Aula 04

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AULA 4

MICROAGULHAMENTO COM
ASSOCIAÇÕES COSMÉTICAS

Prof.ª Caroline Dadalt


TEMA 1 – ACNE

A acne é uma doença crônica que afeta os indivíduos em todas as etapas


da vida e não somente na adolescência, como indica a crença popular. Ela tem o
tempo de duração prolongado, com recidivas frequentes, bem como apresenta
diferentes graus de manifestação que causam dor e desconforto, com impactos
psicológicos e sociais aos afetados que enfrentam o risco de formarem cicatrizes.
Existem quatro principais causas para o surgimento da acne: hipersecreção
sebácea, liberação de mediadores de inflamação na pele, problemas no processo
de queratinização folicular e colonização pelo Propionibacterium acnes.

1.1 Hipersecreção sebácea

A glândula sebácea é considerada pluricelular e exócrina por liberar seu


conteúdo na superfície da epiderme. Sebo é o nome dado à secreção produzida
por essa glândula, composto por glicerídeos neutros (triglicerídeos), ácidos graxos
livres e ésteres de colesterol.
Em relação a suas partes, podem ser classificadas como acinosa, em
decorrência da porção secretora ser arredondada e ramificada, na qual as partes
secretoras estão separadas uma das outras em lóbulos, e simples, já que o ducto
condutor não se divide. Portanto, ela é uma glândula acinosa ramificada simples
(Figura 1). Em relação à forma de secreção, ela é considerada holócrina, pois toda
a célula é liberada no ducto excretor, por isso a glândula sebácea é formada por
células germinativas localizadas perifericamente, que se diferenciam em
sebócitos, células cheias de conteúdos lipídicos, que ao serem secretadas
formam o sebo.

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Figura 1 – Porção secretora e condutora de uma de uma glândula sebácea

Crédito: W.Y. Sunshine/Shutterstock.

As glândulas sebáceas, na maioria dos casos, estão associadas a um


folículo piloso. O ducto excretor é anexado superiormente ao músculo eretor do
pelo. Entretanto, nas regiões do lábio e mucosas, o ducto abre-se diretamente na
superfície da pele e é chamado de grânulos de Fordyce. Nas regiões
palmoplantares, as glândulas sebáceas não estão presentes.
Por estarem associadas ao folículo piloso, elas acabam sendo
inversamente proporcionais ao pelo. Em folículos nos quais o pelo é comprido e
grosso, a glândula tende a ser menor quando comparada aos pelos menores e
mais finos, nos quais a glândula é maior. Esse fato pode ser relacionado à acne
que acomete as regiões da face, tórax e dorso do tronco, local em que as
glândulas são mais numerosas e maiores.
Não existe uma inervação que estimule a produção do sebo nessa
glândula, diferentemente do que acontece em glândulas sudoríparas. A
estimulação dela é hormonal, sendo os hormônios andrógenos os principais
estimuladores da produção de sebo. Como os queratinócitos e os próprios
sebócitos têm enzimas que produzem a testosterona, na acne esses hormônios
acabam estimulando uma produção exagerada de sebo, que acumula no canal do
folículo e na superfície da pele.

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1.2 Processo de queratinização folicular

Na epiderme, os queratinócitos basais se proliferam gerando novas células,


que se diferenciam em corneócitos ao avançarem em direção à superfície. Isso
resulta em uma mudança definitiva na forma e no metabolismo das células,
caracterizada principalmente por acúmulo de queratina em seu interior.
Os corneócitos formam o estrato córneo, última camada da epiderme. Em
razão do processo natural de descamação, essas células se desprendem da
epiderme, caindo no ambiente ao redor. Esse processo acontece em toda a
extensão da pele, inclusive com aqueles localizados ao redor no folículo piloso,
na região conhecida como “infundíbulo”.
Essa região é a porção do folículo piloso que atravessa a epiderme para
terminar no óstio folicular, a abertura pela qual o pelo e o sebo saem em direção
à superfície. Na acne, os queratinócitos que estão no infundíbulo estão com o
processo de descamação alterado, pois começam a se acumular no óstio,
obstruindo-o. Esse acúmulo gera uma lesão no local, chamada de “comedão”, que
pode ser não inflamatório (comedões abertos ou fechados) ou inflamatório, na
forma de pápulas, caso exista a presença de bactérias ele forma uma pústula
(Figura 2).

Figura 2 – Manifestação da acne

Crédito: Yomogi1/Shutterstock.

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1.3 Propionibacterium acnes

Uma bactéria que faz parte da microbiota da pele é gram-positiva e


anaeróbica. O folículo piloso que está com excesso de sebo e com os
queratinócitos obstruindo a liberação desse sebo é um microambiente ideal para
a proliferação dessa bactéria. Ao utilizar as gorduras provenientes do sebo como
fonte de energia, o produto da metabolização pela P. acnes gera ácidos graxos
livres que irritam os queratinócitos infundibulares, o que também estimula a
queratinização e a liberação de mediadores inflamatórios pelos queratinócitos.
Tanto a presença de bactérias em camadas mais profundas do folículo
quanto a liberação de citocinas pelos queratinócitos são um sinal para o
recrutamento de células do sistema imune inato ao local. Essas células, tentando
combater o agente invasor, vão secretar mais citocinas pró-inflamatórias,
iniciando uma cascata de eventos que estimula a formação da acne.
A presença da bactéria e da ativação da resposta imune acaba formando o
comedão inflamatório característico da acne com pus no local, a famosa espinha.

1.4 Quadro inflamatório

Na acne, o processo inflamatório se estende ao longo de todo o folículo


piloso; quando essa estrutura rompe, diversas bactérias, queratinócitos e
moléculas de gordura extravasam para a derme, aumentando a inflamação.
O comprometimento da derme recruta mais células de defesa, como os
neutrófilos e linfócitos T CD4, que também, em uma tentativa de conter o
problema, secretam mais citocinas pró-inflamatórias. Todas essas moléculas
acabam estimulando os sebócitos a produzirem mais sebo, e os queratinócitos a
proliferarem e se diferenciarem, o que só agrava a doença.
Outra característica é que a inflamação estimula a formação de
metaloproteinases (MMPs), enzimas responsáveis por degradar as proteínas
fibrosas da matriz extracelular, o que facilita a ruptura de outros folículos e a acne
a se espalhar pela derme.
A permanência de uma inflamação constante é muito comum em acnes de
graus elevados. Esse quadro causa vermelhidão e inchaço na região afetada, bem
como aumenta a sensibilidade à dor. É comum que, durante esse processo, outros
folículos ao redor sejam afetados aumentando o tamanho da lesão inicial, sem

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falar que normalmente ela inicia em múltiplos lugares. Quando mais área de pele
é acometida pela inflamação, mais elevado é o grau de acne no indivíduo.

TEMA 2 – TIPOS DE CICATRIZES PÓS-ACNE

Na acne, a inflamação ocorre de forma mais severa e mais prolongada do


que em outros tipos de ferimentos. Isso acaba comprometendo a estrutura da pele
e iniciando o processo de reparo celular envolvendo a formação de um tecido de
granulação, composto principalmente por colágeno do tipo 3. Assim como no
processo de reparo tecidual, a última fase é a de remodelamento na qual esse
colágeno do tipo 3 vai ser substituído por colágeno do tipo 1 sem, contudo, voltar
a ter a forma anterior, formando uma cicatriz.
Nessa fase de remodelamento, fibroblastos e queratinócitos sintetizam as
MMPs e os seus inibidores os TIMPS (TIMPS do inglês, Tissue inhibitors of
metalloproteinase). O desequilíbrio nas quantidades dessas moléculas promove
a formação de cicatrizes atróficas, quando resulta em menos deposição de
colágeno, ou em cicatrizes hipertróficas e queloides quando tem mais deposição
do que deveria, e ambas podem acontecer após a fase inflamatória acabar em um
quadro de acne.

2.1 Cicatrizes atróficas

Um tecido formado pelo processo de reparo tecidual que apresentou menor


deposição de colágeno do que deveria ocasionar a formação de uma cicatriz
atrófica. Nela, o novo tecido forma uma depressão quando comparado à pele
normal ao seu redor. Essa cicatriz é a mais comum de se formar após o quadro
de acne. Ela pode ser dividida em três subtipos: ice pick (a mais comum) boxcar
e rolling (Figura 3).

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Figura 3 – Subtipos de cicatrizes atróficas

Crédito: Dee-sign/Shutterstock.

A icepick é a cicatriz atrófica mais estreita e profunda. A cicatriz em rolling


é formada quando o tecido fibrótico traciona a superfície para baixo, pois estão
ancorados na derme. Essa cicatriz não é profunda, mas é mais larga do que a ice
pick. Por último, a boxcar, com bordas bem delimitadas, pode ser profunda ou
superficial, em um formato de “V” ou de “U”.

2.2 Cicatriz hipertrófica e queloides

Quando há excesso de deposição de colágeno, associado com a


diminuição na atividade das colagenases, como as MPPs no tecido de granulação,
as cicatrizes hipertróficas e o queloide são formados.
A cicatriz hipertrófica é uma estrutura elevada, rosada e firme formada por
um conjunto de fibras de colágeno altamente condensadas, com um aspecto
irregular e opaco. Essa cicatriz permanece nas fronteiras da lesão inicial.
O queloide tem uma coloração vermelha-arroxeada, que forma pápulas e
nódulos. Também é formada por uma estrutura de colágeno altamente
condensada e acelulada. Se eleva do tecido, entretanto, sua principal diferença
com a cicatriz hipertrófica é que o queloide não fica nas bordas da lesão,
crescendo e se expandindo na superfície da pele (Figura 4).
Esses tipos de cicatrizes são mais comuns em indivíduos de fototipos de
Fitzpatrick mais altos, os fototipos V e VI, mas podem acontecer com pessoas de
quaisquer fototipos, e o tronco é a região do corpo mais afetada.

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Figura 4 – Cicatriz hipertrófica e queloide

Créditos: Isabel Eve/Shutterstock; Isabel Eve/Shutterstock.

TEMA 3 – MICROAGULHAMENTO NO TRATAMENTO DE CICATRIZES DE


ACNE

Em razão do dano controlado no tecido, a liberação de fatores de


crescimento e o estímulo para a síntese de novas fibras da matriz extracelular na
derme, estudos foram publicados associando o microagulhamento às cicatrizes
de acne. Esses estudos ainda associam ao microagulhamento a aplicação de
ativos que visam auxiliar na recuperação da pele.
A acne é uma doença que afeta muitas pessoas e que, ao final da fase
inflamatória, deixa cicatrizes que impactam na estética, no psicológico e no social
de quem sofre com essa disfunção. Ainda não existe uma padronização no
tratamento dessas cicatrizes, sendo usados procedimentos como: técnicas
cirúrgicas subcisão, peelings químicos, dermoabrasão, lasers fracionados e
preenchedores. O microagulhamento também é uma opção de tratamento e, por
isso, os estudos descritos a seguir ajudam a compreender melhor os efeitos e
resultados que esse procedimento pode trazer a pacientes com cicatrizes de acne.

3.1 Experimento I

Um ensaio clínico duplo cego e randomizado foi realizado por Costa e


colaboradores, em 2021. Inicialmente 30 pacientes que apresentavam diferentes
graus de cicatriz de acne foram selecionados, porém, ao final do estudo, apenas
28 restaram. Os voluntários foram divididos em dois grupos: o grupo 1 recebeu
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apenas o microagulhamento, e o grupo 2 recebeu o microagulhamento mais o
fator de crescimento epidérmico (EGF do inglês, epidermal growth factor). A idade
variava entre 18 e 45 anos, sendo os fototipos de Fitzpatrick de I ao V, com ambos
os sexos participando.
Ambos os grupos realizaram duas sessões de microagulhamento, com o
roller de dois milímetros de comprimento de agulha. O intervalo entre as sessões
foi de 30 dias.
Para a avaliação foi usada a classificação global de acne pelo método
Goodman e Baron, que atribui uma pontuação às cicatrizes de acne,
classificando-as em quatro graus dependendo dos pontos finais. O grau um é
cicatriz mínima, grau dois é leve, o grau três é moderado e o grau quatro é grave.
Inicialmente, dos 28 participantes, 2 foram classificados como grau dois e 26 como
grau três, e, 90 dias após a primeira sessão (três meses após o início do
tratamento), 10 pacientes apresentaram grau dois e 18 o grau três. Apesar da
melhora de alguns pacientes, não houve uma diferença significativa entre o grupo
que recebeu o fator de crescimento e o grupo que não recebeu, ou ainda, entre
as melhoras do antes e depois.
Nos questionários de autoavaliação, se os próprios pacientes perceberam
em si uma melhora, estes revelaram que houve melhora, porém ela não aconteceu
de forma significativa.
Os autores discutem no artigo que uma melhora global na cicatriz de acne
aconteceu, apesar de essa melhora não ser expressiva. A qualidade da pele dos
pacientes melhorou em relação à textura depois dos procedimentos. Eles
escolheram usar o EGF em razão de suas propriedades de suprimir a lipogênese
nos sebócitos e, consequentemente, reduzir a produção sebácea. Como é anti-
inflamatório, ele consegue induzir a proliferação dos queratinócitos na camada
basal e regular as citocinas que essas células produzem, em destaque a redução
da expressão do fator como TGF-beta 1, conhecido por ser pró-fibrótico.
Em razão de suas propriedades, o EGF era uma ótima opção como ativo a
ser associado no microagulhamento, o que resultou em uma melhora discreta das
cicatrizes do tipo ice pick, com uma superficialização de suas profundidades.

3.2 Experimento II

Outro experimento realizado por Kalil e colaboradores (2015) analisou a


eficácia no tratamento das cicatrizes de acne atróficas com o microagulhamento

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associado a fatores de crescimento, pois não existe um tratamento padronizado
contra essa disfunção estética.
O experimento teve a participação de 10 indivíduos, entre 20 e 40 anos de
ambos os sexos. Foram realizadas três sessões de microagulhamento, com
intervalos entre um e dois meses entre as sessões, dependendo do paciente. O
equipamento utilizado foi o roller com agulhas de dois milímetros de comprimento,
e, logo em seguida, foi aplicada uma máscara gel contendo fatores de
crescimento, detalhada na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Informação de ativos e concentrações utilizadas no experimento

Ativo Concentração
EGF – Fator de crescimento epidermal 1%
IGF – Fator de crescimento insulínico 1%
TGFβ3 – Fator de crescimento transformador 1%
Ácido hialurônico 0,5%
Ácido tranexâmico 0,5%
Vitamina E 2%
Portulaca extract 1%
Máscara gel qsp (quantidade suficiente para) 30 g
Fonte: Kalil et al., 2015.

A avaliação dos resultados contou com fotografias, análise tridimensional


da pele (que analisou relevo, melanina e hemoglobina) e a biópsia da pele dos
pacientes. Todos foram feitos antes da primeira sessão e repetidos após a última
sessão.
Os resultados nas fotografias digitais revelam uma melhora global da pele,
com a melhora na textura e suavização de algumas cicatrizes atróficas, com
exceção das cicatrizes do tipo ice pick.
A análise tridimensional da face mostrou que as cicatrizes nas áreas
analisadas tiveram redução no relevo, e 26,2% das cicatrizes diminuíram a
profundidade. Em relação à melanina, se observou uma leve redução de 3,7%,
depois do microagulhamento. A concentração de hemoglobina aumentou em
22%, indicando uma neovascularização na área tratada.
Nas biópsias da pele, nenhuma diferença foi observada.

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Os autores concluem que os resultados indicaram angiogênese no local
tratado com melhora discreta nas cicatrizes atróficas, com exceção das cicatrizes
do tipo ice pick.

3.3 Experimento 3

No Vietnã, foi realizado o tratamento de 31 pacientes que sofriam de cicatriz


de acne e, posteriormente Minh e colaboradores, em 2019, publicaram o estudo.
Entre os voluntários existiam pessoas de ambos os sexos, cerca de 90%
delas apresentavam cicatrizes do tipo rolling e ice pick, e 65% cicatrizes box car.
Na escala de Goodman e Baron, os pacientes foram classificados entre 2 e 4.
Durante três meses, a cada semana foram realizados microagulhamentos
com um aparelho de roller, contendo microagulhas de um milímetro e meio de
comprimento.
Os pacientes foram avaliados em quatro momentos, no início do
tratamento, no final, depois da última sessão, e um e dois meses após a última
sessão.
Na escala de Goodman e Baron, a média do score dos pacientes
inicialmente tinha sido 3.29. Ao final do tratamento reduziu para 2.23. Um mês
depois do final do tratamento, foi para 1,93 e dois meses após para 1.77.
Um equipamento de análise facial também foi usado para avaliar a
rugosidade e pontos de hiperpigmentação nos mesmos períodos descritos
anteriormente. Ambos os parâmetros melhoraram após o microagulhamento de
forma significativa.
O experimento conduzido pelos autores se mostrou efetivo e seguro para
o tratamento de cicatrizes de acne.

TEMA 4 – TRATAMENTO DE CICATRIZES INESTÉTICAS

Lesões na pele podem ocasionar o surgimento de cicatrizes inestéticas


(Figura 5). O mecanismo de reparo tecidual após a fase inflamatória forma um
tecido diferente do encontrado anteriormente, e esse novo tecido pode apresentar
variações em coloração, textura, elasticidade e uniformidade da superfície
cutânea.
O microagulhamento pode ser uma opção de tratamento, inclusive nos
primeiros casos descritos da indução percutânea de colágeno com a utilização de

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agulhas, por Orentreich e Orentreich, em 1995; essa técnica foi aplicada para a
correção de uma cicatriz na pele do paciente. O resultado foi promissor e os
autores chamaram o procedimento de “subcisão”.
A presença de cicatrizes, especialmente em áreas descobertas, afeta
psicologicamente os indivíduos, especialmente se elas foram obtidas em eventos
traumáticos.
Lima (2017) realizou o microagulhamento com um roller de microagulhas
com dois milímetros e meio de comprimento. Ele atendeu nove pacientes que
tinham cicatrizes em função de traumas automobilísticos, realizando apenas uma
sessão, sem a associação com ativos no momento do procedimento.
A idade dos pacientes variou entre 23 e 41 anos, e eles se enquadravam
entre os fototipos II e IV; uma sessão foi realizada. Após três meses, foram tiradas
fotos para comparação dos resultados. No critério de avaliação, que categorizada
em “muito bom”, “bom”, “razoável” e “ruim”, 55% dos pacientes tiveram um
resultado “muito bom”, enquanto 45% um resultado “bom”. Todos os pacientes
relataram estarem satisfeitos com o resultado.

Figura 5 – Cicatriz inestética

Crédito: 9Thanaphon/Shutterstock.

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TEMA 5 – ESTRIAS

As estrias são uma disfunção estética que acomete homens e mulheres em


várias idades e causam desconforto estético e psicológico a quem é afetado por
essa disfunção. De causas genéticas e hormonais, sua fisiopatologia ainda não é
completamente compreendida. Assim como outros problemas estéticos, não
existe uma padronização no tratamento e sim vários possíveis para reverter esse
quadro. Nesse aspecto, o microagulhamento surge como uma opção de
tratamento para as estrias.

5.1 Fisiopatologia

A elasticidade que um material tem é a capacidade de ele voltar ao seu


estado original após ser distendido. Tecidos orgânicos também apresentam
limitada elasticidade, que existe em razão da presença da fibra elastina na matriz
extracelular na derme. Contudo, quando acontece um estiramento excessivo da
derme, associada a uma reparação tecidual defeituosa, pode surgir um novo
tecido chamado estria.
As estrias são cicatrizes lineares na derme, nas quais as fibras elásticas
não resistiram ao estiramento sofrido e arrebentaram. Inicialmente apresentam
uma estrutura avermelhada, que vai arroxeando até se tornar branca, ou albas
(nacaradas). A formação da estria acontece em uma tentativa da pele em
recuperar o tecido lesionado sem, contudo, voltar à sua forma original.
As causas para o surgimento das estrias estão relacionadas a fatores
genéticos, hormonais e ambientais. Durante a adolescência, quando ocorre o
rápido crescimento associado às alterações hormonais, estrias podem aparecer
nas costas, coxas, glúteos e panturrilhas (Figura 6).

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Figura 6 – Estrias nacaradas no glúteo

Crédito: SrideeStudio/Shutterstock.

Indivíduos que sofrem com obesidade, ganho de massa muscular muito


rápido e aqueles que ganham e perdem peso em um curto espaço de tempo
também podem manifestar a presença de estrias em diferentes partes do corpo.
Mulheres grávidas, em seu terceiro trimestre, têm grandes chances de
apresentarem estrias na região abdominal (Figura 7) e seios. O uso de corticoides,
seja oral ou tópico, e pessoas com a síndrome de Cushing manifestam o
surgimento de estrias, revelando como esse hormônio interfere na formação
dessa disfunção. Casos idiopáticos na formação da estria também foram
relatados.

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Figura 7 – Estrias vermelhas em região abdominal

Crédito: Baipooh/Shutterstock.

Após o estiramento inicial, o organismo tenta restaurar a pele danificada e,


por motivos não muito compreendidos, essa restauração não consegue
restabelecer o tecido original, resultando no surgimento dessa cicatriz.
Na estria, inicialmente mastócitos liberam seus grânulos citoplasmáticos
recrutando macrófagos e linfócitos ao local, iniciando uma inflamação, porém, à
medida que a estria vai se consolidando, se forma uma matriz extracelular (MEC)
desorganizada com feixes de colágeno alinhados perpendicularmente à
superfície, e uma epiderme atrofiada. Na junção derme-epiderme, formada por
cristas epidérmicas e papilas dérmicas, ambas as estruturas estão ausentes; os
melanócitos não são encontrados. Os fibroblastos isolados de estrias têm a
produção de colágeno tipo 1 e 3 e de fibronectina reduzidas, indicando uma
alteração no metabolismo dessa célula. Mastócitos não são mais vistos e estrias
não tem a unidade pilossebácea.

5.2 Experimento I

Na Coreia do Sul, Park e colaboradores, em 2012, conduziram um estudo


para avaliar a eficácia do microagulhamento no tratamento de estrias. Foram 16
pacientes, 14 mulheres e 2 homens, que participaram do estudo. As idades

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variaram de 19 a 44 anos, com os fototipos de pele III e IV. As áreas do corpo
tratadas foram: nádegas, coxas e abdome, sendo que nesse grupo de pessoas
existiam estrias vermelhas e estrias albas.
O estudo utilizou um roller com agulhas de um milímetro e meio de
comprimento, realizando três sessões, com um intervalo de quatro semanas entre
elas. Nenhum produto foi aplicado em conjunto com o procedimento.
Três métodos avaliativos foram utilizados nesse estudo para qualificar os
resultados do microagulhamento. O primeiro foi a comparação por dois
profissionais da área imparciais, que compararam registros fotográficos feitos
antes da primeira sessão e três meses após a última sessão. Eles tinham que usar
o sistema de classificação indo do 0, sem melhora (0%), passando para 1, melhora
mínima (< 25%), 2, melhora moderada (26-50%), 3, boa melhora (51-75%) até 4,
excelente melhora (76-100%). Nesse sistema, sete pacientes receberam a nota
2; cinco pacientes a nota 3; dois pacientes a nota 4 e dois pacientes a nota 1.
Uma autoavaliação para medir a satisfação dos pacientes foi conduzida,
seis ficaram muito satisfeitos, sete um pouco satisfeitos e dois pacientes
insatisfeitos com os resultados.
Esse estudo também retirou biópsia de cinco pacientes, antes do primeiro
procedimento e três meses após o último. As diferenças das características
histopatológicas do tecido antes e depois do procedimento foram o
engrossamento na epiderme, o aumento de fibras de colágeno e de elastina e a
linearidade nas fibras elásticas.

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REFERÊNCIAS

COSTA, M. A. et al. Microagulhamento e fator de crescimento epidérmico (EGF)


como estratégias para o tratamento de cicatrizes de acne. Surg Cosmet
Dermatol., v. 14, p. e20220068, 2022.

KALIL, C. et al. Tratamento das cicatrizes de acne com a técnica de


microagulhamento e drug delivery. Surg Cosmet Dermatol, v. 7, n. 2, p. 144-148,
2015.

LIMA, E. V. A. Indução percutânea de colágeno com agulhas em cicatrizes após


acidentes automobilísticos: correção cosmética e funcional. Surg Cosmet
Dermatol, v. 9, n. 2, p. 127-129, 2017.

MINH, P. P. T. et al. Microneedling Therapy for Atrophic Acne Scar: Effectiveness


and Safety in Vietnamese Patients. Open Access Maced J Med Sci, v. 7, n. 2,
p. 293-297, jan. 2019.

ORENTREICH, D. S.; ORENTREICH, N. Subcutaneous Incisionless (Subcision)


Surgery for the Correction of Depressed Scars and Wrinkles. Dermatol. Surg., v.
21, p. 543-549, 1995.

PARK, K. Y. et al. Treatment of striae distensae using needling therapy: a pilot


study. Dermatol Surg, v. 38, n. 11, p. 1.823-1.828, 2012.

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