Navegação a Ciência e a Arte_Vol.1
Navegação a Ciência e a Arte_Vol.1
Navegação a Ciência e a Arte_Vol.1
A CIÊNCIA E A ARTE
VOLUME I
BRASIL
2023
a
2 Revisão Atualizada
Diretoria de Hidrografia e Navegação – Marinha do Brasil. 1996
M636
1996 Miguens, Altineu Pires
Navegação: a Ciência e a Arte. – 1. ed. rev. atual. –
Rio de Janeiro: DHN, 2019.
v. ; 30 cm.
Inclui Bibliografia.
ISBN – 85-7293-017-5
CDD 623.89
Navegação costeira, estimada e em águas restritas III
APRESENTAÇÃO À 1ª REVISÃO
ATUALIZADA
Passados 23 anos desde a publicação do Volume I do “NAVEGAÇÃO: A CIÊNCIA
E A ARTE”, organizado e escrito pelo CMG ALTINEU PIRES MIGUENS, o universo da na-
vegação marítima evoluiu consideravelmente, incorporando tecnologias nas áreas de posicio-
namento satelital, transmissão e armazenamento de dados e informações, cartografia digital,
sensoreamento remoto, entre outras.
Essa evolução tecnológica, por conseguinte, impôs a adoção de novos equipamentos
eletrônicos e a regulação de novas práticas para os seus diferentes empregos, em benefício da
arte da navegação, que, no entanto, se mantém única e atual quanto a ser a “arte de conduzir,
com segurança, um navio de um ponto a outro da superfície da terra”.
A DHN, em razão desses novos tempos e de ser, perante a comunidade marítima
brasileira, a responsável normatizadora pela correta e segura condução das atividades de
navegação em águas nacionais, além do seu papel como referência na área de conhecimento
da navegação aquaviária, exerceu a tarefa de coordenar a revisão, no que fosse pertinente, do
presente Manual de Navegação da MB.
Assim, no último trimestre de 2018, foi iniciada a revisão dos três volumes que com-
põem essa “epítome da navegação”, – classificação dada pelo autor na sua primeira edição
–, que contou com a colaboração de diversos componentes de organizações militares da MB,
tanto técnicas quanto educacionais, capitaneados sob o timão seguro e experiente do CMG
(RM1) ANTONIO RICARDO NUNES GUIMARÃES, instrutor dos cursos de aperfeiçoamen-
to e especialização de oficiais e praças HN.
Esta nova edição apresenta-se totalmente atualizada, revista e ampliada, mantendo
a estrutura da obra original. Dessa forma, a DHN sente-se honrada em lançar, um ano após
o início do processo de revisão, o Volume I – Navegação Costeira, Estimada e em Águas Res-
tritas.
Por fim, em reconhecimento aos esforços despendidos, a DHN agradece aos inúmeros
revisores e colaboradores que prestimosamente auxiliaram na grande tarefa de atualização
desta obra:
Há muito que a nossa Marinha ressente-se da falta de um Manual de Navegação, para uso a
bordo dos nossos navios, nos órgãos de ensino e adestramento e, também, para atender ao pú-
blico externo, isto é, aos navegantes da nossa Marinha Mercante, de Longo Curso, Cabotagem e
de Apoio Marítimo, e aos navegantes de pesca, esporte e recreio, que, cada vez mais, buscam
na MB fontes de consulta sobre navegação.
Depois do livro do Comandante Evandro Santos, “Navegação Estimada” (1924) e dos traba-
lhos posteriores do Almirante Guilhobel (1930) e do Comandante Newton Tornaghi (1945), pouco
se editou sobre navegação em nossa Marinha.
Todos estes fatores levaram ao consenso de que se fazia necessário para a Marinha dispor de
um “Manual de Navegação”, a exemplo do que fizeram outras nações, de igual ou menor porte
que a nossa.
Desta forma, submeti ao Diretor de Hidrografia e Navegação, em junho de 1993, a idéia de a DHN
publicar um Manual de Navegação, que me propus a organizar. O Manual consistiria, basicamente, na
compilação dos trabalhos anteriormente mencionados, atualizados e enriquecidos com elementos obtidos das
últimas edições das melhores obras disponíveis, como o AMERICAN PRACTICAL NAVIGA-
TOR (BOWDITCH), o DUTTON’S NAVIGATION AND PILOTING, o ADMIRALTY MANUAL
OF NAVIGATION, o MANUAL DE NAVEGAÇÃO DO INSTITUTO HIDROGRÁFICO DE
PORTUGAL, o COURS D’ASTRONOMIE–NAVIGATION DE L’ÉCOLE NAVALE e o MANUAL DE
A forma proposta para o livro foi a de um Manual, isto é, uma obra contendo apenas as
noções essenciais acerca dos assuntos, sem profundas considerações teóricas. Ademais, pretende-se
que o Manual seja, tal como o BOWDITCH, um “epítome da navegação”, ou seja, um resumo da
doutrina e do saber acumulado de navegação na nossa Marinha.
Há uma passagem no Livro de Isaías, em que o profeta faz referência ao povo que
habita uma terra onde há o roçar de muitas asas de insetos, que está muito além dos rios da
Etiópia e “que envia embaixadores por mar navegando em navios de papiro”.*
Este pode ser o registro mais remoto de viagem do homem pelo mar; provavelmente
ocorreu há uns cinco mil anos. Até hoje historiadores discutem, sem concordar, sobre a época
da la edição da Bíblia. De qualquer modo, este parece ser, pelo menos, o primeiro relato de
navegação que conhecemos, porque o homem mal havia começado a aprender a linguagem
escrita. Não há dúvidas de que ele vinha viajando pelos mares, muito antes disso.
A história das viagens do homem pelo mar é realmente muito antiga. O tema em si
não se inclui no escopo deste livro e tem sido objeto de muitas obras. Mas a evolução do ensino
de navegação é, obviamente, parte da história da navegação marítima.
No correr da primeira metade do Século XV, uma idéia tomava forma na mente de um
jovem príncipe, Infante de Portugal, terceiro filho do rei D. João I. Ele entrou para a história
como Henrique, o Navegante.
Dois anos depois de fundado esse conjunto, que ficou conhecido como Escola de Sagres,
os portugueses descobriram a ilha de Porto Santo e, a seguir, Madeira, Açores, Rio de Ouro,
Serra Leoa, Gâmbia e o Arquipélago de Cabo Verde. Quando Henrique faleceu em l460, os portu-
gueses haviam chegado ao Cabo de Palmas. Estava aberto o amplo caminho para expandir-se
a civilização do Ocidente.
* COLLINDER, Per. A History of Marine Navigation. B.T. Batsford Ltd Publishers. 4 Fitzhardin Street,
London W1. Great Britain, 1954.
Diz Churchill que a velha ordem política, econômica e social da Europa foi abalada em
suas bases. Embora pareça uma surpreendente ocorrência no século XVI, o principal flagelo
foi uma desenfreada inflação. Era uma insaciável fome por dinheiro para custear viagens,
novos empreendimentos, construções e novos métodos de governar. Os Estados tinham agora
braços estendidos por cima dos oceanos.
Mas, da mesma forma que acontece em nossos dias, a gestão de finanças era uma
tarefa apenas vagamente compreendida por governantes e pela maioria das pessoas. O caminho
mais fácil, adotado pelos reis empobrecidos – como alguns governantes de hoje – consistiu em
degradar suas moedas.
Nós, marinheiros brasileiros, temos uma dívida antiga com nosso genial antepassado
português, Henrique, o Navegante. Até hoje não tínhamos em nosso País um compêndio con-
solidando as experiências atualizadas da Arte de Navegar.
Tenho motivos para acreditar que o excelente Manual de Navegação, elaborado pelo
Comandante Altineu Pires Miguens – cujo primeiro volume “Navegação Costeira, Estimada e em
Águas Restritas”, ora é editado – constitui uma substancial amortização da dívida. Os muitos
de seus usuários vão conferir o fato, confirmá-lo e, certamente, contribuir para aperfeiçoar
novas edições. A vida é “quem” decide.
FERNANDO M. C. FREITAS
Vice-Almirante
Presidente da Fundação de Estudos do Mar
Sumário
1. O Problema Geral da Navegação 1-1
1.1. Definição 1-1
1.2. Planejamento da viagem 1-2
1.2.1. Avaliação 1-3
1.2.2. Plano de viagem 1-4
1.2.3. Execução 1-5
1.2.4. Monitoramento 1-5
1.3. Tipos e métodos de Navegação. Precisão requerida e intervalo de 1-6
tempo entre posições
1.4. A forma da Terra. A esfera terrestre 1-7
1.5. Principais linhas, pontos e planos do globo terrestre 1-10
1.6. A posição na Terra. Sistema de coordenadas geográficas 1-11
1.7. Distâncias na superfície da Terra. A milha náutica (ou milha marítima). 1-12
Ortodromia e loxodromia.
1.7.1. A milha náutica 1-12
1.7.2. Ortodromia e loxodromia 1-13
1.8 A direção no mar. Rumos e marcações. 1-14
1.9. A velocidade no mar 1-18
1.10. Outras unidades de medida utilizadas em Navegação 1-18
6.3.2. Posição por duas marcações de um mesmo objeto, tomadas com um 6-4
intervalo de tempo entre elas
6.3.3. Posição por duas marcações de objetos diferentes, tomadas com 6-6
intervalo de tempo entre elas
6.3.4. Posição por séries especiais de marcações sucessivas de um mesmo 6-7
objeto
1.1 DEFINIÇÃO
Entre as várias definições de navegação, uma que apresenta com precisão os principais
aspectos envolvidos na questão estabelece que “navegação é a ciência e a arte de conduzir um
veículo com segurança, dirigindo e controlando os seus movimentos, desde o ponto de partida
até o seu destino”. O veículo pode ser um navio ou embarcação, um submarino, uma aeronave,
uma espaçonave ou um veículo terrestre.
Da definição acima derivam as diversas formas da navegação: navegação marítima (de
superfície ou submarina), navegação aérea, navegação espacial e navegação terrestre. Outras
classificações, também aplicadas, especificam ainda mais o meio ambiente no qual o veículo
se desloca, surgindo daí categorias como navegação fluvial e navegação polar.
Este Manual aborda, basicamente, a navegação marítima de superfície, adotando a
seguinte definição:
Por sua vez, as Normas da Autoridade Marítima para Navegação e Cartas Náuticas
(NORMAM 28), estabelecidas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), dispõem que:
1.2.1 Avaliação
Com base na avaliação mais completa possível, um plano detalhado de viagem deve ser
preparado, o qual deve cobrir toda a derrota, de porto a porto.
O plano detalhado de viagem deve incluir os seguintes componentes:
a. o traçado da derrota pretendida da viagem em cartas náuticas de escala apropriada,
devendo ser indicadas todas as áreas de precaução e de perigo, as rotas de tráfego comuns de
navios mercantes, os esquemas de separação de tráfego, as áreas abrangidas pelos sistemas
de controle de tráfego e quaisquer áreas onde se aplicam restrições de navegação e de proteção
ambiental marinha, como as Areas To Be Avoided (ATBA)1;
b. os principais elementos para garantir a salvaguarda da vida humana no mar, a se-
gurança e eficiência da navegação e a proteção do meio ambiente marinho durante a viagem.
Tais elementos devem incluir, mas não se limitar a:
• velocidade de segurança, tendo em conta a proximidade de perigos para a nave-
gação ao longo da rota pretendida, as características de manobra da embarcação e o seu calado
em relação à profundidade disponível;
• alterações de velocidade necessárias durante a derrota, quando podem existir
limitações devido à passagem noturna, restrições de maré ou aumento do calado devido ao
efeito squat2;
• “folga abaixo da quilha” (FAQ), que é o espaço mínimo exigido sob a quilha em
áreas críticas, com profundidade restrita para a navegação, normalmente em canais portuários
e áreas de aproximação, definido e divulgado pela Autoridade Portuária local;
• posições na derrota onde uma mudança de velocidade do navio é necessária;
• pontos de guinada (mudança de rumo) na derrota, levando-se em consideração a
“curva de giro” do navio na velocidade planejada, bem como os efeitos esperados dos ventos,
das correntes e correntes de maré;
• o método e a frequência de determinação da posição, incluindo opções primárias
e secundárias, e a indicação das áreas onde a precisão da posição é crítica e a confiabilidade
máxima deve ser obtida;
• uso dos esquemas de tráfego obrigatório e dos serviços de tráfego de navios,
quando disponíveis;
• precauções relativas à proteção do meio ambiente marinho; e
• plano(s) de contingência como ação alternativa para colocar o navio em águas
seguras ou para prosseguir a um porto de refúgio ou ancoradouro seguro, em caso de emer-
gência que determine o abandono do plano de viagem, levando em consideração os dispositivos
e equipamentos de resposta a emergências em terra existentes e a natureza da carga e da
própria emergência.
Os detalhes do plano de viagem devem ser corretamente registrados, conforme for
apropriado, em meio físico e/ou digital, e o plano deve ser amplamente divulgado, de forma
1
Area To Be Avoided (ATBA) é uma área de limites definidos, representada na carta náutica, em que a navegação
é particularmente perigosa ou é excepcionalmente importante para evitar acidentes e que deve ser evitada por
todos os navios, ou por certas classes de navios, por razões de perigo excepcional ou fatores ecológicos e ambientais
especialmente sensíveis.
2
O efeito squat é o fenômeno hidrodinâmico pelo qual um navio movendo-se rapidamente em águas rasas cria
uma área de baixa pressão sob a quilha, fazendo-o aproximar-se mais do fundo que o esperado, resultando em
aumento do calado.
1.2.3 Execução
Tendo finalizado o plano de viagem, assim que a hora estimada de partida (Estimated
Time of Departure – ETD) e a hora estimada de chegada (Estimated Time of Arrival –
ETA) possam ser determinadas com razoável precisão, a viagem deve ser executada de acordo
com o planejamento estabelecido.
Iniciada a viagem, os seguintes fatores devem ser levados em consideração na execução
do plano:
a. a confiabilidade e as condições dos equipamentos empregados para a navegação
do navio;
b. os horários estimados de chegada em pontos críticos quanto à altura e à direção
das marés;
c. as condições meteorológicas (particularmente em áreas sabidamente afetadas por perí-
odos frequentes de baixa visibilidade), bem como as previsões de tempo, no transcurso da derrota;
d. as condições de luminosidade diurna ou noturna quando da aproximação e passagem
próxima a pontos de perigo à navegação, e quaisquer efeitos que tais condições possam causar
na precisão da determinação da posição; e
e. as condições de tráfego, especialmente em pontos focais de navegação, onde nor-
malmente são fixados esquemas de separação de tráfego.
É importante para o Comandante considerar se qualquer circunstância particular como,
por exemplo, a previsão de visibilidade restrita em uma área onde a determinação da posição
por meios visuais em um ponto crítico é uma característica essencial da navegação, introduz
um perigo inaceitável para a condução do navio e, portanto, se esse trecho da viagem deve
ser executado sob tais condições. O Comandante também deve considerar em quais pontos
específicos da viagem pode haver a necessidade de utilizar pessoal adicional no Passadiço/
Convés ou na Praça de Máquinas.
1.2.4 Monitoramento
O progresso do navio, de acordo com o plano de viagem, deve ser monitorado conti-
nuamente. Quaisquer mudanças feitas no plano devem ser baseadas nos conceitos dessas
diretrizes, formalmente registradas e amplamente disseminadas.
Embora existam várias outras classificações, algumas até mesmo muito sofisticadas, é
tradicionalmente reconhecido que a navegação apresenta três tipos principais, ou categorias
primárias, de acordo com a distância em que se navega da costa ou do perigo mais próximo,
como estabelecido na NORMAM 28/DHN:
Primeiramente o homem imaginou a Terra como uma superfície plana, pois era assim
que ele a via. Com o correr dos tempos, descobriu-se que a Terra era aproximadamente es-
férica. Na realidade, a superfície que a Terra apresenta, com todas as suas irregularidades
exteriores, é o que se denomina SUPERFÍCIE TOPOGRÁFICA DA TERRA e não tem
representação matemática.
Tentando contornar o problema da falta de representação matemática para a superfície
da Terra, concebeu-se o GEOIDE, que seria o sólido formado pela superfície do nível médio
dos mares, supondo-o recobrindo toda a Terra, prolongando-se através dos continentes (Figura
1.2). Dessa forma, o geoide é uma superfície equipotencial coincidente com o nível médio do
mar, mas que dada a heterogeneidade da crosta terrestre, ainda é uma superfície irregular
sem representação matemática.
3
Sistema de Navegação Global por Satélite (Global Navigation Satellite System - GNSS).
f = (a-b)/a
• achatamento (f)
• excentricidade (e)
e = √(a2 – b2)/a2
Internacional 1924 -
Elipsoide Internacional 1967 WGS84
Hayford
Vértice Córrego
Datum Vértice Chuá Geocentro da Terra
Alegre
4
Sistemas de referência são utilizados para descrever as posições de objetos. Quando é necessário identificar a posição
de uma determinada informação na superfície da Terra são utilizados os Sistemas de Referência Geodésicos.
Estes, por sua vez, estão associados a uma superfície que mais se aproxima da forma da Terra, e sobre a qual são
desenvolvidos todos os cálculos das suas coordenadas.
5
Um vértice geodésico é um marco fixo que indica uma posição cartográfica exata e forma parte de uma rede de
triangulação com outros vértices geodésicos.
6
O ponto datum é o ponto de referência a partir do qual a representação gráfica dos paralelos e meridianos, e
consequentemente de todo o resto que for desenhado na carta náutica, está relacionada e é proporcional.
MERIDIANOS: são os círculos máximos que contêm os polos da Terra, como os repre-
sentados na Figura 1.6, sendo o principal o MERIDIANO DE GREENWICH (em destaque).
Os meridianos marcam a direção N–S.
A distância entre dois pontos na superfície da Terra é a separação espacial entre eles,
expressa pelo comprimento do menor arco de círculo máximo que os une. Em navegação, as
distâncias são normalmente medidas em milhas náuticas.
MILHA NÁUTICA (ou MILHA MARÍTIMA) é o comprimento do arco de meridia-
no que subtende um ângulo de 1 minuto cujo vértice posiciona-se no centro da Terra. Mais
resumidamente, pode-se definir a milha náutica como sendo o comprimento do arco de 1’ de
Latitude. Contudo, o comprimento do arco de meridiano correspondente a um ângulo de 1’
no centro da Terra varia ligeiramente com o lugar, uma vez que a Terra não é perfeitamente
esférica. Dado, porém, o interesse de uma unidade de valor constante, fixou-se, por um Acordo
Internacional (1929), o valor da milha náutica em 1.852 metros, independentemente da
Latitude do lugar. Pode-se, então, definir uma milha náutica como o comprimento do arco de
um minuto de meridiano terrestre e dizer que seu valor é de 1.852 metros.
Devido ao problema das deformações em Latitude apresentadas nas Cartas de Mercator
(Latitudes Crescidas), as distâncias nestas cartas devem ser sempre medidas na escala das
Latitudes (1 minuto de Latitude é igual a 1 milha).
Embora a menor distância entre dois pontos na superfície da Terra seja uma orto-
dromia – que é o arco do círculo máximo que passa por dois pontos –, em navegação é quase
sempre mais conveniente navegar por uma loxodromia, isto é, por uma LINHA DE RUMO,
na qual a direção da proa do navio corta todos os meridianos sob um mesmo ângulo.
Um navio (ou embarcação) governa seguindo um RUMO, que pode ser definido como
o ângulo horizontal entre uma direção de referência e a direção para a qual aponta a proa do
navio, ou seja, é o ângulo horizontal entre uma direção de referência e a proa do navio. Os
rumos são medidos de 000º a 360º, no sentido do movimento dos ponteiros de um relógio, a
partir da DIREÇÃO DE REFERÊNCIA
(Figura 1.11). Figura 1.11 – Rumo
• RUMOS PRÁTICOS: Rp
• RUMO NO FUNDO: Rfd
A precisão adotada é de 0,5º. Um rumo deve ser sempre escrito com três algarismos em
sua parte inteira. Exemplos: 045º; 072º; 180º; 347,5º; 233,5º.
MARCAÇÃO é o ângulo horizontal entre a linha que une o ponto no navio, a partir do
qual se faz a observação do objeto marcado, e um outro objeto em uma determinada Direção
de Referência.
Esta Direção de Referência pode ser:
• NORTE VERDADEIRO (ou GEOGRÁFICO)
• NORTE MAGNÉTICO
• NORTE DA GIRO
• NORTE DA AGULHA
• PROA DO NAVIO
Conforme seja a Direção de Referência, a marcação será denominada:
• MARCAÇÃO VERDADEIRA
Figura 1.14 – Marcação Verdadeira
(M ou Mv): é o ângulo horizontal entre o
Norte Verdadeiro e a linha que une o ponto
de observação no navio ao objeto marcado,
medido de 000º a 360º, no sentido do movi-
mento dos ponteiros de um relógio, a partir
do Norte Verdadeiro (Figura 1.14). Ela é
obtida a partir do documento cartográfico ou
da leitura da Agulha Giroscópica combinada
a seu desvio.
• MARCAÇÃO MAGNÉTICA
(Mmg): é o ângulo horizontal entre o Norte
Magnético e a linha que une o ponto de ob-
servação no navio ao objeto marcado, medido
de 000º a 360º, no sentido horário, a partir
do Norte Magnético. É obtida a partir do
documento cartográfico ou da leitura da Agulha Magnética combinada a seu desvio.
• MARCAÇÃO DA GIRO (Mgiro): ângulo horizontal entre o Norte da Giro e a linha
que une o ponto de observação no navio ao objeto marcado, medido de 000° a 360°, no sentido
horário, a partir do Norte da Giro, desviado do Norte Verdadeiro.
• MARCAÇÃO DA AGULHA (Mag): é o ângulo horizontal entre o Norte da Agulha
e a linha que une o navio ao objeto marcado, medido de 000º a 360º, no sentido horário, a partir
do Norte da Agulha, desviado do Norte Magnético de acordo com a Curva de Desvio da Agulha
Magnética.
• MARCAÇÃO RELATIVA (Mr): é o ângulo horizontal entre a Proa e a linha que
une o ponto de observação no navio ao objeto marcado, medido de 000º a 360º, no sentido ho-
rário, a partir da Proa. Na Figura 1.15, tem-se as Marcações Relativas do ponto A (135º), do
ponto B (180º), do ponto C (270º) e do ponto D (340º). Somando-se o Rumo à Marcação Relativa
Tal como os Rumos, as Marcações também devem ser sempre escritas com três algaris-
mos em sua parte inteira. A aproximação a ser usada também é de 0,5º. Exemplos: M = 082º;
M = 033,5º; M = 147º.
MEDIDAS DE DISTÂNCIAS:
• 1 jarda = 3 pés = 0,914 metro
Na realidade, 1 milha náutica tem 2.025,37 jardas. Entretanto, de modo aproximado,
muitas vezes considera-se, em navegação, 1 milha = 2.000 jardas.
• 1 amarra (cable) = 100 braças = 200 jardas = 183 metros
MEDIDAS ANGULARES:
Além do uso da medida angular em GRAU, é também tradicional, em outras
Marinhas, o uso do PONTO (POINT), principalmente em relação à proa. O PONTO corres-
ponde à trigésima segunda parte do círculo e, portanto, a 11,25°.
MEDIDAS DE PROFUNDIDADES:
• 1 metro = 3,281 pés = 1,09 jarda = 0,55 braça
• 1 pé = 12 polegadas = 0,3048 metro
• 1 braça = 2 jardas = 6 pés = 1,83 metro
1
Escala é uma relação entre o tamanho real de algo e sua representação física, seja num documento em papel
ou num ambiente digital. Dessa forma, pode-se dizer que cartas de pequena escala são aquelas que apresentam
poucos detalhes geográficos, em detrimento da representação de uma grande área, como uma carta geral do mun-
do. Por outro lado, as cartas de grande escala são aquelas que apresentam uma grande quantidade de detalhes
geográficos, onde são representadas pequenas áreas, como baías, ilhas, portos e canais, como as cartas náuticas
de aproximação de portos.
A projeção é então dita plana, quando a superfície de projeção é um plano. Esse plano
poderá ser tangente ou secante à superfície da Terra. A projeção plana é geralmente chamada
azimutal, em virtude de os azimutes em torno do ponto de tangência serem representados sem
deformações. As projeções azimutais são também chamadas zenitais.
A projeção por desenvolvimento é aquela em que a superfície de projeção é uma su-
perfície desenvolvível. De acordo com a natureza dessa superfície desenvolvível, as projeções
desse tipo classificam-se em cônicas, cilíndricas e poliédricas.
Incluídas no grupo das projeções cônicas estão as projeções policônicas. Nestas, em vez
de apenas um cone, a superfície de projeção adotada compõe-se de diversos cones tangentes à
superfície da Terra.
Os sistemas de projeções são também classificados de acordo com a situação da superfície
de projeção. Essa classificação é feita, no caso das projeções planas ou azimutais, de acordo
com a posição do plano de projeção e do ponto de tangência ou polo da projeção; e, no caso das
projeções por desenvolvimento, segundo a posição do eixo da superfície cônica ou cilíndrica,
conforme apresentadas na Figura 2.3.
A Figura 2.4 apresenta um sumário das diversas classificações dos sistemas de projeções.
De maneira geral, as projeções são mais conhecidas pelos nomes de seus autores do que
propriamente pelas designações de suas propriedades ou de suas classificações. Isto acontece,
principalmente, com as projeções analíticas e convencionais.
É, por exemplo, o caso da projeção cilíndrica equatorial conforme, mais conhecida como
Projeção de Mercator; e da projeção azimutal equivalente, conhecida como Projeção Azimutal
de Lambert.
Convém, entretanto, se desejarmos estabelecer uma regra para designar os diferentes
tipos de projeções, especificando suas características, mencionar seus elementos na seguinte
ordem:
a. natureza da superfície de projeção adotada (plano, cilindro ou cone);
b. situação da superfície de projeção em relação à superfície da Terra; e
c. classificação da projeção quanto à propriedade que conserva.
Desse modo, dir-se-á: projeção cônica normal equidistante meridiana; projeção plana
polar gnomônica; projeção cilíndrica transversa conforme; etc.
Conforme já visto, a menor distância entre dois pontos na superfície da Terra (consi-
derada esférica para os fins comuns da navegação) é o arco de círculo máximo que os une, ou
seja, uma ortodromia.
A navegação sobre uma ortodromia, porém, exige constantes mudanças de rumo, pois
os arcos de círculo máximo formam ângulos variáveis com os meridianos. A utilização da agu-
lha náutica obriga os navegantes a percorrer, entre dois pontos na superfície da Terra, não
a menor distância entre eles, mas uma linha que faz um ângulo constante com os sucessivos
meridianos, igual ao seu azimute. Esta linha é o rumo, a loxodromia ou curva loxodrômica.
A Figura 2.5 apresenta a ortodromia e a loxodromia traçadas na Esfera Terrestre entre
os pontos 1 e 2. A ortodromia (círculo máximo) representa, assim, a menor distância entre
os referidos pontos, mas forma com os sucessivos meridianos ângulos diferentes (A ≠ B ≠ C ≠
D), enquanto a loxodromia, embora não seja a menor distância entre os pontos, corta todos os
meridianos segundo um mesmo ângulo (R), que é igual ao rumo entre os pontos 1 e 2.
Uma vez que a projeção é conforme, ela deve conservar as formas em áreas pequenas.
Assim, tem-se que esticar agora verticalmente o setor, até que as elipses retornem novamente
à forma circular, o que se apresenta no esboço C.
Pode-se notar que, uma vez que a parte Norte do setor foi mais distendida que a Sul,
o círculo superior ficou com um diâmetro sensivelmente maior que o inferior.
Assim, na Projeção de Mercator, à medida que a latitude cresce, os arcos de paralelos
vão sendo aumentados numa razão crescente, com os arcos de meridiano sofrendo aumentos
na mesma proporção (para que seja mantida a condição de conformidade). Nasce daí, então,
um conceito muito importante, que é o de latitude crescida.
LATITUDE CRESCIDA, correspondente a um determinado paralelo, é o comprimento do
arco de meridiano compreendido entre a projeção do paralelo considerado e o Equador, tomando-se
para unidade de medida o comprimento do arco de 1 minuto do Equador (1 minuto de Longitude).
Ademais, numa Carta de Mercator a escala das Longitudes é constante, mas, como
visto, a escala das Latitudes cresce à medida que a Latitude aumenta. Desse modo, a escala
da Carta varia na razão da Latitude e, desta forma, as distâncias só serão verdadeiras se
forem lidas na escala das Latitudes. Este é um cuidado fundamental a ser observado na
utilização de uma Carta Náutica na Projeção de Mercator.
2
“Transformada”, em Geometria, é a curva deduzida de outra, segundo determinada lei. Na presente situação, a
transformada do meridiano é a representação de um meridiano qualquer (que é um círculo máximo) no plano da
projeção de Mercator como uma “curva” reta.
ponto. Ademais, a projeção não é conforme, nem equivalente. As distorções são tão grandes
que as formas, as distâncias e as áreas são muito mal representadas, exceto nas proximidades
do ponto de tangência.
A Figura 2.12a, onde está representado um reticulado da projeção gnomônica, com
ponto de tangência no Recife, ilustra as deformações apresentadas pela projeção. Podem
ser comparadas as diferenças de formas, áreas e dimensões entre dois retângulos de mesmo
tamanho na superfície da Terra, um situado relativamente próximo do ponto de tangência e
outro bem afastado desse ponto.
(a) (b)
(a) (b)
ou vindos dela tornam-se aparentes. Ademais, pode-se determinar facilmente a direção para
a qual deve ser orientada uma antena de transmissão rádio. Essa projeção é, também, usada
na construção de cartas polares e do Identificador de Estrelas (Star Finder and Identifier) que
será apresentado no Volume 2.
A projeção policônica é muito usada em Atlas (Figura 2.21b). Entretanto, como não é
conforme, não é costumeiramente utilizada em navegação.
a) b)
Como a área de deformação mínima nesta projeção ficará próxima ao meridiano de tan-
gência, a Projeção Transversa de Mercator torna-se útil para cartas que abrangem uma grande
faixa de Latitudes e uma faixa estreita de Longitudes de cada lado do meridiano de tangência
(Figura 2.23a) ou para cartas de regiões polares (Figura 2.23b). Além disso, é usada, algumas
vezes, em cartas celestes que apresentam a configuração do céu nas várias estações do ano.
(a) (b)
A Figura 2.24 compara as três projeções mais utilizadas em Cartografia Náutica, con-
siderando os principais aspectos de interesse ao navegante.
3
Na realidade, as ENCs não são vendidas e sim licenciadas para uso pelo Distribuidor, com validade de emprego
por um determinado tempo, conforme contrato estabelecido.
EXEMPLOS:
1. Com que comprimento gráfico seria representada uma distância de 500 metros em
uma carta na escala de 1:100.000?
2. Com que comprimento gráfico seria representada a mesma distância de 500 metros
em uma carta na escala de 1:25.000?
1 mm → 25.000 mm = 25 m 500
→ x= = 20 mm
x mm → 500 m 25
3. Quanto mede no terreno, em metros, uma dimensão cujo valor gráfico, medido sobre
uma carta na escala de 1:25.000, é 15 milímetros?
1 mm → 25.000 mm = 25 m
→ x = 25 m x 15 = 375 m
15 mm → xm
Quanto maior a escala de uma carta, mais detalhada pode ser a representação do
trecho da Terra por ela abrangido. A escala deve ser determinada pelo tipo de navegação pre-
tendido, a natureza da área a ser coberta e a quantidade de informações a serem mostradas.
Várias classificações para escala são empregadas, tais como: “pequena” escala, “média” escala
e “grande” escala. Estas classificações têm por finalidade indicar o tipo de carta, mais do que
propriamente a escala real, que poderá variar de área para área.
Assim, conforme a publicação S-4 – Regulations of the IHO for International (INT)
Charts and Chart Specifications of the IHO, da OHI, tem-se:
Como norma, sempre que uma determinada área for abrangida por cartas náuticas em
escalas diversas, deve-se navegar na carta de maior escala, que apresentará sempre maior grau
de detalhe na representação tanto do relevo submarino como da parte emersa. Além disso, na
plotagem da posição do navio na carta, a um mesmo erro gráfico podem corresponder desde
algumas dezenas de metros, na carta de maior escala, até muitos décimos de milha, na carta de
menor escala, o que é muito importante, principalmente nas proximidades da costa ou de perigo.
Com relação à produção das ENC, da mesma forma, uma escala é designada para a
sua construção de acordo com a natureza da fonte dos dados sobre os quais são baseadas. Elas
também são alocadas para uma faixa de propósito de navegação relacionada com esta fonte.
Essa condição é análoga a uma série de cartas em papel cobrindo a mesma área, variando de
“cartas de pequena escala” para “planos de grande escala”. De acordo com a publicação S-65 –
Electronic Navigational Charts (ENCs) – Production, Maintenance and Distribution
Guidance, da OHI, há seis faixas diferentes de propósitos de navegação (as variações de escala
são apenas indicativas), como mostrado a seguir:
Em razão dos critérios de classificação das cartas náuticas pelas escalas que elas abran-
gem, como acima apontados, as cartas náuticas em papel e as ENC publicadas pela DHN são
designadas, conforme o III Plano Cartográfico Náutico Brasileiro, como:
a. Reticulado
Em uma Carta de Mercator, o conjunto dos meridianos e paralelos é denominado re-
ticulado. Ao longo dos meridianos extremos da carta está representada a escala de latitudes
(onde devem ser sempre medidas as distâncias). Ao longo dos paralelos superior e inferior da
carta está representada a escala de longitudes.
b. Título
O título da Carta Náutica traz informações importantes, que devem ser lidas com
atenção. Os elementos do título são apresentados na seguinte ordem, conforme apresentado
na Figura 2.25:
1. Área geográfica geral e trecho da costa em que se situa a área representada na Carta.
Para efeitos de Cartografia Náutica, a costa do Brasil é dividida em:
• COSTA NORTE: do Cabo Orange ao Cabo Calcanhar;
• COSTA LESTE: do Cabo Calcanhar ao Cabo Frio; e
• COSTA SUL: do Cabo Frio ao Arroio Chuí.
Na Figura 2.25, que apresenta o título da Carta Náutica Nº 21100 (INT 4194), a área
geográfica geral é o “BRASIL”, e o trecho da costa representado na carta situa-se na “COSTA
NORTE”.
2. Referência geográfica específica, que consiste na descrição da área representada na
Carta, do Norte para o Sul. Na Figura 2.25: “DO CABO ORANGE À PONTA TUCUMÔ.
3. Unidade de medida das profundidades: “PROFUNDIDADES EM METROS”.
4. Escala natural e paralelo de referência: “ESCALA 1:300.000 (3º 30’)”. A escala na-
tural da carta náutica é mostrada no título, acompanhada do valor do paralelo de referência,
que normalmente corresponde à Latitude Média do trecho abrangido pela Carta. Como visto,
a escala natural só é realmente verdadeira ao longo do paralelo de referência, que, assim, é o
único representado sem deformação na Carta.
5. Novamente retorna à informação sobre a unidade de medida das profundidades,
mas agora com a menção genérica ao “datum vertical” usado na carta: “Profundidades em
metros reduzidas aproximadamente ao nível da baixa-mar média de sizígia”. Nas
Também podem constar das Cartas Náuticas informações sobre marés e correntes,
como mostrado, a título de exemplo, na Figura 2.27. Tais informações são importantes para o
planejamento e a condução da navegação e serão detalhadamente estudadas no Capítulo 10.
e. Rosa-dos-Ventos ou Rosa-dos-Rumos
f. Auxílios à
Navegação
(alternating); FI. (flashing); e WWR (white white red). Na carta 1501, exclusivamente nacional,
as informações encontram-se em português. Por sua vez, algumas informações sobre os faróis
poderão ser omitidas à medida que a escala da carta diminui. Na Figura 2.29, observa-se que
a informação sobre a altitude do foco (101m) não é apresentada na carta de menor escala, a
21070 (INT2008).
Figura 2.29 – Características das luzes do Farol da Ilha Rasa, como infor-
madas nas cartas náuticas em papel
A parte terrestre de uma carta náutica representa o contorno da linha de costa (a li-
nha de contorno corresponde à preamar), ilhas, curvas de nível, altitudes, pontos notáveis à
navegação (acidentes naturais e artificiais), toponímia, instalações portuárias (cais, píeres,
trapiches, enrocamentos, docas, molhes, etc.) e outras informações de interesse da navegação.
É importante notar que uma carta náutica não é uma carta topográfica, cuja finalidade
é representar, com o máximo rigor de detalhes, uma área terrestre. Desta forma, só devem ser
representados na parte terrestre da carta náutica os detalhes que realmente interessem aos
navegantes, com o cuidado de que o excesso de informações topográficas não oculte ou dificulte
a visualização dos detalhes ou dados relevantes à navegação.
Nas cartas com escala menor que 1:750.000 e nas cartas onde a apresentação de in-
formações magnéticas dentro das rosas se mostrar impraticável, devido à rápida sucessão
de linhas isogônicas ou à irregularidade da sua configuração, as informações magnéticas são
representadas por linhas de igual declinação magnética (curvas isogônicas), a intervalos de
1º, 2º ou 3º. Estas linhas são rotuladas com o valor da declinação e sua variação anual.
I – DIAGRAMAS DE LEVANTAMENTOS
Todas as cartas náuticas com escala de 1:500.000 e maiores devem conter um Diagrama
de Levantamentos que indique aos navegantes os limites, as datas, as escalas e outras infor-
mações sobre os levantamentos que deram origem à carta.
Um exemplo de Diagrama de Levantamentos simplificado pode ser visualizado na
Figura 2.26, já apresentada. Por sua vez, um Diagrama de Levantamentos completo pode ser
visualizado na Figura 2.32, referente à Carta 1512 – Porto do Rio de Janeiro.
Os Diagramas de Levantamentos devem ser utilizados na fase de planejamento da der-
rota, especialmente para planejar passagens através de águas desconhecidas pelo navegante.
Sua finalidade é orientar os navegantes quanto ao grau de confiança que devam depositar na
adequação e precisão das profundidades e posições cartografadas.
b. acurácia da profundidade; e
c. cobertura do fundo do mar (certeza da detecção de características significativas).
As categorias ZOC mais altas, A1 e A2, exigem ensonificação ou varredura total do
fundo do mar e padrões de acurácia muito altos que só foram alcançados em razão de uma
tecnologia disponível a partir de 1980. Portanto, muitas rotas marítimas que até agora foram
consideradas como adequadamente pesquisadas podem apresentar uma Classificação ZOC B.
Pode-se esperar que os levantamentos modernos de áreas críticas carreguem a classificação
ZOC A2, enquanto o ZOC A1 cobrirá apenas as áreas pesquisadas sob condições excepcional-
mente rigorosas, por razões muito especiais.
A Figura 2.33 apresenta um modelo de Diagrama de Confiança (ZOC), que é utilizado
como exemplo na publicação S-4 da OHI.
A DHN só emprega os Diagramas ZOC nas cartas digitais (ENC).
k. Símbolos e Abreviaturas
As ENC, como já visto, são categorizadas de acordo com seu propósito de uso, que guarda
correlações com as escalas das cartas em papel. A publicação S-57 (IHO Transfer Standard for
Digital Hydrographic Data) da OHI, que descreve a estrutura de dados utilizada pelas ENC,
estabelece os seguintes propósitos de uso para as cartas náuticas eletrônicas:
1 – Oceânica;
2 – Geral;
3 – Costeira;
4 – Aproximação;
5 – Porto; e
6 – Atracação.
A nomenclatura dos arquivos das ENC é composta da seguinte forma: AAPXXXXX, onde:
AA – é o código da agência produtora, definido na publicação S-66 (List of Data Producer
Codes) da OHI. No caso do Brasil, é utilizado o código BR;
P – propósito de uso (de 1 a 6), conforme apresentado acima; e
XXXXX – 5 caracteres alfanuméricos. No caso das ENC brasileiras, os caracteres são
associados à numeração das respectivas cartas em papel e/ ou planos, sempre que possível.
São exemplos:
Office (UKHO). Como a concepção da RNC consiste de um arquivo digital similar ao de uma
carta náutica, na sua versão em papel, ela não é considerada uma “carta inteligente”, como a
ENC, não permitindo, por exemplo, o operador interagir com seus elementos. Além disso, para
qualquer tipo de alteração, visando à sua atualização, é necessária a substituição do arquivo
digital da RNC, como um todo, ou a alteração de parte da imagem no arquivo digital, através
de instruções, envolvendo arquivos “pesados” e ações não muito simples de serem executadas.
Deve-se observar que as cartas náuticas digitais oficiais, seja ENC, IENC ou RNC,
requerem a existência de um Sistema Eletrônico de Exibição de Cartas Náuticas, para que
as informações nelas inseridas possam ser visualizadas. Assim, um Sistema Eletrônico de
Exibição de Cartas Náuticas é um equipamento eletrônico que, basicamente, opera por meio
da integração de diversas informações, entre as quais as recebidas por um sistema de posicio-
namento eletrônico (como os satelitais GPS e GLONASS) e as existentes nas cartas náuticas
digitais, possibilitando a visualização da navegação, em tempo real, em um monitor (display).
Dentre os Sistemas Eletrônicos de Exibição de Cartas Náuticas existentes, destacam-se:
a) Sistema Eletrônico de Apresentação de Cartas e Informações / Electronic
Chart Display and Information System (ECDIS) – é um sistema, certificado periodicamen-
te, utilizado para integrar as informações necessárias à navegação às informações das ENC.
O Sistema Eletrônico de Cartas Náuticas (System Electronic Navigational Chart - SENC)
constitui-se no seu banco de dados interno, onde são armazenadas as ENC, suas atualizações
e outras informações. Caso um trecho da derrota não disponha de ENC, o ECDIS poderá apre-
sentar uma RNC, passando a operar no modo Raster Chart Display System (RCDS). O ECDIS
cumpre especificações estabelecidas por resoluções da Organização Marítima Internacional
– OMI (Intenational Maritime Organization – IMO) e seu emprego, conforme especificado na
SOLAS4; e
b) Sistemas de Cartas Eletrônicas / Electronic Chart System (ECS) – são sistemas
de navegação genéricos, que não cumprem as especificações estabelecidas pela IMO. Existem
quatro classes de ECS, cujos requisitos são estabelecidos pela Radio Technical Commission for
Maritime Services (RTCM): A, B, C e D. Os padrões RTCM para um ECS contemplam quatro
classes, que variam de acordo com seus níveis de funcionalidade. São eles:
1. RTCM ECS classe A: destinam-se à operação como back-up de um ECDIS e como
auxílio à navegação para navios que operam em áreas marítimas. Devem exibir informações
de cartas náuticas digitais e possuir a capacidade de planejamento, monitoramento e gravação
de uma viagem;
2. RTCM ECS classe B: destinam-se à operação como auxílio à navegação para navios
que operam em áreas marítimas. Não são obrigados a ter todas as capacidades de navegação
de um ECS classe A, mas devem exibir informações de cartas náuticas digitais e possuir a
capacidade de planejamento, monitoramento e gravação de uma viagem;
3. RTCM ECS classe C: destinam-se à plotagem e ao monitoramento da posição dos
navios que geralmente operam em águas interiores. Não são obrigados a ter todas as capa-
cidades de um ECS classe B, como o planejamento e o monitoramento de uma viagem, mas
devem exibir informações de cartas náuticas digitais; e
4
SOLAS - International Convention for the Safety of Life at Sea, 1974/1988. A Convenção Internacional
para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar tem por propósito estabelecer os padrões mínimos para a construção
de navios, para a dotação de equipamentos de segurança e proteção, para os procedimentos de emergência e para
as inspeções e emissão de certificados.
4. RTCM ECS classe D: destinam-se à plotagem da posição dos navios que operam em
águas interiores. Não são obrigados a ter todas as capacidades de um ECS classe C, ou ainda
de planejar uma viagem e de monitorar a posição do navio. Por outro lado, devem exibir in-
formações de cartas náuticas digitais e possuir a capacidade de plotar a posição do navio.
quando as sondagens indicam pouca água e o resto da carta mostra a existência de pedras e
altos-fundos, esses espaços em branco devem ser considerados como suspeitos.
Por conseguinte, as linhas de sondagem devem sempre ser consideradas como represen-
tando o relevo submarino apenas nas suas proximidades imediatas, exceto nas cartas náuticas
mais recentes, sondadas com o uso de ecobatímetro multifeixe ou sonar de varredura lateral,
onde o fundo marinho pode chegar a ter 100% de ensonificação em toda a área sondada.
Qualquer nota inserida na Carta Náutica deve ser lida com atenção, pois traz infor-
mações relevantes, impossíveis de serem representadas graficamente. As notas de precaução
são especialmente importantes, merecendo todo o cuidado.
Se houver uma derrota aconselhada traçada na carta, o navio deverá navegar sobre
ela. As derrotas aconselhadas representadas em certas Cartas Náuticas de grande escala
devem ser interpretadas conforme a definição adotada pela OHI, que estabelece: “derrota
aconselhada é uma linha indicada na carta náutica, que foi especialmente investigada,
para assegurar que está livre de perigos, e ao longo da qual se recomenda às embarcações
navegar”.
Ao usar uma carta recém-adquirida, o navegante deve verificar se não há nenhum Aviso
Permanente que a tenha alterado, após o último Aviso nela registrado, e deve anotar todos os
Avisos-Rádio Temporários e Preliminares que a afetam e continuam em vigor, de acordo com
o último Folheto Quinzenal de Avisos aos Navegantes.
Todas as alterações que afetam a segurança da navegação e podem ser introduzidas
na carta, à mão ou por colagem de trecho, são divulgadas por Avisos aos Navegantes. Nestas
correções é importante observar os seguintes critérios:
• devem ser usadas as convenções da carta 12.000 da DHN;
• os acréscimos devem ser feitos de maneira a não prejudicar qualquer informação já
existente na carta;
• as informações canceladas ou corrigidas em caráter permanente devem ser riscadas
à tinta vermelha, nunca rasuradas; e
• as notas de precaução, proibição, marés, correntes, etc., devem ser colocadas em local
conveniente, de preferência próximo do título, quando o Aviso aos Navegantes não especificar
a posição onde devem ser inseridas.
As alterações decorrentes de Aviso-Rádio, geralmente referentes a derrelitos perigosos à
navegação, extinção temporária de luzes, retirada temporária de auxílios à navegação e outras
informações de caráter urgente, devem ser inseridas a lápis na carta afetada e apagadas logo
que novo aviso as cancelar ou na data que for determinada pelo Aviso que as divulgou. Estas
alterações, enquanto em vigor, são repetidas no Folheto Quinzenal de Avisos aos Navegantes.
As alterações decorrentes de Aviso Temporário devem ser feitas a lápis, anotando-se
junto a elas, também a lápis, o número e o ano do aviso (Ex. E40(T)/21). Se o Aviso entrar em
vigor como Permanente em data prefixada e sem novo Aviso, seu número deve ser anotado
a lápis no canto esquerdo da margem inferior da carta e ambos – correção e número/ano do
aviso – devem ser cobertos com tinta vermelha na data de entrada em vigor como permanente.
As correções decorrentes de Aviso Permanente devem ser feitas a tinta vermelha, de
maneira clara e sem rasuras. No canto esquerdo da margem inferior da carta devem ser re-
gistrados com tinta vermelha o ano, se ainda não estiver escrito, e o número do aviso.
Como já apresentado, a ENC é um arquivo digital (ou um banco de dados), cujas infor-
mações da representação cartográfica contidas na carta náutica podem ser visualizadas por
intermédio do ECDIS. Como a carta em papel, a ENC também precisa ser atualizada sempre
que alguma alteração deva ser introduzida na carta, decorrente de uma modificação na repre-
sentação cartográfica ou de interesse à segurança da navegação, divulgada por meio de Aviso
aos Navegantes.
No entanto, diferentemente da carta em papel, a atualização não poderá ser feita sobre
a ENC, mas sim atualizando o seu arquivo digital original, introduzido no ECDIS, por um novo
arquivo, fornecido pelo Distribuidor de ENCs, do qual o navegante obteve a licença para o seu
uso. Essa atualização é feita pelo navegante, de modo informatizado, por meio do ECDIS onde
a ENC encontra-se instalada, e deve ser fornecida com a brevidade que se faça necessária, a
fim de que a atualização da ENC seja num tempo compatível ao de uma carta em papel. Essa
atualização poderá ser fornecida pelo Distribuidor de ENCs por meio de um arquivo digital, se
viável, ou por meio da World Wide Web (internet) via satélite, sendo extremamente relevante
se o navio dispuser dessa facilidade no mar.
O processo de atualização das ENCs obriga que todos os Serviços Hidrográficos (SH)
que as produzem mantenham-nas constantemente atualizadas e que a cada modificação (ou
atualização) elas sejam encaminhadas ao RENC associado ao SH, que as validará5. Após va-
lidadas, o RENC as encaminharão para distribuição aos seus respectivos Distribuidores, que
serão os responsáveis últimos por fazer chegar aos navegantes essa atualização.
5
Validação é o processo, baseado nos padrões de verificação estabelecidos pela S-58 (ENC Validation Checks), que
tem por propósito garantir que os dados de uma célula ENC estejam em conformidade com as normas estabele-
cidas pela OHI para a construção da ENC, de acordo com o Apêndice B.1 (Product Specifications) da publicação
S-57 (IHO Transfer Standard for Digital Hydrographic Data), o qual permitirá que uma ENC validada tenha uma
correta apresentação em um ECDIS.
Além das correções a bordo, as cartas náuticas são periodicamente atualizadas pela
DHN, nas formas abaixo:
REIMPRESSÃO – a reimpressão de uma carta náutica em papel constitui uma nova
impressão da edição em vigor, sem qualquer alteração significativa para a navegação, a não ser
as já previamente divulgadas por Avisos aos Navegantes. A reimpressão pode incluir, também,
outras pequenas alterações que não afetam a segurança da navegação e que, por conseguinte,
não foram divulgadas por Avisos aos Navegantes. A reimpressão de uma carta não cancela
a impressão anterior da mesma edição. As cartas náuticas impressas na condição de Print-
on-Demand devem ser consideradas, no ato de sua aquisição, como uma reimpressão única
daquela carta náutica e completamente atualizada com relação aos Avisos aos Navegantes
anteriormente divulgados. Quanto às ENCs, o processo de reimpressão não se aplica, mas,
como visto acima, a cada alteração que a ENC venha a sofrer, um novo arquivo digital é criado,
validado e enviado ao navegante, em substituição ao arquivo anterior.
NOVA EDIÇÃO – uma nova edição é publicada quando uma carta náutica (em papel
e/ou ENC) fica desatualizada, geralmente devido à realização de novos levantamentos, impli-
cando importantes alterações nas informações essenciais à navegação, além das já divulgadas
por Avisos aos Navegantes. Uma nova edição cancela a edição anterior. Na carta em papel, a
data das edições subsequentes à 1ª edição é informada no lado direito da margem inferior da
carta, em substituição à desta, permanecendo inalterada a data de publicação da 1ª edição,
no centro da margem inferior. Na ENC, as informações sobre a edição são apresentadas no
display do ECDIS quando consultadas.
Além das cartas definidas no I Plano Cartográfico Náutico Brasileiro, a DHN publica-
va, também, as denominadas Cartas Particulares, abrangendo reduzidos trechos da costa ou
destinadas à representação de portos, baías, enseadas, fundeadouros e suas proximidades.
As Cartas Particulares eram construídas em escala maior que 1:150.000 e subdivididas nos
seguintes grupos:
• cartas de aproximação – geralmente com escalas entre 1:50.000 e 1:150.000 e
destinadas à aterragem a determinados portos ou passagens por áreas críticas de perigos à
navegação afastadas da costa; e
• cartas de porto – abrangendo a representação detalhada de portos, baías, enseadas
e fundeadouros, em escala maior que 1:50.000, de acordo com a importância do porto, sendo
consideradas também a quantidade e a natureza dos perigos da região (quando a escala é igual
ou maior que 1:25.000 podendo ser denominadas de Planos).
Nos anos subsequentes à conclusão do I Plano Cartográfico Náutico Brasileiro, as
mudanças nos parâmetros da navegação, tais como: o maior calado dos navios, a maior velo-
cidade das embarcações e um aumento contínuo do tráfego marítimo, aliados aos anseios da
comunidade marítima por uma padronização internacional dos documentos náuticos, pelos
Serviços Hidrográficos, levou a DHN a reavaliar o seu Plano Cartográfico.
Paralelamente, em 1967, foi proposto pela primeira vez, durante a IX Conferência
Hidrográfica Internacional, o conceito de Carta Internacional. Este conceito visava eliminar
os esforços desnecessários no recobrimento global da Cartografia Náutica e tornar mais eco-
nômicas as atividades dos Serviços Hidrográficos.
Na Conferência Hidrográfica Internacional de 1982, foi adotado o trabalho desenvolvido
pelo grupo criado em 1967, denominado “Especificações de Cartas da Organização Hidrográfica
Internacional”. Estas especificações são aplicáveis a todas as Cartas Internacionais e reco-
mendadas, também, a todas as cartas das séries nacionais.
Um sistema de duas séries de cartas de pequena escala foi acordado: 1:10.000.000 (de-
zenove cartas) e 1:3.500.000 (sessenta cartas), provendo uma cobertura de cartas uniformes
e modernas para a navegação marítima internacional em todas as passagens oceânicas.
Em 1982, a série de cartas INT estendeu seu conceito às cartas de média e grande
escalas, abrangendo áreas costeiras e cartas de aproximação de portos. Coube ao Brasil co-
ordenar o esquema do Atlântico Sudoeste, abrangendo a área do Atlântico que se estende da
fronteira Venezuela-Guiana até a fronteira Chile-Argentina.
Condensando as duas tarefas, foi elaborado o Segundo Plano Cartográfico Náutico
Brasileiro, cujo esquema que cobria a área da costa brasileira foi aprovado pela DHN, em 17
de julho de 1995. Esse esquema continha 8 cartas apresentando coberturas oceânicas mais
abrangentes, na escala de 1:1.000.000, e uma outra série de 26 cartas na escala de 1:300.000,
adotando-se a numeração das Cartas Internacionais (Cartas INT) em substituição ao modelo
antigo de numeração na “série 100”.
Com o surgimento de novas técnicas de posicionamento e com o intuito de aumentar
a qualidade dos levantamentos, a OHI elaborou e publicou novas normas, dentre as quais
exigia-se a adoção de posicionamento referenciado a um sistema geocêntrico compatível ao
Sistema Internacional de Referência Terrestre (ITRS), como o WGS84 na atualidade.
Apesar dos Planos Cartográficos Náuticos pretéritos atenderem às demandas do
país, houve a necessidade de atender às novas exigências, dentre as quais a adequação
das cartas náuticas brasileiras aos padrões internacionais, além de disponibilizar as cartas
náuticas eletrônicas (ENC) de toda a costa brasileira, incluindo a cobertura dos principais
portos do país.
O III Plano Cartográfico Náutico Brasileiro é formado por dois subplanos: o Subplano
Cartas Náuticas em Papel e o Subplano Cartas Náuticas Eletrônicas. O esquema de cartas
apresenta a seguinte composição:
A) Subplano Cartas Náuticas em Papel – com 564 cartas distribuídas da seguinte
forma:
• 7 cartas oceânicas (escalas de 1:3.500.000 a 1:10.000.000);
Figura 2.35 – Esquemas de cartas náuticas em papel – cartas Gerais e Costeiras (III PCNB)
B) Subplano Cartas Náuticas Eletrônicas – com 198 ENC cobrindo áreas marítimas
e fluviais, onde existe navegação SOLAS, e distribuídas da seguinte forma:
• 8 ENCs Gerais (BR2);
• 29 ENCs Costeiras (BR3);
• 78 ENCs de Aproximação (BR4);
• 73 ENCs de Porto (BR5); e
• 10 ENCs de Atracação (BR6).
A Figura 2.36 apresenta os esquemas do Subplano de ENCs para as cartas Gerais (à
esquerda) e cartas Costeiras (à direita).
c. Cartas Internacionais
Cumprindo resolução da OHI, no sentido de que os Estados-Membros que possuíssem
maiores condições técnicas seriam responsáveis pela confecção de Cartas Internacionais na
sua região, coube à DHN a preparação de 34 Cartas Internacionais, sendo 8 na escala de
1:1.000.000 e 26 na escala de 1:300.000, todas já publicadas.
d. Cartas da Antártica
Além das Cartas Náuticas acima citadas, a DHN também publica outros documentos
cartográficos, tais como:
• Cartas Militares: preparadas com finalidades militares (Cartas de Bombardeio, de
Minagem, para Desembarque Anfíbio, para Submarinos, etc.).
• Cartas Especiais;
• Cartas Meteorológicas;
• Cartas de Correntes de Maré;
• Cartas-Piloto; e
• Croquis de Navegação para diversos rios brasileiros.
Todas as Cartas publicadas pela DHN estão listadas no Catálogo de Cartas Náuticas e
Publicações, o qual pode ser consultado por meio da página da DHN na internet, no endereço:
https://www.marinha.mil.br/chm/sites/www.marinha.mil.br.chm/files/u1974/catalogo-completo.pdf.
Por fim, com o propósito de se permitir a comparação entre a representação cartográfi-
ca contida numa carta náutica em papel e numa carta náutica eletrônica (ENC), construídas
sobre uma mesma base de dados hidrográfica, para uma mesma projeção (Mercator) e numa
mesma escala, as Figuras 2.37, 2.38 e 2.39, mostradas nas páginas seguintes, contém trechos
desses dois tipos de cartas para uma mesma área.
Os topônimos, que não estão apresentados nas ENC reproduzidas nas referidas Figuras,
constam da base de dados das ENC, contidas no ECDIS/ECS, e surgirão para o navegante na
medida que venham a ser consultados.
RESOLUÇÃO GRÁFICA DE
PROBLEMAS-TIPO
Notas Importantes:
Exemplo:
Plotar, na Carta de Instrução (Figura 2A.1 - Miniatura da Carta No 52 – Arquipélago de
Fernando de Noronha), o ponto A, cujas coordenadas são: Lat. 03º 51,0’ S; e Long. 032º 30,6’ W.
Sequência de Operações:
1. Marcam-se os valores da Latitude e Longitude nas escalas respectivas (cuja menor
divisão, neste caso, é de 1 décimo de minuto).
2. Com a RÉGUA PARALELA (ou o “PARALLEL PLOTTER”) traça-se o PARALELO
correspondente à LATITUDE DO PONTO.
3. Sobre este PARALELO, com o auxílio do COMPASSO DE NAVEGAÇÃO, marca-se
a LONGITUDE DO PONTO a partir de um dos MERIDIANOS do RETICULADO da carta.
Observação:
Pode-se, também, traçar primeiramente o MERIDIANO correspondente à LONGITUDE
do PONTO e depois marcar sobre ele, com um compasso, a LATITUDE DO PONTO a partir
de um dos PARALELOS do RETICULADO da carta. Além disso, poder-se-ia, ainda, plotar
o ponto A apenas com a régua paralela, traçando, com ela, seu paralelo e seu meridiano. O
ponto A, então, estaria na interseção das linhas traçadas.
Perguntas sobre o ponto A:
1. Qual a profundidade do ponto A?
Resposta:
844 metros (lida na Carta)
2. Qual a Latitude Média (Lat md) do trecho abrangido pela Carta Náutica No 52?
Resposta:
Lat1 = 3° 47,5’ S
Lat2 = 3° 54,5’ S
Σ Lat1-2 = 7° 42,0’ → Lat md = (Σ Lat1-2) /2 = 3° 51,0’ S
4. Após obter o valor da distância, registra-se o mesmo sob a linha que une os dois
pontos, precedido da abreviatura d. Neste caso, d = 2,8 M.
Perguntas:
1. Qual o significado do símbolo constituído por um ferro tipo almirantado, representado
na baía de Santo Antônio?
Resposta:
Fundeadouro recomendado – vide a Carta No 12.000 (INT1), Seção IN.
2. Qual a distância entre o farol Fernando de Noronha (Lat. 03º 52,48’ S, Long. 032º
27,70’ W) e o farol Ilha Rata?
Resposta:
d = 5,85 M.
3. Qual a altura do nível médio do mar (MSL: Mean Sea Level) sobre o nível de redução
das sondagens (NR) na área da Carta No 52?
Resposta:
143 cm (obtida do quadro de INFORMAÇÕES SOBRE A MARÉ, inserido na Carta
No 52).
Exemplo:
Obter o Rumo Verdadeiro (R) para, a partir do ponto de coordenadas Lat. 03º 50,0’ S,
Long. 032º 26,0’ W, passar a 1,0 M da ponta da Sapata, na extremidade SW da ilha de Fernando
de Noronha.
Sequência de Operações:
1. Plota-se na Carta o ponto de origem, conforme já explicado.
2. Toma-se a distância dada, com um compasso, na escala de latitudes, na altura do
paralelo do ponto do qual se deseja passar distante.
3. Traça-se, com raio igual à distância dada, uma circunferência (ou trecho dela) em
torno do ponto do qual se deseja passar distante.
4. Em seguida, traça-se do ponto de origem uma tangente à circunferência acima citada.
5. Então, com o auxílio de uma régua paralela, transporta-se a direção da tangente
traçada para o centro da Rosa dos Rumos Verdadeiros mais próxima e lê-se o valor do Rumo,
na graduação da Rosa.
6. Finalmente, escreve-se o valor do Rumo, sobre a linha traçada, precedido da abre-
viatura R.
No caso em questão, o RUMO VERDADEIRO para, partindo do ponto dado, passar a
1,0 milha da ponta da Sapata, é R = 242º.
Embora as cartas náuticas em papel e Raster tenham coexistido com a carta vetorial por
quase três décadas, o advento do GPS, da ENC e do ECDIS está tendo uma influência cada vez
maior na forma como as cartas em papel são feitas e usadas. O conteúdo, formato, distribuição
e até mesmo a existência contínua da carta em papel são tópicos que agora são comumente
discutidos por navegadores profissionais e da área de lazer, Autoridades Marítimas, Serviços
Hidrográficos (SHs) nacionais e outras partes interessadas. Para se preparar adequadamente
para o futuro, a Organização Hidrográfica Internacional (OHI), por intermédio do Nautical
Cartography Working Group (NCWG), pesquisou e produziu um Relatório sobre as questões
mais significativas relacionadas ao “Futuro da Carta Náutica em Papel”, onde também apre-
sentou algumas recomendações a serem consideradas pela OHI.
Os componentes do NCWG consideram que o Relatório apresentado não é um estudo
exaustivo das práticas globais de produção, distribuição e uso de cartas náuticas em papel, e
que muitas das situações apresentadas são da perspectiva de apenas um ou de alguns poucos
SHs. O Relatório também argumenta que, embora essa presente situação seja típica de muitos
SHs, as condições e práticas em outros Serviços podem ser diferentes. O estudo conduzido pelo
NCWG se baseou numa pesquisa, por meio de um questionário, o qual forneceu a oportunidade
para que todos os Estados-Membros da OHI pudessem apontar as suas experiências e caracte-
rísticas individuais. O questionário foi respondido por 52 dos 89 Estados-Membros da OHI.
A seguir, são apresentados alguns aspectos e análises do estudo conduzido pelo NCWG,
contidos no Relatório Final:
Ambiente Atual
As disposições da IMO determinam o uso obrigatório do ECDIS6 para a maioria dos
navios, enquadrados7 pela Convenção SOLAS, como o principal dispositivo para a navegação
marítima, apesar de prever, nessas mesmas disposições, que as cartas em papel possam ser
usadas como backup (alternativas às ENC). Por outro lado, alguns navios, que não estão su-
jeitos à Convenção SOLAS, continuam a usar exclusivamente cartas náuticas em papel. No
entanto, há uma mistura crescente de usuários que navegam com cartas em papel e digitais,
ou que planejam viagens sobre a carta em papel e navegam inteiramente com cartas digitais
(mesmo usando sistemas digitais redundantes como seu único backup).
Cartas em papel, lápis, compassos, réguas paralelas e transferidores, bem como Avisos
aos Navegantes, ainda são usados para traçar derrotas durante o planejamento de viagens e
para plotar as posições do navio no decorrer da navegação. O navegante normalmente fixa a
6
A Resolução nº MSC.282(86) do Comitê de Segurança Marítima (MSC) da IMO alterou a Regra 19 do Capítulo
V da SOLAS - Requisitos de Dotação para os Equipamentos e Sistemas de Navegação de Bordo, recomendando a
adoção do ECDIS nos navios enquadrados como SOLAS.
7
Conforme a NORMAM-01/DPC, embarcações “SOLAS” são todas as embarcações mercantes empregadas em
viagens marítimas internacionais ou empregadas no tráfego marítimo mercantil entre portos brasileiros, ilhas
oceânicas, terminais e plataformas marítimas, com exceção de: embarcações de carga com arqueação bruta inferior
a 500; embarcações de passageiros com arqueação bruta inferior a 500 e que não efetuam viagens internacionais;
embarcações sem meios de propulsão mecânica; embarcações de madeira, de construção primitiva; embarcações
de pesca; e embarcações com comprimento menor que 24 metros.
posição do navio a cada dez minutos, ou com menos frequência se em oceano aberto. E essa
posição pode ser obtida por observações com um sextante, ou por marcações com uma alidade
na repetidora da agulha giroscópica no passadiço, ou por navegação estimada, o que pode
levar vários minutos. Assim, mesmo quando as cartas em papel estão sendo usadas, alguns
navegantes passaram a obter as posições dos navios no ECDIS/ECS e depois fazem o registro
da navegação (plotagem da posição obtida) na carta em papel correspondente.
Principal constatação
As vendas e o uso de cartas náuticas de papel diminuíram quase pela metade de 2008
a 2018, enquanto o uso das ENCs aumentou cerca de sete vezes durante o mesmo período.
O esforço necessário para manter a carta em papel e as cartas rasterizadas está se tornando
desproporcional quando comparado ao uso crescente de ENCs.
Alguns SHs estão buscando diferentes maneiras de reduzir a carga para a produção de
cartas em papel, diminuindo o número de cartas em seu portifólio de cartas em papel/Raster
ou desenvolvendo maneiras de criar cartas Raster diretamente a partir de dados ENC. Alguns
esforços também estão sendo feitos para tornar o uso de ENC, ou produtos derivados de ENC,
mais atraente para os navegantes profissionais e recreativos.
Regulamentações relacionadas ao uso das cartas em papel e cartas digitais
A Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS),
Capítulo V, Regulamento 19, “Requisitos de Dotação para os Equipamentos e Sistemas de
Navegação de Bordo”, especifica que “Todos os navios, independentemente do tamanho, de-
vem ter cartas náuticas e publicações náuticas para planejar e exibir a derrota do navio para
a viagem pretendida e plotar e monitorar as posições ao longo da viagem. Um Sistema de
Apresentação de Cartas Eletrônicas e Informações (ECDIS) também é aceito para atender
aos requisitos de dotação de cartas deste subparágrafo. ” O Regulamento 19 também afirma
que “Um portifólio apropriado de cartas náuticas em papel pode ser usado como um arranjo
de backup para o ECDIS.”
Em julho de 2018, entrou em vigor a recomendação obrigatória da IMO para que a
maioria dos navios comerciais em viagens internacionais fossem equipados com um ECDIS.
Por sua vez, algumas Autoridades Marítimas nacionais, agora, também permitem que os na-
vios comerciais em viagens domésticas (de cabotagem) naveguem inteiramente com ENC. É
digno de nota que somente 7 Estados-Membros dos 52 que responderam à pesquisa do NCWG
indicaram que apenas cartas em papel atenderiam aos requisitos para essa navegação em
águas nacionais. A maioria indicou que ENCs ou cartas em papel eram aceitáveis.
Muitos navegantes recreativos também adotaram o uso de ENCs, embora muitos des-
ses usuários ainda mantenham algumas cartas em papel como backup ou para cumprir as
regulamentações locais.
Usuários de cartas náuticas
Além dos usuários de cartas náuticas convencionais, como navegantes profissionais
em viagens internacionais ou domésticas, e barcos de recreio navegando em lagos, rios, baías
e águas costeiras, há uma série de outros usuários de cartas náuticas que são mais difíceis de
categorizar ou contabilizar. Na verdade, é até difícil determinar a proporção das vendas de
cartas atribuídas a navegantes profissionais versus navegantes de recreio, bem como outros
usuários que as utilizam para vários fins, como segurança do tráfego de embarcações, defesa,
planejamento ambiental, delimitações marítimas e relacionadas ao gelo, planejamento de
rotas de turismo, gestão da pesca e outros fins não-navegacionais.
– Praticagem;
– Administrações nacionais;
– Administrações costeiras;
– Autoridades portuárias;
– Organizações militares;
– Autoridades portuárias;
8
O e-Navigation é definido como a “coleta, integração, intercâmbio, apresentação e análise harmonizados de infor-
mações marítimas, a bordo e em terra, por meios eletrônicos, com o propósito de aprimorar a navegação de berço a
berço do cais e serviços relacionados, para a proteção e a segurança no mar, bem como a preservação do ambiente
marinho. ” Assim, o e-Navigation se destina a atender às necessidades presentes e futuras dos usuários por meio
da harmonização dos sistemas de navegação marítima e do apoio aos serviços em terra. O desenvolvimento e im-
plementação da estratégia é regulado pela Organização Marítima Internacional (IMO).
– Gerenciamento da pesca;
– Fornecedores de energia;
– Organizações de treinamento; e
Esses usuários baseados em terra são responsáveis pela segurança do tráfego marítimo
e defesa, planejamento ambiental, delimitações marítimas, planejamento turístico, gestão de
pescas, organizações militares e muitos outros assuntos. Esses usuários demandam ferra-
mentas modernas, certificadas e eficientes, otimizadas para uma correta tomada de decisões,
a fim de maximizar a confiabilidade e a facilidade de seus empregos na navegação marítima
e nas comunicações.
Em muitos casos, essa necessidade foi baseada no emprego de cartas em papel, mas
algumas organizações têm sido capazes de otimizar e evoluir para usar outros formatos,
adaptando-se a novas tecnologias e ferramentas relacionadas, resultando numa minimização
de erros. Muitos se adaptaram à navegação eletrônica por meio das ENCs e das cartas Raster
(RNC), empregando um ECDIS, ou sua versão militar, o Warfare-Electronic Chart Display and
Information System – WECDIS, bem como outros sistemas de tecnologia GIS ou Serviços WEB.
Banco de dados único para a produção de cartas
Vários SHs têm feito uma transição para um banco de dados único para a produção de
cartas náuticas, o qual é usado tanto para produzir ENCs (no formato S-579) quanto para cartas
náuticas em papel. Essa transição vem sendo acompanhada, na maioria das vezes, na mesma
proporção da obtenção das habilidades necessárias para a produção cartográfica. Atualmente,
os cartógrafos estão mais envolvidos na operação de banco de dados, compilação e codificação
das ENC do que apoiando a geração e a distribuição das cartas náuticas em papel.
O Brasil (por meio do Serviço Hidrográfico nacional, a DHN), atualmente, vem produ-
zindo algumas células ENC e cartas em papel a partir de um único banco de dados, enquanto
outras ainda são baseadas em arquivos únicos. No entanto, o Brasil (DHN) está buscando a
migração de todos os seus dados hidrográficos para um único banco de dados voltado para toda
a sua produção cartográfica.
Resultados da pesquisa (questionário enviado aos Estados-Membros da OHI)
Dos 52 Estados-Membros da IHO que forneceram respostas à pesquisa do NCWG, 38
declararam que não têm planos de criar um formato de carta náutica simplificada ou específica
para uso como backup ao ECDIS10, enquanto 14 declararam que estavam explorando algum
aspecto para criação de cartas náuticas simplificadas.
9
As ENC utilizam o formato de dados S-57 da OHI, normatizado pela publicação “IHO Transfer Standard for
Digital Hydrographic Data, Publication S-57" (Padrão de Transferência de Dados Hidrográficos Digitais
da OHI), que descreve os padrões para utilização no intercâmbio de dados hidrográficos digitais entre Serviços
Hidrográficos e para a distribuição de dados e produtos digitais para fabricantes, navegantes e outros usuários
desses dados.
10
O Brasil é um desses 38 Estados-Membros que não têm planos, bem como não é favorável, de criar um formato
de carta náutica simplificada, por orientação da DHN.
11
Essa é a atual situação do Brasil/DHN, que iniciou a “impressão sob demanda” em JUL/2013 (e passou a produzir
as cartas náuticas em papel, exclusivamente, por esse processo, a partir de AGO/2015), sob a responsabilidade da
Empresa Gerencial de Projetos Navais - EMGEPRON, tanto pela impressão quanto pela distribuição comercial.
pela nova geração digital. Em pouco tempo, o POD pode abrir caminho para uma segunda geração
mais flexível e viável de cartas em papel feitas pelo processo de “Produto sob Demanda”.
Aumento da demanda por ENCs
A demanda por cartas náuticas eletrônicas tem aumentado constantemente desde
sua introdução na década de 1990. Embora as ENCs tenham sido baseadas na experiência
com as cartas náuticas em papel, agora elas estão cada vez mais divergindo do produto
original em que se basearam. Esse é especialmente o caso em áreas onde a cobertura de
ENCs foi re-esquematizada em um layout de grade sem levar em conta as configurações
originais da carta em papel. Alguns SHs, como o dos EUA, estão criando uma cobertu-
ra de ENC em maior escala sem criar a carta em papel correspondente, diferenciando
ainda mais os dois portifólios de cartas. Alguns dos fatores que tornam as ENCs tão
atraentes para o cliente também estão contribuindo para a obsolescência das cartas em
papel, como a facilidade de distribuição de atualizações. Prevê-se que a popularidade
das ENCs aumentará à medida que a sua capacidade de interoperar com outros conjun-
tos de dados importantes para a navegação, como produtos baseados no padrão S-10012
, for habilitada. As ENCs serão um componente central do conceito em evolução do e-Na-
vigation, bem como parte dos aplicativos exigidos por muitos tipos diferentes de usuários.
O desafio para a
Figura 2B.1 – Variação do volume de vendas de cartas
comunidade hidrográfi-
náuticas em papel e ENCs
ca será o distanciamento
contínuo das ENCs de
seu legado de cartas em
papel. Algumas partes en-
volvidas, tanto produtoras
quanto usuárias, estão
convencidas de que a única
maneira de empregar todo
o potencial das ENCs é se
livrando totalmente das
cartas de papel. No entan-
to, os SH devem perceber
que as cartas em papel são
parte da história da nave-
gação e é improvável que
o fim das cartas em papel
ocorra em um futuro de
curto prazo. Uma vez que
quaisquer dependências
que ENCs e cartas em papel tenham entre si estejam claras, e que sejam evidentes, cada
produto será capaz de atingir o seu próprio nível natural de aceitação e uso.
12
Prevê-se que, em 2024, o formato das ENC mudará do atual S-57 para o S-101. Esse novo formato baseado no
modelo de dados hidrográficos S-100 será compatível com tecnologias mais modernas, permitindo uma maior
interoperabilidade e interação das informações. A DHN acompanha a evolução desse formato por meio de repre-
sentações nos GTs da OHI e está se preparando para, quando o formato for oficializado, produzir imediatamente
os arquivos em S-101. Durante os anos de transição entre o S-57 e o S-101, onde os dois formatos conviverão nos
passadiços dos navios, a produção de ENC deverá demandar um esforço ainda maior do que o atual em todos os
Serviços Hidrográficos, inclusive a DHN.
13
Uma célula ENC representa o tamanho mínimo de um conjunto de dados, contida em um retângulo com bordas
definidas por paralelos e meridianos. As células não se sobrepõem. A escala (dimensão) dos dados contidos em uma
célula depende do propósito da navegação (por exemplo: geral, costeira, aproximação, porto). Pela S-57, a célula
possui um formato padrão, limitado à sua capacidade de 5MB e não ao tamanho de sua cobertura (extensão da
área a ser representada).
14
S-52 - Specifications for Chart Content and Display Aspects of ECDIS. Essa Norma da OHI destina-se
a orientar a operação segura do ECDIS para: a) garantir uma base de exibição dos dados da ENC, de acordo com
os padrões de símbolos, cores e atribuição; as limitações de escala de apresentação dos dados; e a compatibilidade
apropriada com os símbolos das cartas em papel; b) garantir que a exibição seja clara e inequívoca, e que não haja
incerteza sobre o significado das cores e símbolos no visor; e c) estabelecer um padrão aceito para a apresentação
no ECDIS que se torne familiar aos navegantes e, portanto, possa ser reconhecido/interpretado, instantaneamente,
sem confusão.
15
A publicação INT 1 - Symbols, Abbreviations and Terms used on Charts, da OHI, é publicada no Brasil pela DHN,
como Carta 12000 - Símbolos, Abreviaturas e Termos usados nas Cartas Náuticas. A Carta 12000 contém
a coletânea completa de símbolos e abreviaturas que são utilizados nas cartas náuticas nacionais e internacionais,
produzidas pelo Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) e editadas pela DHN.
16
Um processo como esse, implantado num SH, poderá acarretar a perda de importância do Plano Cartográfico
existente e ter de “reconstruir” o seu Plano de Coleta de Dados Hidrográficos sob novos parâmetros, como intensi-
dade do tráfego mercante, demanda operacional do comércio marítimo, áreas prioritárias de segurança e defesa,
produtos cartográficos de interesse militar, etc.
garantir que os atributos cartográficos corretos estejam presentes no futuro formato S-101 das
ENCs, e que as convenções cartográficas em que se baseiam as cartas em papel, no formato
S-417, sejam aplicadas por meio de uma técnica de leitura informatizada, é improvável que a
saída automatizada do produto final em papel forneça a qualidade (ou estética) precisa que
pode ser alcançada por um cartógrafo humano habilidoso.
Isso pode resultar em uma resistência interna e externa à adoção de um novo tipo de
produto. O Chart on Demand é apenas um exemplo do que é possível com a inovação tecno-
lógica. Até que ponto e com que rapidez essas inovações podem ser adotadas ainda está para
ser descoberto. O ritmo provavelmente dependerá, em parte, de quão próximo a tecnologia,
em contínua mutação, atenderá as necessidades da comunidade marítima.
e-Navigation
A IMO define o e-Navigation como “a coleta, integração, troca, apresentação e análi-
se harmonizadas de informações marítimas a bordo e em terra, por meios eletrônicos, para
melhorar a navegação berço a berço e os serviços relacionados à segurança da navegação e à
proteção meio ambiente marinho.”
Em junho de 2019, o Comitê de Segurança Marítima (MSC) da IMO aprovou uma série
de circulares relacionadas ao desenvolvimento da navegação eletrônica. Isto incluiu uma reso-
lução sobre orientações para a definição e harmonização do formato e estrutura dos Serviços
Marítimos no contexto da navegação eletrônica. O objetivo da orientação é garantir que as
informações marítimas e os dados trocados como parte de diferentes serviços marítimos sejam
implementados internacionalmente, em um formato harmonizado, padronizado e unificado.
Todos os serviços marítimos devem estar em conformidade com o padrão da estrutura S-100
da OHI, que especifica o método para modelagem de dados e desenvolvimento de especificações
de produto.
É importante observar que esta orientação fortalece ainda mais a importância futura da
família de produtos S-100, e do S-101 ENC em particular, já que a ENC provavelmente servirá
como o “mapa básico” para muitas outras camadas de produtos que irão ser integradas a um
ECDIS ou outro sistema de exibição. A carta em papel, ao contrário dos produtos S-100, não
pode ser integrada com camadas adicionais de informações de maneira prática. Conforme o
desenvolvimento do e-Navigation amadureça e seus benefícios se tornem claros, as limitações
do uso contínuo de cartas náuticas de papel se tornarão cada vez mais evidentes.
Observações finais do NCWG:
a. com relação à criação de cartas náuticas em papel a partir de dados ENC
O grupo de trabalho reconheceu que existem vários esforços relacionados que poderiam
apoiar a criação de cartas em papel a partir de dados S-101, e que há apoio geral para este
esforço por parte dos membros do grupo de trabalho no NCWG, bem como 71% dos entrevis-
tados (35 Estados-Membros) que responderam a pesquisa do NCWG também afirmaram que
seu SH estava ativamente perseguindo ou considerando tal esforço (ver Figura 2B.2, contida
no Relatório do NCWG).
17
A publicação S-4 - Regulations of the IHO for International (INT) Charts and Chart Specifications
of the IHO estabelece o conceito e os padrões para a produção da carta internacional (INT) em papel e tem por
objetivo facilitar o fornecimento de conjuntos (esquemas) mínimos de cartas náuticas adequadas aos requisitos da
navegação voltada ao transporte marítimo internacional.
comprometer a segurança para a navegação. Nosso novo sistema permitirá a criação e impres-
são de cartas em papel diretamente de ENCs.
Alemanha – as cartas em papel não permitem batimetria detalhada. Os ciclos de
atualização das cartas em papel são uma barreira na era dos big data. As cartas em papel
não podem ser sobrepostas com outras informações, como AIS, radar ou correntes. Os jovens
oficiais náuticos estão mais voltados para a informação digital. O hardware está ficando cada
vez mais poderoso e pode gerar uma imagem de navegação, mesmo com a energia proveniente
da bateria, por semanas.
Cartas de papel não oferecem segurança ideal. É questionável se uma carta náutica
redundante melhorará a segurança no futuro. O uso de cartas em papel está diminuindo
significativamente e os recursos de produção são desproporcionalmente altos em comparação
com as ENC.
Brasil – 59% do esforço brasileiro de produção de cartas em papel está focado em áreas
ribeirinhas não SOLAS. Portanto, no momento, o Brasil continuará produzindo cartas náuticas
para atender a demanda dos navegantes por esse tipo de produto em águas interiores.
Canadá – como SH, precisam simplificar e agilizar a criação da carta em papel, ainda
a tornando segura e precisa, mas com menos trabalho cartográfico manual.
Noruega – a Noruega atualmente produz cartas em papel a partir de ENCs, mas isso
não é totalmente automático. No curto prazo, não estão se concentrando em automatizar to-
talmente esse processo. Também não há planos para interromper a publicação de cartas em
papel, pois ainda eles tem um número significativo de usuários e vendas.
Polônia – apesar do fato de que cada vez mais novas tecnologias e sistemas de exibição
ENC estão sendo implantadas a bordo, as cartas em papel devem ser mantidas disponíveis
e utilizadas. Essas cartas são o único meio de navegar quando, por exemplo, os circuitos de
energia do navio falham.
18
Dhow é o nome genérico dado aos tradicionais veleiros utilizados na região do Mar Vermelho e do Oceano Índico
que possuem um ou mais mastros com velas latinas.
Em operação, os ímãs da agulha (e, portanto, sua linha norte–sul) tendem a se alinhar
com as linhas de força do campo magnético da Terra existentes no local. Estas linhas de força,
denominadas Meridianos Magnéticos, indicam a direção do Norte Magnético no local.
Portanto, o ângulo indicado na Rosa da Agulha entre a linha-de-fé (alinhada com o eixo lon-
gitudinal do navio) e a linha norte–sul
Figura 3.2 – Agulha Magnética
da Agulha será igual ao ângulo entre a
proa do navio e o Norte Magnético, ou
seja, o Rumo Magnético do navio (caso
a Agulha não possua Desvio, como será
visto a seguir).
Uma agulha imantada, suspensa por seu centro de gravidade, livre de girar,
em um local isento de outras influências magnéticas, orienta-se no campo magnético
terrestre, como no caso geral de qualquer campo magnético, segundo as tangentes às
linhas de força, tendo sempre um de seus polos apontados para um determinado polo
magnético terrestre.
As massas de ferro duro (fortemente carburadas, tais como aços e ferros fundidos)
adquirem, durante a construção dos navios, uma magnetização por influência do campo
Os efeitos provocados pelas correntes elétricas podem ser evitados desde que os
equipamentos sejam afastados da agulha. Os efeitos dos ferros do navio podem ser muito
atenuados pela “compensação”, operação que consiste na colocação de “ímãs corretores” que
criam campos magnéticos iguais e opostos aos provocados por aqueles ferros. Os corretores,
ou compensadores, como também são chamados, estão instalados na bitácula e são, em geral,
constituídos por ímãs permanentes, barras e esferas de ferro doce.
O Desvio da Agulha, que depende dos ferros do navio, dos corretores instalados e,
também, da orientação daqueles em relação ao campo magnético terrestre, é variável com a
proa do navio.
Isto pode ser mais facilmente compreendido acompanhando-se a Figura 3.11, na qual
se supõe todo o material magnético do navio concentrado em um bloco, colocado na proa (sim-
bolizado por um quadrado na referida Figura).
Na situação (a), o navio está aproado ao Norte
Figura 3.11 – Desvio da Agulha
Magnético (Rmg = 000º). A linha norte–sul da Agulha
Magnética (representada por uma seta, no interior de
um círculo, que simboliza a Rosa da Agulha) tende a
orientar-se pelo meridiano magnético. Tal tendência,
nessa proa, é reforçada pelo campo magnético do na-
vio, o qual também atrai a agulha, que, assim, não
apresentará desvio.
Na situação (b), com o navio no Rmg 045º, o
Norte Magnético continua a atrair a linha norte–sul
da Agulha, a qual, porém, passa a ser atraída também
para a direção 045º mg, pelo campo magnético do
navio. O resultado é que a linha norte–sul da Agulha
não se orientará exatamente para o meridiano mag-
nético, surgindo daí um pequeno Desvio da Agulha
(Dag) para leste (E).
Na situação (c), com o navio no Rmg 090º, pe-
las mesmas razões o Desvio da Agulha para a direção
leste aumenta, alcançando o valor máximo.
Em (d), com o navio no Rmg 180º, o Desvio da
Agulha volta a ser nulo, embora a força de orientação
da Agulha se reduza, pelo fato de a atração do campo magnético terrestre e a do campo mag-
nético do navio serem exatamente opostas.
Nas situações (e) e (f), por razões semelhantes às já explicadas, surge um Desvio da
Agulha para a direção oeste (W), que alcança o valor máximo em (f), com o navio no Rmg 270º.
Embora de uma forma bastante simplificada (principalmente porque o magnetismo do
navio nunca está concentrado em um único ponto), a figura 3.11 demonstra que os Desvios
da Agulha (Dag) variam com a direção da proa do navio, isto é, com o seu rumo.
Os desvios são fornecidos para cada Agulha e para cada navio, em função da proa, por
uma CURVA DE DESVIOS e uma TABELA DE DESVIOS, cuja maneira de elaborar será
indicada adiante.
Exemplo:
1. Preparar uma Tabela da Rumos da Giro (Rgi) para determinação dos Desvios
da Agulha, em Rumos Magnéticos (Rmg) equidistantes de 45º, sabendo-se que o valor da
Declinação Magnética é Dec mg = 20ºW e que a Agulha Giroscópica não apresenta Desvio
(Dgi = 0º).
Solução:
R mg Dec mg R gi
000º 20º W 340º
045º 20º W 025º
090º 20º W 070º
135º 20º W 115º
180º 20º W 160º
225º 20º W 205º
270º 20º W 250º
315º 20º W 295º
R mg R ag D ag
000º 002º 2º W
045º 044º 1º E
090º 087º 3º E
135º 135º 0o
180º 183º 3º W
225º 225º 0o
270º 267º 3º E
315º 314º 1º E
• NORTE–SUL MAGNÉTICO;
• LESTE–OESTE MAGNÉTICO; ou
Este método pode ser utilizado quando é possível observar marcações com a Agulha
Magnética da qual se quer obter os Desvios (através do uso de um círculo azimutal ou alidade).
• Estar suficientemente afastado para que sua marcação possa ser considerada
constante durante a operação de determinação dos Desvios (a distância mínima
navio–objeto deve ser de 6 milhas, o que permitirá que o navio faça um giro de cerca
de 100 metros de raio com a marcação do objeto variando menos de 0,5º).
a. Conversão de Rumos
Para a solução dos exemplos a seguir, deve-se utilizar a Tabela e a Curva de Desvios
contidas na Figura 3.12:
1. Em um local onde o valor da Declinação Magnética (Dec mg) é 15º W, o Rumo
Verdadeiro para navegar entre dois pontos é 075º. Qual será o Rumo da Agulha correspondente?
Solução:
Figura 3.14 – Conversão de Rumos
Acompanhar a solução pela Figura 3.14.
Solução:
a) entrando-se na Curva de Desvios (Figura 3.12) com o Rumo da Agulha (Rag) = 160º (como
se fosse o Rumo Magnético), obtém-se Dag = 2ºW.
O incremento anual de 2015 para 2021 é de 6 anos, onde tem-se: 6 (anos) x 6’ W = 36’ W.
Dec mag (2015) ± incremento (6 anos) = 22º 10’ W + 36’ W = 22º 46’ W = 22,8º W 23º W
c) o Rv é igual a Rmg ± Dec mag (2021)
Rv = 158º - 23º (W) = 135º → Rv = 135º
Solução:
a) o valor da Declinação Magnética, em 2021, das proximidades da costa do Rio de Janeiro foi
obtido no exemplo anterior: Dec mg (2021) = 23º W.
b) Rv = Rmg ± Dec mg = 180º - 23º (W) = 157º → Rv = 157º
c) o valor do Dag é obtido a partir da Curva de Desvios (Figura 3.12), onde tem-se, para o Rmg
igual a 180º, o valor de 3º W → Dag = 3º W
d) Rag = Rmg ± Dag = 180º + 3º W = 183º → Rag = 183º
4. Um navegante, em 2021, deseja governar do farol da Ilha Rasa para o farol de
Maricás, ambos localizados nas proximidades da costa do Rio de Janeiro, e obtém na Carta
Náutica o Rumo Verdadeiro entre os dois pontos: Rv = 078º. Qual o Rumo Magnético (Rmg)
correspondente? Qual o valor do Desvio da Agulha (Dag) para essa proa? Qual o valor do Rumo
da Agulha (Rag) em que se deve governar?
Solução:
a) o valor da Declinação Magnética, em 2021, das proximidades da costa do Rio de Janeiro foi
obtido em exemplo anterior: Dec mg (2021) = 23º W.
b) Rmg = Rv ± Dec mg = 078º + 23º (W) = 101º → Rmg = 101º
c) o valor do Dag é obtido a partir da Curva de Desvios (Figura 3.12), onde tem-se, para o Rmg
igual a 101º, o valor de 2,5º E → Dag = 2,5º E
d) Rag = Rmg ± Dag = 101º - 2,5º (E) = 98,5º → Rag = 98,5º
Além destas, existem também a bordo Agulhas Magnéticas para as embarcações mi-
údas do navio (Figura 3.16a), que são geralmente portáteis.
Ademais, veleiros, lanchas e outras embarcações vêm usando cada vez mais as agulhas
esféricas, ou de “bolha”, que podem ser montadas horizontalmente, com braçadeira, ou embu-
tidas na antepara (Figura 3.16b). Estas bússolas oferecem diversas vantagens em comparação
com as agulhas convencionais, de Rosa plana. As agulhas esféricas têm suspensão interna e o
ponto de apoio da Rosa está situado no centro da esfera, assegurando máxima estabilidade da
bússola em todas as condições de caturro e balanço. Além disto, o domo esférico transparente
atua como uma poderosa lente de aumento, ampliando bastante o tamanho aparente da Rosa
graduada na área da linha-de-fé.
Quando montada com calços capazes de absorver choques, uma agulha esférica
funciona muito bem em lanchas de alta velocidade, mesmo com vibrações e trepidações
contínuas, em mar picado. O fluido utilizado nessas agulhas é um destilado fino de petróleo,
semelhante ao varsol.
Outro tipo de Agulha Magnética é a agulha de mão, utilizada para tomar marcações,
como algumas apresentadas na Figura 3.17. Como visto, a Agulha de Governo, por sua po-
sição a bordo, normalmente não permite a observação de marcações. Além disto, se for uma
agulha esférica, ela não possibilitará a utilização de um círculo azimutal ou alidade para
obtenção de marcação.
Os sensores do tipo fluxgate datam do final da década de 1930, porém seu desenvolvi-
mento se deu durante o período da Segunda Guerra Mundial com sua utilização como detectores
de submarinos.
O princípio do funcionamento das
Bússolas de Fluxo Magnético pode ser Figura 3.18 - Bússola de Fluxo Magnético
(fluxgate compass)
descrito da seguinte forma (Figura 3.18):
a) uma bobina de excitação, enro-
lada sobre o núcleo de material ferromag-
nético (na Figura 3.18 representado por
duas barras) é alimentada com tensão
alternada. Em cada uma das barras que
constituem o núcleo são criados campos
magnéticos que alternam suas polarida-
des com a mesma frequência de excitação
e, uma vez que têm orientações opostas,
cancelam-se. Em cada ciclo de excitação, o
núcleo é levado à saturação magnética em
uma e, posteriormente, noutra polaridade;
b) o núcleo, até atingir a saturação,
isto é, alcançar o máximo de sua capacidade
em se magnetizar, carreia o fluxo magné-
tico gerado pela bobina e o eventual fluxo
magnético externo (daí o nome portal de
fluxo ou fluxgate); e
c) outra bobina (bobina de detec-
ção), enrolada sobre o núcleo como um
todo, traduz em oscilações de tensão as variações de campo magnético surgidas da excitação.
Assim, as flutuações de tensão que não forem devido às variações do campo magnético induzido
serão proporcionais à componente do campo externo naquela direção. O acréscimo de outros
núcleos, colocados de forma ortogonal entre si, possibilita a detecção das demais componentes
do campo magnético terrestre.
A apresentação das leituras das Bússolas de Fluxo Magnético é digital ou feita em
um “mostrador analógico”, eletronicamente reproduzido (Figura 3.19). As Agulhas de Fluxo
Magnético são muito precisas (0.5°) e, além disso, o seu sinal digitalizado pode ser facilmente
transmitido para outros equipamentos e sistemas (e.g. radar, Piloto Automático e ECDIS) ou
para indicadores remotos (repetidoras).
Por muitos séculos, a Agulha Magnética foi o único instrumento disponível para deter-
minação de direções (rumos e marcações, ou azimutes) no mar. Na busca de um equipamento
que indicasse o Norte Verdadeiro em vez do Norte Magnético, a Agulha Giroscópica foi de-
senvolvida nas primeiras décadas do século XX. Avanços paralelos foram feitos nos Estados
Unidos e na Europa, sendo que os norte-americanos desenvolveram uma Agulha Giroscópica
tendo como base um único giroscópio, enquanto que os alemães utilizaram giroscópios múlti-
plos nas suas primeiras agulhas.
A Agulha Giroscópica é, essencialmente, um giroscópio “busca-meridiano”, cujo eixo
de rotação permanece alinhado com os meridianos terrestres, sendo capaz de oscilar em
torno de seu eixo vertical (eixo de precessão ou eixo de indicação de azimute) e de medir o
ângulo entre a proa do navio e o eixo de rotação do giroscópio, isto é, o Rumo Verdadeiro do
navio (Figura 3.20).
As Agulhas Giroscópicas são utilizadas a bordo, não apenas como referência para
obtenção de rumos e marcações (para governo e observação de Linhas de Posição para na-
vegação), mas também para prover dados de direção para Sistemas de Armas e Sistemas
Integrados de Navegação.
Os princípios dos quais depende a operação das Agulhas Giroscópicas são brevemente
explicados neste Capítulo, apenas para capacitar o navegante a entender o conceito básico
deste tipo de agulha e, ainda mais importante, habilitá-lo a compreender os limites de preci-
são das Agulhas Giroscópicas e as fontes de erro inerentes ao giroscópio, quando usado como
agulha a bordo de navios.
Figura 3.22 – Graus de Liberdade do Giroscópio Quando o rotor gira em alta velo-
cidade, o giroscópio desenvolve duas pro-
priedades que não apresenta enquanto o
rotor está em repouso. Estas duas proprie-
dades são conhecidas como inércia giros-
cópica (ou rigidez no espaço) e precessão.
sua base. Na Figura 3.23a, o eixo de rotação está horizontalizado e apontando em uma
determinada direção. Na Figura 3.23b, inclinou-se a base do giroscópio, mas o eixo continua
apontando na mesma direção e na horizontal.
Os dois principais fatores que afetam a inércia giroscópica são o peso do rotor e a velo-
cidade de rotação. Quanto maior a velocidade de rotação e o peso do rotor, maior será a inércia
giroscópica (ou rigidez no espaço). Em virtude disto, o rotor do giroscópio tem, geralmente,
a forma de uma roda, com a maioria do peso concentrada próximo das bordas. Este formato
proporciona uma boa distribuição de peso para a operação do rotor em alta velocidade, o que
resulta em uma inércia giroscópica elevada.
A Figura 3.24 fornece outra ilustração da inércia giroscópica: não importa de que ma-
neira a base é movimentada, o rotor do giroscópio mantém-se fixo no espaço. Mesmo que a base
dê um giro completo, o eixo de rotação manterá sua direção com relação a um determinado
ponto no espaço.
À medida que a Terra gira e o eixo de rotação do giroscópio permanece fixo, apontando
para um determinado ponto no espaço, surge uma condição denominada de “rotação aparente
do giroscópio”. Assim, por exemplo, se o eixo de rotação estiver apontando para uma estrela,
ele continuará apontando para a estrela durante todo o movimento aparente do astro através
do céu, descrevendo, também, um movimento aparente. Na verdade, porém, a estrela está
fixa e é a Terra (e, portanto, a base do giroscópio) que está girando. Desta forma, a rotação
aparente do giroscópio é um resultado da inércia combinada à rotação da Terra.
Precessão pode ser definida como o movimento resultante do rotor, quando é aplicada
uma força que tende a alterar a direção do seu eixo de rotação. Em virtude desta propriedade,
quando é aplicada ao rotor uma força tendendo a deslocar o eixo de rotação de sua direção no
espaço, em vez de o eixo se mover na direção da força, ele o fará num plano perpendicular à
direção da força aplicada.
Na Figura 3.25a, é aplicada uma força verticalmente de cima para baixo sobre a extre-
midade do eixo de rotação (tendendo a fazer esse eixo se inclinar em torno do eixo horizontal
marcado Y–Y). Porém, o eixo não se inclina e sim se movimenta para a direita, na direção da
seta marcada P. Essa é a precessão em torno do eixo vertical. Na Figura 3.25b, uma força é
aplicada no anel vertical, tendendo a movimentar o eixo de rotação para a esquerda; porém,
em vez de se conseguir esse movimento, o eixo se inclina na direção da seta marcada P. Essa
é a precessão em torno do eixo horizontal.
Um giroscópio livre não serve como agulha, mas, aproveitando as duas propriedades
acima descritas e aplicando forças convenientes nos locais apropriados, consegue-se estabilizar
o eixo de rotação no meridiano e na horizontal.
Nas agulhas SPERRY, a estabilização é feita por meio do balístico de mercúrio, sendo
os reservatórios de cada par ligados por tubos comunicantes que ficam orientados com o Norte–
Sul da agulha. A Figura 3.26 mostra um esquema do balístico de mercúrio (que, na figura, é
apresentado como um único par)
e a ponta negra sendo a ponta Figura 3.26 – Balístico de Mercúrio
norte. O centro de gravidade do
mercúrio fica abaixo do centro de
rotação e, assim, todo o sistema
passa a ter seu centro de gravi-
dade abaixo do eixo geométrico,
tornando-se, portanto, pendular:
o giroscópio pendular não amor-
tecido. Quando, por motivo de
rotação da Terra, o eixo do giros-
cópio começa a se elevar sobre o
horizonte, o mercúrio desloca-se
de um reservatório para o outro,
forçando a horizontalização e,
assim, aplicando uma precessão.
Para que a ponta norte do giroscópio com balístico de mercúrio se estabilize no meri-
diano e no horizonte, é feita uma ligação excêntrica entre os vasos comunicantes e a caixa do
rotor (Figura 3.28).
Para obter um conjunto simétrico, o sistema balístico é formado por dois jogos de dois
reservatórios de mercúrio, cada jogo formando
Figura 3.29 – Espiral do Eixo de Rotação
vasos comunicantes.
com Amortecimento
Assim, o movimento pendular é amorte-
cido, conseguindo-se um giroscópio pendular
amortecido. Neste caso, a ponta norte não
descreverá mais a elipse, e sim uma espiral loga-
rítmica convergente (Figura 3.29). O período de
oscilação é um pouco maior do que o do movimen-
to pendular não amortecido: cerca de 86 minutos.
Como a ponta norte leva três períodos para se
estabilizar, a agulha deve ser ligada 5 horas (86
x 3 = 268 minutos 4,5 horas, aproximadamente)
antes de o navio suspender.
VANTAGENS:
LIMITAÇÕES:
b. Desvios da Giro
É possível que os erros não sejam anulados completamente ou que a agulha não es-
teja funcionando em perfeitas condições; o Rumo indicado, então, não é o Verdadeiro e sim o
Rumo da Giroscópica (R gi). Nesse caso, a linha 000º–180º da agulha formaria, com a direção
do meridiano verdadeiro, um ângulo chamado de Desvio da Giroscópica (Dgi). O Dgi é leste
(E) quando o zero da Rosa (Norte da Giro) fica a leste (E) do meridiano verdadeiro e oeste (W)
quando o zero da Rosa fica a oeste (W) do referido meridiano. Note-se que as causas do Dgi
nada têm em comum com as do Desvio da Agulha Magnética. O Dgi é constante para todos os
Rumos, ao passo que os Desvios da Magnética variam com o Rumo Magnético. Se a causa do
Dgi não for o erro de latitude, ele será o mesmo em pontos diferentes da superfície da Terra,
o que não ocorre com os Desvios da Magnética. O Desvio é determinado comparando-se uma
Marcação da Giro com uma Marcação Verdadeira conhecida, como a de um alinhamento, ou
pelo Azimute do Sol (ou de outro astro).
Como o funcionamento da Agulha Giroscópica não sofre influência dos ferros de bordo,
nos navios de guerra ela é geralmente instalada em compartimentos internos, para maior
proteção em caso de combate.
Nos navios mercantes e auxiliares, a Agulha Giroscópica também era instalada em
compartimento próprio. Hoje, devido às pequenas dimensões do equipamento, ela é insta-
lada no Passadiço. Alguns navios possuem duas Agulhas Giroscópicas, uma servindo como
back-up da outra.
No que se refere aos acessórios da Agulha Giroscópica, além das já citadas Repetidoras,
convenientemente distribuídas a bordo, quando existentes, merece citar-se o piloto automá-
tico ou giro-piloto.
O piloto automático, ou giro-piloto, é um dispositivo elétrico ou eletrônico no qual ajusta-
-se o valor do rumo que se quer seguir, passando o navio a ser governado automaticamente.
Uma observação importante é que, estando o navio governado pelo piloto automático, deve-se
exercer uma vigilância permanente sobre a navegação e sobre o desempenho do equipamento,
que é susceptível de falhas, capazes de tirar o navio do rumo ajustado, provocando situações
perigosas. Mesmo com o piloto automático operando corretamente, uma forte corrente ines-
perada pode fazer com que o navio abata e se afaste da derrota planejada. Ademais, o piloto
automático também não reconhece a aproximação de outros navios em rumo de colisão.
O efeito Sagnac deu origem a dois tipos de giroscópios, o Giroscópio de Fibra Ótica
(Fiber Optic Gyroscope – FOG) e o Giroscópio de Anel de Laser (Ring Laser Gyroscope – RLG),
conforme apresentados nas Figuras 3.37 e 3.38, respectivamente. Ambos, baseados no mesmo
princípio, trabalham com a diferença de fase (FOG) e com a frequência de batimento, resul-
tante da interferência entre os raios Laser que, divididos em dois, se reencontram depois de
percorrerem caminhos opostos ao longo de espelhos (RLG).
Tanto o FOG quanto o RLG não têm partes móveis em contraste com o giroscópio me-
cânico, o que indica a possibilidade de menos perdas e, portanto, maior precisão.
Outro efeito, em que se baseiam novas tecnologias, é o descoberto pelo físico britânico
George Hartley Bryan, em 1890. Ele observou que os antinodos (pontos onde a amplitude
varia) da onda estacionária formada em uma taça de vidro a partir de um impulso mecânico
(na Figura 3.39, a onda estacionária está representada pela linha escura), fixos num primeiro
instante, se deslocavam (na Figura 3.39, a onda estacionária, agora deslocada, está repre-
sentada pela linha tracejada encarnada) no sentido de uma eventual rotação experimentada
pela taça (na Figura 3.39, está representada pelo ângulo teta). Esse efeito, portanto, poderia
ser mensurado e assim, obter a rotação sofrida.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 3
COMPENSAÇÃO DA AGULHA
MAGNÉTICA
1. CONCEITO. FREQUÊNCIA DE
COMPENSAÇÃO
Compensação é a operação que tem por fim anular ou reduzir a valores muito pequenos
(geralmente inferiores a 2º ou 3º), os Desvios da Agulha.
De acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Cadastramento de Empresas
de Navegação, Peritos e Sociedades Classificadoras (NORMAM 14/DPC), uma agulha mag-
nética deve ser compensada sempre que seus desvios excederem a 3 graus. Basicamente, a
compensação consiste em aproar o navio aos rumos magnéticos, usualmente defasados de 45
graus, fazendo por meio dos corretores com que a agulha magnética indique os rumos sem
desvios ou apresente valores aceitáveis (menor ou igual a 3 graus).
Uma Agulha não compensada apresenta graves inconvenientes:
a. Desvios grandes e muito diferentes de proa para proa;
b. Desvios muito variáveis com o adernamento do navio e a latitude magnética; e
c. Fracas estabilidade e sensibilidade.
A compensação é levada a efeito pela introdução na agulha de corretores, consti-
tuídos por:
a. Ímãs permanentes (barras) com as extremidades pintadas de vermelho (polo norte)
e azul (polo sul), que se introduzem no interior da bitácula;
b. Compensadores do desvio quadrantal, constituídos por esferas (muito raramente
placas e cilindros) de ferro doce, que são fixadas externamente a ambos os lados da bitácula; e
c. Barra de Flinders, cilindro de ferro doce introduzido em um tubo de latão fixado
verticalmente à bitácula.
Ao longo da vida de um navio é necessário realizar numerosas operações de compen-
sação. A evolução destas operações pode resumir-se da seguinte forma:
a. As agulhas são sujeitas a uma primeira operação de compensação, após o término
da construção do navio. Nessa ocasião, não existem ainda elementos que permitam calcular o
comprimento da barra de Flinders e, por isso, se recorre a um valor aproximado ou se efetua
em momento posterior a introdução deste corretor. A compensação é, então, levada a efeito
usando apenas ímãs permanentes e compensadores do desvio quadrantal. Efetua-se, assim,
uma compensação provisória.
b. Logo que o navio fizer uma viagem em que se desloque francamente em Latitude, é
possível levar a efeito observações de desvios que permitem calcular o comprimento da barra
de Flinders. Estas observações são geralmente efetuadas no mar, mas a introdução ou a reti-
ficação do comprimento da barra de Flinders tem quase sempre lugar em um porto; quando
se introduzir ou retificar este comprimento, é necessário alterar a posição dos corretores res-
tantes. Diz-se, então, que se levou a efeito uma compensação definitiva.
Enquanto não tiver sido realizada a compensação definitiva, os desvios, sobretudo nas
proas E e W, variam muito com a latitude magnética e as Agulhas não oferecem, por isso,
grande confiança. Se um navio navegar, em toda a sua vida útil sem se deslocar substancial-
mente em latitude, nunca chega a ser possível efetuar a compensação definitiva, o que não
tem, aliás, em tais condições, qualquer inconveniente.
Quer uma Agulha tenha sido sujeita à compensação definitiva, quer à compensação
provisória, é necessário verificar frequentemente os Desvios e repetir a compensação logo que
eles atinjam valores excessivos (maiores que 3º). Determinadas circunstâncias podem alterar
profunda e rapidamente a magnetização dos navios, tornando premente a necessidade de
determinar novas Tabelas e Curvas de Desvios e repetir a compensação. Apontam-se as mais
frequentes:
a. Grandes reparos ou alterações na estrutura do navio;
b. Instalação ou alteração de instrumentos elétricos ou de ferro nas imediações da
Agulha;
c. Transporte de carga de natureza magnética;
d. Prolongada permanência na mesma proa (em diques, carreiras, atracado ou mesmo
navegando);
e. Navio atingido por granadas, bombas, torpedos ou descargas elétricas atmosféricas;
f. Tiro de artilharia; e
g. Tratamento de desmagnetização como defesa contra minas magnéticas.
A compensação de uma agulha compreende, na prática, as seguintes operações:
Cálculo da barra de Flinders;
Calibragem, em terra, da balança de inclinação;
Inspeção da agulha e dos corretores; e
Rotação do navio e colocação das barras e dos corretores do desvio quadrantal.
2. CALIBRAGEM EM TERRA DA
BALANÇA DE INCLINAÇÃO
4.1. Advertências
e. As determinações de desvios não devem ser feitas muito próximo de outros navios
(menos de 500 metros).
a. Assegurar-se de que todos os ferros de bordo estão nas posições que normalmente
ocupam em regime de viagem e que o navio está sem banda e sem trim (compassado).
Para proceder à compensação é necessário aproar o navio a vários Rumos da Agulha, ope-
ração que é dificultada pelos movimentos da Rosa resultantes do deslocamento dos corretores.
Os métodos mais empregados são:
a. Sendo possível governar pela Giroscópica, admite-se que os Rumos da Agulha e os
Rumos Magnéticos são praticamente coincidentes depois de efetuada a compensação e governa-
-se o navio nos Rumos da Giro correspondentes aos Magnéticos:
R = R mg ± Dec mg
b. Não sendo possível governar pela giro, vai-se levando o navio ao Rumo da Agulha por
aproximações sucessivas. Aproa-se a determinado Rumo da Agulha; determina-se o Desvio e
introduzem-se ou deslocam-se os corretores; a Rosa desloca-se; o navio guina para acompanhar
esse deslocamento, o que provoca alteração no Desvio. Efetua-se nova determinação de Desvio
e, consequentemente, o deslocamento dos corretores e a guinada do navio. E assim sucessiva-
mente (mesmo que se trate de uma Agulha que apresente inicialmente grandes desvios, em
duas ou, quando muito, três operações, obtém-se o rigor desejado).
5. COMPENSAÇÃO DA AGULHA
MAGNÉTICA POR COMPARAÇÃO
COM A GIRO
Para descrever a compensação propriamente dita será detalhado apenas este processo,
por ser o mais utilizado a bordo dos navios.
A DHN edita um modelo (DHN-0104) que apresenta todo o procedimento para com-
pensação da Agulha Magnética por comparação com a Giro.
7ª Proa – Vai-se a uma proa intercardeal afastada de 90º da anterior e por meio ainda
dos corretores do desvio quadrantal, tira-se a metade de Desvio.
A figura 3A.2 apresenta as partes do modelo DHN-0104 que foram preenchidas nas
manobras do navio.
Se a operação de arriar o balde com os corretores não for suficiente para anular o desvio,
estes serão total ou parcialmente retirados. Se o desvio ainda subsistir, terão de ser invertidos.
Não é conveniente que o balde fique muito próximo da agulha; é preferível carregá-lo
com maior número de corretores, para que seja possível mantê-lo mais afastado.
Agulha sem
Proa corretores
Desvio
Ímãs – colocar o Agulha com corretores já colocados
Rmg observado
polo verme-
lho para:
N E BE afastar aproximar
TRANS- W BB vermelho aproximar vermelho afastar
VERSAIS S E BB para BB aproximar para BE afastar
W BE afastar aproximar
E E VANTE aproximar afastar
LONGI- W RÉ vermelho afastar vermelho aproximar
TUDINAIS W E RÉ p/ VANTE afastar para RÉ aproximar
W VANTE aproximar afastar
E aproximar
NE e SW
W afastar
E afastar
NW e SE
W aproximar
É conveniente que os corretores fiquem o mais afastado possível da agulha, sendo pre-
ferível substituí-los por outros de maiores dimensões do que aproximá-los excessivamente.
Por outro lado, se os corretores ao fim da compensação estiverem nas extremidades dos
braços, provavelmente na próxima compensação deverão ser substituídos por outros menores.
Já compensada a Agulha, faz-se um giro completo, parando nos Rumos cardeais e in-
tercardeais e, comparando os valores dos Rmg com os Rag, determinam-se os Dag, operação
esta denominada Regulamento da Agulha ou Calibragem da Agulha.
Caso o navio possua equipamento Degaussing, faz-se também o regulamento com o
Degaussing ligado.
7. BARRA DE FLINDERS
Normalmente, não se suspende para uma viagem sem antes proceder-se a um detalhado
estudo da área em que se vai navegar. Neste estudo, denominado Planejamento da Derrota,
utilizam-se, entre outros documentos, os seguintes:
a) Cartas Náuticas (de escalas variadas, desde Cartas Gerais até Cartas de
Pequenos Trechos ou Cartas Particulares, de portos ou aproximações);
b) Roteiros, Lista de Faróis e Lista de Auxílios-Rádio;
c) Tábuas das Marés, Cartas ou Tábuas de Correntes de Maré;
d) Cartas-piloto;
e) Cartas Especiais (Cartas de Derrotas, Cartas para Navegação Ortodrômica);
f) Almanaque Náutico e outras Tábuas Astronômicas;
g) Catálogos de Cartas e Publicações; e
h) Avisos aos Navegantes.
As Publicações Náuticas (ou Publicações de Auxílio à Navegação) citadas serão apre-
sentadas detalhadamente no Capítulo 12.
Definida a Derrota, esta é, então, traçada nas Cartas Náuticas (tanto nas Cartas de
pequena escala como nas de grande escala). Após o Traçado da Derrota, registram-se os va-
lores dos Rumos Verdadeiros e Distâncias a navegar entre os pontos de inflexão. Ademais, é
conveniente anotar ao lado de cada ponto o ETD e/ou o ETA1 previstos, calculado com base
na velocidade de avanço, ou SOA2, estabelecida na fase de Planejamento da Derrota. Com
isto, pode-se verificar, durante a execução da derrota, se o navio está adiantado ou atrasado
em relação ao planejamento.
Além disso, o Encarregado de Navegação deve preparar uma Tabela com os dados da
derrota planejada (coordenadas dos pontos da derrota, rumos e distâncias, ETD / ETA, duração
das singraduras e outras observações relevantes) e submetê-la à aprovação do Comandante,
junto com as Cartas Náuticas mostrando o traçado da Derrota, antes da realização do briefing
para todos os membros da tripulação envolvidos.
A Figura 4.1 apresenta, como exemplo, uma tabela com os dados de uma derrota cos-
teira, do Rio de Janeiro a Natal; e a Figura 4.2 apresenta o traçado dessa derrota, em uma
Carta de Grande Trecho.
1
Conforme já apresentado no Capítulo 1, subitem 1.2.3: Hora Estimada de Partida (Estimated Time of Departure
–ETD) e Hora Estimada de Chegada (Estimated Time of Arrival – ETA).
2
Idem, no subitem 1.9: Velocidade de Avanço (Speed of Advance – SOA).
Para determinar a sua posição, o navegante recorre ao emprego das Linhas de Posição.
As LDP são denominadas de acordo com o tipo de observação que as originam. Sendo
assim, podem ser:
• Retas de Marcação;
• Retas de Alinhamento;
Uma só linha de posição indicará ao navegante o lugar geométrico das múltiplas posições
que o navio poderá assumir em um determinado instante, fruto da observação que efetuou,
mas não a sua posição. Por exemplo, se for observado que, às 1032, o navio está à distância
de 5 milhas de uma certa ilha, o navegante saberá que, nesse instante, o navio se encontra
em algum ponto da circunferência com centro na ilha e raio de 5 milhas.
As LDP têm formas geométricas diferentes, de acordo com as observações que lhes de-
ram origem. À exceção das isóbatas, que podem assumir as curvas mais caprichosas, as LDP
habituais têm, geralmente, as formas de retas ou circunferências, o que torna o seu traçado
sobre a carta rápido e simples.
É a LDP de maior precisão e não necessita de qualquer instrumento para ser obtida,
sendo determinada por observação visual direta, a olho nu.
• os dois pontos que materializam o alinhamento devem ser bem definidos, correta-
mente identificados e estar representados na Carta Náutica; e
Figura 4.3 – Linha de Posição: Alinhamento Ig. Candelária – Torre I. Fiscal (Carta 1511)
Figura 4.4 – Linha de Posição: Alinhamento “C” – Carta Náutica 1713 – Porto de Santos
(Parte Sul)
Os dois alinhamentos (Figuras 4.3 e 4.4), como muitos outros aqui não citados, por
serem de amplo conhecimento e emprego dos navegantes, são comumente representados nas
cartas náuticas. Outros alinhamentos, no entanto, que atendem plenamente às condições
essenciais acima apontadas, e que não estão traçados nas cartas, podem e devem ser usados
como uma LDP, sem qualquer restrição.
Quando se mede uma profundidade a bordo, define-se uma linha de posição, pois pode-
-se dizer que o navio estará em algum ponto da ISÓBATA (Linha de Igual Profundidade)
correspondente à profundidade obtida.
A Isóbata é uma LDP aproximada, mas que tem grande emprego como LDP DE
SEGURANÇA, para se evitar áreas perigosas (a profundidade limite pode, inclusive, ser
ajustada no alarme do ecobatímetro ou do ECDIS, por exemplo).
O emprego da isóbata como LDP só tem valor real em áreas onde o relevo submarino
é bem definido, apresentando uma variação regular, além de que, obrigatoriamente, dever-
-se levar em consideração as informações contidas no Diagrama de Levantamentos ou de
Confiabilidade, constante da Carta Náutica em papel, ou no Diagrama de Zona de Confiança,
constante da Carta Náutica Eletrônica (ENC), conforme apresentados no Capítulo 2.
Quando se utiliza uma Linha de Igual Profundidade como LDP, convém usar sempre
uma que conste da Carta Náutica na qual se navega.
Por sua vez, se for desejada uma maior precisão, será necessário reduzir a profundi-
dade obtida ao Nível de Redução da Carta, subtraindo dessa profundidade a altura da maré,
no instante de sua medição (para um melhor entendimento, vide o Capítulo 10).
Na Figura 4.8, por exemplo, que apresenta um trecho da Carta 1501 – Baía de
Guanabara, se o navio sondou 20 metros (valor já corrigido do calado e da altura da maré no
instante observado), ele estará, nesse instante, sobre a isóbata de 20 metros representada
na Carta Náutica da área, em área próxima à sua posição estimada.
Uma única Linha de Posição contém a posição do navio, porém não a define. Para de-
terminar a posição, é necessário cruzar duas ou mais linhas de posição do mesmo tipo ou de
naturezas diferentes.
As duas ou mais LDP podem ser obtidas de observações simultâneas de dois ou mais
pontos de terra bem definidos na carta náutica, de observações sucessivas de um mesmo ponto,
ou de pontos distintos.
A bordo, as observações são feitas, geralmente, por um só observador. Desse modo,
observações de dois ou mais pontos não podem, teoricamente, ser consideradas simultâneas.
Contudo, na prática, tais observações são aceitas como simultâneas e, por isso, todo esforço
deve ser feito para que o intervalo de tempo entre elas seja o mínimo possível.
O posicionamento do navio em navegação costeira ou em águas restritas é normalmente
obtido por um dos métodos indicados a seguir. A escolha do método mais conveniente depende,
entre outros, dos seguintes fatores:
a) meios de que o navio (ou embarcação) dispõe;
b) precisão requerida (que depende, por sua vez, da distância da costa ou do perigo
mais próximo); e
c) número de pontos notáveis disponíveis (e representados na carta náutica) para
observação visual ou identificáveis pelo radar.
O símbolo adotado para representar uma posição determinada é uma pequena cir-
cunferência, centrada no ponto obtido, ou seja, na interseção (cruzamento) das LDP, como
apresentado na Figura 4.10.
Os dados obtidos pelo Navio no momento da observação, representados no exemplo da
Figura 4.10, são:
A posição determinada por apenas duas LDP pode conduzir a uma ambiguidade, como
apresentada na Figura 4.14. O Navio está na posição A ou B?
Por isso, sempre que possível, é conveniente obter uma terceira LDP, que eliminará
qualquer possibilidade de ambiguidade, como mostrado nas Figuras 4.15 e 4.16.
Figura 4.15 – Posição por Três Marcações Figura 4.16 – Posição por Três Distâncias
Visuais
Os dados obtidos pelo Navio, representados no exemplo das Figura 4.15 e 4.16, são:
Além dos métodos anteriores que são mais comuns, outros podem ser utilizados para
determinação da posição em navegação costeira, tais como:
Na Figura 4.17, o navio marcou o farol aos 264° e, simultaneamente, sondou 20 metros
com o ecobatímetro. A posição estará na interseção da reta de marcação com a isóbata de 20
metros, representada na carta.
b. Posicionamento Eletrônico
GNSS é o termo amplo para sistemas de navegação por satélite, que têm por objetivo
fornecer posicionamento geoespacial com cobertura global. Atualmente fazem parte do siste-
ma GNSS os sistemas: GPS (EUA); GLONASS (Rússia); GALILEO (Comunidade Européia);
e BEIDOU/COMPASS (China).
Figura 4.21 – Medição de Segmento Capaz: Erro Causado pela Altitude dos
Pontos
A combinação de dois segmentos capazes, medidos entre três pontos, sendo um deles
(ponto central) comum aos dois ângulos observados, fornece a posição do navio com elevado
grau de precisão.
A técnica é a seguinte: a bordo,
Figura 4.22 – Uso do Sextante na Medição dos
do mesmo ponto no navio, devem ser Segmentos Capazes
medidos (simultaneamente ou, na im-
possibilidade de fazê-lo, com o menor
intervalo de tempo possível entre as
observações) dois ângulos horizontais
(com o sextante), entre três pontos,
sendo o ponto central comum aos dois
ângulos observados, como apresentado
na Figura 4.22.
Ficam, então, definidos 2 seg-
mentos capazes, que se cruzam no ponto
central e em outro ponto, que define a
posição do navio (ou embarcação), con-
forme mostrado na Figura 4.23.
Para plotagem da posição por segmentos capazes, podem ser utilizados três processos.
b. o ponto central estar mais próximo ao Navio que os demais, como apresentado na
Figura 4.29. Nesse caso, a circunferência de indeterminação fica com a convexidade voltada
para a área em que se navega e as posições também serão sempre bem definidas; e
c. o Navio encontrar-se no interior do triângulo formado pelos três pontos, como apre-
sentado na Figura 4.30. Nessa situação, qualquer posição do Navio também será bem definida,
pois estará distante da circunferência de indeterminação.
A combinação de dois segmentos capazes fornece uma das posições mais precisas que
se pode obter por processos visuais, possuindo, ainda, a vantagem de prescindir de agulhas,
dispensando os subsequentes cuidados quanto a desvios, declinação magnética, etc.
Em virtude de sua precisão, a posição por segmentos capazes pode ser empregada
no posicionamento de sinais de auxílio à navegação, em levantamentos hidrográficos, em
minagem e varredura e em quaisquer outros serviços onde se pretenda o máximo rigor na
posição observada.
Em contrapartida, com o navio em movimento, o método exige dois observadores (para
obter a perfeita simultaneidade na medição dos ângulos), a plotagem da posição requer alguma
prática e necessita sempre de três objetos dispostos dentro das condições essenciais acima
enumeradas (além de serem bem definidos e estarem representados na carta náutica da área).
Estes inconvenientes tornam a navegação por segmentos capazes pouco utilizada na prática.
Entretanto, o método de segmentos capazes tem algumas aplicações especiais na na-
vegação costeira e em águas restritas que merecem ser citadas:
• pode ser usado com o navio fundeado, para obter a posição rigorosa (independente
do uso de agulhas) e assim servir como base para determinação dos desvios da agulha,
calibragem do radar ou outras verificações instrumentais;
• pode ser usado para posicionar novos perigos visíveis ainda não cartografados (como
cascos soçobrados ou outros obstáculos à navegação), conforme mostrado nas Figuras
4.31a e 4.31b, ou pontos notáveis à navegação ainda não representados nas cartas
náuticas; e
• pode ser usado em navegação de segurança, na definição de ângulos horizontais de
segurança, assunto que será estudado no Capítulo 7.
Figura 4.32 – Posição por Segmentos Capazes sem um Ponto Central comum,
utilizando quatro pontos
IV. confronto do Ponto Observado e do Ponto Estimado para um mesmo instante, a fim de:
Trechos, uma vez que elas não contêm a riqueza de informação indispensável à obtenção
precisa de posições e à condução da derrota, tais como detalhes sobre a topografia do fundo,
perigos à navegação, auxílios à navegação, contornos da costa, pontos notáveis, etc. Assim,
como norma, devem ser utilizadas sempre as cartas de maior escala existentes, na medida em
que elas estão sujeitas a deformações menos expressivas e apresentam a riqueza de detalhes
essencial para a Navegação Costeira.
Ademais, é necessário lembrar que a interpretação das cartas costeiras (grande e média
escala) deve ser sempre complementada com a leitura do Roteiro, bem como de outras publica-
ções náuticas, como a Carta 12.000 (INT1 – Símbolos, Abreviaturas e Termos), Cartas-Piloto,
Cartas de Correntes de Maré, Lista de Faróis, Lista de Auxílios-Rádio e Tábuas das Marés.
Ao ser obtida uma posição pelo cruzamento de LDP (marcações, alinhamentos ou dis-
tâncias), é necessário que o navegante avalie a precisão e a confiança que pode depositar
no ponto observado. Para garantir bons resultados, é necessário, entre outras precauções,
tomar alguns cuidados na escolha dos pontos de apoio à navegação utilizados.
Os principais cuidados a serem observados são:
a. identificar corretamente os pontos visados, tanto no terreno como na carta náutica.
É necessário cuidado, principalmente, com construções recentes, que, apesar de notáveis à
navegação e constituírem excelentes marcas, podem não ter sido, ainda, incluídas na carta.
b. evitar pontos muito distantes, em face do aumento do erro linear em função do erro
angular. Realmente, deve-se dar preferência a pontos mais próximos, a fim de minimizar os efeitos
de erros nas LDP, conforme mostrado na Figura 4.33. Um mesmo erro de observação, por exemplo,
irá provocar um erro na posição tanto maior quanto mais distante estiver o objeto marcado.
Na Figura 4.36, observa-se que a área de incerteza da posição torna-se maior à medida
que o ângulo de cruzamento entre as LDP cresce ou decresce em relação ao ângulo ótimo de
90°. Com um ângulo de cruzamento de 90°, o efeito de um erro de 5° nas LDP é minimizado.
Em termos numéricos, pode-se afirmar que, quando se determina a posição por interseção de
duas LDP, devem ser evitados ângulos de cruzamento menores que 30° ou maiores que 150°.
Na Figura 4.36, são apresentados, graficamente, os efeitos de um possível erro de ± 5° nas
marcações de dois objetos com ângulos de cruzamento de 30°, 90° e 120°.
d. utilizando duas retas de marcação, visar, sempre que possível, um ponto pela proa
(ou pela popa) e outro pelo través, para melhor definir o caimento e o avanço (ou atraso),
conforme mostrado na Figura 4.37, onde o navio está adiantado (isto é, com avanço) e com
caimento para bombordo, em relação à derrota prevista e à navegação estimada.
e. para evitar erros de identificação, sempre que um novo ponto começar a ser utili-
zado, cruze-o com outros dois pontos já anteriormente marcados. Caso não haja outros dois
pontos para a verificação, deve ser observado se o caminho percorrido na carta náutica (entre
a posição anterior e a posição obtida com o novo ponto) corresponde efetivamente à distância
navegada entre as posições (procurando detectar saltos ou recuos).
f. conforme visto, um cruzamento de apenas duas LDP dificilmente denuncia um erro
cometido e, assim, não inspira muita confiança. Então, sempre que possível, devem ser cru-
zadas, pelo menos, três LDP, que indicam, visualmente, a precisão obtida na posição.
Quando se tomam três retas, elas nem sempre se cruzam em um ponto, podendo gerar
um triângulo de incerteza (Figura 4.38), cujas principais causas são:
• erros de plotagem; ou
Para que as LDP possam ser consideradas simultâneas, é essencial que seja mínimo
o intervalo de tempo decorrido entre as observações.
Ademais, é necessário que seja obedecida uma sequência adequada de obtenção de
marcações. A mais usual recomenda observar-se, primeiramente, os pontos próximos da proa
ou da popa e, por último, os próximos do través, cujos valores das marcações variam mais ra-
pidamente. Neste caso, a hora da observação deve corresponder ao instante da última visada,
tal como ilustrado na Figura 4.39.
Entretanto, pode-se, também, observar primeiro as marcas pelo través e, por último, as
próximas à proa e popa. Neste caso, adota-se para a posição a hora da primeira observação.
Ou seja, a hora da posição deve corresponder ao instante da observação da LDP que varia
mais rapidamente.
Quando o instante de determinação da posição não for comandado por quem obtém
as marcações, o procedimento correto é, no momento do “top”, marcar primeiro os objetos ou
pontos notáveis próximos ao través (pois suas marcações variam mais rapidamente) e depois
os objetos ou pontos mais próximos à proa ou popa (cujas marcações variam mais lentamente),
adotando para a posição a hora e o odômetro correspondentes à primeira marcação.
No caso de determinação da posição por interseção de distâncias, é necessário observar
que as distâncias a objetos ou pontos situados próximos à proa ou popa variam mais rapida-
mente que as distâncias a pontos situados próximos ao través. Desta forma, dois procedimentos
podem ser adotados:
a) determinar primeiro as distâncias a pontos situados próximos ao través (que variam
mais lentamente) e depois as distâncias a pontos na proa ou popa, adotando para a posição
a hora e o odômetro correspondentes à última determinação, conforme mostrado na Figura
4.40; ou
Como regra geral, a hora e o odômetro adotados para a posição devem corresponder à
LDP que varia mais rapidamente.
Todas as LDP observadas devem ser cuidadosamente anotadas, para permitir uma
plotagem correta das posições na carta e, até mesmo, uma avaliação posterior da navegação
realizada.
Na Marinha, as observações que originam LDP e outras informações relativas à na-
vegação são registradas em um modelo apropriado, o impresso DHN-0622-4 – Registro de
Ocorrências da Navegação, também conhecido como “Folha N-2”, conforme o exemplo mostrado
na Figura 4.41. Estes registros constituem um documento legal do navio.
O modelo pode ser acessado para impressão na página da intranet do CHM, no endereço:
“https://www.chm.mb/dados-do-segnav-publicacoes/carta-sar-e-impressos”.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 4
1. INTRODUÇÃO
O navegante, à maneira tradicional, recorre a observações que lhe permitem obter sua
posição. Quando lançadas na carta náutica, essas observações consubstanciam uma posição
que o navio ocupava no momento da observação, que não é a que ora ocupa.
Em outras situações, usando os meios de navegação satelital, por exemplo, obtém o
posicionamento direto, real ou praticamente em tempo real.
Uma vez que a imperfeição é inerente a quaisquer um dos processos, faz-se impor-
tante compreender, ao menos em termos de ordem de grandeza, tanto numa como noutra
das possibilidades apontadas, com vistas a buscar melhor consciência situacional, o quão
imperfeito é o posicionamento obtido e se o risco assumido entre os instantes de obtenção de
posição é aceitável.
É, porém, essencial que o navegante tenha plena consciência da grandeza dos erros que
possa cometer, pois, dessa forma, estará alerta para tomar as precauções que as circunstâncias
exigirem. O que é realmente perigoso é ignorar as limitações ou supervalorizar a confiança
que uma posição possa inspirar.
O navegador deverá sempre manter as condições de ajuste, calibração e verificação de
seus equipamentos, a fim de evitar medições fora do padrão necessário para a manutenção
do seu posicionamento no mar. A metodologia de aquisição de coordenadas por observações
de marcações e distâncias ou, ainda, por algum método eletrônico ou por satélites, deve ser
sempre alvo de avaliações e críticas quanto ao seu desempenho.
2. CONCEITOS
2.1 Incerteza
A incerteza é a lacuna sobre o conhecimento exato de uma grandeza que se busca medir,
é a dúvida acerca da validade do resultado de uma medição. Quão boa pode ser minha medida?
Quão próxima do valor médio, que supostamente pode ser considerado a posição verdadeira,
pode chegar a minha medida?
A incerteza é uma característica dos equipamentos, denotando quão próxima do
valor verdadeiro podem ser a suas medidas. A combinação das incertezas dos equipamentos
envolvidos, e considerando os métodos aplicados, resultará na incerteza do resultado final,
ou seja, da posição na navegação. Será expressa como um intervalo, associado a um grau de
confiança estatístico de que, nesse intervalo, estará contido o valor correto.
A incerteza expressa uma medição em termos quantitativos e qualitativos, obedecendo
a uma lógica de que quanto menor o seu valor, maior tenderá a ser a qualidade da observação
que se expressará em termos de resultado.
As duas maneiras de obtenção da incerteza são classificadas, tradicionalmente, como
tipo A e B. A avaliação de incerteza tipo A é, na maioria dos casos, a estimativa mais confiá-
vel quando obedecidas as condições de repetitividade no valor médio calculado. Baseia-se em
métodos estatísticos em que, obtida a média, o desvio padrão, variância, covariância e a sua
correlação, permitem seu cálculo e suas eventuais propagações. A determinação da incerteza
tipo B pode ser obtida por medições prévias, especificações técnicas oferecidas pelo fabricante,
manuais do equipamento, certificados de calibração, etc.
Equipamentos e posicionamentos têm incertezas. Na prática da navegação, é
bastante comum o emprego de equipamentos e acessórios que apresentam na medição o uso
de leitura de escala, tais como: régua, transferidor, ábaco, compasso e medidor analógico.
Para esses casos, sua incerteza pode ser definida como a metade da menor fração da divisão
da escala que pode ser estimada visualmente. Uma régua milimétrica, por exemplo, terá 0,5
mm de incerteza.
2.2 Erro
b) Erros Grosseiros, que nada mais são do que enganos do observador (leituras
erradas dos instrumentos, entradas erradas em tábuas, inversões de sinais, erros nas ope-
rações, etc.) ou avarias eventuais dos instrumentos. São mais facilmente detectáveis, pelo
presumível absurdo dos resultados a que conduzem. Já os de pequenas dimensões são, por
vezes, de muito difícil detecção. O conhecimento da existência deste tipo de erros impõe ao
navegante cuidado nas observações ou cálculos, em tempo real, que efetue e espírito crítico
na análise dos resultados obtidos.
c) Erros Acidentais, que são erros de grandeza e sinal imprevisíveis, sempre presentes
em qualquer observação. Estes erros são aleatórios, que não se podem evitar, mas cujas leis
são razoavelmente conhecidas e das quais passaremos a nos ocupar. Os erros acidentais são
normalmente indetectáveis, mas a análise estatística das medições efetuadas pode indicar
o grau de probabilidade de não excederem determinados valores. Além disso, os efeitos dos
erros acidentais podem ser reduzidos, efetuando-se várias medições nas mesmas condições e
adotando-se para o valor da grandeza a média entre as medidas efetuadas.
De uma forma geral, é correto afirmar que o erro grosseiro pode ser eliminado
(descartando-se as medições cujos valores isolados destoam das demais), o erro sistemático
pode ser corrigido (interpondo “sinal” contrário à tendência que introduz), e o erro acidental
pode ser processado estatisticamente de maneira a garantir, em determinado percentual, que
seu valor fique confinado a um intervalo de confiança considerado aceitável àquela medição.
3. ERROS ACIDENTAIS
Definiu-se anteriormente o erro como sendo a diferença entre o valor real de uma
grandeza e o seu valor obtido em uma determinada observação.
Pondo de lado os erros sistemáticos e os erros grosseiros, pode-se dizer que o verdadeiro
valor do erro será, em geral, impossível de determinar, uma vez que não haverá, normalmente,
conhecimento do valor real da grandeza medida. O único elemento de que, na realidade, se
dispõe é a comparação entre cada medição realizada e o valor adotado para a grandeza medida.
A diferença entre esses dois valores chama-se Erro Aparente, Resíduo ou Desvio.
Suponha-se, por exemplo, que se pretende medir, com o Radar, a distância do navio a
um ponto da costa. O navio está fundeado e sabe-se que o erro instrumental é zero. Como se
pretende ter rigor na medição indicada, efetuou-se a seguinte série de observações:
D1 = 1,5 milha
D2 = 1,3 milha
D3 = 1,0 milha
D4 = 1,7 milha
D5 = 1,5 milha
O valor mais provável da distância medida é a média aritmética dos vários valores
obtidos, isto é:
Adotando o critério da média aritmética, verifica-se que a soma algébrica dos des-
vios é nula. Logo, a soma dos quadrados dos desvios é mínima.
Sendo a soma dos quadrados dos resíduos um mínimo para o valor mais provável da
grandeza a medir, é natural utilizar-se dessa soma para avaliar a precisão de uma medição.
Desse modo, chama-se Erro Médio Quadrático a grandeza definida por:
Assim, o erro médio quadrático mostra que a precisão de uma medição feita, aplicando-se
a lei das médias (procedimento normalmente adotado na prática da navegação), cresce (me-
lhora) proporcionalmente à raiz quadrada do número de observações e não proporcionalmente
ao número dessas observações, como se poderia supor intuitivamente. Pode-se demonstrar
que o erro médio quadrático tem 67% de probabilidade de não ser excedido.
4. ERRO PROVÁVEL
No caso do exemplo anterior, a adoção do valor de 1,4 milha conduz a um erro pro-
vável de:
E = ± (2/3 x 0,26) = ± 0,17 milha
Assim, haveria uma probabilidade de 50% de que o erro cometido na medição não ex-
cedesse 0,17 milha.
Na prática da navegação, pretende-se conhecer com maior segurança a grandeza do
erro cometido em uma observação. Ou melhor, deseja-se saber que, para a LDP adotada, existe
uma probabilidade elevada de não se exceder um determinado erro. Nestas circunstâncias, é
evidente que a margem de 50% é pequena, pretendendo-se, via de regra, uma margem de 95%.
Pode-se demonstrar que, caso só existam erros acidentais, a probabilidade de não
ocorrer um erro superior a um determinado valor na execução de uma observação é, aproxi-
madamente, fornecido na tabela apresentada na Figura 4A.2.
Voltando ao exemplo dado, pode-se, então, afirmar que, ausentes os erros sistemáticos
e os lapsos grosseiros, a medição efetuada tem 95% de probabilidade de não exceder um erro
de:
E(95%) = 3E(50%) = 3E = 3 x 0,17 = 0,51 milha
No caso de uma medição ser influenciada por erros de mais de uma espécie, demonstra-se
que o erro provável total é dado pela raiz quadrada da soma dos quadrados dos erros prováveis
de cada espécie, isto é:
Por exemplo, quando o navegante determina uma marcação com uma Agulha Magnética,
a LDP correspondente vem eivada dos seguintes erros:
a) erro acidental cometido pelo navegador durante a observação;
b) erro da agulha proveniente da diferença entre o valor do desvio calculado e o seu
valor real nesse local e nessa proa; e
Nestas circunstâncias, o navegante deve ter sempre presente que a posição mais pro-
vável do navio é sobre a LDP observada, mas que o navio tem 50% de probabilidade de se
encontrar numa faixa compreendida entre a (LDP + E) e a (LDP – E), denominada zona de
confiança de 50% de probabilidade. Por sua vez, a zona de confiança de 95% de probabilidade
será uma faixa centrada na LDP, mas com uma largura tripla da zona dos 50%, conforme
apresentado na Figura 4A.3.
O traçado da elipse que define a zona de confiança é pouco cômodo. Além disso,
torna-se conveniente definir essa zona de confiança como um círculo, com centro no ponto
de interseção das LDP observadas e com um raio que exprima a grandeza do erro. Esse raio
se chama Erro Radial.
Pode-se demonstrar que o erro radial é dado pela expressão:
Assim, pode-se afirmar, por exemplo, que um navio tem 95% a 98% de probabilidade
de se encontrar dentro de um círculo de raio igual a 2r, isto é:
E95% = 2.r = . cosec α
E95% = 3. . cosec α
Se, porém, o ângulo entre a LDP1 e a LDP2 é diferente de 90º, a diferença VO (erro
radial) é maior que o valor de E2, como se vê na Figura 4A.7b.
Na realidade, ela será tanto maior quanto menor for o valor do ângulo de cruzamento α.
O ponto obtido por cruzamento de duas LDP não permite revelar graficamente, com
rapidez, a grandeza do erro cometido. Conforme visto, por esta razão é de boa norma recorrer
à observação de pelo menos três objetos, pois este procedimento permite avaliar, imedia-
tamente após o traçado, a ordem de grandeza do erro em jogo, pela dimensão do triângulo
formado pelas três LDP (vide a Figura 4A.8) ou da figura formada quando se observa um
número maior de LDP.
Na realidade, quando se determinam 3 LDP, devido aos erros a que estão sujeitas, elas
não concorrem geralmente em um ponto, definindo, pelo contrário, um pequeno triângulo,
denominado triângulo de incerteza.
• erros da própria Carta, como, por exemplo, incorreta representação dos objetos
observados.
Se o navegante constatar que o triângulo de incerteza tem dimensões excessivas, deverá
analisar o seu trabalho, tendo em mente as causas de erro indicadas acima.
Quando o triângulo é de pequenas dimensões, toma-se, normalmente, como posição, o
seu centro geométrico.
Se houver um perigo nas proximidades, adota-se como posição o vértice do triângulo
mais próximo do perigo.
movimento real do navio, diante dos ambientes em que se desloca, ou seja, o ar e o mar. Usar a
navegação estimada, mesmo paralelamente a outros tipos de navegação, auxilia na prevenção
de erros grosseiros, propiciando a permanente crítica e contribuindo para a manutenção da
consciência situacional.
Por outro lado, o fato de a navegação estimada não depender de meios exteriores ao
navio confere-lhe uma especial relevância, na medida em que independe de condições atmos-
féricas favoráveis (indispensáveis, por exemplo, para a navegação astronômica, navegação
por métodos visuais ou, até mesmo, para o bom funcionamento de alguns sistemas de radio-
navegação) e de informações provenientes de fontes externas.
Além disso, devem ser ainda mencionadas as seguintes práticas empregadas na reso-
lução dos problemas que envolvem velocidade, tempo e distância:
a. a “regra dos três minutos”, pela qual “a distância percorrida pelo navio, em jardas,
em três minutos, é igual à sua velocidade, em nós, multiplicada por 100”; e
b. a “regra dos seis minutos”, pela qual “a distância percorrida pelo navio, em milhas,
em seis minutos, é igual à sua velocidade, em nós, dividida por 10”.
Até agora considerou-se que o navio percorreu exatamente o rumo verdadeiro traça-
do, mantendo rigorosamente a mesma velocidade, e, também, a velocidade na superfície foi
a mesma que a efetivamente desempenhada no fundo. Assim, não foram levados em conta
vários fatores que podem ter alterado o movimento do navio, tais como:
• correntes marítimas;
• correntes de maré;
• efeito do vento;
• estado do mar (ação das vagas, fazendo a proa tomar direções diferentes do rumo
desejado);
• mau governo (efeito das guinadas exageradas na frequência ou na amplitude, que
o timoneiro inábil eventualmente possa fazer para manter o rumo);
• pequenas diferenças de RPM entre os eixos (para navios com mais de um eixo);
• pequenas diferenças de velocidade;
• banda e trim; e
• desvio da agulha não detectado ou mal determinado.
Na prática da navegação costeira, emprega-se o termo “corrente” como a resultante
de todos estes fatores sobre o movimento do navio (Figura 5.5).
Rumo no fundo (Rfd) – é o ângulo entre o caminho efetivamente percorrido pelo na-
vio (projetado sobre o fundo do mar) e o Norte Verdadeiro, contado de 000º a 360º, a partir do
Norte Verdadeiro, no sentido horário.
Rumo da corrente (Rcor) – é a direção
Figura 5.6 – Abatimento (abt)
do movimento resultante do efeito combinado
de todos os fatores mencionados no item 5.4,
medida com relação ao Norte Verdadeiro, no
sentido horário. O termo é, também, empre-
gado para indicar, isoladamente, a direção do
deslocamento da massa líquida por efeito da
corrente marítima (ou pela ação conjunta desta
com as correntes de maré). O rumo da corrente
é a direção para onde flui a corrente, contada
a partir do Norte Verdadeiro, de 000º a 360º,
no sentido horário.
Abatimento (abt) – é o ângulo entre
o rumo na superfície (RN) e o rumo no fundo
(Rfd). É contado para BE ou para BB, a partir
do rumo na superfície (Figura 5.6).
Caimento, avanço e atraso – quando se compara uma posição observada com a
estimada para um mesmo momento, a distância entre os dois pontos é o efeito da corrente.
Esta distância pode ser decomposta em duas componentes: a primeira, denominada avanço
(ou atraso), é obtida pelo rebatimento do ponto estimado sobre o rumo no fundo e, consequen-
temente, igual à diferença das distâncias percorridas no fundo e na superfície; e a segunda,
denominada caimento, é igual à corda compreendida pelo arco do rebatimento (Figura 5.7).
Posição estimada – posição (presente) obtida pela aplicação, a partir de uma posição
observada, de vetores definidos pelo rumo do navio e pela distância em relação à superfície.
Posição estimada corrigida – posição (presente) obtida pela aplicação, a partir de
uma posição observada, de vetores definidos pelo rumo no fundo e pela distância percorrida
em relação ao fundo, supondo que o vetor de corrente obtido permanecerá idêntico após a sua
observação.
Posição carteada – é a posição (futura) que se prevê que o navio ocupará em horas
futuras. Dependendo da navegação em curso, poderá tomar como base uma posição observada,
estimada ou estimada corrigida. Para ser plotada, poderá ser considerada ou não a corrente,
dependendo dos elementos que o navegante dispuser. Se a corrente foi determinada com cri-
tério, o navegante não deverá omiti-la na carteação dos próximos pontos, adotando, então, a
premissa de que o navio irá se deslocar com o rumo e a velocidade, em relação ao fundo, obtidos
considerando, portanto, que se manterão os efeitos do vetor corrente previamente calculado.
A posição carteada é bastante útil como antecipação dos eventos que deverão ocorrer nas
próximas horas, para alertar o pessoal de serviço (faróis que irão “boiar”, variações sensíveis
nas isóbatas, proximidades de perigo, etc.). É representada por um pequeno traço cortando o
rumo, com a indicação da hora.
As informações sobre a corrente poderão ter sido determinadas pelo próprio navio, no
período imediatamente anterior ou, então, serem oriundas de Cartas-Piloto ou outros docu-
mentos náuticos.
A necessidade de previsão do Rfd e da velfd é bastante encontrada na prática, pois é
rotineiro os navios informarem com antecedência o seu ETA (estimated time of arrival ou hora
estimada de chegada), baseado no qual as autoridades do porto de destino tomarão uma série
de providências, como prático, rebocadores para as manobras de atracação, cais, etc. Poucas
situações são mais constrangedoras a um navegante do que estar a várias milhas do porto de
destino na hora em que estabeleceu o seu ETA, sabendo que diversas providências já foram
tomadas, confiando na precisão de seus cálculos.
c. determinação do rumo e da velocidade na superfície, conhecendo-se os
elementos da corrente e o rumo e a velocidade no fundo desejados (Figura 5.14).
Exemplo (Figura 5.15):
A posição observada do navio às 1500 é Lat. 23º 05,0’S Long. 043º 02,0’W. O navio de-
seja estar na posição Lat. 22º 59,0’S Long. 043º 10,0’W, onde receberá o prático, exatamente
às 1600. Sabendo-se que existe na área uma corrente cujos elementos são Rcor = 270º, velcor =
1,0 nó, determinar o rumo verdadeiro (RN) e a velocidade (velN) que o navio deve assumir.
Solução:
1. Plotam-se na Carta Náutica a posição observada de 1500 e a posição que se deseja
alcançar às 1600. Determina-se, graficamente, que, para chegar ao ponto desejado às 1600, o
rumo no fundo e a velocidade no fundo devem ser, respectivamente, Rfd = 310º, velfd = 9,6 nós.
2. Aplica-se, ao ponto inicial, o vetor corrente, no sentido Rcor = 270º e com grandeza
igual a 1,0 milha (pois a velcor = 1,0 nó e o intervalo de tempo é de 1 hora), e arma-se o triân-
gulo da estima (ou triângulo de corrente).
3. Lê-se, então, na Carta, o vetor superfície, que interliga a extremidade do vetor cor-
rente ao ponto desejado, obtendo-se RN = 314º, velN = 8,8 nós.
Esta situação ilustra o caso em que apenas um dos vetores tem os seus dois elementos
conhecidos, ao passo que, dos outros dois vetores, conhece-se apenas um dos elementos de
cada.
Exemplo (Figura 5.17):
Às 1000, a posição observada do navio (ponto A) é Lat. 23º 05,0’S Long. 043º 18,0’W. A
velocidade do navio é de 6 nós e não pode ser alterada, em virtude de uma avaria de máquinas.
O navio deseja alcançar o ponto B, mostrado na Figura 5.17, situado no alinhamento farol
Rasa–farol Laje. Sabendo-se que existe na área uma corrente cujos elementos são:
Rcor = 100º, velcor = 1,5 nó, determinar:
• o rumo verdadeiro (RN) em que o navio deve governar;
• a velocidade no fundo (velfd) com que o navio deve deslocar-se; e
• o ETA (hora estimada de chegada) no ponto B.
Solução:
1. Unindo a posição observada de 1000 (ponto A) ao ponto B, obtém-se o rumo no fundo
desejado: R fd = 072º.
2. Ainda na posição observada de 1000, traça-se o vetor corrente (Rcor = 100º, velcor = 1,5
nó). Da extremidade do vetor corrente, aplica-se a grandeza do vetor superfície, isto é, velN =
6 nós e, com esta abertura no compasso, corta-se o Rfd obtendo-se, assim, o último vértice do
triângulo de corrente.
3. O RN e a velfd são lidos diretamente na carta, obtendo-se: RN = 065º; e velfd = 7,3 nós.
O RN será a ordem a ser dada ao Timoneiro, e a velfd permitirá cumprir a previsão do ETA no
ponto B.
4. Para isto, mede-se na carta náutica a distância AB = 9 milhas. Tendo-se velfd = 7,3
nós, determina-se a duração do trajeto entre A e B, que é de 74 minutos (01 hora e 14 minutos).
5. Portanto, o ETA no ponto B será às 1114.
Solução:
2. Aplica-se a essa posição o vetor corrente, no sentido Rcor = 030º e, com grandeza igual,
a velocidade da corrente (velcor = 1 nó). Na extremidade deste vetor estará a posição estimada
corrigida de 0900.
Por outro lado, o ponto estimado corrigido, a bordo, exige um perfeito conhecimento do
navio e um acompanhamento constante das condições em que se processa a sua navegação.
Em vista do exposto, é necessário que o navegante nunca esqueça que os pontos es-
timados representam apenas uma posição em que o navio tem maiores probabilidades de se
encontrar. Em situações perigosas, pode-se (e, às vezes, deve-se) substituir o ponto por uma
zona de probabilidade (circunferência traçada em torno do ponto estimado, com maior ou
menor raio, dependendo das circunstâncias).
Assim, admite-se, empiricamente, que, mesmo com todos os cuidados citados, a po-
sição estimada tem uma consistência de 0,1 (10%) da distância percorrida desde a última
posição observada.
6.3.1 Introdução
Se duas LDP são obtidas em tempos diferentes, a posição do navio no instante da se-
gunda observação pode ser determinada, transportando-se a primeira linha de posição para
o instante em que se obteve a segunda. O ponto de interseção da segunda LDP com a primeira
LDP transportada é a posição do navio no instante da segunda observação. O processo está
detalhadamente explicado na Figura 6.3.
I .....
.....
1 - Obtenção de duas LDP de um ponto notável
I
1805 I
0120,0 1830
R090
vel 12
0125,0
{Torre) às 1805 e às 1830. Navio com rumo
(090°) e velocidade (12 nós) constantes.
1830
da LDP dass 1805. O ponto de interseção da
0120,0
R090
0125,0 R090
vel 12
segunda LDP com a primeira LDP transportada
vel 12
é a posição do navio no instante da Segunda
d= 5'
observação (1830).
Observações:
a. quando se usa este método, normalmente não se leva em consideração o efeito da
corrente sobre o movimento do navio (ou embarcação) no intervalo de tempo entre a primeira e
a segunda marcações. Por esta razão, devem ser evitados intervalos de tempo superiores a 30
minutos entre as marcações. Ademais, é necessário que o navegante tenha sempre em mente
que a determinação da posição por marcações sucessivas constitui um processo aproximado,
melhor que a navegação estimada pura, porém menos preciso que uma boa determinação de
posição por LDP simultâneas.
b. assim, este método apresenta melhores resultados quando se conhece uma posição
observada não muito distante do ponto em que se fez a primeira marcação e em uma área
onde a corrente não seja muito significativa.
c. se houver mudança de rumo, de velocidade ou de ambos no intervalo de tempo entre
as duas LDP, o processo é o mesmo, bastando que se unam as posições estimadas do navio
nos instantes correspondentes às obtenções de cada LDP. Sobre a linha obtida desloca-se uma
paralela à linha de posição, segundo a mesma distância que separa as posições estimadas, a
partir da interseção da LDP com a linha traçada, como mostrado na Figura 6.4.
Figura 6.4 – Posição por Marcações Sucessivas com Mudança de Rumo e Velocidade
No exemplo contido na Figura 6.5, o navio governa no rumo 095º, com velocidade 12
nós. A corrente é estimada em Rcor = 190º, velcor = 3,0 nós. Às 1215 horas (odômetro 0310,5),
um tanque notável (caixa-d’água), representado na carta, é marcado aos M = 020º. Às 1245
horas (odômetro 0316,5), o mesmo tanque é marcado aos M = 330º. Determinar a posição às
1245, levando em conta a corrente estimada.
Solução:
Após plotar as duas LDP e as posições estimadas nos instantes correspondentes, aplica-
-se à posição estimada no instante da segunda observação o efeito da corrente no intervalo de
tempo entre as duas observações (no caso em pauta, 30 minutos). Obtém-se, assim, a posição
estimada corrigida (EC) no instante da segunda observação.
Une-se, então, a posição estimada no instante da primeira LDP à posição estimada
corrigida correspondente à segunda LDP.
Em seguida, basta avançar a primeira LDP em uma direção paralela à linha obtida, de
uma distância igual à distância que separa as duas posições, conforme mostrado na Figura 6.5.
O ponto em que a primeira LDP, transportada, cruza com a segunda LDP será a posição
do navio às 1245.
Nem sempre é possível observar-se o mesmo ponto durante um intervalo de tempo tal
que permita a utilização do método anteriormente explicado.
Se existirem dois pontos notáveis re-
presentados na carta, mas que não possam ser Figura 6.6 – Posição por Marcações
Sucessivas de Objetos Diferentes
observados simultaneamente, é possível deter-
minar-se a posição por marcações sucessivas,
mesmo tratando-se de objetos diferentes, tal como
mostrado nas Figuras 6.6 e 6.7.
Na Figura 6.6, às 0900 horas, um navio no
rumo verdadeiro 195º, velocidade 10 nós, marcou
o farol aos M = 270º, pouco antes de ele se ocul-
tar. Às 0930 horas, mantendo rumo e velocidade,
marcou o monumento aos M = 247º. Determinar
a posição do navio às 0930 horas.
Solução (acompanhar na Figura 6.6):
1. Traçar a LDP de 0900 (para o farol) e a LDP de 0930 (para o monumento);
2. Transportar a LDP de 0900 para 0930, avançando-a, no rumo verdadeiro 195º, de
uma distância igual a AB = 5 milhas (distância navegada em 30 minutos, na velocidade de
10 nós); e
a. Posição por marcações duplas (posição por duas marcações polares, sendo o
valor da segunda o dobro do valor da primeira)
Neste caso, como se pode verificar na Figura 6.8, a distância do navio ao ponto obser-
vado no instante da segunda marcação, é igual à distância percorrida pelo navio no intervalo
de tempo entre as marcações.
Nessa Figura, sendo α a primeira
Figura 6.8 – Posição por Série de Marcações
(Marcações Duplas) marcação polar e 2α a segunda marcação
polar, pode-se concluir que AB = BC, pois o
triângulo ABC é isósceles. Assim, a distân-
cia do navio ao ponto observado no instante
da segunda marcação é igual à distância
percorrida pelo navio no intervalo de tempo
entre as marcações. Desta forma, pode-se
determinar a posição do navio no instante
da segunda marcação, utilizando o valor
da marcação e a distância ao ponto (igual
à distância percorrida entre as marcações).
• 22,5º e 45º;
• 30º e 60º; e
• 45º e 90º.
As marcações polares 45º BE / 90º BE e 45º BB / 90º BB são muito usadas na prática,
pois constituem um caso especial, em que a distância navegada entre as duas marcações é
igual à distância pelo través (distância do objeto quando este estiver pelo través do navio).
Assim, obtém-se a posição do navio quando o objeto marcado está claramente pelo través, o
que visualmente é adequado.
Nesse exemplo, o navio governa no Figura 6.9 – Posição por duas Marcações
rumo 090º, velocidade 15 nós. Às 1600, é Polares, sendo a Segunda Marcação o Dobro
marcada a antena (Not.), obtendo-se: M da Primeira
Figura 6.10 – Posição e Distância por Duas Marcações Nessa situação, com duas
e Caminho Percorrido marcações polares sucessivas do
mesmo objeto (Mp1 no instante A e
Mp2 no instante B) e a distância per-
corrida no intervalo de tempo entre
as marcações (fornecida pela dife-
rença de odômetro ou pela resolução
da equação que relaciona distância,
velocidade e tempo), pode-se obter d2
(distância ao objeto no instante da
segunda marcação) e dt (distância
pelo través), utilizando as fórmulas:
14º e 18º 16º e 22º 18º e 27º 22º e 34º 27º e 45º 34º e 63º 45º e 90º
Exemplo:
O navio governa no rumo 206º e sua velocidade é 15,5 nós. São obtidas as seguintes
marcações de uma chaminé notável representada na carta náutica da área, nas horas indica-
das, conforme esquematizadas na Figura 6.12:
Determinar:
Figura 6.12 – Série de Traub (exemplo)
a) a distância da chaminé pelo
través (dt);
b) a distância a ser navegada
desde o instante da última marcação
até o instante em que a chaminé esti-
ver pelo través; e
c) o instante em que a chaminé
estiver pelo través.
Solução:
1. Verifica-se que as marcações
foram tomadas em intervalos de tempo
iguais (9 minutos) e correspondem às
marcações relacionadas às caracte-
rísticas da Série de Traub. Assim, no
intervalo de tempo (Δt = 9 min) entre
duas marcações consecutivas, na velo-
cidade de 15,5 nós, o navio percorreu:
d = vel x Δt → d = 15,5 nós x 9
min = 2,325 M
2. A distância da chaminé pelo
través → dt = 2d = 2 x 2,325 = 4,65M → dt = 4,7 M
3. A distância a ser navegada está relacionada às características da Série de Traub,
portanto se a última marcação corresponde à marcação polar 45° BE, ainda faltarão as mar-
cações 63° BE e 90° BE. Assim faltará percorrer 2d, ou seja, 4,7M.
4. Usando o mesmo raciocínio do item 3, nota-se que faltarão dois intervalos de tempo
ou 18 min até atingir a chaminé pelo través. Assim, o momento em que o ponto marcado estará
pelo través será às 1053.
Observações finais:
– a Série de TRAUB é pouco usada em veleiros ou outras pequenas embarcações, devi-
do à menor precisão na leitura de suas agulhas (bússolas). Mesmo se forem usadas alidades
manuais ou taxímetros, haverá, em embarcações menores, necessidade de boa prática para
conseguir observar um objeto nos valores determinados na Série; e
– o uso da Série de TRAUB, quando da ocorrência de corrente, está ilustrado na Figura
6.13. Havendo corrente, a Série de Traub não pode ser utilizada para determinação de dis-
tâncias e posições. Poderá, porém, ser usada pelo navegante para obter indicações sobre a
corrente existente na área, aplicando as seguintes propriedades:
a) se os intervalos de tempo entre duas marcações consecutivas são decrescentes, há
uma corrente empurrando o navio na direção do ponto marcado; e
b) se os intervalos de tempo entre duas marcações consecutivas aumentam, há uma
corrente afastando o navio na direção oposta ao do ponto marcado.
Às vezes o navegante se defronta com a situação de ter que passar a salvo de perigos
sem poder ter sua posição determinada com precisão.
Nessa situação, é de grande utilidade o emprego de uma LDP de segurança, em
relação à qual o navio se movimentará. As LDP de segurança podem ser: alinhamentos,
marcação de segurança (ou marcação de perigo), distância de perigo e ângulo vertical ou
ângulo horizontal de perigo.
náutica da área), isto é, do largo para terra (nunca é a recíproca). Para se obter a marcação
de segurança, traça-se, do ponto de referência, uma tangente ao limite da área perigosa à
navegação e determina-se a direção desta linha, sempre do largo para o ponto de referência,
pois a marcação de segurança é tomada do navio para o ponto.
Figura 7.5 – Marcações de Segurança Limitando Perigos nos Dois Bordos do Rumo
de Aproximação
Uma vez que o navio tenha entrado no setor verde ou no setor encarnado, deve voltar
imediatamente ao setor branco porque não é possível determinar que distância avançou no
setor colorido. Os limites dos setores coloridos devem, por esta razão, prover espaço de ma-
nobra suficiente ao marcar os perigos. Quando o navio regressa ao setor branco, também é
necessário haver espaço lateral suficiente para permitir ao navegante retomar o rumo original
sem atravessar para o setor colorido oposto. Fica evidente que uma luz de setor não pode dar
a precisão de navegação comparável à sensibilidade de um alinhamento convencional bem
projetado. Porém, a luz de setor tem a vantagem de requerer uma única estrutura, ao passo
que um alinhamento requer duas. Além disso, uma luz de setor pode indicar limites navegá-
veis, o que é impossível para um alinhamento convencional. A Figura 7.6, referente ao Porto
de Vitória, ilustra a navegação por meio de luzes de setor, para a demanda segura ao canal
de acesso ao porto.
Suponha-se que o referido mastro está Figura 7.8 – Círculo de Igual Altitude em
estaiado por um determinado número de cabos Torno de Objeto de Altitude Conhecida
de aço atados ao seu tope e fixados ao solo em
pontos equidistantes da base do mastro. Estes
pontos estão, portanto, sobre uma circunferência
com centro na base do mastro. Nos pontos em que
os estais estão fixados ao solo, os ângulos entre
o solo e os cabos de aço são iguais, conforme se
verifica na figura (ângulo α).
Desta forma, um ângulo vertical medido para um objeto de altitude conhecida deter-
minará uma circunferência cujo raio d será dado por d = h cotg α, sendo α o ângulo vertical
subtendido pelo objeto e h a altitude do objeto.
Na Figura 7.9, o navio deve se deslocar de 1 para 2, passando entre os dois perigos
mostrados, A e B. Dos pontos mais salientes desses perigos, representados na carta náutica
da área, determinam-se as distâncias dA e dB ao Farol C. Conhecendo-se a altitude h do farol,
calculam-se os ângulos verticais
Figura 7.9 – Ângulos Verticais de Segurança definindo
αA e αB, pelas fórmulas: tg αA = Círculos de Distância a um Ponto Notável de Altitude
h/dA ; tg αB = h/dB Conhecida
Assim, determinam-se
as circunferências de seguran-
ça traçadas na figura, estando
entre elas o caminho seguro a
ser seguido pelo navio. Quando
navegando na área, do ponto 1
para o ponto 2, se o ângulo ver-
tical aumentar, aproximando-se
do valor αB, o navio deve corrigir
o rumo para BB; se diminuir,
aproximando-se de αA, o navio
deve corrigir o rumo para BE.
Os ângulos verticais,
como se sabe, são medidos com
um sextante.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 7
EXERCÍCIOS
1. Na Figura 7Ap.1, traçar uma marcação de segurança (ou marcação de perigo), usando
a torre como referência. Informar o valor da marcação verdadeira e a identificação do perigo.
Respostas:
M = 060º
Identificação do perigo: pedras submersas perigosas à navegação.
2. Na figura 7Ap.2, traçar uma marcação de segurança (ou marcação de perigo), usando
o farolete (Iso. B.) como referência. Informar o valor da marcação verdadeira e a identificação
dos perigos.
Respostas:
M = 084º
Identificação dos perigos: casco soçobrado perigoso à navegação e pedra submersa
perigosa à navegação.
O navio efetua o movimento de rotação em torno do seu centro de giro, que, normalmen-
te, está a 1/3 do comprimento do navio, a partir de vante, sobre o seu eixo longitudinal. Um
observador no centro de giro verá o navio em torno de si, o que lhe dará um melhor sentimento
de como se comporta o navio em manobra. A situação ideal, para um navio, é o seu centro de
giro estar localizado no passadiço.
A partir do momento em que a trajetória descrita pelo centro de gravidade do navio
se estabilizar, segundo uma circunferência, o ângulo de deriva também passa a ter um valor
constante.
– a popa é empurrada para o bordo contrário àquele para o qual o leme foi carregado,
produzindo a guinada do navio para o bordo onde foi o leme e um abatimento para o bordo
oposto, conforme a Figura 8.2a; e
– o navio só começa a ganhar caminho para o bordo da guinada depois de avançar
cerca de duas a três vezes o comprimento do navio.
b. Verifica-se, então, que não será possível evitar um obstáculo à proa se somente car-
regar o leme para um bordo, ao se ter o obstáculo à distância inferior ao dobro do comprimento
do navio. Da mesma forma, dois navios “roda a roda” não evitarão a colisão se estiverem à
distância inferior a duas a três vezes a soma dos seus comprimentos (Figura 8.2b).
c. O avanço, o diâmetro tático, o afastamento e o tempo de evolução diminuem com o
aumento do ângulo de leme, como representado na Figura 8.3.
As curvas de giro, determinadas durante as provas de mar do navio, devem ser execu-
tadas em um lugar de águas tranquilas, sem correntes marítimas ou de maré significativas,
sem sofrer influência de vento e de baixas profundidades (as profundidades do local em que
se efetuam as curvas de giro devem ser de, pelo menos, 5 a 6 vezes o calado do navio).
Na prática, entretanto, muitas vezes tem-se que manobrar e executar curvas de giro em
presença de vento e corrente. Assim, é necessário conhecer os seus efeitos sobre a manobra.
A maioria dos navios tem tendência a arribar, ou seja, levar a sua proa para sotavento,
e o vento tende a deformar a curva de giro, conforme sua força e direção em relação ao rumo
inicial.
Figura 8.6 – Diâmetros Táticos (vel. 12 nós) Figura 8.7 – Tabela de Dados Táticos
A Tabela de Dados Táticos normalmente faz parte do Livro do Navio, devendo, tam-
bém, estar disponível no Camarim de Navegação, Passadiço e no CIC/COC, para pronto uso
pelo Oficial de Serviço. Há tabelas de várias formas e tipos. A tabela da figura 8.7 apresenta os
valores de avanço e afastamento e o diâmetro tático para um determinado navio, manobrando
a 15 nós de velocidade e com 15º de ângulo de leme. De posse da referida tabela poder-se-ia
responder a perguntas tais como:
a. Quais os valores do avanço e do afastamento para uma guinada de 90º, a 15 nós de
velocidade e com 15º de ângulo de leme?
Respostas:
Avanço = 500 jardas
Afastamento = 375 jardas
b. Qual o diâmetro tático do navio para uma guinada com 15º de ângulo de leme, a 15
nós de velocidade?
Resposta:
Diâmetro Tático = 800 jardas (afastamento para uma guinada de 180º).
Os dados táticos para valores intermediários de guinada podem ser obtidos por in-
terpolação linear na tabela.
A Figura 8.8 fornece, para uma velocidade inicial de 12 nós e ângulos de leme de
15º, 25º e 35º, os valores de tempo de evolução, velocidade real, avanço e afastamento, para
guinadas do navio que variam de 15º a 360º. Esta tabela nos permite responder a perguntas
tais como:
Respostas:
Na Figura 8.11, a derrota prevista para investir o canal representado mostra uma
guinada de 50º no ponto A. Para determinar o ponto de guinada, onde o navio, navegando a 12
nós e manobrando com 15º de ângulo de leme, deve iniciar a guinada, necessita-se do avanço
e do afastamento para 50º de guinada.
Considerando o rumo inicial aos 160º e o rumo final aos 285º, a guinada será de 125º. A
Tabela de Dados Táticos, mostrada na Figura 8.12 (correspondente à velocidade e ao ângulo
de leme que serão usados na manobra), fornece os seguintes dados:
Figura 8.15 – Escolha da Referência para a Guinada (Marca de Proa X Marca de Través)
Nota:
O uso de uma marca de proa também auxilia a controlar se o navio está guinando
sobre a nova pernada da derrota. Se estiver guinando muito rápido, alivie o leme; se estiver
guinando muito lento, carregue mais o leme.
A seleção do ponto de fundeio começa com a delimitação da área segura para o fundeio,
no local escolhido para fundear.
Depois de selecionar a localização, a área segura na qual fundear deve ser estabelecida
na carta náutica, por meio do seguinte procedimento (Figura 8.16):
1. Traçar a linha de
Figura 8.16 – Delimitação da Área Segura para o Fundeio
perigo, que é normalmente a
isóbata correspondente a uma
profundidade igual ao calado
do navio mais 6 pés (aproxi-
madamente 1,8 m), pois esta
é a lazeira mínima de água
que se pode admitir, abaixo
da quilha, na baixa-mar (BM).
2. A partir da linha
de perigo, construir uma sé-
rie de arcos de raio igual ao
comprimento do navio mais o
filame a ser utilizado.
3. A área externa a
esses arcos será, então, uma
área segura para fundear.
Após delimitada a área segura para o fundeio, passa-se à escolha do ponto de fundeio
propriamente dito. Os seguintes aspectos devem ser considerados na seleção do ponto de fundeio:
1. O ponto de fundeio deve estar localizado numa área abrigada dos efeitos de ventos
fortes, correntes e marés.
2. A área disponível para a manobra, tendo em vista a conformação da costa e o relevo
submarino, deve ser suficiente.
3. A tensa deve ser, de preferência, areia ou lama, em vez de pedra, coral ou outro
fundo duro, para permitir que o ferro unhe convenientemente.
4. A profundidade não deve ser muito pequena, colocando o navio em perigo, nem muito
grande, facilitando que o ferro garre.
5. A posição deve ser livre de perigos à navegação ou inconvenientes ao fundeio, tais
como pedras submersas, cascos soçobrados, canalizações ou cabos submarinos.
6. Deve existir um número conveniente de pontos notáveis e auxílios à navegação,
cegos e luminosos, para controlar a posição do navio durante o dia e à noite.
7. Devem ser previstos pontos alternativos para o fundeio.
8. Se estiver previsto movimento de lanchas do navio para terra, para condução de
licenciados, compras, etc., o ponto de fundeio escolhido deve estar o mais próximo possível do
local onde atracarão as lanchas.
9. Se o ponto de fundeio for designado por autoridade superior (Comandante da FT
ou do GT, por exemplo) e o Encarregado de Navegação, após analisar os fatores a serem con-
siderados para sua seleção, julgar que a posição não é segura para o fundeio, deve sugerir ao
Comandante que solicite um novo ponto.
4. Os pontos que serão marcados durante a aproximação e o fundeio devem ser defi-
nidos com antecedência, através do estudo da carta náutica da área, verificando-se as áreas
de cruzamentos favoráveis de marcações.
5. O filame a ser utilizado é função da profundidade e do tipo de fundo. Normalmente
será usado um comprimento de amarra correspondente a 5 a 7 vezes a profundidade do local.
Sabendo-se que um quartel de amarra mede 15 braças (27,4 m), é possível estabelecer quantos
quartéis serão largados no ponto de fundeio selecionado. As informações de profundidade, tipo
de fundo, filame e hora provável do fundeio devem ser transmitidas ao Encarregado do Convés
ou ao Mestre do Navio com antecedência, para preparação da faina.
6. Levando-se em conta a velocidade e o ângulo de leme a serem utilizados, determinar
o avanço e o afastamento para a guinada no ponto de inflexão da última pernada da derrota do
navio para a derrota de aproximação ao ponto de fundeio. Utilizar o avanço e o afastamento
para determinar o ponto de guinada e procurar um objeto cartografado que possa servir como
referência para a marcação de guinada.
7. Traçar os círculos de distância, de 100 em 100 jardas (ou de 200 em 200 jardas,
conforme a escala da carta), centrados no ponto de fundeio e tendo como zero uma distância
do ponto de fundeio igual à distância escovém–passadiço do navio. Estes círculos de distância
possibilitarão obter, em qualquer ponto da derrota de aproximação, a distância a navegar até
o ponto de fundeio.
O processo para a plotagem do fundeio de precisão na carata náutica pode ser visuali-
zado nas Figuras 8.17 e 8.18.
Conforme o navio se aproxima do ponto de fundeio, a velocidade deve ser reduzida. Não
há regras fixas para este processo de redução. As distâncias percorridas nos diversos regimes
de máquinas dependem do tipo do navio. Para navios do porte de Fragatas e Corvetas, as
seguintes regras gerais são indicadas:
1. A 1.000 jardas do ponto de fundeio, reduzir para uma velocidade de 5 a 7 nós.
2. Dependendo do vento e corrente, as máquinas devem ser paradas a cerca de 300
jardas do ponto de fundeio.
3. À medida que o navio se aproxima do ponto, as máquinas devem ser revertidas, de
modo a quebrar todo o seguimento para vante e dar um pouco de seguimento para ré, quando
o escovém estiver diretamente sobre o ponto de fundeio. Um pouco de seguimento para ré é
desejável quando se larga o ferro, especialmente para navios com proa bulbosa ou com domo
de sonar na proa, como mostrado na Figura 8.20.
4. Larga-se o ferro quando for preenchida exatamente a marcação de largada e deter-
mina-se imediatamente a posição do ponto de fundeio real.
Após o fundeio devem ser traçados o Círculo de Giro do Navio (CGN) e o Círculo de
Giro do Passadiço (CGP), importantes para a verificação periódica da posição de fundeio.
O raio do Círculo de Giro do Navio (CGN) é igual ao comprimento do navio mais o
comprimento da amarra (filame) utilizado e representa a figura descrita pela popa do navio
quando este gira com o vento e a maré.
O raio do Círculo de Giro do Passadiço (CGP) é igual à distância escovém–passadiço
mais o comprimento da amarra e representa a figura descrita pelo passadiço quando o navio
gira com o vento e a maré.
O centro comum dos dois círculos é o ponto de fundeio real.
Traçados os referidos círculos, como mostrados na Figura 8.21, deve-se verificar se o
CGN está todo ele compreendido na área segura para o fundeio.
A partir do exemplo da Figura 8.21 e dos dados abaixo informados para um determinado
navio, pode-se obter os seguintes valores para os raios CGN e CGP:
Comprimento do Navio: 300 pés (100 jd)
Distância Escovém–Passadiço: 150 pés (50 jd)
Filame: 50 braças (100 jd)
Raio CGN: 100 jd + 100 jd = 200 jd
Raio CGP: 50 jd + 100 jd = 150 jd
É necessário, ainda, estabelecer um serviço de controle da posição de fundeio, que deve
verificar a posição do navio a cada 15 ou 30 minutos, marcando pontos determinados pelo
Encarregado de Navegação. As posições determinadas devem, após a plotagem, localizar-se
dentro do Círculo de Giro do Passadiço. Caso uma das posições se localize fora, outra posição
deve ser imediatamente determinada e, se for confirmada sua localização fora dos limites do
CGP, é sinal de que o navio está garrando e o Encarregado de Navegação, o Encarregado do
Convés e o Comandante do Navio devem ser imediatamente alertados.
Para evitar que a carta seja rasurada pelo excesso de posições plotadas no mesmo
local, quando se controla a posição de fundeio, usa-se sobrepor um pedaço de papel vegetal
ou plástico transparente à área de fundeio e, então, fazer a plotagem das posições de controle
sobre este vegetal ou plástico, conservando o bom estado da carta.
Ademais, deve ser estabelecida uma rotina de verificação da amarra, normalmente
executada pelo polícia de serviço, a fim de observar periodicamente como está “dizendo” a
amarra, se está dando trancos, etc.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 8
EXERCÍCIOS
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
2. Seu navio está ocupando um posto a 5.000 jardas na popa do NAe BARROSO, que é
o Guia da formatura, no rumo 090º, velocidade 15 nós, e recebe ordem para deslocar--se para
um novo posto, a 1.000 jardas na popa do Guia, utilizando a velocidade de evolução de 21 nós.
Da Tabela de Aceleração e Desaceleração do navio, constante da Figura 8Ap.2, sabe-se que a
razão distância/variação de velocidade é de 100 jardas por nó. Qual deve ser a distância entre
seu navio e o Guia quando você reduzir a velocidade de 21 para 15 nós?
O EncNav é o responsável pela Equipe de Navegação a bordo dos navios. Ele é respon-
sável, perante o Comandante, pela segurança da navegação do navio.
Ao EncNav compete:
• submeter a derrota a ser cumprida pelo navio ao Comandante;
• monitorar, permanentemente, a navegação do navio, independentemente do tipo de
navegação realizada;
• preparar o Livro de Ordens da Navegação e submetê-lo ao Comandante;
• certificar-se de que todas as publicações náuticas, tais como Roteiros, Tábua das
Marés, Lista de Faróis, Atlas de Cartas Piloto, etc. estejam permanentemente atualizadas,
bem como as cartas náuticas estejam atualizadas de acordo com os Avisos aos Navegantes;
• certificar-se de que todos os equipamentos de navegação estejam operando corre-
tamente;
• certificar-se de que a rotina diária de navegação seja cumprida;
• certificar-se de que os relógios de bordo sejam acertados pela hora legal e sugerir
mudança de fuso ao Comandante, sempre que for necessário;
• determinar a verificação semanal de todos os relógios de bordo, quanto ao seu fun-
cionamento;
• preparar as cartas náuticas, conforme as instruções em vigor;
• comunicar à DHN e demais órgãos competentes, tempestivamente, todos os erros
ou omissões que houver verificado nas cartas náuticas e publicações, ou falhas em nos sinais
de auxílios à navegação; certificar-se de que os modelos de informações meteorológicas e de
navegação que competem ao navio sejam preenchidos e encaminhados corretamente (mensa-
gem SHIP, Folha N2, entre outros); e
• conduzir um briefing de navegação previamente a qualquer faina que envolva sua
equipe. O Apêndice a este Capítulo apresenta um guia para a execução do briefing a ser con-
duzido pelo EncNav.
Na fase de planejamento, o EncNav deverá:
• planejar a derrota, estudando todos os recursos disponíveis para a navegação e,
após isso, organizar e realizar o briefing de navegação; e
• selecionar os pontos a serem utilizados na navegação visual e radar e determinar
o intervalo de tempo entre os “marques”; e
• preparar os croquis das cartas náuticas a serem utilizados pelo Oficial de Quarto,
Observadores dos Peloros e Operador Radar.
Na fase de execução, o EncNav deverá:
• transmitir ao Comandante e ao Oficial de Quarto as informações e sugestões de
interesse à navegação;
• preparar e conduzir a navegação paralela indexada; e
• sempre que, durante a execução de navegação em águas restritas, surgirem dúvidas
quanto à posição do navio ou à distância ao perigo mais próximo, o EncNav deve imediata-
mente sugerir ao Comandante “parar máquinas”, podendo mesmo propor o fundeio, até que
as dúvidas sejam sanadas e a posição navio possa ser determinada com precisão.
b. Plotador
Ao Plotador compete:
• traçar na carta náutica as LDP obtidas e determinar a posição do navio;
• manter uma navegação estimada acurada, a fim de permitir uma correta visualização
das situações passada, atual e futura, e possibilitar a determinação dos elementos e efeitos da
corrente;
• informar ao EncNav a aproximação e o instante dos pontos de guinada da derrota
planejada e os novos rumos a seguir;
• alertar o EncNav sobre situações perigosas à navegação;
• sugerir rumos ao EncNav, para corrigir os movimentos do navio, de modo que seja
cumprida a derrota planejada;
• sugerir ao EncNav mudanças dos pontos utilizados, de modo a garantir LDP favoráveis;
• plotar a posição satélite na carta náutica, pelo menos a cada três posições obtidas
por método visual ou radar; e
• comparar a profundidade do ecobatímetro com a profundidade constante da carta
náutica, informando ao EncNav quando as mesmas forem incompatíveis.
Ao Anotador compete:
• por meio do circuito da navegação, fazer o sincronismo entre as estações, dando os
sinais para a observação das LDP (marcações, distâncias e profundidades), de modo que estas
sejam obtidas simultaneamente, no intervalo de tempo estabelecido pelo EncNav;
• anotar em modelo próprio os valores das LDP informados, já corrigidos de desvios
e erros pelos Observadores de Peloros e pelo Operador Radar;
• informar aos Observadores de Peloros e ao Operador Radar, conforme o caso, as
mudanças de pontos determinadas pelo Plotador ou pelo EncNav;
• anotar a posição satélite no instante do “marque”;
f. Outros Componentes
Um componente do Detalhe Especial para o Mar (DEM) que pode auxiliar muito a
Equipe de Navegação é o Sondador da Proa, que guarnece o prumo de mão e, a intervalos
regulares, em áreas de pouco fundo, mede a profundidade na proa e informa ao Passadiço,
pelo circuito de comunicações interiores 1JV. Especialmente em navios grandes, a informação
de profundidade na proa é importante, em particular em áreas acidentadas. Em outras situ-
ações, onde o fundo é mais regular, serve para verificar se o ecobatímetro está funcionando
corretamente.
Em condições de baixa visibilidade, tais como nevoeiro espesso, cerração, chuva pesada
ou noite muito escura (em áreas sem auxílios visuais à navegação), a Equipe de Navegação
do Passadiço pode ser substituída pela Equipe de Navegação Radar do CIC / COC, executan-
do o navio nesta situação uma navegação puramente radar. Mesmo nestas circunstâncias,
entretanto, o EncNav continua como responsável pela navegação segura do navio perante o
Comandante, a quem cabe a responsabilidade última. O circuito telefônico entre o Passadiço
e o CIC/COC para informações de navegação é o 1JA.
O EncNav deve, assim, instruir o pessoal da Equipe de Navegação Radar do CIC/COC
quanto à derrota a ser seguida e as velocidades de avanço previstas, antes da navegação em
águas restritas, para atender à eventualidade de ter que conduzir a navegação utilizando
essa equipe.
1
Distance root mean square (dRMS), que significa a raiz quadrada média das distâncias radiais da posição
real às posições observadas obtida de uma série de medições (Fonte: International Dictionary of Marine Aids to
Navigation, IALA Dictionary 2009 Edition).
10.1 MARÉS
Maré é a oscilação vertical da superfície do mar ou outra grande massa d’água sobre a
Terra, causada primariamente pelas diferenças na atração gravitacional da Lua e, em menor
extensão, do Sol sobre os diversos pontos da Terra.
A oscilação da maré é consequência, basicamente, da Lei da Gravitação Universal de
Newton, segundo a qual os corpos se atraem na razão direta de suas massas e na razão in-
versa do quadrado da distância que os separa. A Lua, devido à sua maior proximidade com a
Terra, é o corpo celeste que mais influencia a maré, seguindo-se o Sol, por força de sua enorme
massa. O efeito da força gravitacional da Lua é cerca de 2,25 vezes mais pronunciado, apesar
de o Sol ter uma massa milhares de vezes maior. A influência dos demais planetas e estrelas
é bem menos significante.
Os movimentos relativos Sol–Terra–Lua fazem com que as marés sejam movimentos
harmônicos compostos que podem, consequentemente, ser decompostos em vários movimentos
harmônicos simples, expressos por equações matemáticas.
A Terra e, especialmente, seus oceanos são afetados pela atração gravitacional do
sistema Terra–Lua e pelas forças centrífugas resultantes de sua revolução em torno de um
centro comum (baricentro ou centro de massa do sistema Terra–Lua), constituído por um ponto
localizado no interior da Terra, aproximadamente 810 milhas (cerca de 1.500km) abaixo de sua
superfície. Em função da diferença de massa entre a Terra e a Lua, esse baricentro situa-se
entre o centro da Terra e a superfície terrestre, o que significa que todos os pontos realizam
movimentos circulares, com a mesma velocidade angular e, portanto, a mesma aceleração
centrífuga (Figura 10.1). É muito importante não confundir a aceleração centrífuga do sistema
Terra-Lua girando em torno do Sol com a aceleração centrífuga associada à rotação da Terra
em torno de seu eixo.
Embora no ponto mais próximo e no mais distante da Lua haja indicação de uma força
resultante para fora, esta é muito fraca, não tendo intensidade suficiente para causar uma
maré apreciável. A maré resulta, realmente, das forças quase horizontais que causam o fluxo
acima descrito, na direção dos pontos da superfície da Terra mais próximo e mais afastado
da Lua. Então, num determinado local da Terra, a ocorrência da preamar (PM) está relacio-
nada com a passagem da Lua pelo meridiano superior ou pelo meridiano inferior do lugar; a
baixa-mar (BM) ocorrerá quando a Lua estiver a 90º do meridiano do lugar. Esta explicação,
abreviada e simplificada, ajuda muito a entender o fenômeno das marés.
O resultado idealizado em uma Terra esférica, sem continentes e com profundidade
do Oceano constante, de acordo com as idealizações de Newton, é a formação de um elipsoide
com dois bulbos, um na direção da Lua e outro na direção oposta a ela, como apresentado na
Figura 10.3.
Como a Terra gira a cada dia em torno de seu eixo, de Oeste para Leste, completando
uma rotação a cada 24 horas, o ponto da superfície da Terra que fica na direção da Lua muda
e, teoricamente, cada ponto na Terra apresentaria duas preamares (PM) e duas baixa-mares
(BM) no período de 24 horas. Entretanto, como a Lua gira em torno da Terra no mesmo sentido
em que a Terra gira em torno de seu eixo, o tempo que a Terra leva para efetuar uma rotação
completa com relação à Lua é de aproximadamente 24h 50m, período conhecido como um dia
lunar. Ademais, como resultado da inclinação do eixo da Terra, as preamares e as baixa-mares
sucessivas não são normalmente de níveis iguais.
Quando a Lua se encontra na posição de Lua Nova ou Lua Cheia (ambas as posições
denominadas de sizígia), as atrações gravitacionais da Lua e do Sol reforçam-se. Como a força
de maré resultante ou combinada também aumenta, as preamares são maiores que a média
e as baixa-mares são menores que a média. Isto significa que a amplitude de maré é maior
em todos os locais que apresentam uma preamar e uma baixa-mar consecutivas. Assim, as
Marés de Sizígia ocorrem em situações de Lua Cheia e Lua Nova, ou seja, quando Sol, Terra
e Lua estão alinhados, o que faz com que as forças resultantes coincidam e as marés tenham
as maiores amplitudes. Estas marés superiores à média, que ocorrem nas posições de sizígia
da Lua, são conhecidas como marés de águas vivas.
Nas posições de Quarto Crescente e Quarto Minguante da Lua (quadratura), as atrações
gravitacionais da Lua e do Sol sobre as águas dos oceanos atuam em ângulos retos. Cada força
tende, em parte, a contrariar a outra. Na envolvente de forças da maré que representa estas
forças combinadas, os valores máximos e mínimos da força são menores. Assim, as Marés de
Quadratura ocorrem em situações de Lua Crescente e Lua Minguante, quando os astros estão
em quadratura, o que atenua a interferência das forças centrífugas pela defasagem de 90° entre
elas, de modo que nesses períodos as amplitudes das marés são pequenas. As preamares são
inferiores à média e as baixa-mares são superiores à média. Tais marés de amplitude mais
reduzida são denominadas de marés de águas mortas.
Os esquemas sobre as ocorrências das marés de sizígia e das marés de quadratura
podem ser visualizados na Figura 10.4.
Devido ao fato de um dia lunar ter aproximadamente 24h 50m, em oposição ao dia solar
de 24 horas, as marés não ocorrem todos os dias à mesma hora num mesmo local.
Conforme anteriormente citado, o padrão normal de marés é a ocorrência de 2 PM e 2
BM no período de 1 dia lunar (24h 50m). Este tipo de maré é chamado de semidiurna. A maré
semidiurna, então, apresenta duas PM e duas BM no período de 1 dia lunar, sendo pouco mais
de 6 horas o intervalo de tempo entre uma PM e a BM consecutiva.
Figura 10.7 – Variação da maré em Salinópolis, Vitória, Rio de Janeiro e Rio Grande
Se, em um dado local, for observada a oscilação rítmica do nível das águas durante
certo tempo, verifica-se que:
a) o nível sobe durante algum tempo, sendo esse período denominado de “enchente”;
ESTOFO DA MARÉ: período durante o qual o nível do mar fica praticamente estacio-
nado; pode ser estofo de enchente (td - tc) ou de vazante (tg - te).
NÍVEL DE REDUÇÃO (NR): nível a que são referidas as alturas das águas e as son-
dagens representadas nas Cartas Náuticas; é o zero do eixo vertical da Figura 10.8.
CICLO DA MARÉ: um conjunto completo de condições de maré que ocorreu durante
um dia lunar, um mês lunar ou um ciclo Metônico (período de cerca de 19 anos ou 235 lu-
nações). No entanto, em navegação, um ciclo de maré também é entendido como o intervalo
correspondente a uma oscilação completa da maré, ou seja, o período de tempo entre uma PM
e a BM que se lhe segue (ciclo de vazante) ou vice-versa (ciclo de enchente).
ALTURA DA MARÉ: distância vertical entre o nível do mar em um determinado
instante e o NR.
IDADE DA LUA: intervalo de tempo decorrido entre a última Lua Nova e a Lua na data
considerada; é, normalmente, expressa em dias, indo de zero a 29 (duração de uma lunação)
e, quando necessário, aproximada a décimos. Assim, marés de águas vivas (sizígias) ocorrem
quando a Idade da Lua for zero (Lua Nova), 14 (Lua Cheia) e 28 ou 29 (Lua Nova). Da mesma
forma, marés de águas mortas (quadraturas) ocorrem quando a Idade da Lua for 7 e 21, com
a Lua em quarto crescente (idade: 7) ou em quarto minguante (idade: 21).
ESTABELECIMENTO VULGAR DO PORTO OU ESTABELECIMENTO DO
PORTO (HIGH WATER FULL AND CHANGE – HWF&C) – média dos intervalos de tempo
decorridos entre a passagem da Lua Cheia (ou Nova) pelo meridiano superior do lugar e a
ocorrência da preamar em dias de sizígia. De fato, a rotação diária da Terra em torno de seu
eixo tem um efeito de fricção (atrito) sobre as marés. Este efeito, aliado à inércia da massa
líquida, faz com que as preamares normalmente ocorram em um determinado período de
tempo após a passagem da Lua pelo meridiano superior do local. O Estabelecimento Vulgar
do Porto (HWF&C) é uma característica do local a que se refere, sendo função de uma série
de fatores, tais como topografia, latitude e presença de correntes fluviais ou marítimas in-
terferindo com a maré.
NÍVEL DE REDUÇÃO (NR): nível a que são referidas as alturas das marés e as son-
dagens (profundidades representadas nas cartas náuticas). O Nível de Redução normalmente
corresponde ao nível médio das baixa-mares de sizígia (MLWS) nas cartas náuticas brasileiras.
É um nível abaixo do qual o mar não desce senão raramente, (vide Figura 10.9).
NÍVEL MÉDIO DO MAR (NM) ou MEAN SEA LEVEL (MSL): altura média da
superfície do mar em todos os estágios de oscilação da maré, observados em um longo período
de tempo (maior que 18,6 anos) e considerado como equivalente ao nível que existiria na au-
sência das forças geradoras das marés. O Nível Médio é normalmente adotado como plano de
referência para a medida das altitudes.
MLW (MEAN LOW WATER): média das baixa-mares ou altura da BM média, isto é,
altura média, deduzida de uma longa série de observações, das alturas de todas as BM.
MLWS (MEAN LOW WATER SPRINGS): média das BM de sizígia ou altura da BM
média de sizígia, isto é, altura média, deduzida de uma longa série de observações, das altu-
ras das BM de sizígia. É o nível adotado pela DHN como Nível de Redução (NR) nas Cartas
Náuticas brasileiras.
SONDAGEM OU PROFUNDIDADE CARTOGRAFADA: distância vertical do NR
ao fundo do mar, em um determinado local.
PROFUNDIDADE REAL em um determinado instante (ou profundidade do local
no instante considerado): soma da sondagem com a altura da maré no instante considerado.
ALTITUDE: distância vertical entre o ponto considerado e o Nível Médio do mar.
ALTURA DE UM OBJETO: distância vertical entre o seu tope e a sua base (ou o
terreno que a circunda). Normalmente, a altura de qualquer PM estará entre a MHWS e a
MHWN, sendo aproximadamente igual à MHWS quando a Idade da Lua for zero ou 14 e igual
à MHWN quando a Idade da Lua for 7 ou 21.
Como o NR adotado pela DHN para as Cartas Náuticas brasileiras é normalmente
o MLWS, em geral se encontram maiores profundidades que as representadas na carta.
Entretanto, eventualmente, por ocasião das BM de sizígia, poderão ser encontradas profun-
didades menores que as constantes da carta.
Não se pode, também, esquecer que o navio caturra e que a sua arfagem pode exigir
aumentos na profundidade mínima para o navio passar sem bater no fundo. Especial atenção
deve ser dada a este fator de segurança quando se tratar de navios de boca estreita e compridos,
que “enterram” bastante suas proas se sujeitos a ondas, principalmente com mar de través
para vante.
Por outro lado, a escolha de rumos na superfície, bem como o bordo de atracação e tipo
de amarração, está ligada às correntes de maré.
A folga das espias é função principalmente da amplitude da maré, mas alguns outros
aspectos estão também envolvidos, tais como: intensidade da corrente; direção e força dos ventos;
situação de carga (navio leve ou carregado), onde se incluem os recebimentos ou transferências
de água e óleo; existência e utilização de amarreta e tipo do cais (se flutuante ou fixo).
Os elementos necessários à tomada destas decisões são obtidos em várias fontes. As
principais são:
a) Tábuas das Marés;
b) Quadros de Informações sobre a Maré representados nas Cartas Náuticas;
c) Cartas de correntes de maré;
d) Informações sobre correntes de maré constantes de determinadas Cartas Náuticas;
e) Roteiro; e
f) Almanaque Náutico.
A seguir, serão mostradas as maneiras de obter, a partir de tais fontes, os elementos
de marés e correntes de maré necessários ao navegante.
As “Tábuas das Marés” constituem uma publicação editada anualmente pela DHN,
contendo (Edição de 2021) a previsão para os 54 principais portos, terminais, barras, ilhas
oceânicas e fundeadouros brasileiros, relacionados do Norte para o Sul, e para o fundeadouro
da Estação Antártica Comandante Ferraz, na Baia do Almirantado, na Antártida. A Figura
10.11 apresenta a localização das 54 estações maregráficas na costa brasileira.
Há ainda, nas “Tábuas das Marés”, duas Tabelas para determinação da altura da
maré em um dado instante, informações para a previsão das marés na baía de São Marcos,
explicações para utilização de método expedito de previsão e uma Tabela de Fases da Lua.
A Figura 10.12 reproduz uma página da tábua, onde se observa:
• na primeira linha: o nome do porto, terminal, barra, ilha oceânica ou fundeadouro,
o respectivo Estado da Federação ou país e o ano a que se referem as previsões;
• na segunda linha: as coordenadas geográficas do local da estação maregráfica e o
fuso horário adotado;
• na terceira linha: a sigla da instituição responsável pelas observações, o número
de componentes harmônicas utilizadas na previsão, a cota do Nível Médio sobre o Nível de
Redução e o número da Carta Náutica do porto, terminal, barra ou fundeadouro;
• a seguir encontram-se 4 colunas, cada uma referente a um mês, e, no seu interior,
os elementos da maré dia-a-dia;
• para cada dia são informadas as horas e as alturas das preamares (PM) e baixa-
-mares (BM) previstas;
• as horas, do fuso horário local, são representadas com 4 algarismos, sendo que os
dois primeiros indicam as horas e os dois seguintes os minutos; e
• as alturas das PM e BM são dadas em 2 algarismos, representando metros e decí-
metros; as alturas indicadas são cotas verticais acima do Nível de Redução; e, eventualmente,
quando o número for negativo, a maré estará abaixo do Nível de Redução.
Figura 10.12 – Tábuas das Marés – Previsão para Salinópolis Jan-Abr de 2021
A seguir, são apresentados dois exemplos de emprego das Tábuas das Marés para a
obtenção da previsão diária, conforme o extrato apresentado na Figura 10.12:
1. Qual a previsão de maré para Salinópolis, no dia 13 de março de 2021?
Solução:
O cálculo da altura da maré, para qualquer dos portos listados, em horário diferente
do previsto para a preamar ou baixa-mar, irá exigir a utilização das Tabelas I e II (“Altura da
maré em um dado instante”), reproduzidas na Figura 10.13.
A Tabela I tem como elementos de entrada a duração da maré (enchente ou vazante)
e o intervalo de tempo entre o instante considerado e a preamar ou baixa-mar mais próxima.
A sua saída, denominada centésimo, é um dos elementos de entrada para a Tabela II, onde o
segundo elemento de entrada será a amplitude da maré em questão. A saída da Tabela II é a
correção a ser aplicada à altura da baixa-mar ou preamar considerada, que permitirá conhecer
a altura da maré no instante desejado.
Embora as Tábuas das Marés sejam anuais, as Tabelas I e II são permanentes e podem
ser utilizadas em qualquer dia de qualquer ano.
As Tabelas I e II foram confeccionadas para permitir a interpolação em curvas da maré
que sejam sinusoidais. Assim, sua utilização exige os seguintes cuidados:
a) nos portos onde a curva da maré não é sinusoidal obtém-se resultado apenas aproxi-
mado, devendo o navegante, portanto, tomar certa precaução, dando uma margem de segurança
igual a 10% da amplitude; e
b) na costa do Brasil, as Tabelas só devem ser usadas nos portos de Vitória (ES) para
o Norte, onde a maré é predominantemente semidiurna.
A seguir, são apresentados dois exemplos de emprego das Tabelas I e II das Tábuas
das Marés para a obtenção da previsão da maré para um dado instante:
1. Qual a altura da maré prevista no fundeadouro de Salinópolis, no dia 13 de março
de 2021, às 1100?
Solução:
Da Tábua das Marés, tem-se:
As Tábuas das Marés apresentam, ainda, uma Tabela, reproduzida na Figura 10.14, que
permite obter a previsão das marés em dois portos secundários, Camocim (Ceará) e Barra do Rio
São Francisco (Alagoas/Sergipe), em função da maré prevista para o porto de referência (Recife).
A tabela fornece as correções aditivas ou subtrativas que devem ser aplicadas às horas
e às alturas da preamar e da baixa-mar no porto de referência (Recife), para obtenção dos
elementos análogos dos portos secundários de Camocim e Barra do Rio São Francisco.
A seguir, são apresentados dois exemplos de emprego desta tabela para a obtenção da
previsão da maré nos dois portos secundários mencionados:
1. Obter a previsão da maré para o porto de Camocim (CE), no dia 26/05/2021, sabendo-
-se que, para esta data, é a seguinte a maré prevista para Recife (porto de referência):
Solução:
A Tabela da Figura 10.14 fornece as seguintes correções para o porto de Camocim:
Combinando estas correções com a maré prevista para o porto de referência (Recife),
obtém-se a previsão da maré para o porto secundário (Camocim):
Camocim
26/05/2021 PM 0540 3,3m
BM 1202 0,2m
PM 1810 3,3m
27/05/2021 BM 0026 0,4m
2. Obter a previsão da maré para a Barra do Rio São Francisco, para o mesmo dia
26/05/2021.
Solução:
A Tabela da Figura 10.14 fornece as seguintes correções para a Barra do Rio São
Francisco:
Combinando estas correções com a maré prevista para o porto de referência (Recife),
conforme os dados de maré já apresentados no exemplo anterior, obtém-se a previsão da maré
para o porto secundário (Barra do Rio São Francisco):
A publicação DG6 “Tábuas das Marés” também aborda o Método Expedito de Previsão
(ou Método do Estabelecimento do Porto), a ser usado para os locais onde não se tenham in-
formações tabuladas de horários e alturas de PM e BM. O Método Expedito de Previsão deve
ser utilizado em conjunto com o quadro de Informações sobre a Maré representado na carta
náutica do local de interesse.
O quadro “Informações sobre a Maré” referente a um determinado local, a exemplo do
contido na Figura 10.16 para o Porto de Suape, fornece os seguintes elementos, conforme já
definidos nos subitens 10.1.6 e 10.1.7:
Pode-se, então, por simples interpolação linear, obter a altura aproximada das PM no
dia 21/JUL:
NM = 1,2m
cota da PM acima do NM = – 0,8m
hBM = 0,4m
5. Desta forma, a maré prevista para Suape, obtida pelo Método Expedito de Previsão
(ou Método do Estabelecimento do Porto), para o dia 21/JUL/2021, será:
PM 0023 2,0m
BM 0636 0,4m
PM 1249 2,0m
BM 1901 0,4m
(22/JUL) PM 0121 2,0m
PM 0117 2,1m
BM 0736 0,4m
PM 1351 2,1m
BM 2000 0,4m
(22/JUL) PM 0213 2,2m
Ao estudar-se a ação dos componentes das forças geradoras da maré, verifica-se que
aquelas forças acarretam preliminarmente o movimento horizontal da massa líquida (corrente
de maré), do qual resulta o movimento vertical do nível do mar, ou seja, a maré. Assim, é ne-
cessário compreender a coexistência das marés e das correntes de maré, como efeitos de uma
mesma causa.
É importante para o navegante ser capaz de prever a direção e a velocidade da corren-
te de maré em qualquer instante e levar em conta o seu efeito sobre o movimento do navio.
Normalmente, nas entradas dos portos nos quais a ação direta das forças astronômicas é des-
prezível, a corrente de maré é o resultado da diferença de nível entre o oceano e o interior do
porto. Assim, o fluxo e o refluxo são caracterizados por uma corrente axial alternativa, segundo
o eixo do canal. Se o porto fica situado no interior de um longo canal, como no caso de Santana
(AP), no braço Norte do Rio Amazonas, a corrente de maré será também axial alternativa, com
velocidade máxima para dentro na preamar, máxima para fora na baixa-mar e nula quando
a maré atinge o nível médio. No exemplo, haverá uma forte corrente permanente para fora,
devido à formidável descarga do Rio Amazonas.
No oceano aberto, as correntes de maré têm um caráter rotatório, em virtude da interação
entre as forças astronômicas e a influência da rotação terrestre. De fato, o Efeito de Coriolis,
devido à rotação da Terra, tende a desviar as correntes de maré para a direita no Hemisfério
Norte e para a esquerda no Hemisfério Sul, concorrendo, juntamente com as próprias forças
astronômicas, para a gênese de correntes rotatórias. O efeito de Coriolis (ou efeito giroscópico)
poderá reforçar ou reduzir o efeito das forças astronômicas.
Dada a afinidade entre a maré e a corrente de maré para um determinado porto, é
possível relacionar a velocidade e a direção da corrente de maré às horas da preamar e baixa-
-mar no porto.
Conforme já mencionado, o conhecimento antecipado das correntes de maré é de grande
valia, não só para o planejamento da derrota em águas restritas, mas também para seleção
dos horários mais favoráveis às manobras, escolha do bordo de atracação e velocidades com
que o navio deve evoluir.
A utilização das Cartas de Correntes de Maré será explicada através do exemplo abaixo:
Determinar o rumo e a velocidade da corrente de maré na barra da Baía de Guanabara
(na altura da Ilha de Cotunduba), no dia 09/JUL/2021, às 1200P, sabendo-se que a maré pre-
vista para a data em questão é a seguinte:
Solução:
Conforme mencionado, a seleção da carta a ser utilizada é feita tendo-se em conta a
diferença em horas entre o instante considerado e o da preamar prevista mais próxima.
Neste caso:
Instante considerado: 1200
Preamar prevista: 1454
Diferença: 0254 (valor que é arredondado para 3 horas)
Portanto, será selecionada a carta correspondente a 3 HORAS ANTES DA PREAMAR,
que está reproduzida na Figura 10.19.
Nessa carta obtém-se, para a barra da Baía de Guanabara:
Rumo da corrente de maré: 345° (NNW) – enchendo
Velocidade da corrente de maré: 1,0 nó
Conforme explicado em nota na Carta de Correntes de Maré (ver a Figura 10.20),
as velocidades representadas correspondem à época de sizígia, como é o caso do presente
exemplo (09/JUL/2021 – Lua Nova). Em outras situações (porquanto as cartas espelham
apenas as condições médias de sizígia), se for desejável maior precisão, as velocidades repre-
sentadas nas cartas devem ser multiplicadas por um fator de correção retirado de um ábaco
existente no início das Cartas de Correntes de Maré, tendo-se como elementos de entrada
o intervalo de tempo entre a preamar e a baixa-mar (ou vice-versa) e a amplitude da maré
prevista. Não há qualquer correção a ser aplicada às direções representadas nas Cartas de
Correntes de Maré.
Figura 10.20 – Carta de Correntes de Maré - Baía de Guanabara - 3 Horas Antes da Preamar
Águas Rasas (SISCORAR), lançado em 2018, o qual consiste em um aplicativo capaz de prever
a magnitude e o sentido da corrente gerada pela maré astronômica em águas rasas, utilizando
modelagem numérica, permitindo ao usuário acesso aos dados de correntes de maré de forma
interativa, intuitiva e amigável.
Em 28 de setembro de 2020 foi lançada a versão 2.0 do SISCORAR que, além das previ-
sões para a Baía de Guanabara, contidas na primeira versão, inclui a Baía de Sepetiba, ambas
localizadas no Estado do Rio de Janeiro. Com essa versão, foi também lançado um aplicativo
para uso em telefones celulares e tablets, além da versão original para desktop.
O aplicativo móvel SISCORAR (versão 2.0) trouxe diversas inovações, tais como:
• Utilização de forma totalmente off-line;
• Geração de previsões horárias para qualquer data passada ou futura;
• Modo de visualização diurno e noturno;
• Opção de exibição das correntes como vetores estáticos ou linhas de fluxo em movi-
mento;
• Ajuste da velocidade de exibição das correntes;
• Ajuste da espessura das correntes em movimento; e
• Exibição da posição geográfica utilizando o GPS do dispositivo.
O download da versão 2.0 do SISCORAR pode ser feito mediante acesso ao sítio do
CHM, no seguinte endereço eletrônico: https://www.marinha.mil.br/chm/dados-do-smm/
corrente-de-mare.
No mesmo endereço é possível fazer o download do “Manual do Usuário” e da “Referência
Técnica: metodologia, especificações e limitações”.
A título de comparação, a Figura 10.21 apresenta a previsão no SISCORAR 2.0 da di-
reção e intensidade da corrente de maré para as condições requeridas no exemplo contido no
subitem anterior, quais sejam: Baía de Guanabara (na altura da Ilha de Cotunduba), no dia
09/JUL/2021, às 1200P. A ponta da seta branca, traçada na figura, indica o local para os quais
as previsões de direção (348º) e de intensidade da corrente de maré (1,080 nó) foram calculados.
É interessante observar que os valores informados pela Carta de Correntes de Maré (345º e
1,0 nó) estão muito próximos dos valores obtidos no SISCORAR.
No entanto, caso se desejasse a previsão para um pouco mais adentro da baía (por
exemplo, través do Pão de Açúcar), poder-se-ia perceber que, em razão da grade de cores usa-
da para a intensidade da corrente, a corrente medida no centro da área “vermelha” poderia
prever valores acima de 1,5 nó, enquanto, pela Carta de Correntes, ela se manteria na ordem
de 1,0 nó. Quanto à direção da corrente, ela pouco se modificaria na área central da entrada
da barra da Baía de Guanabara.
Tal como no caso da previsão de marés, é conveniente frisar que algumas condições
meteorológicas anormais, especialmente ventos fortes e persistentes, podem modificar subs-
tancialmente as informações indicadas nas Cartas de Correntes de Maré.
Ademais, conforme chama a atenção nota inserida na publicação DG6 – Tábuas das
Marés, as horas das preamares (PM) e baixa-mares (BM) tabuladas nem sempre coincidem
com os instantes em que a corrente de maré inverte sua direção.
Este aspecto a diferencia da circulação pelo efeito do vento, que, como será visto no item
seguinte, é uma circulação eminentemente horizontal.
Como visto no item anterior, a circulação termohalina é provocada pela radiação solar
que ocasiona um aquecimento desigual dos oceanos, estabelecendo variações na densidade do
mar em diferentes regiões geográficas, ocasionando o mergulho das águas mais densas.
Da mesma forma, a circulação pelo efeito do vento é, em última análise, originada pela
radiação solar. Neste tipo de circulação, entretanto, a radiação solar atua indiretamente, ao
provocar o aquecimento desigual da atmosfera.
O aquecimento desigual da atmosfera origina os grandes sistemas de ventos, que fluem
de áreas mais densas para outras menos densas.
Os ventos efetuam o “acoplamento” da atmosfera com os oceanos. Soprando sobre os
mares, vão provocar, por meio do atrito, o arrastamento das águas superficiais, dando origem
ao surgimento de uma circulação típica.
Ao contrário da circulação termohalina, a circulação produzida pelos ventos é eminen-
temente horizontal e está limitada apenas às primeiras centenas de metros de profundidade.
Os movimentos termohalinos são dominantes nas águas profundas e os movimentos gerados
pelos ventos dominam a circulação na camada superficial, que é a de maior interesse para a
navegação.
A energia do Sol, absorvida pela Terra, aquece o ar contíguo, estabelecendo a grande
circulação atmosférica, ascendente pela parte aquecida e descendente pelos lados mais frios.
Os grandes sistemas de ventos daí resultantes são mostrados na Figura 10.24.
O ar fortemente aquecido nas regiões equatoriais torna-se mais leve e ascende, criando na
zona tórrida um cinturão de baixas pressões atmosféricas, denominado Zona de Convergência
Intertropical, ou ITCZ (Inter Tropical Convergence Zone), para onde flui na superfície o ar,
tanto do Hemisfério Norte como do Hemisfério Sul.
Estes fluxos, afetados pelo Efeito de Figura 10.25 – Efeito de Coriolis
Coriolis, que causa um desvio para a direita,
no Hemisfério Norte, e para a esquerda no
Hemisfério Sul, como apresentado na Figura
10.25, constituem os grandes ventos alísios,
denominados de Alísios de NE, no Hemisfério
Norte, e de Alísios de SE, no Hemisfério Sul.
O ar aquecido na zona tórrida desloca-
-se em altitude para regiões mais afastadas do
Equador e passa a resfriar-se, com aumento
da densidade. Na altura das latitudes de 30°
N e 30° S, o aumento da densidade é tal que
o ar mergulha, originando, nessas regiões,
zonas permanentes de altas pressões atmos-
féricas, denominadas Cinturões de Alta
Subtropical (Cinturões de Alta Pressão).
Dessas zonas de alta pressão, o ar flui
tanto para a zona equatorial (ventos Alísios),
como para zonas de baixa pressão situadas em latitudes mais altas. Novamente em virtude
do Efeito de Coriolis, os ventos resultantes em ambos os hemisférios sopram da direção geral
Oeste (W), sendo as áreas em que atuam, então, denominadas de Cinturões de Vento do
Oeste (Oestes Prevalecentes).
Os Polos constituem regiões de altas pressões atmosféricas (Altas Polares), de onde flui
o ar para regiões menos frias. Ainda por causa do Efeito de Coriolis, os ventos que sopram
dos Polos para uma região de baixas pressões na altura da latitude de 60° N e 60° S fluem
da direção geral Leste, sendo, então, denominados Estes Polares. A zona de baixa pressão
acima citada é conhecida como Frente Polar.
A ação desses grandes sistemas de vento sobre os oceanos causa uma circulação predo-
minantemente superficial e eminentemente horizontal. O vento, soprando sobre a superfície
do mar, põe a água em movimento, em consequência do efeito de fricção no meio fluido (arras-
tamento sobre as camadas superficiais do mar). A direção do movimento da água no oceano não
é aquela do vento. Como visto, a rotação da Terra origina a força de Coriolis, que atua sobre as
correntes geradas pelo vento na camada superficial, movem-se para a esquerda do vento, no
Hemisfério Sul, e para a direita, no Hemisfério Norte. Este desvio de águas superficiais e de
blocos de gelo, que percorrem vastas distâncias, representam um papel importante na formação
das correntes oceânicas. A intensidade do desvio depende da velocidade da partícula e de sua
latitude, sendo nula no Equador e máxima nos Polos. Uma partícula em repouso não é afetada
e tampouco uma partícula que se move exatamente na direção Leste-Oeste no Equador.
A ação do vento significa, também, um transporte da água da superfície, 90° para a
direita, no Hemisfério Norte, e 90° para a esquerda, no Hemisfério Sul, em relação à direção
para a qual sopra o vento (Figura 10.26).
Na região, ou faixa, ao redor de todo o continente antártico, em que a água sofre esse
brusco aumento de temperatura, está localizada a Convergência Antártica. Aí, as águas, que
ao Sul da Convergência moviam-se para o Norte, mergulham e prosseguem em seu caminho
na mesma direção. A Convergência Antártica localiza-se, principalmente, entre 60° e 50° de
Latitude Sul, no Oceano Atlântico.
A partir dessa região, para o Norte, a temperatura da água volta a subir lentamente.
Da mesma forma, as águas da Corrente Circumpolar Antártica continuam a circular e, a cerca
de 40° de Latitude Sul, observa-se um novo aumento brusco de temperatura, mais nítido que
o correspondente à Convergência Antártica, com variação da ordem de 4° C. Esta é a região
correspondente à Convergência Subtropical. Como na Convergência Antártica, as águas con-
vergem, afundam e continuam em direção ao Norte. É nos mares austrais que se forma gran-
de parte das massas de água que vão compor a estratificação do Oceano Atlântico (no Ártico
também são “produzidas” massas de água que contribuem para essa estratificação). É através
dos “mecanismos” colocados em funcionamento pelas Convergências Antártica e Subtropical
que aquela contribuição se verifica. As duas Convergências separam as águas superficiais
em duas zonas que guardam valores distintos de propriedades da água do mar. A zona que
A circulação no Oceano Índico tem como característica a variação sazonal causada pelas
monções, conforme o regime de ventos apresentado na Figura 10.32.
No Pacífico Norte (Figura 10.34), a Corrente Norte Equatorial flui para Oeste e, na
região ocidental do oceano, se bifurca, com um ramo dirigindo-se para o Oceano Índico, pe-
los estreitos da Malásia e Indonésia, e outro infletindo para o Norte, para formar parte do
Sistema Kuro Shio, a Corrente Norte Pacífica e a Corrente de Tsushima (não representada
na figura).
A Corrente de Kuro Shio corre na direção geral Norte, próxima ao Japão, desde a ilha
de Formosa (Taiwan) até os 35° de Latitude Norte e mostra certa analogia com a Corrente da
Flórida, existente na parte ocidental do Atlântico Norte. Apresenta uma velocidade de cerca
de 0,85m/s (1,6 nós). Na Latitude de 35° N, a corrente afasta-se da costa do Japão, inflete para
Leste (recebendo a denominação de extensão da Corrente de Kuro Shio) e circula nessa dire-
ção até aproximadamente a Longitude de 160° E, onde se alarga para ramificar-se em duas,
mesclando-se o ramo do Norte com a Corrente de Oya Shio, enquanto o ramo Sul alimenta a
Contracorrente de Kuro Shio.
A Corrente Norte Equatorial e a Corrente Sul Equatorial do Oceano Pacífico circulam
para Oeste, tendo entre elas a Contracorrente Equatorial, que flui para Leste, na região das
calmas equatoriais.
No Pacífico Sul, a Corrente do Peru (ou Corrente de Humboldt), de águas frias, banha a
costa ocidental da América do Sul, tem pouca velocidade e, aos 35º de Latitude Sul, apresenta
uma largura de 900 Km (485 milhas). Ela está associada a uma ressurgência notável em frente
às costas do Peru e norte do Chile.
Um navio que mantém um rumo, seguindo a agulha de governo, e uma velocidade fixa,
estabelecida por um regime constante de rotações do hélice, não se deslocará necessariamente
sobre o rumo e a velocidade ordenados. Um dos motivos que afetam o movimento do navio
é a existência de correntes oceânicas superficiais, que se adicionarão naturalmente ao des-
locamento esperado pelo navio, resultando uma discrepância entre o rumo e velocidade em
relação à superfície e o rumo e velocidade em relação ao fundo (Figura 10.36). Haverá, assim,
um “abatimento” e um “caimento” e o navio poderá estar em “avanço” ou “atraso”, conforme
estudado no Capítulo 5, que abordou a Navegação Estimada.
Para a camada superficial, de umas poucas dezenas de metros, existe um bom acervo
de informações sobre correntes em grande parte dos oceanos. As informações provêm não só
do tráfego marítimo regular, como também de pesquisas oceanográficas. Nas campanhas oce-
anográficas, utilizam-se correntômetros e correntógrafos de vários tipos, para determinação
precisa dos elementos das correntes. Além disso, modernamente, determinam-se os elementos
das correntes oceânicas por sensoriamento remoto, através do acompanhamento, por satélites,
de bóias de deriva e outros tipos de derivadores.
Os Serviços Hidroceanográficos de vários países passaram a coletar sistematicamente
todas essas informações e publicar documentos de fácil consulta pelo navegante, tais como as
Cartas-Piloto, referentes aos vários oceanos de seus interesses. Hoje, dispõe-se de um conhe-
cimento razoável da circulação superficial de grande parte dos oceanos. Este conhecimento é
substancial e minucioso nas regiões muito frequentadas por navios, como as principais rotas
comerciais do Atlântico e do Pacífico Norte, mas escassa em outras regiões, como o Pacífico
Sul Oriental e o Índico Sul.
Ademais, as correntes variáveis, como as Correntes das Monções, do Oceano Índico,
não estão bem definidas, mesmo com todas as observações já realizadas. Há necessidade de
estudar melhor as condições do Oceano Índico, em determinadas regiões, para se verificar a
extensão das mudanças produzidas pelas variações locais do vento e pelo regime das monções.
A Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) edita o Atlas de Cartas-Piloto referente
ao Atlântico Sul Ocidental, o qual pode ser obtido, em meio digital, por meio de acesso ao sítio
da DHN.
A National Geospatial-Intelligence Agency (NGA), dos Estados Unidos da América,
publica, em cinco Volumes, as Pilot Charts relativas aos principais oceanos (Atlântico Norte
e Sul, Pacífico Norte e Sul, e Índico), os quais podem ser obtidos, em meio digital, por meio de
acesso ao sítio da NGA.
As Cartas-Piloto, produzidas uma para cada mês, apresentam, além de várias outras
informações meteorológicas, oceanográficas e geofísicas de interesse para a navegação, os
elementos das correntes oceânicas superficiais para diversos locais das áreas nelas represen-
tadas. A direção (ou rumo) da corrente é indicada por uma seta e a velocidade média, em nós,
é impressa ao lado da seta que representa a direção. As Cartas-Piloto serão estudadas em
detalhe no Capítulo 12.
Além das Cartas-Piloto, algumas cartas náuticas também indicam, ou informam (em
Notas de Precaução), os elementos das correntes oceânicas de superfície. Ademais, os Roteiros
também constituem fontes de informações valiosas sobre as correntes oceânicas e costeiras
devendo ser sempre consultados pelos navegantes.
Os Roteiros publicados pela DHN incluem, para cada trecho de costa descrito, uma
seção intitulada “Marés e Correntes”, onde são apresentadas as principais informações sobre
os referidos assuntos.
Reproduz-se na página seguinte, como exemplo, as informações sobre correntes forne-
cidas pelo ROTEIRO – COSTA LESTE para o trecho “DO PORTO DE VITÓRIA AO CABO
FRIO”:
CORRENTES
A corrente ao largo tem a direção geral SW, com velocidade máxima de 1 nó.
Nas proximidades do Cabo de São Tomé:
• a velocidade da corrente aumenta com a aproximação da costa;
• com vento de NE, a corrente tem a direção S, junto à costa, e SW ou WSW, mais ao
largo, com 0,8 nó ou mais, dependendo da força do vento;
• ventos frescos de SE e S podem anular a corrente; e
• tem-se observado, em algumas ocasiões, uma contracorrente para SW que vai ao
encontro do cabo de São Tomé com vento fresco de NE.
Ao largo do Cabo Frio, ventos de NE geram corrente para SW e ventos de SW geram
corrente para NE, em ambos os casos com velocidade de 0,5 nó a 1,5 nó, sendo comum
estas correntes precederem os ventos.
Próximo ao Cabo Frio, ventos do S geram corrente para o N e ventos de NE geram
corrente para W. Uma contracorrente em direção à ilha do Cabo Frio é sentida até 10
milhas a W da ilha, sendo de maior intensidade de setembro a dezembro.
APÊNDICE AO CAPÍTULO 10
3. Qual o tipo de maré que ocorre no Recife e quais são suas principais características?
Resposta:
Maré semidiurna, caracterizada por apresentar uma curva aproximadamente sinusoidal, com
duas PM e duas BM por dia, separadas por um período de pouco mais de 6 horas e com uma
variação pequena de altura entre duas PM (ou BM) sucessivas.
4. Supondo que, para alcançar a barra do porto do Recife, o seu navio, cujo calado é de 6 me-
tros, deve passar sobre um baixio cuja menor profundidade cartografada (sondagem) é de 6,4
metros, calcular entre que horários o navio pode passar sobre o baixio, no dia 08/03/93, após
a BM de 0949, com uma lazeira mínima de 2m de água abaixo da quilha.
Solução:
a) O calado do navio é de 6 metros e a lazeira mínima admitida de água abaixo da quilha é de
2 metros. Portanto, a menor profundidade onde o navio poderá passar será de:
CALADO = 6,0m
LAZEIRA = 2,0m
PROFUNDIDADE MÍNIMA = 8,0m
b) A menor profundidade cartografada (sondagem) no banco sobre o qual o navio deverá passar
é de 6,4 metros. Portanto, a altura da maré na hora da passagem sobre o baixio deverá ser de:
PROFUNDIDADE MÍNIMA DE NAVEGAÇÃO = 8,0m
SONDAGEM = 6,4m
ALTURA DA MARÉ NA HORA DA PASSAGEM = 1,6m
c) A maré prevista para Recife no dia 08/03/93, apresentada no Exercício 1, mostra, após a BM
de 0949P, uma PM às 1602P, com 2,6 metros de altura de maré. Portanto, devem-se determinar
as horas antes e depois da PM de 1602P em que a altura da maré prevista será de 1,6 metros.
O intervalo de tempo entre elas será o período favorável à passagem do navio sobre o baixio.
d) Para determinação das horas em que a altura da maré, antes e depois da PM de 1602P,
será 1,6 metros, faz-se:
Antes da PM:
ALTURA DA MARÉ = 1,6m
ALTURA DA MARÉ MAIS PRÓXIMA = 2,6m
CORREÇÃO DA ALTURA = 1,0m
AMPLITUDE DA MARÉ = 2,7m
Entrando na Tabela II com o valor da correção da altura (1,0m) e o valor da amplitude da
maré (2,7m), obtém-se o valor de c (centésimo de amplitude) = 34
Entrando na Tabela I com c = 34 e duração da enchente = 06h 13min, obtém-se o valor do
intervalo de tempo desde a maré mais próxima = 02h 30min.
HORA DA MARÉ MAIS PRÓXIMA = 1602 (PM)
INTERVALO DE TEMPO = 0230
HORA EM QUE A ALTURA DA MARÉ SERÁ 1,6m = 1332
Depois da PM:
ALTURA DA MARÉ = 1,6m
ALTURA DA MARÉ MAIS PRÓXIMA = 2,6m
CORREÇÃO DA ALTURA = 1,0m
5. Usando Recife como porto de referência, preparar uma Tábua das Marés completa para o
porto secundário de Camocim, para o dia 08/03/93, utilizando as correções da Tabela repro-
duzida na Figura 10.13.
Solução:
PREAMARES:
BAIXAMARES:
Resposta:
Solução:
A Carta de Correntes de Maré a ser selecionada é a correspondente a 2 horas depois da PM
em Natal, pois a PM está prevista para 0456P e a hora de interesse é 0700P.
Entrando na referida carta, reproduzida na Figura 10.37, obtém-se, para a barra do Rio Potengi:
CORRENTE DE MARÉ:
Rcor = 045° (NE) → vazante
velcor = 1,9 nó
Como a data considerada é uma sizígia (Lua Nova), não há qualquer correção a aplicar à ve-
locidade da corrente de maré.
Figura 10.37 – Carta de Correntes de Maré para o Porto de Natal (2 horas depois do PM)
As direções no mar (rumos e marcações) são obtidas pelo uso das Agulhas Náuticas e
seus acessórios, já apresentados detalhadamente no Capítulo 3. Entretanto, são pertinentes,
ainda, alguns comentários sobre os referidos instrumentos.
São as Agulhas Náuticas, quer magnéticas quer giroscópicas, que indicam os ru-
mos a bordo. Com elas são tomadas as marcações e azimutes, através do uso de acessórios
especiais.
a. Agulhas Magnéticas
Conforme visto, alguns navios possuem duas Agulhas Magnéticas: a agulha padrão,
instalada no Tijupá, em um local o mais livre possível das influências eletromagnéticas de
bordo e de visada desobstruída, e a agulha de governo, colocada no passadiço, por ante-a-vante
da roda do leme.
Pela agulha padrão é que se determinam os rumos e marcações. A agulha de governo
serve, basicamente, para o governo do navio. O rumo da agulha de governo é obtido por com-
paração com a agulha padrão. O procedimento consiste em colocar o navio no rumo da agulha
pela agulha padrão e, nessa situação, ler o rumo indicado na agulha de governo, pela qual
passa-se a governar o navio.
Atualmente, suprimiu-se a agulha de governo, sendo instalado na agulha padrão,
no Tijupá, um periscópio para leituras de rumo pelo timoneiro, no Passadiço, conforme a
configuração apresentada na Figura 11.1, instalada no Navio Hidroceanográfico Cruzeiro
do Sul.
No que se refere à graduação da rosa-dos-rumos da Agulha Magnética, inicialmente a
bússola era usada apenas para indicar o Norte. Logo, entretanto, foi introduzido o conceito de
marcar outras direções ao redor da borda da agulha. As direções marcadas recebem os nomes
dos vários ventos, conhecidos como Norte, Leste, Sul e Oeste. Por isso, à rosa da agulha foi
dado o nome de rosa-dos-ventos.
Figura 11.3 – Agulha de Fluxo Magnético Figura 11.4 – Agulha de Fluxo Magnético
(mostrador analógico) instalada no NHo (mostrador digital)
Amorim do Valle
Figura 11.7 – Antenas GPS montadas em estrutura fixa no Tijupá do NHi Sirius
de qualquer sistema eletrônico que esteja sendo utilizado para a sua navegação, como o po-
sicionamento pelo Sistema Global de Navegação por Satélite (Global Navigation Satellite
System – GNSS).
a. Espelho azimutal
O espelho azimutal, como pode ser observado na Figura 11.8, é constituído por uma
alidade com espelho e prisma de reflexão, utilizado para obtenção de azimutes e marcações,
de maneira semelhante ao círculo azimutal.
A Figura 11.9 mostra o emprego de um
Figura 11.8 – Espelho Azimutal
espelho azimutal para obtenção da marcação
de um ponto de terra e do azimute de um
astro. Para observação da marcação, visa-se
diretamente o ponto escolhido, lendo o valor
da marcação com o auxílio do prisma. Para
obtenção do azimute de astros, utiliza-se o
espelho montado na alidade (livre de girar em
torno de um eixo horizontal).
b. Alidade autossíncrona
da alidade telescópica é limitado. Para contornar esta desvantagem, existe a alidade autos-
síncrona (self-synchronous alidade), mostrada na Figura 11.11, que possui um motor síncrono
adicional, comandado pela Agulha Giroscópica mestra. Com este desenvolvimento, é possível
ajustar a alidade em uma determinada direção e observar um objeto, sem que o instrumento
se desvie da marcação desejada, em virtude do movimento do navio. A alidade autossíncrona,
assim como a alidade telescópica, é usada em lugar do círculo azimutal ou do espelho azimutal,
para determinar a marcação de objetos distantes.
a. Odômetro de Superfície
É um instrumento antigo, pouco usado hoje em dia, porém é fácil de montar e fornece
resultados bastante precisos. Atualmente, os navios mantêm o odômetro de superfície como
equipamento de emergência.
• não está sempre pronto para funcionar – precisa ser preparado e lançado;
• indica a distância navegada na superfície e não fornece diretamente a velocidade; e
• precisa ser retirado e não pode ser lançado em portos muito movimentados, porque
sua linha pode ser cortada por outros navios.
Além dos inconvenientes acima, os odômetros de superfície podem apresentar indicações
erradas devido às seguintes causas:
• mar muito agitado;
• má conservação;
• hélice rebocando lixo ou algas; e
• comprimentos de linhas inadequados.
Um acessório dos odômetros de superfície usado a bordo é o repetidor, podendo ser
instalado no Camarim de Navegação, cujo propósito é permitir que a leitura do indicador
(registrador) seja feita no referido compartimento, dispensando a ida até a popa para cada
leitura. Para isso, o indicador é ligado a um circuito elétrico, que transmite suas informações
ao repetidor.
O equipamento (Figura 11.16) consiste de uma haste (a), que é projetada através do
casco por uma válvula de mar (b). Dentro da haste sensora existe um tubo de Pitot, que, na
realidade, é constituído por dois tubos: um tubo que abre para vante e outro que abre para ré.
Quando o navio se movimenta, a parte de vante da haste (tubo de vante) é exposta à pressão
total. O tubo que abre para ré fica exposto apenas à pressão estática.
Inconvenientes:
• dá indicações pouco corretas a baixa velocidade, exceto em modelos especiais; e
• uma vez calibrado, só é possível alterar a correção de qualquer erro aplicando novas
“cames” nos mecanismos registradores.
d. Odômetro Doppler
• Se, entretanto, o corpo sonoro está se movendo, como mostrado na Figura 11.20(b),
o mesmo número de ondas é comprimido numa extensão Vt – vt = (V – v)t, e o novo compri-
mento da onda λ’ será dado por:
(V – v)t (V – v)t (V – v)
λ’ = = = λ
n Vt / λ V
V V V2
f’ = = =
λ’ λ (V – v) / V λ (V – v)
ou
λ .f
2 2
λ . f2 f.V
f’ = = =
λ (V – v) V–v V–v
onde:
f’ = frequência do som como ouvida pelo observador;
f = frequência do som na fonte sonora;
V = velocidade do som no meio; e
v = velocidade da fonte sonora.
É devido ao efeito Doppler que o som emitido por uma fonte que se aproxima é mais
agudo; já quando a fonte sonora se afasta, o som é mais grave. É por isso que o som da buzina
de um automóvel parece mais agudo quando ele se aproxima, e mais grave quando ele se afas-
ta. Com a luz, os raios do espectro se deslocam para o violeta quando a fonte se aproxima, e
para o vermelho quando a fonte se afasta. Isso foi verificado com a luminosidade das estrelas
e notou-se que as emissões luminosas de todas elas se deslocavam para o vermelho (o chamado
red shift), demonstrando que todas as estrelas estão se afastando do centro da galáxia, de onde
Hubble se baseou para criar a teoria do universo em expansão. O efeito Doppler é utilizado
nos radares Doppler, sonares Doppler e odômetros.
O odômetro Doppler possui, no casco do navio, um transdutor de emissão e um de
recepção. Um sinal de frequência ultrassonora é emitido (como se fosse um ecobatímetro) e
o receptor capta o sinal refletido pelo fundo do mar ou por pequenas partículas na água. Se
o navio estiver em movimento, a frequência recebida será levemente diferente da frequência
emitida e o aparelho mede essa diferença eletronicamente. A diferença de frequências é di-
retamente proporcional à velocidade do navio (ver a fórmula anteriormente apresentada). A
velocidade é integrada também eletronicamente e, assim, é obtida a distância navegada.
O odômetro Doppler é o único que mede a velocidade no fundo. As indicações dos outros
tipos estão influenciadas pelos movimentos devidos às correntes oceânicas, correntes de marés,
ventos, etc. O odômetro Doppler também tem a vantagem de poder indicar velocidades muito
pequenas. A Figura 11.21 apresenta o Indicador de um odômetro Doppler, modelo DS-80, da
Furuno, utilizado em vários navios da MB.
Os odômetros Doppler Figura 11.21 – Odômetro Doppler – FURUNO DS-80 –
usam dois tipos de transmis- Transdutor e Indicador de Velocidade
são: em pulsos ou em sinal
contínuo. O que emite pulsos
de ultrassom permite uma
transmissão mais potente sem
avariar o receptor e, por isso,
penetra em grandes profun-
didades. O que emite sinal
contínuo normalmente só dá
leituras, usando o fundo como
referência, até 50 metros de
profundidade. Qualquer que
seja a emissão, geralmente são usados como referência: o fundo até cerca de 90 metros de
profundidade e a massa d’água a partir de 90 metros. A precisão nas indicações é de cerca
de 0,5% da distância navegada, o que, numa singradura de 360 milhas, dá uma aproximação
de 1,8 milha.
O sinal emitido pelo odômetro Doppler também se move em relação ao fundo do mar. O
efeito do balanço pode ser eliminado, dando ao feixe emitido um formato de feixe de sonar. Mas
o movimento de caturro pode introduzir erros com o movimento do feixe para vante ou para
ré, através do fundo do mar. Transdutores especialmente projetados reduzem e até eliminam
esses erros nos grandes navios, mas, nas embarcações menores (iates, pesqueiros, etc.), eles só
poderão ser minimizados. Nas indicações de distâncias, os erros devidos ao caturro geralmente
se anulam, mas na indicação da velocidade sempre haverá dúvida.
Os grandes navios, V.L.C.C. (Very Large Crude Carrier) e U.L.C.C. (Ultra Large Crude
Carrier), hoje construídos, geralmente possuem um aparelho sonar sensor de velocidade
Doppler, que opera em dois eixos, um longitudinal e outro transversal. Ele pode indicar as
velocidades de deslocamento do navio, tanto no sentido proa-popa (para vante e para ré), como
para bombordo e para boreste. É muito útil nas manobras de atracação, quando se necessita
conhecer a velocidade de aproximação do cais com o máximo de precisão.
e. Velocímetros
Os velocímetros são normalmente atuados por uma haste que se projeta do casco da
embarcação. Esta haste pode ser puxada para trás pela água, em função da velocidade da
embarcação, ou ser acoplada a um pequeno hélice, cujas rotações são contadas eletricamente
ou eletronicamente.
Nos velocímetros hidráulicos, à medida que a haste se inclina, este movimento é trans-
mitido ao êmbolo de um cilindro, que comprime um líquido, o qual, por sua vez, age sobre o
indicador do velocímetro.
No velocímetro de hélice, na haste sensora fica um hélice, com seu eixo no plano longi-
tudinal. Com o movimento do navio, o hélice gira e esse movimento de rotação alimenta um
gerador de corrente alternada colocado no próprio bosso do hélice. A frequência da corrente
gerada é proporcional à velocidade do navio. Os sinais gerados são amplificados e as alternâncias
são transformadas em milhas na unidade mestra, por meio de engrenagens. A frequência da
corrente, sendo proporcional à velocidade,
é transformada em nós em um indicador Figura 11.22 – Velocímetro (indicador)
visual. Essas informações – milhas nave-
gadas e velocidade – são transmitidas a
diversas repetidoras, por meio de motores
síncronos.
Os velocímetros (Figura 11.22), nor-
malmente, não requerem maiores cuidados,
bem como permitem ajustes em suas leitu-
ras, devendo ser verificados de tempos em
tempos, através da corrida da milha, que
deve ser feita em condições de pouco vento e
corrente. O cálculo da velocidade em função
da corrida da milha permite que se façam
os ajustes necessários para maior precisão
do velocímetro.
Conforme acima citado, alguns velocímetros são equipados com dispositivos que indicam
a distância percorrida. Atualmente, a maioria dos velocímetros, em caso de avaria da haste
ou do hélice, permite que se faça a sua substituição ou reparo sem que haja necessidade de
colocar a embarcação em seco. Os velocímetros são muito usados em embarcações menores,
principalmente nas de esporte e recreio.
Muitas vezes não se dispõe de odômetro nem de velocímetro, porém têm-se indicadores
de RPM do motor. Pode-se conhecer a velocidade desenvolvida, desde que, previamente, se
tenha construído uma tabela de correspondência entre as RPMs do motor e as velocidades
resultantes, o que pode ser feito facilmente, através da corrida da milha, adiante estudada.
Esta tabela, indispensável a bordo, deve, contudo, ser utilizada com cuidado, uma vez
que, para o mesmo número de rotações por minuto (RPM), a velocidade correspondente de-
pende, ainda, de outros fatores, tais como: grau de limpeza do casco; estado do mar; calado; e
vento.
Ademais, convém ter presente que a velocidade não é uma função linear das RPMS,
sendo a sua curva representativa bastante afastada da linha reta. A Figura 11.23 apresenta
um exemplo de uma Tabela de Rotações, comumente usada a bordo dos navios.
NT BREKELÉ – Em 26/10/1993
b. Corrida da milha
RPM
Enquanto o VEL – COND.
navio 1
faz a “corridaVEL
da –milha”,
COND. 2aproveita-se
VEL – COND. 3 OBSERVAÇÕES
a oportunidade para, além de
determinar
50 a tabela de rotações,
4,8 efetuar a calibragem
4,7 dos odômetros.
4,6
Os60 odômetros, tal5,4
como acontece com 5,3todos os instrumentos,
5,2 têm os seus erros. É ne-
cessário, portanto, verificar regularmente as suas
NT BREKELÉ – Em indicações,
26/10/1993 comparando-as com medições
70 6,1 5,9 5,8
efetuadas RPM
diretamente. Chama-se “calibragem
VEL – COND. 1 VEL – COND. 2
do odômetro” a determinação
VEL – COND. 3
do seu erro
OBSERVAÇÕES
80 6,9 6,7
instrumental, a fim de poder efetuar a sua correção. 6,5
50 4,8 4,7 4,6
90 7,8 7,5 7,1
O erro60 determinado durante
5,4 a calibragem
5,3 pode ser corrigido
5,2 diretamente, no caso de
100 8,8 8,4 8,0
alguns tipos de equipamentos. Na maioria dos instrumentos, porém, esse erro não pode ser
70 6,1 5,9 5,8
completamente
110 anulado,9,9
restando um erro 9,4
residual que importa 8,8 conhecer.
80 6,9 6,7 6,5
Uma
120 90 calibragem11,1
consiste,
7,8 essencialmente,
10,5
7,5 em duas9,8 operações levadas a cabo
7,1
simultaneamente:
130100 12,4
8,8 11,7
8,4 11,0
8,0
•140determinação
110 da9,9velocidade do navio,
13,8 9,4 conforme indicada
13,0 12,2 pelo odômetro;
8,8 e
Vel de Cruzeiro
120
•150cálculo 11,1
da velocidade
15,3 10,5medição direta.9,8
do navio, por
14,4 13,5
130 12,4 11,7 11,0
A160 16,8 duas velocidades
comparação destas 15,8nos fornecerá a correção,
14,9 normalmente expressa
140
em porcentagem. 13,8 13,0 12,2 Vel de Cruzeiro
170 18,3 17,2 16,0 Vel. Máx Mantida
150 15,3 14,4 13,5
Uma vez que
CONDIÇÕES: esta
Foram correção
adotadas não varia proporcionalmente com a velocidade, deve-se efe-
160 16,8 as seguintes CONDIÇÕES
15,8 – PADRÃO 14,9
tuar uma série de corridas, numa gama variada de velocidades, obtendo-se, assim, uma série
170que COND.
de correções
1 – 18,3
permitem,
casco limpo, navio leve,
17,2 mar linearmente,
na prática, interpolar
chão, vento fraco.
16,0 sem erro Vel. Máx Mantida
apreciável, entre os
valores COND. 2
obtidos na corrida.
CONDIÇÕES: – casco sujo, navio a meia carga, mar
Foram adotadas as seguintes CONDIÇÕES – PADRÃO chão, vento fraco.
COND.
COND.3 –1 casco
– cascomuito
limpo,sujo,
navionavio
leve,carregado, mar chão,
mar chão, vento fraco. vento fraco.
Conforme visto, o processo mais rigoroso para proceder à calibragem dos odômetros é
COND. 2 – casco sujo, navio a meia carga, mar chão, vento fraco.
a “corrida da milha”.
COND. 3 – casco muito sujo, navio carregado, mar chão, vento fraco.
Exemplo:
Um navio, ao correr a milha medida nas proximidades de Cabo Frio (Carta 1508) anotou
os elementos abaixo. Determinar o erro percentual do odômetro.
CORRIDA RUMO 1ºALINHAMENTO 2ºALINHAMENTO RESULTADOS
Cálculos correspondentes:
SINAL:
SINAL:
2ª 2ª velvel
fd fd
(2)(2) =10,59nós
=10,59 nós vel od(2)
vel od(2) == 9,53
9,53nós
nós velvel
od od
> vel fd :fd
> vel ei :(+)
ei (+)
velvel
od od
< vel fd :fd
< vel ei :(-)
ei (-)
MÉDIAS vel fd =9,91 nós vel od = 10,30 nós Ei = + 3,8 %
MÉDIAS vel fd =9,91 nós vel od = 10,30 nós Ei = + 3,8 %
É importante notar que, mesmo após a aplicação da correção, os valores fornecidos pelo
odômetro para velocidade e distância percorrida ainda são em relação à massa líquida, e não ao
fundo. A correção anula apenas os erros das leituras provocados por imprecisões no instrumento.
11.4.1 Estadímetros
d = h . cotg α
onde:
• d é a distância ao objeto visado (fornecida pelo estadímetro);
• h é a altitude conhecida do objeto visado (introduzida no instrumento); e
• α é o ângulo vertical que subtende o objeto (medido com o estadímetro).
a. Estadímetros mecânicos
Figura 11.25 – Estadímetro Fiske (tipo Figura 11.26 – Estadímetro Brandon (tipo
Standard) Sextante)
Suponha-se que se deseja medir a distância para um navio cuja altura entre a linha-
-d’água e o tope do mastro é de 18,3 metros:
• inicialmente, obtém-se a altura (ou altitude) em pés; neste caso, 18,3 metros
correspondem a 60 pés;
• introduz-se o valor da altura (ou altitude) conhecida (60 pés) no braço índice;
• visa-se o navio para o qual se deseja determinar a distância, através da luneta;
assim como no sextante, será vista uma imagem direta e uma imagem refletida; gira-se o
tambor graduado de modo que o tope da imagem refletida tangencie a parte de baixo (linha-
-d’água) da imagem direta; e
• lê-se a distância diretamente, em jardas, no tambor graduado.
Quando a altura do mastro do navio para o qual se deseja obter a distância é menor
que 50 pés (15 metros), pode-se usar o artifício de introduzir no estadímetro o dobro da altura
e, para obter a distância, dividir-se por 2 a leitura do tambor graduado.
O estadímetro mecânico, atualmente, está em desuso nos Navios da Marinha do Brasil,
tendo sido substituído pelo estadímetro eletrônico, que será, em seguida, apresentado.
a ser medida a sua distância. Assim que se mira o alvo no centro do visor ótico, faz-se o ajuste
angular no estadímetro eletrônico por meio dos traçados (segments) que se empilham hori-
zontalmente, até que essa “pilha” se nivele ao ponto mais alto do alvo ou objeto observado. Na
Figura 11.29, pode-se perceber como é feito esse nivelamento.
Os valores abaixo do objeto informam o valor da distância, caso a leitura fosse feita
naquele estágio do nivelamento. A situação mais à direita, naturalmente, é a correta, que
apresenta o valor “450”.
Feito esse nivelamento, aperta-se um botão específico e a leitura da distância é feita ele-
tronicamente, apresentando no visor o valor obtido. Esse valor será na mesma unidade de medida
da altura (ou altitude) que foi introduzida, ou seja, se informado em metros, a distância será em
metros, e assim para qualquer outra unidade (pés, jardas, etc.). A Figura 11.30 apresenta duas
diferentes medições para um mesmo objeto observado, que se deseja conhecer a distância.
Na figura, o visor (a) apresenta o valor de entrada da altura da torre que se quer conhecer
a distância; o visor (b) apresenta a distância obtida naquele instante inicial em (a); e o visor (c)
apresenta a distância em que o navio se encontra da torre, quando mais próximo a ela.
Lembrando a fórmula anteriormente apresentada ( d = h . cotg α ), constata-se que
à medida que se aproxima do objeto, a distância diminui em razão do aumento do valor do
ângulo, que no visor pode ser constatado pelo aumento do número de traçados (segments)
indicados.
II, deste Manual, na parte referente à Navegação Astronômica. A Figura 11.31 apresenta o
Sextante Tamaya, Modelo MS-733, amplamente empregado nos Navios da MB.
Note-se, contudo, que o erro causado por estas simplificações só é desprezível quando
a distância entre o navio e a linha de costa é significativamente maior que a distância desta
à vertical do objeto.
Por seu turno, é preciso sempre considerar que, com o emprego deste método, a distância
obtida “D” é a distância ao objeto e não à linha de costa, como mostrado na Figura 11.33.
Visando facilitar a obtenção das distâncias pelos navegantes, foram construídas tábuas,
nas quais, entrando-se com os argumentos altitude do ponto observado, em metros, e ângulo
vertical observado, obtém-se a distância, em milhas, entre o objeto e o observador. As tábuas
em questão constam do Apêndice 1, do Volume 3 deste Manual, denominadas como Tábua
II – Distância pelo Ângulo Vertical.
Quando o objeto de altura conhecida está além do horizonte (ou seja, quando sua parte
inferior não é visível), conforme mostrado na Figura 11.34, o método não é indicado, pelos
resultados pouco rigorosos a que conduz. Neste caso, é melhor buscar-se a determinação da
posição por outros métodos.
11.4.3 Guarda-Posto
α
D = Dist “od” x
β–α
Exemplo:
Um observador, em um navio com o rumo na direção do Pão de Açúcar, num determi-
nado momento, mediu a altura angular α, de 2° 15’, o odômetro acusando 786,5 milhas; algum
tempo depois, a altura angular β foi de 3° 28’ e a leitura do odômetro foi de 790,0 milhas. Qual
a distância da segunda posição ao Pão de Açúcar?
α = 2° 15› = 135›;
β = 3° 28› = 208›; e
dist “od” = 790,0 – 786,5 = 3,5 milhas.
α 135’
D = Dist “od” x = 3,5 x = 6,5 milhas
β–α 208’ – 135’
H 70
D=d = 0,6 x = 1.050 m = 0,57 milha
L 0,04
d h Cxd 1,2 x 60
= → D = = = 7,2 milhas
D C h 10
11.5.2 Ecobatímetros
a. Princípio fundamental
O tempo decorrido entre a emissão do sinal e a recepção do eco refletido do fundo é conver-
tido em profundidade, pois a velocidade do som na água é conhecida (≅ 1.500 metros por segundo).
Os ecobatímetros, ou ecossondas, apresentam vantagens sobre os prumos de mão ou
mecânicos, por permitirem sondagens contínuas com maiores velocidades empregadas pelo
navio, em profundidades não alcançadas por ele e com menor dependência das condições de
meteoceanográficas.
b. Descrição do equipamento
Figura 11.46 – Indicador Digital do Ecoba- Figura 11.47 – Indicador Digital e Registro
tímetro Furuno FE-700, instalado no NHoF Gráfico de Profundidades do Ecobatímetro
Alte Graça Aranha EA400, instalado no NOc Antares
A quase totalidade dos aparelhos permite a introdução do valor do calado, de modo que
as indicações do ecobatímetro tenham como referência o nível do mar no instante da medição.
Entretanto, o nível do mar, como se sabe, não é imóvel, variando principalmente em
função das marés. As profundidades representadas nas cartas náuticas têm como origem o Nível
de Redução, que, para as cartas da DHN, é definido como a média das baixa-mares de sizígia.
Desta forma, para comparar com precisão a profundidade medida com a sondagem represen-
tada na carta, é preciso considerar a altura da maré no instante da medição, subtraindo-a (no
caso de altura da maré positiva) ou, eventualmente, somando-a (no caso relativamente raro
de altura negativa da maré, ou seja, de nível atual do mar abaixo do Nível de Redução).
A velocidade de propagação do som na água do mar não é constante e isto constitui
uma das fontes de erro nas medidas dos ecobatímetros. Alguns modelos, para uso científico,
permitem regular a velocidade do equipamento de modo que corresponda exatamente ao valor
da velocidade de propagação do som na água em que se opera.
Os ecobatímetros modernos, destinados a empregos mais precisos, como levantamentos
hidrográficos ou pesquisas geofísicas, são classificados em dois tipos: monofeixe e multifeixe.
Os ecobatímetros monofeixe transmitem pulsos de energia acústica projetada para a
água sob a forma de um feixe orientado verticalmente, em intervalos de tempo infinitesimal,
de maneira a coletar continuamente dados batimétricos ao longo da trajetória percorrida pelo
navio. Como toda profundidade deve estar referenciada em uma posição, o posicionador (assim
como nos ecobatímetros multifeixe) é utilizado para identificar as coordenadas da profundidade
encontrada. A precisão da posição vai depender do modelo escolhido de acordo com a acurácia
que o usuário deseja.
No modelo tradicional de sondagem, utilizavam-se os ecobatímetros monofeixe os quais
obtinham dados apenas ao longo da linha de sondagem. O aperfeiçoamento deste equipamento
deu origem aos ecobatímetros multifeixe, que obtém dados de profundidade ao longo e uma
faixa transversal à embarcação, cobrindo uma área maior do leito marinho, permitindo, assim,
a melhor delimitação dos perigos à navegação.
Os ecobatímetros multifeixe possuem muitos canais de transmissão de pulsos e recep-
ção de ecos ajustados eletronicamente durante os movimentos de balanço e caturro, os quais
permitem atingir uma faixa maior de direções. Dessa forma, uma área maior é abrangida e
coberta em apenas uma passagem da embarcação, permitindo observar as nuances do relevo
submarino.
O surgimento dos ecobatímetros modernos permitiu a maior produção de dados bati-
métricos em menor tempo, agilizando os levantamentos hidrográficos e dando celeridade às
atualizações cartográficas.
Fonte: Office of Coast Survey / National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)
Para determinar a direção de uma linha traçada na carta, a régua paralela deve ser
deslocada para uma das rosas-dos-rumos representadas na carta náutica, com o cuidado de
mantê-la sempre paralela à linha de referência, durante todo o movimento da régua. Alcançada
a rosa-dos-rumos, faz-se a leitura da direção verdadeira desejada, tendo-se cuidado para não
tomar a direção recíproca.
Para traçar uma linha de rumo ou marcação em uma determinada direção, parte-se
da rosa-dos-rumos e desloca-se a régua paralela para a posição desejada, com o cuidado de
mantê-la sempre paralela à direção de referência.
Existem réguas paralelas (tipo Captain Fields) que possuem uma graduação que facilita
o seu uso, pois dispensam o deslocamento da régua até a rosa-dos-rumos. Esse tipo de régua
utiliza como referência para leitura das direções qualquer meridiano (ou paralelo) representado
na carta, em conjunto com a graduação da régua.
De qualquer forma, se, durante o seu movimento, a régua paralela escorregar ou des-
lizar, deve-se começar de novo todo o procedimento.
Para evitar estes inconvenientes, existem os plotadores paralelos (parallel plotter) que
possuem roletes que se deslocam paralelamente sobre a carta, mantendo seu alinhamento
original, como apresentado na Figura 11.50. Os plotadores paralelos são de fácil manuseio e
mais práticos para uso em embarcações menores, onde o emprego da régua paralela torna-se
difícil, pela falta de espaço e pelo balanço/caturro da embarcação.
O plotador paralelo possui uma graduação que, em conjunto com qualquer meridiano
ou paralelo traçado na carta náutica, permite obter direções verdadeiras com facilidade, o
que evita ter que deslocar muito o plotador sobre a carta, diminuindo as chances de erros no
transporte de rumos e marcações.
Outro plotador utilizado em navegação, o Navigation Plotter está mostrado na Figura
11.51. Embora originalmente destinado à navegação aérea, sua simplicidade e conveniência
tornou-o muito usado no mar. Ele não possui partes móveis e as direções são lidas nos meri-
dianos representados na carta náutica, conforme ilustrado na Figura 11.52.
11.6.3 Estaciógrafo
a. Lápis e Borrachas
O lápis utilizado em navegação deve ser suficientemente macio para que, em caso de
necessidade de uso de borracha, não provoque rasuras nas cartas náuticas. Entretanto, não
pode ser muito macio, para não borrar e sujar a carta. Um lápis médio, como o HB ou o no 2,
produz boas plotagens. O uso de lapiseira 0,5 mm com grafite HB também é recomendado.
As linhas devem ser traçadas de leve na carta náutica. Ademais, evite traçá-las mais
longas que o necessário. Na plotagem de marcações, conforme anteriormente mencionado, evite
prolongar a linha até o ponto marcado, traçando-a apenas nas imediações da posição estimada,
a fim de preservar a carta e não rasurar a representação dos pontos notáveis utilizados como
referência para as marcações.
As borrachas devem ser macias e apagar sem rasurar ou sujar o papel.
b. Lupa
Uma lupa também é um acessório útil para facilitar a leitura de símbolos cartográfi-
cos, notas de precaução e outras informações apresentadas na carta náutica com tipos muito
pequenos.
c. Esquadros e Transferidores
Cartas Náuticas (System Electronic Navigational Chart – SENC) constitui-se no seu banco de
dados interno, onde são armazenadas as ENC, suas atualizações e outras informações. Caso
um trecho da derrota não disponha de ENC, o ECDIS poderá utilizar uma RNC, passando a
operar no modo Raster Chart Display System (RCDS). O emprego do ECDIS cumpre especifica-
ções estabelecidas por resoluções da Organização Marítima Internacional – OMI (Intenational
Maritime Organization – IMO) –, conforme especificado na Convenção SOLAS; e
b) Sistemas de Cartas Eletrônicas / Electronic Chart System (ECS) – são sistemas
de navegação genéricos, que não cumprem as especificações estabelecidas pela IMO. Existem
quatro classes de ECS, cujos requisitos são estabelecidos pela Radio Technical Commission
for Maritime Services (RTCM).
Relembrando, os padrões RTCM para um ECS contemplam quatro classes, que variam
de acordo com seus níveis de funcionalidade. São eles:
1. RTCM ECS classe A: destinam-se à operação como back-up de um ECDIS e como
auxílio à navegação para navios que operam em áreas marítimas. Devem exibir informações
de cartas náuticas digitais e possuir a capacidade de planejamento, monitoramento e gravação
de uma viagem;
2. RTCM ECS classe B: destinam-se à operação como auxílio à navegação para navios
que operam em áreas marítimas. Não são obrigados a ter todas as capacidades de navegação
de um ECS classe A, mas devem exibir informações de cartas náuticas digitais e possuir a
capacidade de planejamento, monitoramento e gravação de uma viagem;
3. RTCM ECS classe C: destinam-se à plotagem e ao monitoramento da posição dos
navios que geralmente operam em águas interiores. Não são obrigados a ter todas as capa-
cidades de um ECS classe B, como o planejamento e o monitoramento de uma viagem, mas
devem exibir informações de cartas náuticas digitais; e
4. RTCM ECS classe D: destinam-se à plotagem da posição dos navios que operam em
águas interiores. Não são obrigados a ter todas as capacidades de um ECS classe C, ou ainda
de planejar uma viagem e de monitorar a posição do navio. Por outro lado, devem exibir in-
formações de cartas náuticas digitais e possuir a capacidade de plotar a posição do navio.
Na Marinha do Brasil, destaca-se o desenvolvimento, pelo Instituto de Pesquisas da
Marinha (IPqM), com apoio da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico
da Marinha (DGDNTM), do sistema denominado Centro de Integração de Sensores e
Navegação Eletrônica (CISNE), com capacidade de exibição de cartas eletrônicas, já havendo
mais de uma versão instalada em Navios da MB. Esse sistema não possui ainda os atributos
de um ECDIS, sendo considerado um ECS.
Conforme a NAVEMARINST No 10-15, as seguintes orientações devem ser cumpridas
por todos os navios e embarcações da MB que possuam estes sistemas:
a) só deverão ser utilizadas, nesses sistemas, cartas náuticas digitais oficiais atualiza-
das, produzidas pela DHN ou por Serviços Hidrográficos estrangeiros, as quais tenham sido
validadas (homologadas) e distribuídas por um Centro de Coordenação Regional/ Regional
ENC Coordination Centre (RENC);
b) seja, obrigatoriamente, mantida andaina de material e cartas em papel;
c) as ocorrências de navegação continuem sendo registradas no modelo DHN-0622-4
(Registro de Ocorrência da Navegação – Folha N-2); e
d) a operação e uso dos sistemas de exibição de cartas náuticas digitais seja feito por
pessoal devidamente qualificado e treinado.
a) Vantagens:
b) Desvantagens:
Os binóculos são designados por dois números (exemplo: 7x50) que indicam a potência
e o tamanho da objetiva, respectivamente.
Chama-se campo de visão de um binóculo o campo visto através das lentes. Geralmente
é expresso em medida angular, mas também pode ser dado em metros, para uma distância de
1.000 metros (ou pés, para uma distância de 1.000 pés). Se for dito que um binóculo tem um
campo de 150 metros, significa que ele mostrará uma abertura de 150 metros numa distância
de 1.000 metros.
Quanto maior o aumento, menor é o campo de visão. É uma necessidade ótica. Assim,
se for escolhida uma lente de aumento muito grande (20x, por exemplo), o campo de visão será
reduzido. A solução é aumentar o diâmetro da lente, mas o binóculo se torna muito grande
e pesado. Por isso, os binóculos normalmente usados em navegação não têm muito poder de
ampliação (magnificação) e os que têm são montados em tripé nas asas do Passadiço ou no
Tijupá, por serem grandes e pesados. Também ocorre que, em condições normais, há uma
perda de cerca de 5% da luz quando um raio luminoso passa através de uma superfície de
vidro. Os binóculos possuem inúmeras lentes e, assim, há uma grande perda de luz. Para
evitar isso, as lentes sofrem um revestimento, que elimina essa perda e restaura a luz do
feixe luminoso. Esse revestimento aparece como uma película azul escura quando a lente é
vista sob luz refletida.
como os modelos mostrados nas Figuras 11.61a e 11.61b. Outros, além de bússola, possuem
dispositivo para visão noturna ou sob condições de pouca luz.
Sempre que usar binóculos, o navegante deve ter o cuidado de passar as alças em torno
do pescoço e proteger o instrumento, para que não sofra choques, que, mesmo pequenos, podem
causar o desalinhamento das lentes. Uma boa maneira de guardar os binóculos a bordo, com
segurança e de modo a tê-los sempre à mão para uso, é confeccionar caixas especiais para os
instrumentos, fixadas às anteparas internas do Passadiço.
a. Cronógrafo
Figura 11.62 – Cronógrafo Digital
É um instrumento muito útil para navega-
ção (Figura 11.62), principalmente à noite, para
determinação de características de faróis, faroletes
e outros auxílios luminosos à navegação, a fim de
permitir sua correta identificação. Na falta de um
cronógrafo, o navegante deve dispor, no mínimo,
de um bom relógio com contagem de segundos. Os
cronômetros, essenciais na Navegação Astronômica,
são apresentados no Capítulo 21 (Volume II).
b. Calculadora Eletrônica
É, também, muito útil ao navegante, desde as mais simples, para os cálculos rotineiros
(especialmente os associados à navegação estimada, como determinação de rumos e derrotas)
até as calculadoras programáveis, com programas de navegação para operações complexas,
c. Lanterna
Embora simples, a lanterna não pode deixar de ser mencionada, pela sua utilidade na
navegação noturna, para leitura do sextante ou do peloro, anotação dos valores obtidos, etc.
Lanternas (e pilhas sobressalentes) devem estar sempre disponíveis à noite. O ideal é que
seja equipada com vidro vermelho ou, pelo menos, estar adaptada com um pedaço de papel
celofane encarnado, para não prejudicar a “visão noturna” do navegante.
d. Aplicativos de Navegação
A andaina mínima de cartas náuticas em papel será composta por todas as cartas náu-
ticas referentes à área geográfica em que o Navio opera, de acordo com o Catálogo de Cartas
e Publicações. Quanto aos quadros, todos os navios deverão mantê-los afixados no Passadiço
e em local de fácil visualização.
Caso o Navio disponha de um Sistema Eletrônico de Apresentação de Cartas e
Informações (ECDIS) ou um Sistema de Cartas Eletrônicas (ECS), deve ser considerado que
ele deva dispor, também, de uma andaina mínima de cartas náuticas eletrônicas (ENC) que
abranjam as mesmas áreas das cartas náuticas em papel (que são as únicas reconhecidas,
oficialmente, para emprego nos Navios da MB).
Compete à Base de Hidrografia da Marinha em Niterói (BHMN), organização subordinada
à DHN, fornecer a dotação inicial de Cartas, Publicações Náuticas e Quadros a todos os Navios
da MB, bem como a todas as demais Organizações Militares que também devam dotá-las, a
exemplo dos Comados de Força, Grupamentos de Navios, Escolas e Centros de Ensino.
1
O conceito de “Águas Jurisdicionais Brasileiras” perante a Marinha do Brasil, conforme estabelecido na Instrução
Normativa Nº 1/MB/MD, de 7 de junho de 2011, “compreendem as águas interiores e os espaços marítimos, nos
quais o Brasil exerce jurisdição, em algum grau, sobre atividades, pessoas, instalações, embarcações e recursos
naturais vivos e não-vivos, encontrados na massa líquida, no leito ou no subsolo marinho, para os fins de controle
e fiscalização, dentro dos limites da legislação internacional e nacional. Esses espaços marítimos compreendem a
faixa de 200 milhas marítimas contadas a partir das linhas de base, acrescida das águas sobrejacentes à extensão
da Plataforma Continental além das 200 milhas marítimas, onde ela ocorrer”.
2
Embarcações SOLAS, conforme definição contida na NORMAM-01/DPC, são embarcações mercantes empre-
gadas em viagens internacionais ou empregadas no tráfego marítimo mercantil entre portos brasileiros, ilhas
oceânicas, terminais e plataformas marítimas, com exceção de: embarcações de carga com arqueação bruta inferior
a 500; embarcações de passageiros com arqueação bruta inferior a 500 e que não efetuem viagens internacionais;
embarcações sem meios de propulsão mecânica; embarcações de madeira, de construção primitiva; embarcações
de pesca; e embarcações com Comprimento de Regra (L) menor que 24 metros.
As seguintes Publicações Náuticas editadas pela DHN, em meio digital, estão disponí-
veis para consulta e download (na página do CHM na internet):
• Catálogo de Cartas e Publicações;
• Carta 12000 (INT 1);
• Lista de Faróis;
• Lista de Sinais Cegos;
• Lista de Auxílios-Rádio;
• Tábuas das Marés;
• Cartas de Correntes de Maré;
• Atlas de Cartas Piloto; e
• Hidrovias: Lista de Sinais e Roteiro da Hidrovia Paraguai-Paraná; e Roteiro da
Hidrovia Tietê-Paraná.
em três partes. O Catálogo é essencial para a seleção de todas as Cartas e Publicações Náuticas
que se deve ter a bordo para executar uma determinada travessia. É oportuno relembrar que,
além das cartas dos portos de partida, escala e destino, e das demais cartas a serem utiliza-
das na singradura, deve-se dispor a bordo das cartas náuticas de aproximação e do interior
de todos os portos que possam servir como locais de arribada durante a execução da derrota,
para atender a situações inopinadas ou de emergência.
a) Organização do Catálogo
A Parte 1 contém a relação de todas as cartas publicadas pela DHN com a informação
dos índices do Catálogo em que estão representadas.
A Parte 2 apresenta os 20 índices em que as cartas são distribuídas. Cada índice contém
uma relação detalhada das cartas do trecho representado, com seu número, sua escala, ano
da 1a edição e ano da última edição. Apresenta ainda, para cada índice, um cartograma com
as posições relativas das cartas, conforme apresentado, a título de exemplo, na Figura 12.1, o
“Índice 5 – De Macau a Maceió”.
A Parte 3 relaciona todas as publicações e impressos editados pela DHN, de interesse
exclusivo para a navegação, com a informação do número, título e o ano de sua edição.
b) Correções ao Catálogo
GENERALIDADES
A Número da Carta, Título e Informações Marginais
B Posições, Distâncias, Marcações e Rosa-dos-Ventos
TOPOGRAFIA
C Feições Naturais
D Edificações
E Pontos de Referência
F Portos
G (não utilizado)
HIDROGRAFIA
H Marés e Correntes
I Profundidades
J Natureza do Fundo do Mar
K Rochas, Cascos Soçobrados e Obstruções
L Instalações ao Largo da Costa
M Derrotas e Rotas
N Áreas e Limites
O (não utilizado)
AUXÍLIOS À NAVEGAÇÃO
P Luzes
Q Boias e Balizas
R Sinais de Cerração
S Sistemas de Navegação por Radar, Radio e Satélite
T Serviços
U Facilidades para Pequenas Embarcações
12.4 ROTEIRO
O Roteiro (publicação DH1) é uma publicação que contém as informações úteis ao
navegante com relação à descrição da costa, demanda de portos e fundeadouros, perigos, pro-
fundidades em barras e canais, recursos em portos, balizamento, condições meteorológicas
predominantes, correntes e marés observadas, etc. A publicação é dividida em três volumes,
cada um focalizando determinado trecho da costa, como mostrado a seguir:
Costa Norte – Da Baía do Oiapoque ao Cabo Calcanhar, inclusive o Rio Amazonas e
seus afluentes navegáveis e o Rio Pará;
Costa Leste – Do Cabo Calcanhar ao Cabo Frio, incluindo o Atol das Rocas, o
Arquipélago de Fernando de Noronha, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo e as Ilhas da
Trindade e Martin Vaz; e
Costa Sul – Do Cabo Frio ao Arroio Chuí, inclusive as lagoas dos Patos e Mirim.
Além de adotada no Roteiro, esta divisão da costa brasileira também é utilizada em
outras Publicações Náuticas.
O Roteiro, na Introdução e no Capítulo I – Informações Gerais, fornece aos navegantes
informações importantes para a segurança da navegação e recomendações práticas de grande
interesse sobre as cartas náuticas e sua utilização, sinalização náutica, navegação costeira
e de aterragem, Avisos aos Navegantes, auxílios-rádio à navegação, praticagem, busca e
salvamento, serviços de alfândega e saúde e regulamentos (Mar Territorial, pesca, pesquisa,
poluição, etc.).
O Capítulo II contém informações gerais sobre o Brasil, incluindo resumo histórico,
organização administrativa, pesos e medidas, hora legal, horário de verão e fusos horários,
aspectos físicos, meteorologia (clima, ventos, massas de ar e frentes), oceanografia e principais
portos, terminais e serviços portuários.
Os Capítulos I e II são comuns a todos os volumes do Roteiro.
Os capítulos seguintes dos três volumes abrangem trechos significativos da costa,
descritos do Norte para o Sul. São subdivididos em seções, correspondentes, tanto quanto
possível, a trechos entre dois portos ou a baías onde estejam localizados portos importantes.
Essas seções contêm informações como:
• conformação e descrição da costa;
• pontos característicos do trecho (cabos, pontas, portos e terminais, canais, baías e
enseadas, pontos notáveis à navegação, etc.);
• perigos ao largo;
• fundeadouros;
• ventos e correntes oceânicas predominantes;
• descrição do acesso aos portos (reconhecimento e demanda, derrota aconselhada,
pontos notáveis e auxílios à navegação no acesso e no interior do porto, perigos à navegação,
fundeadouros e áreas de manobra, marés e correntes de maré, praticagem, normas de tráfego
e permanência específicas para o porto); e
• recursos portuários.
Figura 12.2 – Roteiro Costa Sul: Vista do Figura 12.3 – Planta do Porto de São
Porto de São Francisco do Sul Francisco do Sul
Na prática, o Roteiro deve ser consultado sempre que se tem necessidade de conhecer,
com detalhes, as informações contidas nas cartas. Ademais, antes das aterragens e demandas
de portos, é boa norma fazer a leitura do Roteiro, acompanhando-a na carta, com o objetivo de
determinar a melhor derrota a seguir, como reconhecer o porto e evitar perigos, escolher os
melhores pontos para marcações, conhecer as marés, correntes e ventos predominantes, além
do clima e condições de tempo normalmente reinantes.
Periodicamente, o Roteiro é revisto, do que resulta uma nova edição. Nos intervalos
entre as edições, ele é mantido atualizado pela distribuição de Folhas de Correções anexas aos
Folhetos de Avisos aos Navegantes.
Os Roteiros das hidrovias interiores do Brasil, exceto as constantes no Roteiro Costa
Norte citado acima, constituem publicações à parte, cada um dividido de acordo com as carac-
terísticas da hidrovia. Nesse contexto, a DHN publica o Roteiro da Hidrovia Paraguai-Paraná
(Porto de Cáceres – Porto de Nova Palmira – De Assunção a Cáceres – Canal Tamengo), de-
nominado como publicação DH1-VI, descrevendo a navegação na referida hidrovia, desde a
confluência com o Rio Paraná até o porto de Cáceres, e o Roteiro da Hidrovia Tietê-Paraná,
denominado como publicação DH1-VII, que descreve a navegação, a sinalização e particula-
ridades do rio Tietê (da foz a Anhumas), do rio Paraná (de Jupiá à foz do Tietê), rio São José
dos Dourados e Canal Pereira Barreto.
a. Radiogoniometria
b. Sinais Horários
Figura 12.5 – Estações que Transmitem Sinais Horários (Extrato da Lista de Auxílios-Rádio)
c. Serviços Radiometeorológicos
Náuticos Locais dos rios Paraguai, Paraná e Tietê (e seus afluentes), a numeração anual
inicia-se em 0001.
Ademais, adotam-se as seguintes letras indicativas das regiões de ocorrência: I - Bacia
Amazônica; N – Costa Norte; E – Costa Leste; S – Costa Sul; HG – Hidrovias em Geral
(rios, lagos e lagoas em geral); HI – Rio Paraguai e afluentes; e HT – Rios Tietê e Paraná, e
afluentes.
Exemplos:
S 7021/17: Aviso-Rádio Náutico Local, da Costa Sul, número 7021, do ano de 2017;
E 0027/18: Aviso-Rádio Náutico Costeiro, da Costa Leste, número 0027, do ano de 2018; e
0123/18: Aviso-Rádio Náutico NAVAREA, número 0123, do ano de 2018.
Os Avisos-Rádio Náuticos são divulgados, no âmbito da NAVAREA V, pelos seguintes
meios:
a) Transmissões via satélite, pelo serviço SafetyNET;
b) Radiodifusão em HF, pela Estação Rádio da Marinha no Rio de Janeiro (PWZ 33);
c) Radiodifusão em VHF/HF, pela Rede Nacional de Estações Costeiras (RENEC) da
Embratel;
d) Divulgação pela internet, por meio do sítio da DHN/CHM; e
e) Publicação nos folhetos de “Avisos aos Navegantes”.
A Figura 12.9 reproduz o Apêndice V-4 da Lista de Auxílios-Rádio, onde são apresen-
tadas as principais informações relativas à divulgação dos Avisos-Rádio Náuticos e SAR.
O SafetyNET é um serviço internacional de difusão e recepção automática de Informações
de Segurança Marítima através do sistema EGC Inmarsat, o qual foi especificamente projetado
como parte do Sistema Marítimo Global de Socorro e Segurança (Global Maritime Distress
and Safety System – GMDSS).
O sistema EGC, operado por meio de quatro satélites móveis de comunicação do sistema
Inmarsat-C, provê um método global e automático de difusão de Informações de Segurança
Marítima (ISM/MSI) a todos os navios localizados em áreas geográficas fixas (como no caso
das diversas NAVAREA/METAREA ou das áreas costeiras) ou temporárias (áreas circulares,
retangulares), ou ainda a um predeterminado grupo de navios. A cobertura do sistema estende-
-se, aproximadamente, entre as latitudes 76º S e 76º N.
As mensagens SafetyNET são originadas por instituições formalmente autorizadas e
certificadas para participar como provedores de informações no âmbito deste serviço. O CHM,
por delegação da DHN, está autorizado a prover todas as ISM/MSI (Avisos-Rádio Náuticos e
Informações Meteorológicas) afetas às áreas (NAVAREA e METAREA) sob responsabilidade
do Brasil.
Assim, as transmissões de Avisos-Rádio Náuticos, via SafetyNET, são realizadas a
partir do CHM, que dispõe de enlace com uma Estação Terrena Costeira (Land or Coast Earth
Station – LES) autorizada pela Inmarsat. A partir da LES, as mensagens são transmitidas
ao satélite AOR-E (Região Oceânica Atlântico Leste) e, deste, de volta à superfície da Terra
para recepção pelos usuários equipados com receptores adequados.
3
Essas convenções são a Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (Convenção SOLAS,
1974, e Protocolo 1988), a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM, Jamaica, 1982) e a
Convenção Internacional de Busca e Salvamento Marítimo (Hamburgo, 1979).
Desta forma, quando em situação de perigo, os navegantes em trânsito por essas áreas
poderão solicitar auxílio através dos recursos de GMDSS disponíveis a bordo ou então direta-
mente ao SALVAMAR BRASIL, ou, ainda, conforme a sua posição, nos Centros de Coordenação
SAR (SALVAMAR regionais), cujos dados para contato (telefone, Fax e e-mail) constam do
Capítulo 5 da Lista de Auxílios-Rádio, ora apresentado.
Diferentemente dos Avisos-Rádio Náuticos, os Avisos-Rádio SAR não são classificados
em função do tipo de navegação a quem interessa ou da região em que ocorrem. Em face
de sua especificidade, possuem identificação própria, de modo a diferenciá-los dos demais
avisos.
Os Avisos-Rádio SAR brasileiros são identificados pela sigla “SAR”, seguida de numera-
ção sequencial anual de quatro algarismos (a partir de 0001) e de dois algarismos indicativos
do ano de divulgação do Aviso.
Exemplo: SAR 0056/21
Os Avisos-Rádio SAR são divulgados, no âmbito da região SAR sob responsabilidade
do Brasil, pelos seguintes meios:
• transmissões via satélite, pelo serviço SafetyNET;
• radiodifusão em HF, pela Estação Rádio da Marinha no Rio de Janeiro (PWZ 33);
• radiodifusão em VHF/HF, pela Rede Nacional de Estações Costeiras (RENEC) da
Embratel; e
• divulgação pela internet.
As informações referentes às periodicidades, horários e canais de transmissão dos
Avisos-Rádio SAR constam do Capítulo 5 da Lista de Auxílios-Rádio, ora apresentado.
g. Apoio Costeiro
As percentagens de ventos não indicadas diretamente nas Cartas Piloto foram obtidas
na Escala Percentual de Ventos, conforme mostrado na Figura 12.13.
Na Figura 12.11, por exemplo, pode-se afirmar que, no mês de maio, a corrente ao largo
de Santos flui para ENE (no rumo 060º), com velocidade média de 1,0 nó.
Em linhas cheias encarnadas são apresentadas as isotermas, que indicam, em graus
Celsius, a temperatura da água do mar na superfície. Pode-se dizer, por exemplo, que, no mês
de maio, a temperatura média da água do mar na superfície, na altura de Angra dos Reis, é
de 24º C (vide a Figura 12.11).
Em linhas tracejadas encarnadas são representadas as isotermas que indicam, em
graus Celsius, a temperatura do ar à superfície. A Figura 12.11 indica que, no mês de maio,
a temperatura média do ar à superfície em Florianópolis é de 21º C.
Em linhas cheias representadas em roxo são plotadas nas Cartas Piloto as linhas iso-
gônicas (de mesmo valor de declinação magnética) para o ano de 2015, de acordo com a atual
edição do Atlas das Cartas Piloto, de 2019. As linhas unindo pontos de mesma variação anual
de declinação são representadas por linhas tracejadas, também em roxo. A Figura 12.11, por
exemplo, indica que a declinação magnética para 2015 no Rio de Janeiro é de 22º W e sua
variação anual é cerca de + 6’.
Conforme citado, no verso de cada página mensal das Cartas Piloto são apresentadas,
para o mês a que se refere a carta, informações sobre temperatura média, nevoeiro, visibili-
dade, ventos predominantes e ocorrência de ventos fortes nos principais portos e ilhas e em
alguns outros pontos selecionados da costa brasileira.
A Figura 12.14 mostra, por exemplo, as condições médias para as proximidades do Rio
Grande, no sul do Brasil, no mês de maio.
Além destas informações, as Cartas Piloto apresentam os limites das Áreas de Previsão
(áreas Alfa, Bravo, Charlie, Delta, Echo, Foxtrot, Golf, Hotel, Área Norte Oceânica e Área Sul
Oceânica), para as quais são divulgadas diariamente previsões meteorológicas.
Avisos aos Navegantes são informações sobre alterações à navegação na costa, rios,
lagos e lagoas navegáveis, divulgadas para alertar os navegantes, promover a tempestiva atu-
alização das Cartas e Publicações Náuticas, e ainda divulgar outras informações, de caráter
geral, sob a classificação de Avisos Permanentes Especiais (APE).
São divulgados por folhetos, disponibilizados no site do CHM, com diferentes periodi-
cidades. Os referentes à Área Marítima e Hidrovias em Geral são publicados com intervalo
de 15 dias, os da Hidrovia Paraguai-Paraná são mensais e os da Hidrovia Tietê-Paraná são
trimestrais.
Os Avisos referentes às atualizações de cartas náuticas usam as mesmas letras atribu-
ídas às áreas usadas na numeração dos Avisos-Rádio Náuticos, e são classificados da seguinte
forma:
• Avisos Temporários – informações de correções de caráter transitório. As correções
decorrentes destes avisos devem ser feitas a lápis. São numerados da seguinte forma: letra(s)
indicativa(s) das regiões de ocorrência, numeração sequencial a partir de 1, a letra (T) e ano
de entrada em vigor do Aviso;
• Avisos Preliminares – antecipam informações de correções que, posteriormente,
serão objeto de Avisos Permanentes. As correções decorrentes destes avisos devem ser feitas
a lápis. São numerados da seguinte forma: letra(s) indicativa(s) das regiões de ocorrência,
numeração sequencial a partir de 1, a letra (P) e ano de entrada em vigor do Aviso; e
• Avisos Permanentes – informações de correções definitivas. As correções decor-
rentes destes avisos devem ser feitas a caneta ou por inserção de “bacalhaus”, conforme o
caso. Após a realização da correção, o campo “Pequenas Correções” (canto inferior esquerdo
da carta) deve ser preenchido com o ano e o número do Aviso Permanente correspondente.
São numerados da seguinte forma: numeração sequencial a partir de 1 e ano de entrada em
vigor do Aviso.
Importante notar que as numerações são sequenciais ao longo do ano, independente-
mente da área a que se referem.
a. Faróis
São auxílios à navegação constituídos por uma estrutura fixa, de forma e cores distintas,
montados em pontos de coordenadas geográficas conhecidas na costa ou em ilhas oceânicas,
bancos, rochedos, recifes ou margens de rios, dotados de equipamento luminoso exibindo
luz com característica predeterminada, com alcance luminoso noturno maior que 10 milhas
náuticas.
Os componentes essenciais de um farol são a estrutura e o aparelho de luz. A estrutura
deve ser resistente às intempéries, fácil de ser vista e reconhecida pelo navegante. O equipa-
mento luminoso é constituído pela fonte de luz, por um aparelho ótico que concentre os raios
luminosos na direção do horizonte e por um acessório que dê ritmo à luz exibida. A Figura
13.1 apresenta quatro diferentes faróis da costa brasileira, de distintas estruturas, a seguir
discriminados:
• Salinópolis, PA – armação cônica em treliça metálica com coluna central;
• Abrolhos, BA – torre troncônica metálica;
• Rasa, RJ – torre quadrangular de alvenaria, com tope cilíndrico; e
• Albardão, RS – torre cilíndrica de concreto armado.
Utilizam-se vários critérios para classificar os faróis. Serão mencionados aqui apenas
quanto à sua finalidade e ao regime de funcionamento.
Classificação dos faróis quanto à sua finalidade:
• Faróis de aterragem: destinados ao reconhecimento e demanda de um determinado
porto e à correção da posição dos navios que vêm de alto-mar. Situados em pontos salientes da
costa ou em ilhas conspícuas, possuem geralmente um alcance geográfico e luminoso suficiente
para serem vistos e reconhecidos a uma distância superior a 20 milhas. Ademais, é comum
dotá-los de equipamentos eletrônicos que auxiliam a sua identificação e reforçam seus ecos
radar. Exemplos: Farol Natal, RN (alcance geográfico: 22 milhas), Farol Olinda, PE (alcance
geográfico: 22 milhas), Farol Rasa, RJ (alcance geográfico: 23 milhas) e Farol Moela, SP (al-
cance geográfico: 24 milhas);
• Faróis de cabotagem: destinados à navegação costeira, são situados em pontos
que o navegante tem interesse em reconhecer, como cabos, pontas e ilhas. Sua distribuição
pela costa deverá ser tal que permita aos navegantes de cabotagem (que, em geral, dispõem
de recursos menos sofisticados que os de longo curso e se servem prioritariamente de sinais
visuais) verificarem sempre sua posição, de modo a garantir-lhes uma navegação segura em
singraduras entre portos. Exemplos: Farol Itapajé, CE (alcance geográfico: 18 milhas), Farol
Santo Alberto, RN (alcance geográfico: 16 milhas), Farol Ponta de Pedras, PE (alcance geográ-
fico: 18 milhas), Farol Itapuã, BA (alcance geográfico: 14 milhas), Farol Maricás, RJ (alcance
geográfico: 21 milhas); e
• Farol principal de porto: constitui o principal auxílio visual à demanda do porto,
depois do farol de aterragem. Exemplo: o Farol Santa Cruz (alcance geográfico: 14 milhas),
demarcando a barra da baía de Guanabara, é o farol principal do porto do Rio de Janeiro, cujo
farol de aterragem é, conforme visto, o Farol Rasa (alcance geográfico: 23 milhas).
Outras classificações, como farol de alinhamento e farol de balizamento, serão adiante
estudadas, neste mesmo capítulo.
b. Faroletes
c. Luzes de Alinhamento
O navegante estima o quanto está afastado do alinhamento (eixo do canal) pela obser-
vação do deslocamento vertical aparente entre os dois sinais, um em relação ao outro.
A aplicação mais comum de alinhamento em sinalização náutica é marcar a linha
central ou eixo de um canal, com o propósito de indicar ao navegante quando ele estiver fora
dessa linha central.
O alinhamento é um auxílio à navegação tanto diurno como noturno. Durante o dia,
os navegantes orientam-se pelas estruturas dos sinais; à noite, pelas luzes exibidas.
Os dois sinais que constituem o alinhamento devem, tanto quanto possível, obedecer
aos seguintes requisitos:
• as formas das estruturas dos sinais e suas pinturas devem ser iguais ou se comple-
tarem; e
• as luzes devem ter a mesma cor.
O estabelecimento de um alinhamento requer estudo detalhado. Um alinhamento a
ser usado como sinalização náutica deverá ter uma boa sensibilidade lateral, definida como a
propriedade pela qual o navegante percebe uma alteração transversal da posição do seu navio,
em relação ao alinhamento. A sensibilidade lateral é medida pela rapidez com que os sinais do
alinhamento se afastam lateralmente, um em relação ao outro, quando o navio se movimenta
transversalmente no canal.
Para o cálculo da sensibilidade lateral, são levados em conta fatores como a largura
do canal (W), o comprimento do canal (C) e a distância do início do alinhamento ao sinal an-
terior (D). Uma sensibilidade lateral conveniente vai definir a distância entre os sinais (R) e
a diferença de altura entre eles, conforme apresentado na Figura 13.2.
d. Boia
Uma boia luminosa, conforme apresentada na Figura 13.3, consiste de um corpo flu-
tuante livre, dotado de um contrapeso para equilíbrio, e de uma estrutura vertical em forma
de treliça, denominada mangrulho, cuja finalidade é sustentar o aparelho de luz, o refletor
radar (quando houver), a marca de tope e o AIS (quando houver).
A forma e a cor do corpo da boia, a marca de tope exibida e o ritmo e a cor da luz devem
permitir a identificação e a determinação do propósito de uma boia luminosa.
As boias cegas não são dotadas de aparelho de luz, sendo identificadas e reconhecidas
pelo seu formato, sua cor e sua marca de tope.
No que se refere aos acessórios das boias, citam-se os dispositivos sonoros, as marcas
de tope e os refletores radar (quando houver).
As marcas de tope, já mencionadas, são figuras geométricas colocadas no tope das
boias, que, por sua forma, cor e combinação, permitem identificar, durante o dia, o propósito
do sinal. Já eram empregadas anteriormente, mas sua adoção foi recomendada pela IALA no
Sistema Uniforme de Balizamento, tanto na Região “A”, como na Região “B”, onde se situa o
Brasil, como será visto adiante.
Os refletores-radar destinam-se a reforçar os ecos das boias, melhorando sua conspi-
cuidade radar. Não é um item obrigatório.
O AIS destina-se a permitir a identificação da boia nas cartas eletrônicas de navegação.
Não é um acessório obrigatório.
Outros acessórios destinados a reforçar o eco radar e facilitar a identificação radar de
uma boia (ou qualquer outro auxílio à navegação), como o RACON, serão explicados no Capítulo
seguinte, que aborda a Navegação Radar.
Quanto às fontes de energia, as boias luminosas são hoje elétricas, utilizando baterias,
geralmente em conjunto com uma fonte alternativa de energia, como painéis solares, geradores
de onda (WAG – Wave Activated Generator), geradores eólicos, ou os denominados sistemas
híbridos, que combinam duas ou mais fontes alternativas de energia, dentre as acima citadas
(exemplo: sistema de energia utilizando baterias, painel solar e gerador de onda).
O equipamento de fundeio para uma boia, cujas principais partes componentes são
mostradas na Figura 13.4, consiste basicamente de uma corrente, denominada amarra, ligada
a um corpo morto que repousa no fundo (poita), ou a um ferro, em local geográfico previamente
determinado para o seu posicionamento.
Uma observação essencial sobre as boias, aplicável também a qualquer outro auxílio
à navegação flutuante, é que não se deve confiar cegamente na sua posição. As boias podem
garrar, afastando-se de suas posições predeterminadas por ação da corrente, do vento, ou da
colisão de navios ou embarcações; em virtude de redes de pesca que se enroscam no seu apa-
relho de fundeio; ou por outros problemas.
e. Barca-Farol
• o custo de docagem de uma LANBY é maior que o de uma barca-farol, já que sua
forma circular ocupa maior espaço;
• quando rebocada, a barca-farol, por sua forma de casco de navio, oferece menor
resistência hidrodinâmica que a LANBY;
f. Baliza
É um sinal visual fixo, cego, constituído de uma haste, com pintura de cor ou cores deter-
minadas, fabricado em ferro, madeira ou outro material, encimado obrigatoriamente por marca
de tope característica da informação que deve transmitir ao navegante, dotado ou não de refletor
radar, estabelecido em águas rasas, sobre pedras, bancos ou recifes ou fixados em terra.
Em rios, lagoas e lagos, as balizas, normalmente, são fixadas em terra e dotadas de
painel de sinalização que indica ao navegante a ação a empreender.
As balizas são o mais simples e econômicos dos sinais de auxílio à navegação, mas nem
por isso de fácil instalação. Como sinais cegos, destinam-se a fornecer indicações ao navegante
durante o período diurno.
Na sinalização náutica fluvial adotada no Brasil, as balizas desempenham um im-
portante papel, recebendo placas com símbolos especiais, que indicam ao navegante a ação a
empreender para manter-se no canal, a bifurcação de canais e a existência de perigo isolado.
Tais símbolos, que serão adiante estudados, são pintados nas placas das balizas com
material refletivo (tinta ou fita adesiva), do tipo usado em sinalização rodoviária, para permitir
também a identificação noturna, através do uso de holofote.
Ademais, as balizas utilizadas na sinalização náutica fluvial exibem ainda placas de
quilometragem /milhagem, com o quilômetro do rio em que estão instaladas, medido da foz do
rio para montante. As placas de quilometragem das balizas constituem um importante auxílio
ao posicionamento e à navegação fluvial. Os números indicativos dos quilômetros são pintados
com material retrorrefletivo.
Um outro tipo de baliza é a Baliza Articulada, que é também um sinal cego, constitu-
ído de uma haste que se articula à poita por meio de um sistema “Cardan” ou similar, dotado
de corpo de flutuação submerso, encimado obrigatoriamente por marca de tope, dotado ou não
de refletor radar, estabelecido em águas rasas.
As balizas articuladas são muito úteis para limitar ou definir as margens de um canal
estreito ou de uma área de manobra delicada, onde a mudança de posição de uma boia lumi-
nosa (que gira pela ação do vento ou, principalmente, da corrente de maré) poderia levar a
situações perigosas, em especial para os navios de grande porte.
13.2.3 Balizamento
Outro critério divide o balizamento em balizamento cego (balizas e boias cegas) e ba-
lizamento luminoso (faroletes e boias luminosas).
Uma classificação importante é a que separa os balizamentos em:
a) balizamento marítimo: aquele instalado em baías, enseadas e no canal de acesso e
bacia de evolução de portos e terminais marítimos; e
b) balizamento fluvial: instalado ao longo de rios (lagos e lagoas), como auxílio à nave-
gação interior.
Normalmente, o balizamento fluvial tem regras próprias, em complemento às regras
para o balizamento marítimo.
Nos balizamentos, os sinais fixos e flutuantes que os compõem, exceto os faróis e as
luzes de alinhamento, são estabelecidos de acordo com uma direção convencional, denominada
“Direção Convencional do Balizamento”, considerada pela NORMAM 17/DHN, conforme
o Sistema de Balizamento Marítimo da IALA, como sendo aquela assumida pelo navegante
que, vindo do mar, demanda uma baía, enseada, porto, estuário, lagoa ou rio.
Nos lagos não associados a rios, a direção convencional do balizamento será a do sentido
Norte/Sul verdadeiro; e nos rios não associados a uma baía, enseada ou estuário marítimos,
a direção convencional do balizamento será sempre da foz para a nascente.
O navegante que avista um farol, farolete, boia, baliza ou qualquer outro auxílio visual
à navegação, mesmo estando distante do sinal, deve ser capaz de identificá-lo rapidamente.
Para isso, sinais de uma mesma região devem apresentar formatos e padrões de pintura dis-
tintos e exibirem luzes diferentes, cada uma com sua característica própria, de modo que não
haja risco de confusão com sinais vizinhos.
Assim, os sinais de auxílio à navegação são identificados:
a) durante o período diurno: pela cor, pela forma que se apresenta ao navegante, pela
marca de tope e pela numeração, se houver, apresentada em sua estrutura; e
b) durante o período noturno: pela característica luminosa.
As Figuras 13.1, 13.3, 13.5 e 13.7, já apresentadas neste Capítulo, permitem identificar
alguns diferentes exemplos de estruturas e padrões de pintura utilizados nos auxílios visuais
à navegação, atualmente empregados.
Entende-se por emissão luminosa, emissão de luz ou apenas luz, a radiação capaz de
causar uma impressão visual, com característica regular, para ser empregada em um sinal
de auxílio à navegação. As luzes podem ser classificadas como:
a) luz onidirecional é aquela que exibe ao navegante, em todo o seu entorno, uma
mesma característica;
b) luz direcional é aquela que exibe ao navegante, com um mesmo ritmo, em um setor
bem estreito, uma cor definida para indicar uma direção, podendo ser flanqueada por setores
de cores ou intensidades diferentes;
c) luz de setor é aquela que exibe ao navegante, com um mesmo ritmo e diferentes
cores, diferentes setores do horizonte; e
d) luzes de alinhamento são aquelas componentes de um conjunto composto por dois
sinais fixos, com luzes de mesma cor, que, associadas, definem para o navegante uma direção
que coincide com o eixo de um canal, um rumo a ser seguido ou uma referência para manobra.
b. Termos Gerais
d. Limites de Setores
Os setores coloridos, de cor diferente da característica do farol, podem ser usados para
indicar a direção de um perigo ou a passagem livre entre perigos.
No que se refere ao arco de visibilidade ou setor de visibilidade de um farol, é importante
mencionar que, muitas vezes, a luz de um sinal não pode ser observada de todos os azimutes,
ou seja, tal luz não é visível para todas as posições em volta do farol, porque a topografia do
local obscurece alguns setores (ver a Figura 13.8).
Os setores de visibilidade dos faróis são indicados na Lista de Faróis. Conforme citado,
os setores de visibilidade são descritos por marcações verdadeiras tomadas do largo (do mar
para o sinal), no sentido horário. Ou seja, as marcações que limitam o setor de visibilidade
são as marcações com que o navegante avista o farol (e não as marcações com que o faroleiro
avistaria o navio).
Na Figura 13.9, por exemplo, que contém um trecho da carta 1501 e um extrato da
Lista de Faróis, os setores de visibilidade do Farol de Palmas seriam descritos como: B. 008°–
076° (068°); E. 076º – 081º (005º); e B. 081°– 252° (171°). Por sua vez, os setores de visibilidade
do Farol da Ilha Pontuda (todos Encarnados) seriam descritos como: E. 027º – 055º (028º); E.
085º – 096º (011º); e E. 205º – 213º (008º).
Figura 13.9 – Setores de Visibilidade dos Faróis de Palmas e de Ilha Pontuda - Carta 1501
Nessa mesma figura, faz-se oportuno observar que o setor encarnado do Farol de Palmas
indica um perigo existente a SSW da Ilha Pontuda, cujo farol, existente nessa ilha, também indica
o mesmo perigo para o setor encarnado 027º – 055º. Isso permitirá ao navegante, ao se aproximar
da barra da baía da Guanabara, pelo quadrante W-SW, no período noturno, ser alertado da proxi-
midade do perigo, caso aviste a luz encarnada proveniente de um desses dois auxílios à navegação.
Como visto na situação acima apresentada, o conhecimento das peculiaridades da visibi-
lidade no mar, para qualquer navegante, tem aplicação não apenas no melhor aproveitamento
e entendimento dos sinais visuais, mas também em toda e qualquer observação visual, em
proveito da segurança da navegação. O Apêndice B deste Capítulo apresenta as características
dos fatores ambientais e do observador que devem ser consideradas na solução dos problemas
da navegação no mar.
a. Alcance Luminoso
É a maior distância em que uma luz pode ser vista, meramente em função de sua in-
tensidade luminosa e da visibilidade meteorológica média da região.
O Diagrama de Alcance Luminoso, apresentado na página seguinte (Figura 13.10),
originário da Lista de Faróis (item 3.5 – ALCANCES), possibilita ao navegante determinar a dis-
tância aproximada em que uma luz pode ser avistada à noite (alcance luminoso), em função de sua
intensidade luminosa e da visibilidade meteorológica predominante no momento da observação.
A Intensidade luminosa é o fluxo luminoso que parte de uma fonte luminosa, em
uma dada direção, geralmente expresso em candelas (cd), cujo valor é informado na coluna
4 da Lista de Faróis.
A Visibilidade Meteorológica (V) é a maior distância da qual um objeto negro, de
dimensões adequadas, pode ser visto e reconhecido durante o dia, contra o céu no horizonte,
desde que a iluminação do ambiente esteja no mesmo nível que a normal diurna. O seu valor
é expresso em milhas náuticas.
O coeficiente de Transparência Atmosférica (T), cujos valores são numerados de zero
a nove (equivalente a décimos da unidade), é decorrente do fato de que a luz, ao se propagar,
sofre uma absorção natural do meio, mesmo que puro. Ao atravessar uma atmosfera real, a
energia luminosa sofre perdas, devido à sua reflexão em partículas d’água em suspensão. À
proporção que a altitude aumenta, mais seco é o ar, mais límpida é a atmosfera, melhor se
propaga a luz e maiores distâncias são atingidas. Entretanto, para a navegação marítima,
as camadas mais baixas são as mais relevantes quanto à transparência atmosférica, em que
são frequentes as garoas, as chuvas e as brumas ou nevoeiros. Assim, um coeficiente T = 0,85
significa que o raio luminoso, ao percorrer uma milha náutica, tem sua intensidade luminosa
reduzida para 85%, havendo uma absorção através da atmosfera de 15%.
Assim, o alcance luminoso é obtido entrando-se no diagrama, na sua borda inferior
(linha horizontal) com o valor da intensidade luminosa em candelas (cd), e com o valor da
visibilidade meteorológica (V), discriminada sobre suas curvas. Projetando-se, então, hori-
zontalmente, no diagrama, o ponto de interseção para uma das colunas laterais (verticais),
obtém-se o alcance luminoso, em milhas náuticas, no momento da observação. De outro modo,
por exemplo, para um valor de visibilidade meteorológica (V) de 5,4 milhas náuticas, tem-se
um valor de coeficiente de transparência atmosférica (T) equivalente a 7 (ou seja 0,7), valor
este que também pode ser utilizado com a intensidade luminosa em candelas para a obtenção
do alcance luminoso do farol, para aquele determinado instante.
b. Alcance Nominal
c. Alcance Geográfico
É a maior distância na qual uma luz pode ser vista, levando–se em conta unicamente a
curvatura da Terra, com a elevação da fonte luminosa e a altura do olho no observador sobre
o nível do mar.
Como apresentado no Apêndice B, a linha de visada do observador a um objeto distante
é, no máximo, o comprimento tangente à superfície curva do mar. É desse ponto de tangên-
cia que as distâncias tabulares são calculadas. A Tabela de Alcance Geográfico, reproduzida
na Figura 13B.6, ao final do Apêndice B, fornece o alcance geográfico em milhas náuticas,
levando-se em conta a altura sobre o nível do mar em que se encontra o olho do observador e a
elevação da luz sobre o nível médio do mar, ou seja, sua altitude, ambas em metros. Conforme
mencionado no Apêndice, a tabela utiliza, para cálculo do alcance geográfico, a fórmula:
D = 1,93 ( √H + √h )
No caso de valores não tabulados de altitude do olho do observador e/ou do objeto visado,
obtém-se o alcance geográfico por interpolação linear.
Assim, para se obter a visibilidade real geográfica do objeto, entra-se na Tabela de
Alcance Geográfico, primeiramente, com a altura do olho do observador sobre o nível do mar,
em metros, e, em seguida, com a elevação sobre o nível médio do mar (ou seja, a altitude) do
objeto, também em metros. Na tabela, o cruzamento das duas entradas apresenta a distância
máxima em que um objeto ou uma luz apareça no horizonte, em milhas náuticas.
EXEMPLOS:
a) Um observador no passadiço de um navio, na altura de sete (7) metros sobre o nível
do mar, tenta avistar um farol cujo foco luminoso possui uma elevação (altitude) de sessenta
(60) metros. Entrando na tabela com os dois valores, obtém-se 20,0 milhas náuticas, que será
a distância visual máxima na qual o observador poderá avistar o farol, ou seja, o alcance ge-
ográfico do farol.
b) A altura do olho do observador sobre o nível do mar é de 15 metros, e a altitude do
objeto visado é 42 metros. O alcance geográfico, obtido por interpolação na tabela será de
19,93 milhas.
Ao ser estabelecido um farol, os valores dos dois alcances, geográfico e luminoso, devem
ter sido fixados com antecedência. A partir desses alcances, então, a altitude e o aparelho de
luz são definidos de modo a que satisfaçam às condições exigidas.
Nos faróis de aterragem, deseja-se que o navegante possa avistá-los da maior distância
possível, de dia ou de noite. Neste caso, a intensidade luminosa e, consequentemente, o alcance
luminoso, deverá ser, no mínimo, igual ao alcance geográfico, pois não adiantaria construir
um farol que possua um alcance geográfico de 40 milhas e um alcance luminoso de apenas 10
milhas nas condições ideais, se o seu objetivo é ser avistado o mais longe possível.
Por outro lado, ocorrem situações em que não interessa ao navegante avistar um farol
desde muito longe, se só irá marcá-lo efetivamente quando estiver mais próximo. Isto poderia,
inclusive, gerar erros ou dificuldades na identificação dos sinais. Para estes casos, o alcance
luminoso poderá ser inferior ao geográfico.
Como ao navegante interessa saber a que distância poderá avistar pela primeira vez
um determinado sinal, a DHN registra nas cartas apenas o menor entre os dois alcances.
Até 1976, havia em uso no mundo mais de trinta sistemas diferentes de balizamento,
muitos dos quais contraditórios entre si. Este fato resultava em situações confusas, particular-
mente à noite, quando um navegante poderia deparar-se, inesperadamente, com uma luz cujo
significado não lhe parecia claro. Tal confusão era especialmente perigosa quando a luz não
identificada sinalizava um perigo novo, ainda não cartografado, tal como um casco soçobrado
recente. A dúvida do navegante acerca da melhor ação a seguir era inevitável, levando-o a
tomar uma decisão errada e muitas vezes desastrosa.
Desde o aparecimento das boias luminosas, no final do século XIX, ocorreram muitas
controvérsias sobre a melhor maneira de usá-las. Assim, alguns países eram favoráveis à
utilização de luzes encarnadas para sinalizar o lado de bombordo nos canais, enquanto outros
eram partidários de colocá-las a boreste.
Outra diferença de opinião fundamental girava em torno dos princípios a serem apli-
cados aos sinais de auxílio ao navegante. A maioria dos países adotou o princípio do Sistema
Lateral, em que os sinais indicam os lados de bombordo e boreste de uma rota a ser seguida, de
acordo com uma direção estipulada. Outros países, no entanto, foram partidários do princípio
de sinais Cardinais, no qual os perigos e o setor onde se poderá encontrar águas navegáveis
estão indicados mediante uma ou mais boias ou balizas posicionadas em relação aos quatro
quadrantes.
Ao longo dos anos, numerosas tentativas foram feitas para conciliar as diferentes opi-
niões, porém sem sucesso. A maior aproximação a um acordo internacional sobre um sistema
de balizamento unificado foi alcançada em Genebra, em 1936. Infelizmente, redigido sob os
auspícios da Liga das Nações, nunca foi ratificado, devido ao deflagrar da Segunda Guerra
Mundial. O acordo propunha o uso indistinto dos sinais Laterais ou Cardinais, porém sepa-
rando-os em dois sistemas diferentes. Também dispunha o uso da cor encarnada para sinais
de bombordo e reservava, genericamente, a cor verde para marcar cascos soçobrados.
Ao terminar a Segunda Guerra Mundial, muitos países tiveram seus auxílios à navega-
ção destruídos e o processo de reconstrução tornou-se premente. Na ausência de algo melhor,
adotaram as regras de Genebra, com ou sem modificações para adaptá-las às condições locais
e aos equipamentos disponíveis. Este procedimento conduziu a amplas e algumas vezes con-
flitivas diferenças, especialmente nas águas densamente navegadas do noroeste da Europa.
Grande parte do continente americano e alguns países do Pacífico continuaram ado-
tando “encarnado a boreste” e utilizando, unicamente, o sistema de balizamento lateral.
Essa situação insatisfatória era do perfeito conhecimento da IALA – na época, Associação
Internacional de Sinalização Náutica, hoje denominada como Associação Internacional de
Autoridade em Auxílios à Navegação Marítima e Faróis –, que, em 1969, constituiu uma
Comissão Técnica para examinar a questão e sugerir soluções.
Foram três os problemas básicos enfrentados pela Comissão:
As tentativas para alcançar uma unidade completa tiveram escasso êxito. Uma série
de acidentes desastrosos ocorridos na área do Estreito de Dover, em 1971, imprimiu um novo
ímpeto aos esforços da Comissão. Os cascos soçobrados situados no corredor de um Esquema
de Separação de Tráfego desafiaram todas as tentativas efetuadas para sinalizá-los de maneira
facilmente compreensível.
Para encarar as exigências conflitivas, considerou-se necessário, como primeiro passo,
formular dois sistemas: um, usando a cor, encarnada para sinalizar o lado de bombordo dos
canais e outro, empregando a mesma cor para marcar o lado de boreste. Esses sistemas foram
denominados A e B, respectivamente.
As regras para o Sistema A, que incluíam tanto os sinais Cardinais como os Laterais,
foram completadas em 1976 e aprovadas pela Organização Marítima Internacional (IMO). O
sistema começou a ser introduzido em 1977 e seu uso foi gradualmente estendido através da
Europa, Austrália, Nova Zelândia, África, Golfo Pérsico e alguns países da Ásia.
As regras para o Sistema B foram concluídas no início de 1980 e procurou-se adequá-
-las para aplicação nos países das Américas do Norte, Central e do Sul, Japão, Coreia do Sul
e Filipinas.
Entretanto, devido à similitude entre os dois sistemas, o Comitê Executivo da IALA
combinou-os em um único conjunto de regras, conhecido como Sistema de Balizamento
Marítimo da IALA. Esse sistema único adotado permitiria que as autoridades de sinaliza-
ção náutica escolhessem, sobre uma base regional, entre usar o encarnado a bombordo ou a
boreste, optando, respectivamente, pela Região A ou Região B.
Para viabilizar esse conjunto único de regras e satisfazer às necessidades dos países
componentes da Região B, propôs-se introduzir nas regras acordadas do sistema A alguns
pequenos acréscimos. Essas adições eram de natureza menor e não exigiam uma mudança
significativa no Sistema A de balizamento, já em processo de introdução, na época.
Durante a Conferência convocada pela IALA, em novembro de 1980, com a assistência
da IMO e da OHI, reuniram-se os responsáveis pelo balizamento de 50 países e representantes
de 9 organismos internacionais relacionados com auxílios à navegação e acordaram adotar as
regras do novo Sistema Combinado. Também foi decidido que os limites das regiões seriam
representados em um mapa anexo às regras, conforme apresentado adiante na Figura 13.11,
periodicamente atualizado.
O Brasil, por intermédio da DHN, assinou o Acordo e optou pela Região “B”, decisão
aprovada pelo Decreto Presidencial nº 92.267, de 3 de janeiro de 1986.
Fonte: IALA Recomendation R1001 – THE IALA MARITIME BUOYAGE SYSTEM (Edition 1.1 - June 2017)
a. Generalidades
b. Sinais Laterais
c. Sinais Cardinais
Sinais Cardinais:
A marca de tope constituída por 2 esferas pretas é um indicador diurno muito impor-
tante de todo sinal de Perigo Isolado, e seu tamanho deve ser o maior possível, com uma visível
separação entre as esferas. A marca de tope para um sinal de Perigo Isolado é obrigatória.
Definição de Sinais de Águas Seguras – Estes sinais servem para indicar a existên-
cia de águas navegáveis em todo o seu entorno, o meio de um canal, um ponto de aterragem
ou um ponto de espera.
f. Sinais Especiais
Definição de Sinais Especiais – São sinais cujo objetivo não é orientar a navegação,
mas indicar uma área ou característica especial, mencionada nos documentos náuticos apro-
priados, como:
• boias dos Sistemas de Aquisição de Dados Oceânicos (ODAS);
• sinais de separação de tráfego, em que o uso de sinalização convencional de canal
pode causar confusão;
• sinais de área de despejos;
• sinais de área de exercícios militares;
• sinais de cabo ou tubulação submarino;
• sinais de área de recreação ou de restrição à navegação;
• sinais para delimitação de perímetro de segurança nas proximidades de usinas
hidrelétricas;
• sinais para delimitação de áreas de fundeio;
• sinais para delimitação de extremidade de construções sobre e sob águas;
• sinais para delimitação de obras sendo realizadas sobre e sob águas;
• sinais para delimitação de instalações offshore para geração de energias renováveis;
• sinais para indicação de áreas aquícolas; e
• sinais para outros fins especiais.
As obstruções submarinas, quando consideradas perigos à navegação, como dutos ou
cabos elétricos, cabos submarinos para telecomunicações, cabeças-de-poço, áreas de despejo,
etc, devem ser sinalizadas com os Sinais Especiais, em acordo ao item 0318 da NORMAM 17/
DHN.
Definição de Sinais de Novos Perigos – Estes sinais servem para indicar qualquer
obstrução à navegação recentemente descoberta e ainda não indicada em documentos náuticos
ou que ainda não tenha sido suficientemente divulgada. Os novos perigos incluem obstruções
tais como: bancos de areia, rochas, cascos soçobrados e outros resultantes da ação do homem.
i. o novo perigo deve ser sinalizado por iniciativa do responsável pelo balizamento local,
que deverá informar, imediatamente, a sua ocorrência ao Centro de Hidrografia da Marinha
(CHM) e ao Agente da Autoridade Marítima;
ii. pelo menos um dos sinais usados para balizar um novo perigo deverá ser duplicado.
O sinal utilizado para duplicação deve ser idêntico ao seu par em todos os aspectos;
iii. qualquer sinal luminoso usado com o propósito de sinalizar um novo perigo deve
ter a característica luminosa de sinal cardinal ou lateral, rápida (R) ou muito rápida (MR); e
iv. um novo perigo poderá ser sinalizado, ainda, por um Racon transmitindo a letra
“D” (-··) em código Morse, mostrando o comprimento de uma milha náutica na tela do radar.
Um sinal complementar instalado em uma margem de um rio deve ser obedecido no trecho
compreendido entre ele e o próximo sinal complementar de margem.
As dimensões dos painéis devem permitir ao navegante identificá-los plenamente a uma
distância suficiente para empreender a ação neles indicada. Essa distância deve ser sempre
em função das condições da via navegável e das embarcações que a utilizam.
1
A montante é um lugar situado acima de outro, em relação a um rio. A montante é o lugar que está mais próximo
das cabeceiras de um rio, a nascente é o ponto mais a montante de um rio. Por sua vez, a jusante indica o lado de
baixo, o lado da foz de um rio. A foz é o lado mais a jusante de um rio.
2
Um painel de sinalização é uma placa com forma, dimensão e cores definidas, complementada ou não por sim-
bologia gráfica, para utilização na sinalização náutica complementar, de rios, lagos e lagoas ou construções sobre
vias navegáveis. Normalmente, os painéis de sinalização têm sua simbologia gráfica materializada por meio de
materiais retrorreflexivos, com o propósito de melhorar sua visualização pelo navegante.
O painel de sinalização deverá exibir uma cor básica de fundo cuja finalidade é oferecer
o melhor contraste possível com o símbolo gráfico que contém a informação relevante para o
navegante. As combinações previstas são:
• painel laranja ou encarnado – símbolo na cor preta;
• painel na cor branca – símbolo na cor verde ou encarnada; e
• painel na cor preta – símbolo na cor amarela ou branca.
Dentre as combinações acima, os painéis de cor preta têm seu uso regulamentado nas
alíneas correspondentes, a seguir. As outras combinações possíveis podem ser empregadas a
critério da autoridade responsável, para os sinais cujas descrições não mencionam cores.
Basicamente, os painéis nas cores laranja ou encarnada são empregados exclusiva-
mente em sinalização diurna, quando é necessário um contraste com um fundo de vegetação
predominante. Os painéis brancos com símbolos nas cores verde ou encarnada são empregados
também como sinalização noturna, pois, quando iluminados pela embarcação, além de indicar
a ação a empreender, também permitem ao navegante identificar a margem na qual estão
instalados.
É aquele que exibe, em um painel quadrangular, uma cruz com o braço horizontal
visivelmente mais fino. A Figura 13.26 apresenta as combinações previstas para o sinal, de
acordo com o Anexo C da NORMAM 17/DHN.
e. Sinal de alinhamento
É aquele que, instalado em pares, em uma mesma margem, exibe um painel qua-
drangular com uma faixa central, para recomendar um rumo a ser seguido pelo navegante.
A Figura 13.27 apresenta as combinações previstas para o sinal, de acordo com o Anexo C da
NORMAM 17/DHN.
É aquele que exibe, em um painel quadrangular, a letra “R”. A Figura 13.29 apresenta
as combinações previstas para o sinal, de acordo co m o Anexo C da NORMAM 17/DHN.
É aquele que exibe, em um painel quadrangular, uma âncora sob uma diagonal da
mesma cor, para indicar a proibição de fundeio na área assinalada ou no alinhamento de dois
sinais iguais de fundeio proibido. A Figura 13.30 apresenta as combinações previstas para o
sinal, de acordo com o Anexo C da NORMAM 17/DHN.
É aquele que, em um painel quadrangular na cor preta, exibe o símbolo “Y” na cor ama-
rela. Os dois segmentos superiores do “Y” indicam que há dois canais navegáveis contornando
um obstáculo de dimensões apreciáveis, como uma ilha. Se houver um canal principal a ser de-
mandado, o segmento superior correspondente ao canal principal terá uma largura visivelmente
maior que a do segmento correspondente ao canal secundário. Se necessário, para melhorar o
contraste com o fundo, pode-se inscrever o símbolo e sua moldura quadrangular em um painel
quadrangular maior, de qualquer das cores básicas especificadas na NORMAM 17/DHN para os
painéis, preferencialmente, da mesma cor do símbolo. A Figura 13.32 apresenta a configuração
prevista para o sinal, de acordo com o Anexo C da referida Norma.
É aquele que exibe dois símbolos “+”, na cor branca, sobrepostos e inscritos, cada um,
em um painel circular pintado de preto. É usado para indicar obstáculos de dimensões redu-
zidas, como uma pedra ou um casco soçobrado, cercados de águas navegáveis. Se necessário,
para melhorar o contraste com o fundo, pode-se inscrever os dois símbolos em um painel qua-
drangular de qualquer das cores básicas especificadas na NORMAM 17/DHN para os painéis,
preferencialmente, da mesma cor do símbolo. A Figura 13.33 apresenta a configuração prevista
para o sinal, de acordo com o Anexo C da referida Norma.
Para efeito deste Manual, são considerados cais, píeres, molhes, enrocamentos, marinas,
terminais, dolfins e trapiches as construções junto a terra, que se estendem sobre as águas
para servir à acostagem, à atracação ou à proteção de navio e embarcação de qualquer espécie.
As extremidades, quinas ou outros pontos julgados pertinentes das obras sobre águas
citadas neste subitem:
a) caso estejam associadas a uma direção convencional do balizamento e delimitem a
margem de um canal bem definido, podem ser sinalizadas por um Sinal Lateral (ver o subitem
13.3.2, alínea b); e
b) caso não estejam associadas a uma direção convencional do balizamento, devem ser
sinalizadas, no período noturno, por luzes fixas na cor amarela, com alcance mínimo de duas
milhas náuticas.
As obras sobre águas citadas neste subitem, complementarmente, devem ser ilumina-
das por luzes fixas, que não interfiram na visibilidade dos navegantes, de modo a mostrarem
todas as suas extensões.
Vale destacar que o vão livre horizontal não define, por si só, o canal de navegação sob
a ponte. O canal de navegação será no máximo equivalente (em posição e largura) ao vão livre
horizontal, podendo ser restringido por outros fatores, como o calado das embarcações que por
ele trafegam, a batimetria do local ou o estabelecimento de uma distância de segurança em
relação aos pilares ou estruturas de proteção da ponte.
Se a navegação for possível em toda a largura do vão livre sob a ponte, os sinais devem
ser localizados nos pilares da ponte que o limitam:
• a boreste: um painel exibindo um triângulo equilátero encarnado sólido, com um
vértice para cima;
• a bombordo: um painel exibindo um quadrado verde sólido; e
• o “melhor ponto de passagem”: pode ser indicado por um painel circular com faixa
vertical branca entre duas faixas encarnadas, indicativo de “Águas Seguras”, fixado no vão
entre os pilares, conforme apresentado na Figura 13.35.
Se a navegação for apenas parcialmente possível sob o vão livre, os sinais devem ser
posicionados de modo a indicar os limites do canal navegável. Tal sinalização poderá ser feita
por meio de faroletes ou boias com a coloração atinente a sinais laterais de boreste e bombordo
(ver a Figura 13.14).
Se existir mais de um canal navegável sob a ponte, o mesmo procedimento indicado nos
parágrafos acima deve ser utilizado para cada canal, como representado na Figura 13.34a.
Os vãos livres navegáveis que não sejam balizados com painéis verdes e/ou encarnados,
indicativos de “Sinal Lateral”, como, por exemplo, os vãos usados por embarcações miúdas, podem
ser balizados com painéis indicativos de “Sinal Especial” sobre fundo preto (ver a Figura 13.34a).
Os vãos livres não navegáveis não exibirão quaisquer painéis ou outros sinais, ou seja,
não serão identificados para o navegante.
Se a navegação for possível em toda a largura do vão livre sob a ponte, os sinais lumi-
nosos devem ser localizados nos pilares da ponte que o limitam:
• a boreste: uma luz rítmica encarnada indicativa de Sinal Lateral de Boreste;
• a bombordo: uma luz rítmica verde indicativa de Sinal Lateral de Bombordo; e
• o “melhor ponto de passagem”: uma luz rítmica branca indicativa de Sinal de Águas
Seguras, fixada no vão entre os pilares.
Para garantir um reconhecimento positivo, as luzes acima descritas devem ter um
alcance luminoso mínimo de duas milhas náuticas, instaladas de modo a serem visíveis em
todos os setores e direções de importância para o navegante e não podem ser obstruídas por
partes da estrutura da ponte.
Se a navegação for apenas parcialmente possível sob o vão livre, os sinais devem ser
posicionados de modo a indicar os limites do canal navegável. Tal sinalização poderá ser feita
por meio de faroletes ou boias com a coloração atinente a sinais laterais de boreste e bombordo.
Se existir mais de um canal navegável sob a ponte, o mesmo procedimento indicado nos
parágrafos anteriores deve ser utilizado para cada canal, como representado na Figura 13.34b.
Os vãos livres navegáveis que não forem balizados por luzes verdes e/ou encarnadas,
indicativas de “Sinal Lateral” como, por exemplo, aqueles a serem utilizados por embarcações
miúdas, podem ser sinalizados por luzes amarelas indicativas de “Sinal Especial” que deverão
ser posicionadas da mesma forma que o descrito nos parágrafos anteriores (ver Figura 13.34b).
Os vãos livres não navegáveis não exibirão sinalização náutica noturna, ou seja, não serão
identificados para o navegante. A critério do interessado pode-se deixar os pilares desses vãos sem
iluminação, admitindo-se, como alternativa, o uso de luzes fixas brancas indicando sua existência,
para aumentar a proteção contra colisão noturna ou, ainda, iluminá-los com refletores.
I – Refletores radar
As pontes que cruzem sobre águas navegáveis são, normalmente, reconhecíveis na
tela de um radar. Entretanto, os limites do canal ou os pilares raramente são distinguíveis de
forma clara.
O reconhecimento dos pilares ou limites de canal no radar pode ser obtido por meio de
refletores radar localizados em dolfins, boias ou postes fixados à estrutura da ponte. A distância
entre a ponte e os refletores deverá ser igual ou superior a vinte metros, para garantir que os
refletores sejam claramente distinguidos na tela do radar.
II – RACON
Um RACON de curto alcance poderá ser empregado para indicar o “melhor ponto de
passagem” sob uma ponte.
O emprego de mais de um RACON, para indicar um ou mais vãos navegáveis sob uma
ponte, deve ser avaliado em face das possíveis limitações técnicas inerentes a essa solução.
Nos casos em que seja desejável empregar dois RACON para indicar os limites de um vão
navegável sob uma ponte, os códigos recomendados são:
• a boreste: Código Morse T ( - ); e
• a bombordo: Código Morse B ( - . . . ).
A Lista de Faróis (DH2) é uma publicação de auxílio à navegação editada pela DHN
e atualizada pelo CHM, de acordo com as Resoluções Técnicas da OHI. Ela contém todas as
informações sobre faróis, aerofaróis, faroletes, boias luminosas e luzes particulares ou de
obstáculos aéreos que interessam aos navegantes, existentes na costa, nos rios, nas lagoas e
nas ilhas do Brasil, assim como nas costas e ilhas dos países estrangeiros que possuam suas
terras representadas nas cartas náuticas brasileiras.
A Lista de Faróis é periódica, editada bienalmente, e encadernada em brochura. Ela
pode ser adquirida, na forma impressa, no Posto de Vendas da EMGEPRON, situado na Base
de Hidrografia da Marinha em Niterói (BHMN) ou na página de comércio eletrônico “http://
www.cartasnauticasbrasil.com.br”. Ela pode, também, ser obtida em meio digital, gratuita-
mente, no sítio da DHN na internet, no endereço:
“https://www.marinha.mil.br/chm/sites/www.marinha.mil.br.chm/files/u1974/lf-com-
pleta.pdf”
A Lista de Faróis apresenta as informações referentes aos sinais luminosos dispostas
em colunas, na sequência que se segue:
• 1a coluna – NÚMERO DE ORDEM NACIONAL E NÚMERO INTERNACIONAL
a) Número de Ordem Nacional
Este número é designado pelo Centro de Hidrografia da Marinha, obedecendo a uma
sequência, de acordo com a posição geográfica do sinal. É constituído de um a quatro algaris-
mos, podendo, excepcionalmente, ter uma ou duas casas decimais.
b) Número Internacional
Este número é o da Lista de Faróis britânica e representa o Número Internacional do
sinal. É atribuído objetivando evitar qualquer confusão quando se pretende fazer referência
ao sinal, sendo constituído por um grupo alfanumérico composto por uma letra maiúscula
seguida de quatro algarismos, podendo, excepcionalmente, ter uma ou duas casas decimais.
• 2a coluna – LOCAL, NOME, CARTA NÁUTICA E CLASSIFICAÇÃO
Os locais são mencionados quando constituem áreas restritas e bem definidas, como
os portos, canais e estreitos. Nestes casos, os nomes dos sinais são precedidos de um traço.
Exemplo: Canal Grande do Curuá
– Boia no 2
3
Farol guarnecido – o farol que em suas instalações dispõe, permanentemente, de pessoal destinado a garantir seu
contínuo funcionamento. É indicado na Lista de Faróis pela letra “G” na coluna “Classificação”.
Figura 13.36 – Dados sobre o farol Cabo Frio (Extrato da Lista de Faróis)
Então, dos dados apresentados para o farol de Cabo Frio na Figura 13.36, obtém-se
como informações de interesse ao navegante:
1a Coluna:
No DE ORDEM: 2400.
No INTERNACIONAL: G 0352.
2a Coluna:
LOCAL E NOME: Cabo Frio (impresso em negrito, para indicar que é um sinal impor-
tante, com alcance igual ou superior a 15 milhas).
CARTA NÁUTICA: 1503 (número da carta náutica em papel de maior escala onde está
representado o farol Cabo Frio).
CLASSIFICAÇÃO: a letra “G” informa que o farol é guarnecido.
3a Coluna:
POSIÇÃO: Lat. 23° 00,81’ S; Long. 042° 00,05’ W.
4a Coluna:
CARACTERÍSTICA: Lampejo Branco (Lp. B.).
PERÍODO: 10 segundos.
FASE DETALHADA: Lampejo de 1,2 segundo e Eclipse de 8,8 segundos (B.1,2 – Ecl.8,8).
INTENSIDADE LUMINOSA: 5.696.000 candelas.
5a Coluna:
ALTITUDE DO FOCO: 140 metros (acima do Nível do Médio do Mar)
6a Coluna:
ALCANCE LUMINOSO: 49 milhas.
ALCANCE GEOGRÁFICO: 27 milhas.
7a Coluna:
DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA: Torre troncônica metálica, branca (ver Figura 13.37).
ALTURA DA TORRE: 16 metros.
8a Coluna:
OBSERVAÇÕES: Setor de Visibilidade: 231°
Figura 13.37 – Reprodução do
– 118° (247°). Estação de radiocomunicação.
Farol Cabo Frio (Extrato da Lista
O navegante, a fim de complementar o seu de Faróis)
conhecimento sobre o farol, deverá consultar a parte
final da Lista de Faróis, onde constam as fotografias
dos faróis e faroletes listados, na seção respectiva à
localização geográfica do farol (no caso, Costa Sul), e
observar a fotografia do farol como mais um elemento
para sua identificação, com o propósito de facilitar o
seu reconhecimento visual, a partir do mar. A Figura
13.37 reproduz a fotografia contida na Lista de Faróis
(página 245 da edição 2020-2021).
A Lista de Faróis, tal como qualquer outra
publicação de auxílio à navegação, está sujeita a
constantes correções e deve ser mantida atualizada.
As correções à Lista de Faróis são publicadas na Seção
IV do folheto quinzenal “Avisos aos Navegantes”.
A Lista de Faróis é complementada pela publi-
cação DH18 – Lista de Sinais Cegos, também editada
pela DHN e atualizada pelo CHM, contendo informa-
ções referentes a todos os sinais cegos (boias cegas,
balizas e placas de ponte) existentes na costa, ilhas,
portos, lagoas, lagos e rios navegáveis brasileiros.
Uma estação AIS AtoN Real está localizada no próprio auxílio à navegação, cuja posição
e estado são transmitidos como mensagem AIS.
Um AIS AtoN Sintético é produzido por uma transmissão originada em uma Estação
Base AIS localizada longe do auxílio à navegação real ao qual está associado.
Existem 2 tipos de AIS AtoN Sintéticos:
• o AIS AtoN Sintético Monitorado – o auxílio à navegação associado ao AIS AtoN
existe fisicamente e há um meio qualquer de comunicação entre o AtoN e a Estação Base AIS,
capaz de confirmar sua posição e estado para transmissão como mensagem AIS; e
• o AIS AtoN Sintético Previsto – o auxílio à navegação associado ao AIS AtoN
existe fisicamente, mas não é monitorado para se confirmar seu estado ou posição.
Os AIS AtoN Sintéticos Previstos somente são aceitáveis quando associados a auxílios
à navegação fixos, não podendo ser jamais associados a sinais flutuantes. O estado do AtoN
não poderá ser verificado e somente serão atendidas as condições de prover um meio de iden-
tificação positivo em qualquer condição ambiental.
Um AIS AtoN Virtual simula um auxílio à navegação que não existe fisicamente ou
o substituirá de forma provisória ou temporária, sendo transmitido a partir de uma Estação
Base AIS, podendo ser aplicado nos seguintes casos:
• para marcar imediatamente um naufrágio ou novo perigo;
• em áreas onde não é exequível estabelecer um auxílio à navegação físico;
• onde os auxílios são deslocados sazonalmente devido ao gelo;
• quando um auxílio físico está fora de sua posição, por exemplo, devido a um desastre
natural, abalroamento ou vandalismo; e
• onde um auxílio físico à navegação poderia interferir na navegação local, sendo
necessário a utilização de um AtoN Virtual para garantir a segurança da navegação.
A Figura 13.38, que se segue, mostra um trecho do canal de Cotunduba, de acesso ao
porto do Rio de Janeiro, que contém um Sistema de Identificação Automático Real (AIS AtoN
Real), empregado como um auxílio à navegação, conforme representado na Carta 1511 e como
informado no extrato da Lista de Faróis.
Figura 13.38 – Trecho do balizamento do Canal de Cotunduba com AIS AtoN Real
APÊNDICE A AO CAPÍTULO 13
APÊNDICE B AO CAPÍTULO 13
A VISIBILIDADE NO MAR
O conhecimento das peculiaridades da visibilidade no mar tem aplicação não apenas no
melhor aproveitamento e entendimento dos sinais visuais, mas também em toda e qualquer
observação visual, como, por exemplo, a tomada de marcações; a medida de ângulos horizon-
tais ou verticais; e a observação de outros navios, de pontos conspícuos, da linha da costa e da
topografia.
A visibilidade no mar é função dos seguintes fatores principais:
a) altitudes do observador e do objeto visado;
b) refração atmosférica;
c) transparência da atmosfera;
d) condições inerentes ao objeto; e
e) capacidade visual do observador.
No caso de corpos que emitem luz, como os faróis, a visibilidade, evidentemente, é
função, também, da intensidade e da cor da luz emitida.
2. REFRAÇÃO ATMOSFÉRICA
Considerou-se, até agora, o raio luminoso propagando-se em linha reta, o que, na rea-
lidade, não acontece, em virtude do fenômeno da refração.
Denomina-se refração à inclinação dos raios luminosos resultantes de sua passagem
por sucessivas camadas atmosféricas de densidades diferentes.
Nas camadas inferiores da atmosfera, os raios luminosos e as ondas eletromagnéticas
centimétricas (ondas radar) são refratados de maneira similar, de modo que seguem uma
trajetória curva. A curvatura depende dos gradientes verticais de temperatura e umidade,
sendo, portanto, variável. Valores médios foram determinados, após um grande número de
observações, para vários lugares da Terra, tendo-se verificado que, para conveniência de cálculo,
a trajetória dos raios luminosos (e das ondas radar) pode ser considerada um arco de círculo.
O efeito normal da refração que resulta da propagação dos raios luminosos pelas ca-
madas atmosféricas próximas à superfície da Terra (às vezes denominada, por isso, refração
terrestre) é elevar os objetos, tendendo a aumentar o alcance geográfico.
Para aplicação imediata do navegante, a DHN inclui na Lista de Faróis a Tabela de
Alcance Geográfico, reproduzida na Figura 13B.6 ao final deste Apêndice, em cujo cálculo já
foi aplicado o valor da refração considerada normal nas águas brasileiras. No cálculo da tabela
foi empregada a fórmula D = 1,927 ( √H + √h ).
A tabela fornece o alcance geográfico em milhas náuticas, entrando-se com a altura
sobre o nível do mar em que se encontra o olho do observador (isto é, a altitude do observador),
em metros, e a elevação do objeto visado sobre o nível médio do mar (ou seja, sua altitude),
também em metros.
EXEMPLO:
Altitude do observador: h = 9m; altitude do objeto visado: H = 16m. Pela tabela, o
alcance geográfico D é igual a 13,5 milhas. Pela fórmula simplificada, D = 2(√9 + √16) = 14
milhas náuticas.
Verifica-se, portanto, que a omissão da refração e a utilização da fórmula simplificada
conduziram a um erro de pouca significação para um conhecimento rápido do alcance geográfico.
No uso da Tabela de Alcance Geográfico (Figura 13B.6), será suficiente fazer uma in-
terpolação aritmética quando os elementos de entrada não estiverem tabulados.
3. TRANSPARÊNCIA DA ATMOSFERA
A visibilidade no mar também é função da transparência da atmosfera.
Os meios óticos são mais ou menos transparentes, absorvendo/dispersando diferente-
mente a energia luminosa que os atravessa.
Durante sua transmissão na atmosfera, a energia luminosa é atenuada por absorção e
dispersão pelas moléculas de ar, em especial pela ação das partículas de água e de poeira em
suspensão no ar.
À proporção que a altitude aumenta, mais seco é o ar, mais límpida é a atmosfera, me-
lhor se propaga a luz e maiores distâncias são alcançadas. Entretanto, interessa ao navegante
a transparência atmosférica nas camadas mais baixas, onde são frequentes as garoas, chuvas,
névoas secas, cerrações, brumas ou nevoeiros.
As variações da transparência ocorrem, principalmente, devido à ação mais ou menos
difusora das partículas de água e de poeira em suspensão na atmosfera, segundo suas dimen-
sões, sua natureza, suas cores e as dos feixes luminosos que as atravessam. Observa- se, por
exemplo, que a difusão decorrente do nevoeiro é maior que a da chuva e esta é tanto mais
prejudicial quanto mais fina. Verifica-se, assim, que a transparência atmosférica varia prin-
cipalmente com o estado higrométrico do ar e com a quantidade e as dimensões das poeiras
que nele flutuam. Estas são, pois, as causas que afetam a transparência.
Conforme visto, a atmosfera absorve parte da energia luminosa que nela se propaga.
A magnitude dessa absorção depende das condições atmosféricas reinantes. O fator de trans-
parência atmosférica, ou coeficiente de transparência atmosférica (T), indica a quantidade de
transmissão de luz, por milha náutica, através da atmosfera.
Assim, o coeficiente de transparência atmosférica (T) representa a relação entre a
quantidade de luz recebida (Q’) e a quantidade emitida (Q), após ter-se propagado por 1 milha
náutica. Este fator é sempre inferior à unidade.
Q'
T=
Q
Um fator (T) = 0,85 significa que o raio luminoso, ao percorrer 1 milha náutica, tem sua
intensidade luminosa reduzida para oitenta e cinco por cento (85%), havendo uma absorção
através da atmosfera de quinze por cento (15%).
Para o Atlântico Norte e condições similares, é costume adotar para coeficiente de
transparência atmosférica (T) o valor 0,74. Para áreas tropicais, nas quais se inclui a costa
brasileira, usa-se T = 0,85.
Ainda relacionado com a transparência atmosférica está o conceito de visibilidade, que
é a propriedade da atmosfera que determina a aptidão de um observador ver e identificar,
durante o dia, objetos notáveis e, durante a noite, luzes ou corpos iluminados. A medida desta
propriedade é expressa em unidades de distância.
A visibilidade meteorológica é determinada como a maior distância da qual um objeto
negro, de dimensões apropriadas, pode ser visto e reconhecido, durante o dia, contra o céu no
horizonte, ou, durante a noite, se a iluminação do ambiente for tal qual a do período diurno.
Tem como símbolo “V” e, em meteorologia marinha, seu valor é dado em milhas náuticas.
Existe uma relação entre a visibilidade meteorológica (V) e o coeficiente de transparência
atmosférica (T), ou seja: T = (0,05)1/V, em que T e V devem ser expressos nas mesmas unidades.
Esta fórmula permite construir uma tabela que relacione T e V, como mostrada na Figura 13B.4.
4. CONDIÇÕES INERENTES AO
OBJETO
Dimensões – a distância a que um objeto é visível varia proporcionalmente à superfí-
cie de sua seção máxima em um plano perpendicular à direção em que o objeto é visado. Por
exemplo, suponha-se que a torre cilíndrica de um farol, em vez de fixada no solo, estivesse no
ar, com sua base constantemente voltada para o observador. A área máxima acima referida
seria, nesse caso, a própria área da base, muito menor do que a dimensão principal do caso
real. É claro que o farol, naquelas condições, só seria visível a uma pequena distância, tanto
menor quanto maior fosse a diferença entre as duas áreas.
No caso da visibilidade no mar, há ainda a assinalar a preponderância das dimensões
verticais, o que explica a facilidade com que são avistadas colunas de faróis, chaminés, mastros,
torres e outras estruturas verticais, relativamente a longos, porém baixos, trechos da costa,
ou edificações alongadas e de pequena altura.
Natureza – quanto à facilidade com que são avistados ao longe, os objetos podem ser
refletivos ou difusores, de acordo com a sua capacidade de enviar, em determinada direção,
uma maior ou menor quantidade da luz recebida.
Cor – a visibilidade é, ainda, função da cor do objeto. A capacidade de refletir a luz
varia com a tonalidade da cor, sendo maior nas cores claras e menores nas escuras.
Os números a seguir indicam, aproximadamente, para as diversas cores, a capacidade
de refletir a luz:
Branco → 70 a 80%
Amarelo → 50 a 75%
Cinza claro → 50 a 70%
Azul → 30 a 50%
Verde → 15 a 40%
Encarnado → 20 a 30%
Cores escuras → 5 a 10%
Preto → 0%
Sobre a cor, é preciso considerar, também, o contraste do objeto com o fundo em que é
projetado. Sendo esse um fator de elevada importância na visibilidade, é fundamental levá-lo
em conta ao ser estudada a cor que deverá ter a estrutura de um farol.
5. CAPACIDADE VISUAL DO
OBSERVADOR
Acuidade visual, também denominada “poder separador do olho”, é a menor distância
angular que deve haver entre dois pontos, para que o olho possa distingui-los um do outro.
Quanto menor for o ângulo, maior será a acuidade visual. Como apresentado no esquema
contido na Figura 13B.5, um observador O distinguirá a imagem AB quando o ângulo AÔB,
formado pelos raios visuais que subtendem os extremos dessa imagem, for igual ou superior
à sua acuidade visual.
Vistas sob ângulos menores, as imagens apresentam um caráter pontual, pois deixa
de ser percebida a relação entre as dimensões.
A acuidade visual de um olho normal, chamada “acuidade visual padrão”, foi expe-
rimentalmente determinada, obtendo–se os seguintes valores:
afastamento angular vertical → 1’
afastamento angular horizontal → 5’
Pode-se, a partir disso, também, inferir a razão da maior facilidade de o navegante
avistar os corpos dos faróis, chaminés, mastros, torres e outras estruturas predominantemente
verticais, em relação a longos, porém baixos, trechos da costa, ou edificações alongadas e de
pouca altura.
Da Figura 13B.5, pode-se concluir que:
AB = AO tg AÔB
AO = AB cotg AÔB
No caso da Distância Angular Vertical, ter-se-á:
AB = AO tg 1’ = 0,00029 AO
AO = AB cotg 1’ = 3.438 AB
Assim, poderão ser distinguidos dois pontos verticalmente afastados:
• de um metro, à distância de 3.438 metros;
• de um decímetro, à distância de 344 metros;
• de um centímetro, à distância de 34 metros; e
• de um milímetro, à distância de 3 metros.
No caso da Distância Angular Horizontal, teremos:
AB = AO tg 5’ = 0,00145 AO
AO = AB cotg 5’ = 688 AB
Então, poderão ser distinguidos dois pontos horizontalmente afastados:
• de um metro, à distância de 688 metros;
APÊNDICE C AO CAPÍTULO 13
Após a 2a Guerra Mundial, o Radar, até então de uso exclusivamente militar, passou
a ser empregado em outras atividades e a ser fabricado comercialmente.
Os navios de guerra, dependendo de seu tipo e porte, muitas vezes possuem diversos
equipamentos Radar, com diferentes finalidades. Os principais tipos são:
• Radar de Busca de Superfície, destinado a detectar alvos de superfície e deter-
minar com precisão suas distâncias e marcações. As ondas eletromagnéticas são emitidas na
direção da superfície do mar e, por isso, o Radar de Busca de Superfície é capaz de detectar
não só embarcações, mas também aeronaves voando em baixa altitude. Ademais, o Radar de
Busca de Superfície pode, também, prover informações para navegação.
• Radar de Busca Aérea, cujas funções principais são detectar alvos aéreos e de-
terminar suas distâncias e marcações, a longa distância, pela manutenção de uma busca de
360° em torno do navio, até altitudes elevadas. Suas ondas eletromagnéticas são emitidas de
modo a detectar alvos aéreos voando em altitudes médias e elevadas. Os Radares de Busca
Aérea são de alta potência, maior do que a dos Radares de Busca de Superfície, para permitir
a detecção de alvos pequenos a grandes distâncias, a fim de possibilitar alarme antecipado e
garantir ao navio um tempo de reação adequado.
• Radar de Busca Combinada, que pode comportar-se ora como sendo de busca de
superfície e ora como sendo de busca aérea.
• Radar Determinador de Altitude (Height-Finding Radar ou Three-Coordi-
nate Radar), cuja função principal é determinar com precisão a distância, a marcação e a
altitude de alvos aéreos detectados pelo Radar de Busca Aérea. Por isso, os Radares Deter-
minadores de Altitude também são conhecidos como Radares 3-D. Estes radares também
podem ser usados pelos controladores aéreos do navio para vetorar aeronaves da defesa aérea
durante interceptação de alvos aéreos inimigos.
• Radar de Direção de Tiro, cujas principais funções são a aquisição de alvos ori-
ginalmente detectados e designados pelos radares de busca, e a determinação de marcações
e distâncias dos referidos alvos, com elevado grau de precisão. Alguns Radares de Direção de
Tiro são usados para dirigir canhões, enquanto outros são empregados para dirigir mísseis.
Uma vez adquirido pelo Radar de Direção de Tiro, os movimentos do alvo passam a ser auto-
maticamente acompanhados, sendo este acompanhamento automático transmitido ao sistema
de armas do navio, para sua orientação.
• Radar de Aproximação de Aeronaves, instalado em navios-aeródromos para
orientar o pouso de aeronaves, especialmente em condições de má visibilidade. Os Radares
de Aproximação têm curto alcance e buscam apenas em um setor (geralmente voltado para a
popa do navio-aeródromo).
• Radar de Navegação, cujas principais finalidades são a obtenção de linhas de
posição (LDP) para determinação da posição do navio na execução da navegação e a detecção
e medição de distâncias e marcações para outras embarcações, a fim de evitar colisões no mar.
Além destes, os navios e aeronaves militares, orgânicas ou não, podem ser dotados
com outros tipos de Radar, tal como o Radar de Alarme Aéreo Antecipado, conduzido
pelas aeronaves AEW (Airborne Early Warning). As aeronaves AEW mais novas utilizam
um único Radar 3-D para executar tanto a busca, como a determinação de altitude de alvos.
Os interceptadores normalmente utilizam um único equipamento Radar, combinando busca
e direção de tiro. As funções desse Radar são detectar aeronaves inimigas e possibilitar sua
interceptação e destruição.
a. Princípio de funcionamento
Um sistema radar básico, como apresentado na Figura 14.2, é constituído por 6 com-
ponentes principais, cujas funções podem ser resumidamente definidas como se segue:
• Fonte (unidade de força): fornece todas as voltagens AC e DC necessárias para a
operação dos componentes do sistema.
• Modulador: dispara o Transmissor e, simultaneamente, envia pulsos de sincroni-
zação para o Indicador e outros componentes. Circuitos de tempo (que podem estar, ou não,
localizados no Modulador) estabelecem a frequência de repetição de impulsos (FRI) na
qual o Modulador gera seus pulsos de disparo e de sincronização, ou seja, o número de pulsos
transmitidos por segundo.
1
O Institute of Electrical and Electronics Engineers é uma organização profissional sem fins lucrativos, fun-
dada nos Estados Unidos, dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade. O IEEE, quando criado
em 1963, tinha como meta promover o conhecimento no campo da engenharia elétrica, eletrônica e computação.
Atualmente, sua abrangência incorpora áreas como a micro e nanotecnologias, ultrassom, bioengenharia, robótica,
materiais eletrônicos, e muitos outros.
2
O klystron é um tubo de vácuo de micro-ondas de alta potência, com velocidade modulada, que é usado em radares
como amplificador ou oscilador. Um klystron usa a energia cinética de um feixe de elétrons para a amplificação de
um sinal de alta frequência.
3
O magnetron é um tubo de vácuo de alta potência que funciona como um oscilador de micro-ondas auto-excitado.
Campos magnéticos e de elétrons cruzados são usados no magnetron para produzir a saída de alta potência ne-
cessária em equipamentos radar. Esse dispositivo pode ser usado em transmissores de radar como osciladores
pulsados ou CW (continuous-wave) em frequências que variam de aproximadamente 600 a 95 000 mega-hertz.
4
É submetida a um heteródino, que é um aparelho que permite produzir oscilações de alta frequência, puras ou
moduladas.
Conforme visto, deve ser deixado um intervalo de tempo suficiente entre dois pulsos
sucessivos transmitidos, de modo que o eco de qualquer alvo localizado dentro do alcance
máximo do sistema possa retornar e ser recebido, pois, do contrário, a recepção dos ecos dos
alvos mais distantes seria bloqueada pelo pulso transmitido seguinte. Assim sendo, o alcance
máximo de um radar depende da sua FRI.
Suponha-se que a FRI de um radar é de 1.000 PPS (pulsos por segundo) e que a sua
largura de pulso, ou comprimento de pulso, é de 1 microssegundo. Então, o radar transmite
1.000 pulsos de 1 microssegundo de duração em cada segundo (1.000.000 de microssegundos).
Desta forma, em cada 1.000 microssegundos, o radar transmite durante 1 microssegundo
(largura do pulso) e permanece em silêncio durante 999 microssegundos. É neste intervalo
de tempo entre dois pulsos sucessivos, em que o radar não transmite, que os ecos dos alvos
podem ser recebidos. Esse intervalo (no caso igual a 999 microssegundos) irá, teoricamente,
definir o alcance máximo do radar, conforme explicado a seguir.
A velocidade de propagação das ondas eletromagnéticas na atmosfera é de 299.708.000
m/s ou 161.829 milhas náuticas por segundo, ou, ainda, 0,161829 milha náutica por micros-
segundo. Portanto, neste exemplo, o alcance máximo teórico do radar cujo intervalo de tempo
entre os pulsos transmitidos é de 999 microssegundos seria:
999 x 0,161829
A= = 80,83 milhas náuticas
2
Largura de Pulso
A largura de pulso é a duração de cada pulso de energia de RF transmitido, medida em
microssegundos. Esta característica também pode ser expressa em termos de distância (igual à
velocidade da luz vezes a duração do pulso), sendo, então, denominada comprimento de pulso.
A distância mínima na qual um alvo pode ser detectado por um determinado radar é
determinada basicamente pela sua largura de pulso. Se um alvo está tão próximo do transmis-
sor que o seu eco retorna para o receptor antes que a transmissão do pulso termine, a recepção
do eco, obviamente, será mascarada pelo pulso transmitido. Por exemplo, um radar com uma
largura de pulso de 1 microssegundo terá um alcance mínimo de 162 jardas, pois, como a ve-
locidade de propagação das ondas eletromagnéticas é de 0,161829 milha por microssegundo,
ou 324 jardas por microssegundo, o eco de um alvo situado a menos da metade deste valor
(162 jardas) retornará para o radar ainda durante o tempo de transmissão do pulso de RF.
Isto significa que o eco de um alvo dentro desta distância mínima (metade do comprimento de
pulso) não será visto na tela do radar, em virtude de ser mascarado pelo pulso transmitido.
Consequentemente, se forem necessários alcances mínimos de valores muito reduzidos, deve-
-se utilizar uma largura de pulso reduzida (cerca de 0,1 microssegundo).
A largura de pulso, entretanto, não pode ser muito reduzida. Os radares que operam
com larguras de pulso maiores têm maior alcance, pois uma quantidade maior de energia é
transmitida em cada pulso. Muitos radares são projetados para operação com pulsos curtos e
pulsos longos. Vários deles mudam automaticamente para pulso curto quando se selecionam
escalas de distâncias curtas. Em outros radares, todavia, cabe ao operador selecionar a largura
de pulso adequada à escala de distâncias utilizada.
Enquanto o alcance máximo de detecção é sacrificado, quando se usa largura de pulso
curta são obtidos maior precisão em distância e melhor poder de discriminação em distância.
Com pulso curto, é obtida uma melhor definição da imagem do alvo na tela do radar e,
assim, a precisão da distância medida é maior.
O poder de discriminação em distância de um radar é definido como a menor distância
entre dois alvos situados na mesma marcação, para que apareçam como imagens distintas na
tela do radar. Tal como no caso do alcance mínimo, o poder de discriminação em distância de
um radar é igual à metade do comprimento de pulso (largura de pulso expressa em termos
de distância). Caso dois alvos na mesma marcação estejam situados a uma distância menor
que o seu poder de discriminação em distância, seus ecos aparecerão no indicador como uma
única imagem alongada.
Para cobrir a abertura do feixe no plano horizontal (2°) a antena gastará: 2/36 = 0,05555
segundo. Como a FRI é de 1.000 PPS, neste período serão emitidos cerca de 55 pulsos.
Se a velocidade de rotação da antena for aumentada para 12 RPM, o número de pulsos
emitidos quando a antena gira a abertura do seu feixe no plano horizontal (2°) cairá para a
metade. Assim, um determinado alvo será atingido por um menor número de pulsos em cada
varredura.
Com uma FRI alta, a antena pode girar rapidamente, sem que isso diminua o número
de pulsos de RF que atinge o alvo. Além disso, o eco produzido na tela do radar se renova ra-
pidamente (para 20 RPM, uma vez em cada 3 segundos), de modo que não será necessário que
a tela seja de alta persistência. Nos radares de navegação, a velocidade de rotação da antena
é, normalmente, inferior a 60 RPM.
As antenas convencionais de radar giram mecanicamente. Recentemente, outro tipo
mais moderno passou a ser empregado nos sistemas navais: as antenas estacionárias (pha-
sed arrays), nas quais o feixe gira eletronicamente.
Largura do Feixe
Conforme mencionado, o feixe de ondas eletromagnéticas emitido por um radar de na-
vegação tem uma largura (ou abertura) bastante estreita no plano horizontal, mas pode ser
bem largo no plano vertical.
Como o feixe é tridimensional, costuma-se defini-lo por suas larguras no plano hori-
zontal e no plano vertical.
O diagrama polar horizontal de irradiação de um feixe radar tem o aspecto mostrado
na Figura 14.3, com o lóbulo principal e lóbulos secundários, que são feixes adicionais de baixa
intensidade de energia, inevitavelmente irradiados na maioria dos radares, devido, principal-
mente, às limitações no tamanho e na forma da antena.
A largura do feixe no plano horizontal é geralmente pequena, da ordem de 1° a 2° nos
radares marítimos. É esta abertura que vai definir o poder de discriminação em marcação do
radar, definido como a diferença mínima em marcação para que dois alvos situados à mesma
distância do radar apareçam como imagens distintas na tela do indicador. O valor angular do
poder de discriminação em marcação é igual à largura do feixe no plano horizontal.
dt = 35,3427 (a x L)
sendo:
dt = poder de discriminação em marcação (discriminação tangencial), em jardas;
a = largura horizontal do feixe, em graus; e
L = distância do radar aos alvos, em milhas náuticas.
Assim, para um radar cuja abertura do feixe no plano horizontal é 1,5°, a menor sepa-
ração entre dois alvos situados à mesma distância de 10 milhas do radar, para que apareçam
como ecos distintos na tela do indicador, será dada por: dt = 35,3427 x 1,5 x 10 = 530 jardas.
Este, portanto, é o valor do poder de discriminação em marcação do radar para a dis-
tância de 10 milhas. Para alvos situados a 5 milhas, o mesmo radar teria um poder de discri-
minação em marcação (ou discriminação tangencial) de 265 jardas.
A intensidade de campo em um feixe radar não é a mesma em toda a superfície do
lóbulo. Ela é mais forte no eixo, diminuindo para os bordos e, ao mesmo tempo, reduzindo-se
com o aumento da distância à antena. Normalmente, por convenção, a largura do feixe é me-
dida entre pontos nos quais a intensidade de campo é 71% do seu valor máximo. Expressa em
termos de razão de potência, define-se largura do feixe como a abertura angular entre pontos
de meia potência, como pode ser visualizada na Figura 14.4.
A largura do feixe no plano vertical é relativamente grande, sendo valores típicos entre
15° e 30°.
A largura do feixe depende da frequência (ou comprimento de onda) da energia trans-
mitida, da forma e das dimensões da antena.
Para uma antena de determinado tamanho (abertura), larguras de feixes menores são
obtidas com o uso de comprimentos de ondas mais curtos (frequências mais altas). Para um
dado comprimento de onda, larguras de feixes mais estreitas são obtidas com o uso de antenas
maiores.
entretanto, são mais afetadas que os raios luminosos, em virtude das frequências emprega-
das nos radares.
O efeito da refração normal, assumindo condições atmosféricas padrões, é encurvar
para baixo a trajetória das ondas radar, acompanhando a curvatura da Terra e aumentando
o horizonte radar, em relação ao horizonte geográfico. Assim, a distância ao horizonte radar
pode ser encontrada pela fórmula:
Dr = 2,21 √H
sendo:
Dr = distância ao horizonte radar, em milhas náuticas; e
H = altitude da antena do radar, em metros.
Desta forma, o horizonte radar excede o horizonte geográfico em cerca de 14%.
O horizonte radar não limita, por si mesmo, a distância de detecção de alvos. Assumindo
que haja uma potência adequada, podem ser detectados alvos além do horizonte radar, desde
que suas superfícies de reflexão se elevem acima do referido horizonte, de forma análoga à
detecção visual de objetos situados além do horizonte geográfico.
Assim, se quisermos estimar a distância de detecção radar de um objeto de altitude
conhecida, basta computar o alcance geográfico para o referido objeto, considerando a elevação
da antena do radar, e acrescentar 14% ao valor obtido, tal como no exemplo abaixo:
altitude da antena do radar = 50 metros;
altitude do alvo = 100 metros;
alcance geográfico D = 1,93 (√H + √h) = 32,95 MN;
distância de detecção radar Dr = D + 14% D = 37,6 MN;
Embora a fórmula para obtenção da distância ao horizonte radar, em milhas náuticas,
tenha sido calculada para um comprimento de onda de 3 centímetros, ela pode ser empregada
para outros comprimentos de onda utilizados em radares de navegação.
Condições atmosféricas muito diferentes das condições padrões produzem refrações
anormais, tais como:
I. Super-Refração
Em tempo calmo, sem turbulência, quando ocorre uma camada superior de ar quente e
seco sobre uma camada de superfície de ar frio e úmido, pode surgir uma condição denominada
super-refração, cujo efeito é aumentar a curvatura para baixo da trajetória da onda radar,
aumentando, assim, o alcance de detecção. A super-refração ocorre muitas vezes nos trópicos,
quando uma brisa terrestre (terral) quente e seca sopra sobre correntes oceânicas mais frias.
II. Sub-Refração
Se uma camada de ar frio e úmido se superpõe a uma camada estreita de ar mais quente
e seco, pode ocorrer uma condição denominada sub-refração, cujo efeito é encurvar para cima
a trajetória das ondas radar e, assim, diminuir o alcance máximo de detecção. A sub-refração
também afeta o alcance mínimo do radar e pode resultar na impossibilidade de detectar alvos
baixos à curta distância. A sub-refração pode ocorrer em regiões polares, quando massas de
ar frio se movem sobre correntes oceânicas mais quentes.
A Figura 14.5 apresenta, esquematicamente, o horizonte radar, quando em condições
normais, e os efeitos da super-refração e da sub-refração, quando essas condições se modificam,
como acima apontadas.
Na propagação das ondas radar, ocorrem reflexões múltiplas na superfície do mar (ou
em qualquer outra superfície extensa). Assim, as frentes de ondas que atingem um alvo, como
representado na Figura 14.7, são, na verdade, compostas de ondas diretas e ondas refletidas
na superfície do mar.
c. Difração
d. Atenuação
e. Características do eco
Embora os ecos sejam muito mais fracos do que os pulsos transmitidos, as características
do seu retorno são semelhantes às da propagação do sinal. A intensidade do eco depende do total
de energia transmitida que atinge o alvo e das dimensões e propriedades refletivas do alvo.
Conforme a antena gira, seu feixe é representado no indicador do radar por uma linha
luminosa fina, que varre a tela no sentido horário, de forma semelhante ao raio de uma roda
de bicicleta em movimento. Essa linha, chamada de “linha de varredura”, ilumina as imagens
dos alvos no PPI. As imagens dos alvos na tela do radar são comumente denominadas de “pip”.
O controle de ganho deve ser ajustado de maneira que a tela apareça um pouco salpica-
da, isto é, de forma que uma leve nódoa, ou sinal de fundo, seja visível. Assim, o equipamento
estará na sua condição mais sensível e os objetos tenderão a ser detectados nas maiores dis-
tâncias possíveis. Se o ganho for reduzido para clarear completamente esta nódoa de fundo, o
resultado será um decréscimo nos alcances de detecção. Com pouco ganho, os ecos fracos não
serão apresentados. Com ganho excessivo, o contraste entre os ecos e o fundo da tela é redu-
zido, dificultando a observação do radar. A Figura 14.13 apresenta exemplos dos diferentes
níveis de intensidade no controle de ganho.
Às vezes, é útil reduzir temporariamente o ganho para obter alvos bem definidos entre
outros mais fracos. O controle deve ser retornado para sua posição normal, tão logo a alteração
temporária tenha servido ao seu propósito e não mais se faça necessária. Em regiões conges-
tionadas, o ganho pode ser temporariamente reduzido para clarear a apresentação. Isto deve
ser feito com cuidado, de forma que não se percam marcas importantes. A curtas distâncias, o
dispositivo Antimancha do Mar (Anti-Clutter Sea) pode ser usado com o mesmo propósito.
como um único “pip” na tela se o ganho do receptor é excessivo. Com a redução do ganho, os
ecos aparecerão como “pips” separados no PPI.
Este controle destina-se a diminuir, tanto quanto possível, os ecos de chuva, granizo e
neve, que podem obscurecer os alvos. Atuando no controle FTC, obtém-se um encurtamento
dos ecos na tela do radar, o que reduz no PPI as manchas causadas por chuva, neve ou granizo,
conforme apresentado na Figura 14.15.
Quando em uso, este controle tem um efeito sobre todo o PPI e geralmente tende a reduzir
a sensibilidade do receptor e, assim, a intensidade dos ecos apresentados na imagem radar.
Ao se navegar em águas confinadas, o controle FTC proporciona melhor definição da
imagem radar no PPI, através de uma melhor discriminação em distância. Além disso, o uso
do FTC provê uma melhor capacidade de alcance mínimo. O controle também pode ser usado
para eliminar interferências causadas por um RACON a curta distância.
Alguns radares têm uma chave que permite escolher a largura do pulso ou comprimento
do pulso. Para detecção em longas distâncias, deve ser selecionado pulso longo. Entretanto, em
curtos e médios alcances, quando se deseja uma imagem melhor definida, com maiores deta-
lhes e melhor discriminação em distância, deve-se escolher um pulso de menor comprimento
(pulso curto).
f. Controle de sintonia
Ela permite que seja estabelecida uma linha indicadora da proa na tela do radar, pos-
sibilitando a determinação rápida do bordo em que estão, de fato, alvos que, aparentemente,
estão pela proa. Além disso, a marca de proa facilita muito a navegação de praticagem com o
radar. O traço luminoso da linha-de-fé deve ter sua intensidade ajustada para que fique apenas
visível. Deve ser tomado especial cuidado para que ele não mascare ecos fracos diretamente
pela proa, sendo recomendável desligá-lo ou reduzi-lo ao mínimo, periodicamente, para uma
verificação mais segura de alvos na proa.
existência de pedras, recifes, pilares e até mesmo embarcações próximas da costa pode resultar
em uma imagem falsa da linha de costa na tela do radar, como apresentado na Figura 14.16.
Poder de discriminação em distância, como já visto, é a diferença mínima em
distância entre dois alvos situados aproximadamente na mesma marcação, para que possam
ser discernidos pelo radar. A largura do pulso
e a frequência da emissão afetam o poder de Figura 14.17 – Rebocador e Navio rebo-
discriminação em distância de um determinado cado formam uma só imagem no radar
radar. Em alguns equipamentos, a largura do
pulso e a frequência podem ser ajustados, de
modo a melhorar a resolução em distâncias
longas e curtas.
Se dois ou mais objetos na mesma mar-
cação estão separados por distâncias inferiores
ao poder de discriminação em distância (cujo
valor é a metade do comprimento do pulso),
pode ocorrer uma falsa interpretação da ima-
gem, como mostrado na Figura 14.17, onde o
Rebocador e o Navio rebocado formam uma só
imagem no radar por falta dessa capacidade de
discriminação.
Essas áreas ocorrem quando um alvo relativamente grande obscurece um alvo menor
posicionado por detrás, ou quando um alvo além do horizonte radar é obscurecido pela curva-
tura da Terra. Na Figura 14.18, a maior parte da área atrás da alta massa de terra estaria
num setor de sombra radar, não aparecendo na imagem do PPI. A existência de obstáculos
no próprio navio (mastros, chaminés, guindastes ou outras estruturas elevadas), que causem
obstruções ao feixe radar em sua varredura pelo horizonte, resulta em arcos cegos ou setores
cegos, que devem ser bem conhecidos pelos operadores do radar.
Ecos múltiplos são causados por reflexões múltiplas de pulsos de um feixe transmi-
tido, entre o navio e um alvo relativamente próximo (em geral um outro navio), normalmente
situado pelo través. O eco múltiplo, que se forma conforme mostrado na Figura 14.20(A), é
um “pip” falso que aparece na tela do radar, na mesma marcação que o alvo real, mas em uma
distância múltipla da distância correta do alvo, conforme mostrado na Figura 14.20(B).
Se aparece apenas um eco falso, no dobro da distância real do alvo, ele é denominado
eco duplo. Se um segundo “pip” é apresentado na tela, no triplo da distância correta, ele é
chamado de eco triplo. Em geral, somente um ou dois ecos múltiplos são formados dessa ma-
neira. Os ecos múltiplos, embora indesejáveis, servem para verificar a calibragem do radar.
Se o radar está corretamente calibrado, a distância ao segundo eco (eco duplo) será exata-
mente o dobro da distância ao alvo real. Qualquer erro de calibragem pode ser detectado pela
medida da distância do primeiro eco ao segundo (que representa a distância correta) e, então,
comparando-a com a distância do navio ao alvo (primeiro eco).
Assim, um eco falso, tal como o eco Figura 14.21 – Eco Falso (Eco Indireto)
múltiplo, é um “pip” falso que aparece no PPI.
Um outro tipo de eco falso ocorre quando a
energia refletida pelo alvo se reflete novamen-
te em uma parte da estrutura do navio, antes
de retornar para a antena, como ilustrado
na Figura 14.21. O eco falso resultante, às
vezes denominado eco indireto, neste caso
aparecerá sempre na mesma distância que o
eco verdadeiro, mas na marcação da superfície
refletora intermediária.
Outro tipo de eco falso pode ser causa-
do pela reflexão da energia irradiada de um
navio para outro, antes de retornar à antena
do radar, conforme ilustrado na Figura 14.22.
Embora o PPI proporcione uma apresentação plana da costa, quando uma massa
terrestre está sendo varrida pelo radar, a imagem mostrada na tela do indicador não é uma
representação verdadeira da linha do litoral. Como visto, a largura do feixe radar e o compri-
mento dos pulsos transmitidos (condicionando, respectivamente, o poder de discriminação em
marcação e o poder de discriminação em distância) causam distorções na imagem radar dos
acidentes terrestres, podendo resultar em falsas linhas de costa e outras deformações.
A Figura 14.24 ilustra diversas situações em que as distorções devidas à largura do
feixe e à largura do pulso (ou comprimento de pulso) causam a apresentação de falsas linhas
de costa no radar.
Devido a isso, a apresentação da costa na tela do radar não será exatamente igual ao obser-
vado em uma carta náutica da mesma área. Outros fatores, como, por exemplo, a topografia e as
condições de reflexão da energia irradiada, também contribuem para dificultar essa semelhança.
De uma maneira geral, quanto mais vertical for a superfície refletora, maiores serão
suas propriedades de reflexão. Uma superfície disposta em ângulo reto em relação ao feixe
radar, como um penhasco ao longo da costa, montanhas ou altas colinas, produzirá um forte
eco. As superfícies que não estejam em ângulo reto com o feixe radar normalmente produzi-
rão ecos mais fracos. Assim, a superfície do mar, que é boa refletora do feixe radar, somente
retornará ecos quando houver vagas.
Uma superfície côncava tenderá a focalizar o feixe do radar de volta à antena, ao passo
que uma superfície convexa provavelmente enviará grande parte da energia em uma direção
diferente daquela em que está a antena.
Enquanto as massas terrestres são facilmente reconhecíveis no radar, o maior proble-
ma do operador é a identificação de acidentes específicos (cabos, pontas, demais saliências e
reentrâncias da costa, etc.), de modo que possam ser empregados para determinação da posição
do navio. A identificação dos referidos acidentes pode ser bastante difícil, por causa de vários
fatores, entre os quais as já mencionadas distorções e condições de reflexão. As observações
que se seguem, de acordo com as diferentes características topográficas e acidentes geográficos
indicados, podem ser usadas como auxílio na identificação.
Uma restinga baixa, lisa e sem rochedos, ou outras elevações, produzirá eco fraco,
pois a maior parte do feixe irradiado resvala sobre essa superfície, sem regressar à antena. É
possível, muitas vezes, que a arrebentação seja a responsável pelo eco apresentado.
Uma praia baixa e lisa é semelhante a uma restinga e produzirá um eco fraco mesmo
quando o ganho estiver alto. A arrebentação poderá indicar a localização da linha de costa
ou da praia. Como, porém, a arrebentação ocorre a alguma distância da costa, o emprego de
seus ecos como referência poderá provocar erros na determinação da posição do navio. O eco
da arrebentação pode ser reconhecido pela sua pequena persistência.
b. Dunas de areia
As dunas cobertas com vegetação, localizadas ao fundo de uma praia baixa, produzem
um sinal forte, fazendo com que o operador de radar tenda a considerá-las como a linha de
costa. Somente um exame cuidadoso da carta permitirá evitar este engano. Sob certas condi-
ções, dunas de areia podem produzir ecos fortes, pois a combinação da superfície vertical da
duna com a superfície horizontal da praia forma uma espécie de diedro refletor radar.
c. Pântanos e mangues
Um pântano ou mangue próximo à costa, que sofra influência da maré, produz sinais
fracos, que podem desaparecer completamente na preamar. Os pântanos ou mangues que
tenham árvores produzirão ecos mais fortes.
d. Lagoas e lagos
e. Elevações
g. Montanhas
O cume escarpado de uma montanha produzirá um eco forte. Devido à sombra radar,
não haverá eco referente às regiões baixas posteriores à montanha.
h. Linha de costa
Uma linha de costa reta é difícil de ser utilizada para a determinação precisa da po-
sição. Os ecos radar apresentarão pequena distorção somente no ponto em que o feixe radar
incide perpendicularmente à costa. A partir deste ponto, para qualquer dos lados, os ecos
sofrem uma distorção cada vez mais acentuada, distendendo-se devido à largura do feixe
radar.
As linhas de costa interrompidas por baías e pequenas reentrâncias são facilmente
reconhecidas no radar. Na determinação da posição, é necessário identificar cuidadosamente
estes acidentes geográficos, antes de medir distâncias ou marcações.
i. Praias Encurvadas
j. Ilhas e rochedos
k. Recifes e abrolhos
Nenhum objeto submerso produzirá eco radar. Ocasionalmente, porém, recifes e abro-
lhos poderão ser detectados, caso haja arrebentação e esta seja suficientemente alta. Quando
um objeto está inteiramente submerso e o mar não quebra sobre ele, não aparecerá qualquer
apresentação no PPI.
Uma apresentação semelhante à linha de costa será possível quando existir qualquer
das seguintes condições:
• numerosos rochedos próximos à costa, ou várias ilhas pequenas, que poderão pro-
duzir ecos interligados, os quais podem ser confundidos com a apresentação da própria costa.
O mesmo pode ocorrer com embarcações próximas da costa;
• arrebentações fortes em recifes poderão simular a linha de costa; e
• penhascos ou dunas de areia ao fundo de uma praia baixa, com pequeno declive,
produzirão uma falsa linha de costa.
Geralmente oferecem resposta fraca, pois são construídos de pedra e cimento. Uma
estrutura de forma troncônica, ou cilíndrica, também não ajuda em nada a uma boa reflexão
e muitos faróis têm esses formatos. Em alguns casos, quando a costa é baixa e arenosa e o
farol é alto, seu eco pode ressaltar na imagem apresentada na tela do radar.
Para facilitar a identificação radar, diminuindo os problemas acima citados, os auxí-
lios à navegação são, muitas vezes, dotados de refletores radar, RACON ou reforçador de eco,
adiante mencionados.
n. Pontes
As pontes são excelentes para obtenção de um eco forte, uma vez que são construídas,
normalmente, sobre depressões que não produzem ecos.
o. Píeres e molhes
p. Edifícios
a. Navios
b. Boias
As boias geralmente produzem ecos fracos, sobretudo se têm a forma abaulada. Quando
pequenas, os ecos das boias podem ser encobertos até mesmo pelo menor retorno do mar. A
boia que oferece a pior resposta é a de formato cônico, sem refletor.
A não ser que o mar esteja completamente calmo, os ecos das boias são pouco firmes,
devido ao movimento desordenado a que estão sujeitas. A ondulação do mar faz com que a
potência do eco recebido varie e, assim, a imagem radar de uma boia pode quase desaparecer
da tela, voltando a surgir na varredura seguinte, com uma intensidade mais forte. Com mau
tempo, esta circunstância é agravada, não sendo de se estranhar que o radar falhe na detecção
de boias menores.
As distâncias prováveis de detecção variam de 0,5 a 1 milha, para boias pequenas, e
de até 2 a 4 milhas, para boias de maiores dimensões. As boias equipadas com refletor radar
oferecem boa resposta, podendo ser detectadas em distâncias de até 6 a 8 milhas.
Para melhorar a resposta radar das boias, utilizam-se, além do refletor radar, outros
auxílios, como o RACON e o reforçador de alvo radar (radar target enhancer), que serão pos-
teriormente abordados.
É oportuno lembrar que, tal como na navegação visual, também na navegação radar
as boias devem ser utilizadas com muita precaução, não devendo ser empregadas para deter-
minação da posição do navio, em virtude da possibilidade de se deslocarem de suas posições,
pela ação de correntes, ressaca, ruptura do equipamento de fundeio, abalroamento por navios
ou diversas outras circunstâncias.
c. Arrebentações
Uma linha de arrebentações produz um sinal parecido com o da linha de costa. Suas
características de desvanecimento permitirão ao operador do radar identificá-la.
a. Nuvens
Algumas nuvens podem produzir ecos, que são caracterizados por serem de grandes
dimensões, geralmente com forma irregular, variável e de limites mal definidos, e deslocarem-
-se, normalmente, na direção do vento.
A apresentação no radar dependerá do tipo da nuvem. Os cumulonimbus e as grandes
formações de nuvens carregadas de chuva produzem ecos muito fortes e, às vezes, aparecem
no indicador (tela ou display) com contornos bem definidos, como se fossem uma ilha. É comum
detectarem-se nuvens de chuva nos radares de navegação ao navegar em regiões tropicais. Se
a nuvem não contém chuva, dificilmente será detectada.
Se houver alvo a acompanhar e se o eco estiver sendo prejudicado por uma nuvem,
diminui-se o ganho, pois os ecos da nuvem, mais fracos, tenderão a desaparecer, enquanto o
eco do alvo, mais forte, deve persistir na tela.
b. Chuva
c. Granizo
É a precipitação de pedaços de gelo que, em geral, têm forma esférica e diâmetros que
vão desde milímetros até aproximadamente 10 cm. Este tipo de precipitação é mais comum
nas médias latitudes e normalmente têm curta duração, ocorrendo quase sempre entre a
metade da tarde e o anoitecer. Se a taxa de precipitação for a mesma da chuva, o aspecto da
tela do indicador radar será também o mesmo. Mas isso só ocorre quando as pedras de gelo
são grandes, o que é difícil de acontecer. De maneira geral, a atenuação devida ao granizo é
menor que a devida à chuva, e o clutter que o granizo causa é menos prejudicial.
No caso da ocorrência de granizo, o operador deve atuar nos controles do radar da
mesma maneira como se estivesse caindo chuva.
d. Neve
É a precipitação de cristais de gelos em flocos. A neve, a não ser as mais fortes nevascas,
quase não é notada na tela do radar. Isto é, a queda de neve não aparece como um alvo, em-
bora atenue as ondas radar. Às vezes, a queda de neve é detectada com o radar de 3 cm, mas
não com um que opere na faixa de 10 cm. Em virtude da atenuação, a neve provoca redução
do alcance radar.
Outro aspecto muito prejudicial da neve é que ela cobre todos os alvos, mascarando
os ecos. Essa cobertura de neve deforma os alvos, que já não poderão ser identificados facil-
mente. Embora a onda radar penetre na neve, ela sofre muita atenuação devido à absorção
de energia e, assim, os ecos que retornam são fracos. O resultado desses dois fatores é uma
apresentação indefinida dos alvos na tela do radar. Desta forma, o navegante que se aproxima
da costa ou está costeando, após uma queda de neve, deve tomar maiores cuidados com a sua
navegação. Deve tentar todos os outros auxílios à navegação disponíveis e usar o radar com
muita precaução.
5
Visibilidade é, como já visto, a maior distância na qual um objeto escuro pode ser visto no horizonte, tendo o
céu como fundo.
Em casos raros, com radar de 3 cm poderão ser detectados bancos de nevoeiros pesados,
de grande densidade.
Smog (névoa seca) é a cortina de ar poluído que geralmente se encontra sobre as gran-
des cidades, de origem industrial e automotiva. A palavra é formada de smoke (fumaça) e fog
(nevoeiro). Não existem dados sobre os efeitos do smog no radar, mas é de se supor que ele
também diminua o alcance, pela absorção de energia pelas partículas em suspensão.
Em resumo, pode-se afirmar que, em qualquer tipo de precipitação, seja chuva, granizo
ou neve, e mesmo no caso de nuvens, nevoeiro, neblina ou smog, um radar de 10 cm (banda
S) será menos afetado que um de 3 cm (banda X).
f. Vento
g. Gelo
Os icebergs (blocos de gelo de água doce) geralmente são detectados pelo radar em
distâncias que permitem tempo suficiente para ações evasivas. Essas distâncias dependerão de
suas dimensões. Os icebergs do Ártico apresentam, em geral, superfícies recortadas e facetadas,
que proporcionam bons ecos de retorno. Os icebergs tabulares, comuns na Antártica, tendo
tope plano e paredes laterais quase verticais, que podem se elevar a mais de 30 metros acima
da superfície do mar, também constituem bons alvos radar, sendo normalmente detectados
com tempo suficiente para manobrar a fim de desviar deles e manter o Navio safo.
Grandes icebergs podem ser detectados em distâncias da ordem de 15 a 20 milhas
com mar calmo, embora a intensidade de seus ecos seja somente 1/60 da intensidade dos
ecos que seriam produzidos por um alvo de aço de tamanho equivalente. Icebergs menores
são detectados a cerca de 6 a 12 milhas. Bergy bits (pedaços quebrados de icebergs) com 4
a 5 metros de altura, normalmente não são detectados pelo radar a distâncias maiores que
3 milhas.
Os flocos de gelo (ice floes) e growlers, formados pelo congelamento de água salgada,
são, em geral, muito baixos (altura máxima de 2 metros) e constituem um alvo radar extre-
mamente ruim, sendo de difícil detecção, principalmente com mar agitado, quando o clutter
do mar pode mascarar por completo os ecos de pedaços de gelo perigosos à navegação.
Com mar calmo, esse tipo de gelo normalmente não é detectado em distâncias maiores
que 2 milhas. Assim, embora o radar constitua um auxílio muito importante para a navegação
em presença de gelo (para a detecção de icebergs e blocos de gelo de maiores dimensões), a busca
radar deve ser complementada por uma vigilância visual constante, pois esta é insubstituível
para a detecção de campos de gelo e growlers perigosos à navegação.
a. Refletor-radar
Por vezes, em vez de um único, são instalados nos auxílios à navegação um grupo de
refletores-radar, que, convenientemente dispostos, facilitam em muito a sua detecção pelo
radar, como apresentados nos exemplos contidos nas Figuras 14.27.
b. RACON
c. RAMARK
a. Distâncias radar
As distâncias radar, embora mais precisas que as marcações, são afetadas por diversos
fatores, entre os quais erros inerentes ao próprio equipamento (retardo do receptor, erro de
calibragem, distorção da imagem radar, etc.), erros do operador (falsa interpretação da linha
de costa, imprecisão decorrente da não utilização da escala de distância mais curta, tangência
imperfeita do estrobo de distância, etc.), erros devidos às diferentes características de reflexão
de cada alvo e às condições atmosféricas reinantes.
Para minimizar os efeitos dos erros acima citados sobre as distâncias radar, alguns
cuidados devem ser tomados:
• verificar periodicamente a calibragem do radar, corrigindo-a, se necessário. A ca-
libragem do estrobo de distância pode ser verificada através da comparação com os círculos
de distância fixos. A calibragem do radar propriamente dito pode ser verificada com o navio
atracado ou fundeado em uma posição bem determinada. Mede-se, então, na carta náutica, a
distância do navio a um ponto que seja conspícuo no radar. Ao mesmo tempo, mede-se a dis-
tância radar para o referido ponto. Compara-se, em seguida, os dois valores. A calibragem será
satisfatória se a diferença entre a distância verdadeira e a distância radar ao objeto notável
for menor que 1,5% do alcance da escala de distância utilizada;
• utilizar sempre a escala de distâncias mais curta possível. Conforme visto, quanto
mais curta a escala de distâncias maior a resolução de imagem radar, melhor a definição do
contorno dos alvos e, portanto, maior a precisão das distâncias radar medidas. Ademais, quanto
mais curta a escala de distâncias menor será o erro devido à espessura luminosa dos círculos
de distância fixos ou do estrobo de distâncias;
• evitar medir distâncias para alvos muito próximos da borda da tela do radar, a fim
de eliminar o erro devido à curvatura do PPI, que distorce a imagem dos alvos junto ao perí-
metro do indicador, que aparecem maiores em tamanho; e
• quanto aos demais erros, um operador experiente, que faça um bom estudo da carta
náutica da área, comparando-a com a imagem radar apresentada na tela do indicador, conse-
guirá reduzi-los significativamente na medição das distâncias radar.
Considera-se que um radar bem calibrado e corretamente operado pode fornecer dis-
tâncias com precisão de 100 jardas até o horizonte radar, com decréscimo progressivo além
desse ponto, até o limite do alcance.
O procedimento correto para medição das distâncias radar é o seguinte:
• seleciona-se a escala de distâncias mais curta possível;
• opera-se o estrobo de distâncias (marcador variável de distâncias) de modo a tan-
genciar a borda interna do eco (vide a Figura 14.30); e
• a distância radar é, então, lida no mostrador correspondente.
b. Marcações radar
Em virtude dos erros e distorções acima, considera-se que as marcações radar têm uma
precisão da ordem de 2° a 3°.
Para obtenção de marcações radar, recomenda-se adotar o seguinte procedimento:
• selecionar a escala de distâncias mais curta possível;
• diminuir o ganho, para reduzir a distorção de abertura do feixe;
• sempre que possível, usar o cursor eletrônico, a fim de evitar os erros de paralaxe
e de centragem do cursor mecânico;
• sendo o eco pequeno, bissectá-lo com o cursor. No caso de eco grande, como de uma
costa, determinar um ponto conspícuo e bem definido e, então, operar para que o cursor passe
sobre ele;
• considerar o desvio da giro (Dgi) para obter marcações verdadeiras; e
• no caso de marcações relativas (apresentação não-estabilizada, ou “proa para cima”),
transformá-las em marcações verdadeiras, aplicando o rumo verdadeiro.
sempre ser tratadas com muito cuidado. Alguns navegantes têm como regra só utilizar mar-
cações radar na ausência de qualquer outra informação.
Assim sendo, os melhores métodos para obtenção de uma posição usando o
radar são, por ordem de precisão:
Normalmente, as distâncias tomadas de três ou mais pontos de terra darão uma posição
radar mais precisa do que a obtida por qualquer outro método. O maior perigo na utilização
desse método é a possibilidade de se plotar na carta a distância obtida de um ponto que não
seja aquele que o operador de radar informou.
A orla de uma costa próxima, quando baixa, não aparece no radar com a precisão da
carta. O radar, normalmente, detectará alvos além da costa. É difícil determinar com precisão
o ponto exato em que está se dando a reflexão das ondas emitidas pelo radar. Por esta razão,
pequenos objetos, tais como pedras isoladas e ilhotas, fornecem os melhores pontos.
As distâncias devem ser tomadas com o mínimo de intervalo de tempo entre si, de três
pontos de terra previamente escolhidos. Traçar com o compasso os arcos de distância, tomados
Figura 14.33 – Posição por distância a três No caso de dois pontos conspícuos
objetos isolados, sendo dois em direções no radar estarem em direções opostas, ou
opostas quase, de modo que seus arcos de distância
sejam aproximadamente paralelos, esses
arcos poderão ser usados, desde que em
combinação com outro arco de distância,
que os intercepte em um ângulo próximo de
90°. A posição resultante terá boa precisão,
conforme mostrado na Figura 14.33. A quase
tangência dos 2 arcos de distância indica
medidas precisas e alta confiabilidade da
posição com respeito à distância de terra
por ambos os bordos.
Note-se que, nos 2 exemplos mostrados (Figuras 14.32 e 14.33), os arcos de distância
não se cruzaram em um ponto. Isto decorre dos erros inerentes ao equipamento e à operação
do radar, anteriormente citados.
Quando os arcos de distância são muito grandes, excedendo a abertura máxima do
compasso de navegação, usa-se um cintel para sua plotagem (ver o Capítulo 11).
Se, como último recurso, marcações radar têm que ser usadas para plotagem da navega-
ção, somente objetos relativamente pequenos e distintos devem ser observados para obtenção
das LDP, conforme mostrado na Figura 14.34.
Um único objeto, pequeno e bem definido, tal como um ilhote, um rochedo ou uma ponta
de terra, constituem um ótimo ponto para ser identificado no radar. Este método é muito usado
quando navegando próximo da costa. Utilizando transferidor universal ou a régua paralela, o
plotador traça a marcação informada e, em seguida, plota a posição do navio sobre a linha de
marcação, na distância radar ao objeto selecionado, conforme apresentado na Figura 14.35.
Este método é muito rápido e apresenta a vantagem de requerer apenas um único ponto
de terra. Além disso, as 2 LDP são perpendiculares entre si, proporcionando um ótimo ângulo
de cruzamento (90°). Entretanto, o uso de apenas 2 LDP pode conduzir a erros e ambiguidades,
já referidos em Capítulos anteriores. Assim, este método deve ser empregado somente quando
não houver possibilidade de utilização de outro mais seguro.
Para aterragem com o radar, é oportuno recordar que, geralmente, as linhas de costa
são mais baixas que as terras do interior e serão estas que fornecerão os primeiros ecos. Além
disso, também a curvatura da Terra influi na detecção radar.
Na Figura 14.38, em A, o navio está a 50 milhas da costa, mas, em virtude do feixe
transmitido refletir no ponto 1, bem para o interior, a distância indicada no radar (60’) terá
um erro de 10 milhas. Em B, com o navio já a 40 milhas da costa, a distância indicada será
46 milhas, com um erro de 6 milhas, pois o feixe transmitido irá se refletir no ponto 2. Em C,
com o navio a 30 milhas da costa, o feixe incide no ponto 3, e o erro será de 2 milhas. Somente
com o navio ainda mais próximo é que a linha de costa será realmente apresentada no radar.
Assim, nas aterragens, o radar deve ser usado com cautela, pois grandes erros podem
resultar nas posições obtidas. Informações adicionais, oriundas de outros auxílios-rádio à
navegação e, principalmente, as sondagens fornecidas pelo ecobatímetro, deverão ser usadas,
em conjunto com as observações radar, para determinação da posição do navio.
Para usar este método, é essencial assegurar-se de que a linha de costa fornece bons
alvos nas distâncias necessárias e que a imagem radar será realmente da linha de costa e não
de alvos mais elevados situados no interior. Ademais, o ganho não deve ser reduzido, a fim
de que o radar receba e apresente na tela os primeiros ecos refletidos pela linha de costa, em
relação à qual deve-se manter uma distância mínima.
Este método de distância de segurança pode ser comparado com o uso de ângulos ver-
ticais e ângulos horizontais de perigo na navegação visual (ver o Capítulo 7).
Em condições normais de visibilidade, as distâncias radar de segurança podem ser
usadas para assinalar perigos ao largo de uma costa onde são escassos os pontos notáveis à
navegação por métodos visuais.
Tal como no fundeio de precisão por métodos visuais, o fundeio de precisão com o radar
exige uma preparação cuidadosa:
• traçar em torno do ponto de fundeio
Figura 14.40 – Círculo de Segurança
selecionado um círculo de segurança, tendo
como raio o filame (comprimento da amarra a
ser largada, definido em função da profundi-
dade do local e da natureza do fundo) somado
ao comprimento do navio, como apresentado
na Figura 14.40. Nenhum perigo deve ficar
dentro desse círculo. Particular atenção deve
ser dada a outros navios fundeados na área e
a baixas profundidades;
• traçar um círculo de “largar o ferro”
em torno do ponto de fundeio, tendo como raio
a distância horizontal dos peloros ao escovém
ou, no caso de navegação radar, da antena do
radar ao escovém;
• traçar círculos de distância, a partir
do círculo de “largar o ferro”. Normalmente, es-
ses círculos devem ser traçados a cada 100 jardas, até o limite de 1.000 jardas e, então, a 1.200
jardas, 1.500 jardas e 2.000 jardas. O círculo de “largar o ferro” deve ser considerado como “zero”;
• traçar a derrota de aproximação ao ponto de fundeio. O rumo de aproximação deve
ser escolhido de forma que se tenha pela proa um alvo conspícuo no radar, tal como a ponta
mostrada na Figura 14.41. Assim, a distância a essa referência dará continuamente uma
indicação direta da distância a navegar até o ponto de fundeio. A aproximação final deve, se
possível, ser feita com o navio aproado à corrente ou ao vento, se este tiver maior efeito; e
Da mesma forma que no fundeio de precisão por métodos visuais, no traçado do fundeio
de precisão com o radar também devem ser levados em conta os dados táticos do navio (avanço
e afastamento) para as guinadas planejadas, obtidos das curvas de giro correspondentes às
velocidades e ângulos de leme que se pretende utilizar.
Mesmo com boa visibilidade, o radar ainda pode ser bastante útil no fundeio de precisão,
quando pontos notáveis à navegação visual são escassos ou inexistentes, ou quando outros
navios estão fundeados nas proximidades (usa-se o radar, então, para manter uma distância
segura desses navios).
Após a faina, o radar também é de grande utilidade no controle da posição de fundeio,
especialmente em baixa visibilidade, para verificar se o navio está garrando.
O fundeio de precisão com o radar também pode utilizar os conceitos de navegação
paralela indexada, adiante abordados.
a. Preparação
i. Radar
A preparação do radar visa à obtenção da melhor apresentação possível, na escala mais
curta da repetidora. Escalas maiores que 6 milhas raramente são utilizadas em navegação em
águas restritas. Para melhor resolução, o radar deverá ser operado em pulso curto (short pulse)
e faixa estreita (narrow bandwidth), pois nessas condições há um aumento na discriminação
de distância e melhor resolução na apresentação radar.
Os seguintes aspectos merecem atenção permanente:
• os controles supressores (A/C RAIN, A/C SEA, STC e FTC), o brilho (brilliance) e o
ganho (gain) deverão ser utilizados para eliminar da apresentação radar a chuva, o retorno
do mar e os ecos falsos; mas é necessário que a utilização seja cuidadosa, para que pequenos
contatos, tais como bóias, balizas e pequenas embarcações, não sejam também eliminados;
• a distância às superfícies refletoras, bem como as condições meteorológicas e de
propagação, varia constantemente ao longo da derrota, o que requer frequentes ajustagens
dos controles de brilho e ganho;
• uma repetidora apresentando boa linearidade é um pré-requisito para a realização
da navegação paralela indexada precisa. A condição de linearidade pode ser facilmente veri-
ficada utilizando-se um compasso para comparar, fisicamente, a distância entre os anéis de
distância em cada escala que for ser utilizada. Também, as paralelas indexadas da própria
repetidora poderão ser utilizadas para esta verificação. Se, em qualquer escala, os anéis de
distância não estiverem equidistantes, há falta de linearidade. Na Figura 14.43, a título de
ilustração, são apresentados exemplos exagerados de falta de linearidade. Distâncias precisas
e marcações poderão ser obtidas em uma repetidora não-linear. Por sua vez, os erros surgirão
nas medidas feitas entre dois pontos no PPI e não nas medidas radiais;
Conjuntos completos de retas de segurança, com suas distâncias às retas paralelas in-
dexadas e à derrota planejada, deverão ser traçados na carta. Eles serão de extremo valor para
indicar o quanto o navio poderá se afastar, com segurança, da derrota planejada. Para evitar
excesso de traçado no PPI, apenas as retas de segurança de importância imediata deverão
ser utilizadas, enquanto o navio estiver seguindo a derrota. Quando ocorrer um afastamento
da derrota para evitar outro navio (ou devido a uma avaria, homem ao mar ou outro motivo
qualquer), é essencial que um conjunto completo de retas de segurança seja prontamente
traçado na repetidora.
Na Figura 14.45, foram traçadas na carta náutica retas de segurança, representadas
por linhas tracejadas, significando:
ilha A (paralela indexada 0,7’ por BB): profundidades seguras até 0,2’ (400jd) a BB; e
ponta B (paralela indexada 0,5’ por BE): profundidades seguras até 0,1’ (200jd) a BE.
Outros detalhes mostrados na figura:
píer: 0,4’ (800jd) por BE;
5M: distância de 5M para o ponto de destino, quando estiver no través da ilha A; e
4M: distância de 4M para o ponto de destino, quando estiver no través do píer.
v. Mudanças de Rumo
A posição para início de guinada nas mudanças de rumo é estabelecida e plotada, em
navegação paralela indexada, da mesma maneira que em navegação visual, isto é, levando-se
em consideração os dados táticos do navio (avanço e afastamento).
Na Figura 14.47 estão mostrados o ponto de guinada, as retas paralelas indexadas e
as retas de segurança, para as duas pernadas da derrota planejada.
b. Traçado no PPI
Quando necessário identificar algum eco radar, é melhor utilizar como referências a
distância e a marcação em relação a um outro eco radar de ponto de terra já identificado, do
que em relação ao navio, cuja posição poderá não estar suficientemente precisa naquela ocasião.
e. Posições radar
Os “marques” devem ser dados com um intervalo tal que permita a obtenção de posições
radar suficientes à manutenção da navegação precisa. Isso, frequentemente, entra em conflito
com outras tarefas do operador da repetidora, obrigando-o a trabalhar com maior rapidez, sem
prejuízo, porém, da necessária precisão. Nas repetidoras que possuem strobe sobre a varredura
radar, a utilização dos anéis de distância, embora mais rápida, perde em precisão quando é
necessário interpolar. Um método eficiente consiste em marcar com lápis de cera a posição
dos pontos selecionados no instante do “marque”, e efetuar posteriormente a leitura das dis-
tâncias utilizando o strobe de distância. Esse método permite que se obtenham as distâncias
com precisão, sem que seja introduzido erro devido ao movimento do navio, apresentando,
também, como vantagem a possibilidade de rápida confirmação, caso a plotagem não indique
uma boa posição.
f. Mudanças de rumo
É vantajosa a adoção de uma rotina para efetuar mudanças de rumo, como, por exemplo:
• verificar se a área encontra-se safa para efetuar a mudança de rumo (reportar);
• sugerir a guinada;
• verificar se as ordens para o timoneiro refletem o que foi sugerido;
• observar o comportamento (rate) da guinada;
• quando “a caminho”, sugerir correções de rumo para posicionamento sobre a derrota; e
• informar alvos, bóias, etc.
No exemplo mostrado na Figura 14.49, suponha-se que o rumo final escolhido para o
fundeio de precisão é 290°, tendo como referência de proa uma ilha conspícua no radar. O ponto
de fundeio está a 1 milha da referida ilha. Na área há um píer por BE que pode ser utilizado
para o traçado de uma reta paralela indexada. O navegante, então, executa o seguinte:
1) na carta, após traçar o rumo final 290° e plotar o ponto de fundeio a 1 milha da
ilha, conforme anteriormente visto, traça a reta paralela com relação à extremidade do píer e
determina a sua distância à derrota planejada;
2) na repetidora, alinha o cursor de paralelas na direção da derrota planejada (290°);
3) usando as linhas paralelas do cursor como guia, traça na tela, a uma distância do
centro do PPI igual à determinada em (1), a reta paralela indexada, que representa a linha
de movimento relativo da extremidade do píer, se o navio estiver sobre a derrota planejada;
4) na linha central do cursor de paralelas (orientado na direção 290°), faz uma marca
a 1 milha do centro do PPI e registra LG (ponto de largada do ferro, cuja distância ao ponto
de fundeio é igual à distância horizontal da antena do radar ao escovém); e
5) faz outra marca na linha central do cursor de paralelas, 1 milha além do ponto LG
e subdivide esta milha, conforme mostrado na figura.
Se o navio, na aproximação ao ponto de fundeio, estiver sobre a derrota planejada, a
reta paralela indexada traçada na repetidora irá tangenciar a imagem radar da cabeça do
píer, que, em seu movimento relativo, manter-se-á sobre a paralela indexada enquanto o navio
seguir a derrota planejada. Se o navio se desviar da derrota, a imagem do píer se afastará da
reta paralela indexada e o navio deverá corrigir o rumo, de modo que a extremidade do píer
retorne à reta traçada.
Com o navio sendo mantido sobre a derrota planejada, usa-se a referência de proa para
dar indicações da distância ao ponto de fundeio. Quando a marca “1” alcança a borda interna
do “pip” da ilha, a distância a percorrer será de 1 milha. Quando a marca “0,5” toca o “pip”,
resta 0,5 milha (ou 1.000 jardas) para o ponto de fundeio, e assim por diante. O ferro deverá
ser largado com o navio parado, quando a marca LG tocar a borda interna do “pip” da ilha,
isto é, com o navio exatamente a 1 milha da ilha.
No diagrama das posições relativas, o navio de referência (em relação ao qual deve
ser mostrado o movimento relativo) é representado por um ponto fixo, no centro do diagrama,
designado pela letra R (navio de referência). O outro navio, genericamente denominado “alvo”,
ou “contato”, é representado pela letra M (navio manobrador), sendo suas posições relativas
sucessivas designadas por índices (M1, M2, M3, etc.).
Na Figura 14.52.a, está representada a plotagem geográfica (ou verdadeira) dos movi-
mentos absolutos (ou verdadeiros) de 2 navios (R e M). Na Figura 14.52.b, está representada
a plotagem relativa ou o diagrama das posições relativas de M com relação a R.
b. Diagrama de velocidades
O rumo relativo (DMR) e a velocidade relativa (VMR) podem relacionar-se com os ru-
mos e as velocidades dos dois navios (R e M) pela construção do triângulo das velocidades ou
diagrama de velocidades, também chamado de diagrama vetorial.
Suponham-se dois navios, R (na-
Figura 14.55 – Vetor do Movimento Relativo
vegando no rumo verdadeiro 000°, com
velocidade de 15 nós) e M (no rumo ver-
dadeiro 026°, com velocidade de 22 nós).
Para construir o diagrama de velocidades
e determinar o vetor do movimento relativo
de M com relação a R, traça-se, inicialmen-
te, o vetor do movimento absoluto de R, na
direção 000° e com uma grandeza de 15, em
uma determinada escala.
Denomine-se o ponto de origem de
t e a extremidade do vetor de r, conforme
mostrado na Figura 14.55. Do mesmo ponto
t, traça-se o vetor correspondente ao navio
M, na direção 026° e com uma grandeza de
22, medida na mesma escala utilizada para
plotar o vetor de R. Use-se a letra m para
marcar a extremidade do vetor do alvo M.
Para obter a DMR e a VMR de M em relação
a R, faz-se com que o ponto de origem t se desloque com a mesma velocidade de R, porém em rumo
oposto. Traça-se, pois, o vetor tr’, correspondente a este movimento. A resultante dos vetores tr’
e tm dará um vetor igual ao vetor rm, como apresentado na Figura 14.55.a, que indica o rumo e
a velocidade do movimento relativo de M com referência a R (isto é, DMR e VMR). A construção
gráfica é feita mais facilmente da seguinte maneira, como ilustrado na Figura 14.55.b:
• traçam-se os vetores tr e tm;
• liga-se o ponto r ao ponto m;
Para facilitar a construção dos diagramas das posições relativas e diagramas de velo-
cidades, usa-se, na resolução dos problemas de movimento relativo, uma folha de plotagem
especial, denominada “Rosa de Manobra”, publicada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação,
como mostradas nas figuras que apresentam as soluções gráficas dos problemas contidos no
subitem 14.4.4.
A Rosa de Manobra consiste, basicamente, em um diagrama polar contendo linhas
radiais e círculos concêntricos igualmente espaçados. O círculo externo é graduado, de grau
em grau, de 000° a 360°, no mesmo sentido que as rosas das agulhas. Essa graduação serve
para o traçado de rumos e marcações. Uma outra graduação, interna, com algarismos meno-
res, apresenta os valores recíprocos da graduação exterior. As linhas radiais, representadas
a intervalos de 10°, facilitam a plotagem dos rumos e marcações.
As circunferências concêntricas igualmente espaçadas, interceptando as linhas radiais,
facilitam a plotagem de distâncias e velocidades, sendo graduadas de 1 a 10, sobre os diâmetros
000°–180° e 090°–270°. Além disso, à direita do diagrama circular são representadas
5 escalas para medida de distâncias e velocidades (1:1; 2:1; 3:1; 4:1 e 5:1). Em todas essas
escalas, cada divisão numerada tem um comprimento igual à distância entre duas circunfe-
rências adjacentes do diagrama circular. As escalas permitem que sejam plotados na Rosa de
Manobra valores maiores de distâncias e velocidades, sem necessidade de cálculos auxiliares.
Entretanto, para obter melhor precisão, deve-se usar sempre a maior escala possível (lembrar
que a escala 1:1 é 5 vezes maior que a escala 5:1).
Na solução dos problemas de movimento relativo, surge com frequência a necessidade de
se obter um dos elementos tempo, velocidade e distância percorrida, em função dos outros dois.
Para resolver rapidamente essas questões, existe um diagrama representado do lado esquerdo
do diagrama circular, com as respectivas instruções para seu uso. Esse diagrama consta de
três linhas retas: a linha que representa a velocidade (real ou relativa) é graduada em nós e
em km/h; a linha de distância (real ou relativa) é graduada em jardas e milhas náuticas; e a
linha de tempo é graduada em minutos. Conhecendo-se dois elementos, pode-se determinar o
terceiro, alinhando uma régua pelos pontos correspondentes aos elementos conhecidos e lendo
o valor do elemento desconhecido na outra escala. Por exemplo, se um navio percorre 30.000
jardas em 45 minutos, pode-se determinar o valor de sua velocidade: 20 nós.
Os problemas deste tipo também podem ser resolvidos usando somente as graduações
da escala de tempo. Essa escala é construída de modo a ser uma escala logarítmica. Assim, a
razão entre duas leituras quaisquer ao longo da escala será constante, desde que sejam cons-
tantes as distâncias entre elas. Utilizando-se esta propriedade, a escala é usada do seguinte
modo: supondo-se um navio com 15 nós, que distância ele percorrerá em 90 minutos? Com o
compasso, mede-se a distância na escala entre 15 e 60. Conservando a mesma abertura do
compasso, coloca-se uma de suas pontas sobre 90. A outra cairá sobre a graduação 22,5, que
será o número de milhas percorridas em 90 minutos.
Como visto, o ábaco e a escala logarítmica resolvem os mesmos problemas. O uso de
um ou de outro método dependerá das preferências do utilizador da Rosa de Manobra.
Simbologia a ser usada na Rosa de Manobra – com o propósito de se uniformizar
as notações usadas na Rosa de Manobra, adotam-se:
um pouco, devido às imprecisões nas medidas, toda atenção deve ser dada a um alvo fechando
sobre o navio nessas condições, devendo-se admitir que existe risco de colisão.
j) Na realidade, devido aos erros nas medidas das marcações e distâncias, raramente
é possível traçar uma reta que passe por todas as posições relativas do alvo plotadas na Rosa
de Manobra. A direção do movimento relativo (DMR) é, então, obtida “filtrando” aquelas po-
sições, isto é, fazendo passar uma reta de forma que os pontos fiquem bem distribuídos para
um e outro lado, o mais próximo possível dela.
a. Problema no 1
Um navio está no rumo 162°, velocidade 24 nós. À 0103 hora, é detectado um contato
na marcação 123°, distância 13.000 jardas. À 0107 hora, o mesmo contato é marcado aos 119°,
distância 9.500 jardas. Determinar DMR, VMR, PMA (marcação, distância e hora), rumo do
alvo e velocidade do alvo.
Solução (acompanhar o desenvolvimento por meio da Figura 14.56):
a) Sendo a velocidade do navio de 24 nós, seleciona-se a escala de 3:1 para escala de
velocidades. Traça-se, então, o vetor tr.
b) Tendo em vista as distâncias envolvidas, seleciona-se a escala de 1:1 para escala
de distâncias. Plotam-se, então, as posições relativas M1 e M2, com os dados do problema
(sabendo que 1 milha = 2.000 jardas), construindo o diagrama das posições relativas.
c) Do diagrama das posições relativas obtêm-se:
• direção do movimento relativo (DMR) = 314°; e
• distância relativa (M1–M2) = 1,8 milha (3.600 jardas).
d) Com a distância relativa (M1–M2) e o tempo correspondente (4 minutos) obtém-se a
velocidade relativa: VMR = 27 nós. A velocidade relativa pode ser obtida por cálculo ou usando
o diagrama (ábaco) impresso na Rosa de Manobra.
e) O diagrama das posições relativas fornece diretamente dois elementos do PMA
(ponto de maior aproximação):
• marcação = 044° (perpendicular à DMR); e
• distância = 1,2 milha (2.400 jardas).
f) Para calcular a hora em que o PMA ocorrerá, verifica-se no diagrama das posições
relativas qual a distância entre a posição M2 e o PMA. Com essa distância, a velocidade rela-
tiva e a hora da posição M2, calcula-se a hora em que ocorrerá o PMA. No presente caso:
b. Problema no 2
Um navio, navegando sob visibilidade restrita, está no rumo 011°, velocidade 6 nós. Às
1322 horas, um contato é detectado na marcação verdadeira 026°, distância 11.000 jardas. Às
1333 horas, o mesmo contato é marcado aos 056°, na distância de 7.300 jardas. Determinar
DMR, VMR, PMA (marcação, distância e hora), rumo do alvo e velocidade do alvo.
Solução (acompanhar o desenvolvimento por meio da Figura 14.57):
a) Tendo em vista as distâncias envolvidas, seleciona-se a escala de 1:1 para escala
de distâncias. Plotam-se, então, as posições relativas M1 e M2 com os dados do problema (1
milha = 2.000 jardas), construindo o diagrama das posições relativas.
b) Do diagrama das posições relativas, obtêm-se:
• DMR = 167°; e
• distância relativa (M1–M2) = 2,95 milhas (5.900 jardas).
c) Com a distância relativa (M1–M2) e o intervalo de tempo (M1–M2) obtém-se:
VMR = 16 nós.
e) Para calcular a hora do PMA, obtém-se no diagrama das posições relativas a dis-
tância M2–PMA = 1,3 milha (2.600 jardas). Com a velocidade relativa de 16 nós, calcula-se o
tempo correspondente = 5 minutos (arredondando para o minuto inteiro):
• hora da posição M2 = 1333 horas;
c. Problema no 3
Um navio está no rumo 000°, velocidade 5 nós, navegando sob visibilidade restrita. Às
0835 horas, um contato é marcado aos 051°, na distância de 12.000 jardas. Às 0848 horas, o
mesmo contato é marcado aos 033°, na distância de 11.000 jardas. Determinar DMR, VMR,
PMA (marcação, distância e hora), rumo do alvo e velocidade do alvo. Informar se o alvo cor-
tará nossa proa ou nossa popa e a distância e a hora em que o corte ocorrerá.
Solução (acompanhar o desenvolvimento por meio da Figura 14.58):
a) Seleciona-se a escala de distâncias 1:1 e traça-se o diagrama das posições relativas,
obtendo-se:
• DMR = 296°; e
• distância relativa = 1,85 milha (3.700 jardas).
b) Com o valor da distância relativa e o intervalo de tempo M1–M2 (13 minutos),
obtém-se, por cálculo ou usando o diagrama (ábaco) impresso na Rosa de Manobra: VMR =
8,5 nós.
c) Do diagrama das posições relativas obtêm-se os seguintes elementos do PMA:
• marcação = 026°; e
• distância = 5,4 milhas (10.800 jardas).
d) Com a distância M2–PMA e a VMR, obtém-se o intervalo de tempo até o PMA: 5
minutos (arredondado).
e) Com o intervalo de tempo, então, obtém-se a hora do PMA: 0853 horas.
f) Seleciona-se a escala 1:1 para escala de velocidades e constrói-se o diagrama de
velocidades, obtendo:
• rumo do alvo = 319°; e
• velocidade do alvo = 11,5 nós.
g) No diagrama das posições relativas, verifica-se que o alvo cortará a proa na distância
de 6,1 milhas (12.200 jardas). Com a distância da posição M2 ao ponto de corte da proa (3,3
milhas ou 6.600 jardas) e a VMR de 8,5 nós, obtém-se o intervalo de tempo até o corte da proa:
23 minutos (arredondados). Então, calcula-se:
• hora da posição M2 = 0848 horas;
• tempo até o corte da proa = 23 minutos; e
• hora do corte da proa = 0911 horas.
d. Problema no 4
Um navio está no rumo 010°, velocidade de 16 nós, navegando sob visibilidade restrita.
São obtidas as seguintes posições sucessivas de um mesmo contato, em relação ao navio:
Determinar DMR, VMR, PMA (marcação, distância e hora), rumo do alvo e velocidade do
alvo. Informar se o alvo cortará a proa ou popa e a distância e a hora em que o corte ocorrerá.
Solução (acompanhar o desenvolvimento por meio da Figura 14.59):
a) Seleciona-se a escala de distâncias 2:1 e constrói-se o diagrama das posições relati-
vas, obtendo-se:
• DMR = 268°;
• distância relativa (M1–M5) = 3,9 milhas; e
• VMR = 20 nós.
Conforme anteriormente citado, erros nas medidas das distâncias e marcações fazem
com que só raramente seja possível traçar uma reta que passe exatamente por todas as po-
sições do contato. Assim, como no presente exemplo, a DMR deve ser obtida pelo traçado de
uma reta, posta de forma que os pontos fiquem bem distribuídos para um e outro lado, o mais
próximo possível dela.
b) Determinam-se os elementos do PMA:
• marcação = 358°;
• distância = 10,0 milhas; e
• hora = 0145 hora.
c) Constrói-se o diagrama de velocidades, na escala 2:1, e obtêm-se:
• rumo do alvo = 311°; e
• velocidade do alvo = 22,8 nós.
d) O alvo cortará a proa, na distância de 10,4 milhas, à 0138 hora (antes, pois, de al-
cançar o PMA, conforme pode ser verificado na Figura 14.59).
e. Problema no 5
Um navio está no rumo 160°, velocidade de 10 nós e obtém as seguintes posições su-
cessivas de um mesmo contato:
f. Problema no 6
Um navio encontra-se sob forte nevoeiro, no rumo 090°, velocidade 4 nós, buscando
uma barca-farol que constitui o sinal de aterragem e que marca o início do canal de acesso ao
seu porto de destino. Na tela do radar aparecem dois contatos nas vizinhanças da posição da
barca-farol. Suas posições sucessivas são:
Contato M:
Contato N:
g. Problema no 7
h. Problema no 8
i. Problema no 9
j. Problema no 10
Um navio está no rumo 312°, velocidade de 14 nós. São obtidas as seguintes posições
sucessivas de um mesmo contato M:
Determinar o rumo do navio para não passar a menos de 2,5 milhas na popa do contato,
mantendo a velocidade.
g) Para que este problema seja possível, é necessário, como se conclui da Figura 14.65,
que a circunferência da velocidade do navio intercepte, no diagrama de velocidades, a paralela
à nova DMR, traçada pelo ponto m. Haverá duas soluções, se existirem dois pontos de inter-
seção.
h) A resolução desse problema tem grande interesse quando se pretende manobrar para
evitar um navio detectado pelo radar, especialmente em condições de má visibilidade. De fato,
se, pela análise da plotagem relativa, concluir-se que o outro navio vai passar excessivamente
perto, depois de se determinar o seu rumo e velocidade, altera-se o rumo do navio, para passar
a uma distância considerada suficiente.
k. Problema no 11
Um navio com uma emergência médica a bordo está se dirigindo para o porto mais
próximo, no rumo 020°, velocidade de 12 nós. Seu navio, que possui médico a bordo, decide
interceptá-lo, com a velocidade de 14 nós, para prestar auxílio. Às 2100 horas, o outro navio
é marcado aos 262°, na distância de 15 milhas. Determinar o rumo de interceptação e a hora
em que o alvo será interceptado.
Solução (acompanhar o desenvolvimento por meio da Figura 14.66):
d. Com a distância até o contato (15 milhas) e a VMR (15 nós), determina-se o tempo
até a interceptação. Neste caso, 1 hora. Assim, a interceptação ocorrerá às 2200 horas.
Observando a imagem radar com as plotagens relativas dos contatos e suas posições
nos minutos 00 e 06, verifica-se que o contato C, a 4,5 milhas no través de BE, está no mesmo
rumo e velocidade que o navio (não existe movimento relativo entre o navio e o alvo C, pois
ambos têm o mesmo movimento verdadeiro). Se a velocidade for reduzida, ou aumentada,
ou se o navio guinar para BB, ele imediatamente começará a aumentar distância para esse
contato. Entretanto, se guinar para BE, uma situação de perigo pode surgir, com relação ao
contato C.
O contato D rapidamente revela que está no mesmo rumo e com velocidade maior do
que a do navio. Como ele já está a vante do través de BB do navio, a única manobra que pode
criar uma situação de risco com esse contato é um aumento de velocidade do navio.
O contato A está no rumo oposto ao do navio (sua DMR é a recíproca da nossa proa).
Por comparação com os anéis de distância, verifica-se que sua distância relativa percorrida em
6 minutos (entre as posições 00 e 06 do contato A) é de cerca de 4 milhas, o que fornece uma
velocidade relativa (VMR) de 40 nós, indicando que o contato A desenvolve uma velocidade
de 20 nós. Seu PMA tem distância de cerca de 2 milhas, o que pode ser obtido prolongando-
-se sua DMR até o través de BE do navio. Qualquer mudança de velocidade não irá reduzir
a distância do PMA, de modo que é seguro, com relação ao contato A, aumentar ou diminuir
a velocidade, assim como guinar para BB. Uma guinada para BE, porém, representaria um
grande risco, sobretudo por causa da alta VMR (40 nós).
O movimento relativo do contato E indica uma DMR oposta ao rumo do navio. Por com-
paração com os anéis de distância, verifica-se que a distância relativa percorrida pelo contato
A solução é a seguinte:
a) com origem no centro do PPI, traçar (com lápis de cera) os vetores tr e tr1, corres-
pondentes, respectivamente, aos rumo e velocidade iniciais e ao novos rumo e velocidade. A
grandeza de cada vetor deve ser medida na escala de distância da apresentação radar, sendo
igual à distância percorrida pelo navio durante o intervalo de tempo da plotagem relativa. No
presente caso, o intervalo é de 6 minutos e a velocidade de 20 nós. Portanto, a grandeza de ambos
os vetores tr e tr1 deve ser de 2 milhas (1 anel de distância), conforme mostrado na Figura;
b) construir, então, uma linha tracejada de r para r1; e
c) deslocar, em seguida, a posição inicial dos contatos A, B e C (isto é, a posição de 1000
horas) na mesma direção e distância que a linha tracejada rr1; designe cada uma das posições
obtidas de r1.
A nova direção do movimento relativo de cada contato será obtida conectando-se as
posições deslocadas com as posições finais dos contatos (isto é, as posições de 1006).
Desse modo, verifica-se que, com a mudança do rumo para 065°, o contato A, que estava
em rumo de colisão, passará safo do navio, assim como os contatos B e C.
Os exercícios contidos no Apêndice a este Capítulo destinam-se a testar e aprimorar a
prática de plotagem radar em tempo real.
Atualmente, são empregados a bordo dos navios sistemas radar com acompanha-
mento e processamento automático de contatos, que resolvem os problemas de cinemática
que interessam à segurança da navegação, fornecendo ao Oficial de Quarto as indicações
necessárias para manobrar a fim de evitar colisões, ou podendo, até mesmo, nos sistemas
integrados mais avançados, comandar o giropiloto e/ou as máquinas, alterando o rumo e/ou
a velocidade do navio.
Os sistemas automáticos, genericamente denominados de ARPA (Automatic Radar
Plotting Aids) destinam-se a reduzir o tempo requerido para uma plotagem radar manual, sobre
a repetidora (no plotador de reflexão) ou na Rosa de Manobra, e para solução dos problemas
de movimento relativo. Ademais, contribuem para diminuir os riscos de erros humanos, que
foram causadores de inúmeros acidentes no mar.
Normalmente, os sistemas automáticos fornecem rumo verdadeiro, velocidade e ele-
mentos do PMA (distância e hora) dos alvos detectados, além de possuírem alarme áudio e
visual para indicar contatos que estejam em rumo de colisão com o navio.
Além disso, os elementos do alvo são calculados logo que o mesmo é detectado pelo
radar, independentemente da escala de distância ajustada no PPI. Se, por exemplo, um con-
tato é adquirido pelo radar a 17 milhas, o equipamento leva apenas cerca de 2 minutos para
computar uma solução completa para o contato. Estando o PPI na escala de distância de 12
milhas, quando o alvo alcançar esta distância e o seu eco passar a ser mostrado na tela do
radar, ele já terá sido adquirido e acompanhado e seus elementos de rumo, velocidade e PMA
já terão sido determinados.
Assim, as vantagens dos sistemas automáticos de radar podem ser resumidas como se
segue:
a. aquisição e processamento automático de ecos;
b. todos os ecos relevantes (em alguns sistemas cerca de 200) serão examinados simul-
taneamente e seus dados atualizados em cada varredura;
c. os ecos mais próximos (até o número de 40 em certos sistemas) serão mostrados,
com os seus respectivos vetores;
d. os elementos dos ecos (movimento relativo, posição, rumo, velocidade e PMA) são
informados instantaneamente;
e. os sistemas possuem alarme de risco de colisão, baseado na distância do PMA sele-
cionada pelo operador e independente da escala de distância ajustada no PPI;
f. eliminação do erro humano nas tarefas mecânicas de plotagem do movimento rela-
tivo e cálculo dos elementos do alvo; e
g. provê ao navegante mais tempo para manobrar, além de indicar os resultados de
diversas manobras imaginadas.
Entretanto, sendo sistemas complexos, são sujeitos a falhas. É necessário combater a
tendência que têm certos operadores de aceitarem as informações de tão sofisticado aparelho
sem qualquer contestação. Como qualquer tipo de radar, os sistemas automáticos podem
dar indicações falsas, deixar de detectar ecos, etc. Deste modo, embora um aparelho baseado
em computador possa aumentar o nível de conhecimento da situação, ele não dispensa uma
avaliação constante, completada por uma vigilância visual permanente, a fim de que se consiga
usar todas as informações para obter a saída ótima de uma situação complexa.
Apêndice ao Capítulo 14
Exercícios de plotagem radar em tempo real
Exercício no 1:
Na situação ilustrada na Figura 14Ap.1, o navio está no rumo 000°, velocidade de 20
nós. O radar, com apresentação estabilizada pela agulha giroscópica, está na escala de 12
milhas, com 2 milhas entre os anéis de distância. A figura mostra a posição de 5 contatos (A,
B, C, D e E), nos minutos 00 e 06.
Questões:
1. Qual o alvo que está em rumo de colisão com o navio?
(A) (B) (C) (D) (E)
2. Qual o alvo que começaria a aumentar distância se o navio guinasse para bombordo?
(A) (B) (C) (D) (E)
3. Qual o alvo cuja DMR (direção do movimento relativo) mudará 30° para a direita, se o navio
guinar 30° para boreste?
(A) (B) (C) (D) (E)
4. Qual o alvo cuja DMR (direção do movimento relativo) giraria para a esquerda se o navio
guinasse para boreste?
(A) (B) (C) (D) (E) (Nenhum)
5. Qual o alvo que teria uma DMR (direção do movimento relativo) de 285° se o navio guinasse
30° para BE (para o rumo 030°)?
(A) (B) (C) (D) (E)
6. Quais os alvos que mudarão mais seus DMR e PMA se o navio reduzir a velocidade para
10 nós?
(A) e (E) (C) e (E) (B) e (D) (A) e (C)
7. Que alvo passará mais próximo do navio se este guinar BE para 050° no minuto 06?
(A) (B) (C) (D) (E)
8. Qual o alvo que tem a menor velocidade verdadeira, podendo, até mesmo, estar parado?
(A) (B) (C) (D) (E)
9. Se o navio guinar BB para 315° no minuto 06, todos os alvos terão um PMA de pelo menos
1 milha?
(SIM) (NÃO)
10. Uma guinada para BE, para o rumo 045°, no minuto 06, iria fazer com que todos os alvos
tivessem um PMA de pelo menos 2 milhas?
(SIM) (NÃO)
Exercício no 2:
Na situação ilustrada na Figura 14Ap.2, o navio está no rumo 000°, velocidade de 20 nós. O
radar, com apresentação estabilizada, na escala de 12 milhas (2 milhas entre os anéis de distância),
apresenta 5 alvos (A, B, C, D e E), cujas posições nos minutos 00 e 06 são indicadas na figura.
Questões:
3. Qual o alvo que está no rumo oeste e com uma velocidade um pouco maior que a do navio?
(A) (B) (C) (D) (E)
6. Qual o alvo que, logo à primeira vista, verifica-se que está com velocidade menor que a
do navio?
(A) (B) (C) (D) (E)
7. Se o navio parar as máquinas no minuto 06, qual o alvo que começará a aumentar distância?
(A) (B) (C) (D) (E)
8. Qual o alvo que terá a maior velocidade relativa (VMR) se o navio guinar BE para 045° no
minuto 06?
(A) (B) (C) (D) (E)
9. Entre os rumos abaixo, indicar em qual o navio deveria governar, se fosse decidido guinar
para BB no minuto 06, a fim de que o alvo C passasse na popa do navio, na maior distância.
350° 340° 320° 290° 270°
10. Qual o alvo cuja direção do movimento relativo (DMR) girará para a esquerda, se o navio
guinar para BE no minuto 06?
(A) (B) (C) (D) (E)
Exercício no 3:
Na situação ilustrada na Figura 14Ap.3, o navio está no rumo 000°, velocidade de 20 nós.
O radar, com apresentação estabilizada, está na escala de 12 milhas, com 2 milhas entre anéis
de distância. A figura mostra as posições de 7 alvos (A, B, C, D, E, F e G) nos minutos 00 e 06.
Questões:
1. Qual o alvo que tem a menor velocidade verdadeira?
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G)
5. Qual o alvo que se pode afirmar, logo à primeira vista, que está com velocidade superior à
do navio?
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (G)
10. Se o alvo A reduzir sua velocidade para 10 nós no minuto 06, ele irá:
1. Cortar a proa do navio, com um PMA maior que 2 milhas;
2. Passar por BB do navio, com um PMA maior que 2 milhas;
3. Passar por BE do navio, com um PMA maior que 2 milhas;
4. Passar por BE do navio, com um PMA menor que 2 milhas;
Respostas do exercício no 1:
1 – (A);
2 – (C);
3 – (E);
4 – (NENHUM);
5 – (C);
6 – (B) e (D);
7 – (C);
8 – (E);
9 – (SIM);
10 – (NÃO).
Respostas do exercício no 2:
1 – (E);
2 – (A);
3 – (B);
4 – (B) e (D);
5 – (B);
6 – (A);
7 – (A);
8 – (B);
9 – (320°);
10 – (C).
Respostas do exercício no 3:
1 – (F);
2 – (A);
3 – (E);
4 – (2’);
5 – (D);
6 – 280°/10 nós;
7 – (F);
8 – (000°);
9 – (2’);
10 – (4).
15.1 INTRODUÇÃO
O Brasil é Parte na Convenção sobre o Regulamento Internacional para Evitar
Abalroamento no Mar (COLREG-72), da Organização Marítima Internacional (IMO), a qual vem
sendo atualizada por emendas, sendo as adotadas pela Resolução A.1085 (28), da Assembleia
da IMO, as mais recentes.
A Convenção no Artigo IX (idiomas), estabelece que: “A presente Convenção é instituída,
juntamente com o Regulamento, em um único exemplar redigido nos idiomas inglês e francês,
sendo ambos os textos igualmente autênticos. Serão preparadas e depositadas, juntamente com
o original assinado, traduções oficiais nos idiomas russo e espanhol”.
Assim, ressalta-se que a tradução para o nosso idioma não é uma das traduções oficiais
e, portanto, deve-se ter cautela com alguns termos do seu texto, sendo aconselhável, sempre
que possível, conhecer a versão no idioma inglês.
Este Capítulo tem o fito de enfatizar alguns aspectos do Regulamento Internacional
para Evitar Abalroamento no Mar, doravante denominado RIPEAM, sem, no entanto, pre-
tender substituir a sua leitura atenta, o que deve ser preferencialmente feito com o uso da
publicação disponibilizada para consulta no sítio da internet da Comissão Coordenadora dos
Assuntos da Organização Marítima Internacional (CCA-IMO), no endereço:
“https://www.ccaimo.mar.mil.br/ccaimo/sites/default/files/ripeam_colreg_consolida-
da_com_emd_dez2013.pdf “.
Nos itens seguintes, que contêm transcrições do RIPEAM, faz-se importante destacar
que as observações inseridas nos quadros, bem como as figuras que ilustram algumas regras,
não fazem parte do texto legal, tendo o intuito, tão somente, de facilitar o entendimento dos
termos e conceitos empregados na Convenção.
REGRA 5 – Vigilância
Cada embarcação deverá manter, permanentemente, vigilância apropriada, visual e
auditiva, bem como por todos os meios apropriados às circunstâncias e condições predominan-
tes, a fim de obter inteira apreciação da situação e do risco de abalroamento.
Note que a regra enfatiza a necessidade da vigilância “por todos os meios apropria-
dos”, o que denota, uma vez mais, ser mister manter a consciência situacional a todo tempo,
inclusive no tocante ao tráfego em torno do navio.
Especial atenção é preciso ter quando existem marcações de um outro navio, com
pequenas variações e distância decrescente, visto que, por vezes, aquela pequena variação
de marcação pode ser decorrente do balanço do navio, de oscilações da proa ou mesmo de
variação do ponto visado. Situações como essa podem ser mal interpretadas e causar a
protelação de alguma providência.
a outra embarcação que esteja observando visualmente ou pelo radar. Devem ser evitadas
pequenas alterações sucessivas de rumo e/ou velocidade.
REGRA 13 – Ultrapassagem
Quaisquer que sejam as disposições contidas nas Regras da Parte B, Seções I e II, toda
embarcação que esteja ultrapassando outra deverá manter-se fora do caminho desta outra.
Deverá ser considerada uma embarcação alcançando outra, toda embarcação que se
aproximar de outra, vinda de uma direção de mais de 22,5 graus para ré do través dessa úl-
tima, isto é, que se ache numa posição tal em relação à embarcação alcançada que, durante
a noite, só poderá ver a luz de alcançado (ou de popa) dessa outra, sem avistar nenhuma de
suas luzes de bordo (Figura 15.3).
REGRA 20 – Aplicação
As Regras da Parte C do RIPEAM se aplicam em todas as condições de tempo.
As Regras referentes às luzes se aplicam do pôr ao nascer do Sol e, durante esse período,
não devem ser exibidas outras luzes, exceto aquelas que não possam ser confundidas com as
luzes especificadas nessas Regras, que não prejudiquem sua visibilidade ou suas características
distintivas ou interfiram na manutenção de vigilância apropriada.
As luzes prescritas nessas Regras, se instaladas, também serão exibidas entre o nascer
e o pôr do sol em visibilidade restrita e poderão ser exibidas em todas as demais circunstâncias
quando parecer necessário.
As Regras referentes a marcas se aplicam ao período diurno.
Note-se que a regra dá provimento ao acendimento das luzes, mesmo durante o dia
quando em baixa visibilidade ou mesmo quando assim for entendido como necessário. A
restrição é tão somente quanto a outras emissões luminosas que possam confundir-se com
as previstas.
REGRA 21 – Definições
a) “Luz de mastro” significa uma luz branca contínua, situada sobre o eixo longitu-
dinal da embarcação, visível em um setor horizontal de 225 graus desde a proa até 22,5 graus
por ante-a-ré do través em ambos os bordos da embarcação.
b) “Luzes de bordos” significam luzes contínuas, uma verde a boreste e uma encar-
nada a bombordo, visíveis em setores horizontais de 112,5 graus desde a proa até 22,5 graus
por ante-a-ré do través de seu respectivo bordo. Em embarcações de comprimento inferior a
20 metros, as luzes de bordos podem ser combinadas em uma única lanterna instalada sobre
o eixo longitudinal da embarcação.
c) “Luz de alcançado” significa uma luz branca contínua situada tão próximo quanto
possível da popa, visível num setor horizontal de 135 graus, e posicionada de modo a projetar
sua luz sobre um setor de 67,5 graus, de cada bordo, a partir da popa.
d) “Luz de reboque” significa uma luz amarela com as mesmas características da luz
de alcançado, definidas no parágrafo (c) desta Regra.
e) “Luz circular” significa uma luz contínua visível num arco de horizonte de 360
graus.
f) “Luz intermitente” significa uma luz com lampejos em intervalos regulares de
frequência igual ou superior a 120 lampejos por minuto.
Ressalta-se que os alcances das luzes (e.g. Luz de Mastro e Luze de Bordos) são dife-
rentes, portanto, as luzes serão percebidas conforme o navio se aproximar. Primeiramente,
as luzes de mastro e, quando mais próximo, as luzes de bordo.
b) Uma embarcação de colchão de ar, quando operando sem calado, deve exibir, além
das luzes prescritas no parágrafo (a) desta Regra, uma luz circular intermitente amarela.
c) Uma nave de voo rasante (WIG) somente quando estiver decolando, amerrisando e
em voo próximo à superfície, deverá exibir, além das luzes prescritas no parágrafo (a) desta
Regra, uma luz circular intermitente encarnada, de alta intensidade.
(I) Uma embarcação de propulsão mecânica com menos de 12 metros de compri-
mento pode, em vez das luzes no parágrafo (a) desta Regra, exibir uma luz circular branca e
luzes de bordos.
(II) Uma embarcação de propulsão mecânica com menos de 7 metros de comprimen-
to, cuja velocidade máxima não exceda 7 nós pode, em vez das luzes prescritas no parágrafo
(a) dessa Regra, exibir uma luz circular banca e deve, se possível, também luzes de bordos; e
(III) A luz de mastro ou luz circular branca em uma embarcação de propulsão
mecânica com menos de 12 metros de comprimento pode ser deslocada do eixo longitudinal
da embarcação se a adaptação no eixo não for possível, desde que as luzes de bordos estejam
combinadas em uma lanterna que deverá estar localizada no eixo longitudinal da embarcação,
ou colocada o mais próximo possível da mesma linha longitudinal sobre a qual se encontra a
luz de mastro ou a luz circular branca.
(I) duas luzes circulares dispostas em linha vertical, sendo a superior verde e a
inferior branca, ou uma marca composta por dois cones unidos por seus vértices, dispostos
na vertical;
(II) uma luz de mastro, por ante-a-ré e acima da luz circular verde; uma embarca-
ção de comprimento inferior a 50 metros não será obrigada a exibir esta luz de mastro, mas
poderá fazê-lo; e
(III) quando com seguimento, além das luzes prescritas neste parágrafo, luzes de
bordo e uma luz de alcançado.
c) Uma embarcação engajada na pesca, que não seja de arrasto, deve exibir (ver a
Figura 15.11b):
(I) duas luzes circulares dispostas em linha vertical, sendo a superior encarnada
e a inferior branca, ou uma marca composta por dois cones unidos por seus vértices dispostos
na vertical;
(II) quando o equipamento de pesca se estender a mais de 150 metros, medidos
horizontalmente a partir da embarcação, uma luz circular branca ou um cone com o vértice
para cima, na direção do aparelho; e
(III) quando com seguimento, além das luzes prescritas neste parágrafo, luzes de
bordos e uma luz de alcançado.
a) Uma embarcação sem governo deve Figura 15.12 – REGRA 27 (a) – Embarcação
exibir (ver a Figura 15.12): sem Governo
(I) duas luzes circulares encarna-
das dispostas em linha vertical, onde melhor
possam ser vistas;
(II) duas esferas ou marcas se-
melhantes dispostas em linha vertical, onde
melhor possam ser vistas; e
(III) quando com seguimento, além
das luzes prescritas neste parágrafo, luzes de
bordos e uma luz de alcançado.
b) Uma embarcação com capacidade de manobra restrita, exceto uma embarcação
engajada em operações de remoção de minas, deve exibir (ver a Figura 15.13):
I) três luzes circulares dispostas em linha vertical, onde melhor possam ser vistas.
As luzes superior e inferior deverão ser encarnadas e a do meio deve ser branca;
II) três marcas dispostas em li- Figura 15.13 – REGRA 27 (b) – Embarcação
nha vertical, onde melhor possam ser vistas, com capacidade de manobra restrita
sendo a superior e a inferior esferas e a do
meio uma marca em forma de losango;
III) quando com seguimento, além
das luzes prescritas no subparágrafo (I), luz
ou luzes de mastro, luzes de bordos e uma luz
de alcançado; e
IV) quando fundeada, além das
luzes ou marcas prescritas nos subparágrafos
(I) e (II), a luz, luzes ou marcas prescritas na
Regra 30.
(III) quando fundeada, além das luzes prescritas no subparágrafo (I), a luz, as luzes
ou marca prescritas na Regra 30 para embarcações fundeadas.
b) Quando não engajadas em serviços de praticagem, uma embarcação de praticagem
deve exibir as luzes ou marcas prescritas para uma embarcação semelhante de seu comprimento.
REGRA 30 – Embarcações Fundeadas ou Encalhadas
a) Uma embarcação fundeada deve exibir, onde melhor possam ser vistas (ver a Figura
15.18a):
(I) na parte de vante, uma luz circular branca ou uma esfera; e
(II) na/ou próximo da popa e a um nível mais abaixo que a luz requerida pelo
subparágrafo (I), uma luz circular branca.
b) Uma embarcação de comprimento inferior a 50 metros pode exibir uma luz circular
branca onde melhor possa ser vista, em lugar das luzes prescritas no parágrafo (a) desta Regra.
c) Uma embarcação fundeada pode, e uma embarcação de comprimento igual ou su-
perior a 100 metros deve, utilizar ainda todas as luzes de fainas, ou equivalentes, disponíveis,
para iluminar seus conveses.
d) Uma embarcação encalhada deve exibir as luzes prescritas no parágrafo (a) ou (b)
desta Regra e, adicionalmente, onde melhor possam ser vistas (ver a figura 15.18b):
(I) duas luzes circulares encarnadas dispostas em linha vertical; e
(II) três esferas dispostas em linha vertical.
e) Uma embarcação de comprimento inferior a 7 metros não será obrigada a exibir as
luzes ou marca prescritas nos parágrafos (a) e (b) desta Regra quando fundeada fora de/ou das
proximidades de um canal estreito, uma via de acesso, um fundeadouro ou rotas normalmente
utilizadas por outras embarcações.
f) Uma embarcação com menos de 12 metros de comprimento, quando encalhada,
não será obrigada a exibir as luzes ou marcas prescritas nos subparágrafos (d) (I) e (II) desta
Regra.
Nessa Parte são previstas as regras para a emissão de sinais sonoros e luminosos pelas
embarcações, decorrentes de suas diferentes condições de manobra e governo, no instante de sua
navegação. Também, nessa parte, são estabelecidos os sinais para chamar a atenção e sinais de
perigo que devem ser empregados pelas embarcações, quando da ocorrência destas situações.
A seguir, algumas regras são destacadas, integral ou parcialmente, fazendo-se observar,
no entanto, que o grifo dado não tem qualquer cunho legal.
As figuras que ilustram algumas regras têm como fonte de reprodução a publicação
DHN-0616-3 – SINAIS SONOROS E LUMINOSOS.
REGRA 32 – Definições
A palavra “apito” significa qualquer dispositivo de sinalização sonora capaz de produ-
zir os sons curtos e longos prescritos e que atenda às especificações contidas no Anexo III do
RIPEAM.
O termo “apito curto” significa um som de duração aproximada de 1 segundo.
O termo “apito longo” significa um som de duração de 4 a 6 segundos.
b) uma embarcação de propulsão mecânica sob máquinas, mas parada e sem segui-
mento, deve soar, em intervalos não superiores a 2 minutos, dois apitos longos sucessivos
separados por intervalos de cerca de 2 segundos;
c) uma embarcação sem governo, uma embarcação com capacidade de manobra res-
trita, uma embarcação restrita devido a seu calado, uma embarcação a vela, uma embarcação
engajada na pesca e uma embarcação rebocando ou empurrando outra embarcação devem, em
lugar dos sinais prescritos nos parágrafos (a) ou (b) acima, soar, a intervalos não superiores
a 2 minutos, três apitos sucessivos, sendo o primeiro longo e os dois seguintes, curtos;
e) uma embarcação rebocada ou, se houver mais de uma embarcação rebocada, a última
do reboque, se guarnecida, deve soar, a intervalos não superiores a 2 minutos, quatro apitos
sucessivos, sendo o primeiro longo e os três seguintes curtos. Se possível este sinal deve ser
soado imediatamente após o sinal emitido pelo rebocador;
g) uma embarcação fundeada deve soar rapidamente o sino durante cerca de 5 segun-
dos, a intervalos não superiores a um minuto. Em uma embarcação de comprimento igual ou
superior a 100 metros, o sino deve ser soado a vante e, imediatamente após o sino, deve ser
soado rapidamente o gongo, à ré, durante cerca de 5 segundos. Além disso, uma embarcação
fundeada pode soar três apitos sucessivos, sendo um curto, um longo e um curto, para indicar
sua posição e advertir uma embarcação que se aproxima quanto à possibilidade de um abal-
roamento;
1
Os sistemas empregados, hoje, e reconhecidos pela IMO, são o INMARSAT SafetyNET e o IRIDIUM SafetyCast.
15.6 RESPONSABILIDADE
REGRA 2 – Responsabilidade
BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. A Projeção Gnomônica. Rio de Janeiro, Diretoria de Hidrografia
e Navegação, 1971. 90 p.
______. A Projeção de Mercator. Rio de Janeiro, Diretoria de Hidrografia e Navegação, 1975. 125 p.
______. Cartografia – Noções Básicas. Rio de Janeiro, Diretoria de Hidrografia e Navegação, 1965. 242 p.
______. Carta 12000 – Símbolos, Abreviaturas e Termos usados nas Cartas Náuticas Brasileiras (INT1).4.
ed. Niterói, 2014. 107 p.
______. Lista de Auxílios - Rádio (Pub. DH 8). 14. ed. Niterói, 2020. 212 p.
______. Lista de Faróis (Pub. DH 2). 37. ed. Niterói, 2020. 256 p.
______. Normas da Autoridade Marítima para Auxílios à Navegação (NORMAM 17/DHN). 5. Rev.
Niterói, 2021.
______. Normas da Autoridade Marítima para Navegação e Cartas Náuticas (NORMAM 28/DHN). 1.
ed. Niterói, 2017.
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