Dramaturgia_. Caminhos de Aristóteles, Shakespeare

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Myrianna Coeli Follow

May 16, 2014 · 7 min read

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Dramaturgia:
Caminhos de Aristóteles, Shakespeare e Bertolt Brecht

Raízes da Dramaturgia
Segundo o Wikipédia, a palavra drama vem do grego e significa ação e assim, a
dramaturgia seria a representação dessa ação. Ao longo dos anos, essa área da arte
vem sendo estudada sob diversas perspectivas, desde suas origens nos espetáculos
gregos até as intervenções pós-dramáticas da contemporaneidade. Três estudiosos se
destacam nessa discussão: Aristóteles, Shakespeare e Bertolt Brecht. A seguir iremos
apontar as principais características de seus estudos.

Do drama clássico ao moderno, esses teóricos contribuíram de forma substancial para o desenvolvimento
da dramaturgia como a conhecemos na contemporaneidade.

Aristóteles

O relato ocidental mais antigo que se tem notícia e que trata do drama são as anotações
de Aristóteles que compõem A Poética. Não
2 existe consenso quanto aos seus estudos,
até porque muitas das partes de seus escritos ficaram perdidos no tempo e o que
chegou em A Poética é fragmentado. Apesar disso, Aristóteles é uma importante
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referência para qualquer estudioso na área


de dramaturgia.

Em A Poética, o filósofo grego fala de


poesia cômica, épica e trágica, dando
maior ênfase a esta última. A divisão entre
os três tipos de dramaturgia segue uma
hierarquia de importância para Aristóteles.
Segundo ele, a comédia é a menos nobre
das poesias, pois trabalha com personagens
“A epopéia e a poesia trágica, assim como a
em ações inferiores. Luisa de Holanda
comédia […] todas se enquadram nas artes de
imitação. ” A ARTE DA POÉTICA, p. 01 (2007), acrescenta que a epopeia e a
tragédia estão em níveis próximos e se
diferenciam pela forma que são apresentadas ao público:

“a poesia épica se utiliza da narração, enquanto que a poesia trágica é inteiramente


dramática” (HOLANDA, Luisa de. 2007, p. 02)

Se na epopeia a narração apresenta as personagens e dá voz a elas através do narrador,


na tragédia a estrutura dramática permite que as personagens ajam por si só. O tempo
no drama é o “aqui e agora”; na epopeia é sempre um fato que já aconteceu e que está
sendo contado por um mediador.

Aristóteles define então os conceitos de tempo, lugar e ação:

TEMPO:
Para o filósofo grego, a unidade de tempo
na dramaturgia não deve ultrapassar “uma
revolução solar”. A história deve acontecer
no espaço de tempo da apresentação, deve
ser em tempo real.

LUGAR:
Uma tragédia deve acontecer em apenas
“O tempo” — Salvador Dali um lugar, um cenário.

AÇÃO:
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Todas as cenas devem convergir para a trama central da obra. Todos os acontecimentos
devem se encadear de forma que a sequência criada pelo autor não altere o conflito
principal, a ação dramática.

Aristóteles aponta que o drama é a imitação de uma ação que tem como consequência
um efeito de catarse. Essa imitação é o que se chama de mimesis.

“Contudo há entre estes gêneros três diferenças: seus meios não são os mesmos, nem os
objetos que imitam, nem a maneira de os imitar.

Assim como alguns fazem imitações em modelo de cores e atitudes —uns com arte, outros
levados pela rotina, outros com a voz –, assim também, nas artes acima indicadas, a
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imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia, empregados


separadamente ou em conjunto.”

A catarse que deve ser a consequência final da ação dramática é uma espécie de
mergulho na história contada, é a criação de um sentimento de identidade e
pertencimento que o espectador desenvolve ao assistir um espetáculo. A tragédia deve
provocar no expectador um gozo que dê ideia de libertação, como se a obra servisse
para escoar as emoções.

Um exemplo de filme que faz o espectador mergulhar no drama da personagem: Dançando no Escuro de
Lars Von Trier.

Shakespeare

Existem algumas teorias que defendem que


as obras atribuídas à Shakespeare não
foram realmente escritas por ele.
Independente de da autoria dessas obras
Independente de da autoria dessas obras,
podemos dizer que não
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Personagem de Shakespeare, interpretado pelo dramaturgia sem se voltar para as


ator Joseph Fiennes em Shakespeare
Apaixonado de John Madden.
contribuições deixadas pelo dramaturgo
inglês.

“ A arte dramática de Shakespeare pode ser dividida em três fases. Numa primeira, que vai
de 1590 a 1602, o dramaturgo escreveu comédias alegres e ligeiras, dramas históricos e
tragédias no estilo renascentista. a segunda fase, iniciada em 1602 e que vai até
aproximadamente 1610, caracteriza-se por tragédias grandiosas e comédias amargas;
enquanto na terceira fase, que vai até o fim de sua vida, foram produzidas peças feéricas
com finais conciliatórios.” (http://www.paralerepensar.com.br/shakespeare.htm)

Shakespeare bebeu da estrutura dramatúrgica de Aristóteles e a aperfeiçoou. A catarse


existe, mas os momentos de tensão são desconstruídos por meio de intervalos, de
alívios cômicos. Para além de ser uma imitação do real, ele destaca que o drama
consiste em ter o real suspenso.

Filme baseado na obra shakespeariana, Hamlet.

O dramaturgo inglês ressalta em suas peças a contradição. Com Shakespeare, o drama


supre o verdadeiro em razão do verossímil. Uma diferença interessante entre
Aristóteles e Shakespeare se dá sobre o conceito de herói trágico. Para o filósofo grego
o herói é sempre nobre e a sua queda é um momento de despertar. Para o inglês, o
h ói á i l d hi ó i é
herói trágico morre em algum momento da história e serve para mostrar que nem é
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totalmente bom e nem totalmente ruim. É um ser humano contraditório, como todos
os outros.

“ Seus personagens tem autoconsciência. Eles se transformam no decorrer de suas peças na


medida em que confrontam o próprio discurso. A morte, em Shakespeare, é trágica, e não
mítica; é real e não simbólica. É por isso Shakespeare nos assombra bem mais do que nos
consola.” (CAPISTRANO, Pablo. In:
http://www.pablocapistrano.com.br/2013/08/23/o-jogo-dos-tronos/)

Na tragédia grega também tínhamos como centro de conflito a relação entre a vontade
humana e a vontade divina, em Shakespeare esse conflito dramático será tensionado
na relação entre homem versus homem, trazendo uma visão mais humanista para o
drama inglês do século XVI. Porém, a natureza do humanismo shakespeariano é
niilista, cético, sempre traz um lado negativo.

Muitas de suas obras ainda influenciam a forma de fazer dramaturgia na


contemporaneidade. No cinema, podemos citar o filme 10 coisas que eu odeio em você,
do diretor Gil Junger, que foi inspirado em “A megera Domada”, sendo sucesso no
público juvenil.

https://www.youtube.com/watch?v=pitSJF1pG3c
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Bertolt Brecht

Bertolt Brecht foi um dramaturgo alemão


que contribuiu fortemente para o que
conhecemos hoje na contemporaneidade
na dramaturgia. Suas rupturas com as
narrativas clássicas contribuíram na forma
de pensar a dramaturgia no século XX e
XXI.

Podemos apontar como principal


rompimento com o pensamento
aristotélico, a função do drama. Para o
“Foi um destacado dramaturgo, poeta e
encenador alemão do século XX. Seus trabalhos dramaturgo alemão, o drama não deve ter
artísticos e teóricos influenciaram função de catarse, mas de enriquecimento
profundamente o teatro contemporâneo,
tornando-o mundialmente conhecido a partir intelectual; o drama é lógica.
das apresentações de sua companhia o Berliner
Ensemble.” (In: Enquanto que Aristóteles defendia que o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht)
fim de uma ação dramática seria a catarse,
Brecht diz que a função da arte não é
permitir esse tipo de envolvimento do espectador com a obra, mas um envolvimento de
questionamento, de crescimento intelectual. Afinal, o que é apresentado nos palcos
não é real e nem pode suspender o espectador da realidade. Ele faz uma forte crítica a
arte burguesa que serve para o espectador esquecer a realidade. O entretenimento é
visto pelo alemão como uma forma de hipnose.
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Dogville ou uma estética brechiana no cinema.

Dessa forma, o drama em Brecht passa a ser visto como a crise da emoção e a arte
passa a ser um espaço de problematização. Suas obras provocam uma emoção, mas
antes de qualquer liberação de carga emotiva por parte do espectador, Brecht avisa a
estes que eles estão diante de uma ficção. Aquilo que eles assistem não é real, não é
uma imitação da realidade.

“Brecht é uma época. Uma época tumultuosa de rebeldia e de protesto. Refletem-se, em


suas obras, os problemas fundamentais do mundo atual: a luta pela emancipação social
da humanidade. Brecht tem plena consciência do que pretende fazer. Usa o materialismo
dialético da maneira mais sábia para a revolução estética que se dispôs a promover na
poesia e no teatro.

O teatro épico e didático caracteriza-se, em Brecht, pelo cunho narrativo e descritivo cujo
tema é apresentar os acontecimentos sociais em seu processo dialético: Diverte e faz pensar.
Não se limita a explicar o mundo, pois se dispõe a modificá-lo. É um teatro que atua, ao
mesmo tempo, como ciência e como arte.” (MESQUITA, José. In:
http://www.biografia.inf.br/bertold-brecht-dramaturgo.html)

Outra diferença com Aristóteles se refere ao tempo brechtiano que é a apresentação do


fatos e não está constituído com início, meio e fim como proposto pelo filósofo grego.
Além disso, o papel do espectador é modificado. Se na dramaturgia clássica ele vivia e
sentia como os personagens da tragédia, em Brecht ele é quem vai dar um fim à
história, dependendo do referencial individual para interagir com a obra.

Para além de mudar com a função do espectador, Bertolt Brecht rompe com a
necessidade aristotélica de construir dramaturgias baseadas na mimesis e na catarse.
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Esses três estudiosos da dramaturgia, contribuem para entendermos como a mesma se


configura nos dias atuais, bem como nos faz entender melhor as obras que se
apresentam para nós, seja no teatro ou no cinema.

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES. A poética. In: http://www.psb40.org.br/bib/b2.pdf. Acesso em:


09/05/2014.

HOLANDA, Luisa Severo Buarque de. Narração e drama em Aristóteles. In:


http://www.raf.ifac.ufop.br/pdf/artefilosofia_03/artefilosofia_03_02_filosofia_poetic
a_critica_05_luisa_severo_buarque_holanda.pdf.

Berthold Brecht — Dramaturgo. http://www.biografia.inf.br/bertold-brecht-


dramaturgo.html. Acesso em: 09/05/2014.

http://www.paralerepensar.com.br/shakespeare.htm

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