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A dor escondida na nossa agressividade exagerada

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Eu queria falar um pouco hoje da raiva, da agressividade.

Atender trauma não


é uma coisa fácil, porque quando a gente tem um trauma, a gente fica que nem
um porco-espinho, a gente fica reativo ou defensivo. Existem várias maneiras
de a gente ter defesas.

As quatro clássicas do Peter Walker, são as principais, as duas principais, o


fight, flight, que é a fera agressiva e a fuga. Então eu vou pra cima da porrada
ou eu saio correndo, e as outras duas são o freeze e o floreio, em que a gente
fica “numb”, crianças adultas feridas se tornam anestesiadas, entorpecidas.

Então esse é o freeze, quando a gente entorpece e tem grande ansiedade


social, fica meio “estou me escondendo, está tudo certo, mas me deixa aqui”,
ou o floreio, que de forma parecida, a gente não se esconde tanto, mas a gente
interage deixando de lado a nossa agenda verdadeira.

Você entrou numa reunião, teus objetivos de verdade você fica ali, eu chamo
comendo pelas bordas, fingindo de morto e a vida vai ficando sem tempero, é
melhor ficar uma vez vermelho do que passar a vida inteira amarelo, sabe
assim?

Então a gente voltar para o corpo e estar no autoamor, estar no todo amor,
sentir vitalidade, sentir esperança requer encaminhar essa questão que eu
queria falar dando um foco especial para a fera, um foco especial pra essa
agressividade.

Sabe gente que, de qualquer bobeira, dentro de casa mesmo, não perde a
chance de dar um beliscão, não perde a chance de fazer uma cara assim, tipo
um bullying ou que às vezes alguns de nós numa interação na internet a gente
chama na chincha ou fala de uma maneira que o outro se sinta mal, uma
necessidade de expurgar, de agredir, de hostilizar, de fazer um bullying, até
mesmo de comprar briga.

Gente briguenta, gente encrenqueira, brava, bravo. Então eu quero chamar


atenção para o aspecto do trauma, eu não sou muito afeita a coisa de a gente
ficar vitimizando, porque passamos certas coisas na infância ou ao longo da
nossa vida.

A grande imensa maioria das pessoas acha que vai ficar rendendo isso, vai
ficar se vitimizando, “ai porque mamãe me deu um tapa”, “larga disso, vamos
em frente, ninguém morreu por causa disso, está todo mundo bem”, não é essa
a fala? Pois é. Essa é uma das falas que sobrevive até que a vida te pegue de
frente.

E você ter um relacionamento disfuncional em que você realmente se


machuque por conta de um desacerto afetivo ou que você realmente tenha
problemas de se desenvolver profissionalmente, comercialmente com seu
empreendedorismo, com a sua carreira, porque existe uma sabotagem, um
sentimento.

E você vai, você consegue casar, ter uns filhos, você consegue ter um
business, você consegue ter um emprego, você consegue ter um certo
conforto, mas parece que existe ali um elemento ali, fica a gotinha, fica
sangrando secretamente.
E sangrando secretamente não é bom, porque sangue chama tubarão, tubarão
é gente que engana, tubarão a gente que manobra, tubarão é gente que
percebe a tua vulnerabilidade e te leva pela mão para um lugar que você pode
ficar realmente muito vulnerável.

Aqueles que passam por relações afetivas de desprezo, de tratamento e


silêncio, de mentira, de traição, de uma coisa que fica confusa, um desespero
que a gente pode experimentar se a gente estiver vulnerável a isso, então o
autoamor, o espaço do self, esse lugar que eu digo “eu sou divina, eu sou filha
da divindade, irmã das estrelas, as flores estão aí vivas porque eu plantei essa
árvore”.

E aquilo que a gente nutre continua vivo, a gente precisa ir para esse lugar, na
resposta de fera, quando há uma agressividade muito grande, é preciso tomar
contato com circunstâncias de uma indignação que não foi endereçada.

Pode ser uma indignação por ter apanhado, pode ser uma indignação, às
vezes assim, até não por culpa de uma maldade perversa ou cruel, os pais
estavam muito bem de vida e a situação financeira declinou, perderam tudo e
alguém que foi criado com toda uma condição de repente passa uma
dificuldade financeira, tem uma sensação de rebaixamento social.

E como se isso fosse o rebaixamento humano e isso dá muita raiva, isso dá


muita indignação, então a pessoa se fecha e fica ácida, faz piadas hostis, sabe
aquele amigo que manda as piadinhas de YouTube, de WhatsApp, sempre
com alguém quebrando a cara, então, um certo prazer de ser hostil, um certo
prazer de ver a dor do outro, um certo prazer de agredir.
Isso, se escalonar e crescer, vira claramente desordem antissocial, sociopatia,
psicopatia, narcisismo patológico, mas num nível normal, num nível do trauma,
do estresse pós-traumático, isto vira uma agressão permanente, um porco
espinho.

Qualquer coisa a pessoa chama na chincha, se ofende com facilidade ou pode


falar coisas, se tiver uma discussão na internet, Deus o livre então essa
resposta na política, a pessoa fica muito agressiva. Eu concordo que a gente
não deve ficar se vitimando, o que passou, passou, vamos embora, vamos
tentar ir para frente.

Só que essas situações de emergência ou de dor ou de dificuldade da vida


adulta, crianças adultas feridas ficam anestesiadas ou muito agressivas, faz a
gente começar a piorar a própria vida. Então a gente vai ter que parar e olhar
para isso, olhar para o que que foi essa indignação.

Não que eu queira culpar papai e mamãe ou os criadores ou a escola ou o


bullying ou aquele irmão, aquela irmã mais velha ou até mesmo aqueles
primeiros relacionamentos afetivos, em que a gente foi enganado, maltratado,
desfeito, largado falando sozinho.

Mas no sentido de eu testemunhar o meu sentimento, uma negligência, um


sentimento de solidão, medo de morrer, aos 7 anos você apanhava, você tinha
medo de morrer, hoje você fala “não, imagina” e tal, mas quando a gente é
pequena a nossa experiência não é bem assim.

Reconhecer o meu sentimento e ser capaz de sentir esse sentimento é algo


que em geral a gente vai fazer na terapia com apoio, com a compaixão de
alguém que tenha paciência de ouvir e de nos ajudar a lidar com isso e olhar
com o self elevado, com a força do divino e com o olhar de alguém que diz eu
“estou te vendo, isso não foi justo”.

Até os 8 anos estava em transe, o cérebro funciona em ondas que são um


transe, a gente está misturado no meio, e até os 10, 12 anos nada foi culpa
sua. Entretanto o fato de a gente suspender a nossa própria conexão, com
essa experiência, faz a gente suspender várias outras.

E aí os mecanismos de defesa tiram a gente do corpo e quando você está fora


do corpo você não pode amar direito, você não pode ganhar dinheiro direito,
você agride com a indignação de não ter tido aquele abraço e afasta mais os
abraços que você tanto precisa hoje.

E ao afastar esses abraços você fica com mais raiva e fica com mais
hostilidade, acidez e violência. Então para eu aceitar que eu preciso desse
abraço, eu preciso parar de negar e justificar que eu preciso desse abraço e
que eu precisei e ele não esteve lá.

Talvez eu precise chorar isso, talvez você precise de ajuda terapêutica ou de


um amigo realmente elevado, com uma compreensão disso, porque lidar com
trauma não é fácil e as pessoas falam, “ah, você está rendendo, vamos embora
e se a vida vai pela metade, desde que você esconda bem está tudo bem”.
Não!

A vida é para a gente estar pleno, vida é para a gente amar de verdade, a nós,
ao outro, para a gente ter condição de ir e vir, para a gente ter saúde física, a
vida é uma só, a gente vai passando e fala “cara, isso aqui é passageiro, eu
vou passar aqui pondo em dúvida eu mesmo, porque eu trago uma ferida e
aprendi a esperar a validação dos outros do que a minha própria, nem sei me
validar, nem sei me autorizar”.

E aí eu falo, “não, eu tenho que aprender a me autorizar, porque a vida que eu


tenho é essa e ela é linda”. Como filhos das estrelas, como gente divina, como
potencial humano, a energia que a gente tem é uma coisa sensacional.

Então eu talvez precise de apoio, de uma ajuda para chorar, um grupo de


apoio, um abraço verdadeiro, não precisar fingir, trabalhar isso com a
compaixão de alguém, porque a minha lágrima se torna compaixão minha por
mim mesma, não “dózinha”, não é vitimação, pelo contrário, é respeito.

E aí quando essa lágrima é permitida, aquilo que era fera vira borda, vira saber
por limite, que é bom, bater na mesa e fazer os clipes darem uns pulinhos é
bom também, não é ruim não. Mas ficar num estado de fera, num estado de
ponta de faca, afasta a gente e não é o que a gente quer.

Como também a fuga que é a racionalização, ficar workaholic, trabalha,


trabalha, faz, faz, não consegue terminar uma coisa porque está inquieto e não
consegue ficar. Fica do seu lado, respira. Eu comparo essa sabotagem da
defesa exagerada a um carro atolado.

As pessoas falam “pense positivo, não renda muito isso, vá em frente, se você
quiser, tudo você pode”, como se isso significasse só acelerar, só que com um
carro atolado você acelera, você sabe o que acontece quando você acelera
com o carro atolado? Ele patina.
E aí você tem a sensação de afundar mais, como se você não fosse bom não.
“Vamos lá botar um calço”. Vamos lá tirar essa sabotagem. E aí a gente vai ter
que fazer o que tem que fazer, com compaixão, olhar, fazer essa reparação
com a nossa própria alma, com o nosso próprio coração, com coisas que a
gente passou que a gente pode olhar, a gente não é essa experiência. Essa
experiência não nos define.

E não é culpa nossa. Especialmente se foi até os 12 anos de idade. Então eu


posso olhar essa experiência de um outro olhar e dizer “Você merecia melhor e
você merece melhor”, e acalmar nosso coração, por que que a gente vai sorrir
mais, aí a gente vai ter mais harmonia, a gente não vai virar um chato de
galocha querendo ter razão ou querendo uma restauração.

Ameniza, não é brigando com o mundo que você vai soltar a indignação dessa
coisa aqui, essa raiva engolida, solta essa raiva, ela não pode te reger. O que
você quer é energia, o que você quer é consciência do seu valor, mas aí você
precisa aprender a ver seu valor.

Porque a gente tem horror de ficar no corpo, a gente aprendeu auto rejeição,
autocrítica, então a gente vai ter que gentilmente demitir esse crítico interno
perverso que nós desenvolvemos para tentar nos proteger da nossa família,
dos nossos criadores perigosos.

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