Feminicídio - Francisco Dirceu Barros

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Feminicídio: Controvérsias e aspectos práticos

© Francisco Dirceu Barros & Renee do Ó Souza J. H. MIZUNO 2019


Revisão: Paulo de Morais

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

B277f Barros, Francisco Dirceu.


Feminicídio: controvérsias e aspectos prático / Francisco Dirceu Barros,
Renee do Ó Souza. – Leme, SP: JH Mizuno, 2019.
109 p.: 14 x 21 cm Inclui bibliografia.

ISBN 978-85-7789-456-7

1. Violência contra as mulheres – Brasil. 2. Violência familiar. I.Souza, Renee


do Ó. II. Título.

CDD 345.025

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

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O conteúdo da obra é de responsabilidade do autor. Desta forma, quaisquer medidas
judiciais ou extrajudiciais concernentes ao conteúdo serão de inteira responsabilidade do
autor.

Todos os direitos desta edição reservados à


J. H. MIZUNO
Rua Prof. Mário Zini, 880 – Cidade Jardim – CEP: 13614-230 – LEME/SP
Fone/Fax: (19) 3571-0420

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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Sobre os autores

FRANCISCO DIRCEU BARROS

Procurador Geral de Justiça do Estado de Pernambuco, Promotor de


Justiça Criminal e Eleitoral durante 19 anos, Mestre em Direito, Especialista
em Direito Penal e Processo Penal, ex-Professor universitário, ex-Professor
da EJE (Escola Judiciária Eleitoral) no curso de pós-graduação em Direito
Eleitoral, Professor na pós-graduação de Prevenção e Segurança Pública no
CERS, Professor convidado da Escola Superior do Ministério Público do
Maranhão e Pernambuco, com vasta experiência em cursos preparatórios aos
concursos do Ministério Público e Magistratura, lecionando as disciplinas de
Direito Eleitoral, Direito Penal, Processo Penal, Legislação Especial e Direito
Constitucional. Ex-comentarista da Rádio Justiça – STF, ex-colunista da
Revista Prática Consulex, seção “Casos Práticos”. ex-colunista do Blog AD
(Atualidades do Direito). Membro do CNPG (Conselho Nacional dos
Procuradores Gerais do Ministério Público). Colaborador da Revista Jurídica
Jus Navigandi. Colaborador da Revista Jurídica Jus Brasil. Colaborador da
Revista Síntese Direito Penal e Processual Penal. Colaborador do Blog Gen
Jurídico, Colaborador do Blog “Os Eleitoralistas”, Colaborador do Blog
“Novo Direito Eleitoral”, Autor de diversos artigos em revistas
especializadas. Escritor com 70 (setenta) livros lançados, entre eles: Direito
Eleitoral, 14ª edição, Editora Método. Tratado Doutrinário de Direito Penal,
Editora JH Mizuno, Prefácios: Fernando da Costa Tourinho Filho, José
Henrique Pierangeli, Rogério Greco e Julio Fabbrini Mirabete. Tratado
Doutrinário de Processo Penal, Editora JH Mizuno, Prefácios: Rogério
Sanches e Gianpaolo Poggio Smanio. Recursos Eleitorais, 2ª Edição, Editora
JH Mizuno. Direito Eleitoral Criminal, 1ª Edição, Tomos I e II, Editora Juruá.
Manual do Júri, 4ª Edição, Editora JH Mizuno, Prefácio Edilson Mougenot
Bonfim. Manual de Prática Eleitoral, 3ª edição, Prefácio: Humberto Jacques
de Medeiros, Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Editora JH Mizuno. Coautor e
um dos coordenadores do livro “Acordo de Não Persecução Penal”, Editora
Juspodivm.

RENEE DO Ó SOUZA

Mestre em Direito pelo Centro Universitário de Brasília-Uniceub. Pós-


graduado em Direito Constitucional, em Direito Processual Civil e em Direito
Civil, Difusos e Coletivos pela Escola Superior do MP de Mato Grosso.
Promotor de Justiça em Mato Grosso. Membro Auxiliar da Unidade Nacional
de Capacitação do Conselho Nacional do Ministério Público. Coautor dos
Livros Lei Anticorrupção Empresarial, Acordo de Não Persecução Penal,
Leis Penais Especiais, todos da editora Juspodivm. Professor na Pós-
Graduação de Prevenção e Repressão à Corrupção no CERS, da
Especialização em Direito Penal e Processo Penal da Escola de Direito do
Ministério Público do Mato Grosso do Sul, da Fundação Escola do Ministério
Público de Mato Grosso, do Curso Preparatório para concurso da
Magistratura da Escola da Magistratura Matogrossense e do instituto SGP-
Soluções em Gestão Pública. Coautor dos Livros Lei Anticorrupção
Empresarial, Acordo de Não Persecução Penal, Leis Penais Especiais e
Pacote Anticrime, todos da editora Juspodivm, além de autor da obra “Os
efeitos transversais da colaboração premiada e o acordo de leniência”, pela
Editora D’Plácido. E-mail: reneesouza@hotmail.com
Prefácio Honrou-me de especial
maneira a deferência dos autores por
me escolherem para prefaciar a
presente obra.

A princípio, em razão das convergências em nossas vidas profissionais e


acadêmicas. Ambos os autores são membros do Ministério Público, carreira
da qual orgulhosamente sou oriunda; além de o Professor Renee do Ó de
Souza ter obtido o seu título de Mestre em Direito no Centro Universitário de
Brasília – UniCEUB, instituição de ensino na qual tive o prazer de lecionar a
disciplina Direito Processual Penal por anos.
Depois, porque o tema da presente obra demonstra que também
partilhamos de uma mesma preocupação: a terrível situação de
vulnerabilidade do sexo feminino no Brasil. Como se já não fosse
suficientemente crítico que, em pleno Século XXI, as mulheres sofram
discriminações sociais e econômicas unicamente pela condição de gênero,
elas ainda são vítimas do alastramento não somente de crimes sexuais e de
agressões domésticas, mas também do feminicídio.
Especificamente quanto ao feminicídio, impressionou-me o estudo
divulgado em 7 de março de 2019, na véspera do Dia Internacional da
Mulher, pelo Monitor da Violência, uma parceria do portal de internet G1
(www.g1.globo.com) com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade
do Estado de São Paulo e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Desse
material vale reproduzir alguns dados: desde a edição da Lei n.º 13.104/2015,
quando a rubrica prevista no inciso VI foi acrescentada ao art. 121 do Código
Penal, foram registrados no País os seguintes números de feminicídios: em
2015, 445; em 2016, 763; em 2017, 1.047; e no ano seguinte, 1.173. Em
2018, o registro de feminicídios aumentou em 12% relativamente ao ano
anterior.
Esses números estarrecedores demonstram a importância fundamental do
presente trabalho, concebido em razão da apreensão dos autores quanto a essa
inaceitável conjuntura de violência a que estão submetidas as mulheres no
Brasil. Por esse motivo, eles próprios ressaltam, na apresentação da obra, que
ela foi desenvolvida para que as principais questões que envolvem as fases
extrajudicial e judicial sejam discutidas especialmente à luz de duas das
circunstâncias que conduziram o Legislador a instituir o feminicídio: a
tentativa de debelar a impunidade e a de prevenir os crimes dessa natureza.
Controvérsias relevantíssimas foram abrangidas pelos escritores no
tocante à mais grave conduta de violência de gênero. Dedicam-se a questões
materiais como a descrição do conceito jurídico de mulher, a concepção do
que é feminicídio e suas espécies, se a conduta se trata de qualificadora ou
crime autônomo. Discorrem, também, sobre complexas questões processuais,
como a persecução da conduta, a competência para o julgamento, a forma que
se dá a quesitação do feminicídio no julgamento pelo Tribunal do Júri e sobre
os consectários da hediondez no cumprimento da pena.
E vão além. Abordam inclusive hard cases – aqueles, nas palavras do
Professor Luís Roberto Barroso, “cuja solução não se encontra pré-pronta no
ordenamento jurídico, exigindo uma atuação criativa do intérprete”
(conforme texto publicado na internet pela Revista Consultor Jurídico em
https://www.conjur.com.br/dl/palestra-barroso-alexy.pdf; acessado em
12/06/2019). É o caso da polêmica sobre a possibilidade de se considerar
feminicídio o assassinato de pessoas que se submeteram ao procedimento de
neocolpovulvoplastia (cirurgia de alteração da genitália masculina para
feminina).
Por fim, vale ainda referir que os Estados civilizados comungam do
entendimento de que as desigualdades sofridas pelas mulheres precisam ser
corrigidas. Todavia, a instituição de políticas públicas nesse sentido depende
da conjuntura de cada País. Para isso, os Agentes Estatais devem atentar-se às
particularidades e dificuldades locais na implementação dos Direitos
Humanos das Mulheres.
No Brasil, a inadmissível situação de violência endêmica contra o sexo
feminino levou o Legislador a incluir a rubrica do feminicídio no Código
Penal. A mera edição dessa lei, todavia, não será suficiente para acabar com o
inaceitável recrudescimento da matança de mulheres no país. Daí a
importância deste trabalho, pois os autores, ao abordarem as questões
anteriormente mencionadas – além de inúmeras outras –, pretendem que a
aplicação da legislação induza a uma verdadeira mudança dos costumes,
principalmente ao repudiar a impunidade e fomentar a prevenção geral.
Esta obra é categórica sobre a importância da adoção de medidas de
proteção específica para as mulheres. Os leitores ficarão sensibilizados para a
premente necessidade de que essas providências sejam plenamente efetivadas
em nome da busca de um Brasil que finalmente saia da era do feminicídio.
Boa leitura.

Junho, 2019.

Laurita Hilário Vaz


Ministra do STJ
Apresentação A violência é uma ação
que envolve o uso da força, real ou
simbólica, com a finalidade de
submeter o corpo e a mente da vítima
à vontade e liberdade de outrem.
Contra as mulheres, esse fenômeno é
persistente, multiforme, de várias
tipologias e diversas naturezas, o qual
incide de forma isolada ou
sobreposta, dentre as quais as mais
conhecidas são as violências física,
sexual, psicológica, moral e
patrimonial.

A violência doméstica contra a mulher é um fenômeno que tem sua


origem na cultura patriarcal, machista e sexista que produz,
reproduz, alimenta e legitima a assimetria de gênero e as relações
desiguais de poder entre homens e mulheres.1

Dos cinco fatores que fundamentaram a ratio legis para criação pelo
legislador do feminicídio, dois se tornaram os principais motivadores para
que os autores escrevessem o primeiro livro do Brasil com o tema exclusivo,
qual seja: feminicídio.
a) Os dois fatores são: Combater a impunidade: enseja os autores que
feminicidas não sejam beneficiados por interpretações jurídicas anacrônicas e
moralmente inaceitáveis, como o de terem cometido “crime passional” ou
apenas sob o domínio de violenta emoção.
b) Prevenção geral positiva: o feminicídio é a instância última de
controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se
expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um
objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como
subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da
violência sexual associada ao assassinato; como destruição da
identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo;
como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou
a tratamento cruel ou degradante.2

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes


de mulheres alcança o patamar de 4,8 para cada 100 mil mulheres,
considerando que o Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e
2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher, e que as
mulheres negras são ainda mais violentadas, que apenas entre 2003 e 2013,
houve aumento de 54% no registro de mortes, passando de 1.864 para 2.875
nesse período. Que muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou
parceiros/ex-parceiros (33,2%) que matam as mulheres. Segundo o Atlas da
Violência de 2018, em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no país, o
que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras. Em
dez anos, observa-se um aumento de 6,4%. Já no que se refere a raça/cor,
ainda em 2016, a taxa de homicídio de mulheres negras (5,3) é maior que
entre as não negras (3,1), resultando numa diferença de 71%. Em relação aos
dez anos da série, a taxa de homicídios para cada 100 mil mulheres negras
aumentou 15,4%, enquanto que entre as não negras houve uma queda 8%.3
Os dados supramencionados revelam, a toda evidência, que os altos
índices de feminicídios cometidos no Brasil, devem ser interpretados como
questão de segurança e saúde pública, merecendo uma atenção especial do
Estado, em razão da gravidade e da alta incidência da violência sofrida pelas
mulheres.
Neste sentido, o livro enfrenta as principais controvérsias constantes na
persecução penal extrajudicial, procedimento, julgamento das mortes
violentas de mulheres em razão do gênero e, também tem o escopo de enviar
uma mensagem à sociedade de que o direito à vida é universal e o hediondo
crime de feminicídio revela uma desigualdade estrutural nas relações sociais
e de poder entre homens e mulheres, portanto, é necessário um estudo
aprofundado sobre os aspectos e consequências jurídicas resultantes do crime
misógino, fomentando interpretações que repudiam a impunidade.

Francisco Dirceu Barros e Renee do Ó Souza

1 Fonte de pesquisa: O Protocolo de Feminicídio Pernambuco: Diretrizes Estaduais


para Prevenir, Investigar, Processar e Julgar as Mortes Violentas de Mulheres com
Perspectiva de Gênero, assinado pelo Ministério Público de Pernambuco.
2 Conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a
Mulher – Relatório final, 2013.
3 Fonte de pesquisa: O Protocolo de Feminicídio Pernambuco: Diretrizes Estaduais
para Prevenir, Investigar, Processar e Julgar as Mortes Violentas de Mulheres com
Perspectiva de Gênero, assinado pelo Ministério Público de Pernambuco.
Sumário

CAPÍTULO 1
Qualificadora ou crime?
1 Introdução
1.1 O feminicídio em uma estatística alarmante
1.2 Terminologias
1.3 Conceito de feminicídio:
1.4 Razões de gênero ou por razões da condição de sexo feminino

CAPÍTULO 2
Espécies de feminicídio
1 As espécies de feminicídio

CAPÍTULO 3
Hediondez feminicista
1 Hediondez da qualificadora feminicista
1.1 Consequências da hediondez feminicista

CAPÍTULO 4
O princípio da igualdade no contexto do feminicídio
1 A qualificadora feminicista e a violação do princípio da igualdade

CAPÍTULO 5
Feminicídio e competência
1 Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
2 Competência para julgar o homicídio no contexto do feminicídio
CAPÍTULO 6
A Natureza da qualificadora de Feminicídio
1 Feminicídio: qualificadora subjetiva versus objetiva
2 Feminicídio versus crime passional – a questão do privilégio

CAPÍTULO 7
Feminicídio e neocolpovulvoplastia
1 Feminicídio e neocolpovulvoplastia: As implicações legais do conceito de
mulher para os fins penais
2 A neocolpovulvoplastia e o feminicídio
3 O conceito jurídico de mulher para caracterização do feminicídio
4 As soluções do critério biológico

CAPÍTULO 8
Feminicídio e outras implicações legais
1 A majorante do feminicídio
2 A majorante do feminicídio e o princípio non bis in idem
3 Vigência e a irretroatividade da qualificadora e da majorante do
feminicídio
4 O crime de aborto versus a majorante do feminicídio cometido durante a
gestação
5 A mutatio libeli e a qualificadora do feminicídio
6 O quesito da qualificadora do feminicídio
7 Feminicídio praticado por mulher
8 Feminicídio e o descumprimento das medidas protetivas previstas na Lei
Maria da Penha

CAPÍTULO 9
Da persecução do feminicídio

CAPÍTULO 10
A comunicação das circunstâncias no contexto do feminicídio

CAPÍTULO 11
Protocolo de feminicídio
Noções gerais
As medidas que serão adotadas pelo Ministério Público de Pernambuco

REFERÊNCIAS

ÍNDICE ALFABÉTICO REMISSIVO


CAPÍTULO 01
Qualificadora ou crime?

1 Introdução
A história da tutela penal da mulher é indissociável da própria evolução
histórico-cultural do seu papel social, o que explica o contexto em que leis de
enfrentamento à violência contra a mulher, como a Lei nº 13.104/2015, foram
editadas, fruto da conscientização do valor da mulher enquanto pessoa
humana, direito a uma vida livre de violência (doméstica, familiar e sexual) e
justificada na proteção mais eficiente por parte do legislador penal.
Realizando oportuno resgate histórico, Rogério Greco1 demonstra a
sequência de fatos que conduziram o legislador à inclusão da novel
qualificadora do feminicídio, senão observe-se: “Sob a ótica de uma
necessária e diferenciada proteção à mulher, o Brasil editou o Decreto nº
1.973, em 1º de agosto de 1996, promulgando a Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, concluída em
Belém do Pará (conhecida como Convenção de Belém), em 9 de junho de
1994. Seguindo as determinações contidas na aludida Convenção, em 7 de
agosto de 2006 foi publicada a Lei nº 11.340, criando mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º
do art. 226 da Constituição Federal, que ficou popularmente conhecida
como ‘Lei Maria da Penha’ que, além de dispor sobre a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, estabeleceu
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
doméstica e familiar, nos termos dispostos no art. 1º da mencionada lei. Em
9 de março de 2015, indo mais além, fruto do Projeto de Lei do Senado nº
8.305/2014, foi publicada a Lei nº 13.104, que criou, como modalidade de
homicídio qualificado, o chamado feminicídio, que ocorre quando uma
mulher vem a ser vítima de homicídio simplesmente por razões de sua
condição de sexo feminino.”
Segundo Amom Albernaz Pires: “O feminicídio constitui modalidade de
violência de gênero ou, conforme preceitua o art. 5º, caput, da Lei Maria da
Penha e o art. 1º da Convenção de Belém do Pará, violência “baseada no
gênero”. Nessa perspectiva, vale destacar as seguintes definições contidas
no art. 3º, alíneas c e d, da Convenção do Conselho da Europa para a
Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência
Doméstica – Convenção de Istambul, in verbis:
c) “Gênero” refere-se aos papéis, aos comportamentos, às atividades e
aos atributos socialmente construídos que uma determinada
d) sociedade considera serem adequados para mulheres e homens;
“Violência de gênero exercida contra as mulheres” abrange toda a
violência dirigida contra a mulher por ser mulher ou que afeta
desproporcionalmente as mulheres2”.

Pois bem, nessa esteira da história, adveio a Lei nº 13.104/2015 que


alterou o Código Penal3 com escopo de criar uma qualificadora ao crime de
homicídio: o Feminicídio, cuja justificação dada pela Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito centrou-se em cinco razões principais: A importância de
tipificar o feminicídio é [1] reconhecer, na forma da lei, que mulheres estão
sendo mortas pela razão de serem mulheres, [2] expondo a fratura da
desigualdade de gênero que persiste em nossa sociedade, e é social, por [3]
combater a impunidade, evitando que feminicidas sejam beneficiados por
interpretações jurídicas anacrônicas e moralmente inaceitáveis, como o de
terem cometido “crime passional”. [4] Envia, outrossim, mensagem positiva
à sociedade de que o direito à vida é universal e de que não haverá
impunidade. [5] Protege, ainda, a dignidade da vítima, ao obstar de antemão
as estratégias de se desqualificarem, midiaticamente, a condição de mulheres
brutalmente assassinadas, atribuindo a elas a responsabilidade pelo crime de
que foram vítimas4. Observe-se que essas pretensões se encontram, de algum
modo, imbricadas na norma penal ora editada de modo a servir-lhe como
diretriz normativa, útil para a interpretação da norma, como será mais a frente
demonstrado.
Como se trata de qualificadora, tecnicamente é um erro grosseiro repetir a
linguagem coloquial de “que foi criado um crime de feminicídio”. Em
realidade, o crime continua sendo de homicídio, sendo que o feminicídio é
uma qualificadora do crime de homicídio.
1.1 O feminicídio em uma estatística alarmante

A ONU Mulheres estima que, entre 2004 e 2009, 66 mil mulheres tenham
sido assassinadas por ano simplesmente pelo fato de serem mulheres. No
Brasil, entre 2000 e 2010, 43,7 mil foram assassinadas, das quais cerca de
41% foram mortas em suas próprias casas, muitas pelos companheiros ou ex-
companheiros, com quem mantinham ou haviam mantido relações íntimas de
afeto e confiança. Entre 1980 e 2010, o índice de assassinatos de mulheres
dobrou no País, passando de 2,3 assassinatos por 100 mil mulheres para 4,6
assassinatos por 100 mil mulheres5. Esse número coloca o Brasil na sétima
colocação mundial em assassinatos de mulheres, figurando, assim, entre os
países mais violentos do mundo nesse aspecto.6
Os números alarmantes de violência contra a mulher indicam que o
feminicídio decorre de construções socioculturais plasmadas em um
inconsciente coletivo, que espelham relações desiguais e assimétricas de
valor e poder atribuídas às pessoas segundo o sexo. Essa desigualdade,
tratada no capítulo 04 desta obra, é o discrímen justificador da resposta penal
recrudescida na lei vigente. Mas as elevadas estatísticas de assassinatos de
mulheres indicam mais. O engajamento social na proteção das mulheres deve
ser tomado como verdadeira obrigação de qualquer pessoa, até o ponto de
todos compreenderem que, na eloquente frase de Cesar Danilo Ribeiro de
Novais, em uma mulher a única coisa que pode bater é o coração7.

1.2 Terminologias
a) Não se deve confundir as terminologias. Vejamos: femicídio: morte de
b)uma mulher8; feminicídio: morte de uma mulher por razões de gênero ou
pelo menosprezo ou discriminação à condição de mulher, que é qualificadora
c)do homicídio9; uxoricídio: assassinato no qual o marido mata a própria
d)e)esposa; parricídio: assassinato pelo filho do próprio pai; matricídio:
f)g)matar a própria mãe; fratricídio: matar o próprio irmão; ambicídio:
quando as mortes decorrem de um pacto.

1.3 Conceito de feminicídio:


O feminicídio pode ser definido como uma qualificadora do crime de
homicídio motivada pelo ódio contra as mulheres ou crença na inferioridade
da mulher, caracterizado por circunstâncias específicas nas quais o
pertencimento da mulher ao sexo feminino é central na prática do delito.
Entre essas circunstâncias estão incluídos: os assassinatos em contexto de
violência doméstica/familiar e o menosprezo ou discriminação à condição de
mulher. Os crimes que caracterizam a qualificadora do feminicídio reportam,
no campo simbólico, à destruição da identidade da vítima e de sua condição
de mulher. Como anota o mapa da violência contra a mulher, este conceito
traz luz a um cenário preocupante: o do feminicídio cometido por parceiro
íntimo, em contexto de violência doméstica e familiar, além de se caracterizar
como crime de gênero ao carregar traços como ódio, que leva a destruição da
vítima, e pode ser combinado com as práticas da violência sexual, tortura
e/ou mutilação da vítima antes ou depois do assassinato10.
Também conhecido como “crime fétido”, vem a ser uma expressão que
vai além da compreensão daquilo designado por misoginia,11 originando um
ambiente de pavor na mulher, gerando o acossamento e sua morte.
Compreendem as agressões físicas e da psique, tais como o espancamento,
suplício, estupro, escravidão, perseguição sexual, mutilação genital,
intervenções ginecológicas imotivadas, impedimento do aborto e da
contracepção, esterilização forçada, e outros atos dolosos que geram morte da
mulher.

1.4 Razões de gênero ou por razões da condição de sexo


feminino
Segundo o texto legal, para ser configurada a qualificadora do feminicídio
deve restar comprovado que o crime foi cometido contra a mulher, “por
razões da condição de sexo feminino”. A expressão foi fruto de uma emenda
substitutiva apesentada na Câmara dos Deputados e que alterou a expressão
“por razões de gênero” que constava no projeto de lei original. A substituição
tem pouca relevância exegética visto que a expressão “por razões da condição
de sexo feminino” vincula-se, igualmente, a razões de gênero12. Ademais,
dada a sistematicidade conferida pela própria Lei nº 13.104/2015, deve-se
compreender “por razões da condição de sexo feminino”, objetivamente, o
crime que envolve: a) violência doméstica e familiar; b) menosprezo ou
discriminação à condição de mulher (§ 2º-A do art. 121 do CP, com a redação
dada pela Lei nº 13.104/2015).
A norma explicativa do § 2º-A do art. 121 do CP deve ser bem
compreendida a fim de assegurar uma aplicação sistêmica ao regime
protetivo em oposição à violência doméstica contra a mulher. Esclarece Luiz
Flávio Gomes e Alice Bianchini que o legislador não criou uma qualificadora
para a morte de mulheres, caso em que bastaria ter dito: “Se o crime é
cometido contra a mulher”, sem utilizar a expressão “por razões da condição
de sexo feminino”. Por isso, ensinam, a qualificadora não se refere a uma
questão de sexo (categoria que pertence à biologia), mas a uma questão de
gênero (atinente à sociologia, padrões sociais do papel que cada sexo
desempenha)13.
Essa leitura se assenta na correta diretriz normativa conferida pela norma
penal inserta na qualificadora do feminicídio, modelada a partir de uma
leitura funcionalista do Direito Penal. A perspectiva do Direito Penal voltado
às consequências está, no caso do feminicídio, de certo modo, contida na
justificação dada pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito por ocasião
de edição da Lei nº 13.104/2015, que centrou-se em cinco razões principais:
[1] reconhecer, na forma da lei, que mulheres estão sendo mortas pela razão
de serem mulheres, [2] expondo a fratura da desigualdade de gênero que
persiste em nossa sociedade, e é social, por [3] combater a impunidade,
evitando que feminicidas sejam beneficiados por interpretações jurídicas
anacrônicas e moralmente inaceitáveis, como o de terem cometido “crime
passional”. [4] Envia, outrossim, mensagem positiva à sociedade de que o
direito à vida é universal e de que não haverá impunidade. [5] Protege, ainda,
a dignidade da vítima, ao obstar de antemão as estratégias de se
desqualificarem, midiaticamente, a condição de mulheres brutalmente
assassinadas, atribuindo a elas a responsabilidade pelo crime de que foram
vítimas. Essas finalidades matriciais devem servir ao intérprete como
diretrizes normativas a serem empregadas na sua aplicação dogmática; é a
partir dessa modelagem que se deve analisar as hipóteses de razões de gênero
previstas no § 2º-A.
Como previsto no inciso deste dispositivo, deve-se entender que há razões
de condição de sexo feminino quando o homicídio for cometido em meio a
violência doméstica e familiar. Aqui, a norma explicativa utiliza-se da técnica
de reenvio na medida em que é complementada por outra norma integrativa,
no caso, as disposições contidas na Lei nº 11.340/2006, mais precisamente os
art. 5º14 e 7º15, nos quais estão definidas a violência doméstica e familiar
contra a mulher. Mas neste ponto, em efeito simbiótico e recíproco, a Lei nº
13.104/2015 também serve de complemento à Lei Maria da Penha visto
proclamar que o feminicídio é uma espécie de violência doméstica e familiar.
O traço característico desta hipótese de feminicídio é a unidade doméstica,
familiar ou qualquer outra relação íntima de afeto mantida entre o assassino e
a vítima.
A segunda hipótese caracterizadora das razões de condição de sexo
feminino é aquela em que o crime envolve menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.
Visa captar um ponto cego existente na hipótese anterior porque
contempla outra categoria jurídica aplicável a feminicídios, referente a mortes
ocorridas em relações não íntimas. Aqui, a norma considera haver condição
de sexo feminino, apta a caracterização do feminicídio, a morte em razão da
intolerância misógina, decorrente da mera condição de a vítima ser mulher.
Neste inciso, a lei busca atingir outras condutas assassinas discriminatórias,
tomadas em razão da qualidade feminina da vítima. A locução discriminação,
além do sentido cotidiano, é complementada pela Convenção sobre a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW,
1979), ratificada em 1984, que define discriminação contra a mulher: “toda
distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou
resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela
mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos
campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro
campo”. (Art. 1º)16
Como proposto por Segato, a compreensão dos atos de violência contra a
mulher deve ir além das motivações individuais. Por isso propõe: “[…] los
feminicidios son mensajes emanados de un sujeto que sólo puede ser
identificado, localizado, perfilado, mediante una “escucha” rigurosa de
estos crímenes como actos comunicativos”. É preciso desvendar as
estruturas subjacentes à linguagem do feminicídio para se compreender a
mensagem do autor do crime. A autora adverte que: “[…] ‘Masculinidad’
representa aquí una identidad dependiente de un estatus que engloba,
sintetiza y confunde poder sexual, poder social y poder de muerte.”17.
Na análise conjunta dos incisos do art. 121, § 2º-A, do CP, verifica-se o
claro propósito do legislador em tutelar a fragilidade social do sexo feminino,
punindo os atos cometidos tanto dentro como fora de uma relação doméstica
ou familiar. A distinção entre as duas modalidades insculpidas é que, nessa
segunda proposição, o feminicídio não é perpetrado no âmbito doméstico e
familiar, mas, sim, fora dele, em um contexto em que as partes não têm uma
relação tão próxima.
A ampliação dos atos caracterizadores de feminicídio por meio do inciso
II do § 2º-A do art. 121 para além da violência praticada no contexto
doméstico, familiar e de relação íntima de afeto, encontra razão de ser nas
diretrizes normativas contidas nos propósitos centrais da Lei nº 13.104/2015,
da qual discorremos pouco atrás. A abrangência circunstancial típica atende
essa matriz protetiva, bem captada por Wânia Pasinato: “Não se pode ignorar
que a maior parte dos homicídios de mulheres ocorre em ataques no espaço
doméstico, cometidos por seus parceiros íntimos ou conhecidos, mas é
preciso explorar as mortes em outros contextos ainda menos investigados
pelas pesquisas no Brasil, abordando essa que parece ser uma crescente
participação das mulheres na criminalidade urbana. Já dispomos de
algumas pistas sobre sua participação. (…) já se sabe que as mulheres estão
mais expostas como vítimas indiretas da criminalidade urbana. Biancarelli
(2006), ao relatar os homicídios de mulheres em Pernambuco, mostrou que
há uma parcela de vítimas formada por mães, irmãs, filhas, companheiras,
namoradas que foram assassinadas em ações que visavam atingir os homens
de suas famílias, estes sim muitas vezes envolvidos diretamente com a
criminalidade18”.
De um modo geral, como nos alerta Ana Laura Camargo de Castro, a
discriminação, por ser fundamentalmente injusta, é considerada ofensa à
dignidade humana e, portanto, contrária aos princípios da Carta das Nações
Unidas e à Declaração Universal dos Direitos Humanos19.
Observe-se que, para o reconhecimento da qualificadora do feminicídio,
as circunstâncias elencadas neste § 2º-A não devem ser consideradas
cumulativas. Conforme bem pontuou César Dario Mariano da Silva, essa
interpretação tornaria letra morta o inciso I da norma, pois, para tanto,
bastaria a descrição prevista no inciso VI do § 2º - “por razões da condição
do sexo feminino”, que é justamente o menosprezo ou discriminação à
mulher em razão de seu gênero20.
Anote-se que dada a intangibilidade dessas circunstâncias, a qualificadora
do feminicídio não poderá ser demonstrada por um “laudo pericial” ou exame
cadavérico, até porque nem sempre um assassinato contra uma mulher será
considerado “feminicídio”. A análise desses dados deve ser feita por meio
das informações objetivas e substratos fáticos extraídos da própria conduta do
acusado e de todo o episódio criminoso, o que demandará a análise anterior,
concomitante e posterior de eventos que o circundam.
Importante, neste momento, enfatizar que há uma diferença entre
femicídio e feminicídio. Acerca do tema, Cleber Masson21 esclarece que:
“Nesse ponto, é importante destacar que feminicídio e femicídio não se
confundem. Ambos caracterizam homicídio, mas, enquanto aquele se baseia
em razões de condição de sexo feminino, este consiste em qualquer
homicídio contra a mulher. Exemplificando, se uma mulher matar outra
mulher no contexto de uma briga de trânsito, estará configurado o femicídio,
mas não o feminicídio”.
CAPÍTULO 2
Espécies de feminicídio

1 As espécies de feminicídio
Identificamos as seguintes espécies de feminicídio: a) Feminicídio
“intralar”; Ocorre quando as circunstâncias fáticas indicam que um homem
assassinou uma mulher em contexto de violência doméstica e familiar.
Cleber Masson22 defende que nem todo homicídio praticado contra a
mulher no contexto de violência doméstica ou familiar configurará a
qualificadora em questão. Segundo ele: “O inciso I do § 2º-A deve ser
interpretado em sintonia com o inciso VI do § 2º, ambos do art. 121
do Código Penal. Em outras palavras, o feminicídio reclama que a
motivação do homicídio tenha sido as “razões da condição do sexo
feminino”, e daí resulte a violência doméstica ou familiar”.

b) Feminicídio homoafetivo
Ocorre quando uma mulher mata a outra no contexto de violência
doméstica e familiar.

c) Feminicídio simbólico heterogêneo


Ocorre quando um homem assassina uma mulher motivado pelo
menosprezo ou discriminação à condição de mulher, reportando-se, no campo
simbólico, a destruição da identidade da vítima e de sua condição de
pertencer ao sexo feminino.
O STJ admitiu a aplicação da Lei Maria da Penha (11.340/06) numa
agressão contra mulher praticada por outra mulher (relação entre mãe e filha).
Isso porque, de acordo com o art. 5º da Lei nº 11.340/2006, configura
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial em qualquer relação íntima de afeto,
na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação. Da análise do dispositivo citado, infere-se
que o objeto de tutela da Lei é a mulher em situação de vulnerabilidade não
só em relação ao cônjuge ou companheiro, mas também qualquer outro
familiar ou pessoa que conviva com a vítima, independentemente do gênero
do agressor. Nessa mesma linha, entende a jurisprudência do STJ que o
sujeito ativo do crime pode ser tanto o homem como a mulher, desde que
esteja presente o estado de vulnerabilidade caracterizado por uma relação de
poder e submissão. (HC 277.561-AL, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma,
julgado em 6/11/2014; HC 310.154-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª
Turma, julgado em 28/04/2015).
Nesse mesmo sentido entende Rogério Greco23. Segundo o renomado
autor, “Merece ser frisado, por oportuno, que o feminicídio, em sendo
uma das modalidades de homicídio qualificado, pode ser praticado
por qualquer pessoa, seja ela do sexo masculino ou mesmo do sexo
feminino. Assim, não existe óbice à aplicação da qualificadora se,
numa relação homoafetiva feminina, uma das parceiras, vivendo em
um contexto de unidade doméstica, vier a causar a morte da sua
companheira”.

d) Feminicídio simbólico homogêneo:


Ocorre quando uma mulher assassina outra mulher motivada pelo
menosprezo ou discriminação da condição feminina.
Considerando que o homicídio pode ser cometido nas 4 (quatro) hipóteses
supracitadas, ainda poderemos ter: e) Feminicídio aberrante por aberratio
ictus
O feminicídio aberrante por aberratio ictus ocorre quando, por acidente
ou erro no uso dos meios de execução, o homem ou a mulher, ao invés de
atingir a mulher que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, respondendo,
portanto, como se tivesse praticado o crime contra aquela.
No caso de feminicídio aberrante por aberratio ictus, não são
consideradas as qualidades da vítima, mas da mulher que o agente pretendia
atingir.
O feminicídio aberrante por aberratio ictus divide-se em com resultado
único e com resultado duplo: A) Feminicídio aberrante por aberratio ictus
com resultado único.

CASOS EXEMPLIFICADOS:
1- “Tício” atira em “Tícia” e acerta “Petrus”, que morre em
consequência do tiro. Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por homicídio doloso qualificado e
também majorado pelo feminicídio (como se o agente tivesse matado a
vítima virtual).

2- “Tício”, com animus necandi, atira em “Tícia” e acerta “Petrus”,


que sofre lesões corporais em consequência do tiro. Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por tentativa de homicídio doloso
qualificado e também majorado pelo feminicídio (como se a vítima virtual
tivesse sofrido a lesão).

B) Feminicídio aberrante por aberratio ictus com


duplicidade de resultado.

CASOS EXEMPLIFICADOS:

1-Imagine-se que “Tício” deseja matar “Tícia”, que está perto de


“Petrus”. “Tício” atira e mata os dois. Qual a solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por um crime de homicídio doloso
consumado qualificado e majorado pelo feminicídio, aumentada a pena de
um sexto (1/6) até metade, em face do concurso formal (art. 73, 2ª parte, do
Código Penal).

2- “Tício”, com animus necandi, atira em “Tícia” e lesiona


gravemente “Tícia” e “Petrus”. Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por uma tentativa de homicídio
(doloso) qualificado e majorado pelo feminicídio, com o acréscimo na pena
de um sexto (1/6) até metade (art. 73, 2ª parte).

3- “Tício”, com animus necandi, atira, mata “Tícia” e lesiona


“Petrus”. Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por um crime de homicídio doloso
consumado qualificado e majorado pelo feminicídio, com pena acrescida de
um sexto (1/6) até metade, diante do concurso formal (art. 73, 2ª parte).

4- “Tício”, com animus necandi, atira em “Tícia”. Fere “Tícia” e


mata “Petrus”. Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por um crime de homicídio doloso
consumado qualificado e majorado pelo feminicídio, com o acréscimo na
pena de um sexto (1/6) até metade (art. 73, 2ª parte), pois não são
consideradas as qualidades da vítima, mas, sim, de “Tícia”, mulher que o
agente pretendia atingir.

f) Feminicídio aberrante por aberratio criminis


Haverá feminicídio aberrante por aberratio criminis quando, fora dos
casos de aberratio ictus, o agente, por acidente ou erro na execução do crime,
executa o ato, mas sobrevém resultado diverso do pretendido.
No feminicídio aberrante por aberratio criminis o agente responde por
culpa, se o fato é previsto como crime culposo, mas se ocorre também o
resultado pretendido, aplica-se a regra do concurso formal (Art. 70 do Código
Penal).

CASOS FORENSES PRÁTICOS:


1. “Tício”, com animus necandi, atira em “Tícia” e acerta apenas o
carro de “Petrus”, que estava estacionado no local. Solução?
Solução jurídica: “Tício” não responde por crime de dano culposo, posto
que o Código não prevê a modalidade culposa. (Lembra-se do princípio da
excepcionalidade do crime culposo?) “Tício” responde por tentativa branca
de homicídio qualificado, majorada pelo feminicídio.

2. “Tício” atira em “Tícia”, acerta “Tícia” e o carro de “Petrus”, que


estava estacionado no local. “Tícia” morre em decorrência dos tiros.
Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde só por homicídio consumado
qualificado e também majorado pelo feminicídio, porque não existe crime de
dano culposo no Código Penal.

3. “Tício” atira no carro de “Petrus”, acertando o automóvel e


“Tícia”, que ia passando no local. Solução?
Solução jurídica: “Tício” responde por dois (2) crimes: dano (art. 163) e
homicídio culposo ou lesão corporal culposa em concurso formal (concurso
entre crime doloso e culposo). Aplica-se a pena do crime mais grave com o
acréscimo de um sexto (1/6) até metade. Não é possível a aplicação da
qualificadora e da majorante do feminicídio, posto que a mesma somente é
aplicável aos crimes dolosos.

4. “Tício” desejava quebrar a vitrina de “Mévio”. “Tícia” estava ao


lado da vitrina e “Tício”, que há tempos queria matar “Tícia”, atirou
várias vezes e, além de quebrar a vitrina, feriu e matou “Tícia”. Aponte
a solução jurídica.
Solução jurídica: “Tício” responde por crime de dano em concurso
formal com o homicídio consumado qualificado e majorado pelo feminicídio.
Houve desígnios autônomos, ou seja, “Tício” queria, além do dano, também
atingir “Tícia”. Desta forma, as penas serão aplicadas cumulativamente.

g) Feminicídio aberrante por error in persona


Haverá feminicídio aberrante por error in persona quando o autor deseja
matar uma mulher no contexto de violência doméstica e familiar, ou mesmo
motivado pelo menosprezo ou discriminação, erra a identidade, assassinando
outra mulher.
O § 3º do artigo 20 do Código Penal diz que o erro quanto à pessoa contra
a qual o crime é praticado não a isenta de pena.
Todavia, não se incluem na hipótese as condições ou qualidades da
vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
(Veja art. 20, § 3º, segunda parte.) Assim, o autor responderá por homicídio
qualificado e majorado pelo feminicídio.

h) Feminicídio aberrante por aberratio causae


O feminicídio aberrante por aberratio causae vem a ser o erro sobre nexo
causal. É a hipótese do chamado dolo geral. Ocorre quando o agente,
imaginando já ter matado a mulher no contexto de violência doméstica e
familiar, ou motivado pelo menosprezo ou discriminação, pratica nova
conduta, que vem a ser causa efetiva da consumação.

CASO FORENSE PRÁTICO:


“Tício”, supondo já ter matado “Tícia”, escava um buraco no quintal de
sua casa e a enterra, vindo esta a falecer apenas nesse espaço de tempo, em
razão de asfixia.
Na hipótese, o agente responde por homicídio qualificado e majorado
pelo feminicídio consumado (dolo geral) e não por tentativa de homicídio
doloso em concurso com homicídio culposo.
CAPÍTULO 3
Hediondez feminicista

1 Hediondez da qualificadora feminicista


A Lei nº 13.104/2015 determinou a alteração na lei nº 8.072, que passou a
vigorar com a seguinte redação: “Art. 1º. I – homicídio (art. 121), quando
praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º. I, II, III, IV, V e
1.1VI)”; Consequências da hediondez feminicista
A lei dos crimes hediondos, incrementando estruturalmente as funções
das penas criminais, insere determinados delitos em um regime jurídico mais
gravoso em que favores penais restam a eles inacessíveis ou condicionados a
circunstâncias mais severas. O feminicídio integra este rol de infrações penais
a)b)de modo que é insuscetível de: Anistia, graça e indulto; Fiança.

Além disso, a pena somente será progredida de regime, após o


cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de
3/5 (três quintos), se reincidente (STJ. 5ª Turma. HC 311.656-RJ, Rel. Min.
Felix Fischer, julgado em 25/8/2015 (Info 568)).
Nos termos do art. 83, V, do CP, o condenado por crime hediondo que
não for reincidente específico poderá obter livramento condicional após
cumprir 2/3 da pena.
Para progressão de regime, embora não obrigatório, pode haver a
realização do exame criminológico, devendo ser, em qualquer caso,
devidamente fundamentado. (Súmula Vinculante 26).
Por fim, a prisão temporária em casos de feminicídio poderá ter prazo de
30 dias, prorrogável por igual período em casos de extrema e comprovada
necessidade.
Relembre-se que essa mudança legislativa (que entrou em vigor no dia
10/3/15) só vale para crimes cometidos a partir dessa data. Essa lei, por ser
mais gravosa, não retroage.
CAPÍTULO 4
O princípio da igualdade no contexto do feminicídio

1 A qualificadora feminicista e a violação do princípio


da igualdade
Pode-se imaginar que o assassinato da esposa envolvendo violência
doméstica e familiar, por tratar-se de feminicídio e ser apenado mais
gravemente, viola o princípio da igualdade visto que a morte do esposo não
tem o mesmo tratamento legal. Trata-se de suposição equivocada, pois a
qualificadora do feminicídio se assenta em pressupostos e determinações
convencionais e da Convenção dos Direitos Humanos que reconhece a
situação de hipossuficiência ou hipoproteção da mulher, o que justifica o
tratamento penal mais gravoso. O emprego do direito penal aqui é feito com
ordinário objetivo de tutelar direito fundamental da plenitude da tutela da
vida24, mas seu recrudescimento se assenta no contexto brasileiro de
naturalização das mortes de mulheres em contextos social e histórico
discriminatório. O endurecimento da resposta penal atende a prevenção geral
positiva, porque tenta incutir um rechaço social à violência de gênero, além
de cumprir com a prevenção geral negativa, notadamente quanto ao efeito
simbólico.
O tema tratamento penal e processual penal desigual entre homens e
mulheres foi debatido na ação declaratória de constitucionalidade (ADC 19),
e na ação de inconstitucionalidade (Adin 4424). Nas duas ações, o STF
considerou constitucionais todos os dispositivos da Lei nº 11.340/2006, que
estabelecem um tratamento jurídico diferenciado necessário para a proteção
da mulher. “Tampouco se pode afirmar ser um tratamento paternalista, que
trata a mulher como sexo frágil. Trata-se de qualificar, com um nomen juris,
uma motivação baseada na violência de gênero, em duas circunstâncias
específicas e não a toda e qualquer morte de mulher. Nesse sentido, a
qualificadora tem por objetivo revelar que em determinadas situações, a
motivação do crime se dá em razão de gênero, isto é, há condições sociais de
desigualdade de gênero que envolvem o comportamento feminicida. Desvelar
essas condições é levantar o véu de uma realidade não nominada pelas
atuais circunstâncias qualificadoras do tipo penal homicídio, supostamente
neutras de gênero – isto é, os comportamentos cujo animus expressam a
forma mais extrema da violência baseada no gênero25”.

Posição do STF: Nos votos, houve destaque para a posição da Ministra


Cármen Lúcia Antunes Rocha: “O princípio jurídico da igualdade refaz-se na
sociedade e rebaliza conceitos, reelabora-se ativamente, para igualar iguais
desigualados por ato ou com a permissão da lei. O que se pretende, então, é
que a ‘igualdade perante a lei’ signifique ‘igualdade por meio da lei’, vale
dizer, que seja a lei o instrumento criador das igualdades possíveis e
necessárias ao florescimento das relações justas e equilibradas entre as
pessoas. (…) O que se pretende, pois, é que a lei desiguale iguais, assim tidos
sob um enfoque que, todavia, traz consequências desigualadoras mais fundas
e perversas. Enquanto antes buscava-se que a lei não criasse ou permitisse
desigualdades, agora pretende-se que a lei cumpra a função de promover
igualações onde seja possível e com os instrumentos de que ela disponha,
inclusive desigualando em alguns aspectos para que o resultado seja o
equilíbrio justo e a igualdade material e não meramente formal. (…)”. “Ao
comportamento negativo do Estado, passa-se, então, a reivindicar um
comportamento positivo. O Estado não pode criar legalidades
discriminatórias e desigualadoras, nem pode deixar de criar situações de
igualação para depurar as desigualdades que se estabeleceram na realidade
social em detrimento das condições iguais de dignidade humana que
impeçam o exercício livre e igual das oportunidades, as quais, se não
existirem legalmente, deverão ser criadas pelo Direito. Somente então se terá
a efetividade do princípio jurídico da igualdade materialmente assegurado.”
26

Supor que o princípio da igualdade é estático é ignorar os avanços


jurídicos do estado social moderno, que há muito deixou para trás a mera
proibição da desigualação jurídica e passou a ser promotor da igualação
jurídica, verdadeiro dever político. A ação afirmativa funda-se nessa
perspectiva de igualdade e devido a imediata prestação em prol de um grupo
determinado de pessoas é, aparentemente, injusta e objetada por outros
segmentos. Nesta perspectiva que a Lei Maria da Penha e a Lei do
feminicídio devem ser compreendidas visto que buscam reduzir as diferenças
de gênero entre homem e mulher de modo a promover a isonomia de todos. A
angustiante e injusta situação de inferioridade social da mulher perante o
homem desemboca, dentre outros problemas, a violência de gênero, o que
justifica o discrímen e dá suportes fático e jurídico para o tratamento desigual
promovido pela norma.
Anote-se que a atual Constituição Federal concede tratamento mais
favorável para as mulheres justamente por causa da submissão social a que
ela se encontra, como podemos verificar no tocante a licença-maternidade
(art. 7º, inciso XVIII), a proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos (art. 7º, XX e art. 372/378 da CLT), a
isenção do serviço militar obrigatório (art. 143, § 2º) e a diferença de prazo
para a obtenção da aposentadoria (art. 201, § 7º, incisos I e II).
Por isso, a Lei nº 13.104/2015 não é inconstitucional e deve ser
considerada como um importante marco para efetivação da igualdade entre
homens e mulheres. “Dado que a violência contra a mulher é questão muito
mais densa e complexa do que um tipo penal e uma cominação legal a ela
correspondente, envolvendo fatores de cunho psicossocial, histórico, e,
justamente em razão da complexidade do conflito que envolve a violência de
gênero, a resposta não pode ser a mesma que é dada para os crimes comuns.
As causas, as consequências e as oportunidades de intervenção são outras27”.
Por fim, registre-se que a adoção de uma ação afirmativa em Direito
Penal, como a promovida pela qualificação do feminicídio, é válida todas as
vezes que o bem jurídico é exposto a perigos em razão de uma desvantagem
social quando então, segundo Bernd Schünemann, fundado na moderna
expansão da teoria liberal clássica do contrato social do estado social, não
apenas um direito, mas um dever do estado proibir a exploração de tais
desvantagens sociais e criminalizá-las, na falta de outros meios eficientes28.
CAPÍTULO 5
Feminicídio e competência

1 Competência para o julgamento dos crimes dolosos


contra a vida
Segundo o art. 74, § 1º, do CPP, compete ao tribunal do júri o julgamento
dos crimes previstos nos arts. 121, § 1º, § 2º, 122, parágrafo único, 123, 124,
125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.
a)b) Os crimes dolosos contra a vida são: o homicídio; o induzimento ao
c)d)suicídio; o infanticídio; e o aborto.

Aspecto prático importante: os crimes supracitados só são da


competência do júri quando cometidos na forma dolosa.

2 Competência para julgar o homicídio no contexto do


feminicídio

Depende da organização judiciária de cada Estado, pois existem alguns


entes federativos nos quais há na lei de Organização Judiciária previsão para
julgar, em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de
violência doméstica, a Vara de Violência Doméstica.
Assim, a Vara de Violência Doméstica passa a instruir o feito até a fase
de Pronúncia e depois faz o seu encaminhamento para o Tribunal do Júri.

POSIÇÃO DO STF: Segundo o STF, a Lei de Organização Judiciária


poderá prever que a 1ª fase do procedimento do Júri seja realizada na Vara de
Violência Doméstica, em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no
contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação da competência
constitucional do Júri. Apenas o julgamento propriamente dito é que,
obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri (Conferir: STF. 2ª
Turma. HC 102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014.
Info 748).
Seja como for, mesmo fixada a competência em vara do Júri não restam
afastadas as disposições da Lei nº 11.340/2006 e, por conseguinte, são
aplicáveis todas as medidas protetivas e demais normas protetivas à mulher
em situações de violência.
CAPÍTULO 6
A Natureza da qualificadora de Feminicídio

1 Feminicídio: qualificadora subjetiva versus objetiva


As qualificadoras subjetivas são aquelas relacionadas com a motivação do
crime, e as objetivas, relacionam-se com as formas de sua execução.
Ensina Alice Bianchini que: “As qualificadoras objetivas são as que
dizem respeito ao crime, enquanto as subjetivas vinculam-se ao agente.
Enquanto as objetivas dizem com as formas de execução (meios e modos), as
subjetivas conectam-se com a motivação do crime29”.
Cezar Bitencourt apresenta a seguinte classificação das qualificadoras do
homicídio: Objetivas = Meio e forma de execução.
Subjetivas = Motivos do crime.

DISSENSO DOUTRINÁRIO

No que tange à natureza da qualificadora do feminicídio, há grande


controvérsia doutrinária.
1ª posição: entende que qualificadora do feminicídio é subjetiva, na
medida em que se enquadra na motivação do agente. Ou seja, é homicídio
cometido por estritas razões relacionadas à condição de mulher, não havendo
ligação com os meios ou modos de execução do crime.
A violência doméstica ou familiar e também o menosprezo ou
discriminação à condição de mulher não são formas de execução do crime, e
sim, a motivação delitiva; portanto, o feminicídio é uma qualificadora
subjetiva.
Assim, são qualificadoras:
a) Subjetivas (Artigo 121, § 2º, incisos I, II, V, VI e
VII, do CP:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime: VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
VII – funcional.

b) Objetivas (Artigo 121, § 2º, incisos III e IV, do


CP:
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV – à
traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; No mesmo sentido é a
posição de: Cezar Roberto Bitencourt:

“[…] o próprio móvel do crime é o menosprezo ou a discriminação à


condição de mulher, mas é, igualmente, a vulnerabilidade da mulher
tida, física e psicologicamente, como mais frágil, que encoraja a
prática da violência por homens covardes, na presumível certeza de
sua dificuldade em oferecer resistência ao agressor machista30.”

Alice Bianchini:

“A qualificadora do feminicídio é nitidamente subjetiva. Uma


hipótese: mulher usa minissaia. Por esse motivo fático o seu marido
ou namorado a mata. E mata-a por uma motivação aberrante, a de
presumir que a mulher deve se submeter ao seu gosto ou apreciação
moral, como se dela ele tivesse posse, reificando-a, anulando-lhe
opções estéticas ou morais, supondo que à mulher não é possível
contrariar as vontades do homem. Em motivações equivalentes a essa
há uma ofensa à condição de sexo feminino. O sujeito mata em razão
da condição do sexo feminino, ou do feminino exercendo, a seu gosto,
um modo de ser feminino. Em razão disso, ou seja, em decorrência
unicamente disso. Seria uma qualificadora objetiva se dissesse
respeito ao modo ou meio de execução do crime. A violência de
gênero não é uma forma de execução do crime; é, sim, sua razão,
seu motivo31”.

Rogério Sanches Cunha32: “Ressaltamos, por fim, que a qualificadora do


feminicídio é subjetiva, pressupondo motivação especial: o homicídio deve
ser cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Mesmo no caso do inciso I do § 2º-A, o fato de a conceituação ou de
violência doméstica e familiar ser um dado objetivo, extraído da lei, não
afasta a subjetividade. Isso porque o § 2º-A é apenas explicativo; a
qualificadora está verdadeiramente no inciso VI, que, ao estabelecer que o
homicídio se qualifica quando cometido por razões da condição do sexo
feminino, deixa evidente que isso ocorre pela motivação, não pelos meios de
execução”.
É também a posição de: Francisco Dirceu Barros, Márcio André Lopes
Cavalcante33, Luiz Flávio Gomes34, Damásio E. de Jesus35, Ronaldo Batista
Pinto36, Eduardo Luiz Santos Cabette, etc.

CONCLUSÕES PRÁTICAS
Sendo o feminicídio uma qualificadora subjetiva, haverá,
impreterivelmente, duas consequências:

a) As qualificadoras subjetivas (Artigo 121, § 2º, incisos I, II, V, VI e


VII) não se comunicam aos demais coautores ou partícipes no
concurso de pessoas. As qualificadoras objetivas (artigo 121, § 2º,
incisos III, IV) comunicam-se, desde que ingressem na esfera de
conhecimento dos envolvidos.
b) Não é possível a qualificadora do feminicídio ser cumulada com o
privilégio do artigo 121, § 1º, do Código Penal, ou seja, não existe
feminicídio qualificado-privilegiado, isso porque doutrina e
jurisprudência dominantes sempre admitiram, como regra, homicídio
qualificado-privilegiado, estabelecendo uma condição: a qualificadora
deve ser de natureza objetiva, pois o privilégio descrito nos núcleos
típicos do artigo 121, § 1º, são todos subjetivos, algo que repele as
qualificadoras da mesma natureza.

POSIÇÃO DO STF: “A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é


firme no sentido da possibilidade de homicídio privilegiado-qualificado,
desde que não haja incompatibilidade entre as circunstâncias do caso. Noutro
dizer, tratando-se de qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de
execução do crime), é possível o reconhecimento do privilégio (sempre de
natureza subjetiva)” (HC 97.034/MG).

POSIÇÃO DO STJ: “Admite-se a figura do homicídio privilegiado-


qualificado, sendo fundamental, no particular, a natureza das circunstâncias.
Não há incompatibilidade entre circunstâncias subjetivas e objetivas,
pelo que o motivo de relevante valor moral não constitui empeço a que incida
a qualificadora da surpresa.” (RT 680/406).

c) As qualificadoras do feminicídio (natureza subjetiva) e as


qualificadoras do motivo torpe e fútil (natureza subjetiva) não podem
ser cumuladas, constituindo-se um verdadeiro bis in idem a
possibilidade de cumulação, uma vez que o desprezível menosprezo à
condição da mulher já é um motivo abjeto, repugnante, torpe.
É também da 2ª Câmara Criminal do TJMG: A cumulação da
qualificadora referente à futilidade do motivo do crime àquela do feminicídio
configuram o vedado bis in idem, uma vez que, inobstante a existência de
respeitável entendimento em sentido diverso, ambas são qualificadoras de
natureza subjetiva, já que estão ligadas à motivação do agente para a prática
delitiva. (Recurso em Sentido Estrito nº 0028221-64.2015.8.13.0572 (1), 2ª
Câmara Criminal do TJMG, Rel. Beatriz Pinheiro Caires. j. 22.09.2016, Publ.
03.10.2016).

2ª posição: para a segunda posição, a qualificadora do feminicídio é


objetiva.
Neste sentido:
Vicente de Paula Rodrigues Maggio. Para o autor, com o advento da
Lei nº 13.104/2015, que incluiu mais uma qualificadora ao crime de
homicídio, cinco passam a ser as espécies de qualificadoras: 1) pelos motivos
(incisos I a II – paga, promessa ou outro motivo torpe, e pelo motivo fútil); 2)
meio empregado (inciso III – veneno, fogo, explosivo, asfixia, etc.); 3) modo
de execução (inciso IV – traição, emboscada, dissimulação, etc.), 4) por
conexão (inciso V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime) e, a novidade, 5) pelo sexo da vítima (inciso VI –
contra a mulher por razões da condição de sexo feminino). Para Vicente
Maggio, as qualificadoras previstas nos incisos III, IV e VI são objetivas.
Paulo Busato - Para o autor, trata-se de “dado absolutamente objetivo,
equivocadamente inserido em disposição que cuida de circunstâncias de
natureza subjetiva37. A partir dessas premissas, lança-se observação acerca
do motivo imediato, que pode qualificar o crime se aderente às hipóteses do
art. 121, § 2º, incisos I, II e V, do Código Penal, quadro que não se confunde
com a condição de fato, ou seja, com o contexto objetivo, caracterizador do
cenário legal de violência de gênero.

É a posição das 1ª, 2ª e 3ª Turmas Criminais do TJDFT. (conferir:


APR Processo: 20170410052055APR, 1ª Turma Criminal do TJDFT,
Relator(a): J.J. COSTA CARVALHO. j. 20/09/2018, DJe 04/10/2018,
RSE Processo: 20150310174699RSE, 2ª Turma Criminal do TJDFT,
Relator (a): SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS. j. 14/07/2016,
DJe 22/07/2016, RSE Processo: 20150310228479RSE, 3ª Turma
Criminal do TJDFT, Relator(a): WALDIR LEÔNCIO LOPES
JÚNIOR. j. 17/11/2016, DJe 25/11/2016).

E também o entendimento das 1ª, 2ª e 3ª Câmaras Criminais do TJMG:


As qualificadoras do feminicídio (natureza objetiva) e motivo torpe (natureza
subjetiva) são distintas e autônomas, sendo possível o seu reconhecimento
simultâneo, afastando-se, assim, o bis in idem. (Conferir: RSE nº
1.0396.18.002232-1/001, Relator(a): Des.(a) Alberto Deodato Neto, 1ª
CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 19/02/0019, publicação da súmula
em 27/02/2019), Embargos Infringentes e de Nulidade nº 1.0105.17.040812-
1/002, Relator(a): Des.(a) Matheus Chaves Jardim, 2ª CÂMARA
CRIMINAL, julgamento em 07/02/2019, publicação da súmula em
18/02/2019, Apelação Criminal nº 1.0525.15.014813-4/002, Relator(a): Des.
(a) Maria Luíza de Marilac, 3ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
11/09/2018, publicação da súmula em 21/09/2018).
Na mesma linha, vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL.
HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO. OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. ALEGADO BIS IN IDEM DO MOTIVO TORPE COM A
AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INCISO II, ALÍNEA “F”, DO CP.
NÃO OCORRÊNCIA.
1. Verifica-se que o acórdão recorrido apreciou as teses defensivas com base
nos fundamentos de fato e de Direito que entendeu relevantes e suficientes à
compreensão e solução da controvérsia, o que, na hipótese, revelou-se
suficiente ao exercício do direito de defesa, inexistindo qualquer omissão.
2. O Tribunal a quo decidiu em conformidade com o entendimento desta
Corte superior, porquanto, tratando-se o motivo torpe (vingança contra ex-
namorada) de qualificadora de natureza subjetiva, e o fato de a vítima e o
acusado terem mantido relacionamento afetivo por anos, sendo certo, que o
crime se deu com violência contra a mulher na forma da Lei nº 11.340/2006,
ser uma agravante de cunho objetivo, não se pode falar em bis in idem no
reconhecimento de ambas, de modo que não se vislumbra ilegalidade no
ponto.
3. Nessa linha, trecho da decisão monocrática proferida pelo Ministro
Felix Fischer, REsp nº 1.707.113/MG (DJ 07/12/2017), no qual destacou
que considerando as circunstâncias subjetivas e objetivas, temos a
possibilidade de coexistência entre as qualificadoras do motivo torpe e do
feminicídio. Isso porque a natureza do motivo torpe é subjetiva,
porquanto de caráter pessoal, enquanto o feminicídio possui natureza
objetiva, pois incide nos crimes praticados contra a mulher por razão do
seu gênero feminino e/ou sempre que o crime estiver atrelado à violência
doméstica e familiar propriamente dita, assim o animus do agente não é
objeto de análise.
4. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1741418/SP, Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 07/06/2018);

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM


HABEAS CORPUS. SUSTENTAÇÃO ORAL.
IMPOSSIBILIDADE. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO. BIS IN IDEM COM O
MOTIVO TORPE. AUSENTE. QUALIFICADORAS COM
NATUREZAS DIVERSAS. SUBJETIVA E OBJETIVA.
POSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. Evidencia-se que a sedimentada orientação desta Corte é firme no
sentido de que não é cabível sustentação oral no julgamento de agravo
regimental, em observância, notadamente, aos arts. 159, IV, e 258,
ambos do RISTJ.
2. Nos termos do art. 121, § 2º-A, II, do CP, é devida a incidência
da qualificadora do feminicídio nos casos em que o delito é
praticado contra mulher em situação de violência doméstica e
familiar, possuindo, portanto, natureza de ordem objetiva, o que
dispensa a análise do animus do agente. Assim, não há se falar em
ocorrência de bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do
motivo torpe e do feminicídio, porquanto, a primeira tem
natureza subjetiva e a segunda objetiva.
3. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC 440945/MG, Min
Nefi Cordeiro, Sexta turma, julgado em 05/06/2018).

Segundo essa corrente, a nova qualificadora do feminicídio não deve ser


compreendida como móvel imediato da conduta, a exemplo de uma discussão
banal, adultério, possessividade, desilusão amorosa, ciúmes excessivos ou
inconformismo com o fim do relacionamento afetivo. Em verdade, o texto da
qualificadora do feminicídio (inciso VI), que é complementado pela norma
explicativa do § 2º-A, descreve hipóteses fáticas que devem ser aferidas
objetivamente, a fim de identificar a existência da violência doméstica e
familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
A qualificadora do feminicídio assenta-se em circunstâncias que, para ser
bem compreendidas, devem ser conjugadas com os artigos 5º e 7º da Lei nº
11.340/2006 que enumera as hipóteses e formas de violência doméstica e
familiar contra a mulher38.
A interpretação do inciso II do § 2º-A confirma a natureza objetiva da
qualificadora na medida em que é aplicável em assassinatos entre pessoas
desconhecidas entre si, isto é, sem qualquer relação interpessoal,
diferentemente da hipótese do inciso I do § 2º-A, que cuida dos casos em que
autor e vítima têm ou mantiveram alguma relação de proximidade, conforme
hipóteses do art. 5º, I, II e III, da Lei nº 11.340/2006.
Ythalo Frota explica que não há nenhuma novidade na natureza objetiva
desta qualificadora visto que “O Código Penal brasileiro foi diretamente
inspirado pelo Código Penal italiano (Codice penale, Decreto-Lei nº 1398,
promulgado em 19/10/1930), que define como de natureza objetiva as
‘condições ou qualidades pessoais do ofendido.39’ Do mesmo modo, Fragoso
(1987, p. 343) e Jesus (1998, p. 59) entendem como de natureza objetiva ‘a
situação ou a condição pessoal da vítima’ e a ‘qualidade da vítima40’”.
Em arremate, considere-se que a opção político-criminal adotada pela
criação desta qualificadora, se bem observada, torna a discussão sobre a sua
natureza (se objetiva ou subjetiva) desajustada visto que o legislador penal
adotou um modelo típico que procura superar justamente a subjetividade
inerente ao motivo torpe e fútil, suscetível de leituras preconceituosas e
sexistas. Não fosse essa a razão da reforma legislativa, a alteração seria, na
célebre expressão de Michel Foucault, um “isomorfismo reformista”41,
caracterizado por alterações meramente superficiais, inaptas a produzir
qualquer tipo de mudança estrutural e finalística de determinados institutos.
Defende a natureza objetiva desta qualificadora a Comissão Permanente
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher-COPEVID que, sobre a
matéria, editou três enunciados, a saber: Enunciado nº 23 (005/2015): A
qualificadora do feminicídio, na hipótese do art. 121, § 2º-A, inciso I, do
Código Penal, é objetiva, nos termos do art. 5º da Lei nº 11.340/2006
(violência doméstica, familiar ou decorrente das relações de afeto), que
prescinde de qualquer elemento volitivo específico.
Enunciado nº 24 (006/2015): A qualificadora do feminicídio, na
hipótese do art. 121, § 2º-A, inciso II, do Código Penal, possui natureza
objetiva, em razão da situação de desigualdade histórico-cultural de
poder, construída e naturalizada como padrão de menosprezo ou
discriminação à mulher.
Enunciado nº 25 (007/2015): Configura a qualificadora do feminicídio
do art. 121, § 2º-A, inciso II, do Código Penal o contexto de: tráfico de
mulheres, exploração sexual, violência sexual, mortes coletivas de
mulheres, mutilação ou desfiguração do corpo, exercício de profissões
do sexo, entre outras.

Também é a posição do FONAVID-Fórum Nacional de Juízas e Juízes de


Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, que editou o
ENUNCIADO 39 que prevê que: A qualificadora do feminicídio, nos termos
do art. 121, § 2º-A, I, do Código Penal, é objetiva, uma vez que o conceito de
violência doméstica é aquele do art. 5º da Lei nº 11.340/06, prescindindo de
qualquer valoração específica.

CONCLUSÕES PRÁTICAS
a) Sendo a qualificadora de feminicídio de natureza objetiva, é possível
coexistir com as qualificadoras de motivo, seja torpe ou fútil. Por isso
que, nesse caso, parece ser incabível que, por meio de uma decisão
proferida pelo magistrado ou Tribunal de Justiça, ditas
exclusivamente jurídicas, sejam as qualificadoras excluídas. A
convivência das qualificadoras, além de serem juridicamente possível,
só pode ser excluída pelo Conselho de Sentença visto tratar-se de
circunstâncias fáticas.
b) Para essa posição é possível um “feminicídio qualificado
privilegiado”.

Os autores dissentem quanto a natureza da qualificadora do feminicídio


de modo que Francisco Dirceu Barros filia-se à primeira corrente, e
portanto, entende ser juridicamente impossível a configuração da tese
do “feminicídio qualificado privilegiado”, enquanto Renee do Ó Souza
compreende mais adequada a segunda corrente.

2 Feminicídio versus crime passional – a questão do


privilégio
É certo que na lida forense, não raras vezes, o feminicídio tem como teses
defensivas a legítima defesa da honra e a caracterização do homicídio
privilegiado no art. 121, § 1º, do Código Penal.
É verdade que, como nos lembra Luiza Nagib, a tese do homicídio
privilegiado pela violenta emoção é bastante invocada no Tribunal do Júri, no
que se refere aos crimes passionais, pois, a opção de alegar o privilégio
decorrente da violenta emoção e não de relevante valor moral ou social,
resulta do fato de que, nos dias de hoje, pouca gente lança mão do cinismo de
dizer ter matado a mulher, namorada, companheira ou ex-companheira, por
‘relevante valor moral ou social’42.
A caracterização do feminicídio como crime passional, enfrentada
arduamente há muito, nos dizeres de Nelson Hungria é uma deturpação, fruto
do desejo de vingança. Para o mestre brasileiro, inexiste nos matadores
passionais o necessário sentimento nobre, marcado por ternura e êxtase, que
purifica o ser humano de seu próprio egoísmo e maldade, incutindo nele os
sentimentos de renúncia e perdão. E completa: “(…) o amor-açogueiro é uma
contrafação monstruosa do amor: é o animalesco egoísmo da posse carnal, é
o despeito do macho preterido, é a vaidade malferida da fêmea abandonada. É
o furor do instituto sexual da Besta. O passionalismo que vai até o assassínio
muito pouco tem a ver com o amor. Quando não seja a expressão de um
desequilíbrio psíquico, é um chocante espetáculo de perversidade. Os
matadores chamados passionais, para os quais se invoca o amor como escusa
não passam, na sua grande maioria, de autênticos celerados: não os inspira o
amor, mas o ódio inexorável dos maus. Impiedosos, covardes, sedentos de
sangue, porejando vingança, mas só agindo diante da impossibilidade de
resistência das vítimas, estarrecem pela bruteza do crime, apavoram pela
estupidez do gesto homicida. Para eles não basta a punhalada certeira em
pleno coração da vítima indefesa: na volúpia da destruição e da sangueira,
multiplicam os golpes até que a lâmina sobre si mesmo se encurve. Não basta
que, ao primeiro tiro a vítima tombe numa poça de sangue: despejam sobre o
cadáver até a última bala do revólver. Dir-se-ia que eles desejam que a vítima
tivesse, não uma só, mas cem vidas, para que pudessem dar-lhes cem
mortes!”43.
As lições doutrinárias acima, que podem servir de suporte argumentativo
na arena do Tribunal do Júri, ganham contornos jurídicos principiológicos
nas colocações de Antonio Sérgio Cordeiro Piedade na medida em que a
relativização, sem critérios, dos requisitos previstos no § 1º do art. 121 do
Código Penal produz a banalização da tutela penal sobre o valor vida e
ofende a proibição da proteção deficiente. E conclui: “… o Estado não deve
agir de forma arbitrária, assim como não poderá agir de forma insuficiente,
na proteção de valores ínsitos ao Estado Democrático de Direito44”.
A mesma linha raciocínio deve ser trilhada sobre a tese da legítima defesa
da honra que, como sustenta Luiza Nagib Eluf, nos dias de hoje, de
equiparação entre homens e mulheres e de plena cidadania feminina é
inconstitucional e inadmissível45. Sobre a temática, não custa rememorar as
eloquentes ponderações de Magalhães de Noronha sobre a legítima defesa da
honra que servem para compor a decisão sobre a questão: “Ponto forçado a
considerar é se age em legítima defesa da honra o marido que mata a esposa
colhida em flagrante adultério. Não existe legítima defesa no caso. A honra é
um atributo pessoal, próprio e individual. Por que se dizer desonrado o
marido que, ao se saber iludido, divorcia-se ou desquita-se? Se ele se porta
com dignidade e correção no convívio social, por que será desonrado? E
sobretudo por que colocar-se sua honra na conduta abjeta de outra pessoa e,
principalmente, numa parte não adequada de seu corpo? Desonrada é a
prevaricadora. É absurdo querer que o homem arque com as consequências
de sua falta. É dizer com Sganarello: ‘Elles font la sottise et nous somes les
sots’. Não existe legítima defesa no caso; o que há é, na frase brutal, mas
verdadeira, de Leon Rabinovicz, orgulho de macho ofendido(…)46”.
A qualificadora do feminicídio indica que o homicídio passional e a
legítima defesa da honra, como peças de um museu, têm lugar nos registros
históricos forenses. Assassinar uma mulher por ciúmes, sentimento de posse,
por infidelidade, suspeita de traição ou rompimento do relacionamento ou em
razão da intolerância com as mulheres é causa legal de majoração da pena e
não mais causa de diminuição da pena.
Isso não significa que havendo outras circunstâncias peculiares, a injusta
provocação da vítima não possa desencadear sentimento de emoção violenta
no autor a justificar tão somente a diminuição de sua responsabilidade
criminal, como no caso, por exemplo da esposa que, debochadamente,
desfere um tapa na cara do marido na frente dos filhos que, em seguida, sob o
domínio de violenta emoção, desfere um golpe de faca, matando-a.
CAPÍTULO 7
Feminicídio e neocolpovulvoplastia

1 Feminicídio e neocolpovulvoplastia: As implicações


legais do conceito de mulher para os fins penais.
Problematização I: “Tício” fez um procedimento cirúrgico denominado
neocolpovulvoplastia, alterando a genitália masculina para a feminina. Ato
contínuo, “Tício”, por meio de uma ação judicial, muda seu nome para
“Tícia” e, consequentemente, todos os seus documentos são alterados.
Posteriormente, em uma discussão motivada pela opção sexual de “Tícia”,
“Seprônio” disparou 5 (cinco) tiros, assassinando-a.
Pergunta-se: “Seprônio” será denunciado por homicídio com a
qualificadora do inciso VI (Se o homicídio é cometido: VI – contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino)?
Problematização II: “Tícia”, entendendo que psicologicamente é do sexo
masculino, interpõe ação judicial e muda seu nome para “Tício”.
Consequentemente, todos os seus documentos são alterados. Posteriormente,
em uma discussão motivada pela opção sexual de “Tícia”, “Seprônio”
disparou 5 (cinco) tiros, assassinando-o.
Pergunta-se: considerando que a vítima é biologicamente mulher, mas
foi registrada como “Tício”, “Seprônio” será denunciado por homicídio com
a qualificadora do inciso VI (Se o homicídio é cometido: VI – contra a
mulher por razões da condição de sexo feminino)?
Problematização III: “Tício” tem dois (2) órgãos genitais, um feminino
e outro masculino. O órgão genital biologicamente prevalente é o masculino.
Certo dia, em uma discussão motivada pela opção sexual de “Tício”,
“Seprônio” disparou 5 (cinco) tiros, assassinando-o.
Pergunta-se: considerando que a vítima também tem um órgão genital
feminino, “Seprônio” será denunciado por homicídio com a qualificadora do
inciso VI (Se o homicídio é cometido: VI – contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino)?

2 A neocolpovulvoplastia e o feminicídio
A cirurgia de redesignação sexual ou de transgenitalização consiste nos
procedimentos cirúrgicos denominados neocolpovulvoplastia e
neofaloplastia. Essa intervenção cirúrgica permite a mudança do aparelho
sexual importando apenas em alterações estéticas e não genéticas. A
neocolpovulvoplastia é a mudança da genitália masculina para a feminina,
consistindo, basicamente, em duas etapas: na primeira, o pênis é amputado e
são retirados os testículos do paciente e, em seguida, faz-se uma cavidade
vaginal. A segunda etapa é marcada pela constituição plástica: com a pele do
saco escrotal são formados os lábios vaginais. A operação inversa, ou seja, a
transformação do aparelho masculino para o feminino é denominada
neofaloplastia, mas ela está autorizada por uma Resolução do CFM ainda a
título experimental, tendo em vista as dificuldades técnicas ainda presentes
para a obtenção de bom resultado, tanto no aspecto estético como no
funcional destas.47

3 O conceito jurídico de mulher para caracterização do


feminicídio

Tema muito novo, mas já antecipamos que haverá 3 (três) posições, pois
a doutrina elaborará 3 (três) critérios para identificar a mulher com escopo de
aplicar a qualificadora do feminicídio.

1ª posição: o critério psicológico.


Haverá defesa no sentido de que se deve desconsiderar o critério
cromossomial para identificar como mulher toda aquela na qual o psíquico ou
o aspecto comportamental é feminino.
Adotando-se esse critério, matar alguém que fez o procedimento de
neocolpovulvoplastia ou que, psicologicamente, acredita ser uma mulher,
será aplicado a qualificadora do feminicídio.
É a posição de Adriana Mello, para quem “A qualificadora do feminicídio
incide quando o sujeito passivo for mulher, entendido, na minha forma de
ver, de acordo com o critério psicológico, ou seja, quando a pessoa se
identificar com o sexo feminino, mesmo quando não tenha nascido com o
sexo biológico feminino”48.

2ª posição: o critério jurídico cível.


Rogério Greco49, defende que o critério adotado dever ser o jurídico:
“Com todo respeito às posições em contrário, entendemos que o único
critério que nos traduz, com a segurança necessária exigida pelo Direito, e em
especial o Direito Penal, é o critério que podemos denominar jurídico. Assim,
somente aquele que for portador de um registro oficial (certidão de
nascimento, documento de identidade) em que figure, expressamente, o seu
sexo feminino, é que poderá ser considerado sujeito passivo do feminicídio”.
Nesse mesmo sentido é a posição de Rogério Sanches Cunha50: “A nosso
ver, a mulher tratada na qualificadora do homicídio é aquela assim
reconhecida juridicamente. No caso de transexual que formalmente obtém o
direito de ser identificada civilmente como mulher, não há como negar a
incidência da lei penal porque, para todos os demais efeitos, será considerada
mulher”.

3ª posição: o critério biológico.


Entendemos que deve ser sempre considerado o critério biológico, ou
seja, identifica-se a mulher em sua concepção genética ou cromossômica.
Neste caso, como a neocolpovulvoplastia altera a estética, mas não a
concepção genética, não será possível a aplicação da qualificadora do
feminicídio.
O critério biológico identifica homem ou mulher pelo sexo morfológico,
sexo genético e sexo endócrino: a) sexo morfológico ou somático resulta da
soma das características genitais (órgãos genitais externos, pênis e vagina, e
órgãos genitais internos, testículos e ovários) e extragenitais somáticas
(caracteres secundários — desenvolvimento de mamas, dos pelos pubianos,
timbre de voz, etc.); b) sexo genético ou cromossômico é responsável pela
determinação do sexo do indivíduo através dos genes ou pares de
cromossomos sexuais (XY – masculino e XX – feminino) e; c) sexo
endócrino é identificado nas glândulas sexuais, testículos e ovários, que
produzem hormônios sexuais (testosterona e progesterona) responsáveis por
conceder à pessoa atributos masculino ou feminino51.
O grande problema da utilização do critério psicológico para conceituar
“mulher” reside no fato de que o mesmo é formado pela convicção íntima da
pessoa que entende pertencer ao sexo feminino, critério que pode ser, diante
do caso concreto subjetivo, algo que não é compatível com o Direito Penal
moderno.
O critério jurídico cível, data venia, também não pode ser aplicado, pois
as Instâncias cível e penal são independentes; assim, a mudança jurídica no
cível representaria algo que seria usado em prejuízo do réu, afrontando o
princípio da proibição da analogia in malam partem52: o corolário da
legalidade proíbe a adequação típica “por semelhança” entre fatos.
Neste sentido sustenta Luiz Flávio Gomes: “Na qualificadora do
feminicídio, o sujeito passivo é a mulher. Aqui não se admite analogia contra
o réu. Mulher se traduz num dado objetivo da natureza. Sua comprovação é
empírica e sensorial. De acordo com o art. 5º, parágrafo único da Lei nº
11.340/2006, esta deve ser aplicada, independentemente de orientação sexual.
Na relação entre mulheres hétero ou transexual (sexo biológico não
correspondente à identidade de gênero; sexo masculino e identidade de
gênero feminina), caso haja violência baseada no gênero, pode caracterizar o
feminicídio. A aplicação da Lei Maria da Penha para transexual masculino foi
reconhecida na decisão oriunda da 1ª Vara Criminal da Comarca de Anápolis,
juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães (proc. N. 201103873908, TJGO). No
caso das relações homoafetivas masculinas definitivamente não se aplicará a
qualificadora. A lei falou em mulher. Por analogia não podemos aplicar a lei
penal contra o réu. Não podemos admitir o feminicídio quando a vítima é um
homem (ainda que de orientação sexual distinta da sua qualidade
masculina)53.
É também a posição de César Dario Mariano: “Observe-se, ainda, que a
norma é clara no sentido de que o sujeito passivo do feminicídio é o do sexo
feminino, não estando englobado o transexual, mesmo que obtenha a
retificação do seu registro civil. Mulher é aquela que nasce mulher, ou seja,
que em tese possa procriar e ser mãe. O transexual pode até parecer mulher,
mas não o é para efeitos do Direito Penal, que pressupõe condição de
vulnerabilidade do gênero, o que, na maioria das vezes, não ocorre com o
transexual, que tem a força e compleição física do homem, pelo menos em
regra.”54.
Ademais, o legislador, mesmo sabendo que existem outros gêneros
sexuais, não incluiu os transexuais, homossexuais, gays ou travestis, sendo
peremptório ao afirmar: “Considera-se que há razões de gênero quando o
crime envolve: menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
Repetimos: a frase prevista originalmente no projeto de lei “menosprezo
ou discriminação à condição de gênero” foi substituída por “menosprezo ou
discriminação à condição de mulher”.
Nesse mesmo sentido entende Cleber Masson55: “Nessa hipótese, não há
falar em feminicídio na morte do transexual, pois a vítima biologicamente
não ostenta o sexo feminino, tanto que jamais poderá reproduzir-se, pela
ausência dos órgãos internos. Essa situação é mantida ainda que a pessoa
tenha sido beneficiada pela alteração do registro civil (mudança de nome).
Com efeito, entendimento diverso seria prejudicial ao agente, constituindo-se
em inquestionável analogia in malam partem, repudiada pelo moderno
Direito Penal.

4 As soluções do critério biológico

a) Hermafroditas:
Também chamadas de intersexuais ou sexo dúbio, são pessoas que
possuem órgãos sexuais dos dois sexos. Usando o critério biológico,
entendemos que a qualificadora do feminicídio só pode ser aplicada se o
órgão feminino for prevalente.

b) Vítima homossexual ou o travesti: Não haverá feminicídio,


considerando que o sexo biológico continua sendo masculino.

c) Vítima lésbica:
Haverá feminicídio, considerando que o sexo biológico seja feminino. Em
reforço prático traz-se à baila a posição firmada por Cleber Masson56. “Em
regra, o sujeito ativo é homem, mas nada impede que seja também uma
mulher, desde que o delito seja cometido por razões de condições de o sexo
ser feminino. É o que se dá, exemplificativamente, quando uma mulher mata
a sua namorada em uma discussão por considerar que esta última não tinha o
direito de desejar o rompimento do relacionamento amoroso.”
No mesmo sentido a posição de Rogério Grego: Merece ser frisado, por
oportuno, que o feminicídio, em sendo uma das modalidades de homicídio
qualificado, pode ser praticado por qualquer pessoa, seja ela do sexo
masculino ou mesmo do sexo feminino. Assim, não existe óbice à aplicação
da qualificadora se, numa relação homoafetiva feminina, uma das parceiras,
vivendo em um contexto de unidade doméstica, vier a causar a morte de sua
companheira”.

d) Vítima transexual que realizou o procedimento de


neocolpovulvoplastia:
Não haverá feminicídio, considerando que sob os aspectos morfológico,
genético e endócrino, continua sendo do sexo masculino. O sempre lembrado
Cleber Masson57, em consonância, elucida que: “Inicialmente, cumpre
destacar que a transexualidade não se confunde com a homossexualidade. É
dizer: a atração sexual por pessoa do mesmo sexo. A transexualidade, de seu
turno, é classificada pela Organização Mundial de Saúde como uma espécie
de transtorno de identidade de gênero, na qual o indivíduo tem o desejo de
viver e de ser aceito como do sexo oposto ao do seu nascimento. Nos dias
atuais, é comum a transgenitalização, ou seja, a cirurgia de redesignação
sexual. Nesse terreno duas situações podem ocorrer. Admite-se a
‘neocolpovulvoplastia’, consistente na alteração do órgão sexual masculino
para o feminino, com a construção de uma neovagina (vaginoplastina). Nessa
hipótese, não há que se falar em feminicídio na morte do transexual, pois a
vítima biologicamente não ostenta o sexo feminino, tanto que jamais poderá
reproduzir-se, pela ausência dos órgãos internos. Essa situação é mantida
ainda que a pessoa tenha sido beneficiada pela alteração do registro civil
(mudança de nome). Com efeito, entendimento diverso seria prejudicial ao
agente, constituindo-se em inquestionável analogia in malam partem,
repudiada pelo moderno Direito Penal. Contudo, também pode ocorrer de
uma mulher ser submetida a cirurgia para readequação ao sexo masculino.
Nesse caso, se essa pessoa for vítima de homicídio, e o crime for praticado
por razões de condição de sexo feminino, será cabível a qualificadora prevista
no art. 121, § 2º, inc. VI, do Código Penal. Em síntese, admite-se o
feminicídio, pois biologicamente a vítima continua ostentando o sexo
feminino.”

e) Vítima hermafrodita:
Pode haver feminicídio, dependendo da análise do sexo biológico
prevalente.

f) Mulheres transexuais e travestis:


Enunciado nº 30 (001/2016): A Lei Maria da Penha pode ser aplicada a
mulheres transexuais e/ou travestis, independentemente de cirurgia de
transgenitalização, alteração do nome ou sexo no documento civil. (Aprovado
na I Reunião Ordinária do GNDH em 05/05/2016 e pelo Colegiado do CNPG
em 15/06/2016).
CAPÍTULO 8
Feminicídio e outras implicações legais

1 A majorante do feminicídio
Foi também criada uma nova majorante ao homicídio:
“§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado: I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores
ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
(sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
(Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
(Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018) IV - em descumprimento das
medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art.
22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de
2018);
A primeira questão que se coloca é quanto ao tempo do crime. As causas
de aumento incidem quando ocorre o resultado morte ou quando o
agente pratica a conduta? Diante do disposto no art. 4º do Código Penal,
que adotou a teoria da atividade, haverá aumento da pena se as circunstâncias
descritas no § 7º estiverem presentes no momento da ação.
A causa de aumento do inciso I determina o agravamento da pena quando
o delito for praticado durante o período de gravidez ou mesmo após o
nascimento da criança (três meses posteriores ao parto). Observe-se que
podem ocorrer quatro situações: a) morte do feto (em sentido amplo) e da
vítima; b) o feto sobrevive, mas a vítima falece; c) o feto morre e a vítima
sobrevive; d) tanto o feto quanto a vítima sobrevivem. Diante da falta de
condicionamentos ao resultado morte, independentemente do óbito, seja da
mulher, seja do feto, a pena será aumentada. Na segunda parte do mesmo
inciso, a lei determina o aumento da pena quando o crime for praticado nos
três meses posteriores ao parto, período esse em que a criança é mais
dependente da mãe.
A norma também determina o aumento da pena em razão da idade da
vítima (menor de 14 ou maior de 60 anos), ou por ser ela portadora de
deficiência.
No que se refere à idade da vítima, a majorante se justifica na maior
proteção penal em face de pessoas menores de 14 anos ou de avançada idade,
além da conduta do agente ser mais reprovável.
Quanto a pessoa com deficiência, deve-se reportar a legislação especial,
que serve de complemento à norma.
Por fim, o crime cometido na presença de ascendente ou de descendente
da vítima também acarreta o agravamento da pena, isso em razão do trauma
psicológico que provoca. Damásio de Jesus entende que a presença dos
parentes da vítima na cena do crime deve ser física, não havendo adequação
típica se eles vierem a tomar conhecimento por meio de contato virtual
(Skype, por exemplo) ou telefônico58. Rogério Sanches Cunha defende que
“ao exigir que o comportamento criminoso ocorra na ‘presença’, parece
dispensável que o descendente ou o ascendente da vítima esteja no local da
agressão, bastando que esse familiar esteja vendo (ex.: por Skype) ou
ouvindo (ex.: por telefone) a ação criminosa do agente59”, interpretação
condizente com a comunicação virtual ou telepresencial dos dias atuais.
Porém, o que parece estar fora do alcance da majorante é a exibição posterior
a distância do crime gravado, via vídeo ou outro sinal eletromagnético, visto
que é exigência da norma que o crime seja cometido “na presença”, o que
pressupõe atualidade.
Mesmo nessa situação, a fim de que não ocorra responsabilidade penal
objetiva, a presença do ascendente ou de descendente da vítima deve ser de
conhecimento do agente. Aliás, todas essas condições são objetivas e que são
aferidas a partir de condições ou qualidades da vítima, deverão ser de
conhecimento do agente (dolo abrangente), de modo que o erro quanto a elas
afasta o dolo e caracteriza erro de tipo (art. 20 do CP).
No caso de existência de uma ou mais causas de aumento podem ser
levadas em consideração pelo Magistrado para dosar o aumento da pena
dentro do limite legal (um terço até a metade).

2 A majorante do feminicídio e o princípio non bis in


idem
Aplicada a causa de aumento de pena prevista no artigo 121, § 7º, não
será possível, sob pena de afronta ao princípio non bis in idem, aplicar as
agravantes genéricas do artigo 61, inc. II, alíneas “e” e “H”, do Código
Penal, in verbis:

h) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; contra criança,


e)
maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; Também
não é possível aplicar simultaneamente a causa de aumento de pena
do artigo 121, § 4º, 2ª parte, do Código Penal, quando reconhecida a
majorante do crime de feminicídio cometido contra mulher menor de
14 ou maior de 60 anos. São causas que alcançam as mesmas
situações e não podem ser aplicadas ao mesmo fato, haja vista não ser
possível a dupla valoração.
Na verdade, deve-se entender que a norma prevista no dispositivo em
comento é especial (porque aplicada no contexto do feminicídio) e prevê
aumento maior, devendo prevalecer sobre a norma geral.

3 Vigência e a irretroatividade da qualificadora e da


majorante do feminicídio
A Lei nº 13.104/2015, que entrou em vigor no dia 10/03/2015, por ser
mais gravosa não terá efeitos retroativos; assim, quem cometeu homicídio
contra mulher nas condições descritas no artigo 121 § 2º, inciso VI, e artigo
121, § 7º, incisos I, II e III, até o dia 9/03/2015, não responderá por
homicídio qualificado ou majorado pelo feminicídio.
Registre-se que a majorante prevista no inciso IV, bem como as
alterações incluídas nos incisos II e III, só poderá ser aplicada aos crimes
cometidos após 19 de dezembro de 2018, ocasião em que passou a vigorar
a referida norma.
4 O crime de aborto versus a majorante do feminicídio
cometido durante a gestação

Segundo dispõe a primeira parte do artigo 121, § 7º, inciso I, do Código


Penal, quando o homicídio é cometido contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino, “durante a gestação”, a pena do feminicídio é
aumentada de 1/3 (um terço) até a metade.
Entendemos que a supracitada majorante não tem a mínima possibilidade
de ser aplicada no Direito Penal, por dois motivos: Primeiro: princípio da
responsabilidade subjetiva.
Inexiste no Direito Penal a tenebrosa responsabilidade objetiva, pela qual
o agente ativo responde, independentemente de ter agido com culpa ou dolo.
A responsabilidade é subjetiva, isto é, deve-se sempre averiguar se o agente
agiu com dolo ou culpa. Se a resposta for negativa, o fato é atípico.

STF: O sistema jurídico penal brasileiro não admite imputação por


responsabilidade penal objetiva. (STF - Inq. 1.578-4-SP) STJ: (…) inexiste
em nosso sistema responsabilidade penal objetiva. (STJ HC 8.312-SP – 6ª T
4.3.99 – p. 231) Não sendo possível o estabelecimento de uma
responsabilidade penal objetiva, a majorante do artigo 121, § 7º, inciso I
(primeira parte), do Código Penal (durante a gestação), somente pode ser
aplicada se a mesma ingressou na esfera de conhecimento do autor do
feminicídio. Ou seja, o autor sabia (dolo direto) ou tinha condições de saber
(dolo eventual) que a mulher estava grávida.
Segundo: o princípio do non bis in idem
O princípio possui duplo significado:
1º) processual: ninguém pode ser processado e julgado duas vezes pelo
mesmo fato delituoso.
2º) penal material: ninguém pode sofrer duas penas em face do mesmo
crime.
Neste sentido, não é possível, ao praticar o feminicídio, o agente ativo
incidir em homicídio qualificado majorado e também no crime de aborto,
pois ao matar ou tentar matar uma mulher grávida pagaria duas vezes – pela
majorante e pelo crime de aborto.
Assim, considerando que o autor do feminicídio conhecia a gravidez da
vítima, teremos no contexto prático as hipóteses a seguir delineadas.

CASO FORENSE PRÁTICO Nº 01:


“Tício”, por mera discussão na convivência familiar, atira em
“Tícia”. Por circunstâncias alheias à vontade do agente, “Tícia” e o feto
sobrevivem.
Solução jurídica: “Tício” deverá responder pela tentativa de homicídio
qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, c. c artigo 14, inc. II,
do CP), e pela tentativa de aborto sem o consentimento da gestante (art. 125
do CP, c. c. art. 14, II, do CP) em concurso formal (art. 70 do CP).

CASO FORENSE PRÁTICO Nº 02:


“Tício”, por mero menosprezo à condição de mulher, atira em
“Tícia”. A mulher e o feto morrem.
Solução jurídica: “Tício” deverá responder por homicídio consumado,
qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, do CP) e pelo de aborto
consumado sem o consentimento da gestante (artigo 125, do CP), em
concurso formal (art. 70 do CP).

CASO FORENSE PRÁTICO Nº 03:


“Tício”, por mera discussão na convivência doméstica, atira em
“Tícia”. A mulher morre e o feto sobrevive.
Solução jurídica: “Tício” deverá responder por homicídio consumado,
qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, do CP) e pela tentativa
de aborto sem o consentimento da gestante (art. 125, do CP) em concurso
formal (art. 70 do CP) CASO FORENSE PRÁTICO Nº 04:
“Tício”, por mera discriminação à condição de mulher, atira em
“Tícia”. A mulher sobrevive e o feto morre.
Solução jurídica: “Tício” deverá responder por tentativa de homicídio
qualificado pelo feminicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, c. c art. 14, inc. II, do
CP) e pelo aborto consumado sem o consentimento da gestante (artigo 125 do
CP), em concurso formal (artigo 70 do CP).
Observe-se que, em nenhuma das hipóteses supracitadas, é juridicamente
possível a aplicação da majorante da primeira parte do artigo 121, § 7º, inciso
I, do Código Penal. (Quando o homicídio é cometido contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino, durante a gestação).

5 A mutatio libeli e a qualificadora do feminicídio

Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição


jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento
ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério
Público deverá aditar a denúncia ou queixa, se em virtude desta houver sido
instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o
aditamento, quando feito oralmente, portanto é possível que na instrução
processual de uma denúncia recebida como homicídio simples, por exemplo,
apareçam provas de que a mulher foi assassinada em um contexto de
violência doméstica/familiar ou a motivação foi o menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.
O que fundamenta a mutatio libelli é o princípio da correlação ou da
pertinência. Conforme lecionam Xavier de Aquino e Nalini,60 o elo,
princípio da correlação entre a imputação e a sentença, é que esta deve
constituir a operação mental logicamente adequada a responder à demanda. A
mácula mais comum ao princípio da correlação é o julgamento extra, citra ou
ultra petita. Pode o Juiz julgar fora do pedido, aquém do pedido ou além do
pedido. Em qualquer hipótese, estará desatendendo ao princípio da
correlação. Costuma-se referir ainda ao princípio da relatividade, para
explicitar que o julgador está vinculado à denúncia ou queixa e, portanto, não
dispõe de poderes absolutos para julgar da forma como lhe aprouver. Está-se
contemplando o princípio da mutatio libelli, que assegura a imutabilidade da
acusação.
O réu não pode ser condenado por fatos cuja descrição não se contenha,
explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa, impondo-se, por tal
razão, ao Estado, em respeito à garantia da plenitude de defesa, a necessária
observância do princípio da correlação entre imputação e sentença. Deve-se
em tal caso, sob pena de nulidade, ser realizada a mutatio libelli, com o
precípuo escopo de proporcionar ao réu a garantia constitucional da ampla
defesa e do contraditório.

6 O quesito da qualificadora do feminicídio


1. Os quesitos61 serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: a
2.3.materialidade do fato; a autoria ou participação; se o acusado deve ser
4.5.absolvido; se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; se
existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas
na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

Relembre-se que, caso entenda-se que o feminicídio seja uma


qualificadora subjetiva, não pode haver feminicídio privilegiado qualificado,
visto que reconhecido pelo Conselho de Sentença a forma privilegiada do
crime no “4”, fica afastada, automaticamente, a tese do feminicídio.
Não havendo causa de diminuição da pena ou tendo os jurados julgado
com “não” o “4”, sugere-se a seguinte formulação de quesitos: Exemplo 1:
“O réu cometeu feminicídio, consistente em… (descrever a motivação do
feminicídio alegado pela acusação)?

Exemplo 2:
“O réu cometeu feminicídio, consistente em matar a vítima com
menosprezo à condição de mulher?

Exemplo 3:
“O réu cometeu feminicídio, consistente em matar a vítima por mera
discriminação à condição de mulher?

Exemplo 4:
“O réu assassinou a vítima em um contexto de violência
doméstica/familiar?
7 Feminicídio praticado por mulher

Uma mulher pode matar a outra no contexto de violência


doméstica/familiar ou motivada pelo menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.
No mesmo sentido:
Para a configuração da violência doméstica não é necessário que as
partes sejam marido e mulher, nem que estejam ou tenham sido
casados, já que a união estável também se encontra sob o manto
protetivo da lei. Admite-se que o sujeito ativo seja tanto homem
quanto mulher, bastando a existência de relação familiar ou de
afetividade, não importando o gênero do agressor, já que a norma visa
tão somente à repressão e prevenção da violência doméstica contra a
mulher. (TJMG, HC 1.0000.09.513119-9/000, j. 24.02.2010, rel. Júlio
Cezar Gutierrez).

8 Feminicídio e o descumprimento das medidas


protetivas previstas na Lei Maria da Penha
A Lei nº 13.771/18 inseriu no art. 121, § 7º, do Código Penal uma quarta
majorante ao feminicídio, consistente na situação em que o homicídio é
praticado durante a vigência de medidas protetivas decretadas em favor da
vítima. Dessa forma, o descumprimento de medidas protetivas somente
constituirá crime autônomo se não for cometido por ocasião da prática do
homicídio qualificado pelo feminicídio. Caso praticado neste contexto, incide
apenas a causa de aumento.
Acerca do tema, Cleber Masson62 afirma que: “Antes dessa majorante,
criada pela Lei nº 13.771/2018, entendia-se que o feminicídio praticado com
descumprimento das medidas protetivas de urgência absorvia o crime
previsto no art. 24-A da Lei Maria da Penha. Em outras palavras, não existia
diferença prática, no tocante à quantidade da pena, entre o feminicídio
cometido com ou sem a violação de medidas protetivas. Agora, em que pese
a absorção do crime contido na Lei nº 11.340/2006, ao agente será imputado
o feminicídio, com a pena aumentada de 1/3 (um terço) até a metade. Não há
falar em concurso entre o feminicídio majorado e o delito capitulado no art.
24-A da Lei Maria da Penha, sob pena de caracterização do bis in idem”.
CAPÍTULO 9
Da persecução do feminicídio

A fronteira legislativa referente ao enfrentamento ao feminicídio foi


rompida pela edição da Lei nV 13.104/2015. Sabe-se, todavia, que problemas
sociais desta envergadura não são debelados apenas com alterações de textos
de lei. De forma significativa, o combate à criminalidade e uma melhor
proteção dos bens jurídicos dependem de uma (re)modelagem nos arranjos
institucionais dos órgãos e entidades que lidam com o ato ilícito e com os
sujeitos nele envolvidos. Isso porque, como bem esclarece Antonio
Suxberger, o desarranjo institucional é, muitas vezes, a causa direta da
frustração de vários preceitos normativos, ou em outros casos, de suas
diferentes aplicações. Isso acontece porque a tecnologia jurídica, dimensão
que responde pela institucionalidade do Estado e pela exteriorização da ação
estatal, só é apta a efetivar direitos se adequada a planos de sistematicidade,
interação com a realidade social, de eficácia, de racionalidade gerencial, de
orientação pragmática e atenta a instâncias avaliativas de seu
funcionamento63.
Soma-se a isso algumas peculiaridades nos delitos de gênero que devem
ser incorporadas nas estratégias político-criminais de atuação persecutória, a
saber: (1) a especial atenção à não prática de atos de revitimização durante as
interações com a mulher; (2) a incorporação de novas estratégias de
investigação criminal que não se fundamentem, exclusivamente, na palavra
da vítima, diante do elevado risco de eventual não cooperação posterior da
mulher com a persecução penal; e (3) a incorporação de estratégias político-
criminais de monitoramento de casos de risco e de integração em rede para a
prevenção da reiteração da violência64.
A falta deste tipo de orientação pode resultar em uma persecução apoiada
unicamente no comportamento e versão da vítima, o que leva à precariedade
da prova sobre o ciclo de violência, e produzir, por exemplo, excesso de
desclassificação dos homicídios tentados para lesões corporais ou nos
chamados fatores de recriminação e revitimização.
A conveniência na edição de planos de sistematicidade institucionais
destinados a esta categoria delitiva, que de modo algum pode ser confundida
como quebra da igualdade, pode ser um importante instrumento de adequação
institucional às suas peculiaridades, conforme será mais adiante demonstrado.
Nessa ordem de ideias, a persecução do feminicídio deve seguir
peculiaridades em cada uma de suas etapas e em cada uma das agências
atuantes de modo que a manter suas especificidades.
Importa desde já assentar a característica central do crime de
feminicídio, de modo pautar a atuação persecutória, qual seja, a
vulnerabilidade da vítima, fator produtor tanto do ciclo da violência como da
dificuldade de compreensão deste tipo de violência. Assim, importa centrar
•atenções sobre: Análise da situação de vida da vítima, útil para detectar os
•elementos de vulnerabilidade; As supostas justificativas para a ação do
•agressor, como uso de álcool, de drogas, estar em situação de estresse;
•Suposta culpabilidade da própria vítima, utilizada para fundamentar o crime;
•As circunstâncias em que ocorreu a agressão; Conhecer os fatores que
•influenciaram na vulnerabilidade da vítima; A motivação do crime,
geralmente ligado a emancipação intelectual, profissional e econômica da
mulher, a constatação do sentimento de posse sobre a vítima, o exercício do
•controle sobre suas manifestações de vontade; A aplicação das disposições
da Lei nº 11.340/2006, visto que o processamento do crime de feminicídio
estará a ela submetido de modo a contar com a integração entre todos os
órgãos, poderes e instituições destinados à atuação, assistência à vítima
sobrevivente e vítimas indiretas, assim consideradas as pertencentes ao
•núcleo familiar e/ou dependentes daquela; A aplicação das medidas de
proteção previstas na Lei acima que busquem a proteção das vítimas
sobreviventes e indiretas, vez que a proximidade do agressor aos elementos
probatórios pode dificultar a coleta de prova.

A começar pela fase investigatória, de natureza administrativa e


inquisitorial, geralmente conduzida por delegados de polícia, o que não
significa que não deve abranger policiais militares e outros agentes de
segurança que tenham contato com o crime, restam necessárias a observância
•de medidas como: presença de um agente especialista no assunto dentro de
•cada equipe de plantão, o que possibilita o tratamento adequado ao delito;
comparecimento ao local do crime para análise da cena do crime e dos
vestígios encontrados junto à vítima, tais como vestimentas, objetos (como
retratos quebrados), vestígios de sangue, objetos e armas utilizadas,
•queimaduras e fluidos corporais encontrados no corpo da vítima;
levantamento da identificação da vítima junto ao setor de identificação
responsável para que este proceda a todos os atos necessários para tanto,
notadamente nos casos em que a mulher não possui documento de
•identificação que possibilite verificar seu nome, filiação, origem e idade; nos
casos em que o convivente seja considerado o principal suspeito, seu
encaminhamento imediato para realização de exame de corpo de delito, se
•possível; nos casos em que o feminicídio é cometido pelo convivente que é
preso ou encontra-se foragido, proceder o encaminhamento dos idosos ou
incapazes ou crianças menores aos cuidados de parentes próximos ou para a
•vara de infância e juventude; celebração de parceria entre agência
investigativa e Secretaria de Saúde a fim de que, nos casos em que haja o
encaminhamento, ao hospital, de vítima tentada de feminicídio que apresente
sinais comprobatórios de violência, os enfermeiros e assistentes sociais
fiquem encarregados de realizar a retirada, coleta e repasse, à polícia civil,
•dos vestígios encontrados, sejam estes roupas, carteiras, celulares, etc.;
atentar para, na fase de inquirição de testemunhas, possibilitar a oitiva, por
prioridade, das pessoas que mais possuíam relação de afeto com a vítima e,
após aquelas que detinham uma relação mais social, de modo a auxiliar os
agentes a compreenderem quais eram os passos da vítima, os locais que
costumava frequentar, o modo de relacionamento com o companheiro ou ex-
•companheiro e possibilidade de histórico de agressões; no caso de suspeita
de acobertamento do agressor pela família da vítima, requerer, com urgência,
pela emissão de mandado de busca e apreensão para ingresso no local; A
atuação judicial propriamente dita deve ser permeada por uma atuação
bifurcada, visto que, além de buscar uma atuação adequada junto aos
serventuários e magistrados togados, acostumados com as lides forenses,
deve-se ter em mira a atuação dos jurados na fase de julgamento, cidadãos
leigos que conhecerão o caso. Assim, a instrução processual – oportunidade
em que os julgadores terão contato direto com a prova oral, consistente no
interrogatório do acusado e nas oitivas da vítima sobrevivente, indireta e
testemunhas – deve levar em conta essas particularidades em torno do
•feminicídio: sensibilização de juízes e serventuários da justiça para a
•prioridade de tramitação destes casos; a fim de evitar a degradação da vítima
por meio de ataques levianos, traço característico de sua revitimização, por
meio dos instrumentos processuais previstos, deve-se recomendar a
decretação de sigilo e do indeferimento de provas consideradas irrelevantes,
•impertinentes ou protelatórias; prezar pela criação de núcleos de
atendimento por equipes multidisciplinares voltadas ao desenvolvimento de
trabalhos de acolhimento, análise psicológica, orientações e encaminhamento
das vítimas sobreviventes e indiretas a programas assistenciais e de saúde, de
modo a propiciar-lhes o empoderamento necessário para seguirem com o
processo, retirarem-se do âmbito familiar ou proximidades compartilhadas
com o agressor e afastarem-se de tentativas de reaproximação de eventuais
•relações que lhes ofereçam riscos; assegurar a disposição contida no art. 21
da Lei nº 11.340/2006, segundo a qual as vítimas possuem direito à
notificação dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos
pertinentes ao seu ingresso e saída da prisão, sem prejuízo da intimação do
•defensor público ou advogado constituído; assegurar à vítima sobrevivente
ou indiretas o direito de conhecerem os limites e condições impostas aos
agressores, seja por meio de mandado de intimação de urgência, telefonema
ou e-mail, bem como aterem-se a eventuais descumprimentos, por parte do
agressor, de medidas protetivas ou cautelares diversas da prisão.

Identificada a situação de feminicídio, a atuação do membro do


•Ministério Público deve se atentar para o seguinte: ordenar a realização de
diligências e encaminhamentos que se fizerem necessários ao caso,
•atentando-se aos fatores de risco que resultaram na situação65; prezar pela
reparação sancionatória do agressor, seja material ou moral, devida à vítima e
seus familiares, devendo esta estar expressa na denúncia oferecida pelo
•Ministério Público, inclusive com menção ao quantum a ser fixado;
incorporar a perspectiva de gênero na denúncia, mencionando o tipo penal
•feminicídio desde o início; combater teses que desqualifiquem a vítima e
enalteçam a conduta do réu, evitando o emprego de quaisquer expressões que
possibilitem justificar o comportamento do agressor ou que, com base em
estereótipos ou ideologias e conceitos pré-moldados, responsabilizem a
vítima, minimizando a violência sofrida e reinserindo-a em um contexto de
acusação discriminatória. Em casos graves de ofensas morais à vítima, deverá
requerer sejam riscadas dos autos expressões consideradas ofensivas, sob o
argumento de que o princípio constitucional da plenitude de defesa possui
•limites éticos no direito à sua memória66; formular perguntas a vítimas e/ou
testemunhas, aptas a coletar dentre outros elementos passíveis de caracterizar
a violência com base no gênero67, bem como forma de coibir os estereótipos
•de gênero que legitimem ou exacerbem a violência; Nos casos de crime
tentado, em especial quando a vítima “perdoar” o acusado, o Promotor de
Justiça deve chamar à responsabilidade os jurados para o fato de que,
perdoando-o, se não houver a devida responsabilização, há elevado risco de o
próximo ato de violência ser fatal. Em caso de “perdão” da vítima, convém
ao Promotor de Justiça esclarecer aos jurados que, em situações de violências
graves, como é a tentativa de feminicídio, é essencial que o Estado intervenha
na “briga de marido e mulher”, pois tais violências afrontam valores
fundantes da sociedade brasileira, como a igualdade de direitos entre homens
e mulheres, não podendo a noção de que se trata de “questão privada de
família” servir de escudo para a violação de direitos humanos das mulheres.
Devem também explorar a presença de fatores de risco da vítima, como a
dependência emocional, financeira ou o controle do agressor sobre a vítima.
Perguntas como “quem a sustenta?”, “quem trouxe você para a audiência?”,
“quando acabar a audiência, quem a levará para casa?”, “você possui filhos
com o acusado?”, ou “algum familiar do acusado ajuda no sustento dos
filhos?” podem auxiliar nessa configuração68.
CAPÍTULO 10
A comunicação das circunstâncias
no contexto do feminicídio.

Questão complexa é a comunicação das circunstâncias no contexto do


feminicídio. Segue um exemplo didático para elucidar a problemática:
“Tício”, motivado por total menosprezo ou discriminação por sua
companheira devido a condição de mulher, contrata “Mévio” e o paga para
matá-la. Pergunta-se: “Mévio” responde pela qualificadora do feminicídio?
Francisco Dirceu relata, no livro “Tratado Doutrinário de Direito
Penal”69, que as regras da não comunicação são:
1ª) Não se comunicam as condições ou circunstâncias de caráter pessoal (de
natureza subjetiva), salvo quando elementares do crime.
2ª) Em caso de coautoria ou participação, os dados inerentes à pessoa de
determinado concorrente não se estendem aos fatos cometidos pelos outros
participantes.
3ª) A circunstância objetiva não pode ser considerada no fato do partícipe, se
não entrou na esfera de seu conhecimento.
4ª) A circunstância objetiva agravante não pode ser considerada em relação
ao partícipe, se não houve pelo menos culpa em relação a ela; cuidando-se de
qualificadora ou causa de aumento de pena (prevista na Parte Geral ou
Especial do CP), a agravação não alcança o partícipe senão quando (em
relação a ela) tiver agido, pelo menos, culposamente.
Isso significa que as circunstâncias subjetivas, por serem de caráter
estritamente pessoal, não se comunicam ao partícipe (mandante) e nem ao
eventual coautor. É o regime extraído do art. 30 do Código Penal, que dispõe:
“Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime”.

Os autores dissentem quanto a comunicação da circunstância


feminicídio de modo que Francisco Dirceu Barros filia-se ao
entendimento de que se trata de qualificadora subjetiva, portanto,
juridicamente incomunicável. Para Renee do Ó Souza, a qualificadora
é objetiva, razão pela qual poderá ser comunicada para o coautor ou
partícipe, desde que tenha ingressado na sua esfera de conhecimento.
CAPÍTULO 11
Protocolo de feminicídio

1 Noções gerais
Em Pernambuco, foi criado o “Protocolo de Feminicídio: Diretrizes
Estaduais para Prevenir, Investigar, Processar e Julgar as Mortes Violentas de
Mulheres com Perspectiva de Gênero”.
São um conjunto de medidas que vários setores da sociedade se
comprometeram em adotar com escopo de diminuir a violência contra as
mulheres.
Você pode receber o protocolo de feminicídio completo, com todas as
medidas propostas por várias entidades, enviando um e-mail para
fdirceub@gmail.com

2 As medidas que serão adotadas pelo Ministério


Público de Pernambuco

A violência doméstica e familiar contra a mulher é uma grave violação de


direitos humanos, derivada de uma cultura machista que representa o lugar
social da mulher como sendo a subordinação ao homem, as atividades de
cuidado no âmbito doméstico e familiar e a posição de objeto de desejo
sexual e posse pelo homem.
Feminicídio não é crime passional, tampouco “crime para lavar a honra”
ou “crime por amor”, e, sim, crime de ódio, misógino, decorrente da
desigualdade estrutural nas relações sociais e de poder entre homens e
mulheres, que resulta no controle sobre a vida e a morte das mulheres.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes de
mulheres alcança o patamar de 4,8 para cada 100 mil mulheres, considerando
que o Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093
pessoas morreram por sua condição de ser mulher, e que as mulheres negras
são ainda mais violentadas, que apenas entre 2003 e 2013, houve aumento de
54% no registro de mortes, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Que
muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros
(33,2%) que matam as mulheres.
Segundo o Atlas da Violência de 2018, em 2016, 4.645 mulheres foram
assassinadas no país, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada
100 mil brasileiras. Em dez anos, observa-se um aumento de 6,4%. Já no que
se refere a raça/cor, ainda em 2016, a taxa de homicídio de mulheres negras
(5,3) é maior que entre as não negras (3,1), resultando numa diferença de
71%. Em relação aos dez anos da série, a taxa de homicídios para cada 100
mil mulheres negras aumentou 15,4%, enquanto que entre as não negras foi
registrada uma queda de 8%. O Decreto Estadual nº 44.951/2017 institui o
Grupo de Trabalho Interinstitucional sobre Feminicídio – GTIF, para aplicar
no âmbito do Estado de Pernambuco as diretrizes nacionais para investigar,
processar e julgar, com perspectiva de gênero, as mortes violentas de
mulheres.
O Ministério Público de Pernambuco determina as seguintes Metas
de Combate à Violência contra a Mulher com foco na temática
Feminicídio, a serem cumpridas com empenho no âmbito institucional:

1. A edição e lançamento da cartilha “Mulher, vire a página”, a ser


compartilhada pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul, com
objetivo de disseminar informações sobre a aplicação da Lei Maria da
Penha e da temática Feminicídio, bem como fomentar uma reflexão sobre
o conceito de gênero a toda sociedade e no MPPE, envolvendo membros,
servidores e terceirizados no sentido de favorecer uma ressignificação dos
2. papéis historicamente aprendidos sobre o que é ser homem e mulher; A
realização, a cada dois (2) anos, de formação continuada sobre gênero
para todos os integrantes do Ministério Público de Pernambuco
(membros, servidores, terceirizados e à disposição), a ser promovida pelo
Núcleo de Apoio à Mulher do Ministério Público de Pernambuco e a
3. Escola Superior; A inclusão da temática da violência doméstica e familiar
contra a mulher, Lei Maria da Penha e Feminicídio, no conteúdo
programático dos concursos e seleções realizadas no âmbito do Ministério
4. Público de Pernambuco, para todos os cargos; A Elaboração, por meio de
comissão formada por Promotores de Justiça, atuantes nas Varas de
Violência Doméstica, Direitos Humanos e Tribunal do Júri, de Manual de
Atuação em Crime de Feminicídio, com orientações específicas que
visem à atuação eficiente na caracterização do crime de feminicídio a ser
5. realizada desde a fase investigatória até a fase recursal; A fiscalização,
junto ao Estado, para que ele realize uma investigação pronta e imparcial
sobre os fatos relacionados à violência de gênero a fim de que se apurem
as circunstâncias dos crimes, os motivos e os responsáveis e para que haja
um processo e julgamento livres de estereótipos e preconceitos, que não
deturpem a memória da vítima a fim de tentar justificar a violência
6. infligida; A realização de convênio com a Secretaria de Estado da
Educação para a implementação de conteúdo no currículo escolar sobre o
direito das mulheres, objetivando a prevenção do feminicídio e da
7. violência doméstica e familiar contra a mulher; A realização de Projeto,
através do Núcleo de Apoio à Mulher do Ministério Público de
Pernambuco (NAM-MPPE), com a finalidade preventiva de levar
informações aos ambientes escolares para promover a reflexão dos jovens
no sentido de não incorrerem nos crimes de violência doméstica e
familiar contra a mulher, seja como vítimas ou agressores, fornecendo-
lhes informações acerca dos seus direitos, promovendo discussão sobre o
entendimento da Lei Maria da Penha e da Lei de Feminicídio e
adentrando no tocante às medidas legais preventivas que podem ser
usadas para salvaguardar as mulheres da ocorrência de mais um crime
8. consumado de feminicídio em nosso Estado; Os membros ministeriais
com atuação na elaboração de denúncias de crimes tentados ou
consumados contra a vida humana, em caso de vítimas mulheres, deverão
analisar a possibilidade de se tratar de crimes relacionados às hipóteses de
Feminicídio, e, se fizer necessário, requisitar diligências específicas à
autoridade policial, a fim de que sejam produzidas provas pertinentes ao
9. fato; Os membros ministeriais, ao elaborarem as denúncias sobre
violência contra a mulher, devem verificar a incidência do objeto jurídico
tutelado no art. 129, § 9º, do Código Penal, que protege a “saúde de
outrem”, incluindo a lesão psicológica oriunda hodiernamente do sexismo
medieval, nas relações de íntimo afeto, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente ativo das relações domésticas e familiares, de coabitação e de
10. hospitalidade; Os membros ministeriais atuem, em seus misteres, na
divulgação da Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio perante a
população, informando os canais, instrumentos e equipamentos de
divulgação/denúncia (Polícia Civil, Ligue 180, Ministério Público) dos
11. fatos; Orienta-se, sem caráter vinculativo, os membros ministeriais, no
exercício de sua atuação funcional, a construção da tese de Feminicídio.
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Inquérito sobre a situação da violência contra a mulher no Brasil,
2013. p. 1004. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1.
Acesso em 17 out. 2015.
Índice Alfabético Remissivo
C
COMPETÊNCIA, - para julgar o homicídio no contexto do feminicídio, 47
- para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, 47

COMUNICAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS NO CONTEXTO DO


FEMINICÍDIO, 95

CONCEITO,
- de feminicídio:, 24
- jurídico de mulher para caracterização do feminicídio, 67

CONSEQUÊNCIAS DA HEDIONDEZ FEMINICISTA, 41

CRIME DE ABORTO VERSUS A MAJORANTE DO FEMINICÍDIO


COMETIDO DURANTE a gestação, 78
E
ESPÉCIES DE FEMINICÍDIO, 33
F
FEMINICÍDIO, - e competência, 47
- e neocolpovulvoplastia, 65
- e neocolpovulvoplastia: As implicações legais do conceito de mulher para
os fins penais, 65
- e o descumprimento das medidas protetivas previstas na Lei Maria da
Penha, 84
- e outras implicações legais, 75
- em uma estatística alarmante, 22
- terminologias, 23
- praticado por mulher, 84
- qualificadora subjetiva versus objetiva, 49
- versus crime passional – a questão do privilégio, 60
H
HEDIONDEZ,
- da qualificadora feminicista, 41
- feminicista, 41
M
MAJORANTE DO FEMINICÍDIO, 75, - e o princípio non bis in idem, 77

MEDIDAS QUE SERÃO ADOTADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DE


PERNAMBUCO, 97

MUTATIO LIBELI E A QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO, 81


N
NATUREZA DA QUALIFICADORA DE FEMINICÍDIO, 49

NEOCOLPOVULVOPLASTIA E O FEMINICÍDIO, 66
P
PERSECUÇÃO DO FEMINICÍDIO, 87

PRINCÍPIO DA IGUALDADE NO CONTEXTO DO FEMINICÍDIO, 43

PROTOCOLO DE FEMINICÍDIO, 97
- noções gerais, 97
Q
QUALIFICADORA, - feminicista e a violação do princípio da igualdade, 43
- ou crime?, 19

QUESITO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO, 83


R
RAZÕES DE GÊNERO OU POR RAZÕES DA CONDIÇÃO DE SEXO
FEMININO, 25
S
SOLUÇÕES DO CRITÉRIO BIOLÓGICO, 71
V
VIGÊNCIA E A IRRETROATIVIDADE DA QUALIFICADORA E DA
MAJORANTE DO FEMINICÍDIO, 78
1 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 11ª edição. Niterói: Editora Impetus,
2017. Página 484.
2 PIRES, Amom Albernaz. A natureza objetiva da qualificadora do feminicídio e sua
quesitação no Tribunal do Júri. Disponível em:
http://www.compromissoeatitude.org.br/a-natureza-objetiva-da-qualificadora-do-
feminicidio-e-sua-quesitacao-no-tribunal-do-juri-por-amom-albernaz-pires/. Acesso em
15 abr. 2019.
3 Lamentavelmente, a alteração legislativa não alcançou o Código Penal Militar que
também prevê o crime de homicídio no art. 205. De todo modo, adotada a lição de
Cícero Robson Coimbra Neves, ainda que um militar na ativa mate sua esposa, também
militar da ativa, se presentes as circunstâncias do feminicídio, o caso deverá encontrar
subsunção típica no Código Penal comum visto tratar-se de crime sem par no CPM
(NEVES, Cícero Robson Coimbra. Tipicidade dos crimes militares em tempo de
paz: proposta de subsunção de condutas após a lei nº 13.491/17. Revista do
Ministério Público Militar. Ano 43. n. 29. p. 63).
4 Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a situação da
violência contra a mulher no Brasil, 2013. p. 1004. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1.
Acesso em: 17 out. 2015
5 Para maiores dados sobre a violência contra a mulher sugere-se a leitura do Mapa da
Violência contra a Mulher 2018, editado pela Câmara dos Deputados. Disponível no
site da câmara dos deputados.
6 Fonte da pesquisa: http://www.tjrn.jus.br/index.php/comunicacao/noticias/8624-
aumento-da-pena-para-feminicidio-da-maior-protecao-a-mulher-avalia-conselheira-do-
cnj.
7 NOVAIS, Cesar Danilo Ribeiro de. A defesa da vida no Tribunal do júri. 2ª ed.,
Cuiabá: Carlini & Caniato. 2018. p. 103.
8 A utilização do termo femicídio ocorreu pela primeira vez em 1976, em julgamento
realizado perante o Tribunal Internacional de Crimes contra Mulheres na cidade de
Bruxelas. Na ocasião, entretanto, não houve grande repercussão no cenário jurídico.
Mas no ano de 1992, a expressão foi resgatada no trabalho produzido por Diana Russell
e Jill Radford, publicado em Nova York sob o título Femicide: The Politics of Woman
Killing, quando as autoras a utilizaram para evidenciar a não acidentalidade da morte
violenta de mulheres. (RADFORD, Jill; RUSSEL, Diana E. H. Femicide: The politics
of Woman Killing. New York: Twayne Publishers, 1992. Disponível em
http://www.dianarussell.com/f/femicde%28small%29.pdf).
9 A sutileza das expressões não permite confusão. “(…) todo feminicídio é um
homicídio, mas nem todo homicídio de mulher é um feminicídio. Explica-se: a morte,
ainda que violenta, de uma mulher decorrente, por exemplo, de um acidente de
trabalho, em nada se relaciona a sua condição de mulher. Portanto, para caracterizar a
qualificadora do feminicídio, deve-se atentar para especial motivação que move a
conduta contra o sujeito passivo: a condição de mulher. “Isto significa que o agente
feminicida, ou seus atos, reúne um ou vários padrões culturais arraigados em ideias
misóginas de superioridade masculina, de discriminação contra a mulher e de desprezo
a ela ou à sua vida”. (SOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ, Carlos Eduardo
Adriano. Direito penal: volume único. São Paulo: Atlas, 2018. p. 588).
10 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Mapa da Violência contra a Mulher 2018:
Feminicídio. p. 54. Disponível em https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/comissao-de-defesa-dos-direitos-da-
mulher-cmulher/arquivos-de-audio-e-video/MapadaViolenciaatualizado200219.pdf.
Acesso em 15 abr. 2019.
11 Misoginia compreende o ódio, desprezo ou repulsa ao gênero feminino e às
características a ele associadas, sejam mulheres ou meninas. Está diretamente ligada à
violência contra a mulher.
12 Para Carmem Hein de Campos, todavia, a alteração representa um retrocesso protetivo
porque “a expressão ‘razões da condição do sexo feminino’ revela uma redução legal
de conteúdo (dos estudos de gênero) e uma interferência religiosa. O problema está na
identificação das mulheres com o sexo, na fixação da identidade como algo biológico,
naturalista. Desta forma, as mulheres voltam a ser definidas em razão do sexo (ou de
sua condição de sexo) e não do gênero. Sendo assim, a definição não apenas fixa a
noção de mulher, como pretende deixar de fora uma série de sujeitas, cuja identidade
e/ou subjetividade de gênero é feminina. No entanto, pode-se perguntar em que
consistiria essa condição do sexo feminino. Por exemplo, uma mulher trans poderia
igualar-se em uma situação de violência feminicida àquela vivenciada por uma mulher
do sexo feminino? A resposta parece ser afirmativa. Nesse sentido, a restrição seria
inútil”. (DE CAMPOS, Carmen Hein. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-
feminista. Rio Grande do Sul: Sistema Penal & Violência, v. 7, n. 1, p. 103-115, 2015.
p. 111.). Ythalo Frota faz, todavia, uma importante observação de cunho prático e
indica a vantagem da fórmula adotada vez que “a redação final torna mais fácil a
compreensão do feminicídio pelos jurados e juízes leigos, dos quais não se exige
conhecimentos jurídicos e técnicos aprofundados. A expressão ‘gênero feminino’
poderia causar mais dificuldades no momento de explicar e perplexidades no momento
de compreender”. (LOUREIRO, Ythalo Frota. Conceito e Natureza Jurídica do
Feminicídio. Revista Acadêmica Escola Superior do Ministério Público do Ceará. p.
13 187.) BIANCHINI, Alice; GOMES, Luiz Flávio. Feminicídio: entenda as questões
controvertidas da Lei 13.104/2015. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal,
v. 16, n. 91, p. 9-30, 2015.
14 Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da
unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da
família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.
15 Art. 7º. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a
violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação
de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar,
a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida
como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
16 A proibição da discriminação contra a mulher e a adoção de sanções para os casos de
discriminação também fazem parte de compromisso internacional assumido pelo Brasil
quando ratificou a CEDAW. Consta no Art. II do documento internacional
mencionado: Artigo II. Os Estados Partes condenam a discriminação contra a mulher
em todas as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem
dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tal
objetivo se comprometem a: […]
b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as sanções cabíveis e
que proíbam toda discriminação contra a mulher.
17 SEGATO, Rita Laura. La escritura en el cuerpo de las mujeres asesinadas en
ciudad Juárez. Buenos Aires: Tinta Limón ediciones, 2013. p.31 e 37.
18 PASINATO, Wânia. “Femicídios” e as mortes de mulheres no Brasil. Cadernos pagu
(37), julho-dezembro de 2011, pp. 219-246. Disponível em
www.scielo.br/pdf/cpa/n37/a08n37.pdf. p. 242. Acesso em fev. 2015.
19 CASTRO, Ana Lara Camargo de. ‘The Politics Of Naming’: Gênero, Violência E
Feminicídio Nos Sistemas De Cooperação Internacional. Revista do Ministério Público
do Trabalho nº 11. V. 1, n.1 (abr. 2007). Campo Grande: PRT 24ª, 2007. p. 37.
20 SILVA, César Dario Mariano da. Primeiras impressões sobre o feminicídio – Lei nº
13.104/2015. São Paulo, 2015.
21 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial – Volume 2. 12ª ed. São Paulo:
Editora Método, 2019, p. 37.
22 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial – Volume 2. 12ª ed. São Paulo:
Editora Método, 2019, p. 38.
23 GRECO, Rogério. Direito Penal: Parte Especial – Volume 2. 16ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Impetus, 2019, p. 41.
24 A expressão é cunhada na obra seminal de Caio Márcio Loureiro que tem, dentre outros
significados, a necessidade de proteção plena da vida, mediante observação de todos os
meios admitidos em Direito material e processual, a fim de evitar desvios daquele
propósito inicial. (LOUREIRO, Caio Márcio. O princípio da Plenitude da Tutela da
Vida no Tribunal do Júri. Cuiabá-MT: Carlini & Caniato Editorial, 2017).
25 DE CAMPOS, Carmen Hein. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista.
Rio Grande do Sul: Sistema Penal & Violência, v. 7, n. 1, p. 103-115, 2015. p. 114.
26 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. O Princípio Constitucional da Igualdade. Belo
Horizonte: Editora Lê, 1990, p. 39 e 41.
27 VERAS, Érica Verícia Canuto de Oliveira. A Masculinidade no banco dos réus: um
estudo sobre gênero, sistema de justiça penal e aplicação da Lei Maria da Penha. Natal.
2018. p. 243.
28 SCHÜNEMANN, Bernd. Estudos de direito penal, processual penal e filosofia do
direito. Luís GRECO (coord.) São Paulo: Marcial Pons. 2013. p. 88.
29 BIANCHINI, Alice. A qualificadora do feminicídio é de natureza objetiva ou
subjetiva? Revista da EMERJ. Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 203-219, 2016. p. 204.
30 http://www.cezarbitencourt.adv.br/index.php/artigos/34-homicidio-discriminatorio-por-
razoes-de-genero. Acesso em 13 mai de 2019.
31 BIANCHINI, Alice. A qualificadora do feminicídio é de natureza objetiva ou
subjetiva? Revista da EMERJ. Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 203-219, 2016. p. 216.
32 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao
361) – Volume Único. 11ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2019, pg. 67
33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Comentários ao tipo penal do feminicídio
(art. 121, § 2º, VI, do CP). Disponível em:
http://www.dizerodireito.com.br/2015/03/comentarios-ao-tipo-penal-do.html. Acesso
em: 30 out. 2015.
34 BIANCHINI, Alice; GOMES, Luiz Flávio. Feminicídio: entenda as questões
controvertidas da Lei 13.104/2015. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal,
v. 16, n. 91, p. 9-30, 2015. p.
35 JESUS, Damásio de. Feminicídio: primeiras ideias. Carta Forense, edição de junho
2015, página A6.
36 CUNHA. Rogério Sanches. PINTO, Ronaldo Batista. SOUZA, Renee do Ó. Leis
penais especiais: comentadas artigo por artigo. 2ª ed. Salvador: JusPodivm, 2019. p.
1778.
37 BUSATO, Paulo César. Homicídio mercenário e causas especiais de diminuição de
pena. Um paradoxo dogmático. Cadernos do Júri, nº 3, 2015.
38 No mesmo sentido sustentam outros, a exemplo de Everton Luiz Zanella, para quem “A
primeira ilação obtida da análise do conceito jurídico de violência doméstica e familiar
é que, nessa vertente, a qualificadora tem natureza objetiva. Com efeito, embora a
disposição remeta à noção de motivação (“em razão da condição de sexo feminino”), as
definições incorporadas pela Lei Maria da Penha sinalizam contexto de violência de
gênero, ou seja, quadro fático-objetivo não atrelado, aprioristicamente, aos motivos
determinantes da execução do ilícito. (ZANELLA, Everton Luiz et al. Feminicídio:
39 Considerações Iniciais Do Cao-Criminal. São Paulo, jun. 2015. p. 5.) Que dispõe o
seguinte: Art. 70: 1º. São circunstâncias objetivas aquelas que dizem respeito à
natureza, à espécie, aos meios, ao objeto, ao tempo, ao lugar e a qualquer modalidade
da ação, à gravidade do dano ou do perigo, ou ainda, às condições ou às qualidades
pessoais do ofendido. 2º. São circunstâncias subjetivas as que se referem à intensidade
do dolo ou ao grau de culpa, ou às condições ou qualidades pessoais do culpado, ou às
relações entre o culpado e o ofendido, ou às inerentes à pessoa do culpado”.
40 LOUREIRO, Ythalo Frota. Conceito e Natureza Jurídica do Feminicídio. Revista
Acadêmica Escola Superior do Ministério Público do Ceará. p. 198.
41 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Rio de Janeiro: Vozes, 1977. p. 239.
42 ELUF, Luiza Nagib. A paixão no banco dos réus. Casos passionais célebres: de
Pontes Visgueiro a Pimenta Neves. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 158.
43 HUNGRIA, Nélson; FRAGOSO, Cláudio Heleno. Comentários ao Código Penal. vol.
V. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 152-153.
44 PIEDADE, Antonio Sergio Cordeiro. Teses atentatórias à dignidade da mulher e o
princípio da proporcionalidade na vertente da proibição da proteção deficiente.
Cadernos do Júri 3. Associação dos Promotores do Júri – Confraria do Júri. Organizado
por César Danilo Ribeiro de Novais. Cuiabá-MT: KCM Editora, 2015. p. 46.
45 ELUF, Luiza Nagib. A paixão no banco dos réus. Casos passionais célebres: de
Pontes Visgueiro a Pimenta Neves. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 165.
46 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. vol. 1. 28 ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 1991, p. 192.
47 No mesmo sentido: NEPOMUCENO, Cleide Aparecida. Transexualidade e o direito
a ser feliz como condição de uma vida digna. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9896.>.
Acesso em 13 mai de 2019.
48 MELLO, Adriana. O feminicídio e a Lei nº 13.104/2015. Revista Fórum de Ciências
Criminais – RFCC, Belo Horizonte, ano 2, n. 4, p. 221-227, jul./dez. 2015. p. 223.
49 GRECO, Rogério. Direito Penal: Parte Especial – Volume 2. 16ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Impetus, 2019, p. 44.
50 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao
361) – Volume Único. 11ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2019, ps. 66/67.
51 Fonte de pesquisa: DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a
justiça. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 4ª ed. rev. e atual. 2009, p. 231-
257.
52 In malam partem traduz-se, literalmente, como sendo “para o mal”. Sua aplicação é
frequente em linguagem jurídica para classificar a aplicação da analogia, i. e dos
costumes e princípios gerais do Direito, nos casos nos quais a lei é omissa.
53 BIANCHINI, Alice; GOMES, Luiz Flávio. Feminicídio: entenda as questões
controvertidas da Lei 13.104/2015. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal,
v. 16, n. 91, p. 9-30, 2015. p. 11.
54 SILVA, César Dario Mariano da. Primeiras impressões sobre o feminicídio – Lei nº
13.104/2015. São Paulo, 2015. p. 6.
55 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial – Volume 2. 12ª ed. São Paulo:
Editora Método, 2019, p. 37.
56 MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado: Parte Especial – Volume 2. 9ª
edição. São Paulo: Editora Método, 2016. p. 86.
57 idem.
58 JESUS, Damásio de. Feminicídio: primeiras ideias. Carta Forense, edição de junho
2015, página A6.
59 CUNHA. Rogério Sanches. PINTO, Ronaldo Batista. SOUZA, Renee do Ó. Leis
penais especiais: comentadas artigo por artigo. 2ª ed. Salvador: JusPodivm, 2019. p.
1823.
60 No mesmo sentido: AQUINO, José Carlos G. Xavier de; NALINI, José Renato.
Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1999.
61 Que segundo o art. 482 do CPP, devem ser redigidos em proposições afirmativas,
simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente
clareza e necessária precisão.
62 MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Especial – Volume 2. 12ª ed. São Paulo:
Editora Método, 2019, p. 42.
63 SUXBERGER, Antonio Henrique Graciano. O Direito nas políticas públicas: o
déficit de efetividade dos direitos é um problema normativo ou institucional? In:
CALHAO, Antônio Ernani Pedroso; MENEZES, Rafael Lessa Vieira de (Org.).
Direitos Humanos e Democracia: estudos em homenagem ao professor Vital Moreira.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 111-127 2018, p. 11.
64 ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Violência contra a mulher: consequências da
perspectiva de gênero para as políticas de segurança pública. Revista da Faculdade de
Direito UFPR, Curitiba, PR, Brasil, v. 62, n. 3, p. 103-132, set./dez. 2017. ISSN 2236-
7284. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/51841>. Acesso em 21
dez. 2017.
65 Por isso cabe o alerta feito pelo Enunciado nº 28 da COPEVID: Em casos de
feminicídio, é recomendável o requerimento pelo Ministério Público de medidas
protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha para a vítima sobrevivente,
testemunhas e vitimas indiretas, inclusive perante a Vara do Júri.
66 Vide Enunciado nº 27 da COPEVID: Durante o processo e julgamento de feminicídio,
o Ministério Público deve zelar para que seja preservada a imagem e a memória da
vítima de feminicídio, consumado ou tentado.
67 ÁVILA, Thiago Pierobom de. (Org). Guia de boas práticas de atuação do promotor
de justiça do júri em casos de feminicídio. Item 9. Relações de gênero e perspectivas
para a compreensão do feminicídio. 2016. Disponível em:
http://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/nucleos/nucleo_genero/Enunciados_Oficina_Feminic%C3%ADdio
_2016.pdf. Acesso 17 abr. 2019.
68 Para outras medidas a serem adotadas pelos membros do Ministério Público calha
remeter ao GUIA DE BOAS PRÁTICAS DE ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE
JUSTIÇA DO JÚRI EM CASOS DE FEMINICÍDIO editado pelo Ministério Público
Federal, disponível na rede mundial de computadores, através do site
http://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/nucleos/nucleo_genero/Enunciados_Oficina_Feminic%C3%ADdio
_2016.pdf.
69 BARROS, Francisco Dirceu. Tratado Doutrinário de Direito Penal. Leme: Editora
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"Urge ser inaugurada no Brasil a era da justiça criminal consensual". O


processo penal brasileiro é o mais moroso do mundo, os crimes graves
tornam lides eternizadas e os crimes pequenos e de médio potencial ofensivo
são sempre vocacionados a serem alcançados pela prescrição, gerando a
constante sensação de impunidade na sociedade brasileira. O acordo de não
persecução penal e o acordo de não continuidade da persecução penal tratam
de salutares medidas que têm como principal objetivo proporcionar
efetividade, elidir a capacidade de burocratização processual, proporcionar
despenalização, celeridade na resposta estatal e satisfação da vítima pela
reparação dos danos causados pelo acordante ou acusado. Novas ideias
sempre causam medo e divergências, isso é natural, porque o novo revela o
desconhecido e a constatação das nossas eternas ignorâncias. Estas podem ser
elididas, se tivermos a condição de antes de criticar o novo, formos capazes
de tentar conhecê-lo.

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Qual é o valor a ser dado à vontade da vítima de violência doméstica e


conjugal quanto ao processo criminal tendente à punição do seu agressor?
Pode ou deve esta vítima ter disponibilidade sobre ele, e em que grau? Essa é
a questão problemática que guia a presente pesquisa, contextualizada na
ampla conjuntura da violência de gênero, e instigada pelo comportamento
cambiante que muitas vítimas dessa violência apresentam: denunciam que
foram agredidas e, em seguida, pretendem que o procedimento penal não
mais prossiga e, atendida a pretensão, voltam a queixar-se de nova e idêntica
hostilidade. Nesse contexto, qual é o modelo ideal para a persecução penal
desta violência, ou seja, por meio de ação penal pública ou privada? Essa
questão é explorada a partir da dicotomia entre os princípios da oficialidade e
da oportunidade no trato dos crimes nascidos das relações conjugais. Além
disso, mas no mesmo contexto, são objeto de investigação os instrumentos de
solução de conflitos propostos pela justiça restaurativa, se eles têm
capacidade de ofertar respostas adequadas para os casos de violência
conjugal. Um dos parâmetros tomados em consideração na busca dessas
respostas são os efeitos, em especial de ordem psicológica, que a violência
conjugal impõe à vítima.
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A presente obra foi elaborada com a preocupação de se apresentar, de forma


clara e didática, a usucapião extrajudicial, conforme o artigo 216-A da Lei nº
6.015/73, as alterações trazidas pela Lei nº 13.465/17 e a regulamentação
dada pelo Provimento nº 65, do CNJ, de 14 de dezembro de 2017. Foi
abordado o instituto da usucapião em si, bem como os diversos aspectos da
usucapião extrajudicial, especialmente no que tange à ata notarial, ao
Provimento nº 65, do CNJ, às considerações tributárias e às questões práticas
a serem enfrentadas por notários, registradores e advogados no procedimento
extrajudicial da usucapião. Trata-se, portanto, de um conteúdo completo, que
abrange não somente questões doutrinárias, mas também as indagações de
ordem prática, de forma a auxiliar, de fato, os operadores do Direito a
compreenderem e realizarem o procedimento extrajudicial da usucapião.

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responsabilidades. Os traumatismos cranioencefálicos, os traumas do raque,
as lesões de Membros Superiores e Inferiores e algumas de abdome, mais as
manifestações psiquiátricas pós-trumáticas, formam o núcleo clínico de maior
interesse. O exame dos Procedimentos Diagnósticos por Imagens, além da
metodologia em Teletermografia e os Exames Práticos mais recentes (tipo
Flexiteste), formam o núcleo funcional. Por derradeiro, o autor, dedicado há
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apresentar-se como tabu na nossa área de atuação, em que o médico-legista
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Editora J.H. Mizuno aceitou o desafio de investir em uma área na qual
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Mizuno, então, não mediu esforços para, com a excelência de trabalho que
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