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ARTIGO - A política pública e a economia do turismo local

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A política pública e a economia do turismo local

The public policy and the economics of local tourism

Cláudia Brazil Marques


Faculdade Dom Alberto

Carlos Honorato Schuch Santos


Universidade Federal de Santa Maria

Resumo: O objetivo deste artigo é propor um modelo de análise relativo do desenvolvimento do


turismo, por meio dos resultados dos impactos provocados pelas políticas públicas territoriais.
Entende-se que a ação de projetos para incentivo da economia do turismo é uma ferramenta que pode
muito contribuir para o desenvolvimento territorial, sendo que as iniciativas podem ter origem tanto
no setor público como no privado, mas devem mostrar eficiência, eficácia e efetividade nos seus
resultados. Como metodologia, utilizou o estudo bibliográfico descritivo de modelo analítico. Por fim,
concluiu que a gestão das políticas públicas voltadas para a economia do turismo local mostra-se,
muitas vezes, desconectadas da gestão do território. Logo, o ideal é que as políticas públicas sejam
desenhadas de acordo com a estruturação do território, ou seja, a intersetorialidade da própria gestão
pública com o objetivo de promover o bem da coletividade de forma integrada.

Palavras-chave: Turismo; Território; Planejamento; Políticas Públicas; Efetividade; Economia.

Abstract: The aim of this paper is to propose an analytical model for the development of tourism
through the results of the impacts caused by territorial public policies. It is understood that the action
plans for promotion of the tourism economy is a tool that can greatly contribute to territorial
development, and initiatives can have originate in both the public and private, but must show
efficiency, efficiency and effectiveness in their results. The methodology used the bibliographic
description of the analytical model. Finally, he concluded that the management of public policies for
the local tourism economy shows are often disconnected from the management of the territory, so the
ideal is that public policies are designed according to the structuring of the territory, or is, intersectoral
of own public management with the objective of promoting the collective good in an integrated
manner.

Keywords: Tourism; Territory; Planning; Public Policy; Effectiveness; Economy.

JEL: J18; L83.

Introdução

No Brasil, as potencialidades naturais, culturais e regionais favorecem o


desenvolvimento da economia do turismo. O mercado brasileiro apresenta vantagens
comparativas baseadas na diversidade de destinos turísticos e na oferta de preços
competitivos. O país detém as condições necessárias para gerar resultados na
economia e melhoras nas condições sociais dos atores locais de forma sustentável. O
turismo possui características que de um sistema complexo e dinâmico, e isto precisa
ser considerado quando do seu planejamento.
Desta forma, o desenvolvimento do turismo e seu respectivo planejamento
precisam levar em conta os atrativos reais ou potenciais, sejam eles naturais,
históricos ou culturais, mas, depois disto, precisa considerar os desejos e
necessidades dos diferentes stakelholders e, principalmente, suas relações e
interações.

2. As Políticas Públicas e a Economia do Turismo


O conceito de turismo pode ser estudado em diversas perspectivas,
principalmente do ponto de vista social e econômico, dada a complexidade das
relações entre os elementos que constituiu a indústria do turismo.

Informe Gepec, Toledo, v. 18, n. 1, p. 88-100, jan./jun. 2014


A política pública e a economia do turismo local

O turismo não é uma atividade típica de produção capitalista industrial, mas se


planejado e integrado com as demais políticas sociais e econômicas, pode oferecer
caminhos interessantes para o desenvolvimento local. O turismo é uma ferramenta
utilizada por governos para atingir metas de reestruturação e crescimento econômico,
geração de empregos e desenvolvimento e que contribui de forma positiva no
equilíbrio econômico. Logo, o Estado propõe-se a administrar políticas públicas
passíveis de possibilitar a gestão da atividade turística. A participação das políticas
públicas é compreendida por Gomes (2004: p.183) como “toda a atividade política
que tem como objetivo específico assegurar, mediante a intervenção do Estado, o
funcionamento harmonioso da sociedade, suplantando conflitos e garantindo a
manutenção do sistema vigente”. O Estado, desta maneira, deveria despertar
interesse e ser o grande orientador pelo menos no que concernem as políticas
públicas voltadas para a educação, a cultura, a saúde e o transporte. A conservação do
patrimônio, bem como a influência de outras políticas públicas, evidencia a
necessidade de se tratar o turismo de forma transversal, pois ele necessita fortemente
de todas as áreas citadas anteriormente, mas ao mesmo tempo, pode alavancar as
referidas áreas e setores.
No âmbito governamental, Cullingworth; Nadin (2006) acreditam que o
planejamento seja um processo intencional em que se possa definir metas e se
elaborar políticas para após isto implementar de acordo com as necessidades dos
stakeholders. A análise das políticas permite compreender e explicar o conteúdo das
decisões e como elas foram tomadas. Em se tratando da política oficial, é possível
extrair, por exemplo, a confluência de valores que regem a ordem governamental. A
elaboração de políticas públicas reflete, portanto, todo um ambiente político,
caracterizando valores e ideologias, distribuição do poder, estruturas institucionais e
processos de tomadas de decisão.
Segundo Dye (1992: pp. 2), política pública “é tudo o que o governo decide
fazer ou não, o que é que os governos fazem, porque o fazem e que diferença isso faz”.
Essa definição explicita que as políticas são escolhas deliberadas de cursos de ação,
adotadas pelos que estão no poder, entre alternativas, e refletem as decisões e não
decisões, ações e inações do governo. Falar em políticas voltadas para o interesse
público requer um planejamento governamental dedicado aos setores comandados
predominantemente pela iniciativa privada, como é o caso da economia do turismo,
sendo que isto pode parecer anacrônico, devido às tendências atuais de menor
intervenção do Estado e maior empowerment dos stakeholders. Quando se faz esta
dualidade é porque não se considera as diferentes formas que o Estado pode intervir
no território. No Brasil, acostumou-se a ver o Estado como produtor de produtos ou
serviços turísticos ou ora totalmente isento e distante do setor. Já as experiências
européias, como em Portugal, Espanha, Itália e Grécia e outros países, mostram que a
participação do Estado pode perfeitamente ser regulador e indutor de atividades
setoriais. Dito de outra forma: não precisa escolher entre ser ou não ser produtor no
setor, mas sim participar.
O turismo pode contribuir para minimizar o desemprego, a pobreza e as
injustiças sociais no mundo globalizado e, de acordo com Sansolo e Cruz (2003),
pode apresentar alternativas para o desenvolvimento socioeconômico de muitas
sociedades. Ao se falar de políticas públicas para o turismo, se faz necessário pensar
também em uma política urbana, relacionada à criação de infraestrutura urbana em
localidades consideradas pelos estados envolvidos, relevantes para o
desenvolvimento do turismo regional (CRUZ, 2001).
As políticas para o desenvolvimento do turismo, paralelamente, passam pelo
entendimento do papel das classes dirigentes e do Estado para a sua definição. Logo,
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o papel das políticas públicas no segmento da indústria do turismo deve propiciar o


desenvolvimento harmonioso da atividade com os demais segmentos econômicos e
socioambientais. Para Barretto et al. (2003, p. 33)

Cabe ao Estado construir a infraestrutura de acesso. Uma infraestrutura


básica urbana que também atenda a população, locar e prover de uma
superestrutura jurídica (secretarias e similares) cujo papel é planejar e
controlar que os investimentos que o Estado realiza permitam o
desenvolvimento da iniciativa privada, encarregada de construir os
equipamentos e prestar os serviços para que retornem na forma de
benefícios para toda a sociedade.

As principais matérias-primas do turismo são o patrimônio natural e o cultural


de uma localidade. Em função disto, torna-se impossível o desenvolvimento do
turismo sem a participação direta ou indireta do poder púbico, podendo abranger
várias áreas, pois grande parte dos impactos negativos atribuídos ao turismo deve-se
à falta de políticas para prevenir os problemas suscitados. O papel do poder público
pode abranger inúmeras atividades relativas ao turismo. Segundo Ignarra (2001, p.
126) acredita ser dever do Estado:

[...] planejamento do fomento da atividade turística; controle de qualidade


do produto; promoção institucional das destinações; financiamento dos
investimentos da iniciativa privada; capacitação de recursos humanos;
controle do uso e da conscientização do patrimônio turístico; captação,
tratamento e distribuição da informação turística; implantação e
manutenção da infraestrutura urbana básica; prestação de serviços de
segurança pública; captação de investimentos privados para o setor;
desenvolvimento de campanhas de conscientização turística; apoio ao
desenvolvimento de atividades culturais locais, tais como o artesanato, o
folclore, a gastronomia típica, etc.; implantação e manutenção de
infraestrutura turística voltada para a população de baixa renda;
implantação e operação de sistemas estatísticos de acompanhamento
mercadológico.

A ação com a finalidade de incentivar o desenvolvimento da atividade turística


implica a existência de políticas públicas com programas voltados para atender
primeiramente necessidades essenciais de condições estruturais como: saneamento,
saúde, transporte, distribuição de renda, lugares para lazer, infraestrutura de
moradia, conservação de recursos naturais. Esses programas fazem parte de objetivos
de médio e longo prazo das estratégias dos gestores públicos, que poderá fazer a
diferença no sucesso ou no insucesso da promoção da economia do turismo, como
promotor do desenvolvimento do território. As mudanças devem beneficiar tanto os
turistas como a população visitada e possibilitar o seu acesso a condições melhores de
vida. Somente assim pode-se pensar em desenvolvimento continuado.
Barretto et al. (2003), entendem que o papel das políticas públicas deveria ser
o de propiciar o desenvolvimento harmônico dessa atividade. Dessa forma, as
políticas públicas precisam ser estrategicamente compatíveis com o interesse da
sociedade. O governo precisa escolher o que faz através de projetos, programas para
segmentos específicos da sociedade.
Para Beni (2001), a política pública, para o turismo é a espinha dorsal do
planejamento, do plano, do fazer (projetos, programas), da execução (preservação,
conservação, utilização e ressignificação dos patrimônios natural e cultural e sua
sustentabilidade), da estratégia e do fomentar investimentos para o desenvolvimento
turístico de um país ou de uma região. A política de turismo é a forma na qual o poder
público intervém no setor. Essa é uma tarefa dispendiosa e os governos deveriam se
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conscientizar dos riscos e desafios envolvidos. Talvez, a principal vantagem do


envolvimento do Estado seja evitar o crescimento desenfreado, motivado unicamente
pelo lucro por parte de algumas empresas, pois pode ser prejudicial para o futuro do
turismo no país como um todo (WAHAB, 1991).
A obtenção de uma política integrada do turismo no âmbito federal, estadual e
municipal deve ser matéria de responsabilidade de todo o segmento do turismo, seja
público ou privado. Assim, a política de turismo poderá ter sua efetividade e
legitimidade ampliada na medida em que for apoiada na mais larga base
representativa dos interesses do turismo, garantindo seu desenvolvimento e
minimizando seus efeitos negativos.
Por ser um fenômeno tão complexo, pressupõe-se que a cooperação e
integração entre o Estado e os agentes privados são necessárias para que ocorra um
desenvolvimento amparado nas premissas do crescimento e desenvolvimento do
turismo.
Para Nogueira (1983), é fundamental que se considere a atuação do setor
público e privado no processo decisório, já que a política pública do turismo é regida
tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada. Essa ação tem importantes
implicações para o desenvolvimento da política turística no acúmulo de forças,
buscando gerar o planejamento turístico público, especialmente a partir das
abordagens comunitária e sustentável que se tornam interesses locais relevantes para
o progresso da atividade turística.
Todavia, segundo Haughton e Hunter (1994, p.263), as imperfeições do
mercado oferecem inúmeros motivos para a intervenção econômica do Estado,
incluindo: (a) melhorar a competitividade econômica; (b) retificar direitos de
propriedade; (c) possibilitar que tomadores de decisão do Estado considerem
externalidades; (d) oferecer benefícios públicos amplamente disponíveis; (e) reduzir
riscos e incertezas; (f) apoiar projetos com elevados custos de capital e envolver novas
tecnologias; e (g) educar e oferecer informações.
O Plano Nacional de Turismo - MTUR (2003, p.12) complementa, através da
política nacional de turismo, a preocupação com a descentralização da gestão do
turismo, “atingindo em última instância o município, onde efetivamente o turismo
acontece”. Dentro dessa política de descentralização e participação, os municípios são
incentivados a criar os Conselhos Municipais de Turismo. Dessa forma, o programa
busca a valorização e o respeito às especificidades locais e o envolvimento de todos os
setores ligados ao turismo, buscando de forma participativa com órgãos públicos,
privados, entidades civis e comunidade.
Segundo Tyler e Guerrier (2001), a mobilização de influências é inevitável, e se
bem administrada poderá formar áreas de interesse comuns e moldar parcerias ou
acordos colaborativos. Os autores consideram que uma administração focalista pode
estimular desarmonia e hostilidades entre grupos na comunidade. Por outro lado,
uma política com o estabelecimento de objetivos comuns romperia o ciclo de políticas
viciosas e facilitaria a inclusão social.
O papel do Estado como organismo social deve estar presente nas discussões
das sociedades. Motivados pela influência do ideário neoliberal, muitos governos
passaram a adotar uma postura empresarial em relação ao turismo, a fim de
aumentar a contribuição financeira do setor à receita do Estado. Com isso, os
investimentos em divulgação e marketing dos destinos, bem como o desenvolvimento
de parcerias com o setor privado em atrações e instalações turísticas, aumentaram
consideravelmente nos últimos anos.
O setor privado raramente está interessado nas questões ligadas às
necessidades sociais e ambientais de longo prazo. Esta busca pelo aumento de receita
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e lucros de curto prazo pode, no entanto, causar impactos negativos não só para a
economia local como para o bem-estar de toda a comunidade. Nesse caso, o governo
local, deveria ser chamado para interferir e corrigir o problema.

2.1 O turismo urbano

As cidades podem ser consideradas como organismos vivos que se


transformam permanentemente. O ideal que se foi diluindo através dos tempos, com
o ajuntamento cada vez mais frequente que sufoca e neutraliza a individualidade, fez
com que as necessidades do homem também fossem evoluindo e se transformando.
Se, por um lado, houve a oportunidade de melhoria na qualidade de vida, por outro, o
crescimento rápido e desordenado, na maioria das vezes, trouxe consigo uma sensível
queda na qualidade de vida em geral e, em particular, ambiental e social com a
ocupação contínua do solo. A urbanização, no entanto, é um fato irreversível e, com
isso, atitudes foram e estão sendo tomadas pelos citadinos numa tentativa de
minimizar os males que ela oferece. A esse fator há que somar as necessidades e os
interesses dos homens em conhecer novos lugares, em ultrapassar o seu limite
cotidiano, em buscar novos horizontes, em tentar desvendar o desconhecido, o que
está mais além. Concomitante a esse desenvolvimento, no âmbito do turismo,
florescem as cidades com função específica: a de acolher populações de outras
cidades, nas suas diversas modalidades de atendimento, envolvendo a cura e o
entretenimento. A utilização e a valorização dos recursos naturais tomam vulto. A
apreciação e a preferência por paisagens únicas se multiplicam, quando percebe uma
perspectiva do desenvolvimento dos negócios voltados para o turismo.
Os pequenos centros com algum atrativo turístico e com certa proximidade da
grande cidade, em pouco tempo vêem sua população se multiplicar. As grandes
aglomerações, principais emissoras de turistas, adquirem um aspecto letárgico e, os
que ficam, desfrutam de suas ruas solitárias, dos grandes parques, dos
entretenimentos que elas podem oferecer e que passam, na maioria das vezes,
despercebidas pelo grande número de símbolos que possuem. O turismo pode ser
considerado como uma dimensão inerente ao mundo contemporâneo e,
concomitantemente, as visões promovidas por sua atuação passam por uma fase de
proliferação capaz de dar continuidade à sua existência.
As políticas municipais e as tendências exercem papéis influenciadores no
espaço urbano. As políticas municipais são responsáveis pelas diretrizes urbanas e
impactam diretamente na vida da comunidade e indiretamente na dos turistas. Por
outro lado, as tendências influenciam o comportamento tanto dos turistas quanto da
comunidade. Segundo Montejano (2001), o turismo urbano pode ser conceituado
como a atividade de tempo livre que se pode desenvolver nas grandes cidades durante
um tempo mais ou menos prolongado, que pode oscilar de um final de semana a uma
semana. Partindo deste entendimento, é possível compreender a modalidade de
Turismo Urbano.
Castrogiovanni (1999) considera que espaço urbano não é construído para
uma pessoa, mas para muitas e estas apresentam diferenças de temperamento,
formação, ocupação profissional, origem étnica e diversidade social, portanto,
interesses. Além disso, a construção da paisagem imaginária ou real, no urbano, é um
desafio, como afirma Gastal (2003). Na mesma linha, Castrogiovanni (1999) mostra
que a imagem de um determinado lugar pode variar significativamente, dependendo
da formação e da sensibilidade de cada observador no tempo.
Para o delineamento do projeto do turismo urbano é preciso considerar que o
componente da estrutura receptiva é amplo e complexo, pois envolve os
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equipamentos e serviços que se relacionam diretamente com o turista. A comunidade


local também faz parte das ações que envolvem a recepção e o acolhimento dos
turistas. Neste sentido, Tyler e Guerrier (2001) chamam atenção para a
responsabilidade da educação e dos treinamentos da comunidade local, que deveria
ser uma iniciativa do governo e um compromisso da iniciativa privada, como
resultado da parceria-público-privada.
O turismo urbano, na concepção de Tyler e Guerrier (2001), deve ser um
espaço de sucesso, na medida em que oferece excitamento, espetáculo e estímulo, ao
mesmo tempo em que oferece garantia, segurança e familiaridade. Portanto, pode-se
perceber que as diversas políticas públicas municipais podem gerar impactos diretos
e indiretos no Turismo Urbano.
De acordo com a perspectiva pela busca da configuração de produtos
turísticos, a cidade é um desafio cognitivo, no sentido de identificar as singularidades
que deverão ser traduzidas em "identidades locais", segundo a Castrogiovanni
(2000), cujo desdobramento implica ações sobre a dimensão física, geográfica,
histórica e cultural, e decisões sobre investimentos em equipamentos e serviços. Em
poucas palavras: a gestão do turismo é uma questão política por excelência.
O conjunto de ações vinculadas à promoção do turismo pode ou não
configurar uma política de gestão de turismo. Dentro desse quadro, a discussão
proposta por Beni (2001) consiste que a atividade turística dispõe-se em imbricação
com vários setores como: econômico, social, ambiental, político e cultural e, portanto,
demanda a construção de um sistema de ação intersetorial.

3. Análise e Discussão da Proposta

Na busca por atração turística e também da concorrência do setor, os espaços


urbanos precisam contar com atrativos tangíveis ou intangíveis que sirvam de
referência e objetivo da própria visita e estada. Estes elementos é que vão fazer com
que os turistas, durante um determinado período de tempo, se relacionem com os
produtos e serviços do local, e mais especificamente, se relacionam com a cidade. É o
que se chama aqui de “elementos visíveis” (Figura 01). Estes elementos visíveis são,
basicamente, relacionados com o que se costuma chamar de “estrutura receptiva”.
Pode-se considerar que a estrutura receptiva é composta por dois elementos. São
eles: a) equipamentos e serviços que estão em contato direto com o turista, tais como
os meios de hospedagem, a gastronomia, os parques entretenimento e os meios de
transporte; e b) aqueles que são invisíveis para o turista tal como a segurança a
infraestrutura urbana (serviços públicos eficientes e eficazes) e a própria estrutura
para o atendimento dos turistas por parte da comunidade local. Estes dois elementos,
muitas vezes invisíveis para o turista, são sustentados pela própria forma de ser da
cidade, que aqui é chamada de “dinâmica da cidade”.

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A política pública e a economia do turismo local

Figura 01- Modelo do Macro elementos


Fonte: Elaborado pelos autores.

Pense que, portanto, o modelo proposto divide os elementos de uma cidade em


duas categorias (elementos visíveis e invisíveis), sendo que os elementos invisíveis
podem, ainda, ser subdivididos em infraestrutura e comunidade, chamados aqui de
elementos de apoio.
Como se pode perceber, o advento da singularidade que contempla as cidades
turísticas litorâneas fica por conta da ocupação do sítio que, geralmente, está disposto
linearmente, acompanhando o recurso paisagístico. Acidentes geográficos naturais,
tais como formações rochosas, dunas, encontro do rio com o mar, servem para
seccionar o espaço urbano, dando-se ao papel de agrupar a população segundo a
classe social. O favorecimento do sítio urbano, dependendo da localização e o seu
entrono pode favorecer a visitação e ou a instalação de equipamentos que poderá
contribuir para contemplação ou o acesso aos atrativos.
Os dois elementos de apoio, no entanto, estão ligados no que se chamou, no
modelo, de dinâmica da cidade. Em princípio, ela não tem ligação nenhuma com o
setor turístico, mas é a base para todos os setores urbanos. É como a cidade é, e como
ela funciona. Este componente incorpora a própria “cultura local”, bem como a forma
de ser e pensar dos indivíduos que pertencem, temporariamente ou não, à própria
cidade. Expressões tais como “a cidade X é violenta”; “a cidade Y não dorme”; “a
cidade Z é agradável”; “a cidade H é liberal” mostram características do que se está
chamando de “dinâmica da cidade”.
Os relacionamentos envolvendo a população residente e os visitantes são de
extrema importância para o desenvolvimento turístico, uma vez que afetam
diretamente no processo de tomada de decisão do turista, quando convidado a
escolher seu destino. Quando os residentes de comunidades turísticas sentem que o
turismo está destruindo de alguma forma seu ambiente físico ou social, as relações
visitante-visitado se desgastam, prejudicando a imagem do destino. Como forma de
minimizar os impactos decorrentes do turismo, algumas estratégias alternativas
passam a ser desenvolvidas, principalmente de contexto social e ambiental, no
território em que esse turismo ocorre. Hall (2001) ressalta a necessidade de um
maior envolvimento comunitário no planejamento turístico com as seguintes metas:
1) proporcionar uma estrutura para elevar o padrão de vida dos residentes locais por

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meio dos benefícios econômicos gerados pelo turismo; 2) desenvolver uma


infraestrutura e oferecer instalações recreativas para residentes e visitantes; 3)
assegurar que os tipos de avanços ocorridos nos centros de visitantes e resorts sejam
adequados aos objetivos dessas áreas; 4) criar um programa de desenvolvimento
consistente com a filosofia cultural, social e econômica do governo e das pessoas que
vivem na região visitada; e 5) otimizar a satisfação do visitante.
Dito isto, é possível identificar quatro grupos de elementos que precisam ser
atingidos pelas políticas públicas para que o turismo urbano possa se desenvolver
nestes espaços urbanos. Os residentes habitam, vivenciam e estabelecem pontos de
referência. O morador (residente ou visitado) que sai para o trabalho que conota toda
a simbologia que o identifica com o lugar. Os turistas (visitantes), que por sua vez
trazem o olhar, os hábitos e movimenta o local em que está hospedado. Possuem uma
interação diferente dos residentes, dos visitantes, com os atrativos pontuais como
com a própria dinâmica da cidade. O último grupo é formado por aqueles que são
responsáveis pela ligação origem-destino (a agência de turismo, o guia, o agente
público) das regiões que são visitadas. Interação entre origem e destino implica na
necessidade básica de sair do território de origem. Necessidade real ou percebida de
sair da rotina e que, para muitos, pode ser conseguida por uma mudança física do
lugar, ou que altere o imaginário. A mudança constante do território é a essência do
produto turístico.

turistas
residentes

Ponto de ligação
origem-destino

Figura 02 - A conexão dos grupos no ambiente visitado


Fonte: Elaborado pelos autores.

As políticas públicas devem também atingir as conexões (Figura 02) entre os


grupos: a) residente-turista; b) residente-ligação; e c) turista-ligação. A conexão
residente-turista acontece tanto no espaço visível como no espaço invisível no modelo
proposto (Figura 01). A conexão residente-ligação requer que se conheça “qual o
visitante que se quer receber para visitar a nossa cidade”. Esta, então, é uma questão
de gestão e de planejamento de longo prazo, que precisa ser conduzida pelas políticas
públicas.
A última conexão, turista-ligação, precisa contemplar as questões
mercadológicas das cidades: “como desejam ser percebidas e fazerem parte do
imaginário do turista e quem vai ser o responsável pela promoção e construção deste
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imaginário”. Roma e Barcelona são exemplos claros de cidades que conseguiram, em


relativamente pouco tempo, reconstruir suas imagens e gerir redes de turistas-ligação
de forma bastante eficaz, devido a sua estrutura e imagem no cenário turístico
mundial.
As cidades turísticas repousam em bases frágeis. Tornam-se vulneráveis
quando submetidas à ocupação do turismo em massa, pois a infra-estrutura
(mormente sanitária) é projetada para sua população local e para atender a um
número pressuposto de uma capacidade de carga de turistas. Tão logo, este sítio é
descoberto e perpetuado, têm-se visto um acréscimo da população flutuante,
principalmente quando se torna favorecido pela acessibilidade.
As políticas públicas para o espaço urbano com o objetivo de desenvolver o
turismo devem, portanto atingir seis focos simultaneamente: os três elementos
básicos e as três conexões. Paralelamente, tais políticas precisam contemplar os
aspectos visíveis (turista, produto e serviços), mas, fundamentalmente, os elementos
invisíveis (infraestrutura, comunidade e a dinâmica da cidade).

Figura 03- As Políticas Públicas e as suas interfaces com os elementos interventores


da decisão do turista
Fonte: Elaborado pelos autores.

Em virtude disto, pode-se construir uma Matriz de Impacto (MI) onde é


possível avaliar a efetividade das políticas públicas aplicadas aos fatores visíveis e
invisíveis que influência na promoção do produto turístico. De acordo Arretche
(1999), a efetividade de uma dada política pública torna-se evidente quando ela
atinge os objetivos definidos em sua implementação e, logo, os seus impactos e/ou
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A política pública e a economia do turismo local

resultados mostram-se um sucesso ou um fracasso, em termos de uma efetiva


mudança nas condições sociais da vida do território atingido pelo programa. A matriz
pode proporcionar visibilidade ao gestor público das suas estratégias e objetivos,
como mostra a Figura 04.

Elementos Básicos Elementos de Conexão


Agente
Agente Agente de de
Residente-
Residente Turista de ligação e ligação
Turista
ligação residente e
Turista
Produtos S S S S N S
e serviços
Elementos NS NS NS NS NS N
visíveis Infraestrutura

Comunidade NS S S N N S
Elementos
invisíveis Dinâmica da
Cidade NS N NS S S S

Figura 04 - Matriz de Avaliação do Impacto (MI) da política pública “Y” ou “X”


aplicada na Economia do Turismo
Fonte: Elaborado pelos autores.

Para se avaliar o impacto de uma determinada política pública “X” é possível,


por exemplo, adotar critérios de avaliação como: satisfatória (S), não satisfatória (NS)
e nula (N). Quando esta política efetivamente impactar de forma a atender um maior
número de elementos de forma satisfatória tem-se uma política efetiva e logo,
legitimidade no território. Pode-se construir para tentar medir a efetividade,
considerando: Satisfatória e Efetiva = > 1, Não satisfatória e logo não efetiva <1 e
política considerada nula = 0. A partir de intervalos predeterminados, exemplo (5,-5)
pode-se determinar a efetividade da política pública (Epp) com a seguinte fórmula
(somatório de S) - (somatório de NS). Seriam consideradas efetivas as políticas que
gerassem um indicador positivo. Dito de outra forma: Epp > ou = 1. Uma questão
fundamental e posterior seria avaliar a origem dos elementos da fórmula e da matriz
MI que identifique os elementos turísticos beneficiados pela política pública no
território (elementos visíveis ou invisíveis) e os grupos beneficiados (residentes,
turistas, agentes de ligação e suas respectivas conexões). Conforme exemplo (Figura
04), têm-se: Epp= Elementos visíveis+ Elementos não visíveis, logo,
matematicamente: Epp = 11S – 8NS =3S, pontos maiores que 1, políticas públicas
com índice de satisfação, logo efetiva. Têm-se uma fórmula para determinar a
efetividade da política pública: Epp= (∑S) – (∑NS).
A gestão do turismo da cidade para ser efetiva precisa estar apoiada em
políticas públicas que sustentem as atividades no curto prazo e possibilitem a
competitividade do território no futuro.

Considerações finais

A atividade turística, considerada como vetor de desenvolvimento e de


impacto sobre diversos setores, não deveria depender de iniciativas isoladas nem de
decisões sobre investimentos baseadas única e exclusivamente na experiência dos
agentes econômicos do turismo.

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A política pública e a economia do turismo local

O turismo está sendo considerado como um novo ramo da economia. Países


que outrora se mantiveram avessos à entrada de turistas atualmente estão investindo
nesse ramo. As praias do Caribe, consagradas pelos que se deslocam em busca do sol,
foram motivo suficiente para Cuba investir na venda de sua imagem, entrando em
concorrência com outros países caribenhos.
Se no século XX a urbanização tornou-se um fato praticamente universal com
sua inerente exigência produtiva, o aparecimento ou revitalização das cidades com
atrativos singulares, também se fizeram cada vez mais freqüentes, numa tentativa de
minimizar os desgastes promovidos pela vida urbana.
Conclui-se que as políticas públicas são capazes de gerar resultados visíveis e
passíveis de serem avaliados. Neste artigo se construiu um modelo de avaliação dos
impactos (matriz de impacto- MI) capazes de efetivarem (fórmula para medir a
efetividade- Epp) ou não uma política pública. Acredita-se que esta avaliação ainda,
seja insuficiente para o objetivo proposto, que é avaliar o grau de efetividade das
políticas públicas promovidas e aplicadas para atender as necessidades da economia
do turismo, mas, por outro lado, é uma ferramenta necessária e fundamental para
saber os impactos causados no território por uma política pública efetiva, pois o
reconhecimento do papel do Estado na organização da economia do turismo é de vital
importância, estabelecendo os parâmetros do desenvolvimento da atividade nas suas
prioridades e nos impactos sociais, ambientais e econômicos que estabelecem
conexão com o bem estar da população e dos seus visitantes.

Referências

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Submetido em 12/03/2013.
Aprovado em 07/09/2013.

Sobre os Autores

Cláudia Brazil Marques


Bacharel em economia, Mestre em turismo e Professora na Faculdade Dom Alberto- Santa Cruz do
Sul, RS.
Email: cbmarque@gmail.com

Carlos Honorato Schuch Santos


Universidade de Santa Maria
Economista, Doutor em Engenharia da Produção. Professor da Universidade Federal de Santa Maria.
Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Email: chonorato@terra.com.br

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