Mitos Conjugais TCC
Mitos Conjugais TCC
Mitos Conjugais TCC
Mito 01 – Marido e esposa são os melhores amigos - Pessoas que afirmam que o
matrimônio é uma relação que inclui necessariamente a amizade em seu grau mais íntimo,
trata-se de um equívoco. O matrimônio se sobrepõe à amizade, mas não é sinônimo dela.
O matrimônio é compartilhar intimamente e a amizade é compartilhar a intimidade. O
melhor amigo é por definição, o confidente mais intimo de alguém a relação inclui um alto
nível de sinceridade e participação exclusiva, enquanto a amizade ideal é uma relação de
A a Z o matrimônio ideal não deveria ir além de W. Se cada membro não preservar um
pouco de sua individualidade e garantir certo limite emocional, muitos matrimônios
poderão tender fatalmente para a autodestruição.
- Amizade vs Matrimônio:
1- Quando surgem problemas imaginários e temores sem fundamentos, ao invés de
choramingar para o cônjuge é melhor recorrer a um melhor amigo. A presença de um
confidente com quem falar do seu dilema, poderia minimizar pressões desnecessárias
sobre o matrimônio. Ex: Bill estava certo de que iria ser demitido do trabalho. Como
ele e Pâmela já estavam endividados ele não queria lhe falar sobre seus temores.
Isso teria aumentado a sensação de insegurança dela, despejando uma tensão
desnecessária sobre o casal. Felizmente Fred, o melhor amigo de Bill era um ótimo
ouvinte, e conseguiu resgatar o estado de ânimo de Bill. Dois meses depois, quando
Bill foi promovido ao invés de ser demitido, disse a Pâmela o quanto tinha se
preocupado com a possibilidade de perder o emprego.
2- As pessoas que tem sua melhor amizade, no mesmo sexo, sabem que existe algo de
especial na relação homem-homem ou mulher-mulher que não se repetem com pessoas
do sexo oposto. Frequentemente as pessoas se casam e se afastam dos amigos que
geralmente também são casais, mas o casamento acaba não conseguindo substituir as
amizades. Pode- se ter uma melhor amizade que não seja marido nem esposa e que
pertença ao sexo oposto? Isto é possível, mas improvável. As diversas diferenças
psicológicas entre homens e mulheres podem fazer com que eles sejam bons amigos,
bons companheiros no matrimônio, bons parceiros no time e ótimos colegas de trabalho.
No entanto no que se refere a serem ou não serem melhores amigos, o autor se diz cético.
Mito 05 – O marido e a esposa devem fazer tudo juntos – O mito da união total é um
dos mais comuns. Ele provavelmente nasceu da falácia romântica do mito 02, segundo a
qual o casamento ideal se compõe de dois indivíduos separados que se fundem numa
entidade estática. Quando um casal faz tudo junto, divide todas as coisas e não aceita
viver experiência alguma sem a participação do outro, eles deixam de funcionar como
indivíduos e formam um casal. Quando duas pessoas se fundem complemente formando
um só, a relação causará um grande sufoco emocional. Para o autor, a maioria dos
casados transfere para o cônjuge a figura dos pais.
Ex: Quando Pat de seis anos pediu a Kim de sete, para que viesse jogar, Kim
respondeu: tenho que pedir para minha mãe. Quando Pat, com vinte e seis anos
perguntou a Kim, de vinte e sete, se ela queria jogar boliche, futebol ou assistir
filmes de terror que sua esposa odiava, soaria absurdo se ele dissesse: tenho que
perguntar a minha mulher. E mais absurdo ainda é quando Alice, de vinte e cinco
anos é convidada para um concerto de ópera (que ela adora e seu marido odeia) e
diz: eu tenho que ver se meu marido me deixa ir. O autor não esta propondo atitudes
irresponsáveis, pois companheirismo afetuoso implica em consideração com a
outra pessoa.
Ex: Assim quando Sam diz que vai ao jogo com os amigos ela responde: Você se
esqueceu de que prometemos visitar Tila no hospital? Sam explica a seus amigos
que não os acompanhara esta noite, não por que sua guarda costas não o deixou
sair, mas por que ele tinha um compromisso anterior. Da mesma forma se Susie
deseja passar um tempo com suas amigas ela expressa suas intenções e
supostamente não perguntara a Sam se ele da a permissão. O autor coloca que
quando o cônjuge consulta o outro, não significa pedir autorização para tudo o que
faz, mas o consulta antes de tomar decisões.
- Não tome decisões unilaterais: Também poderia ser considerado outro mito, porém as
decisões importantes e que tenha impacto no matrimônio em geral, ou em um dos
parceiros em particular, devem ser tomadas em conjunto.
No entanto deixar de tomar todas as decisões unilaterais significa de deixar de pensar
livremente. Muitas vezes a linguagem revela os fundamentos dos pensamentos e atitudes.
Perguntar se pode é muito diferente de dizer que se esta tomando uma decisão. Pedir
permissão não é o mesmo que determinar a existência de boas razões para mudar uma
linha de ação.
Meu marido não me deixa sair a noite, meu marido não me deixa ir ao clube sozinha, ele
não me permite jogar futebol aos fins de semana, não me deixa participar do torneio de
carteado, essas são citações literais em terapia, cujos cônjuges exercem pressões
indevidas no sentido de que tudo aconteça somente para que o casal e jamais para cada
um em separado, dando muito pouca liberdade de movimento. Não é de se estranhar que
muitos percebem o casamento como uma escravidão e fiquem estarrecidos diante dessa
perspectiva.
Mito 06 – Temos que lutar para salvar o casamento – Dizem que as coisas boas não
acontecem facilmente e que às vezes é necessário muito esforço para conseguir o que
desejamos. As que se conseguem facilmente não são valorizadas, queridas ou
respeitadas. Esse clichê tem profundas influências nas atitudes e valores de muitas
pessoas na sociedade. No entanto, se eles são validos nas competições e jogos em geral,
no domínio das relações humanas tem consequências lamentáveis. O matrimônio vem
sendo erroneamente comparado a um jardim. Um jardim maravilhoso que requer
dedicação, planejamento, cultivo e conservação. É pouco provável que alguém vença o
campeonato de jardim mais bonito apenas jogando sementes no chão e as regando de vez
em quando. Lavrar a terra, fertilizar o solo e podar as plantas, pede um esforço continuo.
Deveria o casamento ser diferente? Seria possível manter uma relação sem fazer um
grande esforço? Claro que não! Não seria necessário lutar ou continuar lutando por
uma coisa quando ela vale a pena? E finalmente, não seria o matrimônio uma tarefa
árdua?
Se o casamento significa pôr sempre as necessidades do outro em primeiro lugar, ser um
bom ouvinte desde manhã até a noite e se mostrar compreensivo, protetor e amoroso o
dia todo, evitando dizer ou fazer coisas que o parceiro possa achar ofensivas, então
esqueça-o! Lamentavelmente, muitos não esperam do casamento nada mais e nada
menos do que um trabalho duríssimo.
O casamento pede mudanças e adaptações que não são precisamente um trabalho. Duas
pessoas de famílias diferentes, formando uma combinação única de genes e
cromossomos, se juntam no sagrado matrimônio e se ajustam as esquisitices mútuas. Isso
nos leva a conclusão de que todo bom casamento se baseia em concessões mútuas. Em
uma relação feliz e plena de êxito, a vida de cada um dos dois é compartilhada e não
dirigida pela outra pessoa (ver mito 20).
Ex: A súbita paixão de Mauricio e Carol resultou num casamento, em três semanas e
meia e seus problemas começaram a aparecer já na lua de mel. Mauricio descobriu
sua fixação por navegação e Carol percebeu que andar de barco lhe dava náuseas.
Ela desejava conviver com outros casais e ele a queria só para ele, o tempo todo.
Ele queria ter relações quando despertava pela manhã e ela gostava mais a noite.
Seis meses depois, uma variedade de pequenas diferenças tinham se tornado a
razão dos conflitos. Sentiam se ofendidos e mutualmente incompreendidos. Como
tantos casais, eles brigavam, mas também tinham momentos de prazer, alegria e
felicidade. Depois de quatorze meses nasceu a filha deles em três anos a relação
estava tão desgastada que o divórcio, mas do que uma ameaça se tornava uma
necessidade. Eles brigavam inclusive me público. Mas antes de procurar um
advogado, a necessidade de uma orientação matrimonial parecia evidente. O autor
coloca que atendeu o casal varias vezes em conjunto e duas vezes individualmente. E
descobriu que as principais áreas de conflito e os métodos já ensaiados na busca de uma
solução. O psicoterapeuta incentivou a busca de melhores caminhos para um acordo, o
estabelecimento de contratos, a superação de sabotagens ocultas e o começo de uma
negociação sincera. Carol afixou uma lista na lousa da cozinha:
1) Jamais criticar a pessoa. Criticar somente aspectos específicos de sua conduta;
2) Não viole a mente, ou seja, não diga jamais a outra pessoa o que ela estaria
pensando ou sentindo;
3) Evite dizer: Você sempre... Você nunca... . Ao invés disso, procure sem mais
especifico;
4) Evite as categorias de certo/errado, bom/mal. Assim que aparecer um desacordo
procure conversar;
5) Use mensagem do tipo: eu sinto ao invés de você é... . Por exemplo, diga: eu me
sinto ferido quando você me ignora em lugar de dizer, você é negligente e egoísta
porque me ignora;
6) Seja direto e honesto. Diga o que sente e sinta o que diz;
7) Eu estou ok, você esta ok. Eu falo você fala.
Carol fez duas copias dessa lista com as sete regras básicas. Mauricio levou uma delas
em sua carteira e a ficou com outra em sua agenda.
Depois de quatro meses de treino dentro e fora da terapia o casal praticamente parou de
brigar, não trocavam palavras ásperas. Eles passaram a debater ao invés de brigar. Carol
ainda completou que nem no noivado eles se deram tão bem.
Até aquela altura, parecia que a terapia tinha sido um êxito. Ao invés de coerção eles
tinham conseguido reciprocidade, as lutas foram trocadas por jogo aberto. Carol, porém
disse: Isso é um trabalho tão árduo. E Mauricio acrescentou: Bem, eu creio que temos que
lutar para conseguir um bom matrimônio. Dizem que o casamento é como um jardim que
precisamos regar limpar e fertilizar. Os bons matrimônios não nascem prontos. Eles são
uma conquista não é mesmo?
Carol antes mesmo que o psicoterapeuta pudesse falar continuou: Quando viemos vê-lo a
quatro meses atrás, estávamos numa canoa a deriva e sujeita a cair no precipício. Você
nos deu remos e agora já remamos bastante contra a correnteza. Porém a correnteza é
tão forte que não podemos nos atrever a relaxar e admirar a paisagem. Se deixarmos de
remar, ainda que uns poucos minutos, seremos levados para o abismo. O psicoterapeuta
refletiu mentalmente as palavras que eles disseram: os bons matrimônios precisam de
trabalho duro, não podemos nos relaxar, a corrente é tão forte, é como um jardim que
precisa ser adubado. O terapeuta refletiu em todas as sessões que ele tivera com o casal
e tinham chegado a um ponto decisivo, eles eram clientes excelentes, que tinham
cumprido suas tarefas e conseguido excelentes resultados e agora estava os
questionando, eles tinham medo de se fazerem perguntas básicas que já estavam
implícitas em seus comentários: é só isso que um matrimônio tem a oferecer? Afinal até
agora só trocamos as brigas por um trabalho enorme e sem descanso?
O terapeuta decidiu ser franco e disse: bem talvez agora vocês estejam suficientemente
maduros e preparados para uma separação amigável. Nenhum dos dois se surpreendeu,
ao contrario, pareciam aliviados.
Mauricio adorava ver tv e Carol odiava ela adorava ballets e operas e ele detestava. Assim
cada atividade realizada separadamente ou não, requeria sempre uma forma de
negociação e compromisso. Apesar de tantas divergências, a terapia matrimonial tinha
capacitado Mauricio e Carol a viverem juntos e sem brigas. Lidavam com seus problemas
de forma racional e sensata. Porém eles não viviam um casamento, o que eles tinham em
comum era uma sociedade complicada. Tinham sexo, mas não tinham amor, não vivia
nenhuma cumplicidade, nem eram felizes. Estando juntos até viviam harmoniosamente,
mas estavam desesperadamente sós, num casamento que jamais deveria ter sido
consumado.
Maurice se perguntava: Será que não deveríamos continuar juntos pelo bem de nossa
filha? O terapeuta pontuou que ele havia cuidado de dezenas de adultos com problemas,
pelo fato de seus pais terem mantido um casamento que já estava em coma alegando o
bem dos nossos filhos. Muitos pacientes já adultos disseram: eu m preferido que meus
pais se separassem, talvez eu estivesse bem melhor agora. Não é uma boa ideia criar
filhos numa atmosfera de tensão e bloqueio afetivo, ou num lugar em que os pais cultivam
problemas e conflitos. Uma separação amigável em que as crianças tenham acesso fácil
aos pais oferece um clima muito mais sadio para o amadurecimento psicológico. (ver mito
15). A opção pela separação não é fácil, o casal passou meses pensando nisso e depois
pediram uma sessão. E Carol disse: não a mais o que fazer, apesar de vivermos bem,
realmente não temos nada em comum. Ele respondeu que um bom momento para o
divorcio é quando a relação está fluindo bem e não quando esta em crise. Mauricio
completou: é muito mais fácil ser objetivo, racional e imparcial num acordo entre amigos do
que entre inimigos e concluiu de fato somos bons amigos, mas um péssimo casal.
Os três fizeram um acordo que o casal teria livre acesso a filha, foi discutido a divisão do
dinheiro, moveis e demais pertences e a nova moradia de cada um deles. Os advogados
redigiram o acordo final e foi concedido o divorcio sem sentimentos de culpa.
Depois de cinco anos o terapeuta teve contato com eles, Mauricio havia se casado sete
meses depois do divorcio e Carol também se casou meses depois dele. Ambos tiveram
outro filho. Mauricio disse que seu segundo casamento era muito gratificante e que havia
aprendido com os erros do primeiro casamento.
A terapia conjugal tornou a agressiva relação de Carol e Mauricio numa vida sufocante e
cheia de tentativas de negociação sobre coisas banais. No fundo eles continuaram
incompatíveis como antes e quase não tinham mais nada em comum. O casamento requer
companheirismo, trabalho em grupo, metas comuns e uma relação de muito respeito, no
entanto ele é muito mais do que a soma de todas essas qualidades juntas. Mas do que um
consenso em questões fundamentais e de interesses; sem amor, atração, carinho e
compreensão, a vida de casados é tão árida quanto as areais do Saara. A principal lição
da terapia conjugal para Mauricio foi ajuda-lo a perceber uma outra mulher capaz de
compartilhar seus interesses, de respeitar suas preferencias e vice-versa. Quando
perguntei se ele estava trabalhando seu segundo casamento e se ele também precisava
de atenção constante como um jardim, e ele respondeu: Nada disso! Nós vivemos bem e
nada mais. Acrescentou ainda que, embora sua esposa ele tivessem desacordos, sobre os
quais negociavam e se harmonizavam a relação entre eles era pautada pela mutualidade.
Mauricio disse também: Talvez a ideia de se lutar por um bom matrimônio seja porque a
maioria dos casais, no fundo sejam incompatíveis.
Mito 07 – Num bom relacionamento, um tem confiança total no outro – Tudo o que
leva aos extremos tende a consequências desfavoráveis. Se alguém é muito alto, muito
magro, muito vivo, muito exigente, a implicação é de que estaria melhor com menos
desses atributos. Confiar demasiado, por exemplo, pode ser também desastroso.
Ex: Minha mulher e eu tínhamos nos mudado para uma casa nova e ao voltar do
trabalho para casa um cavalheiro estava na sala de estar com ela. Este é Charles,
disse ela, ele mora quatro casas para baixo e veio nos dar as boas vindas ao bairro.
Que amável, eu respondi e ofereci-lhe outra cerveja por ser um vizinho tão bom. No
dia seguinte, quando o encontrei de novo em casa, percebi que ele estava abusando
de nossa hospitalidade. Então eu lhe falei com franqueza. Não vem ao caso se teria
ou não ocorrido qualquer coisa entre Charles e minha esposa. Aqueles de nós que
não acreditam cegamente, preferem eliminar os problemas quando eles estão
apenas começando.
Os bons matrimônios geralmente não se baseiam na confiança total. Eles têm por base
uma insegurança fundamental. Estar absolutamente seguro quanto a fidelidade, a lealdade
ou a devoção do outro, pode desqualifica-lo como pessoa. Muita segurança produz uma
sutil falta de respeito. É mais realista acreditar que o nosso cônjuge é um ser humano fiel,
porém sujeito a falhas e que as vezes pode cair em tentações sob certas circunstâncias. A
menos que alguém se mantenha vigilante, é possível ser usurpado ou trocado.
Se alguém vê sua esposa como demasiado caseira para atrair pessoas interessantes,
essa total confiança e segurança não geram respeito, nem excitação, nem aumentam a
satisfação. Por outro lado, se alguém achar que seu cônjuge é capaz de atrair pessoas do
sexo oposto e trai-lo se for abandonado ou maltratado dentro do matrimonio,
provavelmente ele aumentara seus cuidados, mostrando mais interesse e afetividade.
Uma certa gama de insegurança torna o matrimonio viável, significativo e até mais
excitante. Graças a insegurança evitamos supor que depois de conquistarmos alguém,
não temos mais que nos preocupar com esse alguém pois ele já é nosso. Ajuda-nos a não
ficamos gordos e com a aparência descuidada, só porque não temos mais que chamar a
atenção desse alguém, a não darmos mais atenção do que a necessária para o trabalho e
para que respeitemos mais a pessoa amada. Além disso, o interesse afetivo e nos ajuda a
preservar o brilho da relação.
Mito 08 - Você deve fazer o outro feliz no casamento – Um dos nossos maiores erros é
o de aceitar a responsabilidade pelos sentimentos dos outros. Ele é infeliz por culpa
minha, eu não sei ser uma boa esposa para ele, eu daria qualquer coisa para fazê-lo feliz,
porém tudo o que faço parece ter efeito ao contrario.
Ex: Durante quinze anos, Jean tentou fazer Lionel feliz e satisfazer seus caprichos,
porém, ele continuava infeliz. Numa entrevista ele disse ao psicólogo: Eu queria que
Jean fosse mais estimulante, mais excitante, mais divertida. Perguntei lhe quão
estimulante, excitante e divertido era viver com ele. Ele respondeu: isso não vem ao
caso. O problema com Jean é que ela se conforma fácil demais, ela se contenta em
ficar em casa, ler um livro assistir televisão enquanto eu já sou mais agitado. Na
verdade Lionel era um homem infeliz. Encontrava falhas em tudo e todos inclusive
em si mesmo. De qualquer forma, Jean se culpava e dizia que se ela fosse uma
esposa melhor talvez, talvez Lionel também fosse melhor. Levou anos para Jean
perceber que era impossível fazer alguém feliz, inclusive Lionel e que ela precisava
fazer a si mesma e ao seu marido o favor de se dedicar somente a sua própria
felicidade, deixando Lionel fazer o mesmo. Quando Jean deixou de se fazer
responsável pela felicidade de Lionel, ela ficou mais tranquila, mais expressiva e
bem menos ansiosa. Quando Jean deixou de aceitar a culpa por tudo de mal que ia
mal na vida de Lionel, ela começou a empregar seu melhor seu tempo. Começou a
ter aulas de tênis e navegação. Entrou para o clube de leitores e começou a fazer um
curso de literatura inglesa.
A felicidade é um peso que muitos levam nas costas de si e dos outros. Os pais se acham
culpados pela infelicidade dos filhos e os filhos acreditam que seus pais serão infelizes se
eles não forem brilhantes.
A felicidade própria ou alheia é um parâmetro usado para determinar o valor pessoal.
Outro grande problema é que o termo felicidade é muito vago. Ele pode significar ausência
de dor, depressão, ansiedade e etc. Dessa forma nós já sabemos o que devemos evitar,
mas não o que fazer. Uma das maiores desvantagens da ideia da felicidade é que os
problemas emocionais, as desilusões as frustações fazem parte da vida. Tentar escapar
do inevitável intensificara a frustação, aumentara a culpa e a infelicidade. Uma pessoa mal
orientada pode insinuar que: como vocês me sinto deprimido, com náusea e outros males,
é obvio que estou em falta com meus deveres conjugais, se eu fosse um bom marido ou
esposa, eu não me sentiria assim.
Quando a felicidade é definida como um estado de satisfação, realização ou conquista,
muitos se perguntar: será que sou feliz? Será que outras pessoa são mais felizes do que
eu? Se eu não sou feliz, quem é o culpado por isso? A preocupação com a felicidade
geralmente nos conduz a infelicidade. Na realidade a felicidade não é encontrada quando
a procuramos diretamente. A felicidade é um subproduto de outras atividades. A busca da
felicidade só pode nos conduzir a frustações, ou ate mesmo a infelicidade. As pessoas
felizes são aquelas que deixaram de se preocupar em fazer felizes a si e aos outros,
tornando-se ao contrario, responsáveis pelos seus próprios sentimentos e buscando
realizar coisas que lhes da prazer.
Sermos responsáveis pela nossa própria satisfação e realização, aumenta as
possibilidades da vida em geral e do matrimonio ser mais agradável se alguém coloca
obstáculos no nosso caminho, nos convém uma atitude mais positiva e assertiva. Não é
obrigação do seu cônjuge nem de ninguém fazer o outro feliz, nem você deve permitir a
ninguém determinar quanta alegria, quanta jovialidade e energia você pode ter na sua
vida.
Mito 12 – O matrimônio deve ser uma sociedade 50% a 50% - Direitos iguais,
oportunidades iguais e pagamento igual por tempo igual se tornaram bandeiras também da
mulher. A igualdade e a democracia são vistas por muitos como sinônimas e altamente
desejáveis. A não ser que as coisas sejam divididas meio-a-meio estaremos diante de uma
situação de exploração. A debilitação dos papeis rígidos do homem e da mulher e os
estereótipos rígidos das funções masculinas e femininas refletem progresso e uma
genuína evolução. Sem sombra de duvidas, a aplicação errônea da divisão meio-a-meio
de tudo em casa e a noção de que a participação conjunta é necessariamente justa e
desejável tem levado muitos matrimônios pelo mau caminho. O ponto que alguns casais
deixam de perceber é que, enquanto seres humanos são iguais em valores, ao mesmo
tempo são diferentes entre si. Dessa forma, debaixo de algumas circunstancias tais como
40%- 60%, 70%-30%, 75%-25% ou qualquer outra combinação pode ser muito melhor do
que 50%-50%.
Ex: Harold se orgulhava de ser feminista e era rápido para detectar até sinais tácitos
de chauvinismo (rejeição radical a seus contrários, desprezo às minorias,
narcisismo, mitomania) masculino em si mesmo e nos outros. Quando se casou
com Marge, insistiu para que dividissem todas as tarefas domésticas. Ele dizia: Nós
dois trabalhamos fora ganhando a mesma quantia, voltamos para casa cansados
então eu farei o jantar uma noite e você outra. Aparentemente a proposta de Harold
era excelente. Mas, ele se esqueceu de considerar alguns aspectos da realidade. Ele
era um péssimo cozinheiro! Sua comida era intragável e ele gastava muito tempo no
preparo mesmo de uma comida simples. E Marge adorava cozinhar e tinha talento
para improvisar pratos deliciosos com o mínimo de esforço. Claro que Harold não
tinha levado em conta aspectos importante da sua relação.
As soluções para o casal foram relativamente simples, Marge se ocupou de tudo o que era
de cozinhar e Harold passou a fazer todas as compras de alimentos. As diferentes
atividades promoveram equilíbrio e harmônio a esse casal.
Há mais de uma forma correta para se entender na vida conjugal. O casamento é um
sistema intrincado e o que é bom para um casamento pode ser totalmente destrutivo para
outro.
Mito 13 – O matrimônio pode realizar todos os nossos sonhos – Muitos acham que o
casamento é um broche de ouro, um notável sinal de progresso. Estar casado confere um
status especial as pessoas. É prova do seu valor básico, mostra ao mundo que alguém o
amou o suficiente para ousar dar esse grande passo. Esse sentimento, devido ao
condicionamento social, é provavelmente experimentado com mais frequência pelas
mulheres do que pelos homens, o termo solteiro não possui o mesmo tom degradante que
o de solteirona. Sem duvidas, alguns homens são também presas do mito que o
casamento pode realizar nossos sonhos. Um humorista certa vez disse: nenhuma mulher
chega aos trinta sem ter sido convidada para o casamento, nem que seja pelos próprios
pais. Apesar de nosso considerável progresso rumo a igualdade, os pais ainda são muito
mais preocupados em casar suas filhas do que seus filhos.
Ex: Lyan, de 35 anos, tinha problemas de autoestima, estava casada e tinha dois
filhos. Toda a minha vida fui preparada para ser esposa e mãe, disse ela. Minha
infância inteira foi orientada nessa direção. Aprendi a borda, costurar, cozinhar e
assar. Depois do colegial, escolhi uma universidade não pelo seu nível acadêmico,
mas como um lugar de encontros sociais. Meu único proposito na universidade, foi
o de encontrar um esposo e ainda bem que o encontrei. Joel e eu nos casamos
quando nos formamos. Agora treze anos depois, com filhos de doze e dez anos,
Lyan tinha cumprido seu objetivo de vida. Temos até uma cerca viva, um carro de
passeio e um cachorro, comentou. Porem ao realizar o sonho de sua vida, Lyan se
tornou inquieta e rebelde. No começo tais sentimentos eram furtivos e aos poucos
comecei a me perguntar se aquilo era tudo o que existia na vida, disse ela.
Fran estava muito triste. Sua historia era muito semelhante a Lyan, porém aos
quarenta e dois anos ela tinha sido vitima de uma mulher mais jovem. Seu marido
estava vivendo com uma de suas secretarias e tinha deixado Fran há oito meses. Eu
fui criada para ser esposa, disse Fran. E isso é tudo o que eu sei fazer. Aqui, de
novo a suposição de que o matrimônio realizaria todos os sonhos ao dizer que: Isso
era tudo o que eu queria e eu estava completamente feliz.
Lyan e Fran estão em momentos diferentes da vida, porém são vitimas da mitologia de
que o matrimônio é tudo e a razão de ser da existência. Mas que tipo de ajuda existiria
para elas? A solução estaria no desenvolvimento de um sentimento maior para a vida,
onde o matrimônio seria tão somente um elemento não necessariamente essencial para
uma vida plena e feliz. Há necessidade de uma ampla variedade de recursos interpessoais
quando alguém deseja se relacionar bem. A empatia, a afetividade autentica a capacidade
para manter amizades e o companheirismo, são necessários numa relação duradoura e
positiva. A habilidade sexual é uma das partes importantes na formação da autoestima e
da confiança. As habilidades sexuais podem ser aprendidas se o amor não é suficiente. A
destreza e as habilidades sexuais não são suficientes para promover uma relação afetiva
duradoura. O trabalho, outras atividades e os estímulos externos, podem proteger a
relação contra o desgaste domestico. A verdade é que existem homens e mulheres que
ficam satisfeitos com uma vida totalmente domestica. Não há nada de mal em ser caseiro
exceto quando isso torna vulnerável a família, como aconteceu com Fran.
Quanta gente magra, elegante, se transforma logo depois do casamento e se torna obesa.
E por que não dizer o mais desagradável? Antes do casamento se esforçam para manter a
forma. Para que? Para pegar uma vitima desatenta. Uma vez que foi assinado o contrato
matrimonial, acham desnecessário continuar fazendo qualquer tipo de esforço. Como isso
é triste.
A falácia do casamento como uma realização total se relaciona como ao mito 02 o amor
romântico, porém tem algumas características próprias. Quando se faz do matrimônio a
condição sine qua non (Indispensável/essencial) para a vida em si, a chantagem
emocional é uma ocorrência provável: não posso viver sem você, se você me deixar eu me
mato. Muitos desses matrimônios sobrevivem não por amor ou busca da felicidade. Mas
por culpa e medo. O cônjuge se transforma no oxigênio emocional do outro, sem o qual
não pode viver. Tais indivíduos se dedicam exclusivamente ao cônjuge: você é tudo para
mim, você é meu universo. Essa dependência patológica gera ressentimentos para ambas
as partes. O membro dependente fica ressentido com seu salvador, por se tonar um
apêndice dele enquanto o outro se sente amarrado, enojado, ansioso e etc. Tais
casamentos são chamados de simbióticos, ou seja. Um membro depende do outro para a
satisfação de seus desejos neuróticos e não para um apoio cooperativo e afetivo.
O amor maduro nunca faz do outro um oxigênio emocional. A mensagem de uma pessoa
madura é do tipo: eu posso viver com você e sem você, prefiro viver com você por que te
amo. Espero que sinta a mesma coisa por mim. Os vínculos imaturos se refletem numa
frase diferente: você é meu e eu nunca o deixarei.
Acorrentar uma pessoa num casamento sem amor, não é uma boa ideia. Mesmo assim,
aqueles para os quais o matrimônio é o que há de mais importante na vida, à relação tem
que ser mantida mesmo sabendo que eles não são desejados e nem respeitados por seus
cônjuges. O casamento como um fim em si mesmo, geralmente carece de felicidade,
companheirismo, amor, carinho e alegria.
Um bom casamento pode ser um detalhe importantíssimo e desejável para a vida plena,
mas não é de forma nenhuma essencial. A concepção de que o casamento em si mesmo
é tudo, é uma concepção falsa que somente pode trazer dor e desilusão.
Mito 17 - Se a(o) esposa(o) quer deixá-lo(a), faça tudo para impedi-la(o) – Um dia pela
manhã recebi um telefonema da esposa de um amigo: eu não sei o que fazer nem a
quem procurar. Disse Vick com uma angustia sem fim. O que está de errado com
vocês? O que esta acontecendo? Perguntei. E ela tentando não chorar respondeu:
há dois dias, Gerald me contou que esta gostando de outra mulher e que quer o
divórcio. Desde então, eu não consigo mais me alimenta, nem dormir, nem fazer
coisa alguma a não ser chorar. Estou tomando calmante e ando muito confusa. Não
sei o que fazer. Enquanto conversávamos, Vick disse que seu marido já teve antes
um caso com outra mulher durante dez meses e planejava casar com ela assim que
se divorciasse oficialmente.
Dei a Vick um conselho, que eu tinha certeza que ela não aceitaria. Diga a Gerald e a
sua namorada para que vivam juntos, permita-lhes conviver plenamente durante três
meses. Se possível, não tenha nenhum contato com ele durante esses noventa dias
e procure também sair com outros homens. Quando se passarem os três meses,
convide Gerald para um jantar e lhe pergunte se ele ainda esta apaixonado. Eu lhe
expliquei que tirando as barreiras e permitindo aos amantes a convivência, muitos
romances morrem de morte natural. O melhor caminho para conhecer as pessoas é
saindo com elas por alguns meses, mas essa é também a melhor forma para destruir
ilusões.
Como era de se esperar Vick não seguiu o meu conselho. Ao contrario disparou nele
um ataque titânico, histérico e ameaçou suicidar-se. Isso fez com que ela se
tornasse cada vez menos atrativa aos olhos dele, especialmente em comparação
com a sua amada, que estava sempre serena, embora também se preocupasse.
Vick fez um ataque feroz contra a namorada de Gerald, e que segundo ele, isso
contribuiu somente para que ela se mostrasse duplamente patética. Finalmente Vick
perdeu a batalha. Tentando colocar obstáculos no caminho do marido, ela ajudou a
aumentar os encantos daquele romance, diminuindo cada vez mais o seu próprio
valor.
Por contraste, outra amiga conviveu com uma situação idêntica de modo
complementar diverso. Quando o esposo de Elisabeth revelou sua devoção eterna e
imortal por outra mulher e pediu o divórcio, tudo o que ela disse foi: eu sinto muito.
Isso foi dito calmamente, sem rancor, mas com emoção sincera. Então o marido fez
as loucuras que desejava, mas depois capitulou.
Em um dos casos, quando as táticas habituais fracassaram a esposa que era quem
estava rejeitando não se comoveu com as ameaças e súplicas do marido, Harvey
começou uma greve de fome. Depois de quatro dias, Nancy finalmente desistiu e se
rendeu. Ela encerrou sua relação extraconjugal e passou a viver extremamente
infeliz, com um revólver simbólico apontado para a cabeça dela, para sempre.
A destruição do casamento é quase sempre um problema serio e por isso é fácil
compreender porque tantos casais não querem deixar um companheiro ir embora. É claro
que ter a metade do pão, é melhor do que não ter pão nenhum, mas será que migalhas
são suficientes para manter a vida emocional? Se um dos cônjuges quer sair, deixar o
casamento, mas acaba ficando por piedade, medo, dinheiro, culpa que tipo de união é
essa? A negação tem um papel importante em situações como essa.
Não vás onde não te gostem e não fiques onde não te querem. Mais do que um aforismo
caseiro (dizer que gosta de tudo, por correr o risco de não gostar de nada), é um conselho
para que ninguém fique numa relação onde for meramente tolerado. Talvez alguns casais
se agarrem tanto entre si, por acreditarem na ressureição do amor.
Mito 18 – Um amor que morreu, ás vezes pode renascer - Tenho encontrado pessoas
que ficaram em casamentos emocionalmente estéreis e espiritualmente mortos, onde o
amor, a afeição e o carinho há muito já tinha se acabado. Aqueles que conseguiram sair
dessa união depressiva descreveram a experiência como semelhante á saída de um
pântano rumo a terra firme, saída da noite escura para a luz do sol que ilumina a alma, ou
ainda sensação de voltar a enxergar depois da mais completa cegueira.
O que fez com que esse casamento fútil e desolado sobrevivesse?
Muitos casamentos horríveis sobrevivem por que os cônjuges se grudam uns aos outros
por causa de seus medos neuróticos. Outros ficam juntos por se preocuparem com a
opinião publica escrúpulos religiosos, problemas financeiros e constrangimentos dessa
natureza. Alguns se desiludem ao descobrirem que o casamento oferece muito menos do
que eles esperavam e por isso suportam a duras penas seus problemas conjugais ao
invés de terminarem suas relações. Se existir um pequeno companheirismo, qualquer
vestígio de afetividade conjugal ou compreensão humana é compreensível a tentativa de
se evitar a separação. A maioria dos adultos reconhece que o companheirismo, o afeto e a
compreensão são aspectos que a viabilizam o casamento. Apesar disso persiste a relação
infeliz na qual ambos se desprezem, sentem irritação, senão fúria em relação a
praticamente tudo o que envolve seu cônjuge.
Há pessoas que acham que tem poder para fazer os outros gostarem delas. Mas o amor
não pode ser manipulado. Muitos desperdiçam energia e tempo na tentativa inútil de
reconquistar um amor perdido.
Uma das minhas primas fez o possível e o impossível para tentar reconquistar o
amor de seu marido. Ela aprendeu a jogar golfe por que achou que isso o agradaria.
Depois de dez anos fazendo ovos cozidos, ela foi para uma escola, aprendeu a
cozinhar e passou a fazer pratos excelentes ela estava tentando conquistar seu
amor pelo estômago. Ela que era loira pintou seu cabelo de ruivo apelando para o
senso estético dele. Então, ela passou a se interessar por pesca em alto mar coisa
que ela sempre evitou durante toda a sua vida. Mas será que tudo isso ajudou a
reconquistar seu amor? Claro que não. Ele tinha passado a desconfiar de todas aquelas
mudanças e disse que ela tinha se tornado ridícula.
Quando morre o amor, ele esta morto. Tentar levantar um amor defunto é querer
ressuscitar um cadáver, aplicando respiração boca a boca.
Mito 23 – Não tenha sexo se estiver com raiva – Em muitos matrimônios disfuncionais a
sexualidade pode ser usada como uma arma, como força para separar cada vez mais os
dois. Cuidei de muitos casais que usavam tontamente o sexo para manipular seus
parceiros.
Um casal jovem me procurou por que estava tendo dificuldades sexuais e conjugais.
Abby era uma dessas pessoas, para que o sexo ficava totalmente fora de cogitação
se ela estava chateada com o esposo. Se Robert queria ir para cama com ela, ele
teria que exibir sua melhor conduta. Fiz a ela uma pergunta direta: o que ele teria
que fazer para ter o direito de transar com você esta noite? Abby respondeu: bem,
eu preciso de alguma ajuda na casa. Ele poderia passar o aspirador no living e no
escritório. Há meses eu venho pedindo a ele para consertar a cerca e arrumar o
guarda roupas. Ela teria continuado, mas a interrompi dizendo que se ele fizesse
tudo aquilo, estaria cansado demais para o sexo.
Num outro casal, era o esposo que fixava os critérios: antes que eu possa
considerar a possibilidade de uma relação sexual, as coisas precisavam estar
perfeitamente em ordem entre Paula e eu. Tenho que me sentir perfeitamente bem
com ela e vice versa. Preciso sentir que estamos afetivamente próximos, que
estamos em harmonia. Tenho que estar vivendo sua calidez e seus cuidados, sua
ternura e proximidade. Perguntei: com que frequência esses critérios se cumprem?
Pelo menos uma vez por mês ou menos. Respondeu Paula com tristeza.
Nos dois casos que acabo de mencionar, vários mitos parecem intervir juntamente com o
principal deles que estamos considerando. Um deles é que o amor é a condição
necessária para a vida sexual gratificante. Em nossa cultura, o amor e o sexo foram
entrelaçados tão intrinsicamente que fazer amor é sinônimo de relação sexual. No entanto
o amor não pode ser produzido. Os que vêem o amor na condição como condição
essencial para o sexo, não sabem que o amor pode nascer do sexo. Quando duas
pessoas se sentem atraídas e tem uma boa sexualidade, é provável que com o tempo elas
comecem a se amar.
Outro mito que se relaciona com o que eu estou abordando é o de que as relações
conjugais deveriam ser sempre especiais, profundamente eróticas, afetuosas e altamente
satisfatórias. Equivaleria a dizer que cada comida deveria ter um prazer epicuriano, ser
servida na melhor peça de cristal, com musica suave a luz de velas, que é inadmissível um
sanduiche as pressas! Os que só comem em restaurantes quatro estrelas e em mais
nenhum outro lugar, passariam fome boa parte do tempo e se enfraqueceriam. Se cada
encontro sexual tiver que ter um desempenho quatro estrelas o casal acabara renunciando
as saborosas rapidinhas e outros jogos sexuais menos elaborados que promovem à
intimidade a solicitude e o bem estar físico. Os que apenas aceitam sexo perfeito,
geralmente acabam se frustrando e passando necessidades. Alguns casais esperam
acalmar sua ira e passam horas tentando diminuir suas tensões emocionais falando sobre
os seus sentimentos (frequentemente apenas conseguem aumentar seus níveis de
ansiedade). Existem casais que descobriram que o sexo diminui a raiva. Quando estão
ressentidos vão para a cama e resolvem tudo sexualmente. Eles nunca permitem que os
problemas se interponham no caminho do sexo gratificante e acham que frequentemente
que as coisas tomam outro rumo, depois de uma boa transa. Não estou sugerindo o fim
das discussões sobre as emoções no casamento. É claro que os casais funcionam melhor
quando se comunicam livremente e quando compartilham e ventilam seus ressentimentos.
Sou contrario as discussões tediosas, que levam horas sem conduzir nada além da
obstrução da intimidade sexual.
Algumas pessoas aderem o mito de que não se deve ir para cama, quando se esta
brigado. Mas quando eles tentam resolver as coisas conversando, vão brigando ate
amanhecer o dia. Tenho percebido que após uma noite de sono, os problemas se
resolvem de forma impressionante. As mensagens de amor e as mensagens sexuais não
são as mesmas. Os que estão enamorados as vezes ficam tão preocupados com o
componente afetivo que seus impulsos sexuais se tornam difusos e isso diminui sua
estimulação erótica. Os que acham que sexo e amor devem caminhar juntos e que a
irritação e o ressentimento devam ser eliminados antes da relação sexual amorosa serão
frustrados. Os casais que aprendem a vivenciar uma variedade de alternativas sexuais
como o sexo amoroso, erótico, luxuoso, brincalhão e ate mesmo o sexo raivoso, poderão
ter menos conflito e um casamento melhor e menos limitado em suas possibilidades de
expressão sexual.
Mito 24 – Conforme-se com o que você tem – Todo matrimônio requer adaptações,
ajustes e a capacidade de passar por cima das diversas provocações e patologias.
Devemos aceitar o fato de que nossos cônjuges estão propensos a ter alguns hábitos,
maneirismo e modos de cultura que dificilmente se modificarão. Em outras palavras, ou se
aprende a conviver com essas pequenas moléstias e aceita-las, ou se convertera num
rabugento. A maioria dos matrimônios podem crescer e serem mais ricos, tornando as
relações difíceis numa aventura satisfatória e cheia de vida. Os que acreditam que nada
pode ser feito para melhorar tais casamentos, geralmente estão equivocados.
Ex: Simon e Cindy tinham ido a dois conselheiros matrimoniais. Seus dez anos de
casamento tinham sido turbulentos. Os conselheiros só tinham piorado as coisas. A
primeira conselheira era uma pessoa muito doce, mas tudo o que ela fez, pelo o que
eu pude perceber, foi sentar-se ali e cacarejar compulsivamente. O segundo
conselheiro nos incitou a brigar diante dele. Nos deu um pau almofadado para que
nos batêssemos e com isso ele apenas conseguiu aumentar ainda mais nossa raiva.
Enquanto Cindy contava suas experiências Simon concordava balançando a cabeça
e então falou: sim, seus colegas são realmente uns tarados. Por que eu deveria
pensar que você é diferente? Ao que me consta você é culpada ate que me prove ao
contrario. Creio que vocês os terapeutas são um bando de falsos.
Cindy: Simon, como você chega ao ponto de insultar o doutor assim!
Lazarus: Ele tem todo o direito de ser tão cético e desafiante. Eu sentiria o mesmo
na pele dele. Porém eu só conheço Simon a dez minutos, enquanto você Cindy, o
conhece a mais de dez anos. Deixe me te perguntar uma coisa. De fato eu percebo
muita raiva nele e eu poderia dizer que seu estilo esta repugnante. Ele é assim em
outras relações ou é só aqui comigo?
Cindy: Você tocou no ponto certo. Doutor. Eu estou convivendo com isso a dez
anos. Ele não sabe se comportar como um ser humano. Por que você acha que tanta
gente o odeia? Por que você acha que ele tem tantos problemas com seu chefe no
trabalho? É porque você vê, pensa e sente como se tivesse cinco anos de idade. O
problema com ele é que ele não se sente por dentro como um homem, mas se vê
como um bebezão. E ele é mestre na arte de humilhar as pessoas.
Eu já ouvi isso antes Lazarus: desculpe me, Cindy. Como é que você sabe que
Simon se sente como um menino e pensa como se tivesse cinco anos de idade? Ele
disse isso a você?
Cindy: Isso é mais do que óbvio.
Lazarus: Você esta pronta para receber a regra numero 1, nunca diga a outra pessoa
o que ela esta pensando ou sentindo.
Simon: Você está brincando! Ela é uma adivinhadora de pensamentos tão
amaldiçoada que se tirássemos isso dela, ela não teria mais do que falar.
Lazarus: Simon, você realmente se sente mais como um menino do que como um
homem?
Simon: Creio que sim, as vezes.
Lazarus: Quando?
Simon: Não sei, creio que quando me sinto acuado, ou intimidado.
Lazarus: Eu o intimido?
Simon: Não.
Cindy: Ele tem medo da sua própria sombra.
Lazarus: Alto lá! Sinto que uma parte do problema esta aqui. Cindy e Simon, os dois
são o que Cindy chamou de mestres na arte de humilhar. Ambos estão numa praça
de guerra, atacando em todas as frentes. O casamento de vocês é como um barco.
Se ambos estão fazendo furos no barco. Se querem afunda-lo por mim tudo bem,
mas se quiserem de verdade que o casamento funcione, precisam tampar
imediatamente seus furos! Isso implica antes de mais nada em ser amáveis entre si,
falando com respeito e sem tentar ler a mente do outro.
Simon: Isso implicaria numa mudança verdadeira.
Lazarus: Talvez pudéssemos começar imediatamente discutindo as emoções e os
pontos de atritos de vocês dois como três adultos civilizados.
Cindy e Simon frequentemente apelavam para suas táticas de guerra, mas no momento
em que um deles saia da linha, pediam uma imediata reformulação civilizada e madura.
Assim terminamos a sessão num clima otimista.
Levei mais de um ano para ajudar aquele casal a ser capaz de se relacionar mutualmente
de forma adaptativa, cooperativa e com respeito mútuo. Se por acaso Cindy ou Simon
tivessem percebido que não haveria mudanças, que teriam que optar entre um matrimônio
hostil e a separação, não teriam procurado ajuda. Felizmente eles não ficaram contentes
com o que tinham. Apesar das duas experiências negativas com os conselheiros, a
relação deles ainda era importante a ponto de estimular a procurar ajuda até o fim.