superior, e ainda se destina às camadas mais abastadas da
sociedade brasileira. São esses jovens que conquistam as vagas nas
melhores universidades, dão continuidade aos estudos, alcançando
de forma exitosa a graduação e, muitas vezes, a pós-graduação.
Portanto, tal modelo dualista pode interferir nos resultados e na
qualidade do Ensino Médio, contribuindo assim para a crise na
educação do país.
134
Além disso, o mundo passa por mudanças profundas, e a
escola precisa se adequar a essas mudanças. Ela não pode preparar
a juventude para uma realidade inexistente, em que o próprio
trabalho, com suas características formais, está em crise. O mundo
vive uma nova era, denominada de técnico-científica-
informacional, e nesses novos tempos, “o trabalho se torna cada vez
mais científico [...]” (Santos, 1994, p. 140). Nesse sentido, há que se
analisar se a dualidade estruturante que sempre caracterizou o
Ensino Médio ainda pode prevalecer nesses novos tempos. Santos
(1994, p. 121) argumenta que “para ter eficácia, o processo de
aprendizagem deve, em primeiro lugar, partir da consciência da
época em que vivemos”.
As políticas públicas precisam estar antenadas para promover
reformas na educação que sejam coerentes com a sociedade
informacional e em que:
135
Por isso, a concepção dualista estruturante que foi apresentada
na reconstrução histórica do Ensino Médio deve ser encarada como
uma controvérsia a ser discutida no âmbito dos macroproblemas
enfrentados pela escola no século XXI. Esse modelo é mais coerente
com um período em que o país passava por transformações
profundas. O agrário era substituído pelo urbano; não havia ainda,
no Brasil, uma sociedade capitalista e consumista consolidada e o
meio científico e informacional ainda era uma realidade distante.
Portanto, há de se questionar se tal modelo não representa um dos
gargalos que comprometem a qualidade do ensino nessa etapa da
educação básica.
As redes sociais mostram para a juventude o glamour da
exposição, dando aos estudantes uma dimensão de mundo que eles
podem vislumbrar e conquistar, nem sempre por meio da
educação, mesmo que isso não seja uma realidade objetiva e
institucionalizada (Berger; Luckmann, 2004). Portanto, os meios de
comunicação transformam o sujeito em ator e fantoche, fortemente
influenciados pela realidade que se constrói nas redes sociais e que
é divulgada na mídia alienante. O ensino ofertado nas escolas
públicas, definitivamente, não contempla a realidade social e
cultural da juventude atual.
136
consumo, a disputa acirrada por uma vaga no mercado de trabalho
deixa o sujeito esgotado por ter que cobrar de si mesmo
produtividade e desempenho, e quando ele não conquista aquilo
que a mídia lhe vende como símbolo de sucesso e prosperidade, com
o discurso da meritocracia, o sujeito sente-se fracassado e deprimido.
Nesse sentido, o jovem que está no Ensino Médio ainda não tem
dimensão do que lhe será cobrado em um futuro próximo.
Possivelmente, ele tem a percepção de que, com a conclusão do Ensino
Médio ele estará preparado e capacitado para o ingresso no mercado
de trabalho ou para a continuidade dos estudos, em alguma
universidade pública ou privada, mas nem sempre isso se concretiza.
A formação escolar, muitas vezes, é insuficiente no que se refere à
qualidade do ensino e à capacitação para o mundo do trabalho.
Diante do que foi exposto no parágrafo anterior, o modelo de
educação produtivista com ênfase no dualismo estruturante não é
o mais adequado para superar a crise da educação no Brasil, ele já
foi experimentado e não promoveu mudanças na educação, ao
contrário, consolidou-se a máxima de crise permanente.
Há de se considerar as controvérsias vivenciadas
cotidianamente na escola e as ações pedagógicas promovidas para
que se alcance as perspectivas dos jovens. No entanto, faz-se
necessário compreender se a significação da formação escolar é de
fato do jovem ou de um modelo de sociedade dominante que insere
a educação na totalidade. Santos (2014, p. 32) argumenta que “o dado
global, que é o conjunto de relações que caracterizam uma dada
sociedade, tem um significado particular para cada lugar, mas esse
significado não pode ser apreendido senão no nível da totalidade”.
Portanto, a compreensão da totalidade está relacionada à
questão de que a educação no Brasil representa um problema a ser
superado. O projeto deve ser na dimensão de política de Estado. É
a partir da análise do desempenho da educação que organismos
internacionais direcionam investimentos para os países, como, por
exemplo, o Banco Mundial12.
137
O Banco Mundial é parceiro do Brasil há mais de 60 anos, e já apoiou o
Governo brasileiro, estados e municípios em mais de 430 financiamentos,
doações e garantias, que somam quase US$50 bilhões. Anualmente, são
realizados em média US$3 bilhões em novos financiamentos, em áreas como
gestão pública, infraestrutura, desenvolvimento urbano, educação, saúde e
meio ambiente (Brasil, 2019).
mercado.
138
Embora a OCDE, por meio do seu Comitê de Políticas
Educacionais, coordene ações com o objetivo de alcançar um ensino
de qualidade, ela é uma organização que privilegia a economia de
mercado, e sua análise baseia-se em dados estatísticos. Segundo
Debord (2013, p. 197), “ouve-se dizer que agora a ciência está
sujeita a imperativos de rentabilidade econômica; isso sempre foi
verdade”. Assim, é pouco provável que seus objetivos alcancem
uma compreensão de que a escola pública tem também uma função
social e que, além da qualidade, ela precisa possibilitar aos jovens
oportunidades de superação das adversidades vivenciadas no seu
cotidiano.
Os resultados referentes à educação no país são divulgados
pelos meios de comunicação são baseados nos dados do SAEB, que
segue os modelos propostos pela OCDE e PISA. No Brasil, a
avaliação é realizada a cada dois anos.
139
desenvolvidas nas escolas, que buscam superar os seus problemas
e que vão muito além de dados estatísticos baseados em avaliações
de Português, Matemática e Ciências.
Contudo, mais sério é imaginar que os meios de comunicação
fortalecem a ideia de crise permanente e estrutural da educação –
sem considerar as particularidades que as cercam – como um projeto
intencional de interesses ligados a uma elite de lógica
mercadológica. “Ao contrário da pura mentira, a desinformação – e
é nisso que o conceito é interessante para os defensores da sociedade
dominante – deve fatalmente conter uma certa dose de verdade, mas
deliberadamente manipulada [...]” (Debord, 2013, p. 202).
Além do questionamento em relação à quantidade de escolas
públicas avaliadas pelo SAEB, outro ponto a ser discutido diz
respeito às disciplinas avaliadas pela prova. No Ensino Médio, são
apenas Português e Matemática. Considerar o desempenho dos
estudantes baseando-se em dois componentes curriculares não
alcança as várias habilidades que eles possam ter nas várias outras
áreas de conhecimento, como propõe a LDB.
Na prova do SAEB não há questões que abrangem as
aprendizagens da área de conhecimento das Ciências Humanas. A
BNCC propõe habilidades para que os estudantes possam ter o
domínio de conceitos e metodologias próprias dessa área. Além
disso, de acordo com a BNCC, as Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas têm como desafio desenvolver a competência dos
estudantes de estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais
e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes de culturas
distintas. Portanto, avaliar a educação sem considerar as
particularidades das várias áreas de conhecimento que compõem
as aprendizagens do Ensino Médio não é confiável.
Os dados apresentados conduzem à reflexão quanto à
existência de uma crise na educação que justifique mudanças no
Ensino Médio, mesmo porque as propostas de mudanças
apresentam características de retrocesso por querer resgatar o
modelo utilitarista, que não se mostrou eficaz em um passado
recente. A nova reforma no Ensino Médio (NEM) privilegia
140
Português e Matemática, justamente as disciplinas que, segundo os
dados do SAEB, precisam avançar na qualidade, e desvalorizam as
demais disciplinas como, por exemplo, a Geografia.
No NEM, a construção de aprendizagens que estimulam o
conhecimento científico e acadêmico dos estudantes e que é
pautada no cognitivo perde importância para o ensino utilitarista.
Nessa nova configuração pedagógica, apenas Português e
Matemática são componentes curriculares obrigatórios em todas as
séries do ensino médio. A Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017
(Brasil, 2017), propõe que a escola deve dar ênfase a um currículo
que considere a formação integral do aluno e que seja voltado para
a construção do seu projeto de vida, por isso privilegia os
itinerários formativos.
O projeto de vida é apresentado “como estratégia de reflexão
sobre trajetória escolar na construção das dimensões pessoal,
cidadã e profissional do estudante” e deve incidir em sua formação
integral (Brasil, 2018). Diante disso, é pertinente procurar entender
se um jovem consegue definir o que pretende enquanto projeto de
vida, uma vez que eles estão em processo de transição da vida
escolar para a vida acadêmica, ou para o mercado de trabalho ou
até mesmo sem pretensão alguma.
O Currículo em Movimento do Novo Ensino Médio, quando
trata do projeto de vida indica que:
141
A prioridade dada ao novo Ensino Médio é que o aluno adquira a
capacidade de ler, escrever, interpretar e calcular no âmago do ensino da
língua portuguesa e matemática, simplesmente. Os conteúdos relacionados
a outras áreas do conhecimento, constituintes do atual currículo, que nem
sequer foram mencionados, parecem não ter relevância no processo
formativo das novas gerações.
142
docentes criam projetos sem eficácia e que pouco significado tem
para o projeto de vida dos estudantes.
Além disso, para os jovens que idealizam experiências ligadas
aos recursos digitais – eles vislumbram as novas formas de trabalho
disponíveis nas redes sociais como: youtuber, digital influencer ou
blogueiros – é contraditório perceber que a escola não é capaz de lhes
oferecer a formação adequada para o mundo informacional e,
talvez, seja aquele que contemple o seu projeto de vida.
Quando o currículo propõe que quase metade de sua carga
horária se destine às unidades curriculares eletivas, mostra que o
conhecimento necessário para a formação integral não é
contemplado, pois compromete o projeto de uma educação que
trabalhe temas na transversalidade e na interdisciplinaridade ao
estabelecer horários específicos destinados a temas específicos. De
acordo com o Currículo em Movimento:
143
o currículo não atende às necessidades para uma qualificação satisfatória e
coerente ou para o mercado de trabalho, ou para educação continuada ou
para a formação cidadã.
144
profundas transformações no mundo do trabalho e que cobram excesso de
produtividade e analisar também se essa nova configuração é visível e possível.
Além disso,
145
O Jornal online Agora Litoral14, em sua edição de 23 de
outubro, apresenta uma síntese do que está contido no PL. A
reportagem apresenta as principais mudanças propostas no
projeto, das quais consta a mudança na carga horária das
disciplinas obrigatórias, que era 1.800 horas, e se propõe aumentar
para 2.400 horas, sem integração com o curso técnico; carga de 1.200
horas para os itinerários formativos, áreas de conhecimento ou
curso técnico escolhidos pelos estudantes; as disciplinas de língua
portuguesa, língua inglesa, língua espanhola, arte, geografia,
história, matemática, biologia, física, química, serão obrigatórias
em todo o ciclo do Ensino Médio.
Além das propostas listadas no parágrafo anterior, o PL propõe
a revogação dos Itinerários Formativos e a criação do Percurso de
Aprofundamento e Integração de Estudos, aliados a pelo menos três
áreas de conhecimento; a proibição de ofertar a parte de Formação
Geral Básica por meio da educação a distância e, também, impede
que profissionais de notório saber ministrem aulas.
Considerações finais
146
humano favoráveis ao desenvolvimento de um projeto de
educação de formação integral, que contemple os anseios da
sociedade e do mundo do trabalho.
A partir dos argumentos apresentados, é notório que o NEM
apresenta incoerências e falhas que precisam ser ajustadas, dentre
elas, pode-se considerar a carga horária destinada aos Itinerários
Formativos, que retira horas das Formação Geral Básica, o que
compromete o desenvolvimento dos conteúdos da área de algumas
áreas de conhecimento, como a de Ciências Humanas. Além disso,
observa-se ainda a quantidade de disciplinas que são disponibilizadas
para os professores, que precisam planejar as aulas com cargas
exaustivas de conteúdo, afetando assim a sua prática pedagógica.
Entende-se que o Novo Ensino Médio ainda é recente e que
qualquer avaliação mais profunda pode ser uma análise prematura.
No entanto, já é possível apresentar algumas possíveis falhas no
currículo da nova lei. Dentre elas, a forma como se organizou a
operacionalização das aprendizagens ao propor uma grande carga
horária para os Itinerários Formativos, que nem sempre atendem ao
projeto de vida dos estudantes e compromete a carga horária dos
conhecimentos necessários para formação integral dos discentes.
Dessa maneira, a aprovação do Projeto de Lei que propõe
alterações no NEM é urgente e necessário, pois ele foi discutido
pela sociedade civil por meio de audiências públicas e com a
participação de profissionais envolvidos com o processo
educacional. Portanto, ele vai na contramão da forma impositiva e
pouco democrática que caracteriza a implantação da Lei nº 13.415,
de 16 de fevereiro de 2017 (Brasil, 2017).
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150
AS AUTORAS E OS AUTORES
Anderson Muzzolon
Anderson Muzzolon é professor da
Secretaria de Educação do Distrito
Federal, bacharel e licenciado em
Geografia pela Universidade Estadual do
Centro-Oeste - UNICENTRO-PR (2005 e
2010), pós-graduado em Gestão Social,
pelo grupo BAGOZZI (2009); mestre em
Geografia pelo Programa de mestrado
Universidade Estadual do Centro Oeste -
UNICENTRO-PR (2012). Licenciado em História pelo Centro
universitário de Maringá - UNICESUMAR (2022). Doutorando em
Geografia pela Universidade de Brasília, UnB (2023).
E-mail: anderson_muzzolon@yahoo.com.br
Orcid: 0009-0007-1673-5633
Lattes: https://lattes.cnpq.br/5756501628810240.
151
E-mail: carly.silva@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1395-9774
Lattes: https://lattes.cnpq.br/4289657494871987
152
licenciatura plena em Geografia pela Universidade de São Paulo
(1998) e mestrado em Geografia (Geografia Física), também pela
Universidade de São Paulo (2008). Além disso, é graduada em
Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (2009). Atualmente é
coordenadora de Geografia de Ensino Fundamental (anos finais) e
Ensino Médio no Colégio Rio Branco (SP) e pós-doutoranda no
Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.
Possui mais de 25 anos de experiência na área de educação,
atuando como docente e na formação de professores.
E-mail: fabianapegorarosoares@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9238-830X
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7519262033756091
153
Maria Solange Melo de Sousa
Doutora pelo Programa de Pós-
Graduação de Geografia da Universidade
de Brasília (UnB), com mestrado em
Produção do Espaço Urbano, Rural e
Regional, também pela UnB,
especialização em EaD e graduada em
Geografia. Professora aposentada da
Educação Básica da Secretaria de Estado
de Educação do Distrito Federal (SEEDF), onde exerceu ainda as
funções de vice-diretora, supervisora e coordenadora Pedagógica.
Lecionou, também, em escolas privadas no Ensino Fundamental e
Médio. Atualmente, participa do programa do Governo Federal
Universidade Aberta do Brasil (UAB/UnB), no qual atua como
professora formadora e tutora nos cursos de licenciatura de EaD do
Departamento de Geografia. Pesquisadora e autora de livros,
artigos científicos, concentra sua área de pesquisa na análise
urbana, políticas públicas em educação, ensino de Geografia e
formação de jovens para o mercado de trabalho.
E-mail: solangemelosousa@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1996346183136521
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4362-7845
Fábio da Silva
Doutorando em Geografia (posgea/UnB),
mestre em Arquitetura e Urbanismo
(FAU/UnB), especialista em Educação
Artística Aplicada - Artes Plástica
(FSL/SP) e graduado em Educação
Artística - História da Arte (FE/UERJ).
Professor de Arte da Secretaria de Estado
de Educação do Distrito Federal.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2082676655712353
E-mail: fabiosidneyster@gmail.com
ORCID: https://0000-0001-8271-7555
154
Ana Paula de Rezende Navarro
Mestre em Arquitetura e Urbanismo
(FAU/UnB), especialista em - Artes e
graduado em Educação Artística – Artes
Plásticas. (FA-Dulcina de Moraes).
Professora de Arte da Secretaria de
Estado de Educação do Distrito Federal.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/04847959826
7646487
E-mail: anapaulanavarro@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6447-2136
155