0% acharam este documento útil (0 voto)
1 visualizações4 páginas

A CIDADANIA E SUA HISTÓRIA

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1/ 4

A CIDADANIA E SUA HISTÓRIA

Dalmo Dallari

(Fonte: http://www.dhnet.org.br/sos/textos/historia.htm)

A Cidadania na Antigüidade

A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação política
de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer. A
sociedade romana fazia discriminações e separava as pessoas por classes
sociais. Havia, em primeiro lugar, os romanos e os estrangeiros, mas os
romanos não eram considerados todos iguais, existindo várias categorias. Em
relação à liberdade das pessoas era feita a diferenciação entre livres e
escravos, mas entre os que eram livres também havia igualdade, fazendo-se
distinção entre os patrícios – membros das famílias mais importantes que
tinham participado da fundação de Roma e por isso considerados nobres – e
os plebeus – pessoas comuns que não tinham o direito de ocupar todos os
cargos políticos. Com o tempo foram sendo criadas categorias intermediárias,
para que alguns plebeus recebessem um título que os colocava mais próximos
dos patrícios e lhes permitia ter acesso aos cargos mais importantes.

Quanto à possibilidade de participar das atividades políticas e administrativas


haviam uma distinção importante entre os próprios romanos. Os romanos livres
tinham cidadania: eram, portanto, cidadãos, mas nem todos podiam ocupar os
cargos políticos, como ode senador ou de magistrado, nem os mais altos
cargos administrativos. Fazia-se uma distinção entre cidadania e cidadania
ativa. Só os cidadãos ativos tinham o direito de participar das atividades
políticas e de ocupar os mais altos postos da Administração Pública. Uma
particularidade que deve ser ressantada é que as mulheres não tinham a
cidadania ativa e por esse motivo nunca houve mulheres na Senado nem nas
magistraturas romanas.
As Revoluções Burguesas e Cidadania

Nos séculos dezessete e dezoito, quando na Europa já estavam começando os


tempos modernos, havia também a divisão da sociedade em classes,
lembrando muito a antiga divisão romana. Os nobres gozavam de muitos
privilégios, eram proprietários de grandes extensões de terras, não pagavam
impostos e ocupavam os cargos políticos mais importantes. Ao lado deles
existiam as pessoas chamadas comuns, mas entre estas havia grande
diferença entre os que eram ricos, que compunham a burguesia, e os outros
que, por não terem riqueza, viviam de seu trabalho, no campo ou na cidade.
Nessa fase da história da humanidade vamos encontrar os reis que governam
sem nenhuma limitação, com poderes absolutos, e por isso o período é
conhecido como do absolutismo.

Houve um momento em que os burgueses e os trabalhadores já não


suportavam as arbitrariedades e as injustiças praticadas pelos reis absolutistas
e pela nobreza e por esse motivo, unindo-se todos contra os nobres, fizeram
uma série de revoluções, conhecidas como revoluções burguesas. Desse
modo foi feita a revolução na Inglaterra, nos anos 1688 e 1689, quando o rei
perdeu todos os seus poderes e os burgueses passaram a dominar o
Parlamento, passando os nobres, que eram chamados lordes, para segundo
plano. Nessa época a Inglaterra tinha 13 colônias na América do Norte.
Influenciadas pelo que acontecia na Inglaterra, as pessoas mais ricas dessas
colônias, incluíndo os proprietários de terras e os grandes comerciantes,
promoveram uma revolução no século seguinte. Desse modo proclamaram a
independência das colônias, em 1776. Alguns anos mais tarde, em 1787,
resolveram unir-se e criaram um novo Estado, que recebeu o nome de Estados
Unidos da América.

Dois anos depois, em 1789, ocorreu na França um movimento revolucionário


semelhante, que passou para a história com o nome de Revolução Francesa.
Esse movimento foi muito importante porque influiu para que grande parte do
mundo adotasse o novo modelo de sociedade, criado em conseqüência da
Revolução. Foi nesse momento e nesse ambiente que nasceu a moderna
concepção de cidadania, que surgiu para afirmar a eliminação de privilégios
mas que, pouco depois, foi utilizada exatamente para garantir a superioridade
de novos privilegiados.

No dia 14 de julho de 1789 o povo invadiu a prisão da Bastilha, na cidade de


Paris, onde se achavam presos os acusados de serem inimigos do regime
político absolutista. Esse fato marcou o início de uma série de modificações
importantes na organização social da França e no seu sistema de governo,
estando entre essas modificações a eliminação dos privilégios da nobreza. Por
esse motivo a tomada da Bastilha passou a ser comemorada como o dia da
Revolução Francesa, mas a revolução se caracteriza por um conjunto de fatos
que tem início bem antes daquela data.
Uma das inovações importantes, ocorrida algumas décadas antes, foi
justamente o uso das palavras cidadão e cidadã, para simbolizar a igualdade
de todos. Vários escritores políticos vinham defendendo a idéia de que todos
os seres vivos nascem livres e são iguais, devendo ter os mesmos direitos.
Isso foi defendido pelos burgueses, que desejavam Ter o direito de participar
do governo, para não ficarem mais sujeitos a regras que só convinham ao rei e
aos nobres. O povo que trabalhava, que vivia de salários e que dependia dos
mais ricos também queria reconhecimento da igualdade, achando que se todos
fossem iguais as pessoas mais humildes também poderiam participar do
governo e desse modo as leis seriam mais justas.

Cabe lembrar que as mulheres tiveram importante participação nos


movimentos políticos e sociais da Revolução Francesa. Quando se falava no
direito da cidadania a intenção era dizer que todos deveriam Ter os mesmo
direito de participar do governo, não havendo mais diferença entre nobres e
não-nobres nem entre ricos e pobres ou entre homens e mulheres.
Injustiça Legalizada: Discriminação pela Cidadania

No ano de 1791 os líderes da Revolução Francesa, reunidos numa assembléia,


aprovaram a primeira Constituição francesa e aí já estabeleceram regras que
deformavam completamente a idéia de cidadania. Recuperando a antiga
diferenciação romana entre cidadania e cidadania ativa, os membros da
assembléia e os legisladores que vieram depois estabeleceram que para ter
participação na vida política, votando e recebendo mandato e ocupando cargos
elevados na administração pública, não bastava ser cidadão. E dispuseram que
para ter a cidadania ativa eram necessários certos requisitos que logo mais
serão especificados, não bastando ser pessoa.

A partir daí a cidadania continuou a indicar o conjunto de pessoas com direito


de participação política, falando-se nos "direitos da cidadania" para indicar os
direitos que permitem participar do governo ou influir sobre ele, o direito de
votar e ser votado, bem como o direito de ocupar os cargos públicos
considerados mais importantes. Mas a cidadania deixou de ser um símbolo de
igualdade de todos e a derrubada dos privilégios da nobreza deu lugar ao
aparecimento de uma nova classe de privilegiados.

A Constituição francesa de 1791, feita pouco depois da Declaração de Direitos


de 1789, manteve a monarquia, o que já significava um privilégio para uma
família. Além disso, contrariando a afirmação de igualdade de todos,
estabeleceu que somente os cidadãos ativos poderiam ser eleitos para a
Assembléia Nacional. Ficou sendo também um privilégio dos cidadãos ativos o
direito de votar para escolher os membros da Assembléia. E para ser cidadão
ativo era preciso ser francês, do sexo masculino, ser proprietário de bens
imóveis e ter um renda mínima anual elevada.

As mulheres, os trabalhadores, as camadas mais pobres da sociedade, todos


esses grupos sociais foram excluídos da cidadania ativa e tiveram que iniciar
uma nova luta, desde o começo de século dezenove, para obterem os direitos
da cidadania. Foram, até agora, duzentos anos de lutas, que já proporcionaram
muitas vitórias, mas ainda falta caminhar bastante para que a cidadania seja,
realmente, expressão dos direitos de todos e não privilégio dos setores mais
favorecidos da sociedade.

Você também pode gostar