Mitos Conjugais TCC

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Mitos Conjugais – Arnold A. Lazarus.

Mito 01 – Marido e esposa são os melhores amigos - Pessoas que afirmam que o
matrimônio é uma relação que inclui necessariamente a amizade em seu grau mais íntimo,
trata-se de um equívoco. O matrimônio se sobrepõe à amizade, mas não é sinônimo dela.
O matrimônio é compartilhar intimamente e a amizade é compartilhar a intimidade. O
melhor amigo é por definição, o confidente mais intimo de alguém a relação inclui um alto
nível de sinceridade e participação exclusiva, enquanto a amizade ideal é uma relação de
A a Z o matrimônio ideal não deveria ir além de W. Se cada membro não preservar um
pouco de sua individualidade e garantir certo limite emocional, muitos matrimônios
poderão tender fatalmente para a autodestruição.

- Amizade vs Matrimônio:
1- Quando surgem problemas imaginários e temores sem fundamentos, ao invés de
choramingar para o cônjuge é melhor recorrer a um melhor amigo. A presença de um
confidente com quem falar do seu dilema, poderia minimizar pressões desnecessárias
sobre o matrimônio. Ex: Bill estava certo de que iria ser demitido do trabalho. Como
ele e Pâmela já estavam endividados ele não queria lhe falar sobre seus temores.
Isso teria aumentado a sensação de insegurança dela, despejando uma tensão
desnecessária sobre o casal. Felizmente Fred, o melhor amigo de Bill era um ótimo
ouvinte, e conseguiu resgatar o estado de ânimo de Bill. Dois meses depois, quando
Bill foi promovido ao invés de ser demitido, disse a Pâmela o quanto tinha se
preocupado com a possibilidade de perder o emprego.
2- As pessoas que tem sua melhor amizade, no mesmo sexo, sabem que existe algo de
especial na relação homem-homem ou mulher-mulher que não se repetem com pessoas
do sexo oposto. Frequentemente as pessoas se casam e se afastam dos amigos que
geralmente também são casais, mas o casamento acaba não conseguindo substituir as
amizades. Pode- se ter uma melhor amizade que não seja marido nem esposa e que
pertença ao sexo oposto? Isto é possível, mas improvável. As diversas diferenças
psicológicas entre homens e mulheres podem fazer com que eles sejam bons amigos,
bons companheiros no matrimônio, bons parceiros no time e ótimos colegas de trabalho.
No entanto no que se refere a serem ou não serem melhores amigos, o autor se diz cético.

Mito 02 – O romantismo do casal faz o bom matrimônio – Homens e mulheres que


esperam achar no casamento uma continuação do êxtase do namoro e do noivado
caminham para uma grande desilusão. O romance vive de dificuldades, frustações,
separações e da perda de tempo, eliminando as dificuldades próprias da vida intima dos
casais, as paixões e o êxtase de desvanecerão. A euforia e a excitação do romance estão
condenadas ao desgaste do dia a dia, quando o romance morre geralmente os casais
ficam estressados, quando morre o encantamento, quando esse tranquilo êxtase é
substituído pela rotina pouco interessante da vida diária, os ex-amantes com tristeza
declaram falência da relação e o tribunal do divorcio é o próximo destino. O matrimônio
não é um interlúdio romântico, é uma relação prática e séria. A pessoa, motivada a esperar
uma historia de amor sem fim, fica desiludida ao saber que se trata de um sonho
impossível. O amor à primeira vista é um grande tema romântico, no entanto as pessoas
sensíveis que percebem com mais facilidade os sentidos do amor, compreenderão que
essa complexa emoção exige a passagem dos anos para crescer. A paixão ou a atração
física podem ocorrer à primeira vista, mas o amor surge a partir do descobrimento de
qualidades dignas de serem amadas e de uma harmonia compartilhada que da satisfação
e proporciona o mútuo enriquecimento. As pessoas têm que aprender a substituir o amor
romântico pelo afeto conjugal, é este que forma as bases de um casamento pleno de êxito.
O amor romântico e a apaixonado é um fogo imenso que logo se apaga, a afetividade
conjugal é uma chama que arde lentamente, que mantém cálido o coração trazendo
segurança e conforto.
Ex: Existem muitas sociedades que não fundamentam o matrimônio no romance,
mas nos casamentos arranjados, tais casamentos são arranjados por pais e outros
membros responsáveis pela família que selecionam os consortes, levando em
consideração os interesses culturais, sociais e de classe. Os matrimônios
arrumados estão ainda muito em moda na índia e oriente.
Os casados devem ajustar-se a rotina diária de vestir-se, comer, trabalhar, dormir e outros
hábitos que requerem horários e tantas outras atividades condicionadas entre si. O
objetivo é construir um capital comum de atos, hábitos e experiências que resultem de
uma profunda aceitação mútua, sem falsas esperanças e ilusões impossíveis de ideal
romântico.

Mito 03 – Uma relação extraconjugal destrói o casamento – A sabedoria popular afirma


que um homem casado e feliz não se enamora de outra mulher, nem deixa a esposa por
uma aventura. Da mesma forma nenhuma esposa arrisca um matrimônio feliz por causa
de outro homem. Ter uma aventura prova que algo anda errado com esse casal. Mentira!
As pessoas se envolvem em relações extraconjugais por varias razões e somente algumas
deles refletem conflitos matrimoniais. O homem e a mulher casados e sexualmente
insatisfeitos tendem a buscar fora da relação o que não conseguem nela. Nas demais
situações, o problema não esta no matrimônio, mas em cada um deles individualmente.
Ex: Alguns estão inseguros quanto aos seus próprios atrativos físicos e sua
destreza sexual e decidem continuar provando para si mesmo que são bons de
cama. Outros são tão sexualmente ativos que poucos dão conta de seguir seu ritmo.
Outros exemplos citados são curiosidade, desejo de emoções fortes ou procura da
superação do seu tedio pessoal. O aspecto principal a ser levado em conta é que há
razões saudáveis e doentias para as relações extraconjugais. Porém se o
relacionamento extraconjugal não faz diferença para algumas pessoas, para outras
pode ser absolutamente destrutivo. A crença de que estas relações prejudicam o
casamento é um mito e não significa que algo esteja errado com o casal.

Mito 04 - Quando se sentir culpado, confesse – Esse mito é potencialmente mais


perigoso do que vários juntos. No mito 01 o autor coloca os problemas que a sinceridade
incondicional pode causar num matrimônio. Enquanto as amizades podem avançar todo o
caminho de A a Z, os bons matrimônios deveriam se deter no W. A informação do tipo Z
pode sobrecarregar um matrimônio. Relacionamentos extraconjugais fazem parte da
categoria Z.
Ex: Um professor universitário que se envolveu com uma aluna. Jeff estava muito
feliz e casado com Linda, mas era incapaz de resistir ao encantamento da bela
estudante que o amava, lisonjeava, massageava seu ego e também lhe ensinou
algumas coisas na cama. Seu romance era clandestino continuou por mais de dois
semestres e Jeff se ligou a amante mais do que pretendia. Como ele amava Linda e
os dois bebês, decidiu terminar o caso. Alguns meses depois, ainda triste por ter
terminado a sua relação tão maravilhosa e sentindo-se muito perturbado, procurou
ajuda de um conselheiro. Esse lhe sugeriu jogar limpo e dizer a Linda o que ele
estava escondendo. Jeff contou a Linda o que havia acontecido e ela reagiu com o
que pode ser chamado de fúria psicótica. A partir daí, Jeff se tornou alvo de uma
vendeta maligna que teria sido melhor se ele tivesse cortado a língua ao invés de ter
confessado. Linda e seu poderoso pai romperam com ele e Jeff acabou ficando sem
esposa, sem amante, sem trabalho e sem contatos com os filhos.
O autor coloca que se a pessoa se sente culpada por ter tido uma aventura é preferível
que a mesma desabafe com outra pessoa, alguém de confiança e que saiba guardar
segredos e jamais a um cônjuge.

Mito 05 – O marido e a esposa devem fazer tudo juntos – O mito da união total é um
dos mais comuns. Ele provavelmente nasceu da falácia romântica do mito 02, segundo a
qual o casamento ideal se compõe de dois indivíduos separados que se fundem numa
entidade estática. Quando um casal faz tudo junto, divide todas as coisas e não aceita
viver experiência alguma sem a participação do outro, eles deixam de funcionar como
indivíduos e formam um casal. Quando duas pessoas se fundem complemente formando
um só, a relação causará um grande sufoco emocional. Para o autor, a maioria dos
casados transfere para o cônjuge a figura dos pais.
Ex: Quando Pat de seis anos pediu a Kim de sete, para que viesse jogar, Kim
respondeu: tenho que pedir para minha mãe. Quando Pat, com vinte e seis anos
perguntou a Kim, de vinte e sete, se ela queria jogar boliche, futebol ou assistir
filmes de terror que sua esposa odiava, soaria absurdo se ele dissesse: tenho que
perguntar a minha mulher. E mais absurdo ainda é quando Alice, de vinte e cinco
anos é convidada para um concerto de ópera (que ela adora e seu marido odeia) e
diz: eu tenho que ver se meu marido me deixa ir. O autor não esta propondo atitudes
irresponsáveis, pois companheirismo afetuoso implica em consideração com a
outra pessoa.
Ex: Assim quando Sam diz que vai ao jogo com os amigos ela responde: Você se
esqueceu de que prometemos visitar Tila no hospital? Sam explica a seus amigos
que não os acompanhara esta noite, não por que sua guarda costas não o deixou
sair, mas por que ele tinha um compromisso anterior. Da mesma forma se Susie
deseja passar um tempo com suas amigas ela expressa suas intenções e
supostamente não perguntara a Sam se ele da a permissão. O autor coloca que
quando o cônjuge consulta o outro, não significa pedir autorização para tudo o que
faz, mas o consulta antes de tomar decisões.
- Não tome decisões unilaterais: Também poderia ser considerado outro mito, porém as
decisões importantes e que tenha impacto no matrimônio em geral, ou em um dos
parceiros em particular, devem ser tomadas em conjunto.
No entanto deixar de tomar todas as decisões unilaterais significa de deixar de pensar
livremente. Muitas vezes a linguagem revela os fundamentos dos pensamentos e atitudes.
Perguntar se pode é muito diferente de dizer que se esta tomando uma decisão. Pedir
permissão não é o mesmo que determinar a existência de boas razões para mudar uma
linha de ação.
Meu marido não me deixa sair a noite, meu marido não me deixa ir ao clube sozinha, ele
não me permite jogar futebol aos fins de semana, não me deixa participar do torneio de
carteado, essas são citações literais em terapia, cujos cônjuges exercem pressões
indevidas no sentido de que tudo aconteça somente para que o casal e jamais para cada
um em separado, dando muito pouca liberdade de movimento. Não é de se estranhar que
muitos percebem o casamento como uma escravidão e fiquem estarrecidos diante dessa
perspectiva.

Mito 06 – Temos que lutar para salvar o casamento – Dizem que as coisas boas não
acontecem facilmente e que às vezes é necessário muito esforço para conseguir o que
desejamos. As que se conseguem facilmente não são valorizadas, queridas ou
respeitadas. Esse clichê tem profundas influências nas atitudes e valores de muitas
pessoas na sociedade. No entanto, se eles são validos nas competições e jogos em geral,
no domínio das relações humanas tem consequências lamentáveis. O matrimônio vem
sendo erroneamente comparado a um jardim. Um jardim maravilhoso que requer
dedicação, planejamento, cultivo e conservação. É pouco provável que alguém vença o
campeonato de jardim mais bonito apenas jogando sementes no chão e as regando de vez
em quando. Lavrar a terra, fertilizar o solo e podar as plantas, pede um esforço continuo.
Deveria o casamento ser diferente? Seria possível manter uma relação sem fazer um
grande esforço? Claro que não! Não seria necessário lutar ou continuar lutando por
uma coisa quando ela vale a pena? E finalmente, não seria o matrimônio uma tarefa
árdua?
Se o casamento significa pôr sempre as necessidades do outro em primeiro lugar, ser um
bom ouvinte desde manhã até a noite e se mostrar compreensivo, protetor e amoroso o
dia todo, evitando dizer ou fazer coisas que o parceiro possa achar ofensivas, então
esqueça-o! Lamentavelmente, muitos não esperam do casamento nada mais e nada
menos do que um trabalho duríssimo.
O casamento pede mudanças e adaptações que não são precisamente um trabalho. Duas
pessoas de famílias diferentes, formando uma combinação única de genes e
cromossomos, se juntam no sagrado matrimônio e se ajustam as esquisitices mútuas. Isso
nos leva a conclusão de que todo bom casamento se baseia em concessões mútuas. Em
uma relação feliz e plena de êxito, a vida de cada um dos dois é compartilhada e não
dirigida pela outra pessoa (ver mito 20).
Ex: A súbita paixão de Mauricio e Carol resultou num casamento, em três semanas e
meia e seus problemas começaram a aparecer já na lua de mel. Mauricio descobriu
sua fixação por navegação e Carol percebeu que andar de barco lhe dava náuseas.
Ela desejava conviver com outros casais e ele a queria só para ele, o tempo todo.
Ele queria ter relações quando despertava pela manhã e ela gostava mais a noite.
Seis meses depois, uma variedade de pequenas diferenças tinham se tornado a
razão dos conflitos. Sentiam se ofendidos e mutualmente incompreendidos. Como
tantos casais, eles brigavam, mas também tinham momentos de prazer, alegria e
felicidade. Depois de quatorze meses nasceu a filha deles em três anos a relação
estava tão desgastada que o divórcio, mas do que uma ameaça se tornava uma
necessidade. Eles brigavam inclusive me público. Mas antes de procurar um
advogado, a necessidade de uma orientação matrimonial parecia evidente. O autor
coloca que atendeu o casal varias vezes em conjunto e duas vezes individualmente. E
descobriu que as principais áreas de conflito e os métodos já ensaiados na busca de uma
solução. O psicoterapeuta incentivou a busca de melhores caminhos para um acordo, o
estabelecimento de contratos, a superação de sabotagens ocultas e o começo de uma
negociação sincera. Carol afixou uma lista na lousa da cozinha:
1) Jamais criticar a pessoa. Criticar somente aspectos específicos de sua conduta;
2) Não viole a mente, ou seja, não diga jamais a outra pessoa o que ela estaria
pensando ou sentindo;
3) Evite dizer: Você sempre... Você nunca... . Ao invés disso, procure sem mais
especifico;
4) Evite as categorias de certo/errado, bom/mal. Assim que aparecer um desacordo
procure conversar;
5) Use mensagem do tipo: eu sinto ao invés de você é... . Por exemplo, diga: eu me
sinto ferido quando você me ignora em lugar de dizer, você é negligente e egoísta
porque me ignora;
6) Seja direto e honesto. Diga o que sente e sinta o que diz;
7) Eu estou ok, você esta ok. Eu falo você fala.

Carol fez duas copias dessa lista com as sete regras básicas. Mauricio levou uma delas
em sua carteira e a ficou com outra em sua agenda.
Depois de quatro meses de treino dentro e fora da terapia o casal praticamente parou de
brigar, não trocavam palavras ásperas. Eles passaram a debater ao invés de brigar. Carol
ainda completou que nem no noivado eles se deram tão bem.
Até aquela altura, parecia que a terapia tinha sido um êxito. Ao invés de coerção eles
tinham conseguido reciprocidade, as lutas foram trocadas por jogo aberto. Carol, porém
disse: Isso é um trabalho tão árduo. E Mauricio acrescentou: Bem, eu creio que temos que
lutar para conseguir um bom matrimônio. Dizem que o casamento é como um jardim que
precisamos regar limpar e fertilizar. Os bons matrimônios não nascem prontos. Eles são
uma conquista não é mesmo?
Carol antes mesmo que o psicoterapeuta pudesse falar continuou: Quando viemos vê-lo a
quatro meses atrás, estávamos numa canoa a deriva e sujeita a cair no precipício. Você
nos deu remos e agora já remamos bastante contra a correnteza. Porém a correnteza é
tão forte que não podemos nos atrever a relaxar e admirar a paisagem. Se deixarmos de
remar, ainda que uns poucos minutos, seremos levados para o abismo. O psicoterapeuta
refletiu mentalmente as palavras que eles disseram: os bons matrimônios precisam de
trabalho duro, não podemos nos relaxar, a corrente é tão forte, é como um jardim que
precisa ser adubado. O terapeuta refletiu em todas as sessões que ele tivera com o casal
e tinham chegado a um ponto decisivo, eles eram clientes excelentes, que tinham
cumprido suas tarefas e conseguido excelentes resultados e agora estava os
questionando, eles tinham medo de se fazerem perguntas básicas que já estavam
implícitas em seus comentários: é só isso que um matrimônio tem a oferecer? Afinal até
agora só trocamos as brigas por um trabalho enorme e sem descanso?
O terapeuta decidiu ser franco e disse: bem talvez agora vocês estejam suficientemente
maduros e preparados para uma separação amigável. Nenhum dos dois se surpreendeu,
ao contrario, pareciam aliviados.
Mauricio adorava ver tv e Carol odiava ela adorava ballets e operas e ele detestava. Assim
cada atividade realizada separadamente ou não, requeria sempre uma forma de
negociação e compromisso. Apesar de tantas divergências, a terapia matrimonial tinha
capacitado Mauricio e Carol a viverem juntos e sem brigas. Lidavam com seus problemas
de forma racional e sensata. Porém eles não viviam um casamento, o que eles tinham em
comum era uma sociedade complicada. Tinham sexo, mas não tinham amor, não vivia
nenhuma cumplicidade, nem eram felizes. Estando juntos até viviam harmoniosamente,
mas estavam desesperadamente sós, num casamento que jamais deveria ter sido
consumado.
Maurice se perguntava: Será que não deveríamos continuar juntos pelo bem de nossa
filha? O terapeuta pontuou que ele havia cuidado de dezenas de adultos com problemas,
pelo fato de seus pais terem mantido um casamento que já estava em coma alegando o
bem dos nossos filhos. Muitos pacientes já adultos disseram: eu m preferido que meus
pais se separassem, talvez eu estivesse bem melhor agora. Não é uma boa ideia criar
filhos numa atmosfera de tensão e bloqueio afetivo, ou num lugar em que os pais cultivam
problemas e conflitos. Uma separação amigável em que as crianças tenham acesso fácil
aos pais oferece um clima muito mais sadio para o amadurecimento psicológico. (ver mito
15). A opção pela separação não é fácil, o casal passou meses pensando nisso e depois
pediram uma sessão. E Carol disse: não a mais o que fazer, apesar de vivermos bem,
realmente não temos nada em comum. Ele respondeu que um bom momento para o
divorcio é quando a relação está fluindo bem e não quando esta em crise. Mauricio
completou: é muito mais fácil ser objetivo, racional e imparcial num acordo entre amigos do
que entre inimigos e concluiu de fato somos bons amigos, mas um péssimo casal.
Os três fizeram um acordo que o casal teria livre acesso a filha, foi discutido a divisão do
dinheiro, moveis e demais pertences e a nova moradia de cada um deles. Os advogados
redigiram o acordo final e foi concedido o divorcio sem sentimentos de culpa.
Depois de cinco anos o terapeuta teve contato com eles, Mauricio havia se casado sete
meses depois do divorcio e Carol também se casou meses depois dele. Ambos tiveram
outro filho. Mauricio disse que seu segundo casamento era muito gratificante e que havia
aprendido com os erros do primeiro casamento.
A terapia conjugal tornou a agressiva relação de Carol e Mauricio numa vida sufocante e
cheia de tentativas de negociação sobre coisas banais. No fundo eles continuaram
incompatíveis como antes e quase não tinham mais nada em comum. O casamento requer
companheirismo, trabalho em grupo, metas comuns e uma relação de muito respeito, no
entanto ele é muito mais do que a soma de todas essas qualidades juntas. Mas do que um
consenso em questões fundamentais e de interesses; sem amor, atração, carinho e
compreensão, a vida de casados é tão árida quanto as areais do Saara. A principal lição
da terapia conjugal para Mauricio foi ajuda-lo a perceber uma outra mulher capaz de
compartilhar seus interesses, de respeitar suas preferencias e vice-versa. Quando
perguntei se ele estava trabalhando seu segundo casamento e se ele também precisava
de atenção constante como um jardim, e ele respondeu: Nada disso! Nós vivemos bem e
nada mais. Acrescentou ainda que, embora sua esposa ele tivessem desacordos, sobre os
quais negociavam e se harmonizavam a relação entre eles era pautada pela mutualidade.
Mauricio disse também: Talvez a ideia de se lutar por um bom matrimônio seja porque a
maioria dos casais, no fundo sejam incompatíveis.

Mito 07 – Num bom relacionamento, um tem confiança total no outro – Tudo o que
leva aos extremos tende a consequências desfavoráveis. Se alguém é muito alto, muito
magro, muito vivo, muito exigente, a implicação é de que estaria melhor com menos
desses atributos. Confiar demasiado, por exemplo, pode ser também desastroso.
Ex: Minha mulher e eu tínhamos nos mudado para uma casa nova e ao voltar do
trabalho para casa um cavalheiro estava na sala de estar com ela. Este é Charles,
disse ela, ele mora quatro casas para baixo e veio nos dar as boas vindas ao bairro.
Que amável, eu respondi e ofereci-lhe outra cerveja por ser um vizinho tão bom. No
dia seguinte, quando o encontrei de novo em casa, percebi que ele estava abusando
de nossa hospitalidade. Então eu lhe falei com franqueza. Não vem ao caso se teria
ou não ocorrido qualquer coisa entre Charles e minha esposa. Aqueles de nós que
não acreditam cegamente, preferem eliminar os problemas quando eles estão
apenas começando.
Os bons matrimônios geralmente não se baseiam na confiança total. Eles têm por base
uma insegurança fundamental. Estar absolutamente seguro quanto a fidelidade, a lealdade
ou a devoção do outro, pode desqualifica-lo como pessoa. Muita segurança produz uma
sutil falta de respeito. É mais realista acreditar que o nosso cônjuge é um ser humano fiel,
porém sujeito a falhas e que as vezes pode cair em tentações sob certas circunstâncias. A
menos que alguém se mantenha vigilante, é possível ser usurpado ou trocado.
Se alguém vê sua esposa como demasiado caseira para atrair pessoas interessantes,
essa total confiança e segurança não geram respeito, nem excitação, nem aumentam a
satisfação. Por outro lado, se alguém achar que seu cônjuge é capaz de atrair pessoas do
sexo oposto e trai-lo se for abandonado ou maltratado dentro do matrimonio,
provavelmente ele aumentara seus cuidados, mostrando mais interesse e afetividade.
Uma certa gama de insegurança torna o matrimonio viável, significativo e até mais
excitante. Graças a insegurança evitamos supor que depois de conquistarmos alguém,
não temos mais que nos preocupar com esse alguém pois ele já é nosso. Ajuda-nos a não
ficamos gordos e com a aparência descuidada, só porque não temos mais que chamar a
atenção desse alguém, a não darmos mais atenção do que a necessária para o trabalho e
para que respeitemos mais a pessoa amada. Além disso, o interesse afetivo e nos ajuda a
preservar o brilho da relação.

Mito 08 - Você deve fazer o outro feliz no casamento – Um dos nossos maiores erros é
o de aceitar a responsabilidade pelos sentimentos dos outros. Ele é infeliz por culpa
minha, eu não sei ser uma boa esposa para ele, eu daria qualquer coisa para fazê-lo feliz,
porém tudo o que faço parece ter efeito ao contrario.
Ex: Durante quinze anos, Jean tentou fazer Lionel feliz e satisfazer seus caprichos,
porém, ele continuava infeliz. Numa entrevista ele disse ao psicólogo: Eu queria que
Jean fosse mais estimulante, mais excitante, mais divertida. Perguntei lhe quão
estimulante, excitante e divertido era viver com ele. Ele respondeu: isso não vem ao
caso. O problema com Jean é que ela se conforma fácil demais, ela se contenta em
ficar em casa, ler um livro assistir televisão enquanto eu já sou mais agitado. Na
verdade Lionel era um homem infeliz. Encontrava falhas em tudo e todos inclusive
em si mesmo. De qualquer forma, Jean se culpava e dizia que se ela fosse uma
esposa melhor talvez, talvez Lionel também fosse melhor. Levou anos para Jean
perceber que era impossível fazer alguém feliz, inclusive Lionel e que ela precisava
fazer a si mesma e ao seu marido o favor de se dedicar somente a sua própria
felicidade, deixando Lionel fazer o mesmo. Quando Jean deixou de se fazer
responsável pela felicidade de Lionel, ela ficou mais tranquila, mais expressiva e
bem menos ansiosa. Quando Jean deixou de aceitar a culpa por tudo de mal que ia
mal na vida de Lionel, ela começou a empregar seu melhor seu tempo. Começou a
ter aulas de tênis e navegação. Entrou para o clube de leitores e começou a fazer um
curso de literatura inglesa.
A felicidade é um peso que muitos levam nas costas de si e dos outros. Os pais se acham
culpados pela infelicidade dos filhos e os filhos acreditam que seus pais serão infelizes se
eles não forem brilhantes.
A felicidade própria ou alheia é um parâmetro usado para determinar o valor pessoal.
Outro grande problema é que o termo felicidade é muito vago. Ele pode significar ausência
de dor, depressão, ansiedade e etc. Dessa forma nós já sabemos o que devemos evitar,
mas não o que fazer. Uma das maiores desvantagens da ideia da felicidade é que os
problemas emocionais, as desilusões as frustações fazem parte da vida. Tentar escapar
do inevitável intensificara a frustação, aumentara a culpa e a infelicidade. Uma pessoa mal
orientada pode insinuar que: como vocês me sinto deprimido, com náusea e outros males,
é obvio que estou em falta com meus deveres conjugais, se eu fosse um bom marido ou
esposa, eu não me sentiria assim.
Quando a felicidade é definida como um estado de satisfação, realização ou conquista,
muitos se perguntar: será que sou feliz? Será que outras pessoa são mais felizes do que
eu? Se eu não sou feliz, quem é o culpado por isso? A preocupação com a felicidade
geralmente nos conduz a infelicidade. Na realidade a felicidade não é encontrada quando
a procuramos diretamente. A felicidade é um subproduto de outras atividades. A busca da
felicidade só pode nos conduzir a frustações, ou ate mesmo a infelicidade. As pessoas
felizes são aquelas que deixaram de se preocupar em fazer felizes a si e aos outros,
tornando-se ao contrario, responsáveis pelos seus próprios sentimentos e buscando
realizar coisas que lhes da prazer.
Sermos responsáveis pela nossa própria satisfação e realização, aumenta as
possibilidades da vida em geral e do matrimonio ser mais agradável se alguém coloca
obstáculos no nosso caminho, nos convém uma atitude mais positiva e assertiva. Não é
obrigação do seu cônjuge nem de ninguém fazer o outro feliz, nem você deve permitir a
ninguém determinar quanta alegria, quanta jovialidade e energia você pode ter na sua
vida.

Mito 9 – Num bom relacionamento, esposo e esposa podem descarregar "tudo" no


outro - Beto aceitou relutante uma entrevista comigo. Valeria sua esposa nos últimos oito
anos, tinha me procurado três vezes por causa de sua depressão, seus problemas no
trabalho e, sobretudo dos seus abusos em casa. Eu tinha pedido a ela que convidasse
Beto para que ele contasse a sua versão da historia.
Depois de insistir que não estava maluco e que tinha vindo somente para ajudar Valeria a
resolver os problemas dela. Beto pediu que eu fizesse as minhas perguntas. Perguntei-lhe
então sobre as queixas de Valeria: é verdade que muitas vezes você grita com ela, que
num momento de raiva você quebrou a parede e jogou a TV pela janela e esmurrou o
estômago dela? É verdade que você jogou um copo de chá quente em seu enteado de
quatorze anos, felizmente errando o alvo e manchando o papel de parede novo da
cozinha? Beto olhou tranquilamente, encolheu os ombros e disse: bem, o senhor sabe
como são as coisas doutor. Se um homem não pode descarregar seus sentimentos em
casa, ele pode acabar tendo uma úlcera no estômago ou um ataque cardíaco.
Beto estava expressando os sentimentos de muitos que acreditam que o lar é um lugar
onde você pode descarregar tudo. Poucas vezes o local de trabalho é o meio adequado
para uma plena auto expressão. No trabalho todos preferem mostrar apenas as melhores
condutas, tato e diplomacia, controlar o mal humor e pensar duas vezes antes de agir.
Assim, o lar se torna uma espécie de paraíso da espontaneidade, o lugar adequado para
se liberar emoções contidas que se acumulam pelo mundo afora. Essa ideia errônea pode
resultar numa conduta de consequências deploráveis.
De modo algum estou defendendo uma relação matrimonial inibida ou excessivamente
cortês. A espontaneidade de compartilhar sentimentos fundamentais, a franqueza e a
informalidade são alguns dos elementos mais importantes numa boa relação. Convém se
preservar também o decoro e bom gosto. A liberdade conjugal não deve ser um convite
para atacar a dignidade do outro com bombas emocionais incendiarias.
Em certas culturas mediterrâneas e latino-americanas, as condutas voláteis e fortemente
expressivas são normais. Os gritos e os altos decibéis tem impacto muito diferente do que
eles causariam, por exemplo, nos EUA, lá o grito entra por um ouvido e sai pelo outro: aqui
são percebidos como um ataque, como algo que deve ser levado a serio.
A esposa de um eminente cirurgião fez a gravação de uma de suas brigas e trouxe para
consulta. O marido lhe disse palavras como: você é uma ignorante, vem de família caipira,
sem instrução seu lugar é na sarjeta. Você não é apenas estupida você é má, você é uma
merda de mãe que nunca deveria ter se metido a ter filhos. Tendo ou não consciência
disso, qualquer pessoa que te conhecesse realmente, odiaria você. Eu gostaria de poder
encontrar em você ao menos uma característica boa, mas o problema é que você não tem
nenhuma. Você é uma mãe desajeitada, chata e desagradável e eu gostaria que você
fizesse para mim e para todo mundo o favor de morrer...
O que teria provocado essa explosão descontrolada? Ela teria o contrariado? Os detalhes
não vêm ao caso, mas o que desencadeou o problema foi ela ter dito que ele tinha sido
indiscreto em relação a um membro da família dela. E como sempre no final de algumas
horas, ele já tinha se arrependido, pediu perdão e disse que não teve a intenção de dizer
as palavras que disse.
Não é estranho que a gente frequentemente trate os estranhos com cortesia e amabilidade
e maltrate os que nos são mais próximos? Sugiro aos casais para que tratem seus
cônjuges pelo menos com o mesmo respeito com quem trataria uma pessoa
completamente estranha!
A agressão sublimada é responsável por uma grande porcentagem de matrimônios
infelizes e separações. Ao invés de atacar a fonte de frustações, muitos chegam ao pico
de irritação reprimida e chegando em casa, dão berros e patadas e agridem os filhos
maltratam os cônjuges. Muitos não veem nada de improprio nem vergonhoso nisso e
segundo suas próprias convicções, eles estariam apenas sendo espontâneos, autênticos e
se desafogando um pouco.
Os ataques geram contra ataques. Aqueles que apelam para manobras agressivas
geralmente recebem de alguma forma o mesmo que ofereceu aos demais. A retaliação
mais comum é o comportamento passivo-agressivo, na qual a parte ofendida evita guerra
aberta. Em vez de se confrontar diretamente com o agressor, essas pessoas se tornam
subversivas e sabotadoras.

Mito 10 – Os bons maridos concertam tudo em casa e as boas esposas fazem a


limpeza – Esse mito é quase que exclusivamente norte americano. A ênfase no faça você
mesmo ou concerte você mesmo, tem um papel importante no que o autor descreve e
coloca que é prejudicial porque elimina a divisão entre obrigações exclusivamente
masculinas ou femininas. Por outro lado, muitos acreditam que um cônjuge que não
cumpra sua parte na hora certa e de forma adequada, está faltando com suas obrigações
conjugais.

Mito 11 – Ter um filho, melhora o mal matrimônio – Em geral as crianças tendem a


consolidar e enriquecer um bom matrimônio. Em um matrimônio ruim, esta carga adicional
só serve para piorar as coisas. A maioria das pessoas sabem do quanto é difícil ser bons
pais. A responsabilidade de uma boa paternidade é enorme e o nascimento dos filhos
podem aflorar conflitos e diferenças que o casal vivenciava antes com harmonia. Quando
se deseja preservar a harmonia conjugal, os casais precisam concordar sobre os aspectos
como o cuidado e a disciplina da criança, sua educação, a necessidade de um lar, uma
serie de pressupostos familiares e questões similares de ordem pessoal e interpessoal.
Os casais em conflito se caracterizam por um confronto entre as ambições pessoais e o
bem-estar da família. Tenho visto muitos pais, que nunca se privaram de ter um carro de
luxo e, no entanto se negam a alimentar ou vestir adequadamente a sua família. A
sociedade afirma: seja um individuo e viva a sua própria vida. A contradição esta no fato
de que a família deveria ser sua primeira preocupação, ou seja, um cônjuge só deveria se
preocupar com seus próprios interesses, depois de satisfeitas as necessidades do grupo
familiar. Os sociólogos que estudam tais fenômenos descobriram que a maioria das
famílias tem dificuldades. A maioria tendo a ver as crises como normais e inevitáveis. De
fato alguns dizem, que se os membros da família não se chocam e se não existir um
entrevero ocasional, alguma coisa deve estar seriamente errada.
O funcionamento ``anormal`` é normal – As discussões ocasionais e menores são
``normais`` e não devem ser motivos para uma preocupação maior. Naturalmente que os
recém-casados devem esperar alguns choques. Os ajustes iniciais e periódicos são
compreensíveis na relação de duas pessoas que vieram de lares diferentes, para tentar
viver conjuntamente em harmonia. Porém as brigas ocasionais entre os cônjuges podem
se tornar atritos permanentes, a menos que se deem alguns passos para remediar a
situação (tais como ajuda profissional ou terapia).
Seria realmente possível eliminar a tensão do casal com o nascimento ou a adoção de um
bebê? Inicialmente a criança poderia servir para distrair a atenção dos pais, porém as
tensões seguramente reapareceriam mais cedo ou mais tarde, com o agravante a mais de
terem que cuidar de um ser totalmente dependente deles.
Ex: O caso de Celia e Frank. A relação deles tinha sido difícil desde o começo, mas
apesar de todos os problemas, decidiram casar. Por quê? Explicou Celia: mesmo
brigando como cachorro e gato, nos queríamos demais e achávamos que depois de
casados tudo ia melhorar. Errado! Perceberam que o matrimônio impunha ainda
mais obrigações, acabaram chegando a violência física em certas ocasiões e vieram
procurar ajuda no momento em que eram quase que constantemente inimigos.
Seus problemas aparentemente originavam das suas experiências familiares
difíceis. Frank, por exemplo, via em Celia atributos que ele combatia em sua mãe
desde o divorcio de seus pais, quando ele tinha onze anos. Ele descrevia sua mãe
como autoritária e rude e reagia quando Celia reclamava de qualquer coisa. Mais
ainda Frank não se sentia amado pela sua mãe e sua carência afetiva era extrema.
Celia por sua vez, tinha aprendido a ser independente desde muito jovem. Seus pais
eram alcoólatras e com seu irmão de seis anos ela vivia como era possível. Seus
traumas eram tão profundos que se Frank tomasse bebidas fortes, ou mais do que
duas cervejas, ela ficava muito irritada.
Nem bem tínhamos começado a trabalhar esses e outros problemas na terapia, Celia
disse que estava gravida. Frank pediu para que ela não continuasse a gravidez, mas
ela disse que desejava ter um filho e que estava segura de que isso resolveria seus
problemas e fortaleceria seu matrimônio. Frank pediu minha opinião e eu disse que
o momento de se decidir por um filho seria quando o casamento tivesse deixado de
cambalear. Continuei atendendo esse casal e melhoramos um pouco as brigas. Celia
teve uma filha e só voltei a vê-los três meses depois. As coisas estão horríveis
exclamou Celia e Frank concordou: você esta amenizando as coisas. Um dos
problemas era que o bebê perturbava o sono dele. Eu passo dia cambaleando de
sono, disse Frank. Mas o problema maior era que a enorme carência afetiva de Frank
estava ameaçada. Ele se ressentia pelo tempo perdido com o bebê e Frank era
ciumento de seu próprio filho. Acrescentou Celia. Minhas tentativas de ajudar o
casal não tiveram êxito. O casamento acabou logo depois. Talvez aquela união
tivesse errada desde o inicio e nenhum tipo de aconselhamento ou terapia fosse útil.
Entretanto, não se resta a menor duvida de que se o casal não tivesse complicado
as coisas, arrumando naquela ocasião, talvez o casamento ainda tivesse salvação.
No passado, o papel da mulher estava principalmente determinado pelo seu status como
parideira de filhos. As razões da mulher moderna para se casar tem modificado muito e
sua rebelião contra a subserviência cresceu bastante. Os homens e as mulheres de hoje
são governados pelo seu individualismo. Apesar disso, o papel, o papel de pais bem
sucedidos exige que marido e esposa sacrifiquem seus desejos egoístas. O
funcionamento familiar harmonioso pede uma mudança de pontos de vista e convida um
Nós para o lugar de Eu. O aparecimento de um bebê é uma fonte de crise e exigências
novas sobre o casamento. Porém se o casal já incorporou hábitos e respostas que são
inadequadas para a nova situação, a desintegração familiar é virtualmente inevitável.

Mito 12 – O matrimônio deve ser uma sociedade 50% a 50% - Direitos iguais,
oportunidades iguais e pagamento igual por tempo igual se tornaram bandeiras também da
mulher. A igualdade e a democracia são vistas por muitos como sinônimas e altamente
desejáveis. A não ser que as coisas sejam divididas meio-a-meio estaremos diante de uma
situação de exploração. A debilitação dos papeis rígidos do homem e da mulher e os
estereótipos rígidos das funções masculinas e femininas refletem progresso e uma
genuína evolução. Sem sombra de duvidas, a aplicação errônea da divisão meio-a-meio
de tudo em casa e a noção de que a participação conjunta é necessariamente justa e
desejável tem levado muitos matrimônios pelo mau caminho. O ponto que alguns casais
deixam de perceber é que, enquanto seres humanos são iguais em valores, ao mesmo
tempo são diferentes entre si. Dessa forma, debaixo de algumas circunstancias tais como
40%- 60%, 70%-30%, 75%-25% ou qualquer outra combinação pode ser muito melhor do
que 50%-50%.
Ex: Harold se orgulhava de ser feminista e era rápido para detectar até sinais tácitos
de chauvinismo (rejeição radical a seus contrários, desprezo às minorias,
narcisismo, mitomania) masculino em si mesmo e nos outros. Quando se casou
com Marge, insistiu para que dividissem todas as tarefas domésticas. Ele dizia: Nós
dois trabalhamos fora ganhando a mesma quantia, voltamos para casa cansados
então eu farei o jantar uma noite e você outra. Aparentemente a proposta de Harold
era excelente. Mas, ele se esqueceu de considerar alguns aspectos da realidade. Ele
era um péssimo cozinheiro! Sua comida era intragável e ele gastava muito tempo no
preparo mesmo de uma comida simples. E Marge adorava cozinhar e tinha talento
para improvisar pratos deliciosos com o mínimo de esforço. Claro que Harold não
tinha levado em conta aspectos importante da sua relação.
As soluções para o casal foram relativamente simples, Marge se ocupou de tudo o que era
de cozinhar e Harold passou a fazer todas as compras de alimentos. As diferentes
atividades promoveram equilíbrio e harmônio a esse casal.
Há mais de uma forma correta para se entender na vida conjugal. O casamento é um
sistema intrincado e o que é bom para um casamento pode ser totalmente destrutivo para
outro.

Mito 13 – O matrimônio pode realizar todos os nossos sonhos – Muitos acham que o
casamento é um broche de ouro, um notável sinal de progresso. Estar casado confere um
status especial as pessoas. É prova do seu valor básico, mostra ao mundo que alguém o
amou o suficiente para ousar dar esse grande passo. Esse sentimento, devido ao
condicionamento social, é provavelmente experimentado com mais frequência pelas
mulheres do que pelos homens, o termo solteiro não possui o mesmo tom degradante que
o de solteirona. Sem duvidas, alguns homens são também presas do mito que o
casamento pode realizar nossos sonhos. Um humorista certa vez disse: nenhuma mulher
chega aos trinta sem ter sido convidada para o casamento, nem que seja pelos próprios
pais. Apesar de nosso considerável progresso rumo a igualdade, os pais ainda são muito
mais preocupados em casar suas filhas do que seus filhos.
Ex: Lyan, de 35 anos, tinha problemas de autoestima, estava casada e tinha dois
filhos. Toda a minha vida fui preparada para ser esposa e mãe, disse ela. Minha
infância inteira foi orientada nessa direção. Aprendi a borda, costurar, cozinhar e
assar. Depois do colegial, escolhi uma universidade não pelo seu nível acadêmico,
mas como um lugar de encontros sociais. Meu único proposito na universidade, foi
o de encontrar um esposo e ainda bem que o encontrei. Joel e eu nos casamos
quando nos formamos. Agora treze anos depois, com filhos de doze e dez anos,
Lyan tinha cumprido seu objetivo de vida. Temos até uma cerca viva, um carro de
passeio e um cachorro, comentou. Porem ao realizar o sonho de sua vida, Lyan se
tornou inquieta e rebelde. No começo tais sentimentos eram furtivos e aos poucos
comecei a me perguntar se aquilo era tudo o que existia na vida, disse ela.
Fran estava muito triste. Sua historia era muito semelhante a Lyan, porém aos
quarenta e dois anos ela tinha sido vitima de uma mulher mais jovem. Seu marido
estava vivendo com uma de suas secretarias e tinha deixado Fran há oito meses. Eu
fui criada para ser esposa, disse Fran. E isso é tudo o que eu sei fazer. Aqui, de
novo a suposição de que o matrimônio realizaria todos os sonhos ao dizer que: Isso
era tudo o que eu queria e eu estava completamente feliz.
Lyan e Fran estão em momentos diferentes da vida, porém são vitimas da mitologia de
que o matrimônio é tudo e a razão de ser da existência. Mas que tipo de ajuda existiria
para elas? A solução estaria no desenvolvimento de um sentimento maior para a vida,
onde o matrimônio seria tão somente um elemento não necessariamente essencial para
uma vida plena e feliz. Há necessidade de uma ampla variedade de recursos interpessoais
quando alguém deseja se relacionar bem. A empatia, a afetividade autentica a capacidade
para manter amizades e o companheirismo, são necessários numa relação duradoura e
positiva. A habilidade sexual é uma das partes importantes na formação da autoestima e
da confiança. As habilidades sexuais podem ser aprendidas se o amor não é suficiente. A
destreza e as habilidades sexuais não são suficientes para promover uma relação afetiva
duradoura. O trabalho, outras atividades e os estímulos externos, podem proteger a
relação contra o desgaste domestico. A verdade é que existem homens e mulheres que
ficam satisfeitos com uma vida totalmente domestica. Não há nada de mal em ser caseiro
exceto quando isso torna vulnerável a família, como aconteceu com Fran.
Quanta gente magra, elegante, se transforma logo depois do casamento e se torna obesa.
E por que não dizer o mais desagradável? Antes do casamento se esforçam para manter a
forma. Para que? Para pegar uma vitima desatenta. Uma vez que foi assinado o contrato
matrimonial, acham desnecessário continuar fazendo qualquer tipo de esforço. Como isso
é triste.
A falácia do casamento como uma realização total se relaciona como ao mito 02 o amor
romântico, porém tem algumas características próprias. Quando se faz do matrimônio a
condição sine qua non (Indispensável/essencial) para a vida em si, a chantagem
emocional é uma ocorrência provável: não posso viver sem você, se você me deixar eu me
mato. Muitos desses matrimônios sobrevivem não por amor ou busca da felicidade. Mas
por culpa e medo. O cônjuge se transforma no oxigênio emocional do outro, sem o qual
não pode viver. Tais indivíduos se dedicam exclusivamente ao cônjuge: você é tudo para
mim, você é meu universo. Essa dependência patológica gera ressentimentos para ambas
as partes. O membro dependente fica ressentido com seu salvador, por se tonar um
apêndice dele enquanto o outro se sente amarrado, enojado, ansioso e etc. Tais
casamentos são chamados de simbióticos, ou seja. Um membro depende do outro para a
satisfação de seus desejos neuróticos e não para um apoio cooperativo e afetivo.
O amor maduro nunca faz do outro um oxigênio emocional. A mensagem de uma pessoa
madura é do tipo: eu posso viver com você e sem você, prefiro viver com você por que te
amo. Espero que sinta a mesma coisa por mim. Os vínculos imaturos se refletem numa
frase diferente: você é meu e eu nunca o deixarei.
Acorrentar uma pessoa num casamento sem amor, não é uma boa ideia. Mesmo assim,
aqueles para os quais o matrimônio é o que há de mais importante na vida, à relação tem
que ser mantida mesmo sabendo que eles não são desejados e nem respeitados por seus
cônjuges. O casamento como um fim em si mesmo, geralmente carece de felicidade,
companheirismo, amor, carinho e alegria.
Um bom casamento pode ser um detalhe importantíssimo e desejável para a vida plena,
mas não é de forma nenhuma essencial. A concepção de que o casamento em si mesmo
é tudo, é uma concepção falsa que somente pode trazer dor e desilusão.

Mito 14 – Os que amam de verdade, adivinham os pensamentos e sentimentos do


outro – Essa é mais uma crença relacionada com a falência romântica do mito 02, existem
muitas crenças de que a harmonia do casal implica em se ter a mesma mente ou estar na
mesma faixa vibratória. As palavras são supérfluas. Como escrevem as revistas femininas:
seus olhos se encontraram e imediatamente eles souberam o que o outro estava
pensando e sentindo. O verdadeiro amor confere poderes telepáticos.
Sem sombra de duvidas, também não nos é possível interpretar erroneamente os
pensamentos e sentimentos alheios. Vejamos um dialogo típico.
Adam: Por que você está tão irritada?
Sue: Eu não estou irritada. O que levou você a pensar que eu estou irritada?
Adam: Eu sei que você está. Você não poderia me enganar, porque eu realmente sei.
Sue: Não eu realmente não estou com raiva. Juro que não estou.
Adam: Quem você pensa que esta enganando? Seja honesta, seja responsável pelos
teus sentimentos e pare de mentir.
Sue: você já está começando a me deixar com raiva. Eu não estou mentindo. Estou
dizendo que não estou com raiva.
Adam: Então porque está levantando a voz comigo? Vamos confesse os teus
sentimentos! Eu posso te ler como um livro.
Sue: Olhe eu odeio quando você começa a questionar a minha honestidade. Isso me
deixa enfurecida.
Adam: Ahá! Então você está admitindo que está.
As variações do tema anterior são quase infinitas. Eu as tenho visto acontecendo entre
amigos, amantes, casais, inimigos e também entre terapeutas e pacientes. A afirmação: eu
te conheço melhor do que você mesmo é um disparate (algo fora da realidade).
Certamente as pessoas enganam a si mesmas e desconhecem aspectos a respeito de si
mesmas que um observador objetivo poderia facilmente perceber. Mas ninguém conhece
uma pessoa alguma melhor do que ela mesma. Não existe ninguém capaz de ler mentes!
O dialogo anterior poderia ser inofensivo se ao invés de perguntar: por que você está tão
irritada? Adam perguntasse: você esta irritada? Ou afirmasse: você parece nervosa. Ao
invés de apresentar evidencias tão definidas e claras contra a negação de Sue, Adam
deveria ao menos ter oferecido o beneficio da duvida quanto estar ou não irritada. Ao invés
disso ele cometeu uma violência psicológica. Eis então uma regra fundamental: nunca diga
ao outro o que ele esta pensando ou sentindo.
O ser humano é o único animal capaz de se comunicar pela linguagem falada. Ninguém
poderia experienciar os sentimentos alheios apesar de sua mais intensa devoção para
com o outro. As pessoas não são iguais a insetos que têm um padrão complexo de
respostas baseadas em seus instintos. Os seres humanos tem que aprender todos os
comportamentos complexos (Inclusive se relacionar sexualmente bem). Nos nascemos
com alguns impulsos básicos como a fome e a sede e alguns reflexos como sucção,
respiração, deglutição mas tudo mais é aprendido, adquirido através da aprendizagem
instrução, seguindo exemplos, ou por ensaio e erro.
É muito gratificante ser capaz de predizer como a pessoa amada reagira a dado evento,
para como base nele fazer ou deixar de fazer algo e para que o resultado final seja bom
para os dois: como você sabia que eu queria um gravador? Você foi muito gentil em
perceber que eu precisava ir visitar minha tia.
Se cada ato de respeito e afeto, cada gesto de amor ou expressão de generosidade tiver
que ser conseguido através de um ato de manipulação do casal, a qualidade da relação
será duvidosa. Mas o inverso também é perigoso: se você me amasse realmente ou de
fato se importasse comigo, teria feito isso ou não teria feito aquilo. Cuidado com essa
forma de pensar. Ao invés disso, diga ao parceiro: quando você faz X, ou não faz Y, não
me sinto bem. Ao expressar uma queixa, ao invés de dizer a pessoa: você fez isso de
proposito para me machucar. Você poderia dizer: Quando você faz X, na situação Y eu me
sinto Z.
É importante que os cônjuges ensinem uns aos outros quais as melhores formas de
convivência para os dois. Elas excluem a violência psicológica, a adivinhação e as táticas
de desqualificação do que o outro tenta dizer. Diga o que você sente, e sinta o que você
diz e não espere que seu cônjuge tenha que ler sua mente.

Mito 15 – Um casamento infeliz é melhor do que um lar desfeito – Há poucas coisas


desagradáveis do que um casamento sem amor mantido por medo por culpa ou dever.
Tenho visto matrimônios vazios e que sobrevivem por pressões sociais, ou pelo bem das
crianças. Quanto a eles eu tenho um ditado: quando um casamento é mantido pelo bem
das crianças, elas ficarão desamparadas. Quando os filhos se tornarem vinculo da união
entre os pais, as necessidades emocionais deles geralmente serão esquecidas. Um lar
que subsiste sem cooperação, sem uma comunidade de interesses, não é mais do que
uma montanha de falsidade imposta pela hipocrisia social. Muitos continuam vivendo sob
o mesmo teto por convicções religiosas que proíbem a separação. Algumas mulheres
suportam brigas infinitas, tensões e todo tipo de sofrimento por medo da miséria. Pode ser
difícil viver com um marido que ela odeia, mais difícil ainda é encontrar um emprego lá fora
sem ter uma profissão além de dona de casa. Por isso ela acaba ficando só para proteger
os filhos.
Ex: David, um programador de computador de trinta anos de idade, me pediu ajuda
contra ansiedade, depressão e problemas sexuais. Ele não tinha problemas com as
relações ocasionais, mas assim que o relacionamento ficava mais serio ele se
tornava impotente. Sua historia era igual a tantas outras que ouvi ao longo dos
anos. Uma das minhas recordações mais antigas era de minha mãe e meu pai
gritando e se chingando. Você não poderia imaginar quantas vezes eu fui acordado
no meio da noite com a gritaria deles. Isso me deixava aterrorizado. Era horrível!
Meu pai tendia a descarregar suas frustações sobre nós, as crianças e a minha mãe
ficavam infelizes naquela casa. Quando eu tinha nove ou dez anos, perguntei a ela
por que não se divorciavam. Ela disse: que as vezes eu tinha medo deles se
separem mas depois eu ficava com medo do contrario. Mais tarde ela nos disse que
manteve o casamento para nos protege. Eu não gostaria que eles tivessem agido
assim e tenho certeza que meus irmãos e eu teríamos sido mais felizes na
companhia dos nossos pais se eles estivessem se separado. Os pais de dois
amigos meus eram separados. Eu gostava de dormir na casa deles. Um vivia com o
pai e a madrasta e tudo ia muito bem. O outro vivia com a mãe e a irmã pequena e
tinham uma vida divertida. Eu nunca pude trazer meus amigos em casas. Eu tinha
vergonha e medo de que a minha mãe e meu pai começassem a brigar.
O termo lar destruído é negativamente carregado. Lares destruídos foram culpados por
delinquência, drogadicçao e crimes que vão desde os pequenos furtos até assassinatos.
Eu não quero que você se relacione com Johnny, aconselha a mãe. Ele vem de um lar
desfeito, um lar destruído lembra negligencia, confusão abandono, rejeição, desaprovação
e tantas outras coisas. Lares destruídos destroem também os corações. Disse um dos
meus pacientes. Quando a escolha é entre um lar destruído e um lar infeliz muitos
escolhem o ultimo. E eu não concordo com essa escolha.
Infelizmente, muitos equiparam o divorcio ao lar desfeito e seus problemas. Afirma que é
um estigma, um sinal de fracasso pessoal e um trauma inevitável para a criança e que um
lar infeliz é melhor do que um lar destruído. Mas ao contrario, se bem realizada a
separação não será necessariamente motivo de crise para as crianças.
Na minha pratica em terapia conjugal, eu sou pago para ajudar os casais a amenizar a
infelicidade deles. Talvez mais por sentimentalismo, do que por uma análise racional eu
me inclino a salvar os casamentos quando possível, especialmente quando há crianças
pequenas envolvidas e quando acredito que o casal será capaz de crescer
harmoniosamente. Mas quando todos os esforços para melhorar a situação falham e a
infelicidade crônica e as dissidências prevalecem, não hesito em recomendar uma
separação amigável. O casamento não se torna um lar destruído, transforma-se em duas
residências separadas.

Mito 16 – As ambições do marido são mais importantes do que a profissão da


mulher – Uma amiga, profissional excelente, foi convidada para um congresso que
poderia abrir-lhe uma serie de oportunidades profissionais. Madelaine estava muito
entusiasmada com a oportunidade. No entanto recusou o convite ao saber que seu
marido viajaria para um encontro profissional sem grande importância e que suas
filhas de dez e oito anos, teriam uma festa escolar e precisariam da presença de pelo
menos um dos pais.
O que poderia justificar tal decisão? Por que os negócios do marido tinham prioridade em
relação as atividades de Madelaine? Por que ele não poderia recusar a viagem pelo
menos uma vez, para que ela participasse do congresso. Seria realmente prejudicial a
ausência dos dois ao mesmo tempo, deixando-as sob os cuidados de um parente ou de
uma baby-sitter muito qualificada?
Há muitos casamentos tradicionais excelente onde o marido é o único provedor da casa e
a esposa uma empregada doméstica em tempo integral e ainda faz tudo para que ele seja
o centro das atenções. Aqueles que desejarem salvar essas mulheres exploradas,
melhorando a consciência delas para libertá-las, estarão cometendo um serio erro.
Devemos evitar projetar nossos valores sobre o casamento dos outros. Aqueles que
rejeitam a ideia do marido que fica em casa cumprindo tarefas como cozinhar, limpar e
cuidar das crianças. Deixam de perceber que para alguns casais, esse tipo de organização
é excelente.
No caso mencionado, havia evidencia de que a mulher estava profundamente ressentida
com a atitude chauvinista (patriotismo fanático e agressivo) do marido em relação a sua
carreira. Tais ressentimentos tiveram impacto negativo em seus casamentos. Muitos em
nossa sociedade, ainda são vitimas do preconceito comum de que a busca de carreiras
bem remuneras e produtivas, são prerrogativas exclusivamente masculinas. Há também
os que acreditam que as mulheres não deveriam fazer nada além de serem esposas e
mães. O bem estar psicológico de qualquer pessoa requer sua dedicação a uma atividade
gratificante e a mulher não pauta a sua vida pela dependência e passividade. Claro que
muitas deles têm êxito em carreiras lucrativas, mas na maioria das culturas são as
mulheres e não os homens que cuidam inicialmente das crianças. No entanto a mulher
deseja e tem o direito de quebrar essa tradição universal. Afinal, as mulheres assim como
os homens, não tem seu valor determinado apenas pela sua capacidade de cuidar da casa
e das crianças. Ambos, homens e mulheres são capazes de cuidar dos seus parceiros, ter
amizades, cuidar da casa e preservar a identidade profissional.
O ponto mais importante é enfatizar que a mulher comete um grande erro, quando deixa
sua profissão para cumprir com as obrigações domesticas e mais tarde sofre por isso. As
coisas se complicam mais ainda quando o marido deixa de reconhecer a importância da
carreira da esposa, insinuando que a profissão dele é mais importante.

Mito 17 - Se a(o) esposa(o) quer deixá-lo(a), faça tudo para impedi-la(o) – Um dia pela
manhã recebi um telefonema da esposa de um amigo: eu não sei o que fazer nem a
quem procurar. Disse Vick com uma angustia sem fim. O que está de errado com
vocês? O que esta acontecendo? Perguntei. E ela tentando não chorar respondeu:
há dois dias, Gerald me contou que esta gostando de outra mulher e que quer o
divórcio. Desde então, eu não consigo mais me alimenta, nem dormir, nem fazer
coisa alguma a não ser chorar. Estou tomando calmante e ando muito confusa. Não
sei o que fazer. Enquanto conversávamos, Vick disse que seu marido já teve antes
um caso com outra mulher durante dez meses e planejava casar com ela assim que
se divorciasse oficialmente.
Dei a Vick um conselho, que eu tinha certeza que ela não aceitaria. Diga a Gerald e a
sua namorada para que vivam juntos, permita-lhes conviver plenamente durante três
meses. Se possível, não tenha nenhum contato com ele durante esses noventa dias
e procure também sair com outros homens. Quando se passarem os três meses,
convide Gerald para um jantar e lhe pergunte se ele ainda esta apaixonado. Eu lhe
expliquei que tirando as barreiras e permitindo aos amantes a convivência, muitos
romances morrem de morte natural. O melhor caminho para conhecer as pessoas é
saindo com elas por alguns meses, mas essa é também a melhor forma para destruir
ilusões.
Como era de se esperar Vick não seguiu o meu conselho. Ao contrario disparou nele
um ataque titânico, histérico e ameaçou suicidar-se. Isso fez com que ela se
tornasse cada vez menos atrativa aos olhos dele, especialmente em comparação
com a sua amada, que estava sempre serena, embora também se preocupasse.
Vick fez um ataque feroz contra a namorada de Gerald, e que segundo ele, isso
contribuiu somente para que ela se mostrasse duplamente patética. Finalmente Vick
perdeu a batalha. Tentando colocar obstáculos no caminho do marido, ela ajudou a
aumentar os encantos daquele romance, diminuindo cada vez mais o seu próprio
valor.
Por contraste, outra amiga conviveu com uma situação idêntica de modo
complementar diverso. Quando o esposo de Elisabeth revelou sua devoção eterna e
imortal por outra mulher e pediu o divórcio, tudo o que ela disse foi: eu sinto muito.
Isso foi dito calmamente, sem rancor, mas com emoção sincera. Então o marido fez
as loucuras que desejava, mas depois capitulou.
Em um dos casos, quando as táticas habituais fracassaram a esposa que era quem
estava rejeitando não se comoveu com as ameaças e súplicas do marido, Harvey
começou uma greve de fome. Depois de quatro dias, Nancy finalmente desistiu e se
rendeu. Ela encerrou sua relação extraconjugal e passou a viver extremamente
infeliz, com um revólver simbólico apontado para a cabeça dela, para sempre.
A destruição do casamento é quase sempre um problema serio e por isso é fácil
compreender porque tantos casais não querem deixar um companheiro ir embora. É claro
que ter a metade do pão, é melhor do que não ter pão nenhum, mas será que migalhas
são suficientes para manter a vida emocional? Se um dos cônjuges quer sair, deixar o
casamento, mas acaba ficando por piedade, medo, dinheiro, culpa que tipo de união é
essa? A negação tem um papel importante em situações como essa.
Não vás onde não te gostem e não fiques onde não te querem. Mais do que um aforismo
caseiro (dizer que gosta de tudo, por correr o risco de não gostar de nada), é um conselho
para que ninguém fique numa relação onde for meramente tolerado. Talvez alguns casais
se agarrem tanto entre si, por acreditarem na ressureição do amor.

Mito 18 – Um amor que morreu, ás vezes pode renascer - Tenho encontrado pessoas
que ficaram em casamentos emocionalmente estéreis e espiritualmente mortos, onde o
amor, a afeição e o carinho há muito já tinha se acabado. Aqueles que conseguiram sair
dessa união depressiva descreveram a experiência como semelhante á saída de um
pântano rumo a terra firme, saída da noite escura para a luz do sol que ilumina a alma, ou
ainda sensação de voltar a enxergar depois da mais completa cegueira.
O que fez com que esse casamento fútil e desolado sobrevivesse?
Muitos casamentos horríveis sobrevivem por que os cônjuges se grudam uns aos outros
por causa de seus medos neuróticos. Outros ficam juntos por se preocuparem com a
opinião publica escrúpulos religiosos, problemas financeiros e constrangimentos dessa
natureza. Alguns se desiludem ao descobrirem que o casamento oferece muito menos do
que eles esperavam e por isso suportam a duras penas seus problemas conjugais ao
invés de terminarem suas relações. Se existir um pequeno companheirismo, qualquer
vestígio de afetividade conjugal ou compreensão humana é compreensível a tentativa de
se evitar a separação. A maioria dos adultos reconhece que o companheirismo, o afeto e a
compreensão são aspectos que a viabilizam o casamento. Apesar disso persiste a relação
infeliz na qual ambos se desprezem, sentem irritação, senão fúria em relação a
praticamente tudo o que envolve seu cônjuge.
Há pessoas que acham que tem poder para fazer os outros gostarem delas. Mas o amor
não pode ser manipulado. Muitos desperdiçam energia e tempo na tentativa inútil de
reconquistar um amor perdido.
Uma das minhas primas fez o possível e o impossível para tentar reconquistar o
amor de seu marido. Ela aprendeu a jogar golfe por que achou que isso o agradaria.
Depois de dez anos fazendo ovos cozidos, ela foi para uma escola, aprendeu a
cozinhar e passou a fazer pratos excelentes ela estava tentando conquistar seu
amor pelo estômago. Ela que era loira pintou seu cabelo de ruivo apelando para o
senso estético dele. Então, ela passou a se interessar por pesca em alto mar coisa
que ela sempre evitou durante toda a sua vida. Mas será que tudo isso ajudou a
reconquistar seu amor? Claro que não. Ele tinha passado a desconfiar de todas aquelas
mudanças e disse que ela tinha se tornado ridícula.
Quando morre o amor, ele esta morto. Tentar levantar um amor defunto é querer
ressuscitar um cadáver, aplicando respiração boca a boca.

Mito 19 – A competição entre marido e esposa, estimula o casamento – A competição


entre marido e esposa é o mesmo que dar uma tijolada nas vidraças da própria casa. A
competição corrói a essência do companheirismo e a confiança que é à base de um bom
casamento. A atitude competitiva diminui a reciprocidade, o esforço conjunto e as metas
características de um casal equilibrado. Os bons casamentos dependem de um bom nível
de cooperação mutua. Nas relações competitivas os casais lutam por liderança e se
tornam rivais. Quando o casamento vira uma espécie de torneio, a vida se torna uma
relação de exploração. Além disso, é um absurdo que eles desperdicem tempo e energia
lutando um contra o outro, quando deveriam usar seus recursos na superação dos
obstáculos que a vida impõe para os dois. A competição é altamente valorizada em nossa
sociedade. Sem a grandiosa competitividade americana, onde estaria o nosso grande pais
atualmente? Seja o primeiro e seja o melhor! Vencer não é tudo, mas é a única coisa que
nos interessa. Mas afinal devemos competir ou cooperar? É lamentável que muitos
decidam entrar para arena competitiva contra seu cônjuge, agindo como se fossem
inimigos ou rivais. Depois de anos de rivalidade esse mesmo casal se pergunta: onde
erramos? Talvez eu deva esclarecer que tipo de competição tende a minar a estabilidade
conjugal. Quando eu jogo tênis com a minha esposa eu jogo forte, procuro marcar pontos
ou me esforço para vencer? Claro que sim! Mas não seria isso um reflexo de
competitividade insana a qual me referi? Claro que não! Eu jogo duro, procuro marcar
pontos, jogar bem, me divertir, desfrutar da minha destreza pessoal, ver a bola
caminhando para o gol. Eu não gosto de ser massacrado por um jogador muito superior
nem de jogar com um parceiro muito inferior a mim. Uma partida desproporcional tira o
prazer do jogo. É mais agradável uma combinação justa e que de bom desafio. Afinal,
essa não é uma competição arriscada e nem capaz de prejudicar ninguém. Sem duvida, a
quadra de tênis e a mesa de bridge podem oferecer combustíveis para um desafio
inflamável quando o marido e a esposa jogam do mesmo lado da rede ou da mesa. Um
erro involuntário, uma palavra pode causar tanta ira no parceiro que só um rinoceronte na
agonia do parto seria tão escandaloso. Você poderia jurar que a vida de alguém estaria em
perigo. Todos nós já vimos casais saindo desses jogos com ódio no coração e soltando
faíscas pelos olhos. Esse tipo de competição é muito nocivo, mas não chega a ser tão ruim
quanto os conflitos do ego.
Conflitos piores ainda aparecem quando as pessoas colocam o ego em evidência, quando
seu amor próprio, sua autoestima, e autoconceito são expostas num jogo ou num conflito
de interesses. Daí o nome conflito de ego.
Os casais numa luta de ego entram numa rivalidade hostil quando atuam a favor ou contra
seus cônjuges numa situação de jogo, numa conversa entre amigos um tenta ofuscar o
brilho do outro, com os filhos procurando extrair mais amor e credibilidade e em todas as
situações que envolvam dinheiro, segurança e status.
Os casais envolvidos numa luta de ego estão constantemente tentando convencer a si e
aos outros de que são iguais ou superiores. Eles discordam virtualmente em tudo, sobre
como eleger um presidente, aplicar dinheiro, cuidar dos filhos, lavar a janela etc.
A interação deles lembra uma luta de esgrima, sem nenhuma trégua. Cada situação
representa uma ameaça e exige habilidade para se levar vantagem em tudo sempre.
Essa luta constante requer de cada um uma vigilância perpetua na defesa dos direitos dele
ou dela. Brigando continuamente, eles passam o tempo competindo entre si e perdendo
sempre. Ate parece que eles são incapazes de acreditar em qualquer coisa que provenha
do outro e mesmo os sinais de carinho são vistos com certa suspeita. A quem ele pensa
que esta enganando? Ela quer apenas se aproveitar de mim!
Recentemente num jantar, vi um casal – ambos profissionais – numa disputa por
liderança a noite toda. Quando ele falava ela o corrigia, quando ela falava ele a
contradizia. Num certo momento, o marido começou a contar piada, de repente ela
gritou: Pare, essa é piada é minha. Então, ele se calou e ela contou o resto da piada.
Mais tarde, quando ela falava de um passeio de fim de semana a Vermont, ele disse
que a historia pertencia ele, mas ela se recusou a parar de falar e a atmosfera ficou
tensa. Eles teriam feitou um espetáculo em publico se fosse uma intervenção muito
oportuna de uma anfitriã, que a convidou para sair da casa com o pretexto de falar
sobre um assunto particular.
Os casais competitivos frequentemente têm condutadas intimidatórias ou ameaçadoras e
às vezes tais condutas são muito frequentes. Essa perigosa e patética luta pelo poder é
antinatural. Se um marido e uma mulher são apenas rivais e não colaboram entre si,
então, o sentido do casamento deixou de existir. Para que um matrimônio mereça ser
preservado ele deve possibilitar a participação, a coalizão e a capacidade para procurar
ajuda no grupo quando os problemas aparecerem. Somente uma relação não competitiva
permite o desenvolvimento da confiança necessária para que eles possam vir a ser
colaboradores entre si, e não apenas cooperadores.
Enfim, a competição sobrevive como uma espécie de elemento básico da nossa cultura.
No entanto, ela pode ser resolvida numa quadra de tênis ou qualquer outra forma de
recreação. Mas a competição não é saudável para o casamento.
Mito 20 – Você deve transformar seu cônjuge numa pessoa melhor – George Hart
veio de uma família rica, mas não tanto quanto a família de sua esposa. Quando o
casamento entre George e Selma Ritter foi anunciado, muitas pessoas disseram ao
senhor e a senhora Hart que o filho deles era um homem de sorte. O senhor e a
senhora Ritter estavam menos otimistas, mas preferiram não se opor ao desejo da
filha. No entanto eles comentaram sutilmente que George era um diamante se
lapidar. Com isso eles estavam dizendo que George ainda precisava ser polido antes
de se tornar um Ritter-Hart. Selma concordou e tranquilizou os pais dizendo que
George era um bom estudante.
Antes do casamento, sob influencia de Selma, George mudou completamente seu
guarda-roupa, o corte de cabelo, fez a barba e comprou carro novo. Segundo as
palavras de Selma, ele tinha ficado muito mais elegante. Enquanto dançava com seu
genro, durante a cerimonia de casamento, a senhora Ritter manifestou
desaprovação em relação aos seus amigos. Ela estava especialmente irritada com o
fato do padrinho de George ser de uma outra religião. Então ela disse: Nessa família
ou você se adapta ou se retira.
Embora Selma tivesse adotado o papel de conselheira e assessora de George, um dia
eles saíram para um restaurante e ele pediu um vinho inadequado para a situação, além
de pronunciar errado, algumas palavras do menu em francês. A remodelagem de George
tinha se tornado seria demais depois do casamento. Para inicio de conversa os amigos
indesejáveis teriam que ser eliminados; em segundo lugar, o futebol, o vôlei aos domingos
de manhã, que ele esperava ansiosamente a semana toda, teriam que ser substituídos por
alguma atividade domestica.
Agora você é um homem casado e tem um mulher para cuidar, dizia Selma. Participar de
futebol ou esportes dessa natureza não condiz com seu status. Ele teria que mudar seu
nível de preferencias musicais e apreciação estética deveria ser mais refinado. Sexo
estava sempre nos termos de Selma, mas também tinha que se manter dentro do mais
restrito senso de decoro: no escuro e sem mãos.
Quando conheci George, quatro meses depois do casamento, ele estava infeliz e confuso.
Ao concluir o estudo de sua historia pessoal, pareceu-me que para George a sua vida com
Selma tinha as alegrias de uma prisão turca.
O que te chamou atenção em Selma? Perguntei. Os Ritters, como você sabe são
importantes, disse ele. Eu fui seduzido pelo desejo da fama e de êxito. Convidei Selma
para uma sessão para que víssemos se era valida ou não a tentativa de salva o
casamento, mas ela se recusou. Disse: Os ritters não acreditam nessas coisas. O
casamento foi anulado.
George levou pouco tempo para concluir que havia entrado numa briga de foices. Eu tenho
visto dezenas de casais envolvidos em combates mortais, um esculpindo o outro a sua
imagem e semelhança, vivendo uma frustação mútua e vexatória por anos e anos.
A arrogância dos que acham que sua forma de ver o mundo é a única verdadeira, só pode
ser superada por aqueles que estão dispostos a confrontar suas perspectivas com as dos
demais.
A ideia de que o marido ou a esposa tem o direito de educar e refazer a outra pessoa,
caminhado lado a lado com a noção de que a pessoa vai melhorar depois do casamento.
Quando as coisas vão mal, antes do casamento tendem a piorar depois. Uma pessoa
impulsiva, egoísta, sexualmente desinteressada e prepotente, que promete melhorar as
coisas depois de casados, deve ser vista com extremo ceticismo e desconfiança, por
qualquer casal.
Moral da historia? Prefira se casar quando for possível ter como base o amor e a
compatibilidade. Quando os interesses, atitudes e sentimentos vividos dependem de
pequenos ajustes, mas nunca de mudanças radicais e quando lhe for possível deixar a
salvação para os bombeiros, salva-vidas e os médicos de plantão.

Mito 21 – Os opostos se atraem e se completam – Não é raro que alguém extrovertido


atraia pessoas mais intelectualizadas, controladas e introvertidas. Os mais inseguros
podem buscar gente mais forte e silenciosa que ofereça estabilidade e segurança. As
pessoas estáveis, altamente controladas, tendem a se aproximar de casais mais
espontâneos, carinhosos, vitais e divertidos que possam compensar o lado serio da vida.
Tais opostos podem se atrair devido aos seus diferentes estilos de vida. Como amigos ou
amantes, eles geralmente se relacionam bem por um curto espaço de tempo, quando
encontram uma relação complementaria que neutralize suas carências e falhas. Porém
quando se casam, essas diferenças entram em choque e os colocam frente a frente com
suas diferenças fundamentais. O brilho e o flerte dela se tornam um ponto de irritação. As
condutas serias dele cria aborrecimentos. Ele se retrai e ela se sente rejeitada. Ela busca
freneticamente recuperar o terreno perdido, porém ele se sente criticado e se isola mais
ainda. Então começa uma luta pelo poder e ambos apelam para táticas que matam a
intimidade a qual ambos desejam ter. Os opostos vão perceber que suas diferenças são
fascinantes por um tempo. Porém, as relações ao longo prazo podem florescer quando
prevalece mais o similar do que o dissimilar.
Tenho afirmado ao longo deste livro que os bons matrimônios requerem semelhanças e
não diferenças. Conheço um excelente matrimônio no qual os cônjuges são
extraordinariamente compulsivos. Eles trabalham ombro a ombro, lustrando as maçanetas
da porta, assoalho, esfregando as paredes e fazendo pequenos concertos. Enquanto
outros faziam piqueniques, andavam na praia ou jogavam tênis, aquele casal preferia
limpar a casa. Se fossem casados com alguém menos compulsivo, os atritos seriam
inevitáveis,
Quando os indivíduos com pontos de vista diferentes passam muito tempo juntos, alguns
pontos de atrito são inevitáveis. Como podemos ver no exemplo a seguir:

 Imagine um casal onde um elemento gosta de falar compartilhar sentimentos e


ideias e o outro tende a introversão, preferindo a solidão e o isolamento.
 Imagine uma pessoa gregária, sociável e que busque companhia de vários tipos de
pessoas, casada com um solitário desconfiado que rejeite a quase todo mundo.
 Considere um individuo afetuoso, apaixonado, intensamente sexual e casado com
alguém de baixa impulsividade erótica.
 Pense num avarento atraído pela mulher gastadeira e que tenha se casado com
ela
Quanta felicidade conjugal tende a se transformar em cada um dos casos mencionados?
Nos matrimônios felizes as semelhanças básicas se sobrepõem as diferenças. Aparecem
os choques por divergências filosóficas quanto a educação dos filhos e muitos divórcios
são causados por diferença de opiniões. Nesse sentindo, se os dois têm gostos muito
diferentes, quanto ao tempo livre e as diversões, eles terão problemas e quando
perceberem as diferenças profundas nos valores, por exemplo, quanto às atitudes,
crenças religiosas, inclinações politicas é quase certo que aparecerão as crises.
O mito de que os postos se atraem e formam excelentes casais, provavelmente vem do
fato de que algumas diferenças podem ser enriquecedoras, excitantes ou até fascinantes.
Somente um narcisista se casaria com um clone! Por outro lado, há um salto gigantesco
entre as pequenas diferenças que podem ajudar o casal e a suposição ingênua de que as
divergências radicais possam melhoras o casamento.
Mito 22 – Os casais não devem revelar seus problemas a estranhos – Um grande
amigo passou a me confidenciar sobre seu casamento. Disse que embora gostasse
muito de sua esposa, estava difícil conviver com ela. Referiu-se ao seu mal humor,
ao fato dela quase estar sempre insatisfeita, de tender a ser muito queixosa e
sexualmente inibida. Ouvindo isso, disse que talvez fosse o caso de uma terapia de
casal. Acho que isso vai ser impossível, ele respondeu e depois de um tempo disse:
Rose é totalmente contraria a qualquer forma de terapia ou aconselhamento. Ela
acha que não devemos falar dos nossos problemas com estranhos. Disse também
que se Rose descobrisse que ele comentou sobre os detalhes íntimos da relação
deles, ela faria uma terceira guerra mundial.
Desde então, descobri que essa atitude era muito mais frequente do que eu imaginava.
Durante muitos anos, pessoas angustiadas com sua vida conjugal, somente me
procuravam depois de terem a certeza que seus cônjuges jamais saberiam que eles
falaram comigo. Eles se justificavam de varias formas: O que se passa entre marido e
mulher não deve sair das quatro paredes, é problemas deles e de mais ninguém e que
revelar segredos da vida intima dos dois seria uma traição.
Os que se subscrevem a qualquer das afirmações anteriores, sentem se profundamente
culpados depois de confiarem a mim. Talvez Sammy tenha razão. Disse uma esposa aflita
depois de compartilhar comigo alguns problemas conjugais. Talvez eu não devesse ter
contado a um estranho o que se passa em nosso lar. Outro esposo comentou: talvez seja
incorreto falar sobre meus problemas matrimoniais com alguém que não seja a minha
própria mulher, mas eu estava desesperado. Uma pessoa foi ainda mais longe ainda
dizendo: somos católicos, porém a minha mulher acha que não devemos falar com
ninguém sobre a gente, nem mesmo com um padre.
Pessoas assim tão reservadas espelham crenças muito comuns em nossa cultura. Nelas
há uma tendência para o excesso de privacidade e o script delas afirma: guarde suas
opiniões e as revele o mínimo possível. Um jovem me contou que o lema de seus pais era
o peixe morre pela boca. De certo modo eu não estou dizendo a ninguém para que levem
os corações na mão, ou que saiam por ai falando de si pais quaisquer pessoas. Há
evidencias de que a auto expressão seletiva é necessária para a saúde emocional. As
boas amizades estão associadas a um alto nível de comunhão e transparência. No
entanto, há os que se escondem e acreditam erroneamente que há vantagens em ser
misterioso ou enigmático.
Uma das razões para se manter a distancia é que sendo realmente conhecidos, podemos
cair e no desprezo e no total descrédito. Além disso muitos acreditam que se uma pessoa
de má fé conhecer profundamente outra pessoa, ela pode invadir sua intimidade usando
as informações sobre suas fragilidades, contra ela mesma. Por isso muitos revelam
apenas uma falsa aparência e se ocultam nas fechadas. Seu coração poderia estar ferido,
mas ninguém saberia da verdade e o seu mais autentico EU, continuaria dormindo além
das mascaras.
Durante muitos anos venho surpreendendo-me com um fenômeno intrigante. Qualquer
pessoa que assista televisão sabe que ela vem noticiando fatos de pessoas
aparentemente pacificas, que de repente enlouqueceram e massacraram a própria família
a tiros ou a facadas. Pesquisando esses fatos, geralmente os vizinhos são entrevistados e
fico impressionado com o numero de vezes com que tais pessoas foram classificas como
reservadas, mas na verdade eram desconhecidas pelos seus vizinhos. Muitos psicólogos
acham que, se eles tivessem falado com um amigo ou um vizinho sobre seus
pensamentos, provavelmente teriam evitado esse trágico fim.
Quando me lembro dos meus anos de casado, recordo me que, quando surgiam
desacordos entre eu e minha esposa, discutíamos a nossas dores e sofrimentos com os
amigos e a maioria deles também nos falava de seus problemas. As vezes saiamos para
jantar na companhia de outro casal, ou vários casais e pedíamos permissão para falar do
que estava acontecendo. Cada um emitia o seu ponto de vista pessoal e nascia dali uma
belíssima discussão. Embora esses amigos não fossem psicólogos, psiquiatras ou
conselheiros matrimoniais, eu achava útil a opinião deles vendo as coisas de outro ângulo.
No grupo havia dois casais que sempre ouviam tudo, mas nunca falavam dos seus
conflitos. Quanto a eles, eu creio numa conexão causal entre a postura de boca fechada, a
reserva e o fato de ambos os casais terem acabado se divorciando.
Na minha vida profissional conheci casais de valor inestimável. Houve um tempo em que
eu e mais quatro ou seis casais nos reuníamos semanalmente, eles recebiam conselhos
importantes e ideias uteis, encontravam as melhores soluções entre eles mesmos do que
com a minha ajuda profissional. Esse método ajudou muitos casamentos, que teriam
acabado desnecessariamente ou continuado numa crise sem fim. Ao se abrirem com
pessoas estranhas especialmente um profissional bem treinado, os casais podem achar
soluções construtivas para suas dificuldades.

Mito 23 – Não tenha sexo se estiver com raiva – Em muitos matrimônios disfuncionais a
sexualidade pode ser usada como uma arma, como força para separar cada vez mais os
dois. Cuidei de muitos casais que usavam tontamente o sexo para manipular seus
parceiros.
Um casal jovem me procurou por que estava tendo dificuldades sexuais e conjugais.
Abby era uma dessas pessoas, para que o sexo ficava totalmente fora de cogitação
se ela estava chateada com o esposo. Se Robert queria ir para cama com ela, ele
teria que exibir sua melhor conduta. Fiz a ela uma pergunta direta: o que ele teria
que fazer para ter o direito de transar com você esta noite? Abby respondeu: bem,
eu preciso de alguma ajuda na casa. Ele poderia passar o aspirador no living e no
escritório. Há meses eu venho pedindo a ele para consertar a cerca e arrumar o
guarda roupas. Ela teria continuado, mas a interrompi dizendo que se ele fizesse
tudo aquilo, estaria cansado demais para o sexo.
Num outro casal, era o esposo que fixava os critérios: antes que eu possa
considerar a possibilidade de uma relação sexual, as coisas precisavam estar
perfeitamente em ordem entre Paula e eu. Tenho que me sentir perfeitamente bem
com ela e vice versa. Preciso sentir que estamos afetivamente próximos, que
estamos em harmonia. Tenho que estar vivendo sua calidez e seus cuidados, sua
ternura e proximidade. Perguntei: com que frequência esses critérios se cumprem?
Pelo menos uma vez por mês ou menos. Respondeu Paula com tristeza.
Nos dois casos que acabo de mencionar, vários mitos parecem intervir juntamente com o
principal deles que estamos considerando. Um deles é que o amor é a condição
necessária para a vida sexual gratificante. Em nossa cultura, o amor e o sexo foram
entrelaçados tão intrinsicamente que fazer amor é sinônimo de relação sexual. No entanto
o amor não pode ser produzido. Os que vêem o amor na condição como condição
essencial para o sexo, não sabem que o amor pode nascer do sexo. Quando duas
pessoas se sentem atraídas e tem uma boa sexualidade, é provável que com o tempo elas
comecem a se amar.
Outro mito que se relaciona com o que eu estou abordando é o de que as relações
conjugais deveriam ser sempre especiais, profundamente eróticas, afetuosas e altamente
satisfatórias. Equivaleria a dizer que cada comida deveria ter um prazer epicuriano, ser
servida na melhor peça de cristal, com musica suave a luz de velas, que é inadmissível um
sanduiche as pressas! Os que só comem em restaurantes quatro estrelas e em mais
nenhum outro lugar, passariam fome boa parte do tempo e se enfraqueceriam. Se cada
encontro sexual tiver que ter um desempenho quatro estrelas o casal acabara renunciando
as saborosas rapidinhas e outros jogos sexuais menos elaborados que promovem à
intimidade a solicitude e o bem estar físico. Os que apenas aceitam sexo perfeito,
geralmente acabam se frustrando e passando necessidades. Alguns casais esperam
acalmar sua ira e passam horas tentando diminuir suas tensões emocionais falando sobre
os seus sentimentos (frequentemente apenas conseguem aumentar seus níveis de
ansiedade). Existem casais que descobriram que o sexo diminui a raiva. Quando estão
ressentidos vão para a cama e resolvem tudo sexualmente. Eles nunca permitem que os
problemas se interponham no caminho do sexo gratificante e acham que frequentemente
que as coisas tomam outro rumo, depois de uma boa transa. Não estou sugerindo o fim
das discussões sobre as emoções no casamento. É claro que os casais funcionam melhor
quando se comunicam livremente e quando compartilham e ventilam seus ressentimentos.
Sou contrario as discussões tediosas, que levam horas sem conduzir nada além da
obstrução da intimidade sexual.
Algumas pessoas aderem o mito de que não se deve ir para cama, quando se esta
brigado. Mas quando eles tentam resolver as coisas conversando, vão brigando ate
amanhecer o dia. Tenho percebido que após uma noite de sono, os problemas se
resolvem de forma impressionante. As mensagens de amor e as mensagens sexuais não
são as mesmas. Os que estão enamorados as vezes ficam tão preocupados com o
componente afetivo que seus impulsos sexuais se tornam difusos e isso diminui sua
estimulação erótica. Os que acham que sexo e amor devem caminhar juntos e que a
irritação e o ressentimento devam ser eliminados antes da relação sexual amorosa serão
frustrados. Os casais que aprendem a vivenciar uma variedade de alternativas sexuais
como o sexo amoroso, erótico, luxuoso, brincalhão e ate mesmo o sexo raivoso, poderão
ter menos conflito e um casamento melhor e menos limitado em suas possibilidades de
expressão sexual.

Mito 24 – Conforme-se com o que você tem – Todo matrimônio requer adaptações,
ajustes e a capacidade de passar por cima das diversas provocações e patologias.
Devemos aceitar o fato de que nossos cônjuges estão propensos a ter alguns hábitos,
maneirismo e modos de cultura que dificilmente se modificarão. Em outras palavras, ou se
aprende a conviver com essas pequenas moléstias e aceita-las, ou se convertera num
rabugento. A maioria dos matrimônios podem crescer e serem mais ricos, tornando as
relações difíceis numa aventura satisfatória e cheia de vida. Os que acreditam que nada
pode ser feito para melhorar tais casamentos, geralmente estão equivocados.
Ex: Simon e Cindy tinham ido a dois conselheiros matrimoniais. Seus dez anos de
casamento tinham sido turbulentos. Os conselheiros só tinham piorado as coisas. A
primeira conselheira era uma pessoa muito doce, mas tudo o que ela fez, pelo o que
eu pude perceber, foi sentar-se ali e cacarejar compulsivamente. O segundo
conselheiro nos incitou a brigar diante dele. Nos deu um pau almofadado para que
nos batêssemos e com isso ele apenas conseguiu aumentar ainda mais nossa raiva.
Enquanto Cindy contava suas experiências Simon concordava balançando a cabeça
e então falou: sim, seus colegas são realmente uns tarados. Por que eu deveria
pensar que você é diferente? Ao que me consta você é culpada ate que me prove ao
contrario. Creio que vocês os terapeutas são um bando de falsos.
Cindy: Simon, como você chega ao ponto de insultar o doutor assim!
Lazarus: Ele tem todo o direito de ser tão cético e desafiante. Eu sentiria o mesmo
na pele dele. Porém eu só conheço Simon a dez minutos, enquanto você Cindy, o
conhece a mais de dez anos. Deixe me te perguntar uma coisa. De fato eu percebo
muita raiva nele e eu poderia dizer que seu estilo esta repugnante. Ele é assim em
outras relações ou é só aqui comigo?
Cindy: Você tocou no ponto certo. Doutor. Eu estou convivendo com isso a dez
anos. Ele não sabe se comportar como um ser humano. Por que você acha que tanta
gente o odeia? Por que você acha que ele tem tantos problemas com seu chefe no
trabalho? É porque você vê, pensa e sente como se tivesse cinco anos de idade. O
problema com ele é que ele não se sente por dentro como um homem, mas se vê
como um bebezão. E ele é mestre na arte de humilhar as pessoas.
Eu já ouvi isso antes Lazarus: desculpe me, Cindy. Como é que você sabe que
Simon se sente como um menino e pensa como se tivesse cinco anos de idade? Ele
disse isso a você?
Cindy: Isso é mais do que óbvio.
Lazarus: Você esta pronta para receber a regra numero 1, nunca diga a outra pessoa
o que ela esta pensando ou sentindo.
Simon: Você está brincando! Ela é uma adivinhadora de pensamentos tão
amaldiçoada que se tirássemos isso dela, ela não teria mais do que falar.
Lazarus: Simon, você realmente se sente mais como um menino do que como um
homem?
Simon: Creio que sim, as vezes.
Lazarus: Quando?
Simon: Não sei, creio que quando me sinto acuado, ou intimidado.
Lazarus: Eu o intimido?
Simon: Não.
Cindy: Ele tem medo da sua própria sombra.
Lazarus: Alto lá! Sinto que uma parte do problema esta aqui. Cindy e Simon, os dois
são o que Cindy chamou de mestres na arte de humilhar. Ambos estão numa praça
de guerra, atacando em todas as frentes. O casamento de vocês é como um barco.
Se ambos estão fazendo furos no barco. Se querem afunda-lo por mim tudo bem,
mas se quiserem de verdade que o casamento funcione, precisam tampar
imediatamente seus furos! Isso implica antes de mais nada em ser amáveis entre si,
falando com respeito e sem tentar ler a mente do outro.
Simon: Isso implicaria numa mudança verdadeira.
Lazarus: Talvez pudéssemos começar imediatamente discutindo as emoções e os
pontos de atritos de vocês dois como três adultos civilizados.
Cindy e Simon frequentemente apelavam para suas táticas de guerra, mas no momento
em que um deles saia da linha, pediam uma imediata reformulação civilizada e madura.
Assim terminamos a sessão num clima otimista.
Levei mais de um ano para ajudar aquele casal a ser capaz de se relacionar mutualmente
de forma adaptativa, cooperativa e com respeito mútuo. Se por acaso Cindy ou Simon
tivessem percebido que não haveria mudanças, que teriam que optar entre um matrimônio
hostil e a separação, não teriam procurado ajuda. Felizmente eles não ficaram contentes
com o que tinham. Apesar das duas experiências negativas com os conselheiros, a
relação deles ainda era importante a ponto de estimular a procurar ajuda até o fim.

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