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Resenha 03

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Resenha Crítica: “A Metodologia da Economia Positiva" de Milton Friedman

Introdução:

Milton Friedman, um dos economistas mais influentes do século XX, trouxe uma nova
maneira de pensar sobre a economia e sobre como estudá-la. Em seu texto “A Metodologia da
Economia Positiva,” publicado em 1953, Friedman propõe que a economia deve ser estudada
de forma objetiva e científica, ou seja, baseada em observação e fatos, assim como nas
ciências naturais, como a física ou a química. Para ele, isso significa separar a economia em
dois campos: a economia positiva e a economia normativa.

A economia positiva, segundo Friedman, é o estudo daquilo que é real, sem envolver
opiniões ou juízos de valor. Esse tipo de economia busca entender como as coisas funcionam
de fato, sem se preocupar com o que é certo ou errado. Já a economia normativa lida com
ideias sobre o que seria ideal ou desejável – por exemplo, dizer que o governo “deveria”
investir mais em saúde é uma ideia normativa, pois envolve um valor ou opinião pessoal.
Friedman argumenta que essa separação é importante porque, se deixarmos valores e opiniões
influenciarem a economia, corremos o risco de distorcer os resultados e as previsões. Em
outras palavras, ele acredita que a economia deve ser uma ciência exata e objetiva, livre de
influências subjetivas.

Além disso, Friedman apoia-se nas ideias de John Neville Keynes, que também
defendia essa separação entre economia descritiva (positiva) e economia prescritiva
(normativa). Com isso, Friedman quer mostrar que, para a economia ser útil na prática, ela
deve ser capaz de prever o que vai acontecer a partir de hipóteses, que são ideias ou
suposições de como as coisas funcionam. No texto, ele argumenta que uma boa teoria
econômica não precisa ter todos os detalhes certos da realidade, mas sim prever de maneira
confiável o que provavelmente vai acontecer.

Economia Positiva vs. Economia Normativa

Para Friedman, uma ideia central é a diferença entre economia positiva e normativa. A
economia positiva, segundo ele, é o estudo de “o que é” ou “como as coisas realmente
funcionam,” enquanto a economia normativa busca responder “o que deveria ser” ou “o que
seria melhor.” A economia positiva se preocupa em descrever a realidade de maneira precisa,
enquanto a economia normativa envolve opiniões e valores pessoais, que podem interferir na
análise objetiva dos dados.

Por exemplo, um estudo positivo poderia investigar quantas pessoas estão


desempregadas em uma cidade e como isso afeta o consumo de bens. Esse estudo descreve
uma realidade e tenta entender os fatos como eles são. Já um estudo normativo sobre o mesmo
assunto poderia dizer que “o governo deveria criar mais empregos” ou que “as empresas
deveriam contratar mais pessoas” – nesse caso, estamos lidando com opiniões sobre o que
seria bom ou ideal, não com uma descrição objetiva dos fatos.

Friedman acredita que a mistura dessas duas áreas é prejudicial, pois as opiniões
podem influenciar as conclusões de um estudo. Ele defende que a economia positiva, que se
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foca em descrever e prever, é mais segura para guiar as políticas públicas, porque, ao focar
nos fatos, não se deixa influenciar pela opinião ou ideologia de quem faz a análise. Assim, ele
argumenta que devemos sempre distinguir uma análise objetiva, baseada em fatos, de uma
análise subjetiva, baseada em valores.

A Função das Hipóteses e o Teste Empírico

Outro ponto importante que Friedman aborda é o papel das hipóteses na economia.
Uma hipótese é uma suposição ou ideia inicial que os economistas criam para tentar explicar
como algo funciona. Para ele, a função principal de uma hipótese em economia é gerar
previsões que possam ser comparadas com dados observáveis no mundo real. Em outras
palavras, uma hipótese deve ser útil para prever o que provavelmente vai acontecer, e não
necessariamente precisa ser uma descrição exata de cada detalhe da realidade.

Friedman argumenta que uma hipótese não precisa ser literal para ser boa. Ele usa o
exemplo de uma lei da física, onde consideramos que um corpo cai em vácuo, sem resistência
do ar, para facilitar os cálculos. Essa hipótese não representa a realidade exata, mas é útil para
entender o comportamento geral dos corpos em queda. Assim, uma hipótese econômica pode
ser válida e útil mesmo que use simplificações ou suposições irrealistas, desde que permita
prever os resultados com precisão.

Por exemplo, em um modelo econômico, podemos supor que todas as pessoas agem
de maneira racional, pensando sempre no próprio benefício. No mundo real, sabemos que as
pessoas nem sempre agem assim, pois podem tomar decisões emocionais ou influenciadas por
outros fatores. Mesmo assim, essa suposição pode ajudar a prever como as pessoas vão reagir
a uma mudança nos preços, o que torna o modelo útil para a análise econômica.

Realismo dos Pressupostos

Para Friedman, o realismo dos pressupostos – ou seja, o quão próximos da realidade


eles são – não é essencial para uma boa teoria econômica. Ele afirma que os modelos
econômicos, muitas vezes, simplificam a realidade e usam pressupostos “irrealistas,” mas que
isso não tira seu valor, desde que os modelos possam prever corretamente o que acontece na
economia. A ideia é que as teorias econômicas não precisam representar todos os detalhes do
mundo real, mas devem capturar o que é mais importante para ajudar a fazer previsões.

Por exemplo, a teoria de oferta e demanda simplifica muito o funcionamento do


mercado. Na vida real, muitas coisas afetam a oferta e a demanda, mas o modelo básico, que
considera só a relação entre preço e quantidade, já ajuda bastante a entender como os preços
mudam e como as pessoas reagem. Para Friedman, é essa capacidade de prever que torna a
teoria de oferta e demanda valiosa, mesmo sendo uma representação simples da realidade.

Assim, ele defende que os modelos e teorias não precisam ser absolutamente realistas,
mas precisam ser úteis para entender e prever o comportamento econômico em diferentes
situações.

A Hipótese de Seleção Natural no Comportamento das Empresas

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Friedman também aplica a ideia de “seleção natural” para explicar o comportamento
das empresas. Ele argumenta que as empresas que agem “como se” estivessem sempre
buscando o maior lucro possível acabam sobrevivendo e prosperando mais no mercado,
enquanto aquelas que não seguem esse comportamento tendem a desaparecer. Esse processo
de “seleção” faz com que as empresas que permanecem no mercado ajam como se
maximizassem o lucro, mesmo que, na prática, nem sempre calculem suas decisões com tanta
precisão.

Assim, Friedman usa esse exemplo para mostrar que os modelos econômicos podem
usar simplificações e, ainda assim, representar bem o funcionamento do mercado. Mesmo que
nem todos os empresários tomem suas decisões de maneira perfeitamente racional, a maioria
das empresas continua no mercado justamente por agir de forma a maximizar o lucro, e essa
ideia acaba sendo válida para explicar o comportamento econômico.

Contribuições da Abordagem de Friedman

A abordagem de Friedman influenciou muito a forma de pensar a economia e ajudou a


consolidar o uso de métodos quantitativos e matemáticos no estudo econômico. Sua visão
pragmática incentivou os economistas a focarem em hipóteses e previsões que pudessem ser
confirmadas por dados, tornando a economia mais prática e concreta. Esse enfoque também
foi importante para o desenvolvimento de políticas públicas, pois permitiu que elas fossem
baseadas em modelos que ajudam a prever resultados, o que facilitou a aplicação prática das
teorias econômicas.

Friedman contribuiu ao mostrar que modelos mais simples, que focam em previsões,
podem ser mais úteis do que modelos muito complexos. Isso abriu caminho para que a
economia se tornasse uma ciência mais prática, focada em fornecer respostas para problemas
reais.

No entanto, a abordagem de Friedman também recebeu críticas. Muitos economistas


acreditam que dar prioridade à previsão pode ignorar fatores importantes, como aspectos
sociais e psicológicos que também influenciam o comportamento das pessoas. A ideia de que
todos sempre agem de forma racional, por exemplo, pode ser simplista, pois sabemos que
decisões econômicas podem ser influenciadas por emoções, cultura e até pela pressão social.

Outro ponto crítico é a separação que Friedman faz entre economia positiva e
normativa. Na prática, muitos economistas argumentam que é difícil separar totalmente os
fatos das opiniões, pois muitas decisões econômicas têm um impacto social ou moral, o que
exige uma análise que leve em conta valores. Em políticas públicas, por exemplo, decisões
que focam só na eficiência econômica podem ser prejudiciais para a sociedade se não
considerarem as questões éticas e sociais.

Além disso, críticos dizem que os modelos econômicos de Friedman, por serem
simplificados demais, podem não captar a complexidade do comportamento humano. Em
economia, é difícil testar hipóteses como se faz nas ciências naturais, e isso pode
comprometer a exatidão das previsões.

Para entender melhor a visão de Friedman, é útil compará-la com outras abordagens.
Uma delas é a escola behaviorista, que estuda o comportamento econômico humano de forma
mais profunda, levando em conta fatores psicológicos e sociais. Ao contrário de Friedman,
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que enfatiza a racionalidade e a busca por lucro, os economistas behavioristas, como Daniel
Kahneman e Richard Thaler, argumentam que os seres humanos frequentemente tomam
decisões irracionais devido a vieses cognitivos e influências emocionais. Essa perspectiva
sugere que o comportamento econômico é mais complexo e menos previsível do que
Friedman propõe, e que as políticas econômicas precisam levar em conta essas nuances para
serem eficazes.

Outra abordagem relevante é a economia institucional, que se concentra nas


instituições e nas regras que moldam o comportamento econômico. Economistas como
Douglass North argumentam que a economia não pode ser entendida apenas por meio de
modelos matemáticos e previsões, mas que as instituições — como leis, normas sociais e
tradições — desempenham um papel crucial na definição de como os mercados funcionam.
Essa perspectiva critica a abordagem de Friedman, sugerindo que a interação social e as
estruturas institucionais são fundamentais para compreender o comportamento econômico.

Conclusão:
A obra A Metodologia da Economia Positiva, de Milton Friedman, é um marco no
pensamento econômico por propor uma metodologia que prioriza a objetividade e a
previsibilidade, afastando-se de julgamentos de valor. Ao defender uma separação clara entre
economia positiva e normativa, Friedman argumenta que a economia pode e deve ser uma
ciência focada em dados e previsões, livre de influências subjetivas. Essa visão reforçou o uso
de métodos quantitativos e contribuiu para a formulação de políticas econômicas mais
práticas e orientadas a resultados.
Entretanto, as ideias de Friedman não passaram sem contestação. Sua abordagem é
criticada pela ênfase em modelos simplificados, que muitas vezes desconsideram a
complexidade das decisões humanas, influenciadas por fatores psicológicos, sociais e
culturais. Escolas como a economia comportamental e a economia institucional apontam que
a racionalidade pura e o foco excessivo em previsões podem resultar em modelos que falham
em capturar aspectos importantes da realidade, como os impactos das instituições, das normas
sociais e dos vieses cognitivos.
Essas críticas nos lembram que o comportamento econômico não é apenas guiado por
interesses racionais e que a economia deve reconhecer a complexidade e a interdependência
das relações humanas. A metodologia de Friedman trouxe avanços inegáveis, mas também
abriu caminho para debates sobre como a disciplina pode equilibrar a precisão científica com
a inclusão de fatores subjetivos, que também moldam a dinâmica econômica.
Em última análise, a obra de Friedman desafia economistas a pensar criticamente
sobre a natureza da ciência econômica, propondo uma visão prática e baseada em previsões,
mas que talvez precise ser complementada por abordagens que acolham a multiplicidade de
influências que afetam o comportamento econômico. A relevância de sua metodologia está
em sua capacidade de instigar um debate que permanece vivo, refletindo sobre como a
economia pode se tornar uma ciência que, além de previsível, também seja sensível à
complexidade humana e às realidades sociais.

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