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Capítulo 3

Sistema de Plantio Direto

Alexandre Martins Abdão dos Passos


Ramon Costa Alvarenga
Flávia Cristina dos Santos

Introdução

O sistema de plantio direto (SPD), no qual o solo só é revolvido


na linha de semeadura, é enquadrado como uma estratégia
de agricultura conservacionista e sustentável, que tem sido
amplamente adotada em diversas regiões do mundo, e em
especial no Brasil.Também denominado de sistema de semeadura
direta, a técnica representa evolução e revolução na forma de se
realizar agricultura no mundo (Lopes; Guimarães, 2016), já que,
antes utilizavam-se implementos que revolviam o solo em toda
sua extensão, o que hoje se sabe não é, no geral, a melhor forma
sustentável de se praticar agricultura (Lehmann, 2007).

A história do sistema plantio direto inicia junto com o surgimento


e desenvolvimento de outras práticas tecnológicas bastante
conhecidas na atualidade, como:

Desenvolvimento de herbicidas dessecantes, de contatos e


sistêmicos, de amplo espectro de ação.
62 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Aperfeiçoamento e desenvolvimento de máquinas e


implementos agrícolas apropriados para o sistema de plantio
direto (SPD).

Agricultura de precisão, em que o sistema de plantio direto é


parte do processo tecnológico.

Outro fato histórico ligado ao desenvolvimento do plantio direto


no Brasil foi o aumento das perdas de solo ocorridas nas décadas

do Paraná, em razão do rápido avanço do processo erosivo na


região. Um dos principais objetivos do sistema plantio direto
foi o de gerar proteção do solo contra os efeitos prejudiciais
de chuvas por meio de cobertura vegetal morta sobre o solo,
a palhada (Volk et al., 2004). A ausência de cobertura do solo,
viva ou morta, aumenta a suscetibilidade do solo à erosão, ou
à erodibilidade. Os principais efeitos que se observam em solos
descobertos são o fenômeno do “salpicamento” ocasionado pela
energia cinética de gotas das chuvas e o arraste de partículas
pela água de chuva ou da própria água de irrigação. (Figura 1).

Figura 1. Efeitos da gota de chuva sobre solo descoberto geran-


do a erosão hídrica.
Fonte: adaptado de Omafra (1997).

Ao longo dos anos, o sistema plantio direto, inicialmente


desenvolvido em países de clima temperado, como a Inglaterra,
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 63

ganhou também espaço no Brasil, com início no Sul do Brasil


e atualmente presente em todas as regiões do País, de norte a
sul e leste à oeste (Landers, 2001). Estima-se, segundo dados da
FEBRAPDP, a Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação
de 2013, que havia já no Brasil cerca de 32 milhões de hectares
de áreas agricultáveis cultivadas sobre o sistema plantio direto.
Contudo, sabe-se hoje que grande parte dessas áreas não podem
ser consideradas estritamente cultivadas sob sistema plantio
direto e isso remete aos preceitos desse sistema conservacionista
(Derpsch et al., 2014). O sistema plantio direto preconiza um
mínimo de preceitos para que possa ser chamado assim. São
eles:

Baixo revolvimento do solo (geralmente somente na linha de


semeadura).

Presença de cobertura vegetal morta sobre o solo, também


chamada de palhada.

Uso de rotação de cultura.

Revolvimento do solo

O revolvimento do solo é usualmente realizado em países de clima


temperado, utilizando implementos como o arado, que após o
período de inverno, quando o solo se encontra congelado e com
neve, inverte-se as camadas do solo visando expor a parte mais
profunda ao sol, para derreter mais rápido (Six et al., 2002). Essa
prática foi inicialmente utilizada no Brasil, adaptada às nossas
condições, visando preparar o solo deixando-o mais apropriado
para o plantio e concomitantemente exterminar plantas daninhas.
Apesar de bastante efetiva, essa prática expõe o solo às chuvas,
64 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

gerando maior probabilidade de erosão, principalmente porque


interfere negativamente na estrutura e teores de matéria orgânica
do solo, entre outros fatores (Franzluebbers, 2010).

com maquinários e combustível. Geralmente o preparo de solo,


convencional, é realizado por meio da aração (arado de disco ou
aiveca dependendo das condições do solo) e gradagem.

Palhada

A palhada é oriunda de plantas de cobertura semeadas

que são cultivadas anteriormente (resteva). Ou mesmo pela

Brasil, atualmente, a principal cultura geradora de palhada é o


milho, que é cultivado em sucessão à cultura da soja, semeado

chuvoso no cerrado brasileiro. Contudo, diversas outras culturas


e estratégias são utilizadas para geração de palhada, dentre elas
o consorciamento de culturas (Figura 2 A e B). O tema plantas de
cobertura será abordado posteriormente.
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 65

Figura 2. Milho com Brachiaria ruziziensis em sistema Integração


Lavoura-Pecuária (ILP), para formação de silagem (milho) (A)
e palhada (capim). Brachiaria ruziziensis em sistema ILP após
colheita milho para silagem (B).
66 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Rotação de culturas

espécies diferentes alternadas em uma mesma área em anos


diferentes. Diferentemente da sucessão de culturas, que ocorre
quando cultivamos uma cultura na sequência de uma outra em
um mesmo ano agrícola (ou em um período menor que um ano
cronológico).

A partir de dados do levantamento da última safra brasileira


realizado pela Conab (Acompanhamento da Safra Brasileira [de]

milhões de hectares com culturas anuais produtoras de grãos e

no período do verão (primeira safra). Deste total há somente


17 milhões de hectares cultivados com culturas produtoras de

cevada, centeio, canola, aveia, triticale, feijão segunda e terceira


safra, girassol e o milho safrinha, ou melhor, segunda safra).
Portanto, somente esses 17 milhões de hectares que podem
serem considerados potencialmente como áreas que estão sendo
conduzidas sob condições de palhada, um dos preceitos para

Ou seja, temos potencialmente apenas 27,6% da área cultivada


por grãos do Brasil sob o Sistema Plantio Direto stricto sensu
(no sentido restrito) (Derpsch et al., 2014); o que corresponde
a um pouco mais da metade da área estimada de 32 milhões
de hectares que tem sido considerada como área que utiliza o
sistema no País.

Ademais, outro preceito que não tem sido amplamente adotado


é a rotação de culturas. Dentre essas culturas de segunda safra,
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 67

temos o principal sistema compreendendo a soja semeada na


safra sucedida pelo milho semeado na segunda safra (milho
safrinha), que na última safra representou 11,5 milhões de

que, apesar da presença de palha pela resteva do milho e uso


de semeadoras adaptadas, há na realidade um cultivo mínimo
nesse sistema. Pois em grande parte dessas áreas atualmente
não se pratica a rotação de cultura, sendo o sistema de produção,

literatura tem ressaltado que os benefícios do SPD advêm de sua


adoção em seu sentido stricto sensu, contemplando todos os
preceitos (Bayer et al., 2006; Derpsch et al., 2014).

Benefícios do sistema plantio


direto

Além do benefício citado anteriormente sobre a erosão, o sistema


plantio direto, quando adotado em seu sentido pleno envolvendo
todos os preceitos, garante ao produtor diversas vantagens, das
quais se podem citar, mas não excluir outras:

Economia no custo de produção com menor gasto de diesel;

Melhoria nas condições de fertilidade do solo, principalmente


por meio do aumento da matéria orgânica morta e viva;

Melhor condicionamento físico do solo, promovendo uma


melhoria da estruturação de agregados do solo;

de perdas inerentes à atividade agrícola;


68 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Aumento da ciclagem e reciclagem de nutrientes, aumentando

Melhora da umidade do solo, o que gera uma maior


resiliência e estabilidade produtiva das lavouras às condições
de estresse hídrico por escassez;

Possibilidade do uso de leguminosas em sistemas de sucessão


e ou rotação de culturas gerando benefícios oriundos da

mineral;

Representa um sistema sustentável que apresenta potencial

Menor infestação de plantas daninhas e economia com


herbicidas pelo impedimento mecânico da palhada e efeito

Para que se obtenham todos os benefícios do SPD, o produtor


deve primar pela sua implantação. Uma vez bem iniciado, depois
de consolidado, os benefícios do sistema vão além do aumento
da fertilidade integral (química, física e biológica) do solo, mas

culturas e a resiliência dos sistemas agropecuários. Por causa

de contaminação do ambiente por sedimentos, e proporciona


ao agricultor maior renda, pois a estabilidade da produção é
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 69

ferramenta essencial e única para se alcançar a sustentabilidade


dos sistemas agropecuários (Sá; Lal, 2009).

Contudo, deve-se reforçar que a adoção do Sistema Plantio


Direto não gera somente benefícios, e infringe ao agricultor e
técnicos uma nova postura sobre a gestão de sua propriedade
que abrange nova postura frente à atividade agrícola, atualização
técnica constante e uma visão empresarial sobre sua atividade.
Uma vez que o sistema plantio direto tem como premissa o não

uso da terra e o planejamento para implantação desse sistema


são de suma importância para a obtenção do sucesso.

Planejamento

Por ser considerado um sistema complexo, demanda-se do


agricultor um conhecimento mais amplo e domínio de todas as
fases do sistema, envolvendo o manejo de mais de uma cultura e
muitas vezes, uma associação de agricultura e pecuária. O sistema
exige ainda um acompanhamento mais rígido da dinâmica de
pragas, doenças e plantas daninhas, do manejo de fertilizantes

implantado. Portanto, recomenda-se aos produtores a busca


por capacitações, com visitas em áreas vizinhas que adotem o
sistema, frequentar dias de campo, cursos e ter uma assistência
técnica especializada.
70 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

2. Gerenciamento e treinamento de mão de obra

de maior treinamento da mão de obra. Esta é especialmente


importante com relação às pessoas que irão operar as principais
máquinas do sistema (semeadoras, pulverizadoras e colhedoras)
e realizar os tratos culturais.

3. Boa drenagem de solos úmidos com lençol freático


elevado
Este requisito é necessário para que esses solos sejam aptos ao
sistema, pois o plantio direto já promove um aumento da água

pode agravar o problema de excesso de umidade em solos com

aliados à semeadura em épocas de alta precipitação, podem

às produtividades das lavouras.

4. Eliminação, antes da implantação, de compactação


ou de camadas adensadas
A presença de camadas compactadas no solo, geralmente
resultantes do uso inadequado de arados ou grades aradoras,
causa uma série de problemas que podem reduzir a produtividade.

Como no plantio direto não há o revolvimento do solo, a


eliminação dessas camadas compactadas deve ser realizada
antes da implantação do sistema. Recomenda-se a avaliação em
profundidade, que deve ser no mínimo de 30 a 40 cm, por meio
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 71

penetração com penetrômetros ou enxadão ou escavadeira,


exame de sistemas radiculares, dentre outros.

5. Cuidados com o relevo

O SPD deve vir associado à utilização de práticas


conservacionistas, em especial com atenção ao relevo local.
Práticas de terraceamento são essenciais para o sucesso e a
sustentabilidade em longo prazo do sistema. Solos com apenas
1% de declividade já sofrem benefícios do terraceamento.

Caso haja a presença de microrrelevo, que é representado por


sulcos ou valetas no solo, há necessidade de nivelamento prévio,
tornando a superfície do terreno mais homogênea possível. Esse
problema também é comum em áreas de pastagens degradadas.
Existem no mercado semeadoras com sistema de plantio

entretanto, o ideal é o preparo prévio da área.

6. Correção da acidez do solo antes de iniciar o


plantio direto
Como no sistema plantio direto o solo não é revolvido, é muito

subsuperfície. Para isto, ele deverá ser amostrado de 0 a 20 cm e


de 20 a 40 cm e, se necessário, efetuar a calagem, incorporando
o calcário o mais profundamente possível. Caso seja necessário,
deve-se proceder à aplicação de gesso para correção da camada
72 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

7. Correção da fertilidade química do solo


As correções dos teores de fósforo, potássio, enxofre e
micronutrientes são necessárias antes de iniciar o Sistema
Plantio Direto. O agricultor deve ter como meta manter os
níveis de fertilidade na faixa alta e estabelecer um programa
de adubação de reposição, levando em consideração o sistema
de produção como um todo, a extração e exportação de
nutrientes pela colheita, a reposição de nutrientes provenientes
da decomposição dos restos culturais e as menores perdas de
nutrientes resultantes da menor erosão.

Como as recomendações de fertilizantes se baseiam nos


resultados das análises de solo, uma etapa fundamental para
o manejo dos nutrientes no SPD é a amostragem de solo;
principalmente porque neste sistema se desenvolvem gradientes
de fertilidade no sentido horizontal e vertical mais intensos que
no plantio convencional, o que gera maior variabilidade espacial
dos atributos do solo.

Portanto, para uma boa amostragem, há que se considerar o


tempo de adoção do SPD, bem como a forma de aplicação dos
insumos, se a lanço ou na linha de plantio, conforme está muito
bem descrito no trabalho de Oliveira et al. (2002).

Embora se deva dar mais atenção aos critérios de amostragem


de solo no SPD, as tabelas de interpretação dos resultados das
análises utilizadas para o sistema plantio convencional (SPC)
podem ser usadas também para o SPD, por uma série de razões,
sendo as principais o fato de que as curvas de resposta das
culturas à aplicação dos fertilizantes é similar nos dois sistemas
e as doses de P e K recomendadas no SPC e utilizadas no SPD
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 73

têm mantido produtividades elevadas das culturas no SPD


(Anghinoni, 2007).

Em Minas Gerais temos utilizado tabelas de interpretação e


recomendação baseadas na publicação: “Recomendação para o
uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª aproximação”.

Tabela 1. Classes de interpretação de fertiliade para matéria


orgânica e para o complexo de troca catiônica.
Característica Unidade1/
Muito baixo Baixo Médio2/ Bom Muito Bom
Carbono orgânico (C.O.)3/ dag/kg 0,41 - 1,16 1,17 - 2,32 2,33 - 4,06 > 4,06
Matéria orgânica (M.O.)3/ dag/kg 0,71 - 2,00 2,01 - 4,00 4,01 - 7,00 > 7,00
2+ 4/ 3
Cálcio trocável (Ca ) cmolc/dm 0,41 - 1,20 1,21 - 2,40 2,41 - 4,00 > 4,00

Magnésio trocável (Mg2+)4/ cmolc/dm3 0,16 - 0,45 0,46 - 0,90 0,91 -1,50 > 1,50

Acidez trocável (Al3+)4/ cmolc/dm3 0,21 - 0,50 0,52 - 1,00 1,01 - 2,00 11/ > 2,00 11/

Soma de bases (SB)5/ cmolc/dm3 0,61 - 1,80 1,81 - 3,60 3,61 - 6,00 > 6,00

Acidez potencia(H+Al)6/ cmolc/dm3 1,01 - 2,50 2,51 - 5,00 5,01 - 9,00 11/ > 9,00 11/

CTC efetiva (t)7/ cmolc/dm3 0,81 - 2,30 2,31 - 4,60 4,61 - 8,00 > 8,00
8/
CTC pH 7 (T) cmolc/dm3 1,61 - 4,30 4,31 - 8,60 8,61 - 15,00 > 15,00
Saturação por AL3+ (m) 9/ % 15,1 - 30,0 30,1 - 50,0 50,1 - 75,0 11/ > 75,00 11/
Saturação por bases (V) 10/ % 20,1 - 40,0 40,1 - 60,0 60,1 - 80,0 > 80,00

O limite superior desta classe indica o nível crítico. Método Walkley & Black; M.O. = 1,724 x
C.O. SB = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ . T = SB + (H + Al). m =
A interpretação destas características, nestas classes, deve ser alta e muito alta em lugar de bom e muito bom.

Micronutriente
Muito baixo Baixo Médio 1/ Bom Alto
........................................ (mg/dm3) 2/ ................................................
Zinco disponível (Zn) 3* 0,5 - 0,9 1,0 - 1,5 1,6 - 2,2 > 2,2
Manganês disponível (Mn)3* 3 - 5 6 - 8 9 - 12 > 12
Ferro disponível (Fe) 3* 9 - 18 19 - 30 31 - 45 > 45
Cobre disponível (Cu) 3* 0,4 - 0,7 0,8 - 1,2 1,3 - 1,8 > 1,8
Boro disponível (B) 4* 0,16 - 0,35 0,36 - 0,60 0,61 - 0,90 > 0,90
1/
O limite superior desta classe indica o nível crítico. 2/mg/dm3 = ppm (m/v). 3/Método Mehlich-1. 4/Método água quente.

Fonte: Adaptada de Ribeiro et al. (1999).


74 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

8. Cobertura de solo
Os restos culturais devem cobrir, pelo menos, 80% da superfície
do solo, e contabilizar 7 t ha-1 de matéria seca para cobertura do
solo. Este é um dos requisitos mais importantes para o sucesso

que o sistema promove, e o mais variável entre diferentes


regiões, pois as opções de explorações agrícolas e de cobertura
do solo dependem das condições climáticas, bem como a
disponibilidade de informações relativas a espécies alternativas
e épocas de semeadura em cada local.

9. Nenhuma queima de restos culturais

Jamais realizar a queima dos restos culturais. É comum, em áreas


de produção de sementes de pastagens, pelo grande volume de
palhada acumulado ao longo dos cultivos, predominantemente
de gramíneas, o produtor realizar a queima dos restos culturais
visando facilitar a colheita das sementes. Ademais, sempre
implantar e manter bem cuidado os aceiros.

10. Uso do picador e do distribuidor de palhas nas


colhedoras
O objetivo dessa prática é promover melhor distribuição dos
restos culturais na superfície do solo, facilitando o plantio e
protegendo mais uniformemente o solo.

11. Controle de plantas daninhas


Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 75

12. Eliminação de plantas daninhas perenes


Essas plantas daninhas são de difícil controle, e podem aumentar
sua infestação com o uso do plantio direto, daí a importância de
sua erradicação antes de se iniciar o SPD.

13. Não deve haver alta infestação de plantas


daninhas muito agressivas
Essas plantas daninhas, além de difícil controle, onerarão o custo
de produção. Como no plantio direto as plantas daninhas serão
controladas quimicamente, e sendo esse controle responsável
por um alto percentual do custo de produção total, toda ação
que reduzir e facilitar o controle de plantas daninhas antes da
instalação do sistema plantio direto deverá ser adotada. Na
medida em que se consegue a formação de uma camada mais
efetiva de palha na superfície do solo, associada a um programa
adequado de rotação de culturas, o controle de plantas daninhas
será facilitado e seu custo diminuirá, em função de menores
doses de uso de herbicidas

O sucesso ou insucesso da implantação do plantio direto depende,


além desses requisitos básicos, da capacidade gerencial do
produtor e de sua experiência no manejo de diferentes culturas
que farão parte dos sistemas de rotação e ou sucessão de culturas
(Mitchell et al., 2017).

para obtenção de sucesso no sistema. Vale ilustrar iniciativa que


produtores do Sul do País têm realizado em parceria com a Usina
de Itaipu no programa IQP - Índice de Qualidade do Plantio Direto
(www.plantiodireto.org) em que há geração de benefícios não
76 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

somente para as propriedades rurais participantes, mas para

demonstrando o potencial dessa revolucionária técnica


conservacionista para o Brasil.

Implantação do Sistema Plantio


Direto - SPD

Os benefícios plenos do sistema plantio direto são obtidos


integralmente quando da consolidação desse sistema na área.

Neste contexto, podemos dividir a implantação do sistema


plantio direto em três fases que são ilustradas na Figura 3:

Figura 3. Fases do plantio direto, da implantação à consolidação


do sistema.
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 77

Conforme observa-se, a consolidação do sistema é esperada


após alguns anos, que podem ser abreviados por causa das
condições naturais locais (solo e clima) e de manejo bem
apropriados. Os maiores benefícios do sistema são observados
após a consolidação do sistema.

Deve-se considerar que em algumas regiões, nas quais o SPD


encontra-se mais consolidado, alguns agricultores têm aberto
mão do uso de outras ferramentas e técnicas de conservação
do solo, obtendo resultados por vezes desastrosos para o solo.
Dentre esses, tem se observado a retirada de terraços em áreas
com declividade relativamente altas e que tem promovido o
retorno da erosão hídrica, mesmo com a presença da palhada e
o não revolvimento do solo para preparo da semeadura.

Outra prática que tem se tornado corriqueira é o uso de

subsuperfície do solo. Essa prática não tem sido demonstrada


como efetiva para contornar esses problemas de solo, onerando
muitas vezes o produtor, que tem que dispender recursos para
aquisição do implemento e gasto de combustível para a operação.

A consolidação do sistema,
primeira fase

O preparo adequado do solo, visando corrigir a acidez e construir


a base de aumento da fertilidade do solo ao longo do processo de
consolidação do SPD é essencial para o sucesso desse sistema.

Deve-se atentar para que seja realizado um preparo profundo,


gerando uma correção principalmente da acidez do solo e
anulação da toxidez do alumínio tóxico do solo, uma vez que um
78 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

novo preparo do solo com revolvimento não é previsto nesse


sistema. Todo os cuidados elencados no módulo anterior devem

solo, uma vez que esse aspecto do gradiente de fertilidade em

apropriada de crescimento e desenvolvimento das culturas sob


SPD.

O manejo integrado de nutrientes, como estratégia sustentável


de produção para o SPD, inicia-se nessa fase e percorre todo
a história da lavoura utilizando-se das melhores práticas
agronômicas que incluem o uso de análises periódicas de solo e
plantas.

Se o agricultor está migrando para o SPD, recomenda-se que


a propriedade seja dividida em áreas e que se inicie o sistema
em áreas menores, para que durante as primeiras iniciativas e
geração de conhecimento e experiência com o SPD não haja um
aumento do risco e frustações.

Sistemas

Atualmente são diversos os sistemas de sucessão e rotação de


culturas que são adaptados para o sistema plantio direto. Os mais
comuns preconizam o foco na cultura principal, que no Brasil
tem sido nos últimos anos a soja, vindo posteriormente uma
cultura geradora de palhada, geralmente semeada em sucessão.
Essa cultura tem sido primordialmente o milho nas condições
de cerrado, no centro sul do Brasil, mas não se restringe a ela.
Como exemplo temos o cultivo da soja e do milheto (antes ou
após a soja), soja precedida do milho safrinha, soja e trigo, soja
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 79

ou precedida de pastagem e outras modalidades. É importante


frisar, que a sucessão e rotação de uma leguminosa, como a
soja, com gramíneas (poáceas – por exemplo milho) são sempre
desejadas, visando aumentar a sinergia entre essas famílias
de plantas e diminuir a pressão de doenças e pragas, além de

sua exploração aumentando a renda do produtor.

O SPD é uma tecnologia que é adaptável a diversas situações

escala, que usam maior volume de insumos, aos de menor


escala, de cunho familiar, e que praticam uma agricultura com
uso de menor quantidade de insumos.

No início do SPD, recomenda-se a utilização de plantas que


gerem alta quantidade de resteva e palha, visando acelerar o
processo de consolidação do sistema. Para tal, as plantas com

em gramíneas (plantas C4), são preferíveis.

Escolha das plantas de cobertura

Plantas de cobertura representam um papel de suma importância


para o pleno funcionamento do Sistema Plantio Direto (SPD),
enquanto sistema conservacionista e sustentável de produção
agrícola.

O principal objetivo é manter sempre que possível o solo coberto,


seja pela cobertura viva ou morta. Apesar das vantagens de uso
delas na ciclagem de nutrientes (uso de leguminosas diminuem
a necessidade de nitrogênio mineral na lavoura), na redução
de insetos pragas e doenças, na diminuição da população de
80 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

nematoides, no controle de perdas de solo e fertilizantes por


erosão, no aumento da umidade do solo em períodos secos,
as plantas de cobertura são ainda pouco exploradas pelos
produtores.

Em algumas condições em que estratégias de sucessão e rotações


de culturas são bem planejadas e executadas, com presença
constante de palhada e cobertura viva sobre o solo, as plantas de
cobertura podem não ser necessárias. Principalmente quando as
lavouras de exploração econômicas ocupam e protegem o solo
durante todo o ano. Entretanto, esta não é a realidade da maioria
dos produtores rurais no Brasil, de norte a sul.

A escolha adequada da planta de cobertura, para períodos sem


exploração do solo, é fundamental e varia de região para região.
A inadequada escolha das plantas de cobertura pode gerar
prejuízos para o produtor, pois esta pode se alastrar no campo,
tornando-se uma planta invasora (indesejável), ou propiciar
a disseminação de pragas e doenças. No melhor dos casos,
pode simplesmente gerar despesas com sua implantação, sem
alcançar o objetivo maior que é a sustentabilidade, ajudando o
sistema a produzir mais com menos insumos.

de ciclagem de nutrientes que são chamadas de bombas de


nutrientes. Poucos produtores têm contabilizado os ganhos
oriundos da semeadura de plantas de cobertura na economia com
fertilizantes e mesmo de herbicidas, pela supressão que estas
proporcionam sobre as plantas invasoras. A escolha adequada

positivos aos produtores (Aker et al., 2016). Para que as plantas


Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 81

devem ser tomados (Quadro 2).

No momento de selecionar a espécie, o produtor deve responder


às seguintes perguntas:

Há necessidade de inserir no sistema plantas para geração de


cobertura viva ou morta?

as formas de manejo dela (herbicidas ou outros controles


disponíveis)?

Quanto de biomassa seca a planta fornece nas suas condições?


Acima de 7 toneladas de matéria seca por hectare?

A espécie é hospedeira alternativa de pragas, insetos ou


doenças?

A espécie produz semente que, se colhida, poderá ser utilizada


na próxima safra ou tem sementes de baixo custo?

Existem informações sobre efeitos alelopáticos negativos da


planta sobre as culturas de sucessão e rotação?

De posse destas informações, o produtor poderá se planejar


adequadamente e implantar, se oportuno, esta importante
tecnologia do Sistema Plantio Direto.
82 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Tabela 2.
de cobertura.
Oportunidades
Aumento da produção de biomassa
Proteção adicional contra erosão do solo. pode representar custos adicionais

Pode ser fonte de alimento e hos-


Proporciona alimento e proteção para or- pedeira alternativa de insetos
ganismos (micro, meso e macrobiota) do pragas e doenças, aumentando
solo. a população desses nos plantios
subsequentes.
Proporção adequada de carbono e nitrogê- Alta relação C/N pode proporcionar
nio na palha (relação C/N) e teor de lignina -
adequados para manter cobertura durante gênio nas plantas pela imobilização
período seco. do nutriente.
Liberação do nitrogênio precisa
Aumento do aporte de nitrogênio no agro-
ocorrer de forma sincronizada com
ecossistema, diminuindo a necessidade de
a necessidade das culturas de ve-
fertilizantes nitrogenados na safra.
rão.
Uso de sementes de qualidade
Efeito alelopático e competição sobre as
sem contaminação para dissemina-
plantas daninhas.
ção de plantas daninhas.
Aumento da matéria orgânica no solo, di-
Efeito alelopático negativo sobre as
compactação dos solos pela ação de raí- culturas principais de safra/verão.
zes.
Macroporos podem proporcionar
maior lixiviação de nitratos, agro-
e da aeração pelo aumento da porosidade químicos pela percolação da água
do solo por meio do sistema radicular em do solo para lençóis freáticos ou
decomposição. zonas fora do alcance das raízes
das plantas.
Aumento da proteção contra raios solares,
Aumento de microclima propício
diminuindo calor no solo e oxidação da ma-
para certos tipos de microrganis-
téria orgânica do solo, melhorando a ativi-
mos patógenos.
dade microbiana do solo.
Pode prover além da cobertura viva e mor-
Exige maior capacidade gerencial e
ta, alimento para animais e humanos, per-
administrativa do produtor rural ao
mitindo a integração de atividades tal como
introduzir novas atividades no ca-
o ILPF (Integração Lavoura Pecuária Flo-
lendário agrícola.
resta).
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 83

Em solos arenosos a utilização de palhada em quantidade e de


alta recalcitrância (resistência à deterioração) tem proporcionado
condições adequadas de cultivo de soja e outras culturas. Ao
contrário de condições de teores médio e alto de argila no solo
(Kluthcouski et al., 2000) faltam ainda estudos de longa duração

solos arenosos, o que prejudica a indicação de boas práticas


agronômicas visando à sustentabilidade da atividade. Dentre
plantas que têm gerado resultados promissores nessas condições
pode-se citar o milheto e as braquiárias.

Semeadura

é preponderante para o alcance de produtividades ótimas e da


sustentabilidade de área conduzidas sob SPD.

velocidade de germinação e emergência superior, garantindo o


rápido estabelecimento de uma lavoura. Esse ponto é de suma

inerente ao sistema, há maior atividade de microrganismos


na superfície do solo e sob a palhada, e que podem promover
ataques às plântulas e mesmo o aparecimento de doenças.

Neste sentido, é sempre desejável, que as sementes apresentem


uma alta qualidade sanitária, evitando-se que haja inclusive a
entrada de patógenos nas áreas sob SPD. Algumas doenças
que são transmitidas por sementes podem representar um alto
impacto econômico para o seu controle e ainda gerar quebras

inviabilizar áreas inteiras, uma vez que certos microrganismos


84 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

o seu controle de alto dispêndio ou mesmo antieconômico.

O tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas tem


se apresentado como um forte aliado do produtor para evitar
perdas de produtividades nas lavouras conduzidas sob SPD em
todo o Brasil. Cuidados extras devem ser tomados quando se
manipulam, e mesmo sementes tratadas, com agrotóxicos, pela
alta toxidade de certos produtos para tratamento de sementes,
em especial os inseticidas.

deve-se estar atento para a adequada seleção da cultivar que


será semeada. Recomenda-se o uso de materiais adaptados para
as condições de solo, clima e época de semeadura (Passos et al.,
2015). A escolha de uma cultivar adaptada é um processo que não
exige normalmente custos extras e que pode agregar tecnologia
ao sistema, com ganhos de produtividade ou evitando-se perdas
no rendimento do sistema. Como exemplo, podemos citar o

doenças e pragas locais e o uso de transgênicos, que apresentem

herbicidas. Neste último caso, esse atributo pode contribuir para


o manejo de um dos grandes problemas da agricultura que é o
manejo adequado de plantas daninhas.

quantidades de palhada sob o solo. O objetivo é que haja um


contato apropriado entre as sementes e o solo e não da semente
com a palha, como representado na Figura 4.
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 85

Figura 4. Adequado processo de posicionamento da semente no


solo em sistema com presença de palhada (imagem inferior) e
semente sem contato adequado com solo (imagem superior).

Como boa prática, recomenda-se que a dessecação, ou outro


manejo visando matar as plantas de cobertura, seja feita com
antecedência recomendada para cada sistema, considerando o
local e a planta de cobertura (Nascente; Crusciol, 2012). Sabe-
se, por exemplo, que algumas braquiárias, quando geram alta
biomassa e são dessecadas muito próximas da data de semeadura
da soja, podem gerar perdas consistentes de produtividade
na soja. Nesses casos, recomenda-se a dessecação com no
mínimo 30 dias antes da semeadura da cultura principal. Para
outras culturas essa prática também é importante. Dessa forma
a cobertura morta não representa um impedimento físico à
emergência das sementes e estabelecimento da lavoura (Figura
5).
86 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Muitos produtores têm realizado o que se chama de adubação


antecipada, visando aumentar o rendimento operacional no
momento da semeadura da cultura principal. Essa prática não
é recomendada em todas as situações e pode gerar prejuízos

há um regime bem distribuído de precipitação. A utilização


de semeadoras-adubadoras tem representado um avanço
tecnológico para o SPD, uma vez que, em somente uma
operação, realiza-se a adubação de semeadura (plantio) e a
própria semeadura.

Figura 5. Milho semeado em palhada de Brachiaria brizantha


cultivar Piatã em SPD.
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 87

Recomenda-se realizar a rotação de cultivares quanto ao aspecto

pragas resistentes, assim como o escalonamento de semeadura

do uso do parque de máquinas e pessoal na propriedade.

Maquinário

O maquinário deve ser próprio ou adaptado para as condições


intrínsecas do SPD. Deve haver um dimensionamento entre a
capacidade operacional e a área a ser cultivada, para que não
haja falta ou sobrecarga de equipamentos e pessoas. No Brasil,
já há produtores rurais que apresentam maquinários em sua
propriedade que são capazes de semear dezenas de milhares
de hectares em apenas um dia, em condições ótimas de clima e
solo, o que demonstra a importância de se investir em qualidade
operacional.

Atualmente muitas propriedades têm optado por terceirizar


grande parte das operações e isto pode representar uma

dispêndio inicial pode representar um alto impacto na saúde

caixa e rentabilidade.

Ademais, nessas situações, é esperado que haja uma equipe


especializada na operação de maquinários e que esses sejam
modelos atualizados, que muitas vezes geram benefícios em
razão da alta tecnologia que é incorporada nos equipamentos.
88 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Semeadora adubadora
As operações básicas são de corte de palha, abertura de berço e
colocação da semente, aplicação do fertilizante e compactação do
sulco de semeadura. Para tal e visando à adequada germinação e
emergência das sementes, e dessa forma o pleno estabelecimento
da lavoura, a semeadora para SPD deve ser capaz de:

de palhada de forma a não embuchar.

- Promover um contato apropriado da semente com o solo (sem


presença de palha, bolhas de ar e contato direto com fertilizantes).

- Ter capacidade de operar em condições de solo não friável.

- Apresentar alta singulação evitando falhas e duplas garantindo


uma boa plantabilidade.

- Aplicar fertilizante ao lado e abaixo da semente em quantidades


adequadas.

- Fechar e compactar levemente a linha de semeadura.

Roda compactadora

Deve compactar apropriadamente as sementes. A indústria já

maquinários para lançamento em futuro breve. Com o advento


dos sistemas de suporte à localização (GPS) muitas ferramentas
têm sido desenvolvidas, junto com sensores auxiliares para
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 89

melhorar a distribuição de sementes e fertilizantes. A distribuição


de sementes em semeadoras tem se dado por sistemas de discos
perfurados e pneumáticos. A regulagem por discos depende

correto do disco e sistemas de engrenagens motoras e movidas.

Regulagem de semeadoras

A regulagem das semeadoras deve ocorrer a cada safra e a cada


mudança de sementes, o que pode ser necessário pela mudança
de uma área de semeadura para outra. Considerando-se semea-
doras tradicionais, a escolha do disco é primordial para o suces-
so dessa importante etapa.

Após a escolha do disco e sua montagem na caixa de sementes


da semeadora, deve-se realizar a regulagem das engrenagens da
semeadora para que a densidade de semeadura ocorra conforme
o preconizado para cada caso e cultivar escolhida.

Deve-se sempre considerar a patinagem que ocorre em condições


de campo, principalmente onde há solos mais úmidos e argilosos,
o que gera subestimativas no “caimento” das sementes. Todos
esses cuidados devem gerar uma plantabilidade adequada
que é resultado de uma apropriada deposição das sementes e

desempenho da lavoura (Figura 6).


90 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Figura 6. Milho semeado em


palhada de Brachiaria brizantha
cultivar Piatã em SPD com
excelente singulação.

Adubação de sistemas
A adubação deve considerar os sistemas de produção adotados
e condições de solos locais, bem como a expectativa de
produtividade considerando o balanço de nutrientes (reposição
de exportações e perdas – nutrientes disponíveis no solo e
palhada) com foco no manejo integrado de nutrientes (Cerri et
al., 2010).

As plantas de cobertura são uma parte importante no sistema


no que tange ao manejo integrado de nutrientes em sistemas
mais complexos. A utilização da adubação verde é uma
estratégia visando compor maior pool de nutrientes no sistema,
especialmente na fase de construção inicial da fertilidade do
solo. Para tal, deve-se considerar sempre o potencial do uso de
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 91

leguminosas para incrementar o aporte de nitrogênio no sistema


(Plaza-Bonilla et al., 2016).

Outras promovem uma maior ciclagem de potássio no sistema,


tal como as braquiárias que ainda melhoram, especialmente em
sistemas tendendo para a consolidação, maior diversidade de

também, para o nitrogênio, a contribuição do processo de


inoculação, que na soja e algumas outras culturas deve ser feito
anualmente e que pode ser afetado pelas condições de palhada.
Em algumas condições locais é comum observar uma clorose
inicial em plântulas e plantas jovens de soja (amarelecimento de
folhas) muitas vezes atribuída à presença, quantidade e qualidade
da palhada. Não se deve usar adubação mineral considerando
esse fenômeno, pois geralmente aplicações de nitrogênio
mineral são antieconômicas.

Deve-se atentar também para a necessidade de aplicação de


manganês e outro micronutrientes catiônicos na soja em razão
de problemas de supercalagem em superfície em SPD.

Fitossanidade (daninhas, doenças,


insetos e outros)

Neste tema, a rotação de culturas demonstra sua maior


importância, ao gerar alternância de vegetação viva, diferentes
palhadas e condições microclimáticas sob o solo e dossel, quebra
de pontes verdes, dentre outros mecanismos que reduzem os

rotação de cultura não deve ser realizada preferencialmente de


92 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

forma reativa, mas sim de forma planejada e dentro das mais


diversas possibilidades de sistemas de produção preconizados
pela pesquisa agropecuária (Shahzad et al., 2016; Vargas et al.,
2017).

Doenças

A presença de palha e o não revolvimento do solo geram

O ambiente com a presença de restos culturais viabiliza e

a sobrevivência e ciclo de vida dependem da presença de matéria


orgânica no solo, tal como a palhada, por exemplo) que podem

lavoura é baseado nos fatores patógeno, plantas hospedeiras e


ambiente (Figura 7).

Figura 7. O triângulo da doença.


Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 93

em lavouras de soja e milho são o mofo-branco (Sclerotinea


sclerotiorum), fusariose (Fusarium oxysporum) e a rizoctonia
(Rhizoctonia solani).

Por outro lado, a presença de palhada pode representar


uma estratégia de diminuição de doenças como a mela
(Thanatephorus cucumeris (Frank) Donk). A palhada, nesse
caso, é uma forma de viabilizar o cultivo do feijoeiro, uma vez
que o controle químico torna o cultivo do feijoeiro, em algumas
regiões de alta temperatura e precipitação, praticamente inviável
economicamente pela agressividade do patógeno.

Uma estratégia para contornar problemas de doenças é a


utilização de cultivares que apresentem resistência e tolerância

programas de melhoramento têm se atentando para este fato e


obtido relativo êxito na obtenção de fontes de resistência.

Insetos-pragas

Similarmente como nos casos das doenças, a presença de

muito do quão complexos e sinérgicos são os sistemas de


produção, principalmente pela construção de sistemas de rotação
e sucessão de culturas, que favoreçam uma maior diversidade de
insetos na lavoura. Esse raciocínio segue a lógica da resiliência
ambiental, na qual as espécies de insetos se autorregulam na
lavoura e em ecossistemas naturais, não promovendo o início de
surtos de insetos pragas (Figura 8).
94 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Figura 8. Sinais de ataque da Spodoptera frugiperda na cultura


do milho.

Plantas daninhas

supressor (alelopático) sobre as plantas daninhas (Figura 9).

Deve-se dar atenção à dinâmica do banco de sementes em SPD,


uma vez que a perda do momento adequado (timing) do controle
de plantas daninhas pode permitir a formação e o incremento do
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 95

banco de sementes e gerar prejuízos em razão da complexidade


de controle, pois não há o tradicional revolvimento da leiva como
estratégia de controle (Vargas et al., 2017).

Figura 9. Feijão de porco, planta de cobertura de alta vigor,


potencial alelopático e adaptação em condições de estresse
hídrico.

A utilização constante de glifosato sozinho ou mesmo combinado


em misturas de tanques para uso da dessecação é tradicional no
SPD. Adicionalmente, o desenvolvimento de cultivares tolerantes
ao mesmo princípio ativo, com aplicação de herbicidas em pós-
emergência tem aumentado a pressão de seleção de biótipos de
plantas daninhas resistentes (Figura 10).
96 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Figura 10. Leiteira (Euphorbia heterophylla L) resistente em área


recém-aberta para soja na região de Rondônia.

A rotação de princípios ativos na dessecação e aplicações pré e


pós-emergentes é uma estratégia visando contornar o aumento
de biótipos resistentes ao glifosato e outros herbicidas com outros
mecanismos de ação, como os inibidores de ALS (acetolactato
sintase).

Nematoides

As principais espécies encontradas no SPD são os de galha


(Meloidogyne javanica e M. incognita), cisto da soja (Heterodera
glycines) e de lesões das raízes (Pratylenchus brachyurus).
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 97

O uso de crotalárias e outras plantas de cobertura pode


promover um efeito supressor em nematoides do solo (Figura

melhor gestão da atividade. Deve-se atentar para o fator de


reprodução das plantas de cobertura. Nesse sentido, vale ressaltar
a busca de genótipos com menor FR (fator de reprodução) em
diferentes híbridos de milho e outras culturas exploradas.

Figura 11. Crotalárias utilizadas como planta de cobertura e


prática de manejo cultural para nematoides.
98 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

Incêndio na palhada

Deve-se realizar um plano de manejo que englobe prevenção e


combate a incêndios, uma vez que a presença de palhada gera
um depósito de alta capacidade de combustão, de difícil controle
(Figura 12).

Figura 12. Incêndios em palhada em áreas de integração lavoura

(B).

Sistema soja milho

A adoção de sistemas de boas práticas é uma medida de alta

sistemas conservacionistas e mais complexos de manejo do solo.

No Brasil, pode-se citar o programa da ABRASEM (Associação


Brasileira de Sementes) que prevê, dentre outras ações visando
à sustentabilidade técnica e econômica da atividade agrícola, a
manutenção de ferramentas biotecnológicas transgênicas nas
culturas de milho e soja por meio de seis frentes de ação:
Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação 99

Dessecação antecipada

Tratamento de sementes
Adoção de Áreas de Refúgio
Controle de plantas daninhas
Monitoramento de pragas

Ademais, podemos citar o programa 4R do IPNI (International


Plant Nutrition Institute) ou 4C no Brasil e países de língua
portuguesa, que direciona a utilização racional e integrada de
nutrientes em lavouras.

Conclusões

O sistema plantio direto, também chamado de Sistema de


Semeadura Direta, preconiza três princípios que embasam e
caracterizam o sistema e seus benefícios:

1. Baixo revolvimento do solo

2. Presença de cobertura viva ou morta sobre o solo (palhada)

3. Rotação de culturas

Sistemas que apresentem sucessão de culturas, como soja


na safra e milho na safrinha, ou trigo ou outra cultura, não
caracterizam um sistema plantio direto essencialmente.

Um importante aspecto para a obtenção de todos os benefícios


oriundos do sistema refere-se ao planejamento e à capacitação
dos atores envolvidos, pois é um sistema que exige mais
100 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação

conhecimento pela sua complexidade, com inserção de rotação


de cultura, plantas de cobertura, entre outros, havendo a premissa
de ser sustentável e rentável economicamente.

posteriormente as camadas superiores sejam a principal área


de manejo do produtor, uma vez que não se preconiza mais o
revolvimento do solo.

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