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Evangelho de São Marcos

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E V A N GEL H O

DE JESUS CRISTO

SEGUNDO S. MARCOS

INTRODUÇÃO

CAP . 1 - 1 Princípio do Evangelho de Jesus C risto, PJ ega�ão


Filho de Deus. 2 Conforme está escrito no profeta n,;,"pti':i:�.
Isaías : Eis que envio o meu anjo ante a tua presença, o
qual preparará o teu cam inho diante de ti. 3 Voz do q u e
c l a m a no deserto : Preparai o caminho d o Senhor, endi-
reitai as suas veredas. 4 Estava João baptizando no
deserto, e pregando- o baptismo de penitência, para a
remissão dos pecados. 5 E i a ter com ele toda a região
da Judeia e todos os de Jerusalém, e eram baptizados
por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
6 E João andava vestido de pêlo de camelo, e trazia
uma cinta de couro em volta dos rins, e a limentava-se
de gafanhotos e de mel silvestre. E pregava, dizendo :
7 Vem após de m i m quem é mais forte do que eu, ao
qual eu não sou digno de desatar, prostrado em terra,
a correia dos sapatos. 8 Eu tenho-vos baptizado em
água, ele, porém, baptizar-vos-á no Espírito Santo.
9 E aconteceu naqueles dias que Jesus veio de Nazaré Bap tisi;io
(cidade) da Galileia, e foi baptizado por João no Jor- e ��nJ:;��.8
dão. 1 0 E, logo ao sair da água, víu os céus abertos, e
o Espírito Santo que descia e pousava sobre ele em forma
80 S. MARCOS, l, 1 1 - 26

de pomba. 1 1 E ouviu-se dos céus uma voz : Tu és o


meu Filho amado, em ti pus as m inhas complacências.
1 2 E logo o Espírito o impeliu para o deserto.
1 3 E permaneceu no deserto quarenta dias e quarenta
n oites ; e era tentado por Satanás ; e estava com as feras,
e os anjos o serviam.
----
PRI MEIRA PARTE

MINIST�RIO D E JESUS NA GALILEIA

1 - Primeiras obras de Cristo


Começoda 14 E , depois que João foi preso, foi Jesus para a Oa­
g�eJ:.ç�� lileia, pregando o Evangelho do reino de Deus, 1 5 e di­
zendo : Está completo o tempo, e aproxima-se o reino de
Deus ; fazei penitência, e crêde no Evangelho.
Vocação 16 E, passando ao longo do mar da Galileia, viu
ll'r� ��ros
Simão e André, seu i rmão, que lançavam as redes ao
d iscípul os . mar, (pois eram pescadores) . 1 7 E disse-lhes Jesus : Se-
gui-me, e eu vos farei pescadores de homens. 1 8 E ime­
diatamente, deixadas as redes, o segu i ram. 1 9 E, tendo
passado um pouco adiante dal i , viu Tiago, filho de Zebe­
deu, e João, seu i rmão, que estavam também numa barca
consertando as redes ; 20 e chamou-os logo. E eles,
tendo deixado n a barca seu pai Zebedeu com os jorn a­
lei ros, seguiram-no.
Pregação 2 1 E foram a Cafarnaum ; e (Jesus), tendo entrado

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ri�a� ad!fra �: c o;� · a �� � ���tri , o �e �� � ::
nava, como quem tem autoridade, e não como os escribas.
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23 Na sinagoga estava um homem possesso do espí­
rito imundo, o qual exclamou, 2 4 dizendo : Que tens
tu que ver connosco, ó Jesus Nazareno ? Vieste para
nos perder ? Sei quem és, o Santo de Deus. 25 Mas
Jesus o ameaçou, dizendo : Cala-te, e sai desse homem .
26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente, e

CAP. I

22. Não como os escribas. Os escribas baseavam sempre os


seus ensi namentos na autoridade dos mestres antigos. Jesus, porém,
falava em nome próprio, como sendo superior a todos os mestres.
S, MARCOS, I , 27 - 2 8 81

dando u m grande grito, s a i u dele. 27 E ficaram todos


tão admirados, que se interrogavam uns aos outros,
dizendo : Que é isto ? Que nova doutrina é esta ? Ele

Depois que João f o i preso. - MARC., I, 14.

manda com aui:oridade até aos espíritos imundos, e obe­


decem-lhe. 28 E divulgou-se logo a sua fama por toda
a terra da Galileia.
6
82 s. MARCOS, 1 , 29 - I I, 2

Cura da 29 E eles, logo que saíram da sinagoga, foram a casa


sograde
Pedro e de Simão e de André, com Tiago e João. 30 A sogra
de muitos de Simão estava de cama com febre ; e falaram-lhe logo
outros a respeito del a . 3 1 E (Jesus), aproximando-se e toman­
enfermos. do-a pela mão, levantou-a ; e imediatamente · a deixou a
febre, e ela pôs-se a servi-los.
32 De tarde, sendo j á sol posto, traziam-lhe todos
os enfermos e possessos ; 33 e toda a cidade se tinha
juntado diante da porta. 3 4 E curou muitos que se acha­
vam oprimidos com várias doenças, e expeliu m uitos
demónios, e não lhes permitia dizer que o conheciam.
3 5 Levantando-se muito de madrugada, saiu, e foi a
um lugar solitário, e lá fazia oração. 36 E Simão e os
que estavam com ele foram procurá-lo, 37 e, tendo-o
encontrado, disseram-lhe : Todos te procuram. 38 E l e
disse-lhes : Vamos para a s aldeias e cidades vizinhas, a
fim de que eu também lá pregue, pois para isso é que
vim. 3 9 E andava pregando nas sinagogas e por toda
a Gali leia, e expelia os demónios.
Cura do 40 Foi ter com ele um leproso, fazendo-lhe suas
leproso. súplicas, e, pondo-se de j oelhos, disse-lhe : Se queres,
podes limpar-me. 41 E Jesus, compadecido dele, esten­
deu a mão, e, tocando-o, disse-lh e : Quero ; sê limpo.
42 E, tendo dito estas palavras, imediatamente desapare­
ceu dele a lepra, e ficou limpo. 43 E logo o mandou
retirar e, com tom severo, 44 disse-lhe : Guarda-te de o
dizer a alguém, mas vai, mostra-te ao príncipe dos sacer­
dotes, e oferece pela tua purificação o que Moisés orde­
nou, para lhes servir de testemunho. 45 Ele, porém,
ret irando-se, começou a contar e a publicar o sucedido,
de sorte que (Jesus) já não podia entrar descoberta­
mente numa cidade mas ficava fora nos lugares deser­
tos ; e de todas as partes iam ter com ele.

II - Contradições

Cu� q o CAP . I I 1 Passados alguns dias, entrou Jesus outra


:pamlitico.
-

vez em Cafarnaum. 2 E soube-se que ele estava em


casa, e j untou-se muita gente, de modo q ue não cabia
nem mesmo diante da porta ; e ele pregava-lhes a palavra.

35. E lá fazia oração. Jesus mostra-nos com o seu exem,plo


que temos necessidade de recorrer à oração :para obtermoa de
Deus luzes e auxílios.
S. MARCOS, II, 3 - 1 8 83

3 E foram ter com ele, conduzindo u m pa'r a!ítico, que


era transportado por q uatro. 4 E , comó não pudessem
apresentar-lho por causa da m ultidão, descobriram o tecto
pela parte debaixo da qual estava (Jesus); e, tendo feito
uma abertura, desceram o leito, em que jazia o paralítico.
5 Vendo Jesus a , fé daqueles homens, disse ao paralítico :
Filho, são-te perdoados os teus pecados.
6 E estavam ali sentados alguns escribas, o s quais
iam discorrendo nos seus corações : 7 Como fala assim
este homem ? Ele blasfema. Quem pode perdoar os
pecados, senão só Deus ? 8 E Jesus, conhecendo logo
no seu espírito que eles discorriam desta maneira dentro
de s i , disse-lhes : Porque pensais isso nos vossos corações ?
9 O que é mais fácil, dizer ao paralítico : Os teus pecados
te são perdoados ; ou dizer : Levanta-te, toma o teu leito,
e anda? 1 O Ora, para que saibais que o Filho do homem
tem n a Terra poder de perdoar pecados, (disse ao paralí­
tico) : 1 1 Eu te digo : Levanta-te, toma o teu grabato, e
vai para iua casa. 1 2 E imediatamente ele se levantou,
e, tomando o seu grabato, retirou-se à vista de todos, de
maneira q ue todos se admiraram e louvavam a Deus,
dizendo : Nunca tal vimos.
1 3 Foi outra vez para o lado do mar ; e .vinha a Vocação
ele todo o povo, e ele o ensinava. 1 4 Ao passar viu de Levi.
Levi, filho de Alfeu, sentado no telónio, e disse-lhe :
Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 1 5 Aconte­
ceu que, estando (Jesus) sentado à mesa em casa dele,
estavam também à mesa com Jesus e com os seus discí­
pu:os m uitos publicanos e pecadores ; porque havia m uitos
deles que também o seguiam. 1 6 Os escribas e fari­
seus, vendo que Jesus comia com os publicanos e pecado­
res, diziam a seus discípulos : Porque come e bebe o vosso
Mestre com os publicanos e pecadores ? 1 7 Ouvindo isto
Jesus, disse-lhes : Os sãos não têm necessidade de médico,
mas os enfermos ; porque e u não vim chamar os justos,
mas os pecadores.
1 8 Os discípulos de João e os fariseus j ej uavam ; foram O jejum.
pois (ter com Jesus), e disseram-lhe : Porque jejuam os
discípulos de João e os dos fariseus, e não j ej uam os

CAP. II

17. O s sãos . . . Jesus veio chamar os pecadores à penitência,


curando-os assim das suas enfermidades espirituais.
84
------ ---
s. MARCOS, II, 19- I I I, 6

teus discípulos/ 1 9 E Jesus disse-l hes : Podem porven­


tura j ejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo
está com eles ? Todo o tempo que têm consigo o esposo,
não podem j ej uar. 20 Mas virão dias em que lhes será
tirado o esposo ; e então nesses dias jejuarão. 2 1 Nin­
guém cose um remendo de pano cru num vestido velho ;
doutra sorte o remendo novo leva parte do velho, e
torna-se maior a rotura. 22 E ninguém lança vinho
novo em odres velhos ; doutra sorte o vinho fará a rre­
bentar os odres, e entornar-se-á o vinho, e perd er-se-ão
os odres ; mas o vinho novo deve-se l ançar em odres
novos.
Os discl­ 23 E sucedeu outra vez que, cam inhando o Senhor
:pnlos de
Jesus
em dia de sábado, por entre campos de trigo, os seus
colhem discípulos começaram a ir adiante e a colher espigas.
esPigas ao 24 E os fariseus diziam-lhe : Como é que fazem ao sábado
sábad o. o que não é l ícito ? 25 E ele disse-lhes : Nunca lestes o
que fez David, quando se encontrou em necessidade, e
teve fome, ele e os que com ele estavam ? 26 C.omo
entrou na casa de Deus, sendo sumo sacerdote Abiatar,
e comeu os pães da proposição, dos quais n ão era lícito
comer, senão aos sacerdotes, e deu aos que com ele
estavam ? 27 E dizia-lhes : O sábado foi feito para o
homem , e nã'o o homem para o sábado. 28 Por isso o
Filho do homem é senhor também do sábado.
Homell! C AP. II 1 - 1 Outra vez Jesus entrou na sinagoga, e
co�!a ma-0
encontrava-se J á um homem, que tinha uma das mãos
· seca. 2 E observavam-no a ver se curaria em dia de
sábado, para o acusarem. 3 E (Jesus) disse ao homem,
que tinha a mão seca : Vem aqui para o meio. 4 E disse­
-lhes : t: lícito em dia de sábado fazer bem ou mal ?
Salvar a vida (a uma pessoa) ou tirá-l a ? Eles, porém ,
calavam-se. 5 E, olhando-os em roda com indignação,
contristado da cegueira de seus corações, di;;se ao homem :
Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restabe­
lecida a mão. 6 Mas os fariseus, retirando-se, entraram
logo em conselho contra ele com os herodianos, para ver·
como o haviam de perder.

1 9. O s companheiros do esposo, isto é, os d i scípulos de J e su s


.
27. O ná11ado foi feito para o homem . . . O repouso do sábado
foi insLitnído por Deus para sant ificação da alma e do corpo. Por
isso <> homem não deve passar fome por cansa do sábado.
28. Tendo vindo o Filho do homem s alvar os homens, pode
-
d i s p ensá los da o bser vânc ia do sábado.
s. MARCOS, I I I , 7 - 28 85

7 Jesus retirou-se com os seus discípulos para a Jesus


banda do mar ; e seguiu-o uma grande muliidão de povo ce;�º
da Galileia e da Judeia, 8 e de Jerusalém, e da ldumeia, e multidão.
da Transjordânia ; e os das vizinhanças de Tiro e de Sidó- Vá�i�e
nia, tendo ouvido as coisas que fazia, foram também em prodigws.
grande multidão ter com ele. 9 E mandou aos seus dis-
cípulos que lhe aprontassem uma barca, para que a multi-
dão o não oprim isse. 1 0 Porque, como curava m uitos,
todos os que padeciam algum mal arrojavam-se sobre ele
para o tocarem. 1 1 E os espíritos imundos, quando o
viam, p·rostravam-se diante dele, e gritavam, dizendo :
1 2 Tu és o Filho de Deus. E ele fazia-lhes grandes amea-
ças para que o não m anifestassem.
1 3 Tendo subido a um monte, chamou a si os que Escolha.
quis ; e aproximaram-se dele. 1 4 E escol � eu doze, para Apó�los.
que andassem com ele, e para os enviar a pregar.
15 E deu-lhes poder de GUrar doenças e de expelir os
demónios. 1 6 (Escolheu) : Simão a quem pôs o nome de
Pedro, 1 7 e Tiago, filho de Zebedeu, e João, i rmão de
Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer
dizer filhos do trovão ; 1 8 e André e Filipe e Bartolomeu
e Mateus e Tomé e Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu e Simão
Cananeu, 19 e Judas Iscariotes, que o entregou.
20 Daqui foram para casa (de Pedro}, e concorreu Beelzebub
de novo tanta gente, que nem mesmo podiam tomar ali- 00�����º
menta. 21 E, q uando os seus parentes ouviram isto, Espírito
foram para o prender ; porque diziam : Ele está louco. Santo.
22 E os escribas, que tinham vindo de Jerusalém ,
diziam : Ele está possesso de Beelzebub, e em virtude
do príncipe dos demónios é q ue expele os demónios.
23 E (Jesus), tendo-os chamado, dizia-lhes em parábolas :
Como pode Satanás expelir Satanás ? 24 Pois se um reino
está dividido contra s i mesmo, um tal reino ·não pode subsis­
tir. 2 5 E , se uma casa está dividida contra s i mesma, tal
casa não pode ficar de pé. 26 Se pois Satanás se levan­
tar contra s i mesmo, (o seu reino ) está dividido, e não
poderá subsistir, antes está para acabar. 2 7 Ninguém
pode entrar na casa do forte, a roubar os seus móveis, se
prim eiro não prende o forte, para poder depois saquear
a sua casa. 28 Na verdade vos digo que serão perdoados
aos fil hos dos homens todos os pecados e as blasfêmias

CAI' . I l I

27. Ninguém pode entrar. Ver nota, Mat., XII, 29.


86 S, MARCOS, I I I , 29 - IV, 12

que proferirem ; 29 porém, o qtie blasfemar contra o


Espírito Santo, nunca j amais terá perdão ; mas será réu
de eterno delito. 30 (Jesus falou assim) porque diziam :
Está possesso do espírito imundo.
Os pa.rentes 31 E chegaram sua mãe e seus irmãos ; e, estando
de Jesus.
fora, mandaram-no chamar. 32 E estava sentada à roda
dele muita gente, e disseram-lhe : Eis que tua mãe e
teus i rmãos te buscam lá fora. 3 3 E ele, respondendo­
-lhes, disse : Quem é minha mãe e quem são meus i rmãos ?
34 E, olhando para os que estavam s entados à roda de
si, disse : Eis m inha mãe e meus i rmãos. 35 Porque o
que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha
irmã, e minha mãe.
Ocasião CAP. IV - 1 E começou de novo a ensinar à beira do
de contar
vária.a
mar ; e j untou-se à roda dele tão grande multidão que
pa,rábolas. teve de subir para uma barca e sentar-se dentro dela
no m ar, e toda a multidão estava em terra na praia.
2 E ensinava-lhes m uitas coisas por m eio d e parábolas,
e dizia-lhes segundo o seu meio de ensinar :
Parábola 3 Ouvi : E is saiu um semeador a semear. 4 E, enquanto
do semeava, uma parte (da semente) caiu ao longo do cami­
semeador.
nho, e vieram as aves do céu, e comeram-na. 5 Outra
parte caiu sobre pedregulho, onde tinha pouca terra ;
e nasceu logo, porque não havia profundidade de terra ;
6 mas, quando saiu o Sol, foi crestada pelo calor, e, como
não tinha raiz, secou. 7 Outra parte caiu entre espinhos ;
e cresceram os espinhos, e a sufocaram , e não deu fruto.
8 Outra caiu em boa terra ; e deu fruto que vingou, e
cresceu, e (um grão) dava trinta, outro sessenta, e outro
cem. 9 E dizia : Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
10 E, quando s e encontrou só, os doze, que estavam com
ele, interrogaram-no sobre a parábola. 1 1 E disse-lhes :
A vós é concedido conhecer o m istério do reino de Deus ;
porém aos que são de fora, tudo se lhes propõe em pará­
bolas, 1 2 para que, olhando, vejam e não reparem, e,

29. Ver nota, l\fat., XII, 31.


31. E seus irmãos, isto é , seus prurentes.

CAP. IV

12. I'ara que, o lhando . . . Considerando estas pala vras , p:uece


que Jesus falou p-0r parábolas para não ser compr·e<?lud i cl o , e para
que o tpOvo se não convertesse. Isto, po,rém , não é vcrcJnd-e, pois
Jesus deseja a salvação de todos. Na sua pregaçi1o, o Salvador
procurava sempre ser compreendido pelos seus ouvintes. Estes, po­
rém, esperavam um reino messiânico, político e terre:nio, e, po·r
s. MARCOS, IV, 1 3 - 23 87
------

ouvindo, ouçam e não entendam, de sorte que não se con­


vertam, e lhes sejam perdoados os pecados. 1 3 E disse­
-lhes : Não entendeis esta parábola ? E como entendereis
todas as outras ? 1 4 O semeador semeia a p alavra. 1 5 E os
que recebem a semente ao longo do cam mho, são aqueles
nos quais a palavra é semeada, mas, tendo-a ouvido, vem
logo Satanás, e tira a palavra que foi semeada nos seus
corações. 1 6 Igualmente os que receberam a semente
em lugar pedregoso são os que, ouvindo a palavra, logo a
recebem com gosto ; 1 7 mas não têm raízes em si, são
inconstantes ; depois, levantando-se a tribulação e a per­
seguição por causa da palavra, sucumbem imediatamente.
1 8 Os que recebem a semente entre espinhos são aqueles
que ouvem a palavra ; 1 9 mas as solicitudes do século,
e a ilusão das riquezas, e os outros afeçtos desordenados,
entrando, afogam a palavra, e ela fica infrutuosa. 20 E os
que recebem a semente em boa terra, são aqueles que
ouvem a palavra, e a recebem, e dão fruto, um a trinta,
outro a sessenta, e outro a cem .
2 1 Dizia-lhes mais : Porventura traz-se lucerna para a A palavra
d.e Deus
meter debaixo do alqueire ou debaixo do leito ? Não deve ser
vem para ser posta sobre o candelabro ? 2 2 Porque não ouvida
há coisa alguma escondida que não venha a ser mani­ atenta.­
mente.
festa, nem que seja feita para estar oculta, m as para vir
à luz. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.

iss-o, teriam abandonado logo Jesus, se ele lhes dissesse clara­


mente que o reino messiânico era. espiritual, e CO!lsistia sobre­
tudo na prática da virtude. Por isso, recorreu às pa..ráUolas, nas
quais as almas bem d ispostas encontrava.m revelados os mistérios
do reino de Deus, que permaneciam desconheddc;s para os obsti­
nados contra a verdade. Por consequência, se as multidões em
geral não cornpreendeiam as parábolas, e não se converteram, foi
por sua própria culpa, por estarem presas às coisas do mundo e
aios seus preconceitos, o não aos ensinamentos da Jesus. Por ieeo
as palavras para que, olhando, vejam e não reparem, etc., não
significatn nma. intenção [pOr parte de Jesus, 1nas exprimem sim.­
plesmente o facto que, por culpa de muitC>s, provém para eles
das parábolas, isto é, a lsua cegueira e obstinaçãC> (M. Sales).
l 3. Não entendeis . . . Se não compreend(lrdes esta primeira
parábola, como haveis d e compreender as outras, das quais esta é
como que o fundamento?
15. Os que recebem a semente ao longo do caminho são n.s
pessoas endurecidas do mal, que ouvem muitas vezes a palaVTa de
Deus, mas nã-0 a deixam penetra:i. no seu coração.
21-22. A luz oomunicada aos Apóstoloa pela pregação .de
Cristo não devia permanecer desconhecida, mas ser levada. pC>r
e1es a todo D Mundo.
23 . Se a lguém . . . Provérbio utilizadC> para chamar a. atençãC>
dos ouvintes sobre o que se disse.
88 s. MARCOS, IV, 24 - 2 5

24 E dizia-lhes : Atendei a o q u e ouvis. Com a medida


com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos.

Rntrando numa barca, sentou-se dentro dela . . . - MAHC., 1 V, 1

acrescentará. 25 Porque ao que tem, dar-se-lhe-á (ainda


mais); e ao que não tem, ainda o que tem, l he será tirado.

24-25. Com a medida . . Jesus quer mostrar aos seus d iscí­


pulos, com este provérbio, que, quanto maior for a atenção que
eles prestarem às suas palavras, maior será ta:mbém a .sua compreen­
são dos mistérios celestes que ouvern anunciar. Porque, ao que tem-,,
isto é, o que ouve at entam ent e a palavra de Deus, receberá novos
conhecimentos espi ri t ua is , e o q u e a d espr-eza perderá até os pou­
cos que tinha, caindo na cegueira espiritual.
s. MARCOS, IV, 26 - 40 89

26 Dizia também : O reino de Deus é como um homem Parábola.


da
que lança a semente à terra, 2 7 e que dorme e se semente.
levanta noite e dia, e a semente brota e cresce sem ele
saber como. 28 Porque a terra por si mesma produz,
primeiramente, a erva, depois a esp i ga, e por último o
trigo grado na espiga. 29 E, quando o fruto está
maduro, mete logo a fouce, porque está chegado o
tempo da ceifa.
3 0 Dizia mais : A que coisa assemelharemos nós o Parábola
grã.o
el.o die
reino de Deus ? ou com que parábola o figuraremos ? mostarda.
3 1 f: como um grão de mostarda que, quando se semeia
na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra ;
32 mas, depois que é semeado, cresce e torna-se m aior
que todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de modo
que as aves do céu podem v i r pousar à sua sombra.
33 E assim lhes propunha a palavra com muitas pará­
bolas como estas, conforme o permitia a capacidade dos
ouvintes. 34 E não lhes falava sem parábolas ; porém,
tudo explicava em particular a seus discípulos.
35 Naquele dia, já sobre a tarde, disse-lhes : Passe­ Jesus
mos à outra banda. 36 E, despedindo o povo, o leva­ acalma
uma tem­
ram consigo, assim como estava, na barca ; e outras pestade.
embarcações o seguiram. 37 Então levantou-se uma
grande tormenta de vento, que impelia as ondas contra
a barca, de sorte que a barca se enchia (de água).
38 E Jesus estava dormindo na popa, sobre um tra­
vesseiro ; então eles acordaram-no, e disseram-lhe : Mes­
tre, não se te dá que pereçamos ? 39 E, levantando-se,
ameaçou o vento, e disse para o mar : Cala-te, acalma-te.
E cessou o vento ; e seguiu-se uma grande bonança.
40 E disse-lhes : Porque sois tão tímidos ? Ainda não
tendes f é ? Ficaram cheios de grande temor, e diziam
uns para os outros : Quem j ulgas que é este, que até
o vento e o mar lhe obedecem ?

27. R que dorme e se levanta . . . O que trabalha pela salva­


ção as
el almas não deve preocupar-se oom colher o frut.o el o seu
trabalho. Es11alhe, sem desânimos, a semente da vEmlad,e e da vir­
tude, e� a . seu tempo,
sob a acção de Deus, a semente espalhada
brota e cresce sem ele saber como.
37-4.0. Por maiores que sejam as teI!l[)estades da nossa alma,
i s to é as tentações, nunca devemos desanimar, mas ter sempre
confiança em Jesus. Com a oraçifo alcançaremos força [[>.1ra lh es
r es is ti r, e à tempestade sucederá a maior bonança.
90 s. MARCOS, V, 1 - .23

�ndemo-
Onmhado CAP . V
-
. 1 E chegaram à outra banda
. do mar, ao
de Gerasa . t ern"tono
' dos gerasenos. 2 E , ao sair J esus da b arca,
e os foi logo ter com ele, saindo dos sepulcros, um homem
porcos.
possesso de um espírito imundo, 3 o qual tinha o seu
domicílio nos sepulcros, e nem com cadeias o podia alguém
ter preso ; 4 porque, tendo sido atado por muitas vezes
com grilhões e com cadeias., tinha quebrado as cadeias
e despedaçado os grilhões., e n inguém o podia domar.
5 E sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e pelos
montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6 Vendo,
porém, a Jesus de longe, correu e adorou-o, 7 e, cla­
mando em alta voz, disse : Que tens tu comigo, Jesus,
Filho de Deus Altíssimo ? Eu te conjuro por Deus que
me não atormentes. 8 Porque Jesus dizia-lhe : Espírito
imundo, sai desse homem. 9 E perguntou-lhe : Que nome
é o teu ? E ele respondeu : O meu nome é Legião, por­
que somos muitos. 1 O E suplicava-lhe instantemente q ue
o não expulsasse daquele país.
1 1 Andava ali pastando ao redor do monte uma grande
vara de porcos. 1 2 E os espíritos suplicavam-lhe, di­
zendo : Manda-nos para os porcos, para nos metermos
neles. 1 3 E Jesus deu-lhes logo essa permissão. E, s aindo
os espíritos imundos, entraram nos porcos ; e a vara, que
era de cerca de dois mil, preçipitou-se com grande vio­
lência no mar, onde todos se afogaram .
1 4 E os que andavam apascentando fugiram e foram
espalhar a notícia pela cidade e pelos campos. E o povo
foi ver o que tinha sucedido. 1 5 Foram ter com Jesus,
e viram o que tinha sido vexado do demónio, sentado,
vestido e são do juízo, e tiveram medo. 1 6 E os que
tinham visto contaram-lhes tudo o que tinha acontecido aos
endemoninhados e aos porcos ; 1 7 e começaram a rogar
a Jesus que se retirasse do território deles. 1 8 E, quando
(Jesus) subia para a barca, começou o que fora vexado
do demónio, a pedir-lhe que o deixasse estar com ele.
19 E Jesus não o admitiu, m as disse-l h e : Vai para
tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas
o Senhor te fez, e como teve piedade de ti. 20 E foi-se,
e começou a publicar pela Decápole quão grandes coisas
lhe tinha feito Jesus ; e todos se admiravam.
A filha d e
Jairo e a 21 E, tendo passado Jesus novamente para a outra
hemor­ banda n a barca, concorreu a ele muita gente, e ele estava
roíssa. junto do mar. 2 2 E chegou um dos chefes da sinagoga,
chamado Jairo, o qual, vendo-o, lançou-se a seus pés.
23 e pedia-lhe com instância, dizendo : Minha filha está
nas últimas ; vem, i mpõe sobre ela a mão, para que seja
s. MARCOS, V, 24 - VI, 2 91

salva, e viva. 2 4 E foi Jesus com ele, e uma grande


multidão o seguia e o apertava.
2 5 Então uma mulher, que há doze anos padecia um
fluxo de sangue, 26 e que tinha sofrido muito de muitos
médicos, e havia gastado tudo quanto possuía, e que,
longe de ter sentido melhoras, antes cada vez se achava
pi o r ; 27 tendo ouvido fal ar de Jesus, foi por detrás
entre a turba, e tocou o seu vestido ; 28 porque dizia :
Se eu tocar, ainda que seja só o seu vestido, ficarei curada.
2 9 E imediatamente parou o fluxo do seu sangue, e sen­
tiu no seu corpo estar curada do mal. 30 E Jesus,
conhecendo logo em si mesmo a virtude que saíra dele,
voltado para a multidão, diss e : Quem tocou os meus ves­
tidos ? 31 E os seus discípulos diziam-lh e : Tu vês que a
multidão te comprime, e perguntas : Quem me tocou ?
32 E Jesus olhava em roda para ver a que tinha feito
isto. 33 Então a mulher, que sabia o que se tinha pas­
sado nela, cheia de medo, e tremendo, foi prostrar-se
diante dele, e disse-lhe toda a verdade. 34 E Jesus.
disse-lhe : Filha, a tua fé te salvou ; vai em paz, e fica
curada do teu mal.
3 5 Ainda ele falava, quando chegaram de casa do
chefe da s i n agoga, dizendo : A tua filha morreu ; para
que fatigar mais o Mestr e ? 3 6 Mas Jesus, tendo ouvido
o que eles diziam, disse ao príncipe da sinagoga : Não
temas ; crê sómente. 37 E não permitiu que n inguém
o acompanhasse, senão Pedro e Tiago, e João, irmão
de Tiago.
3 8 Chegaram a casa do príncipe da sinagoga, e viu
Jesus o alvoroço e os que estavam chorando e fazendo
grandes prantos. 39 E, tendo entrado, d isse-lhes : Porque
vos perturbais e chorais? A menina não está morta, mas
dorm e. 40 E zombavam dele. Mas ele, tendo feito sair
todos, tomou o pai e a mãe da men ina, e os (três dis­
cípulos) que levava consigo, e entrou onde a menina
estava deitada. 4 1 E, tomando a mão da menina, disse­
-lhe : Talitha cumi, que quer dizer : Menina ( eu te
mando) , levanta-te. 42 E imediatamente se levantou a
menina, e andava ; pois tinha já doze anos ; e ficaram
cheios de grande espanto. 4 3 E (Jesus) ordenou-lhes
rigorosamente que n inguém o soubesse ; e disse que
dessem de comer à menina.
CAr. V I 1 Tendo Jesus partido dali, foi para a sua Jesus e �
pátri a ; e seguiam-no os seus discípulos. 2 E, che g and o Nazare.
-

o sábado, começou a ensinar na s inagoga ; e m uitos dos


que o ouviam admiravam-se da sua doutrina, dizendo :
92 s. MARCOS, V I , 3 - 4

Donde vêm a este todas estas coisas (que diz)? E que


sabedoria é esta que lhe foi dada ? E como se operam
tais maravilhas pelas suas mãos ? 3 Não é este o car-

E, tomando a !'mão da menina . . . - MARC., V, 41.

pinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago e de. José e


de Judas e de Simã o ? Não vivem aqui entre nós tam­
bém suas irmãs ? E escandalizavam-se dele. 4 Mas Jesus
dizia-lhes : Um profeta só deixa de ser honrado n a sua
S, MARCOS, IV, 5 - 1 8 93

pátria e n a sua casá e entre os seus parentes. 5 E não


podia fazer ali m ilagre algum ; apenas curou alguns pou­
cos enfermos, impondo-lhes as mãos. 6 E (Jesus) admi­
rava-se da incredulidade deles, e andava ensinando pelas
aldeias circunvizinhas.
7 E chamou os doze ; e começou a enviá-los dois a Missão
dos
dois, dando-lhes poder contra os espíritos imundos . .&pós tolos.
8 E ordenou-lhes que não tomassem n ada para o cami­
nho, senão sàmente um bastão ; nem alforj e, nem pão,
n em dinheiro na cintura ; 9 mas que fossem calçados de
sandálias, e não levassem duas túnicas. 1 O E dizia-lhes :
Em qualquer casa onde entrardes, ficai nela até sairdes
do luga r ; 1 1 e onde vos não receberem, nem vos
ouvirem, retirando-vos de lá, sacudi o pó dos vossos pés
em testemunho contra eles. 1 2 E , tendo partido, pre­
gavam aos povos que fizessem pen itência ; 1 3 e expe­
liam muitos demónios, e ungiam com ó l eo muitos enfer­
mos, e curavam-nos.

SEGUNDA PARTE

JESUS PERCORRE A GALILEIA

1 4 Tendo ouvido estas coisas, o rei H erodes, (porquer nq uie t.ação


o nome de Jesus se tinha tornado célebre) , dizia : João d e Jfero­
Baptista ressuscitou dentre os mortos ; e por isso os pro- ª is, �ue
dígios operam-se nele. 1 5 Outros, porém, diziam : É E lias. ma.:a a'dio
E diziam outros : É um profeta, como um dos (antigos) matar.Jofw
profetas. 1 6 Herodes, tendo ouvido isto, disse : Este é Jlaptista.
aquele João, a quem eu m andei degolar, e que ressuscitou
dos mortos. 1 7 Porque H erodes tinha m andado prender
João, e teve-o em ferros n o cárcere por causa de Hero-
dias, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual tinha
casado (ilicitamente). 1 8 Porque João dizia a Iiero-

CAP. VI

5. B não podia fazer .. , não


pO'rq u e lh e faltasse o poder, ma s
não
.
porque os Nazarenos, querendo acreditar na, missão de Jesu s ,
:tinliam-se tornado indignos de receber os
seus benefícios.
94 s. MARCOS, V I , 1 9 - 38

des : Não te é lícito ter a mulher de teu i rmão. 1 9 E He­


rodias armava-lhe ciladas, e queria fazê-lo morrer ; porém
não podia, 20 porque Herodes, sabendo que João era
varão justo e santo, temia-o e olhava-o com respeito,
e pelo seu conselho fazia m uitas coisas, e ouvia-o de
boa vontade.
21 Mas, chegando um dia oportuno, H erodes, no ani­
versário do seu nascimento, deu um banquete aos gran­
des da corte e aos tribunos e aos p r incipais da Galileia.
22 E, tendo entrado (na sala) a filha da m esma Herodias,
e, tendo dançado e dado gosto a Herodes e aos que com
ele estavam à mesa, disse à m oça : Pede-me o que qui­
seres e eu to darei ; 23 e j urou-lhe : Tudo o que me
pedires, te darei, ainda que sej a m etade do meu reino.
24 E ela, tendo saído, disse a sua mãe : Que hei-de eu
pedi r ? E ela respondeu-lh e : A cabeça de João Baptista.
25 E, tornando logo a entrar apressadamente j unto do rei,
pediu, dizendo : Quero que imediatamente me dês num
prato a cabeça de João Baptista. 26 E o rei entristeceu-se ;
mas, por causa do juram ento e dos que com e l e estavam
à mesa, não quis desgostá-la ; 27 e, enviando um ver­
dugo, mandou-lhe trazer a cabeça de João num prato.
Ele foi e o degolou n o cárcere, 28 e levou a sua cabeça
num p rato, e a deu à moça, e a moça a deu a sua mãe.
29 Tendo ouvido isto os seus discípulos, foram e toma­
ram o seu corpo, e o depuseram num sepulcro.
V()) ta dos 3 0 Tendo os Apóstolos voltado a Jesus, contaram-lhe
AJ>ostolos. tudo o que tinham feito e ensinado. 3 1 E ele disse-lhes :
Vinde à parte, a um lugar solitário, e descansai um
pouco. Porque eram m uitos os que iam e vinham ; e
nem tinham tempo para com er. 32 Entrando pois numa
barca, retiraram-se à parte, a um lugar deserto.
Primeira 33 Porém, muitos viram-nos partir e souberam (para
multipli­ onde iam), e concorreram lá, por terra, de todas as.
caçãio dos
pães. cidades, e chegaram primeiro que eles. 34 E, ao desem­
barcar, viu Jesus uma grande multidão, e teve compai-
xão deles, porque eram como ovelhas sem pastor, e
começou a ensinar-lhes muitas coisas.
35 E, fazendo-se tarde, chegaram-se a eles seus discí­
pulos, dizendo : Este lugar é deserto, e a hora é já adian­
tada. 3 6 Despede-os, a fim de que vão às aldeias e
povoados próximos e comprem alguma coisa que comam.
3 7 Ele, respondendo, disse-l h es : Dai-lhes vós de comer.
E eles disseram : Iremos pois com duzentos dinheiros
comprar pão para l hes darmos de comer. 38 E (Jesus)
disse-lhes : Quantos pães tendes vós ? Ide ver. E, depois
s. MARCOS, VI, 39 - 56 95

de terem examinado, disseram-lhe : '(Temos) cinco, e dois


peixes. 3 9 Então mandou-lhes que os fizessem recostar
a todos, em grupos, sobre a relva verde. 40 E recos­
taram-se em grupos de cem e de cinquenta (pessoas).
41 E (Jesus), tomando os cinco pães e os dois peixes, ele­
vando os olhos ao céu, abençoou e partiu os pães, e os deu
a seus discípulos para que lhos pusessem diante ; e repar­
tiu por todos os dois peixes. 42 E todos comeram e fica­
ram saciados. 43 E recolheram doze cestos cheios das
sobras dos pães e dos peixes. 44 Ora os que tinham
comido eram cinco mil homens.
4 5 E imediatamente (Jesus) obrigou seus discípulos a Jesus
embarcar, para chegarem primeiro que ele à outra banda cs��;�h;
do lago, a Betsaida, enquanto ele despedia o povo. mar.
46 E, depois que os despediu, retirou-se a um monte a
fazer oração . 4 7 E, chegado o anoitecer, encontrava-se a
barca no meio do mar, e ele só em terra. 48 E, vendo
que eles tinham m uita dificuldade em remar (porque
o vento l h es era contrário) , cerca da quarta vigília da
noite foi ter com eles, andando sobre as águas ; e fez
menção d e passar adiante. 4 9 Quando eles, porém, o
viram cam inhar sobre o mar, j ulgaram que era um fan-
tasma e gritaram. 50 Porque todos o viram e se assus-
taram. Mas ele falou logo com eles, e disse : Tende
confiança, sou eu, não temais. 51 E subiu para a barca
a ir ter com eles, e cessou o vento. E e l es cada vez
mais se admiravam no seu interior ; 52 pois não tinham
dado conta do m ilagre dos pães, porque o seu coração
estava obcecado.
53 E, tendo passado à outra banda, foram ao país de Outros
Oen esaré, e lá aportaram. 54 Tendo desembarcado, milagres.
logo o conheceram ; 55 e, correndo por todo aquele
país, começaram a trazer-lhe todos os doentes em lei-
tos, onde sabiam que ele estava. 56 E, em qualquer
lugar a q ue chegava, (fosse) nas aldeias o u nas vilas
ou nas ci d ades, punham os enfermos no meio das p raças,
e pediam-lh e que os deixasse tocar ao menos a orla do
seu vestido ; e todos os que o tocavam ficavam sãos.

52. Não tinham dado conta . . . Se eles tivessem dad<> conta


do milagre da multirp]icação d o spães, não se admiravam tanto
de ver Jesus caminhar sobre as águas. - O seu coração estava
obcecado, não entendia claramente as obras de Jesus, sendo pre­
ciso que o Salvador lhes desse mais esta prova do seu poder para
que desaipi.recesse toda a sua falta de confianÇa.
96 s. MARCOS, VII, 1 - 1 8

Discussão CAP . V I I 1 E reuniram-s,e em volta de Jesus os


tªºâ'. .'.'s fariseus e alguns dos escribas, vindos de Jerusalém.
e
-

f;�s�����. 2 E, tendo visto alguns dos seus discípulos comer o pão


com as mãos impuras, isto é, por lavar, censuraram-nos.
3 Porque os fariseus e todos os Judeus, em observância
da tradição dos antigos, não comem sem iavar as mãos
muitas vezes ; 4 e, quando vêm da praça pública, não
comem s em se purificarem ; e praticam muitas. outras
observâncias tradicionais, como lavar os copos, e os jar­
ros, e os vasos de m etal, e os leitos. 5 Ora os fariseus
.e os escribas interrogaram-no : Porque não andam os teus
discípu'.os segundo a tradição dos antigos, mas comem as
refeições sem lavar as mãos ? 6 E ele, respondendo,
disse-lhes : Com razão Isaías profetizou de vós, hipócritas,
como está escrito : Este povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim. 7 E em vão
me adoram, ensinando doutrinas e preceitos dos homens.
8 Porque, deixando o mandamento de Deus, observais
cuidadosamente a trad i ção dos homens, lavando os
jarros e os copos ; e fazeis m uitas outras coisas seme­
l hantes a estas.
9 E dizia-l h es : Vós bem fazeis por destruir o mand<i­
mento de Deus, para observar a vossa tradição. "'1 O Por­
que Moisés disse : Honra teu pai e tua mãe. E todo
o que amaldiçoar seu pai ou sua mãe, sej a punido de
morte.
1 1 Porém vós dizeis : Qualquer pessoa poderá dizer a
seu pai ou a sua mãe : t:: oferta (a Deus) qua'.quer
.coisa minha que te possa ser úti l ; 1 2 e não lhe deixais
fazer nada em favor de seu pai ou de sua mãe, 1 3 vio­
lando a palavra de Deus por uma trad ição, inventada
por vós ; e fazeis muitas coisas semelha1ites a esta.
1 4 E, convocando novamente o povo, d izia-'.he : Ouvi-me
todos, e entendei. 1 5 Não há coisa fora do homem que,
entrando nele, o possa manchar, mas as que saem do
homem, essas são as que tornam o homem impuro.
1 6 S e há alguém que tenha ouvidos para ouvir, ouça.
1 7 E, tendo entrado numa casa, longe da multidão,
. os seus discípulos interrogaram-no sobre esta parábola.
1 8 E ele disse-lhes : Também vós sois ignorantes ? Não
, compreendeis que tudo o que, de fora, entra n o homem, não

CAP. VII

11. PJ oferta a Deus . • . . Ver nota, Mat., XV, 5·6.


s. MARCOS, V I I , 1 9 - 3 7 97

o pode contaminar ? 1 9 Porque não entra no seu coração,


mas vai. ter ao ventre, e lança-se num lugar escuso, o que
purifica os alimentos. 20 E dizia-lhes que as coisas que
saem do homem, essas são as que contaminam o homem.
21 Porque, do interior d o coração dos homens, é que pro­
cedem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações,
os homicídios, 2 2 os furtos, as avarezas, as malícias, as
fraudes, as desonestidades, a inveja, a blasfêmia, a soberba,
a loucura. 23 Todos estes males procedem de dentro, e
(são os que) contaminam o h omem.
24 E , partindo dali, foi (Jesus) para os confins de Jesu,s .ª·
Tiro e de Sidónia, e, tendo entrado numa casa, não que- f"o!':'.neia.
'c1.
ria que ninguém o soubesse ; m as não pôde ocultar-se.
2 5 Porque uma mulher, cuja filha estava possessa do
espírito imundo, logo que ouviu falar dele, foi l ançar-se
a sêus pés. 26 Era uma mulher gentia, s irofenícia de
nação. E suplicava-lhe que expelisse o demónio de sua
filha. 27 Jesus disse-lhe : Deixa que primeiro sejam
fartos os filhos, porque não é bem tomar o pão dos
filhos e lançá-lo aos cães. 28 Mas ela respondeu, e
disse-l h e : Assim é, Senhor, mas também os cachorrinhos
comem, debaixo da m esa, das migalhas (que caem) dos
m eninos. 29 E ele disse-lhe : Por esta palavra, (que
disseste) vai, o demónio saiu de tua filha. 30 E , tendo
voltado para sua casa, encontrou a m enina deitada
s obre o l eito, e (reconheceu) que o demónio tinha
saído (dela).
31 E Jesus, tornando a sair dos confins de Tiro, foi O surdo
por Sidónia ao mar da Galileia, atravessando o território e mudo.
da Decápole. 3 2 E trouxeram-lhe um surdo e mudo, e
suplicavam-lhe que lhe impusesse a mão. 3 Então Jesus,
tomando-o à parte dentre a multidão, meteu-lhe os dedos
n os ouvidos, e, cuspindo, com saliva tocou a sua língua.
34 E , l evantando os o lhos ao Céu, deu um suspiro, e
disse-l h e : Ephpheta, que quer dizer, abre-te. 35 E ime­
diatamente se lhe abriram os ouvidos, e se lhe soltou a
prisão da língua, e falava claramente. 36 E ordenou-
-lhes que a ninguém o dissessem. Porém, quanto m a is
lho proibia, tanto m ais o publicavam, 37 e tanto mais
se adm i ravam, dizendo : Tudo tem feito bem ; fez que
ouçam os surdos, e falem os mudos.

34. Levantando os olhos ao céu, para nos mostrar que


deve­
mos rec rrer
o aDeus em todas as nossas necessidades. - Suspirou,
considera.indo as m is ia humanas.
ér s
7
98 S . MARCOS, V i l !, 1 - 23
·-------

Segunda CAr . V I I I - 1 Naqueles dias, havendo novamente


nrnltipJi­
cação dos
grande multidão, e, não tendo que comer, chamados os
pães. discípulos, disse-lhes : 2 Tenho compaixão deste povo,
porque há já três dias que não se afastam de mim, e não
têm que comer ; 3 e, s e os despedir em jejum para
suas casas, desfalecerão no cam inho, porque alguns deles
vieram d e longe. 4 E os discípulos responderam-lhe :
Como poderá alguém saciá-los de pão aqui no deserto ?
5 E (Jesus) perguntou-l h es : Quantos pães tendes ? Res­
ponde1:am : Sete.
6 E ordenou ao povo que se recostasse sobre a terra ;
e tomando os sete pães, dando graças, partiu-os e deu a
seus discípulos, para que os distribuíssem ; e eles os dis­
tribuíram pelo povo. 7 Tinham também uns poucos de
peixinhos ; e ele os abençoou, e mandou que fossem ,dis­
tribuídos. 8 Comeram e ficaram saciados, e, dos peda­
ços que sobejaram, l evantaram sete cestos. 9 Ora os
que comeram eram cerca de quatro mil. Em seguida
(Jesus) despediu-os.
Os fariseus 1 O E, entrando logo na barca com seus discípulos,
pe�rr; um
pr
passou ao território d e Dalmanuta. 1 1 E apareceram os
i gw.
fariseus, que começaram a disputar com ele, pedindo-lhe-,
para o tentarem, um sinal do Céu. 1 2 Po r ém (Jesus},
arrancando do coração um suspiro, disse : Porque pede
esta geração um sinal ? Em verdade vos digo que a esta
geração n'ão será dado sinal (algum). 13 E , deixando-os,
entrou novamente na barca, e passou à outra banda.
Fermento 1 4 Ora os discípulos esqueceram-se de tomar pão ;
doo
fariseus.
e não tinham consigo na barca, s enão um ú nico.
1 5 E (Jesus) advertia-os, dizendo : Evitai com cuidado
o fermento dos fariseus, e o fermento de H erodes.
1 6 E eles discorriam entre s i , dizendo : f:: que nós não
temos pão. 1 7 Conhecendo isto Jesus, d[sse-lhes : Por­
que estais vós consideran do que não tendes pão ? Ainda
não conhecestes nem entendestes ? Ainda tendes o vosso
coraçã o obcecado ? 18 Tendo olhos, não vêdes, e
tendo ouvidos, não ouvis ? E (iá) não vos recordais ?
1 9 Quando dividi cinco pães por cinco mil homens,
quantos cestos l evantastes cheios de pedaços ? Eles res­
ponderam : Doze. 20 E quando dividi sete pães entre
quatro mil, quantos cestos levantastes de pedaços ?
E responderam : Sete. 21 E dizia-lhes : Como é que
não entendeis ainda ?
o cego de 22 Chegando a Betsaida trouxeram-lhe um cego, e
Detsaida.
suplicavam-lhe q u e o tocasse. 23 E, tomando o cego
pela mão, conduziu-o for a d:i aldeia, e, pondo-lhe saliva
s. MARCOS, V I I I , 24 - 2 5 99
------ --------

sobre os olhos, e, impondo-lhe as suas mãos, perguntou­


-lhe se via alguma coisa. 24 E, levantandc.; os olhos,

Dando graças, partiu - o s e àeu a s e u s discíp u los . . . - MARO., VIII, 6.

disse : Vejo os homens a andar semelhantes a árvores.


25 Depois Jesus impôs-lhe n ovamente as mãos sobre os

2.-J. Jmpôswlhe 1w1rarncn-te . . . Jesus curou grad t�:almente este


cego, parn., que a sua fé, muito frrnuxa no princípio, fosse também
aumeutanclo gradualmente.
1 00 s. MARCOS, VII1, 26 - IX, 2

olhos, e começou a ver ; e ficou tão bem curado, que via


distintamente todas as coisas. 26 E Jesus mandou-0 para
sua casa, dizendo-lhe : Vai para tua casa ; e se entrares
na aldeia não d igas nada a ninguém .
Oonfissã.o
de Pedro. de 27 E saiu Jesus com os seus discípulos pelas aldeias
Cesareia de Filipe ; e, pelo caminho, interrogou os
seus discípulos, dizendo-lhes : Quem dizem ·os homens
que eu sou ? 28 Eles responderam-lhe, dizendo : Uns
dizem que João Baptista, outros que E lias, e outros que
algum dos p rofetas. 29 Então disse-lhes : E, vós que�
dizeis que eu sou ? Respondendo Pedro, disse-lhe : Tu
és o Cristo (o Messias). 30 E Jesus proibiu-lhes seve­
ramente que a ninguém dissessem (isto) dele.
J!J'�" 31 E começou a declarar-lhes que era necessário que
a!"Pai�t,. o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado
pelos anciãos, e pelos príncipes dos sacerdotes, e pelos
escribas, e que fosse morto, e que ressuscitasse depois de
três dias. 32 E falava destas coisas claramente. E Pedro,
tomando-o de parte, começou a repreendê-lo. 33 Mas
Jesus, voltando-se e olhando para seus discípulos, amea­
çou Pedro, dizendo : Retira-te de diante de mim, Satanás,
que não tens gosto pelas coisas de Deus, mas sim pelas
dos homens.
·�i- 34 E, chamando a s i o povo com seus discípulos, disse-
�::
abne;..ç!. ,.lhes : Se alguém m e quer seguir, negue-se a si mesmo,
e tome a sua cruz, e siga-me. 35 Porque o que quiser
salvar a sua alma, a perderá ; mas o que perder a sua alma
por amor de mim e do Evangelho, a salvará. 36 Pois
que aproveitará ao homem ganhar o Mundo inteiro s e per­
der a sua alm a ? 37 Ou que dará o homem em troco pela
sua alm a ? 38 No meio desta geração adúltera e peca�
dora, quem se envergonhar de mim e das m inhas pala­
vras, também o Filho do homem se envergonhará dele,
quando vier na glória d e seu Pai com os santos anjos .
39 E dizia-lhes : Em verdade vos digo que, dos que aqui
se encontram, alguns não provarão a m orte enquanto não
virem o reino de Deus (vir) com poder.
Tra.nsfigu- CA P . IX - 1 Seis dias depois, tomou Jesus consigo
ração. Pedro e Tiago e João, e conduziu-0s sós àparte a um alto
monte, e transfigurou-se diante deles. 2 E os seus vesti­
dos tornaram-se resplandecentes e em extremo brancos,
como a neve, tanto que nenhum lavandeiro sobre a terra

33. Ver nota, Mat., XVI, 23.


3õ. Ver nota, Mat., XVI, 25.
s. MARCOS, IX, 3 - 6 101

os poderia tornar tão brancos. 3 E apareceu-lhes E lias


com Moisés, que estavam falando com Jesus. 4 E Pedro,
tomando a palavra disse a Jesus : Mestre, é bom que este­
jamos aqui ; façamos três tendas, uma para ti, e outra para

E iransfigurou-se dianie deles. - MARC., IX, 1 .

Moisés, e outra para E lias. 5 Porque não sabia o que


dizi a ; pois estavam atónitos de medo. 6 E formou-se uma
nuvem que os cobriu com a sua sombra ; e saiu uma voz
da nuvem, que dizi a : Este é o meu Filho caríssimo, ouvi-o.
1 02 S . MARCOS, I X , 7 - 23

7 E, olhando logo em roda, não viram mais n inguém com


eles senão Jesus. 8 E, ao descerem do monte, ordenou­
-lhes que a n inguém contassem o que tinham visto, senão
quando o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mor­
tos. 9 E eles guardaram para si o segredo, investigando
entre si o que queria dizer : Quando tiver ressuscitado
dos mortos. 1 O E interrogaram-no, dizendo : Porq ue
dizem pois os fariseus e os escribas que Elias deve v,ir
primei ro ? 1 1 Ele, respondendo, disse-lhes : Elias, quando
vier primeiro, reformará todas as coisas ; e como •está
escrito acerca do Filho do homem, terá de sofrer muito,
e será desprezado . 1 2 Mas digo-vos que E lias já veio,
(e fizeram dele quanto quiseram ) , como está escrito dele.
O menino 13 E , chegando junto dos seus discípulos, viu uma
possesso grande multidão em volta deles, e os escribas disputando
do com eles. 1 4 E logo todo o povo, vendo Jesus, ficou
demónio.
surpreendido e temeroso, e, correndo ao seu encontro, o
saudavam. 1 5 E perguntou-lhes : Que estais disputando
entre vós ? 1 6 E, respondendo um da m ultidão, disse :
Mestre, eu trouxe-te meu filho que está possesso de um
espírito (mau, que o faz ficar) mudo ; 1 7 o qual, onde
quer que se apodera dele, o l ança por terra, e (o menino)
espuma, e range com os dentes, e vai-se m i rrando ;
e roguei a teus discípulos que o expelissem , e não
puderam.
1 8 E ele, respondendo-lhes, disse : ô geração incrédula !
Até quando h ei-de estar convosco ? Até quando vos h ei-de
suportar ? Trazei-mo cá. 1 9 Levaram-lho. E, tendo visto
Jesus, imediatamente o espírito imundo o agitou com
violência ; e , caído por terra, revolvia-se espumando.
20 E Jesus perguntou ao pai dele : Há quanto tempo lhe
sucede isto ? E ele disse : Desde a i nfânci a ; 2 1 e o demó­
nio tem-no lançado m uitas vezes no fogo e n a água, para
o matar ; porém tu, se podes -alguma coisa, vale-nos tendo
compaixão de nós . 22 E Jesus disse-lhe : Se podes crer,
tudo é possível ao que crê. 23 E imediatamente o pai
do menino exclamou, dizendo com lágrimas : Sim, Senhor,
eu creio ; auxilia a minha incredulidade.

CAP. IX

10-12. V er nota, Mat., XVII, 10-1 �.


22. 1'ndo é possÍ'l.1el ao qu.e crê co·m uma fé viva, acompa­
nhada de -obras, como .Jesus manifesta logo a seguir no v. 28,
dizendo que, para expellr certos demónios, é precis:o a oração e
o jejum.
s. MARCOS, IX, 24 - 43 1 03

24 E Jesus, vendo que o povo concorria em multi­


dão, ameaçou o espírito imundo, dizendo-lhe : Espírito
surdo e mudo, eu te mando, sai desse (menino), e não
tornes a entrar nel e ! 25 Então, dando u m grande grito
e agitando-o com violência, saiu dele, e (o menino)
ficou como morto ; de sorte que muitos diziam : Está
morto. 26 Porém Jesus, tomando-o pela mão, levan­
tou-o, e ele ergueu-se. 27 E, depois que entrou em casa,
seus discípulos perguntaram-lhe particularmente : Porque
o não pudemos nós expeli r ? 28 E ele disse-lhes : Esta
casta (de demén ;os) não se pode fazer sair, senão mediante
a oração e o j ejum.
29 E, tendo partido dali, atravessaram a Galileia ; e Nova
não queria que ninguém o soubesse. 30 E ia instruindo profoc �a
os seus discípulos, e dizia-lhes : O Filho do homem será da Paix<'0•
.

entregue às mãos dos homens, e lhe darão a morte, e


ressuscitará ao terceiro dia. 3 1 Mas eles não compreen-
diam estas palavras, e temiam interrogá-lo.
32 Nisto chegaram a Cafarnaum. E, quando estavam Uumildade.
em casa, Jesus perguntou-lhes : De que vínheis vós dis-
cutindo pelo caminho? 33 Eles, porém, calaram-se ; por-
que no cam inho tinham discutido entre si qual deles era
o maior. 34 E, sentando-s·e, chamou os doze, e disse-
-lhes : S e alguém quer ser o primeiro, será o último de
todos e o servo de todos. 35 E, tomando um menino,
pô-lo no meio deles, e, depois de o abraçar, disse-lhes :
36 Todo o que receber um destes meninos em meu
n ome, a mim m e recebe, e todo o que me receber
a mim, não me rec�be a mim, mas aquele que me
enviou.
37 Respondeu-lhe João, dizendo : Mestre, vimos um, Zel o sem
que não anda connosco, expelir os demónios em teu nome , ciúmes.
e nós lho proibimos. 38 E Jesus disse : Não lho proi-
bais, porque não há ninguém que faça um milagre em
meu nome e que possa logo dizer mal de mim. 39 Por-
que quem não é contra vós, é por vós.
40 E quem vos der um copo de água em meu nome, Caridade.
porque sois de Cristo, em verdade vos digo que não
perderá a sua recompensa.
41 E quem escandalizar um destes pequeninos que Escândalo
crêem em mim, m el hor lhe fora que lhe atassem à roda e inferno .
do pescoço a mó que um asno faz girar, e que o lançassem
ao mar. 42 E , se a tua mão te escandalizar, corta-a ;
m elhor te é entrar na vida (eterna) manco, do que, tendo
duas mãos, ir para o inferno, para o fogo inextinguível.
43 onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.
1 04 s. MARCOS, IX, 44 - X, 6

44 E, se o teu pé te escandaliza, corta-o ; melhor te é


entrar na vida eterna coxo, do que, tendo dois pés , ser
lançado no inferno num fogo inextinguível, 45 onde o
seu verme não m orre, e o fogo não se apaga. 46 E, se o
teu olho te escandaliza, lança-o fora ; melhor te é entrar
no reino de Deus sem um olho, do que, tendo dois, ser
lançado no fogo do inferno, 47 onde o seu verme não
morre, e o fogo não se apaga. 48 Porque todo ( o homem)
será salgado pelo fogo, e toda a vítima será salgada com
sal. 49 O sal é bom ; porém, se ele se torna r insípido,
com que o haveis de temperar ? Tende sal (de prudência
e sabedoria) em vós, e tende paz entre vós.

TERCEIRA PARTE

J ESUS VAI A JERUSALÉM

1 - D urante a viagem

Na Pereia. CAP. X - 1 E, saindo dali, foi Jesus para os confins


da Judeia, além do Jordão ; e voltaram as multidões a
juntar-se com ele ; e de novo as ensinava, segundo o seu
costume.
o mat rimó - 2 E, aproximando-se os fariseus, perguntavam-lhe para
nio é _indis - o tentarem : É lícito ao marido repudiar sua mulher ? 3 Mas
soluvel.
ele, respondendo, disse-lhes : Que é o que vos mandou
Moisés ? 4 Responderam eles : Moisés permiliu escrever
l ibelo de repúdio, e separar-se (dela). 5 E Jesus, respon­
dendo, disse-l h es : Por causa da dureza de vosso coração
é que ele vos deu esse mandamento. 6 Porém, no prin-

48. Todo o homem . . . E s ta rpassagem da Sagrada Escritu"·a


tem ila!do lugar a muitas interpretações. Eis a mais segu i d a :
Segtmdo o Levíti oo (II, 13) toda, a oferta feita a Deus devia ser
salgada com sal, símbolo da inco1r.ruptibrlidade, isto é, da rperpe­
tuidade da aliança com Deus. Sentido: Todo o homem oonde.::iado
ao inferno será salgado pelo fogo, isto é, o fogo do inferno será.
paira ele como um sal que, preservando-o da oorrupção, o devorará

renúncia
sem o consu1nir. - E toda a vítima, todo o cristão que tiYer
praticado a e a mortifica ção será salgado com sal,.
isto é, será igualmente incorruptív-el, mas na glória.
S. MARCOS, 25 1 05���
.X, 7 - ����

cípio, quando Deus os criou, formou um (só) homem e


uma (só) mulher. 7 Por isso deixará o homem seu pai
e sua mãe, e se j untará a sua mulher ; 8 e os dois serão
uma só carne. E assim não m ai s são dois, mas uma só
carne. 9 Portanto não separe o homem o que Deus
juntou. 1 O E em casa os seus discípulos i nterrogaram-no
novamente sobre o mesmo assunto. 1 1 E ele disse-lhes :
Qualquer que repudiar sua mulher e se casar com outra,
comete adultério contra a primeira. 1 2 E, se a mulher
repudiar seu marido e se casar com outro, comete adul­
tério.
13 E apresentavam-lhe uns men inos para que os Jesus e os
tocasse ; mas os discípulos ameaçavam os que lhos apre- meninos .
sentavam. 1 4 Vendo isto Jesus, ficou muito desgostoso,
e disse-lhes : Deixai vir a mim os meninos, e não os emba-
raceis, porque destes tais é o reino de Deus. 1 5 Em ver-
dade vos digo : Todo o que não receber o reino de Deus
como um menino, não entrará nele. 1 6 E abraçando-os,
e i mpondo-lhes as mãos, os abençoava.
17 E , tendo saído para se pôr a cam inho, veio um o jovem
homem correndo, e, ajoelhando-se diante dele, supl icou- . convida".10
f
-lhe : Bom Mestre, que devo eu fazer para alcançar a <Lper eiç.ao.
vida etern a ? 1 8 E Jesus disse-lhe : Porque me chamas
bom ? Ninguém é bom senão só Deus. 19 Tu sabes os
mandamentos : Não cometas o adultério, não m ates, não
furtes, não digas falso testemunho, não cometas fraudes,
hon ra teu pai e tua mãe. 20 E ele, respondendo, dis6e-
-lhe : Mestre, todas estas coisas tenho observado desde a
minha mocidade.
21 E Jesus, pondo nele os olhos, mostrou-lhe afecto,
e disse-lhe : Uma coisa te falta ; vai, vende quanto tens,
e dá-o aos pobres, e terás um tesouro n o Céu ; e vem
depois, e segue-m e. 22 Mas ele, entristecido por esta
palavra, retirou-se desgosjoso, porque tinha muitos bens.
23 E Jesus, olhando em roda, disse a seus discípulos :
Quanto é difícil que entrem no reino de Deus os que têm
riquezas ! 24 E os discípulos assombravam-se das suas
palavras. Mas Jesus de novo lhes disse : Filhinhos, quanto
é difíci l entrarem no reino de Deus os que confiam nas
riquezas ! 25 Mais fácil é passar um camelo pelo fundo
de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus.

CAP. X
17-27. Ver nota, Mat., XIX, 17, 21, 23, 24.
1 06 S. MARCOS, X, 26 - 4 0

26 E eles ·ainda m a i s se adm i ravam, dizendo u n s para


os outros : Quem pode logo salvar-s e ? 27 Então Jesus ,
olhando para eles, diss e : Para os homens isto é imposs·í­
vel, mas não para Deus, porque a Deus todas as coisas
são possíveis.
Recom­ 28 E Pedro começou a dizer-lhe : Eis que deixámo,;
•pcnsa dDs tudo, e te seguimos. 29 Respondendo Jesus, disse : Na
que prati­
ca m o s verdade vos digo : Ninguém há que tenha deixado a casa,
conselhos ou os i rmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou os
evangé­
licos. filhos, ou as terras, por causa de mim e do Evangelho,
30 que não receba o cêntuplo, mesmo nesta vida, emf
casas, e i rmãos, e i rmão, e mães, e filhos, e terras,
mesmo no meio das perseguições, e no século futuro a
vida eterna. 3 1 Porém, muitos dos primeiros serão os
últimos, e (muitos) dos últimos serão os primei ros.
Tercei.ra 32 E iam em viagem para subir a Jerusalém ; e Jesus
prnfecia ia adiante deles, e admiravam-se ; e seguiam-no com
da Paixão.
medo. E, tomando novamente de pa rte os doze, começou
a dizer-lhes as coisas que tinham de lhe acontecer. 3 3 Eis
que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será
entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e
aos anciãos, e o condenarão à morte, e o entregarão aos
gentios ; 34 e o escarnecerão, e lhe cuspi rão, e o açouta­
rão, e lhe tirarão a vida ; e, ao terceiro dia, ressuscitará.
Os filh os 35 Então aproximaram-se dele Tiago e João, filhos
de de Zebedeu, dizendo : Mestre, queremos que nos conce­
Zebedeu. das tudo o que te pedirmos. 36 E ele disse-lhes : Que
quereis vós que eu vos conceda ? 37 Eles disseram :
Concede-nos que, na tua glória, um de nós se sente à tua
direita e outro à tua esquerda. 38 Mas Jesus disse-lhes :
Não sabeis o que pedis ; podeis vós beber o diice que eu
vou beber, ou ser baptizados no baptismo em que eu vou
ser baptizado ? 3 9 E eles disseram-lh e : Podemos. E Jesus
disse-lhes : Efectivamente haveis de beber o cálice que eu
vou beber, e haveis d e ser baptizados no baptismo em que
eu vou ser baptizado ; 40 mas, quanto a estardes sen­
tados à minha direita o u à m inha esquerda, não pertence

30. Mesmo nesta vida . . . Os que abandúllarem tudo pnr amo'r


de Jesus , já neste Munclo começam a receber a re.cümp;Elllsa, como
se vê claramente nos religiosos. Pela sua. casa abc'lndon.ada encon­
tram muitas ouk1as, e pela sua família, que deixaram, fi cairn s end o
me1nhros duma família mais numerosa.
31. Ver nota, l\iiat., XlX, 30.
39-40. Ver nota, .Mat., XX, 22, 23.
s. MARCOS, X, 41 - XI, 7 1 07

a mim o conceder-vo-lo, m as é para aqueles, para quem


está preparado.
41 E , ouvindo isto o s dez, começaram a indignar-se Humildade.
contra Tiago e João. 42 Mas Jesus, chamando-os; disse-
-lhes : Vós sabeis que aqueles que são reconhecidos como
ch efes das nações as dominam ; e que os seus príncipes
têm poder sobre elas. 43 Porém entre vós não deve
ser assim, mas o que quiser ser o maior, será vosso
min istro ; 44 e · o que entre vós quiser ser o primeiro,
será servo de todos. 45 Porque também o Filho do
homem não veio para ser servido, mas para servir, e
para dar a sua vida para redenção de muitos.
46 E chegaram a Jericó. E , a8 sair de Jericó, ele e Cura de
os seus discípulos e grande multidão, Bartimeu (que era) Ba,rtime u.
cego, filho de Timeu, estava sentado junto ao caminho
pedindo esm ola. 4 7 O qual, tendo ouvido dizer que era
J esus Nazareno, com eçou a gritar, e a dizer : Jesus, Filho
de David, tem piedade de mim ! 4 8 E ameaçavam-1w
muitos para que se calasse. Mas ele cada vez gritava mais
forte : Filho de David, tem piedade de mim ! 49 E Jesus ,
parando, mandou chamá-lo. E chamaram o cego, dizendo-
-l h e : Tem confiança ; levanta-te, ele chama-te. 50 E ele,
deitando fora de s i a capa, levantou-se de um salto, e foi
ter com Jesus. 51 E Jesus disse-lhe : Que queres que eu
te faça ? E o cego disse-lhe : Mestre, faze que eu veja.
52 Então disse-lhe Jesus : Vai, a tua fé te salvou. E no
mesmo instante, viu, e o seguia pelo caminho.

II - Em jerusalém

CAr. XI - 1 E , quando se i â m aproximando de Jeru- Entrada


salém e de Betânia, perto do monte das Oliveiras, enviou triunfal ,em
dois de seus discípulos, 2 e disse-lhes : Ide à aldeia, que Jer usalem.
está defronte de vós, e, logo que entrardes nela, encon-
trareis preso um jum entinho, em que ainda não montou
homem algum ; soltai-o e trazei-o. 3 E , se alguém vos
disse r : Que fazeis vós ? Dizei-lh e que o Senhor tem
n ecessidade del e ; e logo o deixará vir aqui. 4 E, indo
eles, encontraram o j umentinho preso fora da porta
numa encruzi lhada ; e desprenderam-no. 5 E a lguns
dos que estavam ali disseram-lhes : Que fazeis despren-
dendo o jumentin h o ? 6 E eles responderam-lhes como
Jesus lhes tinha m andado, e deixaram-lho levar.
7 E conduziram o j umentinho a Jesus ; e puseram
1 08 S. MARCOS, X I , 8 - 25

.
sobr e ele os seus vestidos, e Jesus montou em cima.
8 E muitos estenderam os seus vestidos pelo caminh o ; e
outros cortavam ramos das árvores, e juncavam com eles
a estrada. 9 E os que iam adiante, e os que seguiam
atrás, clamavam, dizendo : Hosana ! 1 0 Bendito o que
vem em nome do Senhor ; bendito o reino que vem do
nosso pai David ; Hosana no mais alto dos céus ! 1 1 E en­
trou em Jerusalém no templo ; e, tendo observado tudo,
como fosse já tarde, foi para Betânia com os doze.
A fi g ueira 1 2 E , ao outro dia, depois que saíram de Betânia,
amaldi­ teve fome. 1 3 E , tendo visto ao longe uma figueira
çoo,da..
que tinha folhas, foi lá ver se encontrava nela alguma
coisa ; e, quando chegou a ela, nada encontrou senão
folhas ; porque não era tempo de figos. 1 4 E, falando ,
disse-lhe : Nunca j amais coma alguém fruto de t i .
E ouviram-no o s seus discípulos.
Os profa­ 1 5 E chegaram a Jerusalém. E, tendo entrado no
nad·ores
do templo . templo, começou a lançar fora os que vendiam e com­
pravam no templo, e derribou as mesas dos banqueiros
e as cadeiras dos que vendiam pombas. 1 6 E não con­
sentia que ninguém transportasse objecto algum pelo
templo ; 1 7 e os ensinava, dizendo-lhes : Porventura não
está escrito : A minha casa será chamada casa de ora­
ção para todas as gentes ? Mas vós fizestes dela um
covil de ladrões. 1 8 Ouvindo isto os príncipes dos sacer­
dotes e os escribas, procuravam o modo de o perderem ;
porque o temiam, visto que todo o povo admirava a sua
doutrina. 1 9 E , fazendo-se tarde, saiu da cidade.
A confiança 20 Ora (no outro d;a) pe�a manhã, ao passarem , viram
em Deus . a figueira seca até às raízes. 21 E Pedro, recordando-se,
disse-l he : Olha, Mestre, como se secou a figueira que
tu amaldiçoaste. 22 E Jesus, respondendo, disse-lhe :
Tende fé em Deus. 23 Em verdade vos digo que todo o
que disser a este monte : Tira-te (daí), e lança-te no
mar, e não hesitar no seu coração, mas tiver fé de que
tudo o que disser seja feito, lhe será feito. 24 Por isso
vos digo : Todas as coisas que pedirdes orando, crêde q ue
as haveis d·e conseguir, e que as obtereis. 25 E, quando
estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém ,

CAP. XI

1 0 . Bendito o reino . . . Os Judeus, julgand o erradamente q u e


Jesus era um lfessia.s polítioo, esperavam que e l e restaurasse o
antigo ;i-eino de Dav i , e
d os libertasse do jugo estra.ngei!fo.
13-14. Ver nota, Mat., XXI, 19.
s. MARCOS, XI, 26 - X I I, 11 109

perdoai -lhe, para q u e também vosso Pai, q u e está n ? s


céus, vos perdoe os vossos pecados. 26 Porque, se vos
não perdoardes, também o vosso Pai, que está nos céus,
vos não perdoará os vossos pei:ados.
27 E voltaram de novo a Jerusalém . E , andando Jesus Discussão
pelo templo, aproximaram-se dele os príncipes dos sacer- com os
dotes e <JS escribas e os anciãos, 28 e disseram-lhe : doutores
da lei.
Com que autoridade fazes tu estas coisas ? E quem te deu
o poder de fazer tais coisas ? 29 E Jesus, respondendo,
disse-lhes : Eu também vos farei uma pergunta ; e respon­
dei-me (a ela primeiro), e eu vos direi (depois) com que
autoridade faço estas coisas. 3 0 O baptismo de João era
do Céu <J U dos homens ? Respondei-me. 31 Mas eles
pensavam consigo, e diziam : Se nós dissermos (que era)
do Céu, ele d i rá : Por que razão logo nfo crestes nele ?
32 Se dissermos (que era) dos . homens, temos medo do
povo ; porque todos tinham a J<Jão p<Jr um verdadeiro
p rofeta. 3 3 Então, respondendo, disseram a Jesus : Não
sabemos. E , respondendo Jesus, disse-lhes : Pois nem eu
tão pouco vos direi com que autoridade faço estas coisas.
CAP . X I I - 1 E começ<Ju a falar-lhes por parábolas : Parábola
Um homem plantou uma vinha, e c ercou-a com uma sebe, . dos .
e cavou nela um l agar, e edificou uma torre, e arrendou-a
vmhatei\os
maus.
a uns lavradores, e ausentou-se para longe. 2 E, chegado
o tempo, enviou aos lavradores um servo para receber
deles a sua parte dos frutos da vinha. 3 Mas eles, apa­
nhando--0, bateram-lhe, e remeteram-no com as mãos
vazias. 4 E enviou-lhes de novo outro servo, e também
a este o feriram na· cabeça, e o carregaram de 'afrontas.
5 E enviou de novo outro, e mataram-no ; e muitos
outros, dos quais bateram nuns, e mataram outros.
6 Tendo ainda um filho querido, também lho enviou
por último, dizendo : Terão respeito a meu filho . 7 Porém
os lavradores disseram uns para os outros : Este é o her­
deiro ; vinde, matemo-lo, e será nossa a herança. 8 E , pe­
gando nele, m ataram-no, e lançaram-no fora da vinha.
9 Que fará pois o senhor da vinha ? Virá e exterminará
os lavradores ; e dará a vinha a outros. 1 0 Vós nunca
l estes este lugar da Escritura : A pedra que fota rej ei­
tada pelos que edificavam, tornou-se cabeça do ângulo ?
1 1 Pelo Senhor foi feito isto, e é coisa maravilhosa aos
nossos o lhos.

CAP. XII

10. Ver nota, Mat., XXI, 42.


1 10 s. MARCOS, X I I , 1 2 - 28

1 2 E procuravam apoderar-se dele ; porque entende­


ram que t i n h a dito esta parábola contra eles ; mas teme­
ram o povo. E, deixando-o, retiraram-se.
O tributo 1 3 E enviaram-lhe a lguns dCJs fariseus e dos hero-
a César.
dianos, para que o apanhassem em (alguma) palavra.
1 4 Ch egando eles, disseram-lh e : Mestre, sabemos que és
verdadeiro, e que não atendes a respeitos humanos ; por­
que não consideras o exterior dos homens, m as ensinas
o cam inho de Deus, segundo a verdade : i:: lícito pagar o
tributo a César, ou poderemos não lho paga r ? 1 5 Jesus,
conhecendo a sua perfíd i a , disse-lh es : Porque m e tentais ?
Dai-m e um d i n h eiro para o ver. 1 6 E eles lho trouxe­
ram. Então disse-lhes : De quem é esta imagem e inscri­
ção ? Responderam-l h e : De César. 1 7 Então, respon­
dendo Jesus , disse-lh es : Dai, pois, o que é de Cés a r a
César, e o que é. de Deus a Deus . E adm i ravam-no.
Os sadu­ 1 8 E foram ter com ele os saduceus, que negam
ceus. a ressurreição, e interrogaram-no, dizendo : 1 9 Mestre,
Moisés deixou-nos esc r i to que, s e morrer o i rmão de
algum e deixar a mulher sem fi lhos, seu i rm ã o tome a
m ulher dele e dê descendência a seu irmão. 20 Ora
havia sete i rmãos, e o primeiro tomou mu'.her, e morreu
sem deixar filhos. 21 E o segundo tomou-a, e morreu ;
e também este não deixou filhos. E da mesma sorte o
terceiro. 22 E igualmente os sete a tomaram (por mulher),
e não deixaram filhos. E, depois deles todos, morreu
também a mulher. 23 N a ressurreição, pois, quando tor­
n a rem a viver, de qual destes será a .m ulher ? Porque os
sete a tiveram por mu'.her. 24 E , respondendo Jesus ,
disse-lhes : Não estais vós em erro por isso, porque
não compreendeis as Escrituras, nem o poder de Deus ?
25 Porque, quando ressuscitarem de entre os mortos, nem
os homens tomarão mulheres, nem as mulheres homens,
mas todos serão como os anjos no Céu. 26 E , relativa­
m ente à ressurreição dos m o rtos, não tendes lido no l i v ro
de Moisés, como Deus l h e falou sobre a sarça, dizendo :
Eu sou o Deus de Ab raão, e o Deus de Isaac, e o Deus
de Jacob ? 27 E ele não é Deus dos mortos, m as dos
v i vos. Logo vós estais num grande erro.
O primei ro 28 Então aproximou-se um dos escribas, q ue os t i n h a
�����: ouvido d i scutir, e, vendo q u e Jesus lhes t i n h a respondido
bem, perguntou-lhe qual era o primeiro de todos os man-

�5. Ser/ia como os anjos . . . Ve r nota, lviat., XXII, BO.


2G-27. Eu, sou o Ih uS de A braão. Ver nota, �fat., XXlI, 32.
s. MARCOS, X I I , 29 -- 4 4 111
������

damentos. 29 E Jesus respondeu-l h e : O primei ro de


todos os Ú!andamentos é este : Ouve, I s rael ; O Senhor
teu Deus é um só Deus ; 30 e amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração, e com toda a tua a l m a , e com
todo o teu entendimento, e com todas as tuas forças. Este
é o primeiro mandamento. 3 1 E o segundo é semelh ante
ao primeiro : Ama rás o teu próximo como a ti mesmo. Não
há outro mandamento m a i or do que estes. 32 Disse-lhe
então o escriba : Mestre, disseste bem e com verdade que
Deus é um só, e que não há outro fora dele ; 3 3 e q ue
o amá-lo com todo o coração, e com todo o entendi­
mento, e com toda a a l m a , e com todas as forças, e amar
o próximo como a s i mesmo, v a l e m a is que todos os holo­
caustos e sacrifícios. 3 4 E , vendo Jesus que (o escriba)
tinha respondido sàbiamente, disse-l h e : N ã o estás longe
do reino de Deus . E, desde então, n i nguém mais ousava
interrogá-lo.
3 5 E , falando Jesus, dizia, ensinando no templo : Cristo
Como dizem os escribas que o Cristo é f i l ho de Davi d ? filho e
senhe>r d.e
3 6 Porque o mesmo D a v i d (falànáo d o Messias) diz Davi<l.
(inspirado) pelo Espírito Santo : Disse o Senhor ao m eu
Senho r : Senta-te à m inha d i r e ita, até que eu ponha os
teus i n i m igos por escabelo de teus pés. 37 O mesmo
David portanto l h e chama Senhor, como é ele- pois seu
f i l h o ? E a grande multidão o ouvia com gosto.
38 E dizia-lhes nos s eus ensinamentos : Guardai-vos Hipocrisia.
dos escribas, que gostam de andar com roupas l a rgas, e dos
de serem saudados n as praças, 39 e de ocuparem as escribas.
p ri m ei ras cadeiras nas s inagogas , e os primei ros lugares
nos banq uetes ; 40 que devoram as casas das vi úvas,
sob o pretexto d e longas orações ; estes serão j u lgados
com m a i o r rigor.
41 E, estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, O óbulo
observava como o povo deitava a l i d i n h eiro ; e muitos da viúva.
ricos deitavam em abundância. 42· E, tendo chegado uma pobre.
pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que v a lem um
quadrante. 43 E , chamando os seus discípulos, disse-lhe :
Na verdade vos digo que esta pobre vi úva deu mais que
todos os outros que lançaram no gazofilácio. 4 4 Por­
que todos os outros deitaram do que l h es sobejava ; esta,
porém, deitou do seu necessário tudo o que t i n h a , todo
o seu sustento.

40. Ver uot;i,, l\fat., XXIIJ, 14.


112 s. MARCOS, X I I I , 1 - 1 9

Prof,ecia_da CAP. X I I I 1 E , quando saía do templo, disse-lhe um


-

.J r ���:i�� dos seus discípulos : Olha, Mestre, que pedras e que cans-
ei ·
·
truções. 2 E Jesus, respondendo, disse-l h e : Vês todos
estes grandes edifícios ? Não ficará pedra sobre pedra,
que não seja derribada. 3 E, estando sentado sobre o
monte das Oliveiras, defronte do templo, interrogaram-no
à parte Pedro e Tiago e João e André : 4 Dize-nos,
quando sucederão estas coisas ? E que sinal haverá,
quando tudo isto estiver para s e cumprir ?
Sinais da 5 E Jesus, respondendo, começou a dizer-lhes : Vêde
vinda de que n i nguém vos engane ; 6 porque muitos v i rão em
Jesus.
m eu nome, dizendo : Sou eu ; e enganarão muitos.
7 Quando ouvi rdes falar de guerras e de rumores de
guerras, não temais ; porque importa que estas coisas
aconteçam ; mas não (será) ainda o fi m . 8 Porque se
levantará nação contra nação, e reino contra reino, e
haverá terramotos em d i versas partes, e fomes. Estas coic
sas (serão) princípio das dores. 9 Tomai, porém , cuidado
convosco. Porque vos hão-de entregar nos tribunais, e
sereis açoutados nas sinagogas, e sereis, por minha causa,
levados di ante dos governadores e dos reis, para (dar}
testemunho (de mim) perante eles. 1 O Mas, antes, deve
o Evangelho ser pregado a todas as nações. 1 1 Quando
pois vos leva rem p a ra vos entregarem, não premediteis
n o que haveis de d i ze r ; mas dizei o que vos for inspirado
n essa h o ra ; porque não sois vós que falais, mas o Espí­
rito Santo. 1 2 Então o irmão entregará à morte o seu
i rmào, e o pai o f i l h o ; e os filhos levantar-se-ão contra
os pais, e l h es darão a morte. 1 3 E sereis odiados de
todos por causa do meu nome. Mas o que perseverar
até ao fim (da sua vida), esse será salvo.
Destruição 1 4 Quando, pois, vi rdes a abom inação da desolação
.Jer del ' m posta onde não devia estar, (o que lê, faça reflexão sobre
usa e
isto), então os que estiverem n a Judeia fuj am para o s mon­
·

tes, 1 5 e o que (estiver) sobre o telhado, não desça à casa,


nem entre para levar coisa alguma de sua casa ; 1 6 e o que
se encontrar no campo, não volte atrás a buscar o seu ves­
tido. 1 7 Mas, ai das (mulheres) grávidas, e das q ue tiverem
crianças de peito naqueles dias ! 1 8 Rogai, pois, que não
sucedam (estas coisas) no Inverno. 1 9 Porque, naqueles
dias, haverá tribulações, quais não houve desde o princípio

CAP. XIII
5-19. Ver nota, Mat., XXIV, 15-21.
s. MARCOS, X I I I , 20 - 3 7 113

d a cri ação, que Deus fez, até agora, nem mais haverá.
20 E se o Senhor não abreviasse aqueles di as, nenhuma
pessoa se sal vari a ; m as ele os abreviou, em atenção aos
escolhidos que escolheu.
21 Então, se alguém vos disser : Eis aqui está o Sinais do
Cristo, ei-lo acolá, não deis crédito. 2 2 Porque se levan- fimdo
tarão falsos cristos e falsos profetas, e farão (alarde de)
mundo.
grande;> m i l agres e prodígios para enganarem, se fosse
possível até os mesmos esco l h idos. 23 Estai pois de
sobreaviso, e:s que eu vos predisse tudo. 2 4 Mas, naque-
les dias, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, e
a l u a não dará o seu resplendor ; 2 5 e as estrelas do
céu cai rão, e serão abaladas as potestades que estão nos
céus. 2 6 E então verão o Filho d o homem vir sobre
as nuvens, com grande poder e glória. 27 E enviará
logo os seus anjos, e j untará os seus esco l h i dos dos
quatro ventos, desde a extremidade da terra até à
extremidade do céu. 28 Ouvi uma comparação tirada da
figueira : Quando os seus ramos estão j á tenros, e nas-
cidas as folhas, sabeis que está perto o estio ; 29 assim
também quando virdes acontecer estas coisas, sabei que
(a vinda do Filho do homem para o iuízo final) está
perto, às portas. 3 0 N a verdade vos digo que não pas-
sará esta geração, sem que se cumpram todas estas coi-
sas. 3 1 O céu e a terra passarão, mas as m inhas
palavras não passarão.
3 2 A respeito, porém , desse dia ou dessa hora, n in- Exortação
guém sabe, nem os ani· os do céu, nem o Filho, mas só à vigi­
o Pai. 3 3 Estai de sobreaviso, vigiai e orai, porque não
ncia.

sabeis quando será o tempo. 34 (Eu serei) como um


homem que, ausentando-se para longe, deixou a sua casa,
e deu autoridade aos seus servos, (indicando) a cada um
a sua tarefa, e ordenou ao porteiro q ue estivesse vigi-
lante. 35 Vigiai, pois, (visto que não sabeis quando
virá o senhor, da casa, se de tarde, s e à meia noite, se
a o cantar do galo, se pela manhã ) , 3 6 para q ue, vindo
d e repente, vos não encontre dormindo. 37 O que eu
pois digo a vós, o digo a todos : Vigiai.

20. E se o Senhor não abre�iassc . . . Ver nota, Mat., X X IV , 22.


22. Ver D!ota,
Mat:, XXIV, 24.
32. Nem o Filho o sabe para comunicar aos outros. Jesus não
ignorava quando deve ser o dia de juízo, mas não tinha receb ido
a missão deo revelar aos homens.
8
114 s. MARCOS, X IV, 1 - 1 3

Q U ART A P ARTE

VIDA DOLOROSA E GLORIOSA D E JESUS

1- Paixão de jesus

C'onspira­ CAP· XIV - 1 Dali a dois dias era a Páscoa e os


ção do
Sinédrio.
ázimos ; e os príncipes dos sacerdotes e os escribas anda­
vam buscando modo de o prender por traição, e de o
matar. 2 Porém diziam : Não (convém que isto se faça)
no dia da festa, para que se não levante nen hum motim
entre o povo .
Avareza 3 E, estando Jesus em Betâ n i a , em casa de Simão o
d e Judas.
leproso, e, estando à mesa, veio uma mulher trazendo um
vaso de alabastro cheio de um bálsamo precioso (feito)
de nardo, e , quebrado o vaso, derramou-lho sobre a cabeça.
4 Alguns dos q u e esta vam presentes indignaram-se den­
tro de si, e diziam : Para que foi este desperdício de bál­
sam o ? 5 Pois podia verder-se por mais de trezentos
dinheiros, e dá-los aos pobres. E i rritavam-se contra e l a .
6 Mas Jesus disse : Deixai-a, p o r q u e a molestai s ? E l a
fez-me uma boa obra. 7 Porque v ó s tendes sempre con­
vosco os pobres, e, quando q u iserdes, podeis fazer-lhes
bem ; porém a mim não me tendes sempre. 8 Ela fez o
que podi a : embalsamou com antecipação o m e u corpo
para a sepultura. 9 E m verdade vos digo : Onde q uer
q u e for pregado este Evangelho po r todo o mundo, será
também contado, para sua memória, o q u e ela fez.
Jesus é 1 0 Então Judas lscariotes, u m dos doze, foi ter com
vendido.
os príncipes dos sacerdotes, para l hes entregar Jesus .
1 1 E eles, ouvin do-o, alegraram-se, e prometeram dar­
-lhe dinheiro. E (Judas) procurava ocasião oportuna
para o entregar.
PreP>mção 1 2 No primeiro d i a dos ázimos, quando imolavam
<la última
ceia.
a Páscoa, disseram-lhe os discípulos : Onde lJUeres q ue
vamos preparar-te (o que é necessário) para comeres
a Páscoa ? 1 3 E ele en viou dois dos seus discípulos,
s. MARCOS, X IV, 1 4 - 3 5 115

e disse-l h es : Ide à cidade, e encontrareis um homem


levando uma bilha de água ; ide atrás dele, 1 4 e, Qnde
quer que entrar, d i zei ao dono da casa, que o Mestre
diz : Onde está a minha sala em que eu hei-de comer
a Páscoa com os meus discípulos ? 1 5 E ele vos mos­
trará um cenáculo grande, posto em o rdem ; fazei-nos lá
os preparativos. 1 6 E os discípulos partiram, e che­
garam à cidade ;. e encontraram tudo como ele lhes tinha
dito, e prepararam a Páscoa. 1 7 E, chegada a tarde,
foi Jesus com os doze.
1 8 E, quando estavam à mesa e com iam, disse Jesus : Jesus
Em verdade vos digo que um de vós, que come comigo, revelao
traidor.
me há-de entregar. 1 9 Então começaram a entristecer-se,
e a dizer-l he cada um de por s i : Sou porventura eu ?
20 E l e disse-lhes : (É} um dos doze que mete comigo
a mão n o prato . 2 1 E o F i l h o do homem vai, segundo
está escrito dele, mas, ai daquele homem por quem for
entregue o F i l h o do homem ! Melhor fora a esse homem
não ter nascido.
22 E , enquanto com iam, Jesus tomou pão, e, depois de Instituição
o benzer, partiu-o, e deu-lho, e disse : Tomai , isto é o meu da: '
E' ucans t1ª·
corpo. 23 E, tendo tomado o cálice, dando graças, deu-
-lho ; e todos beberam dele. 2 4 E disse-lhes : Isto é o
meu sangue do Novo Testamento, que será derramado por
muitos. 2 5 Em verdade vos digo que não beberei mais
deste fruto da vida até àquele dia, em que o beberei
n ovo no reino d e Deus. 26 E , dito o hino (de acção de
graças), foram para o monte das O l ivei ras.
27 Então disse-lhes Jesus : A todos vós e u serei esta Escândalo
noite ocasião de escândalo, pois está escrito : Ferirei o ' C\0" 1os.
dismpu
pastor, e as ovel has se dispersarão. 28 Mas, depois que
eu ressuscitar, preceder-vos-ei na Galileia. 29 E Pedro
disse-l h e : A i nda que todos se escandalizem a teu res-
peito, eu não (me escandalizarei). 30 E Jesus disse-l h e :
Em verdade te digo que hoje, nesta mesma noite, antes
que o galo cante a segunda vez, m e negarás três vezes.
31 Porém ele insistia ainda mais : Ainda que me seja pre­
ciso morrer contigo, não te nega rei. E todos diziam o
mesmo.
32 E chegaram a uma herdade, chamada Oetsema n i . Oraçãio de
E (Jesus) disse a seus discípulos : �
Sen ai-vos aqui, cfe�����i.
enquanto eu vou orar. 33 E levou consigo Pedro e
Tiago e João ; e começou a sentir pavor e angústia.
34 E disse-lhes : A minha alma está numa tristeza mor-
tal ; ficai aqui, e vigiai. 35 E, tendo-se adiantado um
pouco, prostrou-se p or terra, e pedia q ue, se era possí-
116 s. MARCOS, X IV, 3 6__
5 4___�
_ _

vel, se afastasse dele aquela hora. 36 E disse : Abba ,


Pai, todas as coisas te s ã o possíveis, afasta d e mim este
cálice ; porém, não (se faça) o que eu quero, mas o
que tu queres. 37 E voltou, e encontrou-os dormindo .
E disse a Pedro : Simão, dormes ? Não pudeste vigiar
uma hora ? 3 8 Vigiai e orai, para que não e.ntreis em
tentação. O espírito n a verdade está p ronto, mas a
carne é fraca. 39 E foi novamente o ra r, dizendo as
mesmas palavras. 40 E, voltando, encontrou-os outra
vez a dorm i r (porque tinham os olhos pesados) , e não
sabiam que responder-lhe. 4 1 E voltou terceira vez,
e disse-l hes : Dormi agora e descansai. Basta, é che­
gada a hora ; e i s que o Filho do homem v a i ser entre­
gue nas mãos dos pecador es . 42 Levantai-vos, vamos ;
eis que se a p roxima o q u e me há-de entregar.
Jesu s 43 E , a inda ele falava, quando chega Judas Isca­
é preso riotes, um dos doze, e com ele muita gente armada de
no horto. espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacer­
dotes e pelos escribas e pelos anciãos. 44 Ora o trai­
dor tinha-lhes dado uma senha, dizendo : Aquele a q uem
eu oscular, é esse ; prendei-o, e levai-o com cuidado.
45 E , logo que chegou, aproxim ando-se imediatamente
de Jesus, disse-l h e : Deus te salve Mestre ; e oscu­
lou-o. 46 Então e l es lançaram-lhe as mãos, e p re n ­
deram-no.
4 7 E um dos ci rcunstantes, tirando da espada, feriu
um servo do sumo sacerdote ; e cortou-lhe u m a orelha.
48 E Jesus, tomando a p a l avra, disse-lhes : Como se e u
fosse um ladrão, v i estes c o m espadas e varapaus a pren­
der-m e ? 4 9 Todos os dias estava entre vós ensinando
no templo, e n ii o me prendestes. Mas (isto acontece)
para que se cum p ram as Escrituras. 50 Então os seus
discípulos, abandon ando-o, fugiram todos. 51 E um
certo jovem seguia Jesus cobe rto sómente com um len­
çol, e prenderam-no. 5 2 Mas ele, l a rgando o lençol,
escapou-se-lhes nu.
Jesus em 53 Levaram Jesus ao sumo sacerdote ; e juntaram-se
presença todos os sacerdotes e os escribas e os anciãos. 5 4 E Pe­
do dro foi-o seguindo d e longe, até dentro d o pátio do
Sinédrio.
sum o sacerdote, e estava sentado ao fogo com os cria­
dos, e aquecia-se.

CAP. XIV
37. Abba, [lalavra aramática, que significa pai.
s. MARCOS, X IV, 55 - XV, 2 117

5 5 Os príncipes dos sace rdotes e todo o conselho


buscavam (algum) testemunho contra Jesus, para o faze­
rem morrer, e não o encontravam. 56 Porque muitos
depunham falsamente contra e l e , mas não concordavam
os seus dep oimentos. 57 E, l evantando-se uns certos,
depunham falsamente contra ele, dizendo : 5 8 Nós ouvi­
mos-lhe dizer : Eu destruirei este templo, feito pela
mão do homem, e em três dias edificarei outro, que
não será feito pela mão do homem. 5 9 Porém nem
este seu testemunho era concorde. 60 Então, levan­
tando-se no m e i o (do conselho) o sumo sacerdote,
interrogou Jesus, dizendo : Não respondes nada ao que
estes depõem contra ti ? 6 1 Ele porém estava em s i lên­
cio, e n ada respondeu. Inte rrogou-o de novo o sumo
sacerdote, e disse-l h e : És tu o Cristo , Filho de Deus
bendito ? 62 E Jesus disse-l h e : E u o sou, e vereis o
F i l h o do homem sentado à di reita do poder de Deus,
e vir sobre as nuvens do céu. 6 3 Então o sumo sacer­
dote, rasgando os seus vestidos, d i sse : Que necessi­
dade temos de m a i s testem unhas ? 6 4 Ouvistes a b l as­
fêmi a ; que vos p a rece ? E todos o condenaram como
réu de morte.
65 EI1tão começaram alguns a cuspi r-l h e , e a velar­
-lhe o rosto, e a dar-lhe punhadas, d i zendo-lh e : Pro­
fetiza ; e 0s criados davam-l h e bofetadas.
66 E, entretanto, estando Pedro em baixo no pátio, Pedro nega
chegou urna das cri adas do sumo sacerdot e ; 67 e, vendo ,ifesus
tres vews.
Pedro, que se aquecia, encarando nele, diss e : Tu também
estavas com Jesus Nazareno. 68 Mas ele negou, dizendo :
Nem o conheço, n em s e i o que d i zes. E s a íu fora para
a entrada do pátio, e o galo cantou. 69 E , tendo-o
v i sto outra vez a criada, começou a dizer aos que esta­
vam presentes : Este é " daqueles. 70 Mas ele o negou
de novo. E, pouco depois, os que ali estavam diziam
a Pedro : Verdadeiramente tu és um deles, porque és
também G a l i l eu. 71 E ele começou a fazer i m precações
e a jurar : Não conheço esse homem de quem falais.
72 E i m ed i atamente cantou o galo segunda vez. E Pedro
recordou-se da palavra que Jesus l h e t i n h a dito: Antes
que o galo cante duas vezes, me n egarás três vezes.
E começou a chorar.
CAP. XV - 1 E , logo pela m a n hã , tendo conselho os Je�us
príncipes dos sacerdotes com os anciãos e os escribas e di=te de
Pilatos.
com todo o Sinédrio, l igando Jesus, o levaram e entrega-
ram a Pilatos. 2 E Pilatos perguntou-lhe : Tu és o Rei
dos Judeus ? E ele, respondendo, disse-lh e : Tu o dizes.
1 18 S. MARCOS, XV, 3 - 25

3 E os príncipes dos sacerdotes o acusavam de muitas


coisas. 4 E Pil atos interrogou-o novamente, dizendo :
Não respondes coisa alguma ? Vê de quantas coisas te
acus am. 5 Mas Jesus não respondeu mai s nada, de
'
sorte que Pil atos estava admirado .
6 Ora ele costumava no dia da festa (de Páscoa)
soltar-lhes um dos presos, qualquer que eles pedissem.
7 E havia um chamado Barrabás, que estava preso com
outros sediciosos, o qual, num motim-, tinha cometido um
homicídio. 8 E, j untando-se o povo, começou a pedir o
(indulto) q u e sempre lhes concedia. 9 Pil atos respon­
deu-l hes, e disse : Quereis que vos solte o Rei dos Judeus ?
1 O Porque ele sabia que os príncipes dos sacerdotes o
tinham entregado por invej a . 1 1 Porém os pontífices
incitaram o povo a que pedisse antes a l iberdade d e Bar­
rabás. 1 2 E Pilatos, falando outra vez, disse-l h es : Que
quereis pois que eu faça ao Rei dos Judeus ? 1 3 E eles
tornaram a gritar : Crucifica-o ! 1 4 Pil atos, porém, dizia­
-lhes : Que mal fez ele ? Mas eles cada vez gritavam
mais : Crucifica-o !
1 5 Então Pilatos, querendo s atisfazer o povo, sol­
tou-lhes Barrabás, e , depois de fazer açoutar Jesus ,
entregou-o para ser crucificado. 1 6 E os soldados con­
duziram-no ao pátio do Pretório, e a'.i j untaram toda a
coorte ; 1 7 vestem-no de púrpura, e cingem-lhe a cabeça
com uma coroa entretecida de espinhos. 1 8 E começa­
ram a saudá-l o : Salve, Rei dos Judeus. 1 9 E davam­
-lhe n a cabeça com uma cana, e cuspiam-lhe no rosto,
e, pondo-se de joelhos, o adoravam.
Via 20 Depois de o terem escarnecido, despiram-no da
dolorosa.
púrpura, e vestiram-lhe os seus vestidos ; e levaram-no
para o crucificarem. 21 E obrigaram um certo homem,
que i a a pass a r (por ali) , Simão d e Cirene, que vinha
do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a tomar a
cruz de Jesus. 22 E conduziram-no ao lugar do Gól­
gota, que quer dizer lugar do Crânio. 23 E davam­
-lhe a beber vinho misturado com m irra ; mas não o
tomou.
Crucifixão. 24 Tendo-o crucificado, dividi ram os seus vestidos,
lançando sortes sobre eles, pa ra ver a parte que cada um
levaria. 25 Era a hora da tércia quando o crucificaram.

CAP. XV

22. Lugar do Grémio . . . Ver nota, Mat., XXVII, 33.


s. MARCOS, XV, 26 - 3 0 1 19

2 6 E a causa da sua condenação estava escrita nesta


inscrição : O REI DOS JUDEUS. 2 7 E com ele crucifica­
ram dois ladrões, u m à sua d i reita, e o utm à esquerda.

E, depois de fazer açoutar Jesus . . . - MARC., XV, 15.

28 E cumpriu-se a Escritura, que diz : Foi contado entre


os maus. 29 E os que iam passando blasfemavam dele,
aban ando as suas cabeças, e dizendo : Ah ! tu, que destróis
o templo de Deus, e o reedificas em três dias. 3 0 salva-te
1 20 s. MARCOS, XV, 31 - 4 7

a t i mesmo, descendo d a cruz. 3 1 Do mesmo modo,


escarn ecendo-o também os príncipes dos sacerdotes e
os escribas, diziam uns para os outros : Sal vou os
outros, e não s e pode salvar a si mesmo. 3 2 O Cristo.,
o Rei de Israel desça agora da cruz, para que vejamos
e acreditemos. Também o s que tinham s i do crucificados
com ele o insultavam.
Agonia 3 3 E , chegada a hora de sexta, cobriu-se toda a terra
e morte de trevas até à hora de noa. 34 E, à hora de noa, excla­
de Jesus. mou Jesus em alta voz, dizen do : E l o i , E l o i , lamma sabac­
than i ? que quer d:zer : Deus meu, Deus meu, porque me
desamparaste ? 35 E, ouvindo isto, alguns dos circuns­
tantes diziam : Eis que chama por Elias. 3 6 E , correndo
um, e ensopando uma espon j a em v i n agre, e atando-a
numa cana, dava-lhe de beber, dizendo : Deix a i , vejamos
se E l ias vem tirá-lo. 37 Mas Jesus, dando um grande
brado, expirou. 38 E o véu do templo rasgou-se em
duas partes, de alto a baixo. 39 O centurião, q u e
estava defronte, v e n d o q u e Jesus expirava dando este
brado, disse : Verdadeiramente este. homem era Filho de
Deus. 40 Encontravam-se também ali algumas mulhe­
res vindo de longe, entre as quais estava Maria Mada­
lena, e Maria, mãe d e T i ago meno r e de José, e
Sal omé ; 4 1 as quais já o seguiam quando ele estava n a
Galileia, e muitas óutras, que, juntamente com ele, tinham
subido a Jerusalém.
Sepultura 4 2 E , quando era já tarde (pois era a parasceve, isto
de Jesus. é, a v i gíl i a de sábado) , 43 foi José de A rim ateia, nobre
decurião, que também esperava o reino de Deus, e apre­
sentou-se corajosamente a Pilatos, e pediu-lhe o corpo
de Jesus. 44 Pilatos adm i rava-se de que estivesse já
m o rto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se estava
j á morto. 45 E , informado pelo centurião, deu o corpo
a J osé. 46 E José, tendo comprado um lençol, e tirando-o
da cruz, envol veu-o no l ençol, e depos itou-o num sepul­
cro, que estava aberto na rocha, rolou uma pedra para
diante da boca do sepulcro. 4 7 Entretanto Maria Mada­
lena e Maria, mãe de José, estavam observando onde
era depositado.

32. O insultavam. Ver nota, :Mat., XXVII, 44.


3G. V er nota, Mat.,XXVIl, 48.
s. MARCOS, X V I , 1 - 16 121

II - jesus Ressuscitado

CAP· XVI - 1 Passado o d i a de sábado, Maria Mada- As santas


lena, e Maria, m ã e de Tiago, e Salomé compraram aro- mulh e es r
no sep u cro
m as para irem embalsamar Jesus. 2 E (partindo) n o ­
primeiro dia da semana, de manhã cedo, chegaram ao
sepulcro, quando o sol j á era nascido. 3 E diziam entre
s i : Quem nos h á -de revolver a pedra d a boca do sepul-
cro ? 4 Mas, olhando, viram revolvida a pedra,. a qual
era muito grande. 5 E , entrando no sepulcro, vi ram um
jovem sentado do l ado d i reito, coberto com u m vestido
b ranco, e ficaram assustadas. 6 E ele disse-lhes : Não
tem ais ; buscais a Jesus Nazareno (que foi) crucificado :
ressuscitou, não está aqui ; eis o lugar onde o deposita-
ram. 7 Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que
ele vai adiante de vós para a Galilei a ; lá o vereis, como
ele vos disse. 8 E elas, saindo (do sepulcro), fugiram ;
porque as t i n h a assaltado o temor e o pavor ; e não
disseram nada a ninguém (pelo caminho), t a l era o
medo que tinham .
9 Ora (Jesus), tendo ressuscitado de m anhã, no pri- D i v�rsas
meiro d i a da semana, apareceu primeiramente a Maria apançoes.
_

Madalen a , da qual tinha expulsado sete demónios. 1 O Ela


foi noticiá-lo aos q u e tinham andado com e l e , os quais
estavam aflitos e chorosos. 1 1 E , tendo eles ouvido
(dizer) que (Jesus) estava vivo, e que fora visto por e l a ,
n ã o acreditaram. 1 2 D e p o i s disto, mostrou-se s o b outra
form a a dois deles, enquanto iam para a aldeia ; 1 3 os
quais foram anunciar aos outros, que nem a estes deram
crédito. 1 4 Finalmente apareceu aos onze (apóstolos),
quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua increduli-
dade e dureza de coração, por não terem dado crédito
aos que o vi ram ressuscitado.
1 5 E disse-l hes : Ide por todo o mundo, pregai o Missão dos
Evangelh o a toda a criatura. 1 6 O que crer e for b apt i · Ap óstolos.
zado, será salvo ; o que, porém, não crer, será condenado.

CAP. XVI

16. O que crer . . . A fé a que Jesus se refere é aquela que


nos leva rr
a c e em tudo o que ele nos ensinou. E
uma das coisas
que Jesus nos ensiuou com mais insistência foi a necessidade ele
observar os mandamentos, de praticar boas obras para alcançar a
salvação.
1 22 s. MARCOS, XV I , 1 7 - 20

1 7 E eis os m i l agres que acompanharão os que crerem :


Expulsarão os demónios em meu nome ; falarão novas
l ínguas ; 1 8 manusearão as serpentes ; e , se beberem
alguma coisa mortífera, não lhes fará mal ; imporão as
mãos sobre os enfermos, e serão curados.
Ascensão 1 9 E o Senhor Jesus, depois que (assim) lhes falou,
a1�!'l:U<l; elevou-se ao céu, e está sentado à direita de Deus.
:� g
Eva g lh . 20 E eles, tendo partido, pregaram por toda a parte
cooperando com eles o Sen h or , · e confirmando a sua
pregação com os m i lagres que a acompanhavam.

r or
17-18. Jesus prometeu aos primeiros p egad es do Evange­
lho o poder de realizar os maiores 1nilagre s , não só para que a
sua iprêgação fosse mais eficaz, mas também para que todos fos­
se1n ecmfirmados na fé, e não desanimassem com as persegniçõ�s.
Nos Actos dos Apóstolos encontra-se a mais clara concfirmação
desta promessa de Jesus.

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