Economia verde- mega 1

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br/visao-de-futuro Megatendência Sustentabilidade

Economia verde
Vanessa da Fonseca Pereira, Daniela Biaggioni Lopes, Danielle Alencar Parente Torres e
Maurício Lopes

O crescimento populacional e da renda média mundial tem efeito positivo sobre a


demanda de bens e serviços, que, por sua vez, é frequentemente atendida com base em
recursos naturais, especialmente terra e água. Em todo o mundo, essas tendências estão
forçando um número crescente de ecossistemas para além de suas capacidades. Nesse
contexto, a economia verde1 se apresenta como um modelo para reverter essas
tendências, alterando políticas e incentivos, de modo a apoiar o crescimento, a igualdade
social e o bem-estar por meio da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais
e do controle vigilante da poluição (International Institute for Sustainable Development,
2014).
Cabe ressaltar, entretanto, que o conceito de uma economia verde não substitui o de
desenvolvimento sustentável. O que se observa é um crescente reconhecimento de que
o alcance da sustentabilidade depende amplamente da condução correta da economia
(United Nations Environnment Programme, 2011). Cada vez mais, as tendências globais
na direção do desenvolvimento sustentável são representadas pelos conceitos de
economia verde ou de crescimento verde (Dogaru, 2021).
A emergência da economia verde ocorre em grande sintonia com as mudanças impostas
por uma sociedade mais urbana, bem informada e exigente, que vem alterando com
rapidez seus padrões de consumo, forçando ajustes nos padrões de produção. Ao olhar
para o futuro, a economia verde aparece como resposta relevante a ameaças e desafios
globais, como o enfrentamento da emergência climática e a recuperação pós-pandemia

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Para a ONU Meio Ambiente, economia verde é aquela que resulta em melhoria de bem-estar humano e
igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos e as escassezes ambientais
(United Nations Environnment Programme, 2011). Em outras palavras, é uma economia de baixo carbono,
que usa de forma eficiente os recursos e é socialmente inclusiva (United Nations Environnment
Programme, 2012). Reconhece, portanto, a inseparabilidade dos três pilares do desenvolvimento
sustentável, com o objetivo de promover situações de ganho nos três aspectos e, nos casos de trade-offs
inevitáveis, apoiar tomada de decisões racional com dados e informações adequados (International
Institute for Sustainable Development, 2014). Assim, economia verde é um conceito “guarda-chuva”, que
inclui, ao mesmo tempo, elementos da economia circular e da bioeconomia, bem como ideias adicionais.
Em comum, os três conceitos possuem o ideal de reconciliar metas econômicas, ambientais e sociais,
propondo adaptar ou transformar a economia atual em uma versão mais sustentável (D’Amato et al., 2017;
D´Amato; Korhonen, 2021).

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da covid-19, ao mesmo tempo em que é indicada como caminho possível para
aproveitamento de oportunidades.
Por sua vez, é possível uma ruptura no sistema socioeconômico mundial se não houver
transição ou adaptação para a economia verde (Dubeux; Campos, 2020). Na mesma
direção, a não adoção de práticas circulares possivelmente resultará na exclusão de
vários players do mercado mundial, principalmente a partir das exigências de atores
importantes como a UE (estratégia Green Deal). Setores que dependam fortemente de
subsídios (como alguns ligados ao agronegócio) poderiam perder espaço na economia
circular. O mesmo estudo identificou oportunidades relevantes, entre as quais se
destacam o acesso a financiamento de projetos e iniciativas de PD&I que sigam os
princípios da economia circular e da economia verde; e as oportunidades de negócios
entre Brasil e UE, caso o Brasil consiga fomentar práticas circulares e sustentáveis.
Apesar de os desafios e as oportunidades sinalizarem para a importância da economia
verde, a transição para esse sistema é um processo de médio e longo prazo, que envolve
comprometimento político dos Estados para uma mudança de modelo de
desenvolvimento econômico. Esse processo envolve iniciativas relacionadas ao
envolvimento público na implementação de uma abordagem verde nas políticas
nacionais (tais como energia renovável, tecnologias e processos com baixa emissão de
carbono, prédios eficientes em energia), a promoção de pegadas ambientais e o
desenvolvimento de serviços bancários e investimentos verdes (Dogaru, 2021). Portanto,
uma economia verde será diferente para cada país, dependendo das medidas adotadas
com base em suas prioridades nacionais e seus ativos naturais (International Institute for
Sustainable Development, 2014).
A agricultura brasileira já está inserida na economia verde, com exemplos de sucesso,
como a utilização de biomassa para produção de energia renovável e a intensificação
sustentável do uso da terra – com sistemas integrados (ILP e ILPF), fixação biológica de
nitrogênio e controle biológico de pragas. Apesar de tais avanços, o Brasil precisará se
preparar para novos desafios, já que a agricultura em todo o mundo será pressionada a
incorporar métricas de sustentabilidade, como a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV),
processo de gestão de desempenho ambiental que avalia desde a extração de recursos
até o descarte final dos resíduos. Sua incorporação irá redefinir competitividade,
premiando processos que racionalizem o uso de recursos valiosos, como a água, e
reduzam ou eliminem emissões de gases de efeito estufa (GEE) e de resíduos.
A transição para uma economia mais verde irá depender da identificação de novas
competências necessárias e demandar novas métricas para medir progresso, além do

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PIB. A reflexão sobre o tipo de crescimento econômico desejável e o que realmente
importa para o bem-estar humano em um mundo de recursos finitos deverá direcionar e
dimensionar os esforços na direção da economia verde (European Comission, 2020).
A expectativa de entrada no Brasil na Organisation for Economic Co-operation and
Development (OECD) implicará maior comprometimento, metas mais ambiciosas nos
acordos internacionais e maior desenvolvimento da economia verde no País. Essa
entrada também vai demandar monitoramento dos indicadores de crescimento verde
(green growth indicators da OECD) e definição de áreas prioritárias de atuação. Um
componente-chave é a inovação que pode gerar novas fontes de crescimento e diminuir
os custos para atender as exigências ambientais.
Também com potencial de alavancar a economia verde no Brasil, merece destaque uma
série de iniciativas do Mapa (Brasil, 2022). São ações que visam fomentar investimentos
verdes no setor agropecuário do País, contribuindo para desenvolver o mercado de green
bonds (títulos verdes): títulos emitidos para a captação de recursos voltados a
investimentos em projetos sustentáveis e emitidos no âmbito dos padrões ASG
(ambiental, social e governança).

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Referências c_foresight_report_2020_1.pdf. Acesso em: 5 abr.
2020.
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Acesso em: 11 abr. 2022. https://www.iisd.org/system/files/publications/trade
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DOI: 10.3390/proceedings2020063070.

Como citar esse texto:


DUBEUX, C. B. S.; CAMPOS, M. C. Economia circular:
os desafios do Brasil. [Rio de Janeiro]: Cebri, 2020. Pereira, V. F., Lopes, D. B., Torres, D. A. P.,
66 p. Disponível em: Lopes, M. Economia Verde. In: Plataforma Visão
http://midias.cebri.org/arquivo/Relatorio_CEBRI- de futuro do Agro. Disponível em: <
https://www.embrapa.br/visao-de-
Michelin_14dez.pdf Acesso em: 8 abr. 2022. futuro/sustentabilidade/sinal-e-
tendencia/economia-verde > Acesso em: 27
EUROPEAN COMISSION. 2020 Strategic Foresight abr. 2023.
Report: Charting the Course towards a more resilient
Europe. Brussels, 2020. 41 p. Disponível em:
https://ec.europa.eu/info/sites/default/files/strategi

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